Palavras-chave: Avaliação Externa, Matrizes de Referência, Planos de ensino.
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- Thomaz Bernardes Franco
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1 01163 AVALIAÇÃO E PLANOS DE ENSINO: AS MATRIZES DAS AVALIAÇÕES EXTERNAS ORIENTAM A ESCOLHA DOS CONTEÚDOS? Lílian Rose da Silva Carvalho Freire Janete Ribeiro Nhoque Valéria Aparecida de Souza Siqueira Programa de Pós-Graduação em Educação Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Resumo Este estudo apresenta resultados de pesquisa realizada em uma escola da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, no período de Teve por objetivo investigar se os professores, na elaboração de seus planos de ensino, utilizavam as matrizes das avaliações externas para orientar a escolha do conteúdo curricular. O trabalho ocorreu no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), com subsídio parcial do Programa Institucional de Iniciação à Docência (Pibid), sob a forma de bolsa a alguns dos pesquisadores. Optou-se pela metodologia por meio de abordagem qualitativa com análise documental e discussão em grupo, envolvendo professores dos Ciclos I e II da escola. Buscou-se estabelecer um diálogo com os referidos professores sobre o uso ou não das avaliações externas na produção dos planos de ensino como possível ferramenta para orientar o currículo. O resultado nos mostrou que os professores não têm conhecimento das matrizes de referência nacionais nem daquelas do município. Revelou, ainda, que os planos de ensino são considerados mais como um documento burocrático do que uma ferramenta de auxílio à sua atuação. De acordo com as entrevistas, em relação a documentos oficiais aos quais têm acesso, os professores utilizam as Orientações Curriculares e não as matrizes de referência das avaliações externas, em virtude, principalmente, da falta de contato e conhecimento acerca deste documento. Concluímos que, embora haja afirmações no meio acadêmico de que as matrizes de referência das avaliações externas estejam reduzindo o currículo, na escola pesquisada, os professores continuam a valorizar, na elaboração de seus planos, não somente o próprio conhecimento e o de outros colegas de trabalho, mas também os livros didáticos. Palavras-chave: Avaliação Externa, Matrizes de Referência, Planos de ensino. Introdução Presentes no país há mais de vinte anos, as avaliações externas se consolidaram e assumiram relevância como instrumento de tomada de decisão de gestores de redes públicas de ensino, consideradas capazes de contribuir para a melhoria da qualidade da educação. Por outro lado, essa centralidade veio acompanhada de críticas e desconfianças quanto ao verdadeiro papel dessas avaliações no contexto neoliberal dos
2 01164 anos de Trabalhos como de Arelaro (2003) e Coutinho (2012) destacam que as avaliações externas estariam gerando homogeneização, redução curricular e estreitamento didático, uma vez que os professores estariam pautando seus trabalhos por elas. Diante de tais críticas e, com base em discussões e trabalhos realizados no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), uma questão surgiu: até que ponto as avaliações externas estariam reduzindo o currículo? A essa questão inicial outras surgiram e se tornaram objeto de investigação: como a avaliação externa marca o currículo? As matrizes de referência das avaliações externas estariam condicionando o trabalho dos professores? Para a construção dos planos de ensino, os professores estariam se referenciando nas matrizes de avaliações externas? Assim, condensando essas questões, a investigação teve por objetivo investigar se os professores, na elaboração de seus planos de ensino, se utilizam das matrizes das avaliações externas para orientarem a escolha do conteúdo. Neste trabalho são apresentados alguns resultados dessa pesquisa. A metodologia escolhida foi mediante abordagem