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1 editorial. A cultura hoje anuncia uma posição que, perante a erótica e o amor, nos traz questões como psicanalistas. Se de um lado já temos bem clara a separação entre o sexo e a procriação, ou mesmo a queda da homossexualidade como categoria à parte coisas que bem Freud inaugurou em suas posições equilibradas ainda assim, ainda com a permissão do exercício erótico desvinculado de uma posição que poderíamos chamar de cristã/católica, assistimos concomitantemente à explicitação da expectativa de uma normatividade. Como exemplo, tomemos o filme que estreou, em nossa cidade em meados de março, Shame (dirigido por Steve McQueen, 2011). Filme arrojado enquanto narra a experiência privada de um sujeito que faz sexo com muita intensidade, (viciado em sexo, segundo algumas sinopses), mas ao mesmo tempo finaliza/nos deixa com a ideia de que deve ser muito miserável a vida de alguém assim... Ou seja, numa visada do que não é normal, é triste, sofrido. A psicanálise se abstém da ética e da erótica no ponto em que, após apontar o desejo, o analista se abstém de dizer como o sujeito vai chegar ao gozo, ao prazer. Mas no sintoma se trata de gozo, e a psicanálise só pode tomar como ponto de partida o sujeito do gozo. abril 2012 l correio APPOA.1 miolo Correio APPOA 211.pmd 1

2 editorial. Lacan e Freud têm ambos uma posição bem interessante ao apontar que o sintoma é o social. Com ela, podemos sair da condenação moral, ou mesmo da mais leve expectativa de uma norma daquilo que seria o caminho feliz. Antes, pensamos poder abordar o que se anuncia na cultura mais especificamente na arte, que em geral oferece um avant première do que vem se constituindo e que requer nosso reposicionamento. Ou, indo mais adiante, lembrando que desejo e lei estão no mesmo ponto da Banda de Moebius, também somos convocados a sair da posição do que é bom ou mau, para podermos pensar nas incidências dos determinantes culturais sobre a clínica e nas mudanças que podem provocar no sintoma (não se trata de domar ou adestrar o pequeno monstro dentro de nós como o desenho animado do Pokemón...). Em 1999 estreou, de Stanley Kubrick, Wide eyes shut (De olhos bem fechados), ao contrário do nosso usual de olhos bem abertos. No filme, viajamos com Tom Cruise pelas imagens projetadas de lugares desconhecidos dele mesmo, lugares carregados de um erotismo devasso. No baile de máscaras, uma festa estilo orgia em que os presentes são em sua maioria autoridades e outros famosos, o protagonista se apresenta como Fidello (fiel), erra a senha da casa e é obrigado a tirar sua máscara e sua roupa antes de entrar. Despido entra na festa. Exposto. Feito o convite a que nos identifiquemos às fantasias eróticas (e paranoides) projetadas quase em pesadelo. A erótica não é qualquer uma o erotismo, mesmo que bizarro, atende a uma cartografia, ou melhor, a uma gramática. Digo cartografia lembrando Freud, que nos Três Ensaios descreve diferentes modos de escolhas e gozo sexuais. Talvez seria melhor dizer que em toda sua obra ele trabalha sobre a erótica. Por exemplo, Freud diz que a pulsão é uma montagem. Lacan é uma montagem surreal. Lacan anuncia algo novo com o conceito do objeto a. A satisfação, desde então, tem na falta origem e fim. Ou seja, mesmo se apresentando 2. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 2

