EFEITOS DO ESTRESSE OCUPACIONAL NO BEM ESTAR DA EQUIPE DE TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM E EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO.

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1 1 EFEITOS DO ESTRESSE OCUPACIONAL NO BEM ESTAR DA EQUIPE DE TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM E EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO. Larissa Lara Reis, Juliana Molina, Cíntia Midori Nakada, Sandra Maria Fortaleza, Flávia Heloísa Dos Santos. RESUMO: As atividades dos profissionais da enfermagem, sobretudo dos auxiliares e técnicos, envolvem elevada carga de trabalho, tanto física como mental. A exigência de decisões rápidas e precisas em relação ao planejamento e execução de procedimentos e as pressões peculiares dessa profissão tornam-se um agravante de tensão. O próprio ambiente hospitalar pode ser considerado estressor, assim como a qualidade das relações entre profissionais da saúde, pacientes, equipe e instituição. Objetivo. Investigar a influência do estresse na assistência hospitalar da equipe de técnicos e auxiliares de enfermagem e em aspectos biopsicossociais desses trabalhadores. Participantes. O estudo foi realizado como atividade de estágio curricular, mediante observação do ambiente de trabalho e entrevistas abertas individuais com 15 técnicos e auxiliares de enfermagem, de ambos os gêneros de diferentes setores de um hospital que atende a rede SUS. Resultados. Mediante análise qualitativa dos dados coletados identificou-se: a) sobrecarga física e emocional devido à má divisão do trabalho dentro da instituição decorrente de um número reduzido de funcionários por turno. b) associação entre hierarquização na equipe, baixa remuneração, acúmulo de tarefas e subvalorização do cargo de técnico e auxiliar de enfermagem. c) ansiedade devido ao rígido controle, cobrança e imposição pelos outros profissionais da equipe, falta de autonomia e participação na tomada de decisões que envolvem grande responsabilidade. d) ausência subjetiva de um espaço para expressão de queixas e aspectos das relações humanas no e) falta de cooperação e apoio entre superiores, colegas ou subordinados e dificuldades de relacionamento com o paciente e sua família. f) todos os profissionais relataram felicidade e satisfação quanto à profissão escolhida. Discussão. Foi identificada uma relação entre os agentes estressores, funcionamento da instituição e as relações profissionais na mesma, os sintomas relatados e a saúde física e psíquica dos auxiliares e técnicos de enfermagem. A maioria desses profissionais reconhece a presença de estressores no ambiente de trabalho, mas apresenta uma postura profissional isenta de cuidado consigo mesma e uma dificuldade para articular de forma mais saudável e criativa as situações estressoras. Conclusão. Há necessidade de um trabalho que priorize o cuidado para com a equipe de enfermagem e que promova uma conscientização sobre a implicação do estresse na saúde física e psíquica dos técnicos e auxiliares. Uma proposta de uma intervenção psicológica inserida em uma perspectiva humanizadora e de assistência à qualidade de vida desses profissionais, do paciente e, sobretudo à qualidade do funcionamento da instituição como um todo. larypsi@gmail.com Universidade Estadual Paulista, (UNESP) Campus de Assis 1

2 2 EFEITOS DO ESTRESSE OCUPACIONAL NO BEM ESTAR DA EQUIPE DE TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM E EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO Para Glina e Rocha (2000), o estresse não é doença e sim uma tentativa de adaptação do organismo que lança mão de suas energias para lutar ou fugir. Contudo, o estresse passa a ser considerado patológico a partir do momento em que, esgotados os recursos internos, o indivíduo entra em sofrimento psíquico e é acometido por patologias decorrentes deste esgotamento. A ocorrência do estresse patológico pode resultar das mais variadas situações presentes no dia-a-dia, desde o trânsito nas grandes cidades até um ambiente de trabalho em uma fábrica, por exemplo. A manifestação patológica do estresse no ambiente de trabalho depende de como o indivíduo - enquanto um ser biológico, subjetivo, social e cultural - interage com este ambiente. Batista (2002) ressalta que dependendo da forma na qual o trabalho está organizado e de como ele é executado pelo trabalhador, podem ser gerados efeitos negativos, dentre os quais estão situações que podem levá-lo ao adoecimento e à morte. No entanto, Dejours (1992) aponta que na relação entre trabalho e saúde do trabalhador, pode-se verificar que o trabalho nem sempre aparece como fonte de doença ou de infelicidade. Muitas vezes ele é operador de saúde e de prazer, mas de qualquer maneira, nunca é neutro em relação à saúde. Já Murta e Tróccoli (2004) mostram que dentre os indicadores de saúde, destacam-se a morbidade psicossomática e a psiquiátrica. A maioria das pessoas quando vivencia uma situação desgastante apresenta reações de estresse associados a diversos mecanismos patogênicos, cognitivos, afetivos, de conduta ou fisiológicos. (Murta e Tróccoli, 2004). 2

