ICTIOFAUNA EPÍGEA E HIPÓGEA NUMA ÁREA CÁRSTICA NO MUNÍCIPIO DE LAGOA DA CONFUSÃO TO

Transcrição

1 ICTIOFAUNA EPÍGEA E HIPÓGEA NUMA ÁREA CÁRSTICA NO MUNÍCIPIO DE LAGOA DA CONFUSÃO TO Milton José de Paula 1 ; Alberto Akama 2 ; Fernando de Morais 1 Aluno do Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional; miltonuft@yahoo.comlbr PIBIC/UFT 2 Orientador do Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional; aakama@uft.edu.br 3 Co-orientador(a) do Curso de Geografia; Campus de Porto Nacional; morais@uft.edu.br RESUMO Um levantamento ictiofaunístico realizado nos meses de setembro de 2011 e fevereiro e maio de 2012, em corpos de água superficiais (epígeos) e subterrâneos (hipógeos) numa área cárstica do município de Lagoa da Confusão TO, amostrou 60 espécies, principalmente Characiformes; sendo três espécies não troglomórficas (olhos e pigmentação normal) amostradas na caverna Gruta Casa de Pedra. As espécie mais representativa foi Hemigrammus sp. Até o momento a área cárstica da Lagoa da Confusão apresenta a maior diversidade de espécies epígeas quando comparada com outras áreas cárstica amostradas no Brasil. De todas as espécies nominais aqui, 12 não havia sido reportadas anteriormente para o rio Araguaia. As espécies amostradas no ambiente hipógeo não apresentam características conspícuas, tais como, redução de olhos e/ou perda de pigmentação, para serem classificadas como troglóbias. Rhamdia sp. é classificada com espécie troglófila (espécies com indivíduos capazes de viver e completar o ciclo de vida tanto no ambiente superficial como no subterrâneo) na Gruta Casa de Pedra, sendo a primeira espécie troglófila reportada para o Tocantins. As demais espécies podem ser trogloxenas (espécies com indivíduos encontrados regularmente em cavernas, mas que devem sair periodicamente ao meio epígeo para completar o seu ciclo de vida) ou acidentais e transitórias na caverna. Palavras-chave: Peixes de água doce; troglófilo; diversidade. INTRODUÇÃO A ictiofauna subterrânea da bacia Tocantins-Araguaia de acordo com Mattox et al. (2008), possui atualmente nove espécies de peixes troglóbios, sendo todas elas reportadas somente para a drenagem do Rio Tocantins. Sete dessas espécies são endêmicas de uma área cárstica de São Domingos (GO), que segundo Trajano &

2 Bichuette (2006) representa uma das maiores diversidade de peixes troglóbios em todo mundo em uma área geográfica restrita. Mas ainda, nenhuma espécie é reportada para o estado do Tocantins. Diante do exposto, o presente trabalho apresenta resultados de uma caracterização da ictiofauna epígea e hipógea numa área cárstica do município de Lagoa da Confusão (TO), médio Rio Araguaia, dando início ao estudo da ictiofauna subterrânea para sua drenagem e continuando com as investigações sobre a ictiofauna em cavernas do estado do Tocantins. MATERIAL E MÉTODOS As amostragens em corpos epígeos perenes e intermitentes foram realizadas com uso de puçá, redes de mão, tarrafas e redes de emalhar de diferentes tamanhos e malhas. A amostragem da ictiofauna hipógea foi realiza utilizando-se o puçá e iscas em anzóis, devido à dificuldade que a área apresenta para a utilização de outras técnicas de coleta. As coletas estão amparadas por licença para coleta de material zoológico IBAMA/SISBIO números: e , e foram realizadas entre os meses de setembro de 2011 e fevereiro e maio 2012, totalizando seis dias de coleta. Cinco localidades foram amostradas, sendo: Lagoa da Confusão, Córrego Barreiro, Córrego Rodeio, Rio Urubu e caverna Gruta Casa de Pedra. Os peixes coletados foram preservados e transferidos diretamente para uma solução de álcool 70%, após prévia fixação em formol 10%. Antes da fixação os peixes foram anestesiados com uma solução anestésica de óleo de cravo. Os espécimes foram classificados em nível de espécie, sempre que possível, e depositados na coleção de peixes do Laboratório de Ictiologia Sistemática, pertencente ao Núcleo de Estudos Ambientais (NEAMb) da Universidade Federal do Tocantins (UFT). A freqüência relativa das espécies epígeas foi calculada em termos de número de indivíduos de cada espécie em relação ao total coletado, expresso em porcentagem, de acordo com Trajano et al. (2009). As espécies foram então classificadas em quatro categorias, de acordo com sua abundância: raros: menos de 1% da abundância relativa;

