IMPACTO DA RESILIÊNCIA NO ESTRESSE E RECUPERAÇÃO DE ATLETAS DO ESTADO DO PARANÁ EM FUNÇÃO DO SEXO

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1 IMPACTO DA RESILIÊNCIA NO ESTRESSE E RECUPERAÇÃO DE ATLETAS DO ESTADO DO PARANÁ EM FUNÇÃO DO SEXO Renan Codonhato (UEM), José Roberto Andrade do Nascimento Junior (UEM), Marcus Vinícius Mizoguchi (UFMT), Caio Rosas Moreira (UEM), João Ricardo Nickenig Vissoci (Faculdade Ingá), Lenamar Fiorese Vieira (UEM). RESUMO O objetivo do estudo foi analisar o impacto dos níveis de resiliência no estresse e recuperação de atletas do estado do Paraná. Foram sujeitos 150 atletas (22,46 ± 5,97 anos) participantes dos Jogos Abertos do Paraná, sendo 92 homens e 58 mulheres. Os instrumentos utilizados foram o Questionário de Estresse e Recuperação no Esporte (RESTQ-76 Sport) e a Escala de Resiliência de Connor-Davidson (CD-RISC-10). A análise dos dados foi feita por meio dos testes Kolmogorov-Smirnov, ANOVA de medidas repetidas com Post-Hoc de Bonferroni, teste U de Mann-Whitney, correlação de Spearman e Regressão Simples (p<0,05). Como resultados, atletas do sexo masculino apresentaram maiores níveis de resiliência (p=0,01); a resiliência foi correlacionada, e gerou impacto significativo no estresse geral (18%), estresse emocional (21%), falta de energia (29%), exaustão emocional (20%), recuperação social (16%), aceitação pessoal (13%) e autorregulação (15%) dos homens; e na exaustão emocional (19%) e autorregulação (20%) das mulheres. Conclui-se que maiores níveis de resiliência podem reduzir o estresse e beneficiar a recuperação de atletas, estando estas relações mais evidentes no sexo masculino. Palavras-chave: resiliência; estresse; esportes. INTRODUÇÃO Sabe-se que situações estressantes podem reduzir a atenção, coordenação motora, eficiência muscular e flexibilidade de atletas (NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2014). Além de gerar emoções negativas debilitantes à performance, o estresse também está relacionado com a ocorrência de lesões e o desenvolvimento da síndrome de super treinamento (ALVES et al., 2006; NIPPERT; SMITH, 2008; NEIL et al., 2011). No entanto, alguns estudos relatam que os esforços realizados pelos atletas para superar os obstáculos do contexto esportivo podem influenciar positivamente o enfrentamento de estresse (MARTIN-KRUMM, 2003; YI et. al., 2005; BELÉM et. al., 2014; FLETCHER; SARKAR, 2012). Nessa perspectiva, a resiliência vem ganhando destaque na área da psicologia do esporte, visto que tem sido apontada como uma característica psicológica importante para o enfrentamento do estresse. Todavia, não existe um consenso na literatura a cerca da relação entre estas duas variáveis psicológicas. A resiliência pode ser entendida como uma mudança positiva no contexto frente a contratempos situacionais, capaz de superar e aprender com situações estressantes do cotidiano (MASTEN; REED, 2002). Galli e Vealey (2008) apontam que, como resultado dessa adaptação positiva, atletas ganham nova perspectiva na sua vida e esporte, motivação para ajudar os outros, aprendem lições valiosas e se sentem fortalecidos devido ao enfrentamento de adversidades. Atletas mais resilientes ainda apresentam menores níveis de ansiedade (MARTIN-KRUMM, 2003)

2 e diferentes estratégias de coping quando comparados a atletas menos resilientes (YI et al., 2005; BELÉM et al., 2014). Contudo, apesar dos indícios existentes na literatura atual, o real impacto da resiliência no estresse e na recuperação de atletas ainda é incerto. O estresse é resultante da interação do indivíduo com o meio ambiente, um processo complexo e tridimensional onde se articulam os sistemas social, biológico e psíquico (SAMULSKI et al., 1996). Neste sentido, o contexto esportivo de alto rendimento pode se tornar um agente estressor em potencial (MARQUES et al., 2010). Já a recuperação pode ser entendida como um conjunto de processos fisiológicos, sociais e comportamentais com finalidade de promover regeneração, incluindo aspectos intencionais e não intencionais (KELLMAN, 2002). Esse processo de