ANÁLISE PRELIMINAR DO IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE ITÁ NO CLIMA LOCAL. Maria Laura G. Rodrigues 1 Elaine Canônica 1,2
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1 ANÁLISE PRELIMINAR DO IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE ITÁ NO CLIMA LOCAL Maria Laura G. Rodrigues 1 Elaine Canônica 1,2 RESUMO O presente trabalho investiga as possíveis alterações de precipitação e temperatura (mínima, média e máxima) associadas ao reservatório da Usina Hidrelétrica Itá, localizada entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A comparação espacial e temporal de dados foi efetuada a partir das séries históricas das estações de Itá, a 2Km do lago, Chapecó e Campos Novos, distantes da UHE. Períodos de chuva abaixo da média e temperatura mais elevada foram observados no pósenchimento, em associação a um padrão de clima regional. Alterações no micro clima da Usina foram observadas em relação às temperaturas mínimas e máximas. ABSTRACT This present work investigates possible temperature and precipitation changes, in terms of minimum, maximum and averages, related to Ita hydroelectrical power plant reservoir, located between Santa Catarina and Rio Grande do Sul states. Spatial and temporal comparisons were made with historical series of Ita, a station 2Km away from the reservoir, and Chapeco and Campos Novos stations, away from the reservoir. Periods of rainfall below average and temperature elevations were observed in periods of post-wadding, although related to a regional climate pattern. Changes in the microclimate around the reservoir were observed in relation to temperature changes. Palavras-chave: Impacto de barragens, Micro clima em reservatórios, Reservatório de Itá INTRODUÇÃO Os estudos que avaliam o impacto resultante da construção de reservatórios, no micro clima de uma região, são realizados através do uso de séries históricas, simulações numéricas e experimentações. A análise de dados históricos consiste em caracterizar o clima nas localidades próximas aos reservatórios e comparar os períodos de pré e pós-enchimento do lago. 1 EPAGRI/CIRAM Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina SA Avenida Admar Gonzaga, 1347, Itacorubi -Florianópolis, SC. Tel.: (48) laura@epagri.rct-sc.br 2 ecanonica@epagri.rct-sc.br
2 2 Em geral, estes estudos sugerem mudanças no comportamento de variáveis meteorológicas como temperatura e umidade do ar. A partir de séries históricas, Stivari e Oliveira (1996) e Grimm (1988) detectaram variações no padrão de temperatura, para a região do reservatório de Itaipu. No trabalho de Grimm (1988) também foi observada mudança no campo de umidade relativa do ar. Em áreas marítimas ou de grandes lagos, as oscilações diurnas e sazonais de temperatura e umidade do ar são menores em relação às áreas continentais. O calor recebido pelas superfícies, durante o dia, penetra mais profundamente na água. No solo, é maior o aquecimento da camada superficial, em resposta à forçante solar, e maior a perda de radiação no período noturno. O presente estudo, realizado como parte do convênio estabelecido entre a Tractebel Energia e a Epagri/SC, tem por objetivo investigar possíveis alterações climáticas locais, em relação à temperatura e precipitação, decorrentes da presença do reservatório da Usina Hidrelétrica Itá. O lago da Usina é formado pelas águas dos Rios Canoas e Pelotas, na Bacia do Rio Uruguai, entre os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O enchimento do reservatório foi efetuado entre dezembro de 1999 e junho de 2000, ocupando uma área total de 141Km². DADOS E MÉTODOS Foram utilizadas séries temporais diárias de temperatura e precipitação das estações meteorológicas do tipo convencional localizadas nos municípios de Itá (lat. 27º18 S, lon. 52º20W, alt. 496m), Chapecó (lat. 27º07 S, lon. 52º37W, alt. 679m) e Campos Novos (lat. 27º24 S, lon. 