A Ictiofauna do Rio Santa Maria do Rio Doce. Guilherme P. Fadini 1*

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Cláudia Azambuja Taveira
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1 III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA A Ictiofauna do Rio Santa Maria do Rio Doce. Guilherme P. Fadini 1* 1 Museu de Biologia Mello Leitão. Av. José Ruschi, Nº 4, Santa Teresa-ES. * para correspondência: guilofadini@msn.com Introdução A floresta Atlântica conta com menos de 5% da sua área original inalterada (Menezes et al., 2007). A acelerada fragmentação da Mata Atlântica e destruição de ambientes de água doce têm sido mais rápidas do que a exploração e conhecimento da fauna associada de peixes. Neste aspecto, a ictiofauna capixaba representa um dos componentes menos conhecidos na Mata Atlântica do sudeste do Brasil. Apesar da carência de estudos, as iniciativas conduzidas para um melhor conhecimento dos peixes de riacho capixabas têm revelado a existência de uma rica e diversificada fauna, associada, de forma íntima, à floresta que lhe proporciona proteção e alimento (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro 2007). Neste estudo pretende-se realizar um levantamento da ictiofauna presente na sub-bacia do Rio Santa Maria do Rio Doce, nos municípios de Santa Teresa, São Roque do Canaã e Colatina, que abrangem do referido recurso hídrico. Será avaliada a distribuição das espécies, a riqueza e diversidade dos peixes de água doce. Os resultados serão comparados com os obtidos para outras regiões do Espírito Santo, no âmbito do Projeto BIOdiversES. Material e Métodos Área de estudo. O presente trabalho de inventário ictiológico será realizado no rio Santa Maria do Doce (Fig. 1 e 2), o qual se desenvolve por cerca de 93 km, desde suas nascentes na Serra do Gelo, no município de Santa Teresa, atravessa o município de São Roque do Canaã e segue até a desembocadura no rio Doce, junto à sede municipal de Colatina. Seus principais afluentes são: Santa Júlia, Taboca, Perdido e Vinte e Cinco de Julho. A região hidrográfica abrange parcialmente os municípios de São Roque do Canaã, Santa Teresa e Colatina. A classificação no sistema de Ottobacias é 7616, possuindo a região hidrográfica 996 km² de área (IEMA, 2014).

380 FADINI: A ICTIOFAUNA DO RIO SANTA MARIA DO RIO DOCE. Figura 1. Mapa da área de estudo. Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria do Rio Doce Figura 2.

2 380 FADINI: A ICTIOFAUNA DO RIO SANTA MARIA DO RIO DOCE. Figura 1. Mapa da área de estudo. Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria do Rio Doce Figura 2. Área da Sub-bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria do Rio Doce, evidenciando os pontos já amostrados e disponíveis no CRIA Inventário. Vem sendo analisados os lotes de peixes da área de estudo existentes na coleção do MBML. Lotes de outras coleções passíveis de serem obtidos a partir de consulta ao banco de dados do Sistema Brasileiro de Informações sobre Coleções Ictiológicas (NEODAT III) e do Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA) vem sendo inventariados. Com os dados obtidos deste inventário será elaborada uma relação de material histórico coletados na área de estudo. Coletas. As atividades de campo até o momento foram realizadas durante o dia, pela manhã até o crepúsculo. Serão realizadas coletas até que a curva do coletor, traçada para a área de estudo indique uma tendência à estabilização. Cada um dos pontos de amostragem foi localizado por GPS (Global Positioning System), fotografado e caracterizado quanto às condições ambientais. Foram realizadas anotações nas folhas de campo sobre horário e artefatos de pesca empregados. As amostragens utilizaram puçás, picarés, covos, redes de arrasto e redes de espera. Em cada ponto foi usada uma combinação dos recursos de pesca de forma assegurar uma exaustiva amostragem de leito, fundo e margem do local amostrado. Em cada localidade amostrada foi percorrido um trecho máximo de 50 metros rio acima, quando as condições locais permitiam.

3 III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA Taxonomia. A classificação taxonômica dos exemplares seguem Buckup et al. (2007), para peixes de água doce. O material coletado durante o projeto foi depositado nas coleções ictiológicas do MBML - Museu de Biologia Professor Mello Leitão. Resultados e Discussão Foi inventariado na base de dados do Centro de Referência em Informação Ambiental CRIA um total de 45 espécies em toda sub-bacia do Rio Santa Maria do Rio Doce, distribuídas pelos municípios de Santa Teresa, São Roque do Canaã e Colatina. As espécies amostradas encontram-se distribuídas em 9 ordens (fig. 3), sendo as mais representativas Siluriformes e Characiformes, com 35 e 33% respectivamente. Quanto ao numero de famílias (fig. 4), as espécies estão distribuídas em 24 para o referido táxon, sendo Characidae com 7 espécies (15%) e Loricariidae com 6 espécies (13%) as mais representativas. As espécies que apresentaram o maior número de registros em toda área da sub-bacia foi Characidium timbuiense com 93 ocorrências. (Apêndice 1) Figura 3. Frequência das ordens de peixes registradas na sub-bacia do Rio Santa Maria do Rio Doce

4 382 FADINI: A ICTIOFAUNA DO RIO SANTA MARIA DO RIO DOCE. Figura 4. Frequência das famílias de peixes registradas na sub-bacia do Rio Santa Maria do Rio Doce Conclusão É importante salientar que ainda existem áreas pouco amostradas ou insuficientes, sendo que este trabalho ainda permitirá inventariar de forma mais completa a ictiofauna de toda área de estudo, para que este possa ser empregado em estudos conservacionistas do grupo. A sub-bacia hidrográfica do Rio Santa Maria do Rio Doce apresenta baixa disponibilidade hídrica superficial, sujeita a longos períodos de seca, o que causa conflitos pelo uso da água dentro da bacia devido à demanda crescente. Esta deficiência pode estar relacionada com a devastação ambiental sofrida por anos de exploração da agricultura e pecuária. Deste modo, pretende-se com este trabalho fornecer informações de cunho conservacionista para a área.

