A Interdisciplinaridade como Contribuição para uma Melhor Comunicação no Ensino Superior 1. Autor: Sergio Marcos Zurita Fernandes Filho 2
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1 A Interdisciplinaridade como Contribuição para uma Melhor Comunicação no Ensino Superior 1 Autor: Sergio Marcos Zurita Fernandes Filho 2 Faculdades SENAC de Turismo e Hotelaria de São Paulo Resumo O turismo, por estar sujeito à influência de diversos paradigmas, ainda não pode ser considerado um corpo de conhecimento próprio. O seu envolvimento com diferentes áreas de estudo possibilitou que professores de outras disciplinas ministrassem aulas nos cursos de turismo do país, porém, sem proporcionar a interligação de suas disciplinas específicas com o setor turístico. Nesse contexto, a interdisciplinaridade surge como uma alternativa de solucionar a carência de comunicação e troca de informações entre os professores das mais variadas disciplinas do curso, problema este responsável pelas visões fragmentadas e exclusivamente pessoais produzidas pelos alunos. Isto fez com que um número relevante de pesquisadores trabalhasse insistentemente na inserção de atividades interdisciplinares, visando estimular a pesquisa, a troca de experiências e o trabalho em equipe. Palavras-chave: Educação; interdisciplinaridade; pesquisa; turismo. 1 Trabalho apresentado à Sessão de Temas Livres 2 Bacharel em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas em Atualmente, cursando Pós- Graduação Lato-Sensu em Docência no Ensino Superior em Turismo e Hotelaria no SENAC e desenvolvendo pesquisa na área de educação junto à Coordenadora do Curso, Professora Cecília Gaeta 1
2 Introdução Nos últimos anos, mais precisamente a partir da década de 1990, inúmeros projetos envolvendo o conceito interdisciplinaridade vêm sendo apresentados por professores e pesquisadores das mais diversas instituições de ensino superior, dentre eles profissionais pertencentes à área do turismo. No entanto, a possibilidade de uma comunicação mais consistente e efetiva entre docente e aluno, característica essencial da prática interdisciplinar, não ocorre de maneira adequada. Percebe-se claramente que o simples fato de ser um assunto de suma importância e em abundante discussão no meio empresarial e acadêmico, fez com que atividades e projetos interdisciplinares apenas fossem pensados e propostos teoricamente, porém, sem levar em consideração a necessidade do comprometimento, por parte dos professores, de dialogar, discutir e trocar informações com seus alunos, valores estes imprescindíveis para o início de um pensar interdisciplinar. A busca por um conhecimento coletivo que supere a fragmentação, ou seja, a visão parcial, significa diluir o pensar, o conhecimento de um outro indivíduo e, conseqüentemente, consolida sua relação com o outro, com a sociedade. Somado a isto, para a consolidação de práticas interdisciplinares, os profissionais nela envolvidos devem estar aptos a aprender a trabalhar coletivamente, isto é, num universo caracterizado pela totalidade, na qual a possibilidade de aprimoramento do conhecimento e de uma atuação mais efetiva na busca por um ensino qualitativo torna-se fato. Isto se consolida ainda mais quando entra em pauta a área do turismo que, ao estar sujeito à influência de diversos paradigmas, vê prejudicada a formação de um corpo de conhecimento específico e, naturalmente, deve direcionar suas atividades ao trabalho em equipe. Neste contexto, o incentivo dos professores pela prática da pesquisa irá permitir uma maior aproximação de um pensar interdisciplinar, já que a pesquisa, segundo Dencker (2001, p.264),... é a ferramenta que permitirá o diálogo, a comunicação com a realidade, a base necessária de conhecimento sobre a qual se fundamentarão as ações. 2
