Reflexão acerca da Fotografia Digital
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- Fábio Candal Palha
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1 Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Instituto de Artes IA Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação DMM Reflexão acerca da Fotografia Digital Lucas Corazzini RA: Profº Drº Muricius Farina CS306 Fotografia Digital 1º Semestre 2011 Campinas, 2011
2 Introdução A fotografia digital é uma realidade mais do que estabelecida. Hoje em dia, praticamente todas as pessoas carregam uma maquina fotográfica em seus bolsos acopladas aos seus celulares. O processo é tão simples que qualquer um pode apontar sua lente para algum lugar e capturar uma imagem. Tamanha popularização traz consigo diversos fatores de dentro de uma esfera alocação teórica devem ser analisados. A difusão da fotografia que a técnica digital possibilitou é indiscutivelmente fenomenal, porém muito do que se conhecia e se tinha estabelecido há muito tempo baseando-se na fotografia analógica modificou-se ou tornou-se obsoleto. Faz-se necessária uma nova concepção sobre o ato fotográfico e suas consequências. Analisar as mudanças, buscar novas explicações e desvendar os novos parâmetros que regem a fotografia requer certa clareza de todo processo de desenvolvimento da fotografia desdas primeiras imagens captadas até o atual patamar digital, para isso tracemos uma breve cronologia da história da fotografia. Breve cronologia da História da Fotografia A palavra fotografia deriva do grego e significa desenhar com a luz. Portanto, por definição fotografar é, essencialmente, o ato de criar imagens por meio de exposição luminosa de uma superfície sensível. Dessa forma a fotografia está profundamente baseada na interação entre luz e material sensível. O desenvolvimento do processo fotográfico não pode ser creditada a um único responsável. Porém um marco dessa evolução certamente é Louis-Jacques- Mandé Daguerre, criador do processo conhecido como daguerreotipia. Num período não muito longo de tempo os daguerreótipos tornaram-se muito populares, já engatando as primeiras discussões sobre o futuro da pintura e seu suposto fim. Avançando nas técnicas da fotografia chega-se a meados do século XIX quando William Foz Talbot em seus estudos de aperfeiçoamento do daguerreótipo desenvolve o negativo em papel, características fundamental para a posterior explosão de popularidade da fotografia.
3 O estabelecimento da fotografia como forma de retrato de imagens, gerou grande tensão entre esse novo campo e a pintura, o que como uma reação ao novo desenvolve-se no impressionismo dando um novo folego e recolocando a pintura no seu rumo dentro das artes visuais, reencontrando assim sua essência e valor dentro da ampla área das artes visuais. Em 1888 a Kodak abre as portas de sua fabrica baseado no lema de que todos podem tirar suas fotografias. Popularizou-se então de uma vez por todas a fotografia. Ao fim do século XX adentrando o século XXI inicia-se a digitalização dos sistemas fotográficos. Com um desenvolvimento assustadoramente veloz, a fotografia digital mudou os paradigmas do mundo da fotografia, minimizou custos, reduziu etapas, acelerou processos, facilitou a produção, manipulação, armazenamento e difusão das imagens pelo mundo. Oferecendo equipamentos, ao mesmo tempo com preços cada vez menores e com recursos cada vez mais sofisticados, com cada vez maior facilidade de operação e qualidade cada vez maior. O Embate Fotografia x Pintura Desde o inicio das produções fotográficas existiu uma certa tensão entre fotógrafos e pintores. A popularização dos daguerreótipos ainda no século XIX inaugurou as primeiras discussões sobre um possível fim da pintura, conhecendo os rumos que as artes visuais tomaram, sabemos que isto não aconteceu. Mas se refletirmos na conjuntura de fatos da época não é difícil perceber que tal suposição não era em toda fantasia. O desenvolvimento e popularização da daguerreotipia criou um imaginário nas pessoas, antes daquilo a pintura é a forma corrente de representação. Mas com o surgimento de uma ferramente que retratasse a realidade de uma forma tão direta certamente aqueles que viam a pintura como uma simples forma de representação da realidade logo a descreditaram e jogaram toda sua confiança neste novo invento. Porém quase com um movimento de reação surge o impressionismo que