3 A erótica e o amor. errante/fugidio, o objeto que se apresenta à falta não é qualquer responde a uma determinação. Em Lacan, a coleção enumerada das formas de gozar é substituída por uma formulação mínima a erótica não é qualquer uma porque ela está determinada pelo significante mais ainda pela sonoridade que as palavras encontram e com a qual fisgam o pedaço de carne à deriva numa rede articulada em um determinado enredo. De volta a olhos bem fechados: qual o estopim da viagem erótica do protagonista? É um casal ideal que num dia vai a uma festa elegante... A suspeita da infidelidade num casal ideal, seguida do breve relato de um amor passado a mulher diz que por aquele homem seria capaz de deixar tudo (até marido e filha). O Amor leva à loucura. Diferente da transa, do ficar ou do trocar saliva, o amor ultrapassa e transborda o que poderia ter sido apenas um encontro de prazer. Com essa capacidade de nos fazer sentir íntimos do parceiro e do corpo próprio o amor surpreende. Por instantes, somos elevados a não sentir o corpo com o corpo. Paradoxo... Estupefação. O ato de amor é poesia. O corpo provoca, a erótica está na nossa vida como o corpo que goza (parcialmente). Goza e se faz lembrar. O corpo provoca não sempre. Às vezes podemos bem esquecê-lo. O corpo provoca de maneiras diferentes faz-se lembrar na dor, no cansaço, no prazer. No sintoma. Poderia-se bem dizer que a psicanálise é o estudo da erótica. Seguindo o debate iniciado em nossa Jornada de Abertura desse ano, organizamos a Seção Temática desse Correio buscando agrupar, por sua relevância teórica, tanto artigos já publicados anteriormente em outras mídias, como outros inéditos. O amor e a erótica são temas centrais desse ano de abril 2012 l correio APPOA.3 miolo Correio APPOA 211.pmd 3

4 editorial. trabalho na APPOA. O tradicional encontro Relendo Freud, que acontecerá em agosto, irá dar continuidade a essa discussão com a leitura do artigo Consequências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos. Com a aposta de contribuir ao seguimento desse debate, desejamos a todos uma boa leitura! 4. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 4

5 notícias. Jornada do Percurso de Escola X 27 e 28 de abril de 2012 Árvore cinza, Mondrian Assim como Manoel de Barros, apostamos na força transfiguradora da palavra. Neste momento, inspirados pela simplicidade deste poeta, compomos esta jornada com palavras singulares que nasceram da construção de um espaço coletivo, sem pretender que estas se encerrem em significações derradeiras. abril 2012 l correio APPOA.5 miolo Correio APPOA 211.pmd 5

6 notícias. Entendendo que a formação, numa perspectiva psicanalítica, dá-se através de desdobramentos tal como nos sugere a árvore de Mondrian, convidamos a todos a fazer parte deste momento de diálogo, possibilitando novas torções para dar seguimento ao nosso percurso. Eu queria fazer parte das árvores como os pássaros fazem. Eu queria fazer parte do orvalho como as pedras fazem. Eu só não queria significar. Porque significar limita a imaginação. E com pouca imaginação eu não poderia fazer parte de uma árvore. Como os pássaros fazem. Então a razão me falou: o homem não pode fazer parte do orvalho como as pedras fazem. Porque o homem não se transfigura senão pelas palavras. E isso era mesmo. Manoel de Barros, Menino do Mato. Programa Sexta-feira 19h30min. Abertura Coordenação do Percurso de Escola Desejo de ensinar, desejo de aprender: o que se transmite nas escolas? Carla Cervera Sei 6. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 6

7 A erótica e o amor. Sobre passagens e ancoragens na adolescência Lúcia Martins Costa Bohmgahren A mãe suficientemente faltosa Ivy de Souza Dias Sábado Manhã 9h Quando a escuta se faz morada Lívia Zanchet Podem bater um papo Marx e Freud? Danilo Gandin Reflexões sobre a exclusão: da Assistência Social à Psicanálise Alice Ubatuba de Faria Intervalo 10h45min. Pulsão em dança: possibilidades de torção e inscrição do desejo Vanessa Guazzelli Paim Relevo zero: considerações sobre a (im)possibilidade de um novo começo Joana Horst Rescigno Passar à outra cena. A interrogação do sintoma Chaveli Dockorn Brudna Tarde 14h30min. O lugar do analista: um convite à fala Mariana Kraemer Betts Máscaras do recalcado na atualidade Iara Maria Fernandes Pereira abril 2012 l correio APPOA.7 miolo Correio APPOA 211.pmd 7

8 notícias. Sobre o temporal Érica Kern Lopes Intervalo 16h30min. Quando a medicação é usada como objeto de gozo Cláudia D Ávila Maffazioli Análises e labirintos Paulo Afonso Rosa Santos Filho Coquetel de encerramento INSCRIÇÕES: Valor: R$30,00 (incluindo o Coquetel). As inscrições podem ser realizadas antecipadamente na Secretaria da APPOA. Vagas limitadas. LOCAL Sede da Associação Psicanalítica de Porto Alegre Rua Faria Santos, 258 Petrópolis - Porto Alegre - RS Fone: Fax: correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 8

