INDICADORES DE BEM-ESTAR SUBJETIVO E QUALIDADE DE VIDA EM ESTUDANTES DE PSICOLOGIA

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1 1 INDICADORES DE BEM-ESTAR SUBJETIVO E QUALIDADE DE VIDA EM ESTUDANTES DE PSICOLOGIA EMANUELA MARIA POSSIDÔNIO DE SOUSA BEATRIZ TEIXEIRA PARENTE LIMA GARLANA LEMOS DE SOUSA GRACY JÉSSICA MOURA DE OLIVEIRA ISRAELA MELO ALVES RENATA CASSEMIRO FEIJÃO THAYS SANTOS FERNANDES INTRODUÇÃO O bem-estar subjetivo (BES) se refere, de maneira geral, à avaliação que os indivíduos fazem de suas vidas a partir de expectativas, valores e experiências prévias. (GOUVEIA et al., 2009). A literatura aponta que o BES envolve pelo menos dois componentes fundamentais: a cognição e o afeto. (ALBUQUERQUE; TRÓCCOLI, 2004; DIENER; OISHI; LUCAS, 2003). O componente cognitivo se refere aos aspectos racionais e intelectuais, que incluem avaliações cognitivas das pessoas a respeito de suas vidas (nível de satisfação com a vida). No que tange ao componente afetivo, este envolve os aspectos relacionados às emoções e ao humor, a saber, afetos positivos e negativos. (DIENER, 1984). Os afetos positivos são expressos por emoções prazerosas (por exemplo, felicidade e contentamento), ao passo que os afetos negativos são sentimentos ou emoções desagradáveis tais como: tristeza, ansiedade e medo. (FIQUER, 2006). Acerca da qualidade de vida, diversas definições têm sido expostas ao longo dos anos. De acordo com o dicionário de Psicologia da American Psychological Association (APA, AMERICAM PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2010), o termo qualidade de vida se refere ao grau em que uma pessoa obtém satisfação com a vida, sendo relevantes aspectos como: o bem-estar emocional, material e físico; o envolvimento em relações interpessoais; as oportunidades para o desenvolvimento pessoal, etc. Para a Organização Mundial de Saúde (1995), a qualidade de vida seria um conceito amplo e subjetivo. Nessa perspectiva, pode-se considerar que se configura como a percepção que o indivíduo tem sobre vida atual, considerando suas expectativas passadas, valendo destacar a influência do contexto cultural.

2 2 Com relação à saúde mental dos estudantes universitários, dados têm apontado, por exemplo, que cerca 12% a 18% apresentam algum tipo de doença mental diagnosticável, sendo o primeiro episódio psiquiátrico ao longo da graduação (FIOROTTI et al., 2010). Nessa direção, o sofrimento psíquico, muitas vezes, expresso como ansiedade e depressão tem sido observado com alta prevalência na população universitária, variando entre 25% e 34% (ASSIS et al., 2013). Com relação aos estudantes de Psicologia que cursam a graduação em Sobral é notório que muitos deles se queixam da sobrecarga de trabalhos, seminários e avaliações, sobretudo aqueles que residem em municípios vizinhos e que têm que enfrentar diariamente longos deslocamentos para chegarem à faculdade. Ao acompanharmos suas redes sociais, é possível observar que os compartilhamentos contêm matérias que relatam fadiga, cansaço e infelicidade, o que nos faz pensar acerca dos indicadores de saúde metal desse público. Sobre esse tema, autores apontam que diversos fatores podem afetar a saúde mental dos estudantes ao longo da graduação, a exemplo do sono irregular, das pressões acadêmicas, das mudanças nos relacionamentos interpessoais e estar em semestres iniciais, intermediários ou finais (FIOROTTI et al., 2010). Acerca deste último aspecto, sabe-se que nos semestres finais do curso de Psicologia, por exemplo, o estudante passa por situações comumente relatadas como estressoras, as quais se destacam: a necessidade de escolher uma ênfase para sua formação, a opção por um tema de pesquisa e a preocupação com sua vida profissional pós-faculdade. (ASSIS et al., 2013). Considerando esses aspectos, o seguinte projeto teve como objetivo avaliar os indicadores de bem-estar subjetivo e qualidade de vida nos estudantes universitários do curso de Psicologia na Faculdade Luciano Feijão em Sobral. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Contou-se com a participação de 273 estudantes com idades entre 17 a 71 anos (m = 25,37; dp = 8,5), sendo a maioria do sexo feminino (81,9%), solteira (76,8%) e da religião católica (72,9%). Os participantes foram abordados em sala de sala e após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, receberam um livreto com os seguintes instrumentos: Escala de Satisfação com a Vida (DIENER et al., 1985), Escala de Afetos Positivos e Negativos (DIENER; EMMONS, 1985), World Health Organization Quality of