3 3 As funções que auxiliares e técnicos de enfermagem desempenham são bastante diversificadas e compreendem atividades tanto de natureza simples, quanto complexa, as quais requerem constantes adaptações frente a situações novas. O trabalho desses profissionais também é permeado por situações consideradas estressoras, e somado a isso, podem existir fatores relacionados ao cotidiano, à vida social e pessoal, que dificultam as adaptações do indivíduo. Segundo Mescoloti (2002), os trabalhadores da saúde, mais especificamente a equipe de enfermagem, atuam sobre constante estresse. As atividades dos profissionais da enfermagem, sobretudo dos auxiliares e técnicos, envolvem elevada carga de trabalho, tanto física como mental. A exigência de decisões rápidas e precisas em relação ao planejamento e execução de procedimentos - que podem resultar em melhora ou piora do estado clínico de um paciente - e as pressões peculiares dessa profissão tornam-se um agravante de tensão. Entretanto, Batista (2002) revela que a preocupação dos profissionais de saúde com a própria saúde é recente; em parte, deve-se à especificidade do grupo que concentra a atenção na assistência aos pacientes e aos assuntos relacionados ao aperfeiçoamento de sua atividade, no sentido de adquirir novos conhecimentos técnicos, uso de novos equipamentos e fármacos, entre outros, dispensando pouca ou nenhuma atenção consigo mesmo. Devido a estas circunstâncias e principalmente ao contato próximo e constante com o adoecimento e a morte, a equipe de técnicos e auxiliares, o ambiente hospitalar e a configuração das relações humanas no mesmo se destacam como condições vulneráveis à manifestação do estresse patológico. O objetivo do presente estudo foi investigar a influência do estresse ocupacional no ambiente de trabalho de auxiliares e técnicos de enfermagem e sua implicação na saúde desses profissionais e no funcionamento da instituição hospitalar. Para isso foi 3

4 4 realizado um convênio entre a UNESP/Assis e a Santa Casa de Misericórdia de Assis, hospital que atende a rede SUS. Através desse convênio foi realizado, em 2005, um estudo na instituição como atividade de estágio curricular. Participaram desse estudo 15 técnicos/auxiliares de enfermagem de ambos os gêneros, com idades entre 19 e 50 anos, por meio de entrevistas individuais estruturadas e abertas alocados em todas as enfermarias da instituição. foram: Os agentes estressores mais significativos identificados no cotidiano de trabalho a) felicidade e satisfação quanto à profissão escolhida. b) sobrecarga física e emocional devida à má divisão do trabalho dentro da instituição decorrente de um número reduzido de funcionários por turno. c) associação entre hierarquização na equipe, baixa remuneração, acúmulo de tarefas e subvalorização do cargo de técnico e auxiliar de enfermagem. d) ansiedade devido ao rígido controle, cobrança e imposição pelos outros profissionais da equipe, falta de autonomia e participação na tomada de decisões que envolvem grande responsabilidade. e) inadequação de um espaço para expressão de queixas e aspectos das relações humanas no trabalho f) falta de cooperação e apoio dos superiores, colegas ou subordinados e dificuldade de relacionamento com o paciente e sua família. Notou-se também que existe um grande esforço e tentativa, por parte de todos os técnicos e auxiliares em tentar amenizar muitos dos estressores ligados à estruturação e ao funcionamento institucional do hospital pesquisado, considerandoos como parte dos deveres inerentes à profissão escolhida. Já sintomas físicos e psicológicos associados ao estresse não foram observados em todos os períodos da jornada de trabalho. A maioria dos entrevistados relataram felicidade, satisfação, bemestar geral, ansiedade antes de entrarem no trabalho. Como sintomas vivenciados 4

5 5 durante e após o trabalho, constatou-se bem-estar geral, felicidade, satisfação e também ansiedade, cansaço físico, mental, dores nas pernas e nas costas. Em relação às estratégias de enfrentamento do estresse, a maioria dos profissionais reportaram o uso de estratégias semelhantes. Também revelaram que as estratégias funcionam como medida paliativa não sendo adequadas na minimização dos fatores estressores. Foi identificada ainda uma associação entre os agentes estressores, o funcionamento da instituição e as relações profissionais na mesma, os sintomas relatados e a saúde física e psíquica dos auxiliares e técnicos de enfermagem. Tais agentes se mostraram agravantes do estresse ocupacional prejudicando o desempenho dos profissionais da equipe de enfermagem e a integridade de sua saúde. A maioria dos auxiliares e técnicos de enfermagem identifica e reconhece a presença de estressores no ambiente de trabalho, mas desconhece a implicação dos mesmos na própria saúde e na qualidade do trabalho que realizam na instituição. Ficou evidente também que esses profissionais desconhecem possibilidades eficientes para lidar com o estresse o estresse patológico. A equipe apresentou uma postura profissional isenta de um cuidado mais rigoroso consigo mesma e uma dificuldade para articular de forma mais saudável e criativa as situações estressoras que se apresentam a ela e aos pacientes. Portanto, o ambiente de trabalho no qual a equipe de enfermagem está inserida é permeado por algumas situações e circunstâncias desencadeadoras de estresse, decorrentes de uma tensão e ansiedade preliminares que afetam o bem estar biopsicossocial do trabalhador (Mescolotti, 2002). Batista (2002) alerta que os profissionais da enfermaria mostram que conhecem os principais fatores de estresse presentes no trabalho, mas não os associam com doenças, problemas de saúde e alterações psicofisiológicas que os acometem e somente 5

6 6 com o conhecimento/conscientização dos fatores de riscos de adoecimento no ambiente de trabalho é possível estabelecer medidas corretas para a redução do estresse e prevenção de doenças que nele tem sua origem. Assim o presente estudo revelou a necessidade de uma intervenção psicológica inserida em uma perspectiva humanizadora em nível de assistência à qualidade de vida e bem estar do profissional da enfermagem - principalmente do técnico e auxiliar- do paciente e sobretudo do bom funcionamento da instituição como um todo para que haja a possibilidade de um comunicação mais saudável e produtiva entre os administradores, representantes da equipe médica e de enfermagem e os demais funcionários da instituição. Desse modo os problemas e estressores ocupacionais podem ser melhor entendidos, discutidos e repensados como possibilidades de mudanças e principalmente como necessidade de cuidado com a saúde e bem estar dos técnicos e auxiliares de enfermagem enquanto profissionais responsáveis em prestar cuidado aos outros. Referências BATISTA, M.G.N. Estresse dos trabalhadores de enfermagem: um estudo em uma unidade psiquiátrica. [Online] disponível em: http/ es/actas/43br.doc. UERJ. Rio de Janeiro/Brasil, 16jun. GLINA, D.M.R; ROCHA, L.E. Prevenção para a Saúde Mental no Trabalho. In: Saúde mental e trabalho: Desafios e Soluções: Editora U.K, DEJOURS,C. A Loucura do Trabalho, Estudo de Psicopatologia. Tradução de Ana Isabel Paraguay e Lucia Ferreira Leal.5a edição ampliada: Oboré. São Paulo, KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H. & JESSEL, T. M. Fundamentos da Neurociência e do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, MESCOLOTI, M. Análise Ergonômica do Trabalho do enfermeiro na Unidade de Terapia Intensiva: Proposta para a minimização do estresse e melhoria da qualidade de vida no trabalho. Trabalho de conclusão (Especialização em Engenharia de Segurança 6

7 7 do Trabalho) Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP, Presidente Prudente: [s.n], 2002 MURTA, S.G.; TRÓCCOLI, B.T. Avaliação de intervenção em estresse ocupacional. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol.20 n.1. Brasília jan./abr SARDÁ, J. J. LEGAL. J. E.; JABLONSKI, J. S.; Estresse: Conceitos, métodos, medidase possibilidades de intervenções. São Paulo: Casa do Psicólogo, larypsi@gmail.com 7