3 Desenvolvimento História e origem da interdisciplinaridade A interdisciplinaridade surge na década de 1960 no continente europeu quando ocorre a mobilização dos movimentos estudantis com o objetivo de uma melhora nas normas relacionadas às instituições de ensino, isto é, a busca por um sistema de ensino democrático. Segundo Santomé apud DENCKER (2002, p.29), o movimento pedagógico a favor da globalização e da interdisciplinaridade nasceu de reivindicações progressistas de grupos ideológicos e políticos que lutavam por uma maior democratização da sociedade. Era necessária a eliminação do que H. Japiassú apud FAZENDA (1994, p.19) definiu como patologia do saber, isto é, a eliminação, por parte das instituições, da educação parcial e a superação, de uma formação única, inadequada e fragmentada de seus alunos, fator que ocasionar-se-ia a destruição do conhecimento. A eliminação desta concepção de adaptar os seus alunos para uma área específica e, conseqüentemente, a ênfase no conhecimento total indicava a importância do conhecimento. Nesse contexto, a totalidade passa a ser pensada, repetida como característica primordial da interdisciplinaridade a idéia da redução da distância teórica entre as áreas do conhecimento. Isto poderia ocorrer a partir do incentivo à atividade relacionadas à constante prática por pesquisa em equipe e a reformulação/melhoria do ensino. (GUSDORF, 1970, apud FAZENDA, 1994, p.19). Contudo, é válido ressaltar a importância da interdisciplinaridade não apenas como forma de evolução das instituições de ensino superior, mas essencialmente como meio de se pensar, refletir de forma crítica num melhor funcionamento destas universidades. 3
4 No Brasil, as questões referentes à interdisciplinaridade se proliferaram no final da década de 1960, porém, caracterizaram-se apenas como oportunismo das universidades, por ser um tema que se encontra em plena discussão. Essa forma de pensar a interdisciplinaridade, indubitavelmente, não considerava os seus princípios e aspectos para a sua concretização, fatores determinantes para a implementação da falta de interesse por parte dos educadores e para o enfraquecimento do conhecimento da escola. A década de 1970 caracterizou-se como um período no qual a interdisciplinaridade ganha um maior destaque nas discussões relacionadas à educação/sistema de ensino, na busca por uma melhor comunicação entre os membros da equipe, porém, sem avançar muito nas questões referentes à concreta realização de atividades interdisciplinares. A década de 1980 mostrou-se como uma época em que há uma maior contribuição a respeito de assuntos relacionados à interdisciplinaridade, através da busca por interligações e apoio entre as disciplinas, buscando solucionar questões incertas a respeito da interdisciplinaridade nas décadas anteriores. Passa a ser necessário que todos se alertem... para o fato presente de não haver uma corrente filosófica capaz de proporcionar uma forma unificada de conhecimento, que seja conveniente e aceitável para muitos; para ele, a própria filosofia da ciência moderna nos redireciona para a interdisciplinaridade. (GUSDORF, 1970, apud FAZENDA, 1994, p.28). A partir dos anos 80, é notório a preocupação dos professores em se tornarem também pesquisadores, além de se interessarem em conhecer e aplicar novos métodos e formas de ensino. Pode-se dizer que este novo profissional busca, a partir da luta e do enfrentamento com todos os obstáculos, explorar suas competências a fim de chegar a uma melhor educação. Como explica Fazenda (1994, p.31), o professor deve-se perceber sujeito de sua própria ação, revelando aspectos de si mesmo que até a ele próprio eram desconhecidos. 4
5 Este fator estimularia o professor a se conscientizar de forma pessoal como sendo sujeito da pesquisa. A consolidação da crise européia na década de 1960 fez com que as instituições de ensino superior do Brasil se distanciassem, depois de vários anos embasados neste sistema tradicional e ultrapassado de ensino, para um contexto que, pelo menos teoricamente, promovia um ensino voltado para o estímulo à atividade de pesquisa, a transmissão de conhecimento a partir da troca de informações e a criação de um espírito crítico-reflexivo pelos alunos. Esta proposta de trabalho, na qual o conhecimento tinha sua construção decorrente do método científico, tem seus objetivos impedidos pela forte lembrança do regime militar. Este fator, obviamente, impedia que transformações amparadas num modelo de educação democrático, com aberturas para o diálogo, a comunicação entre professores, alunos e comunidade de fato se consolidasse. A partir da década de 1990, inúmeros projetos educacionais surgiram com o intuito de trabalhar a questão da interdisciplinaridade. Contudo, tanto em escolas públicas quanto privadas, a grande maioria apresenta ineficiências significativas, sem dar ênfase na pesquisa, sem práticas interdisciplinares instigantes e, naturalmente, sem os referenciais teóricos essenciais para a realização destas práticas. Com isso, um sistema