SAZONALIDADE DE ALAGAÇÕES E SECAS NA CAPITAL DO ACRE, RIO BRANCO, AMAZÔNIA OCIDENTAL. Alejandro Fonseca Duarte
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1 SAZONALIDADE DE ALAGAÇÕES E SECAS NA CAPITAL DO ACRE, RIO BRANCO, AMAZÔNIA OCIDENTAL Alejandro Fonseca Duarte Universidade Federal do Acre, Brasil, Rio Branco AC. fd.alejandro@gmail.com RESUMO: No presente trabalho foram utilizados dados de precipitação na América do Sul do NCEP e dados monitorados na estação meteorológica convencional do INMET, localizada em Rio Branco, nas coordenadas Lat -9,956 e Lon -67,866. Destes dados, foram obtidas duas climatologias das chuvas para o intervalo : ambas coincidentes no raio aproximado de 150 km em torno do sítio de monitoramento. Por outro lado, foram analisadas as anomalias de chuvas na bacia hidrográfica do rio Acre, entre 1970 e 2011, bem como a sua relação com as vazões que afetaram sensivelmente a população da cidade de Rio Branco. Observou-se a alternância sazonal de vazões extremas acima de 900 m 3 /s (alagações) e abaixo de 50 m 3 /s. Esta situação tem sido mais evidente a partir de 1990, mas seu impacto social aparenta estar relacionado com a falta de planejamento físico da cidade. ABSTRACT: In this study we used NCEP precipitation data over South America and in-situ monitored data of the conventional INMET weather station, located in Rio Branco, at coordinates Lat -9,956 and Lon -67,866. From these data were obtained two corresponding rainfall climatologies for the interval , both in exact matching for a radius of approximately 150 km around the monitoring site. On the other hand, we analyzed the rainfall anomalies in the Acre River basin between 1970 and 2011, as well as their relationship with the flow rates of the river that significantly affected the population of Rio Branco. Extreme flows exciding 900 m3/s (blooding) and below 50 m3/s (severe drought) seasonally alternate. This has been evident since 1990, but the social impacts appear to be related to the lack of physical planning of the city. INTRODUÇÃO A caracterização sazonal na região amazônica acumula conhecimentos que têm a ver com diferentes temas tais como dinâmicas do carbono, ciclo das águas, interações entre a vegetação e a atmosfera, a saúde da floresta e a vida das populações (Marengo et al. 2008). Nessa sazonalidade as secas extremas têm tido maiores consequências negativas sobre as populações urbanas e os ecossistemas aquáticos e terrestres, sem desconsiderar os eventos de grandes alagações que, como no caso do ano 2009, afetaram as capitais Manaus e Belém, e muitas outras cidades do Norte e Nordeste do Brasil (INPE 2009). As famílias de baixa renda ocupam as áreas de risco em assentamentos não planejados de escassa ou nenhuma infraestrutura. Nessas condições ficam expostas às catástrofes devido ao componente de vulnerabilidade social. Em grandes cidades em expansão alguns fenômenos
2 naturais obrigam à migração em massa (Adamo 2010). Não é o caso que envolve as condições de vulnerabilidade social em cidades da Amazônia, o qual é extensivo a outras partes do Brasil e da América Latina, onde os eventos hidro-meteorológicos mais frequentes e severos evidenciam a necessidade do ordenamento urbano para solucionar o problema social (Tucci 2004). A cidade de Rio Branco, no Acre, é um exemplo disso, onde: chuvas em torno da média climatológica ou acima dela, entre outubro e abril, geram fluxos no rio Acre que desalojam milhares de pessoas que habitam bairros localizados nas planícies de aluvião; e as poucas chuvas da época de seca, em torno da média climatológica ou abaixo dela, entre maio e setembro, agravam a falta de suprimento do serviço de água nos bairros periféricos e mais populosos da cidade. OBJETIVO Mostrar a recorrência de alagações e secas devido a variabilidades climáticas, cujos impactos negativos se devem à vulnerabilidade da população exposta em áreas urbanas de risco. METODOLOGIA Os valores das médias climatológicas de chuvas serviram de referência na comparação com os valores de chuvas monitorados no curto prazo, distribuídos durante intervalos mensais, possibilitando quantificar as anomalias positivas e negativas, incluindo a manifestação de eventos extremos. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) recomendou, no século XX, a elaboração de climatologias para intervalos de 30 anos com data final 1930, 1960 e 1990, bem como a atualização dessas climatologias no final de cada década, em particular para 1971 a 2000, intervalo utilizado no presente trabalho. As médias climatológicas para a América do Sul foram determinadas a partir dos dados de re-análises do NCEP (National Centers for Environmental Prediction, NOAA, USA) mediante uso de elaborações gráficas do software GrADS. As médias climatológicas para um sítio de monitoramento em Rio Branco foram determinadas com base no banco de dados de chuvas diárias da estação n o do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia, Brasil), localizada na Universidade Federal do Acre. Os dados foram revisados e organizados para cada mês do intervalo considerado. Os resultados e detalhes dessa determinação foram publicados anteriormente (Duarte 2006). Os cálculos das vazões foram realizados com base em medições de velocidade média do rio na sua seção de controle fluviométrico em Rio Branco e nos dados do nível do rio da ANA (Agência Nacional de Águas), desde 1970, corrigidos durante vários anos, com o propósito de estabelecer uma relação entre o nível e a vazão representativa de um longo prazo. RESULTADOS A relação entre nível e vazão do rio Acre, em Rio Branco, está dada na Figura 1. Na Figura 2 estão apresentadas as características climatológicas das chuvas da América do Sul obtidas para este trabalho com base nos dados do NCEP. A sequência de mapas abrange os doze meses do 2