4 não mais se preocupavam com os preceitos do Realismo ou da academia. A busca pelos elementos fundamentais de cada arte levou os pintores impressionistas a pesquisar a produção pictórica não mais interessados em temáticas nobres ou no retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em si mesma. Esse novo entendimento da pintura fornecido pelo impressionismo recolocou-a no rumo das artes visuais. Já com a fotografia estabelecida e com processos muito mais simples, em 1936, Walter Benjamin publica seu famoso texto A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, um ensaio que investiga a existência da arte na era da cópia, da fotografia. Neste texto Benjamin discute os novos rumos da arte numa época em que a reprodução artística tomou conta do mundo. Sob a ótica dele essa nova era gera uma grande potencialidade artística, a reprodutibilidade possibilita a democratização da estética. Antes da reprodução as obras tinha em si agregadas uma aura que, estabelecida pela distância e unicidade, se impõe ao observador. Seja por questão religiosa como na Idade Média, seja por questão social que surge juntamente com a burguesia. Muito valor era agregada à obra autentica, por ser a primeira, porém com o advento de novas formas de arte, como a fotografia, possibilita inúmeras réplicas a partir de um mesmo original. Benjamin utiliza o exemplo de um negativo fotográfico que ampliado 2 vezes, não há mais como se distinguir qual é o primeiro ou qual é o autêntico, isso traduz-se no fim da aura, liberando a arte para novas possibilidades. Teóricos da Escola de Frankfurt entretanto apontavam na direção oposta às ideias de Benjamin. Theodor Adorno e Max Horkheimer são expoentes desta escola, segundo eles toda reprodução contribui para a perda de identidade da originalidade e está à disposição de uma elite que manipula aqueles que não possuem acesso aos originais, através de cópias feitas em série, conferindo a todas as cópias uma característica mercadológica, portanto, massificante. É clara a tensão e as discussões que a fotografia gerou no campo das artes visuais, principalmente no entendimento e analise da pintura em relação a essa nova forma de retrato. Essa mesma tensão é visto hoje quando colocamos frente a frente a fotografia analógica e a fotografia digital. Claro que não trata-se da mesmo
5 problemática, o embate entre foto e pintura tratava-se de uma nova forma em relação a um técnica antiga já estabelecida. A fotografia digital por sua vez gerou inicialmente uma disputa entre as novas formas de fazer fotografia e uma resistência ao novo. Um novo enfrentamento, o Analógico x Digital Através do breve histórico apresentado temos clareza do papel estabelecido da fotografia dentro das artes visuais, e sua coexistência com a pintura. Sabemos também que a fotografia digital é uma realidade, não há mais como se contestar que uma equipamento digital pode obter uma imagem de qualidade. Dentro desse cenário podemos ver um segundo choque de técnicas e teorias. As discussões geradas sobre a pintura surgiram com a popularização da fotografia logo nos seus primórdios. Hoje podemos rever essa discussão em torno da fotografia analógica, com o advento da fotografia digitalizada, muitos já veem a fotografia analógica como algo obsoleto e em declínio. É claro que são enfrentamentos diferentes, com atores diferentes, argumentos diferentes, que ocorreram em épocas diferentes e muito provavelmente terão desfechos diferentes. Mas é de grande valia traçarmos um paralelo entre os dois acontecimentos, evidenciando pontos em comum e diferenças no desenvolvimento da técnica digital e num possível reentendimento da fotografia analógica. Ao contrario do desenvolvimento da fotografia clássica que foi lento e gradual, a fotografia digital sofreu um grande boom e em pouco tempo passou de uma esperança a uma realidade estabelecida. Devido esse rápido desenvolvimento não houve tempo hábil para acostumar-se e desenvolver uma base teórica sólida que regesse a fotografia digital. Em suma, a técnica estabeleceu-se antes da teoria. A velocidade também deu espaço para a dúvida sobre a coexistência ou não entre o analógico e o digital. A digitalização nem bem mesmo começou e já era extremamente popular e acessível, muitos logo deixaram suas câmeras analógicas de lado, porém houveram aqueles que resistiram e tornaram-se partidários da sobrevivência analógica. Para membros da resistência analógica ainda existem argumentos que
