Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes
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- Terezinha Eger Mendes
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1 AS IDEOLOGIAS ARTÍSTICAS E CULTURAIS DO HUMANISMO PORTUGUÊS RESUM O Ederson da PAIXÃO 1 Luciana BRITO 2 O presente estudo tem por objetivo principal destacar algumas das peculiaridades mais marcantes do Humanismo português. Sabe-se que o Humanismo é um período transitório entre a Idade Média e a Idade Moderna. Na Idade Média, pode-se perceber que dava-se maior ênfase à vida religiosa (o chamado teocentrismo), tanto nas produções literárias quanto nas artísticas. Já na Idade Moderna, haverá um rompimento com esta religiosidade, e valorizar- se- á o homem (o chamado antropocentrismo), como o centro e a medida de todas as coisas. Destacase durante o Humanismo, na literatura, as crônicas de Fernão Lopes, a Poesia Palaciana do Cancioneiro Geral e o teatro de Gil Vicente e, na pintura, que anteriormente baseava-se apenas em figuras religiosas, agora, passa a retratar seres humanos comuns ou figuras religiosas com traços humanos. O humanismo português é um momento histórico-social que marca a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. O final da Idade Média, que compreende os séculos XIV e XV, foi um período marcado por profundas crises e transformações. Do ponto de vista socioeconômico, com o crescimento das cidades e do comércio em toda a Europa, o feudalismo, cuja principal fonte de riqueza estava na posse e na exploração de terras, vê-se ameaçado pelo mercantilismo que, com a expansão das atividades comerciais, apontava que a posse do dinheiro constituía uma nova forma de poder. Aos poucos os senhores feudais foram perdendo suas terras e seus servos. Neste período, o rei, que era tido como uma autoridade simbólica, fortalece-se à medida que se alia à burguesia, uma classe social emergente formada por artesãos e comerciantes detentores do dinheiro e que viviam nos burgos (cidades), que passa a competir com o poder da nobreza. Do ponto de vista cultural, destaca-se a invenção da tipografia (imprensa), por Gutenberg que facilitou a divulgação das obras clássicas, até então copiadas à mão pelos monges nos mosteiros; a ascensão da 1 Acadêmico do curso de Letras/Inglês-Uenp Campus Jacarezinho ederson.qtg@gmail.com 2 Orientadora UENP/CLCA brito-luciana@uol.com.br 189
2 burguesia voltada para o comércio e para a vida material (SILVA & BERTOLIN, 2005 p. 219), além da fundação de universidades, certos avanços técnico-científicos e a retomada dos estudos clássicos grecolatinos, tudo isso contribuindo para uma nova concepção do ser humano; o antropocentrismo. Os clássicos gregos e romanos tinham uma visão pagã e terrena do ser humano e isso influenciou a concepção humanista do mundo. O espiritualismo cristão ainda continua, mas sem aquele exagero medieval (SILVA & BERTOLIN, s/d, p. 58). De acordo com III Milênio (2003, p. 13), A visão antropocêntrica consiste numa valorização maior do homem, reconhecido em suas potencialidades, considerado como o agente responsável de seu destino e de sua história, capaz de dominar os fenômenos da natureza e a ela se impor. Graças à invenção da tipografia, um grande número de pessoas passou a ter acesso a obras principalmente da cultura greco-latina. Com isso a Igreja deixou de ser a única responsável pelo monopólio da cultura, formando-se fora dos mosteiros e dos conventos, bibliotecas. São, também, fruto da época, os humanistas, homens cultos e admiradores da cultura antiga que, individualistas, davam maior impo r tância ao s dir e ito s de cada indiv iduo do que à so cie dade. Através do contexto histórico, pode-se perceber que o homem da época rompe com o sistema feudal e com o teocentrismo determinado pela Igreja, e vai em busca de si mesmo, de novas descobertas e de novos valores. Como o momento é de transição, o homem começa a aprender a se valorizar, sem deixar por completo o temor a Deus, e a literatura, como está engajada no momento histórico-social, vai gerar produções literárias que refletem esse período conflitante no qual o homem do século XV viveu. O humanismo português começa no ano de 1418, quando o cronista Fernão Lopes é nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo por D. Duarte. A Torre do Tombo, também conhecida como Torre do Castelo de Lisboa, é nada mais do que o arquivo do Reino, onde eram guardados os documentos oficiais (NICOLA, 1993, p. 146). Esse período verá seu fim no ano de 1527, quando Sá de Miranda volta da Itália, introduzindo as idéias renascentistas em Portugal. 190
