DOIS RELEVANTES TIPOS DE DINÂMICA EM OFICINAS DE JOGOS NO ENSINO DE GEOCIÊNCIAS
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1 1 DOIS RELEVANTES TIPOS DE DINÂMICA EM OFICINAS DE JOGOS NO ENSINO DE GEOCIÊNCIAS THIARA VICHIATO BREDA Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra, Inst. Geociências, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP. thiarav@gmail.com CELSO DAL RÉ CARNEIRO Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. cedrec@ige unicamp.br Resumo O presente artigo busca compartilhar experiências com oficinas didáticas de Geografia, oferecidas a professores de Geociências e alunos de cursos de licenciatura, sob o tema do uso de jogos no ensino. As oficinas em eventos técnico-científicos concentraram-se no período de 011 e 013, com o intuito de divulgar a contribuição potencial e as possibilidades práticas de jogos. Adotaram-se duas dinâmicas distintas, dependendo do público-alvo e do tempo disponível: nas oficinas teóricas exploram-se aspectos teóricos e a contribuição prática dos jogos no ensino, enquanto as oficinas práticas desenvolvem a explanação teórica e produzem novos jogos, pois cada participante produz seu próprio exemplo real. Das sete edições realizadas até 014, ficou evidente que o aproveitamento é mais intenso nas oficinas práticas, em que os participantes constroem novos jogos. Palavras chaves: Jogo, formação de professores, ensino. Introdução O emprego de jogos na educação formal estimula o aprendizado, porque eles podem despertar a curiosidade e o esforço natural de vencer desafios, fatores que proporcionam motivação na criança e contribuem no ensino-aprendizagem (CAMPOS, 1996). A atividade lúdica abrange as ideias de jogo, brincadeira e brinquedo. Experiências com jogos geográficos construídos com materiais e dinâmicas atraentes revelam sua importância no ensino de Geociências (LOPES, 009; BREDA, 010,013). Em Geografia, jogos bem elaborados e aplicados possuem aura de novidade e oferecem um enfoque inusitado para abordagem de temas comuns (BREDA, 010). Assim, muitas vezes, aumentam o interesse pelo aprender, quer para introduzir e/ou reforçar um assunto, quer para avaliar o conteúdo já trabalhado em aula. Em Geociências, o componente lúdico inerente aos jogos (CARNEIRO & LOPES, 007) pode favorecer abordagens fundamentais para formação de consciência individual e para subsidiar a tomada de decisões coletivas, equilibradas e responsáveis, em temas ambientais. Podem ser citadas como exemplo as abordagens que buscam explicar a Terra em conjunto: sua constituição, origem, evolução, processos internos e de superfície, interações entre hidrosfera, atmosfera, litosfera e biosfera, e relações entre meio físico e seres vivos (CARNEIRO et al., 004). Quando os jogos são explorados 0606
2 para atender a essas finalidades, forma-se uma proveitosa união entre o entretenimento e a possibilidade de adquirir novos conhecimentos (LOPES & CARNEIRO, 009). Entretanto, como a metodologia de jogos pode fugir da rotina escolar, o professor muitas vezes não se sente preparado para usá-los, mesmo que eles tenham sido confeccionados com finalidade educativa. O jogo pode promover o interesse do aluno, ao proporcionar-lhe o prazer de aprender, ao mesmo tempo em que o ajuda a desenvolver habilidades de resolução de problemas. A aprendizagem torna-se dinâmica, na medida em que o jogo facilita a aprendizagem. Uma eventual consequência desse estímulo é gerar algum nível de competição, que nem sempre e não necessariamente é negativa, pois o fato de o jogador buscar a vitória leva-o a um esforço prazeroso e o motiva para superar dificuldades. Porém, quando o estímulo é excessivo, a competição pode se tornar negativa, prejudicando a relação amigável entre os alunos; o professor precisa estar preparado para fazer a necessária mediação. Este artigo busca compartilhar a elaboração e aplicação de oficinas em eventos técnico-científicos com o tema Jogos, com o intuito de divulgar a contribuição potencial e as possibilidades práticas de uso de jogos. Oficinas didáticas No período entre 011 e 013, um conjunto de oficinas didáticas (Tab. 1) foi oferecido durante o desenvolvimento de pesquisa de mestrado (BREDA, 013) e, no ano de 014, como parte do projeto de Doutorado. Em ambas as pesquisas, o públicoalvo são sobretudo professores e alunos das áreas de licenciatura em Geociências (mais especificamente Geografia). As oficinas são realizadas de dois modos distintos: a) ministradas em eventos científicos e b) ministradas na forma de módulos em Cursos de Formação de Professores. Algumas foram realizadas em apenas um dia, e outras com até três dias de duração, em função do interesse e das possibilidades abertas pela organização do evento ou dos cursos de formação. A estratégia didática dos jogos nas oficinas privilegia a valorização do lugar. São jogos elaborados com materiais e dinâmicas atraentes e de fácil aplicação, confeccionadas em programas computacionais de desenho, tendo como base mapas e imagens de sensoriamento remoto do espaço vivido do aluno. Foram construídos especificamente para o município de Ourinhos, mas podem ser usados como exemplos para a elaboração de materiais para uso pedagógico em outras regiões, um dos objetivos da pesquisa de doutorado. 0607
3 3 Uma das primeiras recomendações que tem sido feita refere-se ao objetivo do jogo, que deve ser planejado e passado antes para o aluno a fim de entusiasmá-lo. Devese deixar claro que o objetivo do jogo é diferente do objetivo da atividade, não sendo apenas a vitória, mas sim o objetivo pedagógico de trabalhar algum conteúdo, visto que o jogo não é em si mesmo um material didático, mas sim sua dinâmica e a relação com o conteúdo, que dependem quase que exclusivamente do professor. O educador deve ter claras todas as etapas do jogo, nas quais se enquadram o antes, o durante e o pósatividade. Para isso fica evidente a necessidade de materiais (impressos ou digitais) para orientar os educadores, bem como a criação de espaços de diálogo. Desenvolvimento Os materiais das oficinas têm sido organizados para atender a duas possibilidades de dinâmica: Oficina Teórica, que compreende a explanação das contribuições e possibilidades dos jogos em sala de aula, a apreciação e alternativas de exploração de jogos pelos participantes. Para esta modalidade, foi desenvolvido o Fascículo I Uso de jogos nas aulas de Geografia, que trata dos aspectos teóricos e da contribuição prática dos jogos. O folheto contém apenas sugestões de jogos e alguns conceitos relevantes a respeito da fundamentação teórica em que se baseia a respectiva formulação. Oficina Prática, que compreende, além da explanação teórica, a produção de novos jogos. Para atender a esta modalidade, foi desenvolvido o Fascículo II Construindo Jogos Geográficos, que aborda procedimentos para confecção desse tipo de jogos, com a descrição das etapas da construção, além de desenvolver aspectos relevantes da teoria sobre a contribuição dos jogos para o ensino-aprendizagem. O tema central das oficinas focaliza a contribuição e as possibilidades educativas dos jogos, entretanto algumas foram mais teóricas, e outras mais práticas, dependendo do público e do objetivo do evento ou curso em que ocorreu, visto que muitas vezes é necessária adaptar o conteúdo ou a metodologia para atender às normas dos eventos. Algumas oficinas focaram jogos no ensino, sem especificar a cartografia, pois o público era formado por professores de outras áreas, como ocorreu nas oficinas 3 e 5. Outras oficinas conseguiram apenas abarcar as contribuições teóricas de cada jogo, sem a construção do material pelos participantes, devido ao curto tempo disponível para execução (oficinas 1, e 4). Outro fator que também pode impossibilitar a construção dos materiais é o acesso e disponibilidade de laboratórios de informática. Entretanto, 0608
4 4 uma experiência positiva aconteceu na oficina 6, em que, por falta de laboratório, os participantes levaram seus próprios laptops para permitir a construção de novos jogos. Devido à escassez desse tipo de material em sala, fica o questionamento se os professores estariam preparados ou precisam de orientação explícita para usar jogos de forma a explorar todos os benefícios. Parece ser necessário que o professor tenha contato com essa discussão e aos materiais, para estimulá-los e orientá-los, visto que se espera do educador não apenas o ato de conduzir a aplicação do jogo, mas um papel crítico de moderação da atividade, quando os alunos estiverem plenamente envolvidos. Em outros termos, o educador não pode interferir intensamente durante o jogo, mas ser um guia para que a atividade não perca o caráter lúdico. Espera-se que cada professor assuma um papel fundamental tanto na preparação quanto na avaliação final do jogo. Considerações Finais Se por um lado as oficinas teóricas oferecidas foram eficazes para divulgar a contribuição potencial e possibilidades práticas de uso de jogos, elas têm a desvantagem de não estimular a confecção de novos materiais a respeito dos conteúdos e conceitos almejados pelos participantes, que parecem sentir-se despreparados para uso imediato do recurso. O aspecto positivo é que alguns participantes acabam sendo encorajados a buscar mais estímulos e coletar novos exemplos reais que os ajudem na caminhada. Por outro lado, as oficinas práticas são bastante concorridas e profícuas. Quando os participantes conseguem fazer emergir suas expectativas e, em seguida, descrever as respectivas condições específicas de trabalho, fica mais fácil avançar para a construção direta dos materiais. Neste segundo tipo de atividade, os trabalhos confirmaram a hipótese inicial de ser indesejável oferecer algum modelo de receita pronta. Ao contrário, a condução da atividade deve estar aberta para receber sugestões e auscultar necessidades de cada participante. Tal cuidado oferece mais segurança quanto à metodologia de uso dos materiais, e incentiva os participantes a planejar a aplicação e a experimentar novas alternativas em sala de aula. Nas oficinas práticas o aproveitamento foi melhor, pois os participantes puderam construir os materiais no momento da oficina, fator que estimula a possível aplicação posterior. Agradecimentos Os autores agradecem à Fundação de Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo FAPESP, processo 013/ , pela bolsa de doutorado 0609
5 5 concedida para pesquisa em andamento junto ao Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra do Instituto de Geociências, Unicamp. Referências BREDA, T. V. O olhar espacial e geográfico na leitura e percepção da paisagem municipal: contribuições das representações cartográficas e do trabalho de campo no estudo do lugar. Ourinhos: Univ. Est. Paulista (Trab. Concl. Curso). BREDA, T. V. O uso de jogos no processo de ensino aprendizagem na Geografia escolar. Campinas: Inst. Geoc. Unicamp (Dissert. Mestr. PPG Ensino e Hist. Ciências da Terra). URL: Acesso CAMPOS, M. C. R. A produção da narrativa em pré-escolares e a influência da intervenção, num contexto de estória e de jogo: uma análise psicopedagógica. São Paulo, USP (Dissert. Mestr. Psicologia). CARNEIRO, C. D. R., TOLEDO, M. C. M. de; ALMEIDA, F. F. M. de. Dez motivos para a inclusão de temas de Geologia na Educação Básica. Rev. Bras. Geoc. 34(4): CARNEIRO, C.D.R., LOPES, O.R O jogo Ciclo das Rochas para ensino de Geociências. Rev. Bras. Geoc., 39(1): URL: Acesso LOPES, O. R. O jogo Ciclo das Rochas e seu papel como instrumento facilitador do ensino de Geociências. Campinas: Inst. Geoc. Unicamp (Dissert. Mestr. PPG Ensino e Hist. Ciências da Terra). URL: Acesso Tabela 1. Oficinas oferecidas Oficina/Curso Evento Descrição Possibilidades de Jogos Geográficos na Educação Ambiental Jogos no Ensino de Geociências Leitura de Imagens a partir de Jogos Jogos para a alfabetização cartográfica Simpósio de Educação Ambiental V Simpósio Nacional de Ensino e História de Ciências da Terra Projeto de Formação de Educação de Jovens e Adultos Encontro Nacional de Geografia Carga horária total Evento 4 Evento Módulo de um curso Evento 3 Público alvo Alunos do Ensino Médio e Professores com formação em Gestão Ambienta Profissionais na área de Ensino e História em Ciências da Terra Professores de Química, Biologia e Pedagogia Professores e estudantes de Geografia Dinâmica* 1, e 3 1, e 3 1, e 3 1, e 3 5 Possibilidades de Jogos para o ensino de Ciências Projeto de Formação de Educação de Jovens e Adultos Módulo de um curso Professores de Ciências Naturais, Biológicas e Matemática 1, e Jogos: Uma proposta lúdica para a Alfabetização Cartográfica Produção de jogos para o Ensino de Geografia Congresso Brasileiro de Educação 3 Encontro Regional de Ensino de Geografia Evento 6 Evento 4 Graduandos Pedagogia e Geografia Professores e estudantes de Geografia e Pedagogia 1, e 4 1, e 4 * Códigos: 1-Explanação teórica; - Apresentação de jogos; 3- Aplicação de jogos 4- Confecção de jogos 0610
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