educativo democrático, com características liberais e que incentivem o aluno a enfrentar todos os obstáculos de forma consistente, a fim de ser capaz de construir um conhecimento próprio passa a ser encarado como algo a ser rapidamente construído. Daí a importância de se romper com este paradigma, adaptando todas as exigências que um novo modelo educacional requer e, naturalmente, contribuindo para uma melhor formação do aluno oferecer oportunidades para que este desenvolva suas competências, pense, reflita, questione e consiga se colocar corretamente frente aos problemas que serão verificados. A Interdisciplinaridade no Turismo O crescimento desenfreado dos cursos de Turismo no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 trouxe consigo uma série de deficiências, acarretando a má qualidade dos cursos. 5
6 Como principal exigência para a oferta incontrolável dos cursos de Turismo no país, a existência da demanda aparece em primeiro lugar, seguido de fatores como pedido de empresários, crescimento da rede hoteleira, indicação da reitoria e continuação do curso de tecnólogo. No entanto, a falta de corpo docente qualificado, isto é, a carência de professores bacharéis titulados (mestres e doutores) não foi capaz de acompanhar o aumento da demanda pelo curso. Somado a isto, há o problema em relação aos docentes míopes, isto é, aqueles que planejam suas aulas com conteúdo dentro dos limites das disciplinas científicas tradicionais como Geografia, História e Legislação não fazendo a ponte com o setor turístico, muitas vezes dificultando, com esta atitude, a interdisciplinaridade, gerando esforços intelectuais, fragmentados e individuais. (ANSARAH, 2002, p ). Ao considerar que o turismo não constitui um corpo de conhecimento específico, isto é, está sujeito à influencia de diversos paradigmas, a questão da interdisciplinaridade possibilita o fluxo de comunicação entre as disciplinas, o que permite uma relação mais concreta não só entre as disciplinas em si, mas também envolvendo todos os professores de um determinado curso, por exemplo. A interdisciplinaridade permite que sejam colocadas em comum, por cada professor, as próprias representações na condução de sua tarefa específica. Desta maneira, o que se obtém não é a unificação dos conhecimentos, mas a sua ampliação e o reforço da identidade de cada disciplina que surge no debate. Cada disciplina vai adquirindo mais consistência ao mesmo tempo em que percebe suas correlações com o conjunto das demais. (DENCKER, 2002, p ). A parceria entre diferentes disciplinas no momento da realização de uma atividade oferece uma visão mais abrangente do objeto em estudo. A importância da experiência no 6
7 momento da troca de informações entre os profissionais de diversas áreas ressalta a construção de um conhecimento holístico. O emprego de atividades interdisciplinares favorece a superação das visões fragmentadas e parciais dos conteúdos das diferentes áreas do conhecimento e suas devidas ramificações e, evidentemente, um maior comprometimento por parte dos professores na eliminação do conflito entre as mesmas. A tendência atual, em quase todos os campos, é de uma abordagem interdisciplinar e multidisciplinar, buscando uma evolução para a prática transdisciplinar [...] Transdisciplinar é a integração das relações interdisciplinares de maneira global, de modo que a tendência é o desaparecimento das fronteiras entre as disciplinas. (DENCKER, 1998, p.30). A questão que se coloca é se, após o cumprimento de determinadas atividades interdisciplinares, os professores e suas respectivas disciplinas específicas de fato se sentiram entusiasmados com o trabalho atingido e tiveram o respaldo da instituição onde atuam para que ocorra, a partir das disponibilidades de todos os meios necessários, a repetição de outros projetos similares, com a proposta de envolvimento de todos os professores com os novos paradigmas de complexidade, o que permitirá uma melhor comunicação entre todos. A interdisciplinaridade, fundamental à análise do turismo como fenômeno social, cultural, comunicacional, econômico e subjetivo, avança as fronteiras de uma única disciplina ou de um único campo do saber. Cabe à academia propor novas abordagens, a partir de uma concepção interdisciplinar. (MOESCH, 2000, p. 14). Nesse contexto, as instituições de ensino deverão se adequar a novos paradigmas para a otimização do projeto, atentando para a prática da pesquisa, fator que contribui para a formação de um conhecimento novo; oferecer recursos e espaços que permitam a realização de atividades interdisciplinares, nas quais o objetivo é trabalhar, aprimorar a 7
