ECOLOGIA DE PEIXES EM UM TRECHO DO ALTO RIO URU, CIDADE DE GOIÁS, GOIÁS, BRASIL

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1 ECOLOGIA DE PEIXES EM UM TRECHO DO ALTO RIO URU, CIDADE DE GOIÁS, GOIÁS, BRASIL Douglas Silva Mendonça 1, Ronaldo Angelini 2 e Marcos Aurélio de Amorim Gomes 3 1 Bolsista PIBIC/CNPq/UEG, discente do curso de Ciências Biológicas da UnUCET-UEG 2 Orientador (PhD), Docente do curso de Ciências Biológicas/UnUCET-UEG 3 Discente do curso de Ciências Biológicas da UnUCET-UEG RESUMO A estruturação das comunidades ocorre, principalmente, em resposta à combinação entre as condições ambientais e os recursos requeridos para a ocorrência, crescimento e reprodução de uma dada espécie, como eixos de um hipervolume n-dimensional. Em ecossistemas aquáticos os aspectos relevantes são: vazão, características físico-químicas, condição do ambiente terrestre adjacente, estrutura físiográfica do recurso hídrico e também o pulso de inundação. Neste trabalho foi estudada a comunidade de peixes de um trecho do rio Uru (GO). Foram realizadas quatro campanhas de campo (96 horas cada) distribuídas pela sazonalidade do Bioma. A captura da ictiofauna foi feita através de redes de emalhar (malhas 15, 20, 30 e 50 mm). Foram estabelecidos três pontos amostrais, de modo que todos possuem características fisiográficas próprias. Os resultados mostraram que: i) no total 43 espécies de peixes foram coletadas e a estimativa foi de 49 espécies; ii) A similaridade variou fortemente entre os pontos amostrais; iii) Mais da metade das espécies inventariadas (56,1%) foram exclusivas de um dos três ambientes, evidenciando a relevância ecológica/biológica de cada ambiente da área de estudo; iv) acreditamos que o maior grau de conservação do ponto de amostragem no córrego Brumado, e também o fato de muitas espécies deste ambiente não serem de interesse na pesca esportiva realizada neste local, colabora com a maior riqueza. Finalmente, conclui-se que a distribuição da ictiofauna neste trecho do rio Uru varia em conjunto as características ambientais sendo necessária a preservação dos três tipos de ambientes aquáticos para a manutenção desta comunidade de peixes. Palavras-chaves: rio Uru, ictiofauna INTRODUÇÃO 1

2 Uma espécie ocorre em resposta à combinação entre as condições ambientais e os recursos requeridos para seu crescimento e reprodução, que podem ser considerados como eixos de um hipervolume n-dimensional, definido como nicho ecológico por Hutchinson em 1957 (Leikberb et al., 2007). A Teoria de nicho pode ser vista sob dois aspectos, o nicho fundamental que é a combinação dos fatores ambientais que determinam a ocorrência de uma espécie (isolada de qualquer espécie competidora), e o nicho realizado, que é definido como os recursos e condições que também permitem a sobrevivência da espécie na presença de outras espécies especialmente as potencialmente competidoras (Townsend et al., 2006). Nos ecossistemas aquáticos, a distribuição das espécies se dá em resposta a fatores como vazão, características físico-químicas da água, estrutura física do corpo aquático e condição do ambiente terrestre adjacente (Esteves 1998). As comunidades de peixes, por exemplo, são influenciadas também pelo pulso de inundação provocado pela sazonalidade pluvial e pelas características fisiográficas do corpo aquático como profundidade, correnteza e largura (Cunico et al., 2002; Súarez et al., 2007). Os estudos que visam descrever a estrutura das comunidades são relevantes porque relacionam os dados de espécies-abundância com os ambientes amostrados, contribuindo com o entendimento da influência do ambiente na distribuição das espécies (Ferreira e Casatti, 2006). Assim, este trabalho tem por objetivo: i) estimar a riqueza de espécie de peixes do trecho em estudo; ii) quantificar a diversidade biológica dos pontos amostrais e, iii) analisar a similaridade entre os pontos amostrais. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no alto rio Uru, um recurso pertencente à Bacia Hidrográfica do Tocantins-Araguaia. Dois pontos amostrais foram instalados no rio Uru e um ponto foi instalado no córrego Brumado. O ponto 1 (rio Uru) contempla ambientes de remanso, profundos e baixa velocidade da correnteza, enquanto o ponto 2 (rio Uru) contempla ambientes de corredeira, rasos e com elevada energia hidrodinâmica. O ponto 3 (córrego Brumado) representa ambientes com fisiografia intermediária aos pontos 1 e 2. Foram realizadas quatro campanhas de campo com esforço amostral de 96 horas cada, sendo duas durante a seca e duas durante a estação chuvosa. A ictiofauna foi capturada com redes de espera (malhas 15, 20, 30 e 50 mm entre nós adjacentes e dez metros de comprimento). No ponto 3 foram utilizadas duas redes de espera (malhas 15 e 20 mm), já que o pequeno calibre do recurso hídrico inviabilizou o uso de malhas maiores. Após a triagem os 2