51º12W, alt. 952m), pertencentes à rede do INMet e Epagri. As médias anuais e mensais das temperaturas máxima, mínima e média, e da precipitação, foram determinadas no período (13 anos). Para cada ano do pós-enchimento (2001 a 2005), foram calculadas as anomalias mensais de precipitação e temperatura. As médias mensais também foram determinadas em dois períodos: 8 anos antes da formação do lago (janeiro/1992 a junho/2000) e 5 anos depois ( julho/2000 a dezembro/2005), comparadas para uma mesma estação (comparação temporal) e entre estações (comparação espacial), conforme metodologia em Dias et. all (1999). A igualdade entre as médias de ambos os períodos foi testada estatisticamente, pelo t- Student, para um nível de significância de 1% (Spiegel, 1985). A estação de Itá está localizada na área da Usina, a uma distância de 2Km da borda do lago (Czarnobai, 2006), enquanto as estações de Chapecó e Campos Novos, a uma distância de 40Km e 120Km, respectivamente, em relação a Itá, são consideradas supostamente fora da área de influência do lago. Quando, no pós-enchimento, os mesmos padrões climáticos são observados nas três estações, podem estar associados a causas comuns, em decorrência de um padrão de clima
3 regional verificado naquele período. Uma variabilidade local, no entanto, observada na estação de Itá, mas não detectada nas demais, pode estar associada à presença do lago. 3 RESULTADOS Precipitação Nas três estações analisadas, os totais anuais de chuva (Fig. 1) ficaram, em geral, abaixo de 2000mm no pós-enchimento ( ), quando foi observada uma diminuição acentuada das chuvas, em fevereiro, e uma ligeira diminuição, em janeiro, julho e agosto, conforme a Figura 2, da comparação espacial para as estações de Itá e Chapecó. Este resultado está associado a um padrão de clima regional verificado entre 2001 e Anomalias mensais negativas de precipitação (gráficos não mostrados) foram observadas nas estações de Itá, Chapecó e Campos Novos, de agosto a dezembro/2001; janeiro a abril e julho/2002; abril a outubro/2003; janeiro a março, junho e agosto/2004; fevereiro, novembro e dezembro/2005. Nestes anos, anomalias positivas de precipitação foram registradas em outubro e dezembro/2002; dezembro/2003; abril e junho/2005. Temperatura Na Figura 3, são apresentadas as médias anuais de temperatura (mínimas, as três linhas inferiores a 16 C; máximas, as três linhas acima de 22 C; e médias); na Figura 4, as médias mensais de temperatura mínima e máxima no pré (a) e pós-enchimento (b). Em 2001 e 2002, ocorreu um aumento da temperatura mínima anual, nas três estações (Fig. 3). Em Itá, esse aumento foi ainda maior e observado também nos anos seguintes, de 2003 a Antes da presença do reservatório, as mínimas em Itá eram mais baixas do que em Chapecó. Após a formação do lago, passaram a ter valores próximos aos de Chapecó. Isto também pode ser observado na Figura 4, que mostra um aumento da mínima em Itá, em todos os meses, no período , o que não foi observado em Chapecó e Campos Novos. Em média, esse aumento foi de 1,5 C. Na análise das anomalias mensais de temperatura mínima (gráficos não mostrados), nas três estações, foram registrados valores positivos em alguns meses de outono, inverno e primavera de 2001 e Nos demais anos, as mínimas, de modo geral, ficaram dentro da média. A temperatura máxima anual apresentou um ligeiro aumento em Campos Novos e Chapecó, entre 2001 e 2005, em torno de 0,5 C, o que não foi verificado em Itá (Fig. 3), indicando uma possível diminuição da variável nesta estação, sobreposta pelo aumento que deveria ter sido