3 ano e os valores normais aparecem associados às escalas, em milímetro. Na Tabela 1 aparecem os valores das normais climatológicas obtidas a partir dos dados do INMET. A inserção nos mapas de um círculo contínuo centrado nas coordenadas (Lat -9,956 e Lon -67,866) do ponto de monitoramento in-situ, com um raio equivalente a 150 km, permite observar a coincidência entre as climatologias determinadas a partir de dados vindos de fontes diferentes. Extremos diários de chuva na bacia do rio Acre e suas contribuições para os acumulados durante semanas e meses implicam em níveis do rio acima da cota de alerta de enchente; a vazão correspondente a esses casos é de 900 m 3 /s. Por outro lado, os acontecimentos de seca prolongada diminuem o nível do rio. A partir de 1990, existe a percepção de que os níveis mínimos são, sazonalmente, cada vez menores e inferiores a 2 m, o qual equivale a vazões inferires a 50 m 3 /s. Os valores extremos de vazão acima de 900 m 3 /s ou abaixo de 50 m 3 /s são devido às variabilidades climáticas sazonais e interanuais das chuvas, que acontecem naturalmente. Valores acima de 900 m 3 /s ocorreram em fevereiro de 1971; fevereiro e março de 1972; fevereiro e março de 1973; fevereiro e março de 1974; fevereiro, março e abril de 1976; fevereiro e março de 1977; abril de 1978; de dezembro de 1978 a abril de 1979; fevereiro e março de 1982; abril de 1984; abril de 1985; fevereiro de 1986; fevereiro de 1988; janeiro de 1991; abril de 1994; fevereiro, março e abril de 1997; janeiro e fevereiro de 1999; fevereiro de 2006; março de 2010 e abril de Quando abaixo de 50 m 3 /s levam quase ao colapso o abastecimento público de água. Tais valores ocorreram entre agosto e outubro de 1998, em setembro de 2000, entre setembro e outubro de 2004, de julho a novembro de 2005, de julho a setembro de 2006, em agosto de 2007, de julho a outubro de 2008, de agosto a novembro de 2009, de agosto a novembro de 2010; e atualmente entre julho e setembro de CONCLUSÕES Cidades no ambiente de águas na Amazônia, como Rio Branco, capital do Estado do Acre, sofrem os impactos negativos de alagações e secas motivados pelas variabilidades climáticas interanuais, em torno das médias climatológicas. Na medida em que essas cidades aumentam em população e, regularmente, em deficiente infraestrutura, tais problemas se agravam em números crescentes de pessoas desabrigadas, bairros carentes do serviço municipal de água, e as consequências em termos de falta de bem-estar e de saúde, embora a situação seja evitável. Durante os últimos quarenta anos, entre 1971 e 2011, aconteceram 21 eventos de alagações de variada duração em Rio Branco com vazões acima de 900 m 3 /s, entre os meses de janeiro e março, principalmente; aconteceram também 9 eventos de vazões muito baixas, inferiores a 50 m 3 /s. O conhecimento hidrometeorológico pode contribuir para políticas de gerenciamento dos recursos hídricos com vistas a minimizar ou evitar os impactos negativos recorrentes nas áreas de risco e de vulnerabilidade social, tanto por excessos quanto por déficits de água. 3
4 AGRADECIMENTOS Agradeço o apoio dado pelo CNPq (Processo /2009-3) para a realização deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adamo, S. B., 2010: Environmental migration and cities in the context of global environmental change. Current Opinion in Environmental Sustainability, 2, Duarte, A. F., 2006: Aspectos da climatologia do Acre, Brasil, com base no intervalo Revista Brasileira de Meteorologia, 21, 10. INPE, 2009: Boletím de monitoramento e análise climática. Climanalise, 25. Marengo, J. A., C. A. Nobre, and Coauthors, 2008: Hydro-climate and ecological behaviour of the drought of Amazonia in Philos. T. Roy. Soc. B, 363, Tucci, C. E. M., 2004: Gerenciamento integrado das inundações urbanas no Brasil. Rega. 1, 15. Tabela 1. Normais climatológicas (média e desvio padrão, mm) das chuvas para o intervalo , em Rio Branco, calculadas a partir do monitoramento in-situ. Chuvas (mm) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média Desvio P Nível (m) Vazão m 3 /s Figura 1. Variações interanuais do nível e da vazão do rio Acre em Rio Branco. 4
5 Figura 2. Climatologia das chuvas para a América do Sul, com base em dados do NCEP, para o intervalo O círculo, nas coordenadas Lat -9,956 e Lon -67,866, destaca o ponto de monitoramento in-situ referido na Tabela 1. Escala de valores em mm. 5
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