3 peixes foram fixados em formol 10%, preservados em etanol 70% e depositados na Coleção Ictiológica do Laboratório de Pesquisa Ecológica e Educação Científica UnUCET/UEG. A riqueza de espécies foi estimada através do estimador de riqueza não paramétrico Jackknife, já que este método produz uma estimativa bem aproximada da riqueza real de espécies de uma dada comunidade (Krebs 1999; Santos 2003). O estimador Jackknife é definido (Santos, 2003) como: S jack1 = S obs m 1 + Q1 m onde: S jack1 é a riqueza estimada pelo método Jackknife 1; S obs é a riqueza observada; Q 1 é o número de espécies ocorrentes em apenas uma amostra e m é o número de amostras. Como medida da diversidade entre os ambientes foi utilizado o índice de Shannon- Wiener, que se baseia na riqueza e na abundância relativa das espécies, dado pela equação: onde: H é índice de diversidade de Shannon-Wiener; p i é a proporção da espécie i na comunidade ou p i = n i / N; n i é o nº de indivíduos da i-ésima espécie; N número de indivíduos total e K número de espécies Finalmente, foi utilizado o índice de similaridade de Morisita-Horn, que avalia a similaridade de duas amostras ou ambientes e varia de 0 (nenhuma similaridade) a 1 (similaridade total). O índice é dado pela equação: C H = (2 Σ X ij X ik ) / [(Σ X 2 ij/n 2 ) + (Σ X 2 ik/n 2 )] N j N k onde: C H é i índice de similaridade de Morisita-Horn; X ij X ik é o nº de indivíduos da espécie i na amostra j e amostra k; N j é o nº total de indivíduos na amostra j e N k é o nº total de indivíduos na amostra K. RESULTADOS E DISCUSSAO A identificação taxonômica preliminar revelou 41 espécies de peixes, distribuídas em quatro Ordens e 13 Famílias (Tabela 1). Contudo, o estimador Jackknife estimou 49±10,3 espécies de peixes (Figura 1). Esse resultado contrasta com a forte antropização da área evidenciando que ações conservacionistas podem ser relevantes na conservação desta comunidade de peixes. 3

4 Tabela 1: Listagem taxonômica preliminar das espécies inventariadas no presente estudo, juntamente com a abundância de cada táxon nos ambientes amostrados. Ambiente ORDEM/Família/ Espécie Nome popular Remanso Corredeira Brumado SILURIFORMES Loricariidae Squaliforma sp cascudo Panaque sp. cascudo Hypostomus sp1 cascudo Hypostomus sp2 cascudo Hypostomus sp3 cascudo Hypostomus sp4 cascudo Hypostomus sp5 cascudo Espatoloricaria sp. cascudo Loricaria sp1 cascudo Loricaria sp2 cascudo Ancistrus sp. cascudo Doradidae Oxydoras Níger botoado Auchenipteridae Auchenipterus osteomystax nojado Pimelodidae Pimelodus ornatus mandi-prata Pimelodus sp1 cabeça-de-ferro Rhamdia quelen lobó CHARACIFORMES Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcatus bicudinha Anostomidae Leporinus friderici Piau-três-pintas Leporinus cf. taeniatus piau-vara Leporinus sp1 piau Leporinus sp2 piau Leporelus vittatus piau Characidae Astinax sp1 lambari Astinax sp2 lambari Bryconops caudomaculatus piaba Galeocharax sp. cachorrinha Moenkhausia chrysargyrea lambari 1-5 Myleusinus sp. pacu 2 Serrasalmus sp1 piranha Curimatidae Cyphocharax sp. branquinha Cynodontidae Rhaphiodon vulpinus cachorra-facão Erythrinidae Hoplias lacerdae trairão Hoplias malabaricus traíra 5-12 Hemiodontidae Hemiodus unimaculatu sardinha 7-9 Hemiodus ternetzi sardinha GYMNOTIFORMES Gymnotidae Gymnotus sp tuvira PERCIFORMES Cichlidae Cichlasoma amazonarum cará Crenicichla sp1 mariana Crenicichla sp2 mariana 2-2 Retroculus lapidifer rola-pedra Satanoperca acuticeps cará 2 1-4

