CARACTERÍSTICAS DE FIBRA EM UMA POPULAÇÃO F 2 SEGREGANTE PARA A COLORAÇÃO VERDE DA FIBRA (*)
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1 CARACTERÍSTICAS DE FIBRA EM UMA POPULAÇÃO F 2 SEGREGANTE PARA A COLORAÇÃO VERDE DA FIBRA (*) Rafaela L. Araújo (UEPB), Vanessa C. Almeida (UFRN), Lúcia Vieira Hoffmann (Embrapa Algodão), Ruben Guilherme da Fonseca (Embrapa Algodão), Luiz Paulo de Carvalho (Embrapa Algodão), Paulo Augusto Vianna Barroso (Embrapa Algodão / pbarroso@cnpa.embrapa.br) RESUMO - O algodoeiro colorido é uma alternativa mais adequada que o algodoeiro de fibra branca para os pequenos produtores. O melhoramento deste tipo especial de algodão é realizado desde a década de 90 e algumas variedades estão disponíveis para plantio. Apesar dos avanços obtidos, poucas populações segregantes foram analisadas até o momento. Conhecer melhor o comportamento de populações segregantes permitirá identificar com mais clareza as necessidades e dificuldades a serem vencidas pelos melhoristas. Este trabalho avaliou uma população F 2 segregante para a coloração verde de fibra, formada pelo cruzamento entre uma linhagem F 6 de fibra verde (CNPA 7H x Arkansas Green) com CNPA ITA 90. Verificou-se que, em média, as plantas de fibra branca são superiores às de coloração verde e que correlações acentuadas foram observadas em caracteres importantes como a percentagem de fibra no capulho e resistência da fibra à ruptura. Contudo, alguns indivíduos de fibra verde apresentam valores similares aos observados em materiais de fibra branca, o que deve permitir obter variedades de fibra verde similares às de fibra branca quanto às características de fibra e percentagem de fibra no capulho. Palavras-chave: algodão colorido; algodão verde; características de fibra CHARACTERIZATION OF F 2 POPULATION SEGREGATING TO GREEN FIBER COLORATION ABSTRACT - The naturally colored cotton is a more suitable alternative for small scale producers than those with white fibres. The enhancing of this particular cotton plant have been carried out since the 90`s and some varieties are able for cultivation already. Despite all the achievements, very few segregant populations were analyzed until now. To know further about their behavior will allow one to identify more clearly the demands and difficulties to be overcome by the researchers. On this work there was evaluated green shade fibres segregant populations, obtained by crossing one F 6 linage of naturally green fibre cotton (CNPA 7H x Arkansas Green) with CNPA ITA 90. It was verified that, in average, the white fibre plants are superior in quality than the green ones and that high correlation levels occurred in important characters such as fibre output and strength. Nevertheless, some green fibre individuals have presented values similar to those observed for white ones, which may allow the achievement of green naturally colored fibres similar to white ones regarding fibre output and technological characteristics. Key words: colored cotton; green cotton; fibre characteristics
2 INTRODUÇÃO Tecidos feitos a partir de fibra de algodão colorido eram utilizados pelos indígenas americanos desde os tempos pré-colombianos, havendo evidências arqueológicas de seu emprego em épocas tão longínquas quanto 3100 AC (VREELAND, 1993). Seu uso foi sendo gradativamente abandonado com a evolução da indústria fabril e o desenvolvimento dos corantes artificiais. Até a década passada, somente alguns pequenos produtores mantinham lavouras destinadas a confecção artesanal (FREIRE et al, 2000). O algodão naturalmente colorido tem ocupado destaque na mídia, agradado a consumidores e beneficiado pequenos produtores do semi-árido. Além do valor agregado à diferenciação do produto, o uso de fibras naturalmente coloridas reduz os custos de obtenção do tecido durante o processo de industrialização. Esta economia se dá pela dispensa dos produtos químicos (corantes, alvejantes, etc), pela redução da quantidade de água necessária para a obtenção do tecido acabado, pelo menor gasto de energia e pela redução da quantidade de efluentes a serem tratados. Embora a coloração verde da fibra