6 sustentariam o uso do analógico frente ao digital como por exemplo, a alegação de que a fotografia digital não tem uma forma de armazenamento tão confiante quanto o negativo, arquivos eletrônicos podem ser apagados muito facilmente. Outro argumento refere-se à manipulação da fotografia, que no âmbito digital é muito fácil de se realizar, aumentando a possibilidade de fraudes e danos ao objeto fotografado, colocando assim em xeque a credibilidade da fotografia como resquício indicial do objeto fotografado. A problemática da indicialidade é um dos principais pontos que se levantam na discussão da fotografia digital em seu caráter teórico. Como dito anteriormente a palavra fotografia significa desenhar com a luz, portanto sua essência reside no contato da luz com o material sensível, o filme. Na fotografia digital, a luz sensibiliza um sensor, chamado de CCD, que por sua vez converte a luz em um código eletrônico digital, um quadro com o valor das cores de todos os pixels da imagem. Por converter os sinais luminosos em pulsos elétricos, muitos apontam a foto digital como alguma outra coisa que fotografia. Voltando ao paralelo traçado anteriormente vemos que como ocorreu com a pintura, a fotografia analógica tenta reencontrar seu caminho caminhando ao lado do digital, procurando argumentos que a sustentem frente à inovação. Mas os fatos demonstram que em breve veremos um fim bem diferente do que a pintura conseguiu no século XIX. Assim como sua velocidade de desenvolvimento, a fotografia digital vem matando a fotografia analógica com espantosa rapidez. A facilidade proporcionada no processo digital certamente é o destaque desse acontecimento. Nunca foi tão fácil obter uma foto, manipula-la e imprimi-la. Essa facilidade aliada à redução dos custos popularizou a fotografia digital entre o publico mais generalizado. Essas vantagens quando se encontraram com o desenvolvimento de equipamentos que geravam imagens com qualidade comparável à qualidade analógica, ganharam os fotógrafos profissionais, apontando para o fim gradual da fotografia analógica em um curto período de tempo. Muitos fornecedores de suplementos necessários para se trabalhar com fotografia analógica já anunciaram o fechamento de fábricas e a não confecção de materiais para o amador da fotografia analógica, transformando a prática tão comum da fotografia analógica
7 em coisa primitiva. É evidente o declínio do analógico frente ao digital, o embate tomou um rumo diferente do anterior. Sim, pode haver coexistência entre o analógico e o digital, mas dificilmente esta primeira sobreviverá por muito tempo mais. As vantagens oferecidas pelo equipamento digital são tantas que dificilmente as complicadas técnicas analógicas serão mantidas como uso corrente. Entusiastas e veteranos da fotografia a manterão viva em pequena escala, mas num âmbito profissional a fotografia digital é uma realidade já mais do que estabelecida. A questão do digital Indo além do fato de a fotografia digital ter conquistado o espaço antes pertencente à fotografia analógica, é preciso refletir sobre o funcionamento do processo digital e suas consequências. A manipulação e modificação de fotografias sempre foi possível mesmo no processo analógico, mas a digitalização da fotografia facilitou em muito essas intervenções. Essa facilidade traz consigo questões éticas e estéticas. Dentro de uma edição de material fotográfico é preciso mensurar a quantidade de influencia externa que está sendo agregada à fotografia, o quanto as mão do editor estão modificando o significado original da imagem. Outro ponto de reflexão importante refere-se ao armazenamento do material. Na fotografia analógica os negativos apesar de suas dificuldade guardam o material original com muito mais segurança do que arquivos digitais que num simples deslise de comandos num teclado pode ser apagado permanentemente. Arquivos fotográficos dos séculos XIX e XX estão até hoje conservados, e a isso deve ser dado muito crédito. Na digitalidade é necessário cuidado redobrado com a manutenção de arquivos. Muito ainda deve-se refletir frente às inovações e facilidade possibilitadas pela fotografia digital. Apesar de claro, o declínio do analógico é gradual e certamente sobrarão resquícios dessa técnica. A popularidade proporcionada pela fotografia digital pode ser comparada à democratização da artes dita por Walter Benjamin, cada vez mais pessoas tem acesso ao processo fotográfico, abrindo um
8 novo leque de possibilidades de criação. Porém é sempre necessário o cuidado, noção e clareza de onde esse processo tão simples e facilitado pode estar te levando. Bibliografia BUSSELLE, Michael. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Círculo do Livro, CLARK, Roger. Film x Digital Em: < GURAN, Milton. Linguagem fotográfica e informação. 3. ed. Rio de Janeiro: Gama Filho, HUMBERTO, Luis. Fotografia, a poética do banal. Brasília: Universidade de Brasília, MORAIS, Israel. Estudo sobre Fotografia Digital, Campinas, MOURA, Edgar. 50 anos luz, câmera e ação. 2. ed. São Paulo: SENAC, ROUILLÉ, André. A fotografia entre documento e arte contemporânea. São Paulo; SENAC SINGLETON, Adam. Digital Imaging: the Death of Film? Em: < KOSSOY, Boris. Fotografia e História, São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
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