3 3 Life Bref (WHOQOL-Bref; WHOQOL-Bref; WHOQOL GROUP et al.,1994), e questionário de caracterização da amostra. Para a análise dos dados, utilizou-se o software SPSS. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando a maioria dos respondentes, além das características já apontadas, estes relataram serem heterossexuais (93,5%), residentes em Sobral (51%), com renda familiar mensal de um a três salários mínimos (44,7%), não possuir deficiência física ou intelectual (98,3%), não praticar atividades que visam o cuidado com a saúde (82,51%; por exemplo, psicoterapia), não ter filhos (82,4%). Ademais, a maioria declarou que trabalha (53,8%), não possui formação acadêmica anterior ao curso atual e estava cursando o terceiro semestre (14,2%). Sobre as pontuações médias de satisfação com a vida nos semestres, observou-se que a maior (m = 5,23; dp = 0,93) e menor (m = 4,55; dp = 0,96) médias foram do 2º e 6º semestres, respectivamente. Considerando os afetos positivos, as pontuações médias se apresentaram maiores no 2º semestre (m = 5,07; dp = 0,84) e menores no 6º semestre (m = 4,46; dp = 1,11). Nos afetos negativos, verificou-se que a maior pontuação foi obtida pelo 5º semestre (m = 3,39; dp = 1,24) e a menor pelo 4º semestre (m = 2,73; dp = 0,97). Para a qualidade de vida total, verificada a partir de todos os domínios avaliados pelo WHOQOL Bref (físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente), os resultados indicaram que o 4º semestre apresentou a maior média (m = 4,23; dp = 0,58) e o 5º semestre a menor média (m = 3,85; dp = 0,71). Ao verificar a diferença de médias entre os semestres a partir das pontuações em satisfação com a vida, não foram encontradas diferenças significativas (F = 0,75, p = 0,65). Do mesmo modo, para os afetos positivos e negativos, não houve diferenças significativas entre os semestres (Fafeto positivo = 1,03, p = 0,41; F afeto negativo = 0,97, p = 0,46). Para a qualidade de vida total, as diferenças entre os semestres também não foram significativas (F = 1,02, p = 0,42). Acerca das correlações entre os indicadores de bem-estar subjetivo e qualidade de vida, todos os resultados foram consoantes com a literatura, como pode ser observado na tabela 1.

4 4 Tabela 1. Correlatos entre os indicadores de bem-estar subjetivo (satisfação com a vida, afetos positivos e negativos) e qualidade de vida Satisfação com a Vida 1 2. Afetos Positivos 0,61* 1 3. Afetos Negativos -0,51* -0,61* 1 4. Qualidade de Vida 0,59* 0,58* -0,53* Nota: * p 0,01 Fonte: Elaborada pelas autoras Verificou-se, por exemplo, correlações positivas entre os aspectos que indicam alto bem-estar subjetivo (satisfação com a vida, afetos positivos e qualidade de vida), e negativas entre o instrumento que avalia aspectos negativos em relação a esses construtos, a saber, afetos negativos. CONCLUSÃO Com esse projeto, esperou-se contribuir para a compreensão da realidade vivenciada pelos estudantes universitários, identificando possíveis fatores que podem gerar evasão, dificuldades durante o curso e aspectos relacionados ao desenvolvimento psicossocial. Adicionalmente, buscou-se conhecer os indicadores de bem-estar subjetivo (satisfação com a vida e afeto) e qualidade de vida dos estudantes de Psicologia, permitindo a elaboração de políticas ou projetos de promoção e prevenção em saúde. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. S.; TRÓCCOLI, B. T. Desenvolvimento de uma escala de bem-estar subjetivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 20, n. 2, p , AMERICAM PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Dicionário de Psicologia - APA. São Paulo: Artmed, ASSIS, C. et al. Sintomas de estresse em concluintes do curso de psicologia de uma faculdade privada do norte do País. Mudanças-Psicologia da Saúde, São Paulo, v. 21, n. 1, p , Disponível em:< Acesso em: 20 set DIENER, E. et al. The Satisfaction With Life Scale. Journal of Personality Assessment, v. 49, n.1, DIENER, E. Subjective well-being. Psychological Bulletin, v. 95, n. 3, p , 1984.

5 5 DIENER, E.; EMMONS, R. A. The independence of positive and negative affect. Journal of Personality and Social Psychology, v. 47, n. 5, p , nov DIENER, E.; OISHI, S.; LUCAS, R. E. Personality, culture, and subjective well-being: emotional and cognitive evaluations of life. Annual Review of Psychology, v. 54, p , jan., FIOROTTI, K. P. et al. Transtornos mentais comuns entre os estudantes do curso de medicina: prevalência e fatores associados. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 59, n. 1, p , Disponível em:< Acesso em: 20 set FIQUER, J. T. Bem-estar subjetivo: influência de variáveis pessoais e situacionais em auto-relato de afetos positivos e negativos Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, GOUVEIA, V. V. et al. Life Satisfaction in Brazil: Testing the Psychometric Properties of the Satisfaction With Life Scale (SWLS) in Five Brazilian Samples. Social Indicators Research. v. 90, p , WHO (The World Health Organization). The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Social science & medicine, Estados Unidos, v. 41, n. 10, p , Disponível em:< Acesso em: 19 jan WHOQOL GROUP et al. The development of the World Health Organization quality of life assessment instrument (the WHOQOL). In: Quality of life assessment: International perspectives. Springer Berlin Heidelberg, p Disponível em:< Acesso em: 20 jan