seja conhecida há muito tempo, e sua herança tenha sido determinada (KHOEL, 1985), poucas populações segregantes para este caráter foram avaliadas até o momento. Conhecer as correlações existentes e o comportamento da média é importante para balizar a síntese de novas populações e o modo com que elas devem ser conduzidas. Este trabalho descreve uma população F 2 segregante para a coloração verde da fibra. MATERIAL E MÉTODOS Material vegetal O estudo foi conduzido em uma população F 2 formada pelo cruzamento entre a variedade CNPA Ita 90 (fibra branca) e um indivíduo F 6 de fibra verde (originado do cruzamento entre Arkansas Green e CNPA 7H). As plantas foram cultivadas em casa-de-vegetação e colhidas individualmente. A coloração da fibra foi avaliada, tendo sido estabelecidas três classes: branca, verde claro e verde escuro. Avaliação das características de fibra A fibra do algodoeiro foi beneficiada em máquina de rolo, sendo pesada antes e após o beneficiamento. Os dados das pesagens foram usados para estimar a percentagem de fibra no capulho. As características de fibra: comprimento médio (mm), maturidade (%) e resistência da fibra (g/tex), alongamento à ruptura (%) e índice de fiabilidade (CSP) foram avaliadas em HVI. Parte das plantas não apresentava fibra em quantidade suficiente para a realização da análise de micronaire (8,5g), o que impediria a realização das demais análises. Para contornar este problema foram constituídos três bulks de fibra, branca, verde claro e verde escuro, retirando um pouco de fibra das plantas pertencentes a cada classe. Em função da formação dos bulks, os dados de micronaire foram desconsiderados. A quantidade relativa de pigmento na fibra de cada indivíduo foi avaliada em espectrofotômetro após a extração do pigmento de 0,1g de fibra com etanol acidificado com 1% de ácido nítrico (v/v) a 60 C por 4 horas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo o teste de X 2, a freqüência de plantas com fibra de coloração branca (lglg), verde claro (Lglg) e verde escuro (LgLg), apresentou distribuição similar à esperada para caracteres controlados por um loco com dois alelos co-dominantes. Tal resultado já era aguardado, pois a coloração da fibra presente no genitor deriva de Arkansas Green, cuja herança já havia sido previamente determinada (KOHEL, 1985). Portanto, não foi verificado nenhum desvio significativo da freqüência esperada. Tabela 1. Freqüência observada de plantas com fibra branca, verde claro e verde escuro, freqüência esperada segundo segregação mendeliana de um gene com dois alelos e teste de X 2. Frequência observada Frequencia esperada X 2 Branco 40 31,25 2,46 ns (P=0,29) Verde Claro 53 62,50 Verde Escuro 32 31,25 A análise de variância dos indivíduos F 2 permitiu verificar que, em média, os indivíduos com coloração de fibra diferente apresentam comportamento distinto em todos os caracteres avaliados (Tab. 2). Observando os valores, nota-se que os mais distantes daqueles considerados ideais foram obtidos no grupo de indivíduos de coloração verde escuro. As plantas com fibra verde claro apresentaram comportamento intermediário, ora tendendo a se aproximar mais das plantas de fibra branca, ora mais similares às plantas de fibra verde escuro (Tab. 3). Tabela 2. Resumo das análises de variância dos caracteres teor do pigmento, percentagem de fibra no capulho, comprimento médio(mm), maturidade (%), resistência (g/tex), alongamento à ruptura (%) e índice de fiabilidade (CSP). Tratamento Erro GL QM GL erro QM erro F Pigmento 2 5, ,05 121,62** Percentagem de fibra , ,36 131,53** Comprimento 2 5, ,89 3,08* Fibra curta 2 32, ,83 17,82** Resistência 2 445, ,84 50,37** Alongamento 2 42, ,52 16,88** Maturação 2 232, ,92 120,99** Fiabilidade , ,90 13,55** * P<0,05 ** P<0,01
