Peixes do rio Turvo bacia do rio Paranapanema, São Paulo, Brasil

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1 Peixes do rio Turvo bacia do rio Paranapanema, São Paulo, Brasil Evelini Arsego 1, Vinicius Valiente dos Santos 1, Tiago Debona 1, Danielle Zanerato Damaceno 2, Fabiane Cristina Armiliato 3, João Henrique Pinheiro Dias 4, Gilmar Baumgartner 5 eveliniarsego@hotmail.com 1 Mestrando de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE Toledo, PR. 2 Acadêmico do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE Toledo, PR. 3 Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da PUCPr. 4 Companhia Energética de São Paulo, Ilha Solteira, SP. 5 Professor adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE Toledo, PR. Grupo de Pesquisas em Recursos Pesqueiros e Limnologia (GERPEL) Palavras-chave: rio Turvo, ictiofauna, Salto Grande, rio Paranapanema. Resumo: O objetivo do presente trabalho foi efetuar o diagnóstico da ictiofaunística da bacia do rio Turvo, no estado de São Paulo. Para tanto, foram utilizados dados primários obtidos entre agosto de 1990 e dezembro de 1991, e em janeiro de 2010, com a utilização de diversos aparelhos de pesca e dados secundários publicados em revistas especializadas, artigos em congressos, relatórios técnicos e pesquisas em coleções ictiológicas. Foram registradas 67 espécies de peixes, pertencentes a cinco ordens e 21 famílias, as ordens Characiformes (33 espécies) e Siluriformes (26 espécies) foram as mais representativas em termos de número de espécies (88%), já as famílias mais representativas foram Characidae (12 espécies), Loricariidae (12 espécies) e Anostomidae (8 espécies). Foram registradas duas espécies ameaçadas de extinção e nenhuma espécie exótica. Introdução O rio Paranapanema, um dos mais importantes afluentes da margem esquerda do rio Paraná, tem o rio Pardo como um dos seus principais afluentes, sendo um dos poucos rios não poluídos do estado de São Paulo. O rio Pardo recebe contribuição de vários afluentes, sendo que os principais são os rios Claro, Novo e Turvo (Santa Cruz do Rio Pardo, 2010). O rio Turvo nasce no município de Agudos, no estado de São Paulo, afluindo no rio Pardo, próximo a desembocadura na UHE Lucas Nogueira Garcez, em Salto Grande (SP), sua bacia hidrográfica ocupa km 2, e seus principais afluentes são os rios Alambari e São João, pela margem direita, e os ribeirões Santa Clara e São Domingos, pela margem esquerda, formando uma drenagem assimétrica, com afluentes de até 60 km pela margem esquerda, e no máximo 18 km pela direita (Dias et al., 1993). Devido às restrições causadas pelos barramentos, a sobrevivência das espécies reofílicas em reservatórios está associada ao uso de tributários (Torloni et al., 1986) e de lagoas marginais (Sato et al., 1987), como sítios reprodutivos e de desenvolvimento das formas jovens, enquanto que o reservatório passa a ser usado como local de alimentação (Lowe-Mcconnell, 1987). Neste contexto, o rio Turvo pode ter um importante papel na manutenção da ictiofauna do médio rio

2 Paranapanema, principalmente do reservatório de Salto Grande. Deste modo, o objetivo do presente artigo foi efetuar o diagnóstico da ictiofauna da bacia do Rio Turvo, afluente do rio Pardo, no estado de São Paulo. Materiais e Métodos O diagnóstico da ictiofaunística do rio Turvo (Figura 01) foi realizado através de dados primários obtidos entre agosto de 1990 e dezembro de 1991 e em janeiro de 2010, com a utilização de redes de espera de diversas malhas, tarrafas, espinhéis e arrastos (em quatro pontos no rio Turvo, um no rio Alambari e outro no rio São João), e com base em dados secundários, a partir de trabalhos publicados em revistas especializadas, artigos em congressos e relatórios técnicos. As referências consultadas foram: Cesp (1991), Dias et al. (1993), Dias & Garavello (1997), Varella et al. (2007), Brandão (2007) e Brandão et al. (2009). Além desses autores, foram pesquisadas as bases de dados das coleções ictiológicas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Museu de Ictiologia da Universidade Estadual de Londrina e o Museu de Ictiologia do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura, da Universidade Estadual de Maringá. As sinonímias entre as espécies foram eliminadas por pesquisa a Reis et al. (2003) e ao sítio do Fishbase. A identificação dos peixes, coletados em janeiro de 2010, foi baseada em Graça & Pavanelli (2007), e as espécies ameaçadas de extinção foram obtidas através de consulta a Lista Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção publicada pelo Ministério de Meio Ambiente (Ibama, 2003). Figura 01 Localização dos pontos de coleta no rio Turvo e tributários. Resultados e Discussão Foram registradas 67 espécies de peixes (ver enquadramento abaixo) pertencentes a cinco ordens e 21 famílias. As ordens Characiformes (33 espécies) e Siluriformes (26 espécies) foram as mais representativas em termos de número de espécies (88%), enquanto que as famílias mais representativas foram Characidae (12 espécies), Loricariidae (12 espécies) e Anostomidae (8 espécies). Entre as espécies registradas na bacia do rio Turvo, destaca-se a presença de duas espécies ameaçadas de extinção (Brycon orbignyanus e Myleus tiete), que apresentavam ampla distribuição na bacia do alto rio Paraná, e atualmente somente são capturadas eventualmente. Há que se destacar também a presença de Salminus hilarii (tabarana), que embora não conste das listas de espécies ameaçadas, apresenta

