PROVAS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Transcrição

1 PROVAS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO José Roberto SODERO Victório Advogado Pós-doutor pela Universidade de Salerno (ITA) Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA (ARG) Mestre em Ciências Ambientais pela UNITAU (BRA) Especialista em Direito Empresarial, Direito e Processo do Trabalho, Direito Previdenciário, Direito Administrativo. Professor e Coordenador de Pós-Graduação sodero@terra.com.br

2 O processo é o instrumento constitucionalmente garantido a todos, pelo qual os indivíduos procuram ver garantidas suas pretensões de direito material. É por meio dele que o Estado presta, de forma inescusável, a tutela jurisdicional, tendo o dever não apenas de dizer o direito, mas de efetivá-lo concretamente. Nesse aspecto, para terem seus anseios atendidos, precisam as partes provar os fatos relevantes que sustentam sua pretensão, fatos estes que, se não provados, são considerados inexistentes, ou seja, mesmo que alguém possua pleno direito a uma pretensão - no plano da realidade material -, poderá ter seu pedido indeferido se não transpor para o processo - através dos meios probatórios - os fatos necessários para tanto. Assim, o processo não pretende o alcance da verdade absoluta e da justiça impecável, mas, sim, da verdade processual, a qual pode diferir da realidade material.

3 O julgador, portanto, quando perfectibiliza a tutela jurisdicional - por meio da decisão de mérito -, o faz embasado na prova produzida durante a demanda. Ocorre que nem sempre a prova produzida é satisfatória ou que, até mesmo, não há qualquer prova nos autos, situações em que não pode o juiz escusar-se a proferir decisão, tendo em vista o princípio da inafastabiliade de prestação jurisdicional, previsto no art. 140 do CPC/2015 (Código de Processo Civil) e no art. 4º da LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). É dessa estrutura fundamental do processo - necessidade da prova pelas partes e obrigatoridade de decisão pelo juiz (vedação ao non liquet) - que surge a importância dos estudos referentes ao ônus da prova no processo.

4 Deste modo, o cumprimento do ônus interessa ao próprio sujeito onerado, diferentemente do que ocorre na obrigação, cuja satisfação interessa à outra parte, portadora do direito subjetivo correspondente. O art. 333 do antigo CPC, por sua vez, determinava que o ônus da prova incumbia ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito, e ao réu quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. O Novo CPC mantém esta determinação no art. 373, atentando para a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, pela qual deve-se observar qual das partes possui melhores condições de produzir a prova.

5 Ocorre, como os senhores verão que a distribuição dinâmica não é a regra ordinária a ser observada quanto ao ônus da prova. Isto é, a distribuição estática, baseada na natureza dos fatos (constitutivos, modificativos, extintivos e impeditivos), continua valendo como regra geral, de acordo com o caput do art. 373 do Novo CPC, que não traz alteração em relação ao art. 333 do Código antigo!!

6 Nesse sentido, o segurado poderá manejar algumas espécies de provas de acordo com a natureza do benefício requerido, dentre as quais as provas documentais, testemunhais e periciais. Ademais, cabe destacar, conforme ensina o professor e amigo José Antonio Savaris, que a atribuição do direito previdenciário pressupõe laboriosa tarefa de exame de fatos, constituindo a ação previdenciária, sinal de exame de prova, uma vez que nas ações previdenciárias pulsa o caráter alimentar do bem da vida pretendido pelo segurado, bem como a finalidade de promover a dignidade do beneficiário.

7 Acerca da prova documental, o segurado poderá comprovar documentalmente fatos pretéritos, dos quais decorrem relevantes conseqüências jurídicas do seu interesse, por intermédio da juntada aos autos de documentos, como: CNIS, Certidões, Hiscre, Infben, Exames médicos, Receitas médicas, Ficha de paciente, Guias de internação, PPP, cópia da Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, Formulário de declaração de atividade especial, Publicações científicas, etc., enfim, desde que documentos úteis para o deslinde do feito, bem como moralmente legítimos, poderão restar utilizados pelo segurado, no sentido de sustentar e convencer o juiz da sua pretensão.

8 A prova testemunhal de igual importância para o segurado, por vezes, no processo previdenciário, juntamente com os demais elementos de provas acostados ao feito, resta de extrema relevância como subsídio ao juiz, no sentido de se convencer que o segurado faz jus ao benefício postulado. Não obstante a necessidade, na medida do possível, de conteúdo probatório consistente, o segurado, em determinadas situações, não dispõe sequer de documentos no sentido de comprovar os requisitos indispensáveis para fazer jus ao recebimento do benefício previdenciário, situações em que na maioria das vezes resta indeferido administrativamente, ensejando a sua pretensão submetida, tão somente, à prova testemunhal.

9 Nesse sentido, a prova testemunhal poderá, por exemplo, com fundamento no livre-convencimento motivado do juiz, suprir a ausência de registro perante o Ministério do Trabalho e da Previdência Social da condição de desempregado, afastando o sistema de tarifação legal de provas, ou, ainda, a comprovação de dependência econômica. A prova testemunhal, desde que idônea e útil para o deslinde da ação, poderá complementar as demais provas, no sentido de auxiliar o juiz a proferir uma decisão favorável ao segurado. Contudo, como as demais provas, a prova testemunhal merece cuidado redobrado, sobretudo porque se trata da percepção das pessoas acerca de determinado fato, variável de pessoa para pessoa.

10 Outrossim, existem situações que, devido à natureza, a produção probatória requer conhecimentos técnicos. Nessas situações, a única possibilidade de êxito do pleito dependerá da realização de perícia por profissional de confiança do juízo, mas expertise no objeto da perícia. O perito, por dominar conhecimentos técnicos acerca de determinada matéria, na qual, após o exame do segurado e da documentação médica apresentada, emitirá o seu parecer por intermédio do laudo pericial. A prova pericial se constitui para o segurado um elemento decisivo sem o qual não comprovará, por exemplo, a incapacidade para o trabalho ou, ainda, a data de início da incapacidade.

11 Não obstante a perícia restar imprescindível como prova para o segurado, o Novo CPC traz uma qualificação técnico-pericial que o CPC anterior não explicitava. Especialidade do perito. Conteúdo do laudo pericial. Necessidade de responder a todos os quesitos diretamente. Aplicação de metodologia científica para as conclusões periciais.

12 Obrigado e...