PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMARCA DE BELO HORIZONTE. 33ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte

Transcrição

1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMARCA DE BELO HORIZONTE 33ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte Rua Paracatu, 466, Salas: P464, Barro Preto, BELO HORIZONTE - MG - CEP: PROCESSO Nº CLASSE: PEDIDO DE RESPOSTA OU RETIFICAÇÃO DA LEI DE IMPRENSA (124) ASSUNTO: [Obrigação de Fazer / Não Fazer] AUTOR: MARIA DO CARMO SILVEIRA NASCIMENTO RÉU: SINDICATO DOS TECNICOS EM TRIBUTACAO, FISCALIZACAO E ARRECADACAO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - SINFFAZ Vistos. 1 Trata-se de ação para exercício de direito de resposta ajuizada por Maria do Carmo Silveira Nascimento contra Sindicato dos Técnicos em Tributação, Fiscalização e Arrecadação do Estado de Minas Gerais SINFFAZ, qualificados. Consta da inicial que: (i) foi publicada em 21/01/2016 matéria/artigo no site do sindicato réu com o título Análise da Receita Tributária (ICMS) de Minas Gerais e Demais UF's 2015 x 2014 Uma Radiografia da Triste

2 Realidade Atual e Prospectiva ; (ii) pelo teor da publicação, a parte autora alega ter sido alvo de críticas diretas à sua pessoa, tendo sua imagem e honra prejudicadas; (iii) em 08/03/2016 a autora requereu a entidade ré, em via administrativa, o direito de resposta relativo à publicação considerada ofensiva; (iv) o réu negou o direito de resposta, motivando a demanda da presente ação. Requereu a autora, em sede de antecipação de tutela de rito especial (Lei /2015), a concessão para publicação de Texto Resposta. É o relatório. Decido. 2 A Constituição prevê a liberdade de expressão como uma garantia fundamental, de forma que é livre a manifestação do pensamento (art. 5º, IV). Porém, o direito de manifestação do pensamento não possui caráter absoluto, havendo limites e consequências caso a pessoa utilize de forma abusiva essa garantia. De igual forma, a liberdade de imprensa também não é absoluta, devendo respeitar os limites impostos pelos demais dispositivos da Constituição Federal. Destarte, o direito de resposta, assim como a liberdade de expressão, é uma garantia constitucional, como previsto na Constituição Federal (art. 5º, V) e reforçado pelas palavras do eminente Ministro Celso de Mello "O direito de resposta/retificação traduz, como sabemos, expressiva limitação externa, impregnada

3 de fundamento constitucional, que busca neutralizar as consequências danosas resultantes do exercício abusivo da liberdade de expressão, especialmente a de imprensa, pois tem por função precípua, de um lado, conter os excessos decorrentes da prática irregular da liberdade de informação e de comunicação jornalística (CF, art. 5º, IV e IX, e art. 220, 1º) e, de outro, restaurar e preservar a verdade pertinente aos fatos reportados pelos meios de comunicação social. Mostra-se inquestionável que o direito de resposta compõe o catálogo das liberdades fundamentais, tanto que formalmente positivado na declaração constitucional de direitos e garantias individuais e coletivos, o que lhe confere uma particular e especial qualificação de índole políticojuridíca. Nesse sentido, a Lei n /2015 estabelece os critérios para a busca de retificação ou direito de resposta a quem se sentir ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social. Pela lei, são passíveis de resposta ou retratação matérias jornalísticas cujo conteúdo atente, ainda que por equívoco de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação. A norma estabelece prazo de 60 dias, a partir da publicação da notícia ou reportagem, para que o interessado formalize o pedido de resposta ou retratação diretamente ao veículo de comunicação. Uma vez formalizado o pedido de retratação, o veículo de comunicação terá prazo de 7 dias para publicá-lo, e caso decida não fazê-lo, abre possibilidade para que o ofendida recorra à Justiça.

4 Nesse sentido, a presente ação foi proposta no prazo adequado, além de restar presente interesse processual, haja vista o fracasso por via administrativa. Assim, é necessário, portanto, preencher os requisitos legais estabelecidos pela lei /15 para exercer o direito supra mencionado. Nesse contexto, dispõe o art. 2º da norma em referência que o ofendido deve ser pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação, in verbis: Art. 2º Ao ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social é assegurado o direito de resposta ou retificação, gratuito e proporcional ao agravo. 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se matéria qualquer reportagem, nota ou notícia divulgada por veículo de comunicação social, independentemente do meio ou da plataforma de distribuição, publicação ou transmissão que utilize, cujo conteúdo atente, ainda que por equívoco de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação. grifei. Especificamente, em análise ao conteúdo da matéria publicada pela parte ré com o título Análise da Receita Tributária (ICMS) de Minas Gerais e

5 Demais UF's 2015 x 2014 Uma Radiografia da Triste Realidade Atual e Prospectiva, verifica-se que não há menção ao nome da parte autora, sendo impossível, em primeiro momento, identificar o ofendido. identificação. Resta, assim, a segunda hipótese, se a parte autora é passível de Quanto à isso, em leitura pormenorizada e, frisando se tratar de artigo de opinião, há de fato diversas críticas direcionadas especificamente à Subsecretaria da Receita e sua gerência, porém todas elas se inserem num âmbito geral da administração da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais, sem haver menção específica a nome de pessoa física princípio a impessoalidade. Nesse tocante, destaca-se que a administração pública tem como Tal princípio prevê que os atos administrativos não serão imputados a quem os pratica, mas sim à entidade à qual está vinculado. Ato contínuo, é vedado ao agente público valer-se de atividades que são desenvolvidas pela própria Administração Pública para poder obter algum tipo de promoção pessoal, o que está consagrada no 1º do art. 37 da Constituição, nestes termos:

6 A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Com isso, os atos e provimentos não são imputáveis aos funcionários que os praticam e sim ao órgão ou entidade da Administração Pública. In casu, a recíproca é perfeitamente válida, pois se os atos administrativos se imputam à entidade, críticas à mesma por corolário são também impessoais (exceto, é claro, se houver identificação nominal). Sendo assim, as críticas dirigidas na matéria, ao meu sentir, não conferem status de ofendido à parte autora, pois, como pessoa física, seu nome não consta na publicação e, como funcionária da administração pública, não é possível constatar que as críticas eram propriamente pessoais, em observância ao princípio da impessoalidade supracitado. Não sendo a parte autora ofendida nos termos da lei, não há, de consequência, legitimidade ativa para propor a presente ação, pois a pretensão de direito material relativa à lei do direito de resposta condiciona o status legal de ofendido

7 àquele que for identificado ou passível de identificação na publicação, hipóteses não confirmadas in casu. 3 Mediante tais considerações, reconhecendo a existência de ilegitimidade ativa, INDEFIRO A PETIÇÃO INICIAL, nos termos do art. 330, II, do NCPC, e, de consequência, JULGO EXTINTO O PRESENTE PROCESSO, sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, I e VI, do referido diploma legal. À Contadoria: se houver custas, intime-se o autor para quitá-las, no prazo de quinze dias. Se não houver pagamento, expeça-se certidão do valor do débito e remeta-a a AGE para as providências cabíveis. Transitada em julgado, tão logo resolvidas custas, arquive-se. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se. Belo Horizonte, 27 de março de JOSÉ RICARDO DOS SANTOS DE FREITAS VÉRAS JUIZ DE DIREITO - 33ª VARA CÍVEL L.W.