4 4 observado em associação ao padrão regional. Conforme a Figura 4, em todos os meses, as máximas em Itá eram mais elevadas do que em Chapecó, antes da presença do reservatório. Após a formação do lago, passaram a ter valores próximos aos registrados em Chapecó. Em geral, as anomalias mensais de temperatura máxima (gráficos não mostrados) foram positivas, no pós-enchimento, nas estações de Chapecó e Campos Novos, especialmente nos meses de outono e inverno. Nas três estações analisadas, a temperatura média apresentou um ligeiro aumento no período , em torno de 0,5 C (Fig. 3). Em ambas as fases, de pré e pós-formação do lago, os valores em Itá mantiveram-se próximos aos registrados em Chapecó (Fig. 4). No teste de comparação de médias (t-student), foi encontrada uma diferença significativa (a um nível de 1%) para a temperatura mínima em Itá (aumento em torno de 1,5 C). Nenhuma diferença significativa foi encontrada no caso das temperaturas máximas (aumento em torno de 0,5 C em Chapecó e Campos Novos) e temperaturas médias (aumento em torno de 0,5 C nas três estações analisadas). Precipitação (mm ) Total anual de precipitação Chapecó Itá C. Novos Fig. 1 Total anual de precipitação ( ) 350 Precipitação Chapecó 350 Precipitação Itá Precipitação ( mm ) Precipitação ( mm ) jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 1994/ / / /2005 (a) Chapecó (b) Itá Fig. 2 Média mensal de precipitação nos anos de pré e pós-enchimento
5 5 Temperatura (ºC) Média anual da temperatura a Chapecó Itá C Novos Chapecó Itá C Novos Chapecó Itá C Novos Fig. 3 Média anual de temperatura mínima, média e máxima ( ) Temperatura (ºC) Média mensal de temperatura ( ) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Temperatura (ºC) Média mensal de temperatura ( ) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Chapecó Itá C. Novos Chapecó Itá C. Novos Chapecó Ita C. Novos Chapecó Ita C. Novos (a) pré-enchimento 1992/2000 (b) pós-enchimento 2000/2005 Fig. 4 Média mensal de temperatura mínima e máxima CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme a análise preliminar dos dados, não houve alteração da precipitação no clima local, em decorrência da presença do reservatório. Foi observada uma variação da temperatura, no período de pós-enchimento ( ), possivelmente associada à presença do lago. Em Itá, houve um aumento da mínima e ligeira diminuição da máxima, em relação ao observado nas estações de Chapecó e Campos Novos, consideradas fora da área de influência da Usina. Este resultado está de acordo com outros estudos realizados de alterações de variáveis meteorológicas em reservatórios (Stivari e Oliveira,1996 e Grimm,1988). Nas três estações analisadas, o padrão regional de clima predominante, no período de pósenchimento, resultou em baixos volumes de precipitação, nos meses de verão, outono e inverno, e em temperaturas máximas acima da média. As mínimas ficaram acima da média em 2001 e AGRADECIMENTOS
6 A Tractebel Energia, que possibilitou este trabalho dentro do convênio Epagri-Tractebel, para o estudo do clima na área da UHE Itá. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Boletim Mensal de Monitoramento Climático, Boletim Técnico, Epagri/Ciram, Florianópolis, SC. Czarnobai, A.; Prudêncio, R, S.; Rodrigues, M. L. G., A circulação atmosférica local na região da Usina Hidrelétrica Itá. XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia (submetido a publicação). Dias, N. L. et. all., Relatório Final do Projeto Mesolit: Influência do lago de Itaipu sobre o clima regional. Realtório Técnico 007/99, Simepar, Curitiba, PR. Grimm, A., Verificação de variáveis climáticas na área do lago de Itaipu. In: Anais do V Congresso Brasileiro de Meteorologia, V. 1, pp. II.7-II.11, Rio de Janeiro. Sociedade Brasileira de Meteorologia. Stivari, S. e Oliveira, A.,1996. Avaliação do impacto do reservatório de Itaipu sobre a circulação atmosférica local. In: Anais do IX Congresso Brasileiro de Meteorologia, V. 1, pp , Campos do Jordão. Sociedade Brasileira de Meteorologia. Spiegel, M. R.; Tradução, revisão e adaptação Crusius, C. A., Estatística, 2. Ed. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil.
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