recuperação é de extrema importância para aquisição e manutenção de ótimos níveis de desempenho esportivo frente aos estressores impostos por esse contexto (KALLUS; KELLMAN, 1999). Quando investigadas em função do sexo, a literatura aponta diferenças nas variáveis em questão. Mulheres tendem a ser mais preocupadas, ansiosas e vulneráveis à depressão, ocasionando, portanto, em uma maior vulnerabilidade ao estresse em relação aos homens (ASZTALOS et al., 2012). Anshel e Sutarso (2006) apontam a existência de diferentes estratégias de coping entre os sexos, em outras palavras, haveria uma diferença nas formas de enfrentamento do estresse. Devido a características fisiológicas, como níveis hormonais e o ciclo menstrual, homens ainda tendem a apresentar maiores níveis de recuperação do que as mulheres (LEWIS; KAMON; HODGSON, 1986). Desta forma, o presente estudo torna-se relevante ao investigar uma lacuna a cerca das relações entre resiliência e estresse em atletas de ambos os sexos. Frente a isso, o objetivo deste estudo foi investigar o impacto da resiliência no estresse e recuperação de atletas do sexo masculino e feminino participantes da fase final dos Jogos Abertos do Paraná. MÉTODOS A amostra foi composta por 150 atletas (22,46±5,97), sendo 92 homens e 58 mulheres, participantes da Fase Final dos Jogos Abertos do Paraná no ano de Os indivíduos pertenciam as diversas modalidades esportivas (natação, ciclismo, xadrez, tênis, judô, futebol, futsal, handebol e voleibol) classificadas entre as três primeiras colocações da edição anterior dessa competição. Para identificar os níveis de resiliência foi utilizada a Escala de Resiliência de Connor- Davidson de 10 itens (CD-RISC-10) validada para o Brasil por Lopes e Martins (2011), composta por 10 itens, sendo o resultado uma pontuação unifatorial de 0 à 40 pontos. Para identificar os níveis de estresse e recuperação foi utilizado o questionário Recovery and Stress Questionnaire for Sports (RESTQ-76 Sport), validado para a língua portuguesa por Costa e Samulski (2005). Este instrumento é composto por 77 itens e os resultados são agrupados em dez subescalas de estresse e nove subescalas de recuperação.

3 O estudo esteve integrado ao projeto institucional Estudo dos aspectos psicológicos e comportamentais relacionados ao contexto esportivo, com parecer no comitê de ética nº 339/2011. A coleta ocorreu no segundo semestre de 2012, na fase final dos Jogos Abertos do Paraná, na cidade de Maringá, nos alojamentos em que as equipes estiveram concentradas. Para a análise da distribuição dos dados foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov, observando a não normalidade dos dados. Em seguida, foi realizado o teste de ANOVA de Medidas Repetidas com Post-Hoc de Bonferroni para comparação entre dimensões de estresse e de recuperação. Para a comparação entre os sexos, foi utilizado o teste U de Mann-Whitney. Para verificar a relação entre as variáveis, utilizou-se o a correlação de Spearman. Para analisar o impacto da resiliência sobre o estresse e a recuperação dos atletas, foi conduzido um modelo de regressão simples com as variáveis que obtiveram correlação moderada (r>0,40). A significância adotada foi de p<0,05. RESULTADOS O índice de resiliência geral dos atletas pesquisados apresentou-se em nível alto (Md=29,00), evidenciando boa capacidade geral de lidarem com problemas da vida e do seu esporte. Já na comparação entre os sexos, foi encontrada diferença significativa (p=0,01) no índice de resiliência entre homens (Md= 30,50) e mulheres (Md=27,00), indicando que os atletas do sexo masculino possam enfrentar de forma mais positiva com as eventuais adversidades presentes em seu contexto. Os atletas apresentaram, de maneira geral, um baixo nível de estresse. Já a recuperação demonstrou escores mais altos que o estresse em todas as suas dimensões, característica de um perfil ideal para competições (Figura 1). Figura 1. Níveis de estresse e recuperação de atletas participantes da fase final dos Jogos Abertos do Paraná de * * Nota: Diferença significativa para p<0,05.