9 A erótica e o amor. V Congresso Internacional de Convergencia O ato psicanalítico e suas incidências clínicas, políticas e sociais 22, 23 e 24 de junho de 2012 Porto Alegre/RS Brasil A Psicanálise é uma prática discursiva cujos efeitos podem ser observados na clínica e também na vida cotidiana há mais de um século. Suas posições inovadoras, mesmo subversivas, sempre foram objeto de discussão dentro e fora das instituições psicanalíticas. As incidências do trabalho com o inconsciente mostram que a escuta do sintoma é possível considerando que este é sinal do sujeito e não manifestação de doença. Ora, nestes tempos de exigência de gozo imediato e de discursos fundamentalistas, face ao inevitável mal-estar na cultura, um tratamento que não ofereça cura milagrosa ou consolo permanente coloca-se como referência ética de que os atos de palavra são transformadores. As associações e os psicanalistas reunidos em Convergencia movimento lacaniano para a psicanálise freudiana consideram que as articulações entre o sujeito e sua polis são indissociáveis; pois o psicanalista é permeável aos discursos e, para que a psicanálise possa avançar em sua prática e teoria, faz-se necessário um exame permanente das consequências de seus atos. No V Congresso Internacional de Convergencia que acontece em Porto Alegre, teremos oportunidade de renovar esta aposta. Um momento de encontro e debate sobre os efeitos do ato psicanalítico na clínica das neuroses, das psicoses e das perversões. Acontecimento onde os psicanalistas podem dar conta da sustentação de seu ato nos mais diversos âmbitos consultórios, ambulatórios, hospitais e outros cujo lugar de reunião é uma oportunidade para compartilhar a experiência. Além disto, temos espaço para verificar os efeitos do ato no social, a experiência do abril 2012 l correio APPOA.9 miolo Correio APPOA 211.pmd 9

10 notícias. encontro do discurso psicanalítico com as políticas públicas, sejam elas educacionais, culturais, ou de saúde mental. Um significante lançado ao mundo não é mais individual, afirmava Jacques Lacan em diversos momentos ao retomar o legado de Freud. Cada analista tem responsabilidade com a psicanálise ao sustentar em sua escuta os desdobramentos do fantasma na atualidade. Ao mesmo tempo, interrogar a política dos enlaces no campo psicanalítico faz parte de sua formação. Além disto, a transmissão do discurso psicanalítico está aberta às incidências do ato criativo, fazendo eco à potência do discurso em seu esburacamento do real. Convidamos a participar deste evento, no qual psicanalistas de diferentes línguas, formações e transferências estão dispostos ao diálogo e a relançar o ato inaugural que nos faz sustentar o que é a psicanálise. Eixos de trabalho As formas do tratamento psicanalítico na atualidade o ato analítico. (Incidências Clínicas) A intervenção clínica da psicanálise nas políticas públicas; a política das instituições psicanalíticas; a política do desejo in-mundo. (Incidências Políticas) Como formular o mal-estar na cultura hoje? O ato analítico frente ao mal-estar contemporâneo. O laço social frente ao individualismo, gozo e sofrimento. (Incidências Sociais) O ato e a criação do novo na cultura. Instituições convocantes Apertura(Espanha), Après-Coup Psychoanalytic Association (EUA), Acte Psychanalytique (Bélgica), Analyse Freudienne (França), Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Brasil), Círculo Psicoanalítico Freudiano (Argentina), Cartels Constituants de L Analyse Freudienne (França), Centre Psychanalytique de Chengdu (China), Colégio de Psicanálise de Bahia 10. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 10