8 comunicação entre professor/professor e professor/aluno; estimular a realização de um trabalho em equipe, que atribui a comunicação e troca de experiência entre os professores. A respeito desta última necessidade a ser adotada, Dencker (2002, p.84) enfatiza que o trabalho em equipe fortalece as relações de cooperação e cria um clima construtivo, facilita a aprendizagem, estimula o apoio mútuo, permite a troca de idéias e a reflexão, possibilitando a crítica. A importância da interação e comunicação entre aluno/professor Para que uma nova fase na relação aluno/professor possa realmente se concretizar, é fato destacar que o sistema de ensino esteve, por muitos anos, inalterado os professores eram baseados na chamada abordagem tradicional de ensino, na qual eles próprios se consideravam os donos do saber; eles eram o centro do processo, os que exerciam autonomia e transmitiam conhecimentos para que seus alunos aplicassem os resultados nos testes de avaliação. A ênfase no paradigma dominante por parte dos professores, na qual a expansão do seu aprendizado não ocorre a partir de trocas de informações com seus alunos, isto é, não aceitar que também aprendem com as experiências vividas ou ouvidas por seus aprendizes significa negar um momento novo, um momento de alteridade, que possibilitaria a produção e construção de conhecimentos. Esta nova relação deve se basear na questão da parceria, na qual o professor deve, a partir de suas experiências e de seus conhecimentos, buscar a ampliação do nível de conhecimento dos seus alunos, incentivando-os também a praticar, constantemente, a leitura e a pesquisa na tentativa de demonstrar sua evolução. A sintonia, o compartilhamento de idéias possibilitará a formulação de conhecimentos novos por ambas as partes. O novo professor deve estar freqüentemente em contato com seus alunos também fora da sala de aula. É sua função ser um formulador de perguntas, um provocador, instigando seu aluno a pensar, agir, questionar. 8
9 A partir da aproximação, por parte do professor, de seus alunos, uma formação mais humana permitirá que este futuro profissional desempenhe com eficiência e qualidade todas as atividades para si propostas. Segundo Ansarah apud DENCKER (2002, p.15), uma formação adequada beneficia claramente o profissional, a organização (empresa) em que atua e o sistema socioeconômico em seu conjunto. Daí, por exemplo, uma das importâncias da interdisciplinaridade: a possibilidade de uma relação mais próxima com seus alunos na busca de um novo conhecimento, que será gerado a partir da troca de informações relatando as experiências vividas por cada participante do processo. A interdisciplinaridade estimula que o professor procure trabalhar com a lógica da produção do conhecimento. Isso contribui para o processo de trabalho, relacionando as dificuldades de professores e alunos com a questão de experiências que virão a ser alcançadas. (CUNHA, 1998, p. 42) Sendo assim, a educação não deve se basear em modelos já existentes, isto é, padrões já estabelecidos, mas buscar novos paradigmas. A comunicação e a troca de informações ganham espaço, além de que os professores devem ser os transmissores de conhecimento, estimulando-os a trabalhar suas competências, a pesquisar, ler e construir críticas construtivamente. A interação aluno/professor deve definir quem é quem e preservar valores fundamentais, como o respeito e a relação de troca entre os participantes. A construção de uma identidade pessoal e integrada, possível de ser efetuada a partir de atividades interdisciplinares adequadamente planejadas permite uma aproximação mais consistente da idéia de totalidade. Esta identidade, na visão de vários autores, só viria acontecer por meio de contradições de acontecimentos reais da vida, isto é, tentar entender o motivo de determinados comportamentos dos indivíduos como realmente aconteceram. Além disso, a busca pela identidade deve, obrigatoriamente, envolver o grupo social e histórico no qual o indivíduo faz parte. O comprometimento com essa busca irá, com absoluta certeza, conduzir o professor a realizar práticas interdisciplinares de maneira que esteja mais preparado a lidar com seus 9