4 Tabela 3. Médias dos caracteres teor do pigmento, percentagem de fibra no capulho, comprimento médio (mm), maturidade (%), resistência (g/tex), alongamento à ruptura (%) e índice de fiabilidade (CSP), segundo a coloração da fibra dos indivíduos. Pigmento % Fibra Comprimento % fibra curta Verde escuro 0,86a 31c 27,9 b 5,4 b Verde claro 0,32b 37b 28,7 ab 4,1 a Branco 0,07c 43a 28,4 a 3,5 a Resistência Elongamento Maturação Fiabilidade Verde escuro 22,2 b 7,7 a 84,9 b 2170 a Verde claro 27,7 a 9,7 c 84,9 b 2217 a Branco 28,9 a 8,5 b 89,1 a 2107 b Os valores obtidos no caráter percentagem de fibra foram afetados pela pequena quantidade de capulhos disponíveis para a realização desta análise. Apesar de terem sido usados todos os capulhos produzidos em cada planta, a massa fibrosa a beneficiar aquém do recomendável propiciou a passagem de impurezas em quantidade excessiva, fazendo com que o valor absoluto da percentagem de fibra ficasse acima do real. Contudo, como o viés foi introduzido em todas as amostras, o valor obtido serve como referência para comparações entre os indivíduos e classes usados neste trabalho. A pigmentação apresentou correlações negativas com a percentagem de fibra nos capulhos, com a resistência da fibra, alongamento à ruptura e maturidade; e correlação positiva com o índice de fibras curtas. Os coeficientes foram particularmente altos com a resistência e percentagem de fibra no capulho. Portanto, devido às correlações existentes, genótipos com fibra verde tendem a apresentar comportamento inferior em relação a genótipos de fibra branca quanto às características intrínsecas da fibra. Resultados similares já haviam sido obtidos por Carvalho e Santos (2003). A menor resistência das fibras coloridas deve estar relacionada com a redução percentual de celulose, principal componente da fibra branca e principal responsável por sua resistência. Esta correlação, provavelmente, tem origem pleiotrópica. Contudo, pode-se atingir valores de resistência aceitáveis pela indústria têxtil partindo-se de genitores de fibra branca com valores elevados desta característica. Tabela 4. Correlações entre a quantidade de pigmento na fibra, percentagem de fibra nos capulhos, comprimento médio (mm), maturidade (%), resistência da fibra (g/tex), alongamento à ruptura (%) e índice de fiabilidade (CSP). Pigmento Percentagem de fibra Compr Fibra curta Resistência Elongamento Matur % de fibra -0,84* Comprimento -0,14-0,01 Fibra curta 0,50* -0,40* -0,48* Resistência -0,75* 0,65/ 0,24* -0,48* Elongamento -0,38* 0,32* -0,05-0,24* 0,56* Maturação -0,49* 0,64* 0,08-0,33* 0,31* -0,26* Fiabilidade 0,11-0,34* 0,75* -0,26* 0,12-0,02-0,42* * significativo 5%
5 Embora os valores médios dos materiais verde escuro tenham ficado aquém dos considerados ideais, alguns apresentaram valores de comprimento e percentagem de fibra similares às médias dos genótipos com fibra branca. Isso indica que as correlações observadas, ao menos para alguns caracteres não se devem a pleiotropia. Caso as correlações se devam a ligação entre os locos que controlam os diferentes caracteres, pode-se quebrá-las maximizando as recombinações, processo que deve ser obtido de modo natural com o avanço do melhoramento de algodoeiros de fibra verde. Conforme Carvalho e Santos (2003), o processo de melhoramento de algodoeiros coloridos é recente, quando comparado ao melhoramento de algodoeiros de fibra branca. É provável que o avanço dos trabalhos permita obter materiais com características similares às existentes nos algodoeiros convencionais. CONCLUSÃO Face às correlações existentes, genótipos com fibra verde tendem a apresentar comportamento inferior em relação a genótipos de fibra branca quanto às características intrínsecas da fibra, bem como. Esta perda de qualidade tende a acentuar-se proporcionalmente à redução da ocorrência de fibras de cor branca no capulho. (*)Trabalho financiado pelo Banco do Nordeste. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KHOEL, R. J. Genetic analysis of fiber color variants in cotton. Crop Science, v.25, p , CARVALHO, L. P.; SANTOS, J. W. Respostas correlacionadas do algodoeiro com a seleção para a coloração da fibra. PAB, v. 38, n. 1, p , VREELAND, J. M. Naturally colored and organically grown cottons: anthropological and historiacal perspectives. In: BELTWIDE COTTON CONFERENCES, 1993, Procedings... v. 3, p FREIRE, E. C. et al. O algodão colorido no Brasil. Embrapa CNPA, Folder.
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