11 A erótica e o amor. (Brasil), Corpo Freudiano do Rio de Janeiro Escola de Psicanálise (Brasil), Dimensions de la Psychanalyse (França), Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro (Brasil), Escuela Freud-Lacan de La Plata (Argentina), Escuela de Psicoanálisis Lacaniano (Argentina), Escuela de Psicoanálisis de Tucumán (Argentina), Escuela de Psicoanálisis Sigmund Freud-Rosario (Argentina), Escuela Freudiana de Buenos Aires (Argentina), Escuela Freudiana de la Argentina (Argentina), Escuela Freudiana de Montevideo (Uruguai), Escuela Freudiana del Ecuador (Equador), Espace Analytique (França), Espaço Psicanálise (Brasil), Fédération Européenne de Psychanalyse et École Psychanalytique de Strasbourg (França), Grupo de Psicoanálisis de Tucumán (Argentina), Insistance (França), Intersecção Psicanalítica do Brasil (Brasil), Laço Analítico Escola de Psicanálise (Brasil), Lazos Institución Psicoanalítica (Argentina), Le Cercle Freudien (França), Letra, Institución Psicoanalítica (Argentina), Maiêutica Florianópolis (Brasil), Mayeutica- Institución Psicoanalítica (Argentina), Nodi Freudiani Associazione Psicanalítica (Itália), Praxis Lacaniana Formação em Escola (Brasil), Psychanalyse Actuelle (França), Seminario Psicoanalítico (Argentina), Trieb Institución Psicoanalítica (Argentina), Triempo Institución Psicoanalítica (Argentina). Realização: Convergencia, Movimento Lacaniano para a Psicanálise Freudiana Informações e inscrições: Associação Psicanalítica de Porto Alegre APPOA ( Participantes Para participar do V Congresso Internacional de Convergencia deverá ser feita inscrição através do site preenchendo o formulário de acordo com a sua categoria, conforme o quadro abaixo. Lembramos que para inscrever trabalhos é necessário, antes, efetuar sua inscrição como participante. abril 2012 l correio APPOA.11 miolo Correio APPOA 211.pmd 11

12 notícias. Prazo Profissionais (Brasil) Profissionais * (exterior) Até 3 anos de formação (Brasil) Até 3 anos de formação * (exterior) Estudante de Graduação (Brasil) Estudante de Graduação * (exterior) De 06 de março a 13 de Abril de 2012 De 14 de Abril a 22 de Junho de 2012 R$ 320,00 U$180,00 R$ 200,00 U$115,00 R$ 150,00 U$70,00 R$ 380,00 U$220,00 R$ 250,00 U$140,00 R$ 180,00 U$90,00 Forma de pagamento: No momento, está disponível a inscrição por depósito ou transferência bancária. Seminário O Divã e a tela - reinício das atividades Data: 20 de abril, sexta-feira Hora: a partir das 19 horas Filme: A Primeira página, de Billy Wilder O seminário O Divã e a tela, coordenado por Enéas de Souza e Robson Pereira dá início as suas atividades de Desta vez com um clássico em vários sentidos: comédia, crítica e jornalismo combinados pelo talento de Billy Wilder e dos atores Jack Lemmon e Walther Mathau. O filme abre o ciclo de discussões deste ano, onde as questões sobre o diálogo entre o cinema e a psicanálise estarão afinadas com as temáticas da APPOA e da linha Sujeito e Cultura onde debateremos, entre outros, a posição do espectador em nossa cultura atual. 12. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 12

13 temática. Sexualidade feminina 1 Gérard Pommier 2 Para falar da sexualidade feminina, penso ter de situar as diferenças no complexo de Édipo. Para isto, é suficiente pensarmos no percurso do complexo de castração, que nos permite clarificar toda clínica. O complexo de castração pode desdobrar-se em três tempos que vão resultar nas três formas clínicas. No primeiro tempo, castração do Outro, da mãe, onde o corpo do sujeito funciona como falo imaginário em resposta a demanda da mãe. É o corpo inteiro identificado ao falo, tal como no primeiro tempo da fobia do pequeno Hans. 1 Palestra proferida em agosto de 1989 em Porto Alegre, em evento com o autor e Catherine Millot promovido pela Clínica Qvadrivium. Transcrição não revista pelo autor. 2 Psicanalista francês, autor de A ordem sexual: perversão, desejo e gozo; A exceção feminina; Do bom uso erótico da cólera e O amor ao avesso, entre outros. abril 2012 l correio APPOA.13 miolo Correio APPOA 211.pmd 13