10 alunos, criando, propositalmente, problemas que provoquem-nos e que possam conduzilos a estar, constantemente, trabalhando em equipe e com ênfase na pesquisa. É preciso compreender a importância em superar o individualismo, e assumir compromissos e envolvimento, inclusive o envolvimento com o erro como algo que possa ampliar nosso universo de conhecimento. Como coloca H. Japiassú apud FAZENDA (1994, p.42), deve-se perceber na imprudência de fazer do erro uma condição essencial para a obtenção da verdade. A comunicação, responsável pela aquisição de conhecimento dos alunos, permite a fuga (recusa) do individualismo, da visão fragmentada, seguindo em direção a uma interação homem e mundo, na qual os homens sentem a necessidade de conhecer o outro, de ter a oportunidade de dialogar com os outros. Na opinião de Fazenda (1994, p.57), a comunicação possui uma força criadora na medida em que ela procura interpretar, explicar, compreender e modificar... ela dá ao sujeito a capacidade de compreender a si próprio, a de torna-lo um novo ser no mundo. O encaminhamento para o mundo interdisciplinar, no qual a inter-relação entre professor e alunos possibilita a busca para a formação de novos conhecimentos, permite a execução de atividades dinâmicas e a interação entre diferentes disciplinas. O método interdisciplinar utilizado pelas disciplinas participantes do projeto interdisciplinar nos conduzirá a uma idéia mais clara da importância de valores como totalidade, liberdade, comunicação, visando a melhora da qualidade do sistema educativo. A experiência também aparece como elemento fundamental, já que possibilita a mudança, o aprimoramento e a análise interdisciplinar. A partir de situações vividas, isoladamente ou em grupo, durante o percorrer da vida, percebemos a importância de se resgatar alguns destes momentos para uma revisão, que ajude a contemplar/consolidar a prática interdisciplinar. A convivência com indivíduos que possuem características e experiências diferentes da sua significa um estímulo para que o diálogo, além de rever o valor de troca, na qual a troca de experiência e o seu relato, por exemplo, por um aluno pode fortalecer a construção de conhecimento por parte de um professor e propicia um entendimento mais complexo das mudanças no mundo, instigando-o a se tornar uma pessoa dinâmica, ativa e preparada para os obstáculos. 10
11 Levando em consideração a idéia de Fazenda de que a interdisciplinaridade decorre mais do encontro entre indivíduo do que entre disciplinas, esta relação deve permitir a correta comunicação entre ambos. Nos dias de hoje, como já citado anteriormente, projetos cujo tema envolve interdisciplinaridade estão surgindo com mais intensidade, sem as mínimas condições obrigatórias quando se aborda o tema, já que não aprende a pesquisar, individualmente ou coletivamente, prejudicando de forma considerável um grande número de instituições e formando alunos completamente despreparados para atuar no mercado de trabalho. A constante prática pela pesquisa nos direciona para uma formulação de um conhecimento coletivo, e nos estimula a criar/formar um ousado espírito crítico, capaz de solucionar problemas. As instituições de ensino devem chamar para si a responsabilidade de estimular os seus alunos a questionar, refletir, pensar e agir, até porque todo indivíduo está constantemente sujeito a vivenciar situações, experiências diferentes com outros elementos que viveram em momentos históricos diferentes. Nesse contexto em que a instituição de ensino tem o papel de amadurecer socialmente seus participantes, conduzindo com mais intensidade a estrutura de poder, mesmo que de forma conciliatória e não de domínio absoluto, a família tem sua função de educadora reduzida e pouco considerada pela sociedade. Assim, a escola requer que o indivíduo exerça uma relação eficiente com o sistema de produção, posicionando-os em busca de uma melhor interação com as atividades que exigem comunicação entre os participantes do processo. Segundo Dencker (2002, p.45), as novas exigências do mercado globalizado apontam para a qualificação, a especialização, flexibilidade e postura crítica, nas quais o sistema de ensino terá a responsabilidade pela qualificação profissional. A relação entre a aquisição de novas tecnologias e o trabalho coletivo será a chave para uma melhor formação do futuro profissional, apresentando-se como auxílio para a formação, por parte dos alunos, de um novo conhecimento. O respeito entre indivíduos de diferentes culturas no momento do compartilhamento de idéias e sugestões permite um maior aprendizado e a possibilidade da aquisição de um conhecimento mais abrangente, conhecimento este que se forma a partir de 11