3 incomuns: 1-7% de abundância relativa; comuns: 7-20% de abundância relativa, e muito comuns: mais de 20 % da abundância relativa. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Amostragem nos ambientes aquáticos de superfície resultou na coleta de espécimes pertencente a 58 espécies, sendo que sete exemplares de Potamotrygon sp. foram visualizados, totalizando 59 espécies distribuídas em 21 famílias. As famílias representam sete ordens comumente de ocorrência para águas Neotropicais: Characiforme com 41 espécies; Perciforme e Siluriforme com sete espécies; Beloniforme, Cyprinodontiforme, Gymnotiformes e Myliobatiforme com uma espécie. As famílias mais representativas foram Characidae, com 26 espécies, seguida por Cichidae com sete espécies e Loricarridae com quatro espéceis. A espécie mais comum (mai de 20% do total coletado) foi Hemigrammus sp., como 21% da abundância relativa, coletada em três localidades: Lagoa da Confusão, Córrego Barreiro e Rio Urubu. Hemigrammus cf. boesamani e Moenkhausia sp. obtiveram 18% e 11% respectivamente da abundância relativa, sendo classificadas como espécies comuns ( de 7 a 20% do total coletado). Doze espécies foram consideradas incomuns, totalizando de 1 a 7% da abundância relativa, sendo: Bryconops cf. melanurus, Bryconops sp., Crenicichla lepidota, Hemiodus ternetzi, Hyphessobrycon sp., Moenkhausia cf. lepidura, Moenkhausia oligolepis, Moenkhausia pyrophthalma, Pamphorichthys araguaiensis, Pyrrhulina brevis, Serrapinnus sp. e Serrasalmus aff. maculatus, As demais espécies, que somadas representam mais de 50% das espécies coletadas, tiveram sua abundância relativa abaixo de 1%, o que as colocam na categoria das espécies raras (menos de 1% do total coletado). Em relação a levantamentos da ictiofauna em corpos d água superficiais em áreas cárstica no Brasil (Bichuette & Trajano, 2003; Mattox et al., 2008; Trajano et al., 2009; Paula et al., 2012) a área da Lagoa da Confusão apresenta até o momento a maior diversidade de espécies amostradas. Levantamentos da ictiofauna no Rio Araguaia são escassos, sendo assim, as espécies amostradas Astyanax argyrimarginatus, Chalceus epakros, Crenicichla