4 Ao correlacionar as dimensões de estresse e recuperação com o índice de resiliência em função do sexo, foram destacadas as correlações moderadas (r>0,40), e evidenciou-se para o sexo masculino correlação inversa e significativa da resiliência com estresse geral (r=-0,43), estresse emocional (r=-0,42), falta de energia (r=-0,50) e exaustão emocional (r=-0,40); e correlação positiva da resiliência com recuperação social (r=0,41), aceitação pessoal (r=0,44) e autorregulação (r=0,44). Para o sexo feminino, foi encontrada correlação inversa e significativa entre resiliência e exaustão emocional (r=-0,42) e correlação positiva entre resiliência e autorregulação (r=0,42). A fim de verificar o impacto da resiliência nos níveis de estresse e recuperação, foi conduzido um modelo de regressão entre os resultados que apresentaram correlação moderada (r>0,40). Verificou-se que, para os homens, o nível de resiliência apresentou impacto significativo (p<0,05) na variabilidade do Estresse Geral (18%), Estresse Emocional (21%), Falta de Energia (29%), Exaustão Emocional (20%), Recuperação Social (16%), Aceitação Pessoal (13%) e Autorregulação (15%). Para as mulheres, observou-se que a Resiliência explica em 19% a Exaustão Emocional e em 20% a Autorregulação (Figura 2). Figura 2. Modelo de regressão do impacto do nível de resiliência sobre o estresse e a recuperação de atletas paranaenses em função do sexo. CONCLUSÕES Por meio dos resultados obtidos, conclui-se que a resiliência pode ser considerada uma variável interveniente no estresse e recuperação no contexto esportivo, uma vez que maiores níveis de resiliência parecem contribuir para menores níveis de estresse e maiores níveis de recuperação destes atletas. Essas relações foram mais evidentes para o sexo masculino em comparação com o sexo feminino.

5 Pode-se considerar o nível competitivo estadual como uma limitação desta pesquisa, sugerindose para futuros estudos a ampliação da amostra e a investigação em uma competição de nível nacional ou internacional. RESILIENCE IMPACT IN THE STRESS AND RECOVERY OF PARANÁ STATE ATHLETES AS A FUNCTION OF SEX ABSTRACT The objective of the study was to analyze the resilience levels impact in the stress and recovery of Parana state athletes. 150 athletes (22,46 ± 5,97 yo), participating in the Parana Open Games, were subjects to the study, being 92 males and 58 females. The instruments used were the Recovery and Stress Questionnaire (RESTQ-76 Sport) and the Connor-Davidson Resilience Scale (CD-RISC-10). Data analysis consisted of the following tests: Kolmogorov-Smirnov, Repeated Measures ANOVA, Mann-Whitney s U, Spearman correlation coefficient, and Simple Regression (p<0,05). Significant difference was found between sex (p=0,01); resilience was correlated and generated significant impact in the general stress (18%), emotional stress (21%), lack of energy (29%), emotional exhaustion (20%), social recovery (16%), personal acceptance (13%) and self-regulation (15%) for males, and in the emotional exhaustion (19%) and selfregulation (20%) for females. It was concluded that higher resilience levels can reduce stress and benefit recovery for athletes, with these relationships being more evident in the male sex. Key words: resilience; stress; sports. REFERÊNCIAS ANSHEL, M.H.; SUTARSO, T. Relationships between surces of acute stress and athletes' coping style in competitive sport as a function of gender. Psychology of Sport and Exercise, v. 8, p. 1-24, ALVES, R.N.; COSTA, L.O.P.; SAMULSKI, D.M. Monitoramento e prevenção do supertreinamento em atletas. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 12, n. 5, set/out ASZTALOS, M.; WIJNDAELE, K.; BOURDEAUDHUIJ, I.D.; PHILIPPAERTS, R.; MATTON, L.; DUVIGNEAUD, N.; THOMIS, M.; LEFEVRE, J.; CARDON, G. Sport participation and stress among women and men. Psychology of Sport and Exercise, v. 13, p , BELEM, I.C.; CARUZZO, N.M.; NASCIMENTO JÚNIOR, J.R.A.; VIEIRA, J.L.L.; VIEIRA, L.F. Impacto das estratégias de coping na resiliência de atletas de vôlei de praia de alto rendimento. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 16, n. 4, p , COSTA, L.O.P.; SAMULSKI, D.M. Processo de validação do questionário de estresse e recuperação para atletas (RESTQ-Sport) na língua portuguesa. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. v.13, n.1, p.79-86, FLETCHER, D.; SARKAR, M. A grounded theory of psychological resilience in Olympic champions. Psychology of Sport and Exercise, n.13, p , GALLI, N.; VEALEY, R.S. Bouncing back from adversity: Athletes experiences of resilience. The Sport Psychologist, v.22, KALLUS, K.W.; KELLMANN, M. Burnout in athletes and coaches. In. HANIN, Y.L. Emotions in Sport. Human Kinetics, Champaign, IL, p , 1999.

6 KELLMAN, M. Underrecovery and overtraining: Different concepts Similar impact? In. KELLMAN, M. Enhancing recovery: Preventing underperformance in athletes. Human Kinects, Champaign, IL. p.3-24, LEWIS, D.A.; KAMON, E.; HODGSON, J.L. Physiological differences between genders. Implications for sports conditoning. Sports Medicine, n. 3, v. 5, LOPES, V.R.; MARTINS, M.C.F. Validação fatorial da Escala de Resiliência de Connor-Davidson (Cd-Risc-10) para Brasileiros. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho. v.11, n.2, p.36-50, MARQUES, R.S.; CIPRIANI, M.; MELO, G.F.; GIAVONI, A. Os níveis de estresse pré-competitivo de atletas classificados segundo a tipologia dos esquemas de gênero. Motriz, Rio Claro, v.16, n.1, p.59-68, jan./mar MARTIN-KRUMM, C.P.; SARRAZINB, P.G.; PETERSONC, C.; FAMOSED, J. Explanatory style and resilience after sports failure. Personality and Individual Differences, v.35, p , MASTEN, A.S.; REED, M.G. Resilience in development. In. SNYDER, C.R.; LOPEZ, S.J. The handbook of positive psychology (p.74-88). Oxford University Press, New York, NY NASCIMENTO JUNIOR, J.R.A. ; BALBIM, G.M. ; VIEIRA, L.F. Estresse psicológico précompetitivo e voleibol: Um estudo em função do gênero e das posições de jogo. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte (Online), v.13, p , NEIL, R.; HANTON, S.; MELLALIEU, S.D.; FLETCHER, D. Competition stress and emotions in sport performers: The role of further appraisals. Psychology of Sport and Exercise, v.12, n.4, p , jul NIPPERT, A.H.; SMITH, A.M. Psychologic stress related to injury and impact on sport performance. Physical medicine and rehabilitation clinics of North America, n.19, v.2, SAMULSKI, D. CHAGAS, M. H. NITSCH J. R. Stress teorias básicas. Costa & Cupertino Ltda. Belo Horizonte YI, J.P.; SMITH, R.E.; VITALIANO, P.P. Stress-Resilience, Illness, and Coping: A person-focused investigation of young women athletes. Journal of Behavioral Medicine, v.28, n.3, 2005.