qualitativa com entrevistas semiestruturadas, análise documental e discussão em grupo, envolvendo professores dos Ciclos I e II da escola. Buscou-se estabelecer um diálogo com os referidos professores sobre o uso ou não das avaliações externas na produção dos planos de ensino como possível orientador do currículo, cientes de que se trata de um estudo de caso, evitando, portanto, generalizações. Diante do objetivo inicial da pesquisa em investigar a influência das avaliações externas no currículo, optou-se por analisar os planos de ensino e por uma discussão com um grupo de professores. A escolha dos planos de ensino como objeto de investigação para apreender uma possível influência das avaliações externas no processo de ensino se deve ao fato de que tais documentos representam o planejamento e a organização da ação educativa do professor, como sugere Moretto (2007). Trata-se, ainda, de um instrumento que prevê os objetivos e as tarefas do trabalho docente para um ano ou semestre, conforme demonstra Libâneo (1994) e Gandin e Cruz (2006). Fusari (1990) também salienta a importância do planejamento na prática social docente, considerando-o um elemento determinante para a própria democratização do ensino público. Para Sacristán e Gómez (2007, p. 201), a elaboração de planos, a qual eles
3 01165 denominam de atividades, é uma competência profissional dos professores, e não apenas um recurso técnico, guardando, pois, em si, dimensões sociais e profissionais. Portanto, se, por um lado, os planos de ensino não são capazes de revelar tudo o que ensinam os professores, por outro, acreditamos representar mais do que peças burocráticas, produzidas sem qualquer relação com o ensino pretendido, o que, por sua vez, reflete e refrata elementos que perpassam as concepções e objetivos que os professores têm para definir o que vão ensinar para os alunos. Nestes termos, os planos de ensino ensejam uma apreensão do que lhes é ensinado, o que justifica sua utilização como ponto de apoio para investigar as influências das avaliações externas no ensino em sala de aula. Tal análise foi complementada pelas entrevistas realizadas. As entrevistas se iniciaram com a diretora da escola na qual a pesquisa foi efetuada e teve por meta elaborar uma caracterização dessa escola e conhecer como eram construídos os planos. Em seguida, foi realizado um levantamento dos planos de ensino que aí vigoravam. Esta tarefa se constituiu em um verdadeiro "garimpo" em caixas armazenadas no arquivo morto da escola. Vários planos não foram localizados, o que não quer dizer que não foram feitos, apenas não há registros desses arquivos. Dos planos encontrados, foram selecionados os de Língua Portuguesa e de Matemática, dos Ciclos I e II, por serem as disciplinas que fazem parte das avaliações externas. Uma análise mais detalhada dos planos de Matemática pode ser consultada em Costa e Ferraz (2013). Para a análise dos planos em cotejamento com matrizes de avaliação externa, tomaram-se como referência as matrizes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e da Prova São Paulo, esta a avaliação externa da RME-SP. Em seguida, foi elaborada uma análise longitudinal dos planos de ensino, de acordo com suas estruturas, divididos em ciclos, disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática, buscando localizar indícios de utilização das matrizes de referência das avaliações externas. Tal trabalho foi realizado por três grupos de estagiários do Pibid. Após a conclusão dessas análises, promoveu-se uma discussão com o grupo de docentes dos Ciclos I e II sobre a produção dos planos de ensino. O objetivo era investigar quais as referências que os professores utilizavam na elaboração dos seus planos e qual a influência das avaliações externas. À guisa de conclusão, a pesquisa revelou que os planos de ensino continuam com estrutura semelhante à dos anos de 1970, como salientado por Turra (1975, p.