3 A LITERATURA HUMANISTA Após quase um século de estagnação de sua cultura depois do Trovadorismo, Portugal viverá um novo florescimento de sua cultura com o Humanismo, e a produção literária destacar-se-á sobretudo em três áreas importantes: As crônicas de Fernão Lopes cronista e vilão de origem, aplicava às suas crônicas qualidades estéticas e narrativas além de um caráter crítico e investigativo. Tudo isso aliado a uma visão ampla da sociedade portuguesa de sua época. De acordo com III Milênio (2003, p. 14), ele é o mais importante prosador da literatura portuguesa medieval e o primeiro historiador português. Com sua habilidade, consegue descrever tanto cenas de guerra, quanto traçar o perfil psicológico de um rei, já que sua vontade de explicar cabalmente os acontecimentos, leva-o a interessar-se pela psicologia de suas personagens (MINISTÉRIO DA CULTURA, 1984, p. 14). Muitas vezes, ao narrar as lutas do povo português, com seus sacrifícios e vitórias, Fernão Lopes imprime um forte toque épico em suas crônicas, exaltando o sentimento nacionalista. Suas obras são: Crônica de El-Rei Dom Pedro, Crônica de El-Rei Dom Fernando e Crônica de El-Rei Dom João. A poesia palaciana do Cancioneiro Geral Toda a poesia portuguesa do século XV está organizada no famoso Cancioneiro Geral, que foi organizado por Garcia de Resende e publicado em Tal obra reúne poemas de 286 autores. Por ser escrita por fidalgos e por ter como referência principal a vida na corte, passou a ser conhecida pelo nome de poesia palaciana (III Milênio, 2003, p. 16). A maioria dessas produções trata de futilidades do ambiente social cortesão, como tipos de penteados, modelos de vestidos, feitios de chapéus, dentre outros. Uma novidade que se observa na poesia palaciana, é que a mulher perde aquela aura angelical e idealizada, sendo mais valorizada fisicamente, e podendo constar na poesia amorosa uma tonalidade mais sensual. Um dos mais importantes poetas do Cancioneiro Geral foi João Ruiz de Castelo Branco, auto r da cantiga de scr ita abaixo: 191
4 Cantiga sua partindo-se Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tr iste s viste s outros nenhuns por ninguém. Tão tr iste s, tão saudo so s, tão doentes da partida, tão cansado s, tão chor o so s, da morte mais desejosos ce m mil vez e s que da vida. Partem tão tristes os tristes, tão fora d esperar bem, que nunca tão tr iste s viste s outros nenhuns por ninguém. (BRANCO, João Ruiz de Castelo. In.: III Milênio. Língua portuguesa e a literatura brasileira: 1ª. série do Ensino Médio. Pinhais: Gráfica Mileart, 2003, p.17) Além de João Castelo Branco, outros autores também se destacam no famoso Cancioneiro Geral, que são: Garcia de Resende, o Conde Vimioso, Francisco de Sousa, Jorge de Aguiar, Diogo Brandão, Gil Vicente, Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda. O teatro de Gil Vicente Constitui-se em um doa maiores marcos do Humanismo em Portugal. Em seu teatro, ele representa tanto a vida palaciana quanto a vida popular, ganhando uma dimensão universal. Pode-se perceber em suas obras, o desfile dos mais variados tipos humanos da sociedade de sua época, tais como reis, fidalgos, camponeses, cavaleiros, princesas, alcoviteiras, dentre outros, desvendando e criticando os erros, as vaidades, o comportamento imoral e corrompido, segundo sua ótica de Cristianismo medieval, onde bem e mal, pecado e salvação constituir-se-ão elementos chaves. Dentre suas peças destacam-se: monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação (sua primeira peça), Auto da alma, O Velho da Horta, Auto da Barca do Inferno, Auto de Inês Pereira e Auto da Lusitânia. 192
5 C abe acre sce ntar aqui que, As crônicas, a poesia e especialmente o teatro vicentino documentam à sociedade essa mutação histórica, identificada com o fato de o acento tônico da cultura se transferir para o homem enquanto homem e não para o homem concebido à imagem e semelhança de Deus. (MOISÉS, p. 40). A ARQUITETURA, A ESCULTURA E A PINTURA HUMANISTAS Nas artes, a primeira grande mudança verifica-se no fato de a vida religiosa deixar de ser o tema quase que exclusivo. Começa a ganhar importância como assunto da arte, a vida profana, não pertencente à religião. As figuras que agora povoam a arte se tornam cada vez mais parecidas com seres humanos comuns (FARACO, 1995, p.221). Em tempos anteriores, a escultura e a pintura apareciam quase que exclusivamente como detalhes de obras arquitetônicas (como é o caso de Criação do homem, afresco da capela Sistina pintado por Michelangelo), mas agora, neste novo período, tornaram-se manifestações independentes, onde os artistas passam a representar o mundo de uma forma mais realista. Cabe aqui destacar, ainda, o desenho Proporções do corpo humano, de Leonardo da Vinci, a pintura O casal Arnolfini, de Jan Van Eyck, e a escultura David, de Donatello como símbolos representantes da ar te no Humanismo. O desenho Proporções do corpo humano, realizado por Leonardo da Vinci, co nstitui uma das o br as mais co nhe cidas da histó r ia da Ar te. Realizado para ilustrar um livro do arquiteto latino Vitrúvio, descreve as medidas ideais do corpo humano, que está inserido em duas figuras geométricas perfeitas: um quadrado que representa a Terra, e um círculo, que representa o Universo. No centro do círculo encontra-se o umbigo do homem, já no centro do quadrado estão seus órgãos genitais. Sua cabeça corresponde a um oitavo de sua altura. Do peito até o topo da cabeça, um sexto, do cotovelo à ponta do dedo, um quarto, e da sola do pé ao joe lho, mais um quar to. Mais do que estabelecer medidas, a importância deste desenho estaria em colocar o homem no centro do Universo, através de um domínio 193