14 temática. No segundo tempo aparece uma rivalidade com o pai, aquele que tem o falo. Este pai vai provocar o amor porque é ele que alivia a criança da angústia do primeiro tempo, relativa à castração do Outro. Assim, torna-se difícil sair deste amor do pai, porque é um amor que salva. Este é um amor feminilizante, porque é o pai quem tem o falo, e, pior, porque é um amor por um rival. Temos aqui uma situação muito difícil, porque este pai do segundo tempo do complexo de castração, este pai que é somente um rival, que tem somente o falo, a potência fálica, não é o pai que dá o nome pode ser qualquer homem. Neste momento, não há saída deste amor, portanto não existe possibilidade de simbolizar o falo com o nome. Como vocês sabem, o nome é uma metáfora da potência fálica do pai. E, no mesmo momento, no segundo tempo do complexo de castração, também se produz a eleição do sexo uma convocação do sexo que não está ligada à anatomia. Isto quer dizer que a menina vai ser feminilizada pelo amor ao pai, e o menino vai ser também feminilizado em sua castração. Do lado da menina isto vai corresponder ao sexo anatômico; porém, para o menino há um risco de feminilização do qual não pode sair senão através de um tipo particular de simbolização do falo, por exemplo, como o fetiche. Fica, então, como fetiche, pois neste momento ele não tem possibilidade de simbolizar com o nome patronímico. Portanto, ele vai tomar qualquer objeto de eleição de sua mãe para simbolizar a falta. Se ele vê, por exemplo, que sua mãe gosta de sapatos, estes vão simbolizar o que falta no momento em que é graças ao pai que existe esta falta isto é, a eleição do sapato como fetiche. Por isso, o fetiche representa o falo simbólico, e não o pênis. Assim, pode-se ver que, neste momento do complexo de castração, o menino vai eleger a perversão como saída, o que não é o caso da menina, pois ela não teme sua feminilização. Por isso, a perversão diz respeito aos homens e não às mulheres como mulheres. Uma mulher, como homem, pode ser perversa, porém não como mulher. Isto é muito importante na clínica porque se vê que a perversão é do lado dos homens e não do lado feminino. 14. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 14

15 A erótica e o amor. O terceiro tempo do complexo de castração diz respeito a possibilidade de simbolizar o falo pelo nome, pela metáfora paterna. O menino vai tentar tomar o nome de seu pai, tem que tomá-lo atuando e assinando seus atos com esse nome. Atuar é uma maneira de assinar, de ser o sujeito de seu ato e, por isso, a atuação é uma maneira de metaforizar o nome próprio. Por isso a masculinidade pode se definir pela atividade esta definição é a que deu Freud, ao dizer que masculinidade e atividade são a mesma coisa. E uma simbolização, porque o menino, atuando, tomando o nome, pode pensar que toma, ao mesmo tempo, também a potência do falo. Atuar é tomar a potência do falo. Porém, vamos ver que este pai simbólico, este pai do patronímico, tem uma direção contrária a do pai do sexo, o primeiro pai, pai da potência fálica. Há aqui duas funções completamente contraditórias do pai. Nesta contradição pode-se localizar um tipo de loucura que é própria à vida sexual, geralmente. Isto porque há uma contradição entre o pai da potência fálica do segundo tempo do complexo de castração e o pai do patronímico, que dá o nome, permite simbolizar a potência, mas com o risco de, simbolizando, acabar com a potência fálica mesma. Isto quer dizer que, estando de um lado perversão e de outro simbolização, isto é civilizada até estar ausente, totalmente resolvida na atuação masculina. Somente com este percurso do complexo de castração temos toda a clínica analítica. No primeiro tempo, o tempo do encontro da castração do Outro, não há falo, não há rival e, por suposto, não há pai que possa simbolizar o falo. Assim, o primeiro tempo corresponde à psicose na psicose há uma angústia de castração que concerne o corpo inteiro. No segundo tempo, há um rival ao falo, porém não existe pai que permita a simbolização do falo, há alguns fetiches. Este tempo corresponde à perversão polimorfa do menino. Aqui é que a perversão pode se escrever. Além disso, a este tempo corresponde a eleição do sexo: ou bem aceitar o amor do pai e estar feminilizado(a) o lado feminino, ou bem não aceitar, abril 2012 l correio APPOA.15 miolo Correio APPOA 211.pmd 15