4 ), e que o discurso em relação à construção e acompanhamento dos planos de ensino também se mantém. Quanto à utilização de material para a construção dos planos de ensino que poderiam indicar uma possível redução de currículo, a única alteração que se observou nesse período foi a de que os livros didáticos que eram utilizados mais frequentemente cederam lugar ao que os professores chamam de Expectativas de Aprendizagem, oficialmente denominadas de Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem para o Ensino Fundamental, documento que faz parte do Programa de Orientação Curricular do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de São Paulo (RME-SP). A pesquisa indicou, ainda, que os professores não têm conhecimento da matriz de referência de nem uma avaliação externa sequer, nem mesmo da Prova São Paulo, avaliação exclusivamente dirigida à RME-SP. O que conhecem e utilizam na elaboração dos seus planos são as Orientações Curriculares, inclusive copiando-as literalmente. O que percebemos é que, a despeito das várias afirmações no meio acadêmico de que as matrizes de referência das avaliações externas estão provocando uma redução do currículo, ao menos na escola pesquisada, os professores continuam a valorizar mais as suas experiências e as dos colegas de trabalho na elaboração de seus planos do que as prescrições das matrizes curriculares das avaliações externas. Sobre a afirmação de Coutinho (2012, p. 22), ou seja, a de que o professor condiciona a sua prática pedagógica às avaliações externas não foi o que observamos na escola pesquisada. Ainda há de se considerar que o grupo que articulou as Orientações Curriculares das quais os professores fazem uso não é o mesmo núcleo que criou a Prova São Paulo. Uma questão se propõe: será que se ambas tivessem tido como origem o mesmo grupo, haveria cópia das matrizes de referência como hoje encontramos cópia das Orientações Curriculares" nos planos de ensino? Esta é uma questão que demanda uma pesquisa mais detalhada. Entretanto, apoiando-nos na teoria de campo de Bourdieu (1983), vale esclarecer que existem leis gerais ao campo educacional que, por sua vez, geram diretrizes para a criação de leis específicas dentro das escolas. Assim, considerando a centralidade das avaliações externas na promoção da qualidade educacional, por meio do desempenho dos alunos, é possível que o reconhecimento ao professor se dê segundo sua capacidade de conduzir os alunos a obterem bons resultados. O engajamento do professor na busca de estratégias ou capitais específicos passaria necessariamente pela sua capacidade de conduzir os
5 01167 discentes a fim de terem um bom desempenho nas avaliações. A adesão a este projeto promovido por aqueles que planejam as políticas públicas para a escola seria um modo de diferenciá-lo de outros docentes. Nessas circunstâncias, o bom profissional seria o professor que aderisse às regras do jogo. No caso das avaliações externas, essas regras seriam conhecer seus resultados e, com base neles, trabalhar as dificuldades apresentadas pelo grupo de estudantes. Tal fato não se concretizou na fala e nos planos de ensino dos professores da escola pesquisada, subentendendo-se que eles ainda não fazem parte do jogo em busca da excelência profissional requerida pelos responsáveis pelas políticas públicas educacionais, os quais, neste momento, privilegiam as avaliações externas e incentivam o uso de seus resultados. Referências ARELARO, Lisete Regina Gomes. Direitos sociais e política educacional: alguns ainda são mais iguais que outros. In: SILVA, Shirley; VIZIM, Marli (Org.). Políticas públicas: educação, tecnologias e pessoas com deficiências. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil (ALB), (Leituras no Brasil). p BOURDIEU, P. Algumas propriedades do campo. In:. Questões de Sociologia. Tradução de????. Rio de Janeiro: Marco Zero, p COSTA, Thiago; FERRAZ, Juliana. Como as avaliações são apropriadas dentro da escola: analisando planos de ensino. Revista Encontro de Pesquisa em Educação, Uberaba, v. 1, n.1, p. 9-19, COUTINHO, Magno Sales. Avaliação externa e currículo: possíveis impactos e implicações no processo de ensino e aprendizagem. Trabalho apresentado no XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, Campinas, FUSARI, José C. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e tentativas de respostas. In: CONHOLATO, Maria Conceição (Coord.). A construção do projeto de ensino e a avaliação. São Paulo: FDE. Diretoria Técnica, (Série Ideias, n. 8). p GANDIN, D.; CRUZ, Carlos H.C. Planejamento na sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes, LIBÂNEO, José C. Didática. São Paulo: Cortez, (Coleção Magistério 2º grau. Série Formação do Professor). MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, SACRITÁN, J. Gimeno e GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. São Paulo: Artimed, SÃO PAULO (SP). SME. DOT. Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para o Ensino Fundamental: ciclo I / Secretaria Municipal de Educação. São Paulo: SME/DOT, TURRA, Cláudia et al. Planejamento de ensino e avaliação. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1975.
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