12 uma consideração plena do caráter social embasado, principalmente, numa esfera cultural e até mesmo religiosa, o que virá auxiliar na formação do aluno como cidadão, chamando-o a atenção para a importância de se centralizar nos valores humanos. Valores importantes como a liberdade, a idéia do todo, o diálogo, assim como a identidade e a linguagem têm de ser revistos para que a interação entre aluno/professor possa ser compreendida de maneira eficiente. É preciso que haja uma comunicação envolvente e participativa, onde a compreensão dos conhecimentos e/ou experiências vividas pelos outros indivíduos forneçalhes ainda mais conhecimento. Fazenda (1994, p.101), nos atenta sobre a importância da chamada pedagogia da comunicação diretriz maior para a construção de uma teoria da interdisciplinaridade. A reflexão em diversos aspectos, a reflexão participativa envolve indagações e discursos de vários membros de uma sociedade. O exercício pela busca constante de nossa identidade pessoal, nossa descoberta ajuda a construção do tão importante espírito crítico-construtivo já citado anteriormente. A não aceitação de certa reflexão vivida por outro componente do grupo interdisciplinar não deve ser vista como fator negativo, mas sim como forma de se chegar a uma construção mais complexa de determinado assunto. O profissional/educador deve também passar por todo um processo, onde ele tenta explicar toda a criação de algo vivido no seu interior, ao mesmo tempo em que se defronta com o seu jeito de ser perante a sociedade, perante o mundo. Isto possibilita uma compreensão maior, por parte do professor, do seu interior, permitindo um maior entendimento de sua função no mundo e de suas relações com outros indivíduos do grupo. A pesquisa fundamentada em um projeto interdisciplinar, portanto, reflete uma visão subjetiva, uma descoberta interior, que irá registrar um novo conhecimento. Este, por sua vez, na visão do profissional que adota a interdisciplinaridade como fator-chave, deve ser vivenciado com os outros indivíduos do projeto, já que a experiência adquirida por cada membro será de suma importância para a melhora do perfil dos educadores e também da educação. Assim, valores como a compreensão e o respeito precisam ser alcançados. 12
13 Percebe-se, nos dias de hoje, que um grande número de docentes, dentre estes vários professores jovens que acabaram de se inserir no mercado de trabalho, procuram entender e dar ênfase na realização de atividades interdisciplinares. No entanto, são poucos os profissionais de ensino que tem a coragem e/ou ousadia de arriscar a tentar estabelecer ou até mesmo pertencer a esta nova forma de ensino. É um número estreitamente reduzido os que se arriscam a buscar a adotar uma maior dimensão de liberdade, de totalidade. Isto ocorre porque estes professores esbarram-se em obstáculos como, por exemplo, a não abertura por parte de alguns professores tradicionais que, por algum motivo, insistem em permanecer desprezando o diálogo e a troca de experiências, impedindo estes novos docentes de apresentar suas propostas de ensino. Além da retração dos professores com mais tempo no mercado de trabalho à aceitação de atividades interdisciplinares, a falta de estrutura das universidades reduz a possibilidade de que estas atividades sejam cumpridas. A inadequação da estrutura curricular, que impede a abertura e a comunicação entre as disciplinas; as metodologias de aula e critérios de avaliação, que se baseiam na transmissão do conhecimento possuído pelos professores para seus alunos e a obrigação dos alunos de copiar todas as informações recebidas nos incompreensíveis testes de avaliação; a falta de estímulo à atividade de pesquisa como instrumento de aprendizagem; são alguns exemplos de características que devem, obrigatoriamente, serem esquecidos. É necessário destacar que a ênfase na abordagem tradicional de ensino é importante alguns de seus enfoques ainda devem ser apresentados aos novos professores da área acadêmica e utilizados em sala de aula. Porém, inúmeras transformações favorecerão a melhora no sistema educacional brasileiro. A interdisciplinaridade, com absoluta certeza, será uma destas transformações. A superação do que restou do paradigma positivista coloca-se no contexto de uma atividade interdisciplinar, já que a educação de qualidade também pode se manifestar quando a comunicação entre aluno e professor se efetua. O estímulo ao diálogo, ao questionamento estimula o aluno a criar e aprimorar seu espírito crítico e, portanto, produzir um conhecimento que o tornará capaz de avançar em busca de uma nova síntese, apresentando soluções novas e criativas. 13