16 temática. com a perversão, e estar do lado masculino. Isto quer dizer que a sexualidade sempre vai estar ligada à perversão, sexualidade e perversão vão juntas. No terceiro tempo, há um rival e uma simbolização do falo; porém, neste momento é o pai o problema. O pai ser um problema diz respeito a esta contradição entre o pai que dá o falo e o que permite, em vez de simbolizar esta potência fálica, o que é a questão do neurótico. E é por isso, por exemplo, que a histérica pode ter a certeza delirante de ter sido violada por um pai; ou um obsessivo como o Homem dos ratos, por exemplo ter alucinações que dizem respeito ao gozo do pai. Isto tem a ver com a contradição entre as funções paternas. Depois desta introdução, insistirei um pouco sobre a contradição entre as funções paternas. Contradição esta que não se pode reduzir à fonte de uma loucura que concerne a vida sexual. Isto porque existe um pai, o do segundo tempo, que é um pai que é vivente, que é a raiz do sexo, da perversão e do amor, mas que é um pai feminilizante, castrador, persecutório e violador. E existe um outro pai que permite pacificar o primeiro, mas é uma pena que já esteja morto desde sempre, pois o nome não afeta o vivo mas passa às futuras gerações. Por isso esse pai sempre é morto. Darei um pequeno exemplo para fazer-me entender sobre a relação entre esta contradição das funções paternas e a vida sexual. Existe uma relação evidente, pois qualquer homem que deseja pode estar no mesmo lugar que o pai violador. É suficiente ver que este primeiro pai é um pai anônimo que, por isso, um amante pode estar neste lugar do pai porque este primeiro pai é sem nome. E aqui começam as dificuldades, especialmente na vida sexual feminina. Mas isto também pode ser um dos maiores êxitos numa análise: permitir fazer a diferença entre desejo de homem e desejo de pai. Um pequeno exemplo, então: trata-se do sonho de uma paciente que vê em um quarto o seu amante com um homem horrível. Ela está certa que este homem vai bater e pode ser que vá matar o amante. Vai buscar ajuda, mas quando volta seu amante não está mais no quarto. Por fim, ela 16. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 16

17 A erótica e o amor. vê um corpo no chão com um lenço sobre a face. Cheio de sangue. Ela insiste muito sobre a palavra sangue. Ela levanta o lenço e vê que não é a face do seu amante, mas a face de seu pai. Neste momento, ela faz uma associação sobre sua infância e sobre seu pai, que estava sempre viajando. Ela diz: Fiz minha vida sem pai. Em francês isto se diz: Mon père j ai fait sans. Meu pai eu fiz sem. Em francês há uma equivocação entre sangue/sang e sem/sans são homófonos perfeitos. Mon pére j ai fait sans, é uma repetição do que ela disse um momento antes com o sangue sobre a face do amante. Isto quer dizer que foi ela que produziu o sangue que estava representado no sonho nas várias repetições da palavra sangue. Assim se apresentava retroativamente a morte do pai, que estava em jogo no amor do amante. Neste exemplo, o que é evidente é a confusão entre homem e pai e a dificuldade de levantar esta confusão também. No princípio é o nome dado, o pacto que permite acabar esta confusão, porém, se se faz assim, são o amor sexual e a vida que vão apresentar dificuldades. Ou seja, tomar o nome para simbolizar o falo é um risco para a potência deste falo que não vai mais funcionar como órgão e, como diz Lacan, o falo simbólico é o símbolo da castração ou, por outro lado, o falo é o que se opõe à relação sexual. Com a castração há uma maneira de sair da perversão, mas com um risco. No Mal-estar na Civilização isto quer dizer o fim da possibilidade da vida sexual. Aqui temos a grande dificuldade que há entre a questão do sexo e a questão do nome, da civilização. E pode ser que a particularidade do amor feminino seja uma tentativa de solução desta contradição. Este amor feminino é uma maneira de dar forma a uma questão sem resposta entre estas duas contradições. Por isso, há um risco de loucura feminina específica quando falta o amor, quando não há mais possibilidade de por numa pessoa a contradição entre sexo e nome. Neste momento, pode se desencadear um tipo de loucura feminina que pode chegar ao delírio e que não é psicose, especialmente a partir de tudo o que pode parecer persecutório na vida cotidiana. É uma loucura parecida, às vezes, com um delírio abril 2012 l correio APPOA.17 miolo Correio APPOA 211.pmd 17