3 seus estoques bastante reduzidos. Apesar do elevado grau de desenvolvimento regional, não foi registrada a presença de espécies exóticas. Enquadramento Taxonômico Ordem Characiformes Família Parodontidae Apareiodon affinis (Steindachner, 1879) Apareiodon piracicabae (Eigenmann, 1907) Família Curimatidae Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948) Cyphocharax nagelli (Steindachner, 1881) Steindachnerina insculpta (Fernández-Yépez, 1948) Família Prochilodontidae Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) Família Anostomidae Leporinus friderici (Bloch, 1794) Leporinus lacustris Campos, 1945 Leporinus octofasciatus Steindachner, 1915 Leporinus striatus Kner, 1858 Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1836) Leporinus paranensis Garavello & Britski, 1987 Leporinus sp. Schizodon nasutus Kner, 1858 Família Crenuchidae Characidium aff. zebra Eigenmann, 1909 Characidium fasciatum Reinhardt, 1867 Characidium sp. Família Characidae Astyanax aff. fasciatus (Cuvier, 1819) Astyanax aff. bockmanni Vari & Castro, 2007 Astyanax aff paranae Eigenmann, 1914 Astyanax altiparanae (Garutti & Britski, 2000) Bryconamericus stramineus Eigenmann, 1908 Oligosarcus paranensis Menezes & Géry, 1983 Piabina argentea Reinhardt, 1867 Salminus hilarii Valenciennes, 1850 Brycon orbignyannus (Valenciennes, 1850) Myleus tiete (Eigenmann & Norris, 1900) Serrasalmus maculatus Kner, 1858 Galeocharax knerii (Steindachner, 1879) Família Acestrorhynchidae Acestrorhynchus lacustris (Lutken, 1875) Família Erythrinidae Hoplias lacerdae Miranda Ribeiro, 1908

4 Hoplias aff. malabaricus (Bloch, 1794) Hoplias sp 3 Ordem Siluriformes Família Cetopsidae Cetopsis gobioides Kner, 1858 Família Aspredinidae Bunocephalus larai Ihering, 1930 Família Callichthyidae Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) Família Loricariidae Hisonotus insperatus Britski & Garavello, 2003 Loricaria prolixa Isbrucker & Nijssen, 1978 Loricaria sp. Rineloricaria latirostris (Boulenger, 1900) Hypostomus ancistroides (Ihering, 1911) Hypostomus hermanni (Ihering, 1905) Hypostomus cf. nigromaculatus (Schubart, 1964) Hypostomus cf. paulinus (Ihering, 1905) Hypostomus strigaticeps (Regan, 1908) Hypostomus regani (Ihering, 1905) Hypostomus sp 1 Hypostomus sp 2 Família Heptapteridae Heptapterus mustelinus (Valenciennes, 1835) Imparfinis mirini Haseman, 1911 Pimelodella avanhandavae Eigenmann, 1917 Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Família Pimelodidae Iheringichthys labrosus (Lutken, 1874) Pimelodus maculatus La Cepède, 1803 Família Pseudopimelodidae Pseudopimelodus mangurus (Valenciennes, 1835) Família Auchenipteridae Ageneiosus militaris Valenciennes, 1836 Tatia neivai (Ihering, 1930) Família Trichomycteridae Parastegophilus paulensis (Miranda Ribeiro, 1918) Ordem Gymnotiformes Família Gymnotidae Gymnotus sylvius Alber & Fernandes-Matioli, 1999 Gymnotus carapo Linnaeus, 1758