14 A idéia da construção de um projeto interdisciplinar que envolva, de forma mais próxima aluno e professor, deve-se dedicar para a imposição da noção de totalidade, complexidade. A interdisciplinaridade, na opinião de Fazenda (1992, p.45), permitiria a superação de visões fragmentadas e dicotômicas que se sedimentam, especialmente no modelo de racionalidade científica da modernidade que ainda mantemos. No momento em que novos projetos, baseados nos valores reais e precisos da interdisciplinaridade, de fato se fortalecerem, novas propostas de qualidade, frente ao competitivo e exigente mercado de trabalho globalizado, ocuparão o lugar de projetos que centrara-se no foco interdisciplinar sem levar em consideração suas devidas características, mas apenas por se confirmar como assunto de ampla discussão no meio acadêmico. Conclusão A interdisciplinaridade, portanto, constitui um tema que deve ser extremamente respeitado quando discutido por profissionais e pesquisadores não só pertencentes da área de educação, mas também relacionados à outras áreas, dentre elas o turismo, já que se consiste em uma área na qual inúmeras disciplinas estão inseridas. A partir daí, segundo Ansarah (2001, p.16) passa a ser papel dos cursos de turismo dar aos estudantes uma ampla visão multidisciplinar com interfaces que possibilitem a interdisciplinaridade, com o objetivo de prepara-los para enfrentar com segurança e eficiência todas as atividades que tenham que desempenhar e que exigem dos mesmos habilidade, conhecimentos diferenciados e dinamismo. Torna-se necessário a superação da visão já ultrapassada de que a interdisciplinaridade é apenas um meio de união entre as disciplinas, já que é indiscutível também sua importância para uma melhora do sistema educativo das instituições de ensino através, por exemplo, do fluxo constante de comunicação entre aluno e professor. O processo interdisciplinar exerce influência essencial para que o trabalho de interação entre os participantes do projeto possa ajudar na formação de um conhecimento baseado na coletividade. 14
15 A parceria é algo valioso; a inclusão de todos num trabalho de parceria implica o compromisso em se discutir e buscar uma compreensão de totalidade na comunicação entre docente e aprendiz, na qual a troca de conhecimentos entre ambos poderá desenvolver uma postura mais crítica no aluno, estimulando-o também a trabalhar em equipe e revelando o seu caráter pesquisador e construtivo. Bibliografia ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. In: ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. Turismo. Como aprender; como ensinar. 2.ed. São Paulo: Senac, ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. Formação e capacitação do profissional em turismo e hotelaria reflexões e cadastro das instituições educacionais do Brasil. São Paulo: Aleph, CUNHA, Maria Isabel. O professor universitário na transição de paradigmas. 1.ed. Araraquara: JM Editora, DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, Aleph, Pesquisa e Interdisciplinaridade no Ensino Superior. São Paulo: FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 8.ed. Campinas: Papirus, Integração e Interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia? 2.ed. São Paulo: Loyola, Interdisciplinaridade: Um projeto em parceria. São Paulo: Loyola, GASTAL, Susana (org.). Turismo: 9 propstas para um saber-fazer. Porto Alegre: EDIPUCRS, MOESCH, Marustschka. A produção do saber turístico. São Paulo: Contexto, In: BENI, Mário Carlos; CASTROGIOVANI, Antonio Carlos; GASTAL, Susana (orgs.). Turismo investigação e crítica. São Paulo: Contexto, p REJOWSKI, Mirian. Turismo e pesquisa científica. 5.ed. Campinas: Papirus, TRIGO, Luiz Gonzaga G. In: TRIGO, Luiz Gonzaga G. TRIGO, Luiz Gonzaga G. Turismo. Como aprender, como ensinar. 2.ed. São Paulo: Senac,
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