4 lepidota, Curimatella alburna, Cyphocharax spilurus, Geophagus sveni, Hemigrammus ora, hyphessobrycon moniliger, Leporinus bistriatus, Mesonauta festivus, Potamorrhaphis guianensis e Roeboexodon geryi, não havia sido reportadas anteriormente para sua drenagem, as demais espécies já foram notificadas para a porção média e baixa do Rio Araguaia por Tejerina-Garro (1998) e Zuanon et al. (2004) respectivamente. A coleta na caverna Gruta Casa de Pedra totalizou seis exemplares de duas espécies: Rhamdia sp. e Hyphessobrycon sp., sendo que um exemplar de Pimelodella sp. foi somente visualizado, totalizando sete exemplares amostrados. A espécie mais representativa (71% do total de exemplares coletados) foi Rhamdia sp.. As espécies amostradas na caverna Gruta Casa da Pedera não apresentam características conspícuas, tais como, redução de olhos e/ou perda de pigmentação quando comparadas em espécies epígeas congêneres (MATTOX et al., 2008), para serem classificadas como troglóbias, ou somente foi visualizado um exemplar como é o caso de Pimelodella sp.. Sendo assim, essas espécies podem ser troglófilas (capazes de completar seu ciclo de vida tanto no ambiente superficial como no subterrâneo), trogloxenas (encontradas regularmente em cavernas, mas que devem sair periodicamente ao ambiente epígeo para completar o seu ciclo de vida) ou mesmo acidentais ou transitórias dentro da caverna (MATTOX et al., 2008). No local de amostragem, foi observado uma grande quantidade de exemplares de Rhamdia sp., onde pode ser constatado a presença tanto de indivíduos adultos como de juvenis, que devido ao período de estiagem na área, ficam isolados ao sumidouro na Caverna. O isolamento sazonal e a presença de espécimes em diferentes estágios do ciclo de vida indicam que essa espécie pode está se alimentando e se reproduzindo na Caverna, podendo ser classificada como espécie troglófila na caverna Gruta Casa de Pedra. Rhamdia sp. é a primeira espécie troglófila reportada para o estado do Tocantins. Medidas conservacionistas na caverna Gruta Casa de Pedra são necessárias devido à notável atividade antrópica no local, essas medidas possibilitam a manutenção de um

5 ambiente saudável para sua ictiofauna e sua fauna como um todo. Novas pesquisas sobre a ictiofauna subterrânea em outras cavernas do estado do Tocantins serão desenvolvidas e os dados sobre a ictiofauna epígea e hipógea apresentados aqui contribuem para o aumento do conhecimento da ictiofauna, seja ela superficial ou subterrânea, para o estado do Tocantins e para o Brasil LITERATURA CITADA BICHUETTE, M. E. TRAJANO, E. Epigean and subterranean ichthyofauna from the São Domingos karst area, Upper Tocantins River basin,central Brazil. Journal of Fish Biology. 63(5) pp MATTOX, G. M. T. BICHUETTE, M. L. SECUTTI, S. TRAJANO, E. Surface and subterranean ichthyofauna in the Serra do Ramalho karst area, northeastern Brazil, with updated lists of Brazilian troglobitic and troglophilic fishes. Biota Neotropica. 8(4) pp PAULA, M. J. AKAMA, A. MORAIS, F. Ictiofauna epígea e hipógea da área cárstica de Pindorama do Tocantins TO. Espeleo-Tema. 23(1) pp TEJERINA-GARRO, F. L. FORTIN, R. RODRIGUEZ, M. A. Fish community structure ir relation to environmental variation in floodplain lakes of the Araguaia River, Amazon Basin. Environmental Biology of Fishes pp TRAJANO, E. BICHUETTE, M.E. Biologia Subterrânea: Introdução. São Paulo: Rede Speleo p. TRAJANO, E. SECUTTI, S. MATTOX, G. M. T. Epigean and subterranean ichthyofauna in Cordisburgo karst area, eastern Brazil. Biota Neotropica. 9(3) pp ZUANON, J. A. S. FERREIRA, E. J. G. SANTOS, G. M. AMADIO, S. A. BITTENCOURT, M. M. Ictiofauna - Parque Estadual do Cantão. Estado do Tocantins. Instituto Natureza do Tocantins, Naturatins. Palmas, TO p. AGRADECIMENTOS A Universidade Federal do Tocantins, ao Núcleo de Estudos Ambientais (NEAMb), ao Prof. Dr. Paulo Henrique Lucinda, aos biólogos Everton Faustino e Anderson Brito e a bióloga Iriene Siqueira pelo apoio na identificação dos peixes, e ao TEG Tocantins Espeleo Grupo. "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT