Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

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1 Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Fls. Órgão : 3ª TURMA CRIMINAL Classe : APELAÇÃO N. Processo : APR ( ) Apelante(s) : A.M.D.S. Apelado(s) : M.P.D.D.F.E.T. Relator : Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA Revisor : Desembargador JESUINO RISSATO Acórdão N. : E M E N T A PENAL E PROCESSUAL PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. AMEAÇA E INJÚRIA QUALIFICADA. PROVA DA MATERIALIDADE E AUTORIA. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS OU POR ATIPICIDADE DAS CONDUTAS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Mantém-se a condenação pelo delito de ameaça, porquanto comprovado nos autos, pela prova oral colhida, que a apelante ameaçou a ofendida de causar-lhe mal injusto e grave, consistente em matá-la, evidenciando-se, ademais, a presença do elemento subjetivo específico de atemorizá-la. 2. Inviável o pedido de absolvição do crime de injúria qualificada, porque demonstrado que a apelante, movida por preconceito relativo à condição de deficiente da ofendida, atingiu a sua honra subjetiva, a sua auto-estima (elemento subjetivo específico). 3. Apelação conhecida e desprovida. GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 1

2 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª TURMA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Relator, JESUINO RISSATO - Revisor, JOSÉ GUILHERME - 1º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador JESUINO RISSATO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. NEGOU-SE PROVIMENTO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasilia(DF), 19 de Fevereiro de Documento Assinado Eletronicamente JOÃO BATISTA TEIXEIRA Relator GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 2

3 R E L A T Ó R I O A. M. S. interpôs APELAÇÃO CRIMINAL contra a sentença de fls v proferida pelo Juízo de Direito do Segundo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Brasília, que a absolveu do art. 147 do Código Penal (ofendidos G. T. O. S. e D. F. S.), e a condenou, em relação à ofendida E. L. F, como incursa nos arts. 140, 3º, e 147, na forma do art. 69, todos do Código Penal, respectivamente, à pena de 1 ano e 1 mês de reclusão, mais 10 dias-multa, no mínimo legal, e 1 mês e 15 dias de detenção, ambas no regime inicial aberto. Realizada a detração, porque restou presa durante 2 meses e 5 dias, a reprimenda ficou em 1 ano de reclusão, mais 10 dias-multa, à razão mínima, e 10 dias de detenção. Consta da denúncia que, no dia , por volta das 14h, na Quadra 5, Conjunto M, Bloco E, Apartamento 106, Vila Varjão do Torto, Varjão/DF, a apelante, consciente e voluntariamente, ameaçou sua ex-namorada E. L. F., bem como G. T. O. S. e D. F. S., por palavras, de causar-lhe mal injusto e grave. Na mesma oportunidade, também, de forma livre e consciente, injuriou sua exnamorada, utilizando elementos referentes à condição de portadora de deficiência física da última. A Defesa, nas razões recursais de fls , postula a absolvição da apelante por insuficiência de provas para a condenação ou por atipicidade das condutas a ela imputadas, na forma dos incisos III ou VII do Código de Processo Penal. Em contrarrazões de fls , o Ministério Público requereu o conhecimento e o desprovimento do recurso, o que foi endossado no Parecer da douta Procuradoria de Justiça (fls ). É o relatório. GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 3

4 V O T O S O Senhor Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Relator Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Do crime de ameaça contra E. L. F. a) Absolvição por insuficiência de provas ou por atipicidade da conduta Materialidade incontroversa A materialidade do delito de ameaça praticado contra a ofendida E. L. F. está devidamente comprovada pelo auto de prisão em flagrante (fls. 5-12), pela comunicação de ocorrência policial (fls ), pelo termo de requerimento de medidas protetivas (fls. 23), pelo termo de representação (fls. 24), bem como pelo relatório policial (fls ). Autoria sobejamente provada A autoria do crime, não obstante a negativa da apelante, é incontestável, consoante se passa a demonstrar. A ofendida confirmou, em Juízo, as declarações prestadas na polícia, ao declarar que, no dia dos fatos, a apelante ficou em frente a sua casa proferindo xingamentos e ameaça de morte, consistentes em dizer que "naquele dia uma ou outra iria para o inferno", bem como "vou pegar álcool e vou botar na casa". Relatou que a ré não conseguiu entrar na sua casa, mas ficou, da rua, arremessando objetos, tendo quebrado vários vidros da janela e arrancado a cortina da janela. Acrescentou que os fatos descritos na denúncia foram presenciados pelas testemunhas G. T. O. S. e D. F. S: Que a denunciada chegou a sua casa de manhã, no dia dos fatos, mais ou menos seis e meia da manhã, gritando, xingando e ameaçando todo mundo; que a acusada xingou a depoente de "vagabunda, prostituta, safada, aleijada, satanás" e dizendo que naquele dia uma ou outra iria para o inferno; que a acusada passou o dia saindo de frente da casa da depoente e retornando, sempre proferindo palavras de xingamento e de ameaça; que várias vezes a acusada disse: "vou pegar álcool e vou botar fogo na casa": que a acusada zombava e ria afirmando que iria matar todos dentro GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 4

5 da casa; (...) que a acusada não conseguiu entrar na casa da depoente, mas ficou da rua arremessando objetos, tendo quebrado vários vidros da janela; que a acusada conseguiu puxar e arrancar toda a cortina; que a janela era protegida por grades (negritou-se) (fls. 216). A versão da ofendida foi confirmada pelo senhor D. F. S., que narrou ter visto a apelante em frente à casa da ofendida, dizendo que iria matá-la e beber o sangue dela, bem como que colocaria fogo em sua casa. Acrescentou que, em data anterior, a ré havia queimado a cortina da residência da ofendida: (...) Que a ré chegou gritando e xingando; que a acusada xingava a vítima de, "desgraçada, peste, puta", dentre outros; que a ré ainda dizia que iria matar a vítima, beber o seu sangue e matar a filha da vítima; que ouviu a acusada dizer que iria botar fogo'na casa; que em data anterior a acusada já havia colocado fogo na cortina da casa da vítima (negritou-se) (fls. 218). Nesse mesmo sentido foram as informações prestadas, em Juízo, pela testemunha G. T. O. S., ao relatar que, por não ter sido franqueado o acesso da apelante à residência da ofendida, ela passou a gritar, proferir xingamentos, jogar pedras na janela, bem como dizer que iria comprar álcool para colocar fogo na casa (fls. 217). Nesse contexto, a prova colhida sob o crivo do contraditório e da ampla defesa é uníssona em apontar que a apelante ameaçou sua ex-namorada E. L. F. de causar-lhes mal injusto e grave, consistente em matá-la. De outra parte, não comporta acolhida a assertiva de que a conduta seria atípica, uma vez que as provas dos autos demonstram a presença do elemento subjetivo específico para a caracterização do mencionado delito, tendo a apelante demonstrado sua intenção de atemorizar a ofendida, mostrando-se capaz de realizar as ameaças proferidas. Assim, diante de tais peculiaridades, o suposto estado de ira ou GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 5

6 embriaguez da apelante não tem o alcance de afastar a tipicidade do delito em tela, mormente considerando-se o teor dos incisos I e II do art. 28 do Código Penal, segundo o qual a emoção ou a paixão e a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos, não excluem a imputabilidade penal. Dessa forma, não comporta acolhida o pedido de absolvição da apelante, de sorte que deve ser mantida a sua condenação pelo crime previsto no caput do art. 147 do Código Penal. Do crime de injúria qualificada contra E. L. F. b) Absolvição por insuficiência de provas ou por atipicidade da conduta Materialidade incontroversa A materialidade do delito de injúria qualificada praticado contra a ofendida E. L. F. está devidamente comprovada pelo auto de prisão em flagrante (fls. 5-12), pela comunicação de ocorrência policial (fls ), pelo termo de requerimento de medidas protetivas (fls. 23), pelo termo de representação (fls. 24), bem como pelo relatório (fls ). Autoria sobejamente provada A autoria do crime, apesar de a apelante ter negado as ofensas à honra subjetiva de sua ex-namorada E. L. F., consistentes em chamá-la de "vagabunda, prostituta, safada, aleijada, satanás", restou comprovada pela prova oral colhida sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, sobretudo pelas declarações da ofendida, bem como pelas informações prestadas pelas testemunhas G. T. O. S. e D. F. S. A injúria qualificada está tipificada no 3º do art. 140 do Código Penal, que assim dispõe: Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. (...) 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: A injúria, portanto, é a ofensa ao decoro ou à dignidade de alguém. Segundo Cézar Roberto Bitencourt: GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 6

7 Injuriar é ofender a dignidade ou o decoro de alguém. A injúria, que é a expressão da opinião ou conceito do sujeito ativo, traduz sempre desprezo ou menoscabo pelo injuriado. A injúria é essencialmente uma manifestação de desprezo e de desrespeito suficientemente idônea para ofender a honra da vítima no seu aspecto interno (p. 548, in Código Penal Comentado, 7ª ed., 2012). Em outras palavras, a injúria fere a auto-estima do ofendido. Se a ofensa consiste no emprego de elementos preconceituosos ou discriminatórios referentes à raça, cor, etnia, religião, origem, condição de idoso ou de deficiente, configura a forma qualificada, a merecer maior reprovação social e, portanto, acréscimo de pena, configurando a denominada injúria por preconceito. Em Juízo, a ofendida declarou que, além das ameaças de morte, a apelante permaneceu em frente ao portão de sua casa chamando-a de "vagabunda, prostituta, safada, aleijada, satanás" (fls. 216). Que a denunciada chegou a sua casa de manhã, no dia dos fatos, mais ou menos seis e meia da manhã, gritando, xingando (...) a acusada xingou a depoente de "vagabunda, prostituta, safada, aleijada, satanás" e dizendo que naquele dia uma ou outra iria para o inferno; que a acusada passou o dia saindo de frente da casa da depoente e retornando, sempre proferindo palavras de xingamento (negritou-se) (fls. 216). As declarações da ofendida foram confirmadas pelas testemunhas G. T. O. S. e D. F. S., que presenciaram as ofensas à sua honra subjetiva: (...) Que a ré chamou por várias vezes a vítima e por não ser atendida foi embora; que quando a vítima chegou em casa informou que a denunciada estava antes na frente de seu portão, momento em que todos entraram e trancaram as GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 7

8 grades e os portões; que a acusada retornou exigindo que lhe fosse aberto o portão; que em razão de não ser atendida, a acusada passou a gritar, xingar e jogar pedras na janela; que a acusada xingava a vítima de: "desgraçada, filha da puta, aleijada, rapariga, puta, vagabunda", dentre outros (negritouse) (G. T. O. S. - fls. 217). (...) Que mora no apartamento de cima do da vítima; que viu a acusada chegando em frente à casa da vítima; que a ré chegou gritando e xingando; que a acusada xingava a vítima de-, "desgraçada, peste, puta", dentre outros (D. F. S. - fls. 218). Assim, o acervo fático-probatório dos autos comprova que a apelante, movida por preconceito relativo à condição de deficiente da ofendida, proferiu as palavras ofensivas mencionadas na denúncia, de sorte que não há que se falar em absolvição da apelante por insuficiência de provas ou por atipicidade da conduta. Deve, portanto, ser mantida a condenação da apelante pela prática do crime descrito no 3º do art. 140 do Código Penal. FIXAÇÃO DA PENA CRIME DE AMEAÇA (ofendida E. L. F.) PRIMEIRA FASE - PENA-BASE Na primeira fase, por serem favoráveis todas as circunstâncias judiciais, a pena-base foi fixada no mínimo legal, 1 mês de detenção. SEGUNDA FASE - PENA AMBULATÓRIA Na segunda fase, ausentes circunstâncias atenuantes e presente a circunstância agravante prevista na alínea "f" do inciso II do art. 61 do Código Penal (crime praticado em contexto de relações domésticas ou com violência à mulher), mantém-se a exasperação da reprimenda em 15 dias, fixando-a em 1 mês e 15 dias de detenção. TERCEIRA FASE - PENA DEFINITIVA Na terceira fase, à míngua de causas de diminuição e de aumento da pena, esta fica definitivamente estabelecida em 1 mês e 15 dias de detenção. CRIME DE INJÚRIA QUALIFICADA(ofendida E. L. F.) PRIMEIRA FASE - PENA-BASE Na primeira fase, por serem favoráveis todas as circunstâncias GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 8

9 judiciais, a pena-base foi fixada no mínimo legal, 12 meses de reclusão. SEGUNDA FASE - PENA AMBULATÓRIA Na segunda fase, ausentes circunstâncias atenuantes e presente a circunstância agravante prevista na alínea "f" do inciso II do art. 61 do Código Penal (crime praticado em contexto de relações domésticas ou com violência à mulher), mantém-se a exasperação da reprimenda em 1 mês, fixando-a em 13 meses de reclusão. TERCEIRA FASE - PENA DEFINITIVA Na terceira fase, à míngua de causas de diminuição e de aumento da pena, esta fica definitivamente estabelecida em 13 meses de reclusão, ou seja, 1 ano e 1 mês de reclusão. PENA PECUNIÁRIA Mantém-se a pena pecuniária em 10 dias-multa, no mínimo legal, tendo em vista a natureza do crime, a condição econômica da apelante e para guardar certa proporção com a pena privativa de liberdade. CONCURSO MATERIAL Em face do concurso material de crimes, procede-se à soma das penas aplicadas (caput do art. 69 do Código Penal), o que perfaz a pena definitiva de 1 ano e 1 mês de reclusão, mais 10 dias-multa, e 1 mês e 15 dias de detenção. DETRAÇÃO Mantida a detração de 2 meses e 5 dias, conforme estabelecido na sentença, a ré deverá cumprir, ainda, a pena de 1 ano de reclusão e 10 dias de detenção. REGIME PRISIONAL De acordo com a alínea "c" do 2º do art. 33 do Código Penal, mantém-se o regime aberto para o início do cumprimento da pena, porque todas as circunstâncias judiciais são favoráveis e a pena é inferior a 4 anos. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE Acerca da substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito, mantenho os ditames da r. sentença, pois a matéria não foi discutida em sede de apelação. Posto isso, voto no sentido de CONHECER e NEGAR GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 9

10 PROVIMENTO ao recurso do réu. Proceda-se na forma da Resolução nº 172, de 8 de março de 2013, do Conselho Nacional de Justiça. É como voto. O Senhor Desembargador JESUINO RISSATO - Revisor Com o relator O Senhor Desembargador JOSÉ GUILHERME - Vogal Com o relator D E C I S Ã O CONHECIDO. NEGOU-SE PROVIMENTO. UNÂNIME. GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 10