5 Família Sternopygidae Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) Ordem Synbranchiformes Família Synbranchidae Synbranchus marmoratus Bloch, 1795 Ordem Perciformes Família Cichlidae Crenicichla bristkii Kullander, 1982 Crenicichla niederleinii (Holmberg, 1891) Crenicichla sp. Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) Quando comparado aos demais rios da bacia do rio Paraná, o número de espécies registradas na bacia do rio Turvo é menor que o registrado nos rios Ivinhema (91 espécies) e Iguatemi (77 espécies) por Agostinho et al. (1997, 2004), Tibagi (110 espécies) por Shibatta et al. (2002). Quando comparado o número de espécies de peixes capturadas no rio Turvo, com aquelas registradas na área de influência do reservatório de Salto Grande, verifica-se que este número foi semelhante ao de Brandão (2007) e Brandão et al. (2009), porém, maior que aquele registrado por Dias & Garavello (1997). Somandose todas as espécies registradas por Dias et al. (1993), Dias & Garavello (1997), Brandão (2007), Brandão et al. (2009) e aquelas observadas na presente análise, são registradas 109 espécies de peixes na área de influência do reservatório de Salto Grande, sendo o rio Turvo responsável por 62,38% das espécies que ocorrem na área de influência daquele reservatório. Referências Agostinho, A. A.; BINI, L. M.; Gomes, L. C.; Júlio JR., H. F.; Pavanelli, C. S.; Agostinho, C. S. Fish assemblages. In: Thomaz, S.M; Agostinho, A. A; Hahn, N. S. (Ed.). The upper Paraná River and its floodplain: physical aspects, ecology and conservation. Leiden: The Netherlands Backhuys, p Agostinho, A. A.; Júlio JR., H. F.; Gomes, L. C.; Bini, L. M.; Agostinho, C.S. Composição, abundância e distribuição espaço-temporal da ictiofauna. In: Vazzoler A. E. A. de M.; Agostinho, A. A.; Hahn, N. S. (Eds.), A planície de inundação do Alto Rio Paraná. Maringá: Eduem, p Brandão, H. A ictiofauna da represa de Salto Grande (médio rio Paranapanema SP/PR): composição, estrutura e atributos ecológicos. (Dissertação de mestrado). Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Unesp, Campus de Botucatu. Botucatu, p. Brandão, H.; Vidotto-Magnoni, A.P.; Ramos, I.P.; Carvalho, E.D. Assessment of the ichthyofauna in stretches under the influence of Salto Grande Reservoir (Middle Paranapanema River, SP/PR, Brazil). Acta Limnol. Bras., v. 21, n. 4, p , 2009.

6 Cesp. Aproveitamento Hidroelétrico do Rio Turvo: Estudo de viabilidade Ambiental (Relatório Interno). Sao Paulo, CESP Dias, J. H. P. ; Garavello, J. C. Ecological studies on the fish community of Salto Grande Reservoir, Paranapanema River Basin, São Paulo, Brazil. Verh Int Verein. Limnol., v.26, p , Dias, J.H.P.; Langeani, F.; Novelli, J.L.; Vianna, N.C. Composição da ictiofauna do rio Turvo, drenagem do rio Paranapanema, SP. In: X Encontro Brasileiro de Ictiologia, Resumos... S. Paulo: SBI/IO-USP/IP-CPA-SAA, p Graça, W.J.; Pavanelli, C.S. Peixes da planície de inundação do alto rio Paraná e áreas adjacentes. Maringá: EDUEM, p. Ibama. Lista de espécies ameaçadas de extinção Disponível em acessado em 01/12/2009. Lowe-Mcconnell, R. H. Ecological studies in tropical fish communities. Cambridge: Cambridge University Press, Reis, R.E.; Kullander, S.O.; JR. Ferraris, C.J. Check list of the freshwater fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, p. Santa Cruz do Rio Pardo. A história do rio Pardo. Disponível em Acessado em 12 de maio de Sato, Y.; Cardoso, E.L.; Amorin, J.C.C. Peixes das lagoas marginais do rio São Francisco à montante da represa de Três Marias (Minas Gerais). Brasilia, DF: Codevasf, p. Shibatta, O. A.; Orsi, M. L.; Bennemann, S. T.; Souza, S. A. T. Diversidade e distribuição de peixes na bacia do rio Tibagi. In: Medri, M. E. :Bianchini, E.; Shibatta, O. A.; Pimenta, J. A.; (Eds.), A bacia do Rio Tibagi. Londrina: EDUEL, p Torloni, C.E.C.; Girardi, L.; Nascimento, E.P. Considerações sobre a utilização de escadas para peixes e de estações de aqüicultura na conservação da fauna ictíica no estado de São Paulo. 2ª Ed. S. Paulo: CESP (Coleção Ecossistemas aquáticos, 003), p. Varella, H.R.; Cesário, V.V.; Oliveira, A.K.; Apone, F.; Lopes, X.M.; Sabbag, A.F.; Garavello, J.C. Composição da ictiofauna do médio rio Paranapanema no trecho entre os reservatórios de Salto Grande e Jurumirim, estados do Paraná e São Paulo. In: Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007, Caxambu MG. P