6 que flui do entendimento e das descobertas científicas, muitas delas vivenciadas pelo próprio autor. Nada seria mais representativo da força do homem e do conhecimento nesse período histórico: é a representação de um homem destemido, que encontra-se posicionado na medida de si mesmo, constituindo o princípio maior do Renascimento (III Milênio, s/data, p.38-39). O quadro O casal Arnolfini, também muito famoso a história da arte, retrata muito bem a ascensão da burguesia no século XV. A obra retrata o casamento de Giovanni Arnolfini (rico comerciante italiano), com Giovanna Ce nami, també m per te nce nte a uma família italiana r ica. Há muitos elementos simbólicos que expressam várias mensagens. A alta posição social pode ser verificada a partir dos trajes dos noivos. A noiva veste um elegante vestido da época, de cintura alta, que lhe dá a aparência de estar grávida, embora ela não esteja. As mãos unidas do casal simbo liz am a união. Na parede do fundo pode-se perceber a presença de um espelho, no qual está retratado duas pessoas que estão no quarto olhando para ambos. Logo acima do espelho, há uma frase escrita em latim: Johannes de Eyck fuit hic 1434, que significa Jan van Eyck esteve aqui 1434, mostrando que o pintor estava lá como testemunha. A religiosidade pode ser percebida pelas cenas da Paixão de Cristo, que encontram-se em torno do espelho, e pela única vela acesa no candelabro, que simboliza a presença de Deus naquele quarto. Há na janela frutas, que podem ser vistas como símbolo da fecundidade e da religiosidade, lembrando o fruto proibido que levou Adão e Eva a provarem do pecado que trouxe a perdição da humanidade (mais tarde resgatada por Cristo). O ato do casamento cristão está santificando a união do casal. Os noivos encontram-se descalços, e a posição dos sapatos parece indicar o espaço que cada um deve ocupar: ele o mundo exterior, já que seus sapatos estão perto da porta, e ela, o mundo interno, visto que seus sapatos vermelhos encontram-se no interior do quarto, perto da cama. E o cachorro, que é retratado com toda delicadeza, é um símbolo de fidelidade do casal. 194
7 Através de uma análise mais detalhada, pode-se perceber que todos os elementos simbólicos presentes no quadro dão, ao próprio, a aparência de uma cena totalmente realista, com traços religiosos, com uma simples representação do real (TUFANO, 1998, p ). A escultura David, de Donatello, representa uma pessoa totalmente nua, que nos mostra a realidade nua e crua. O corpo poderia ser coberto por alguma roupa ou tecido, mas o autor preferiu deixá-lo nu para valorizá-lo como homem, este homem que passa a ter um maior privilégio no mundo humanista. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como pôde ser constatado, o Humanismo foi um período de transição de idades com ideais distintos: a Idade Média e a Idade Moderna. Na Idade Média tinha-se como transição, o culto a Deus, também chamado de teocentrismo, onde a vida religiosa estava presente no dia-a-dia da cultura em geral. Já na Idade Moderna, teremos uma maior valorização do homem, também conhecido como antropocentrismo, onde a arte, a literatura e a cultura popular valorizarão a vida mundana (humana), constituindo, assim, uma nova ideologia, a ideologia da era humanista. REFERÊNCIAS FARACO, Carlos Emílio & MOURA, Francisco Marto. Língua e Literatura. São Paulo: Editora Ática,
8 III MILÊNIO. Artes: 1º. semestre. Pinhais: Gráfica Mileart, s/ data.. Língua Portuguesa e Literatura Brasileira: 1ª. Série do Ensino Médio. Pinhais: Gráfica Mileart MINISTÉRIO DA CULTURA. Pequeno Roteiro da História da Literatura Portuguesa. Instituto Português do Livro, MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, NICOLA, José de. Língua, Literatura e Redação. São Paulo: Scipione, SARGENTIM, Hermínio. Língua Portuguesa no Ensino Médio. São Paulo: IBEP, s/d. SILVA, Antônio de Siqueira & BERTOLIN, Rafael. Curso Completo de Português: 2º. Grau. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, s/d.. Língua, Literatura e Produção de Texto: Língua Portuguesa para o Ensino Mé dio. São Paulo: IB EP, Para citar este artigo: PAIXÃO, Éderson da. As ideologia artísticas e culturais do humanismo português. In: IX CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho Anais... UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, ISSN
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