5 Figura 1: Curva do coletor de riqueza de espécies estimada. A diversidade (H ) variou entre os três pontos de amostragem (Figura 2), e o ambiente com maior diversidade foi o ponto 1 com H`=1,18. Esta maior diversidade se deve ao fato das abundâncias relativas das espécies terem se distribuído parcimoniosamente, não havendo, portanto, espécies dominantes neste ambiente. A menor diversidade foi no ponto 2 com H` = 1,01, justamente devido a presença de uma espécie dominante (Hypostomus sp1) que sozinha representou 38,2% das capturas deste ambiente. Figura 2: Distribuição da diversidade entre os pontos amostrais. A maior similaridade ocorreu entre os pontos 2 e 3 e a menor similaridade ocorreu entre os pontos 1 e 2 (Tabela 2). Esta medida esteve relacionada às características ambientais, evidenciando que o ambiente pode influenciar a distribuição das espécies de peixes. Tabela 2: Similaridade (índice de Morisita-Horn) para os três pontos/ambientes amostrados. CONCLUSÕES Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 1 1 Ponto 2 0,41 1 Ponto 3 0,48 0,57 1 5

6 A riqueza de espécies de peixes é bastante satisfatória frente a antropização que o recurso está submetido. Todos ambientes possuem espécies exclusivas, portanto a preservação de todos é necessária para manutenção da comunidade de peixes deste trecho do rio Uru. AGRADECIMENTOS Somos gratos ao CNPq pela concessão da bolsa e aos Srs. Édson Mendonça e José Maria pelo apoio logístico durante as campanhas de campo. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CUNICO, A.M., GRAÇA, W.J., VERÍSSIMO, S. E BINI, L.M Influência do nível hidrológico sobre a assembléia de peixes em lagoa sazonalmente izonadada planície de inundação do alto rio Paraná. Acta Scientiarum, v.24, n.2, p ESTEVES, F.A Fundamentos de Limnologia. 2 Edição. Rio de Janeiro. Interciência. 602p. FERREIRA, C.P. e CASATTI, L Influência da estrutura do hábitat sobre a ictiofauna de um riacho em uma micro-bacia de pastagem, São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 23 (3): KREBS, C. J., Ecological Methodology, Addison Wesley Longman, Inc., Menlo Park, CA. 620 pp LEIKBERG, Y.; KOID, R.T.;ROHR, J.R.;ALDRICHWOLFE, L.;MORTON, J Role of niche restrictions and dispersal in the composition of arbuscular mycorrhizal fungal communities. Journal of Ecology, 95: SANTOS, A. J. Estimativas de riqueza em espécies. In: L. CULLEN JR, R. RUDRAN & C. VALLADARES-PADUA. Métodos de Estudos em Biologia da Conservação & Manejo da Vida Silvestre. Ed. da UFPR; Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. Curitiba. p , SÚAREZ, Y.R., VALÉRIO, S.B., TONDATO, K.K., XIMENES, L.Q.L. E FELIPE, T.R.A Determinantes ambientais da ocorrência de espécies de peixes em riachos de cabeceira da bacia do rio Ivinhema, alto rio Paraná. Acta Sci. Biol. Sci. V.29, n.2, p TOWNSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L Fundamentos em ecologia. 2 a Edição. Editora Artimed. Porto Alegre. RS. 6