5 III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA O conhecimento gerado com trabalhos desta natureza devem ser divulgados para as comunidades existentes em todo domínio da bacia, de modo a demostrar de forma eficiente algumas práticas de conservação da biodiversidade. Agradecimentos Quero deixar meus agradecimentos à Dr a Luisa Sarmento Soares pela orientação e incentivo para realização deste trabalho, a Ronaldo Martins Pinheiro pela ajuda no levantamento dos dados e orientação quanto ao uso de programas de sensoriamento remoto, ao Eduardo Bortolini Segatto pela confecção dos mapas no ArcGis, aos colegas da Zoologia do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão- MBML e a equipe do Projeto DiversidadES, e à minha família pelo incentivo incondicional. Literatura Citada Böhlke, J.E., Weitzman, S.H. E Menezes, N.A Estado atual da sistemática dos peixes de água doce da América do Sul. Acta Amazonica 8 (4): Iema Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Informações sobre Bacias Hidrográficas. Disponível em Acesso em 11/04/2014. Sarmento-Soares, L.M Distribuição e Endemismo de Peixes de Riacho do Espírito Santo - Projeto BIOdiversES - Projeto de Pesquisa Científica Edital Universal Mct/Cnpq Proposta apresentada em 6 de agosto de Disponível em Sarmento-Soares, L.M. e Martins-Pinheiro, R.F Relação de lotes do Espírito Santo disponíveis nos bancos de dados públicos das principais coleções ictiológicas do país considerados no Projeto BIOdiversES. Disponível em Sarmento-Soares, L.M. e Martins-Pinheiro, R.F Rios e peixes do Espírito Santo: Estado atual do conhecimento da ictiofauna de água doce. Boletim SBI 95: 6-7. CRIA - Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA). Disponível em Acesso em 11/04/2014. Lowe- Mcconnell, R.H Ecology of fishes in tropical waters.studies in Biology, Londres 76. Menezes, N.A., S.H. Weitzman, O.T. Oyakawa, F.C.T. Lima, R.M.C. Castro & M.J. Weitzman Peixes de água doce da Mata Atlântica. Lista preliminar das

6 384 FADINI: A ICTIOFAUNA DO RIO SANTA MARIA DO RIO DOCE. espécies e comentários sobre conservação de peixes de água doce neotropicais. Museu de Zoologia-Universidade de São Paulo, São Paulo, 408 p. Taylor, W. R. & G. Van Dyke Revised procedures for staining and clearing small fishes and other vertebrates for bone and cartilage study. Cybium, 9:

7 III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA Apêndice 1. Dados referentes ao inventário da fauna de peixes da Sub-bacia hidrográfica do Rio Santa Maria do Rio Doce. Fonte: CRIA. Municípios Ordem Família Nome Científico Colatina Santa Teresa São Roque do Canaã Total Registros Characiformes Characidae Astyanax aff. lacustris Characidae Astyanax aff scabripinnis Characidae Astyanax aff fasciatus Crenuchidae Characidium timbuiense Curimatidae Cyphocharax gilbert 2 2 Erythrinidae Hoplias gr malabaricus Characidae Hyphessobrycon bifasciatus Characidae Knodus moenkhausii 2 2 Anostomidae Leporinus conirostris 1 1 Anostomidae Leporinus copelandii Characidae Moenkhausia doceana 2 2 Characidae Oligosarcus acutirostris Prochilodontidae Prochilodus vimboides 3 3 Serrasalmidae Pygocentrus nattereri 2 2 Bryconidae Salminus brasiliensis 1 1 Clupeiformes Engraulididae Anchoviella sp. 1 1 Cyprinodontiformes Poeciliidae Phalloceros elachistos Poeciliidae Poecilia reticulata Poeciliidae Poecilia vivipara Gymnotiformes Gymnotidae Gymnotus aff carapo Mugiliformes Mugilidae Mugil sp. 1 1 Perciformes Cichlidae Australoheros sp. 1 1 Gobiidae Awaous tajasica 5 5 Cichlidae Crenicichla lacustris 4 4 Eleotridae Eleotris pisonis Cichlidae Geophagus brasiliensis Cichlidae Oreochromis niloticus Siluriformes Clariidae Clarias gariepinus 1 1 Callichthyidae Corydoras nattereri Loricariidae Harttia carvalhoi Callichthyidae Hoplosternum littorale Loricariidae Hypostomus affinis Heptapteridae Imparfinis sp. 6 6 Loricariidae Loricariichthys castaneus 3 3 Pseudopimelodidae Microglanis parahybae Neoplecostomus Loricariidae espiritosantensis 3 3 Loricariidae Pareiorhaphis ruschii Loricariidae Parotocinclus maculicauda Heptapteridae Pimelodella sp Heptapteridae Rhamdia aff quelen Callichthyidae Scleromystax prionotos Auchenipteridae Trachelyopterus striatulus 1 1 Trichomycteridae Trichomycterus alternatus Synbranchiformes Synbranchidae Synbranchus marmoratus Syngnathiformes Syngnathidae Microphis brachyurus 10 10

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