18 temática. persecutório em que tudo vai mal na vida somente a partir desta questão de falta de amor, que permite localizar sobre uma pessoa só de onde vem a perseguição. É um alívio quando o amor permite localizar o que é persecutório. A fonte da perseguição é somente a contradição entre nome e sexo. Penso que podemos agora tentar, depois destas generalidades, algo mais preciso sobre o desejo sexual e suas especificidades. Mas, primeiramente, há que se fazer bem uma distinção. Não vou demonstrá-lo completamente, porém suponho que vocês notarão que o desejo propriamente sexual e o desejo do fantasma não são a mesma coisa. Por exemplo, fantasma místico não é sexual. Foi o que eu disse na minha introdução: o desejo sexual depende da eleição do sexo e da perversão, e o desejo do fantasma depende do complexo de Édipo totalmente desenvolvido. É simples ver que o desejo do fantasma pode opor-se ao desejo sexual. Por exemplo, um obsessivo que marca um encontro com uma mulher e não comparece por seu prazer, prazer de fazer sofrer uma mulher, realiza algo que o faz gozar muito em seu fantasma, porém, isto se opõe totalmente a sua vida sexual. Assim, existe uma diferença essencial entre o desejo do fantasma e desejo sexual. Outro exemplo, do lado histérico: uma histérica que toma um homem para pegar outro, que faz uma rivalidade entre dois homens, isto a faz gozar muito em seu fantasma, mas isto não corresponde a uma satisfação diretamente sexual. É uma satisfação do fantasma que não é sexual, fazer sofrer um homem com outro homem. Primeiro há de se marcar esta diferença entre desejo sexual e desejo do fantasma. E, dentro do desejo sexual, o desejo feminino e o masculino não são simétricos. Essas diferenças são essenciais. Vou começar por algumas particularidades do desejo feminino feminino e não histérico. Como feminino, este desejo começa sem relação com a anatomia, porque começa somente com o amor do pai, com o segundo tempo do complexo de castração. Por um amor ao pai quando ele alivia a 18. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 18

19 A erótica e o amor. abril 2012 l correio APPOA.19 sua filha daquilo que o desejo de sua mãe tem de insuportável. É somente isto que provoca um amor de filha pelo pai. Mas este pai faz isso graças a sua posição sexual, graças ao sexo. E, por isso, ele é amado sexualmente. Porém, trata-se de um amor muito cruel, porque ele seduz graças a uma função que implica, por definição, em que ele não pode responder ao desejo que esta função provoca. O desejo é, assim, ao mesmo tempo provocado e impedido, excitado e por isso mesmo proibido porque o pai é desejado somente na medida em que ele já está com a mãe e, assim, o desejo é ao mesmo tempo provocado e impedido. Não se trata, como às vezes se diz de maneira um pouco rápida, de um desejo que resulta da proibição do gozo. Não há nada a proibir porque é a autorização que proíbe. O desejo comporta em si mesmo sua proibição. E, quanto maior for o desejo da filha, quanto maior a força deste, maior será o seu sentimento de ser recusada. Isto é um ponto essencial do desejo sexual feminino, este sentimento de ser abandonada, recusada e também, por razões que vou indicar, este sentimento pode voltar em seu contrário, quer dizer, recusar, repelir. Por esta razão, uma mulher que faz tudo para recusar um homem, pode ter esta ideia rara de que é o homem que a recusa. Para entender isto, temos que ver primeiro que este sentimento de recusa chega no momento do nascimento do desejo e que este desejo tem, em si mesmo a ambiguidade do genitivo. É uma questão gramatical do desejo: a formulação desejo do homem quer dizer, ou bem ser desejada, ou bem desejar os dois sentidos são incluídos. Por isso, existe esta reversão de recusa entre abandonar e rejeitar, é o mesmo movimento do desejo. Esta recusa pode ir longe, porque se o desejo vai até o fim do que ele quer, vai até desaparecer com o fim da recusa. Vai até desaparecer, até morrer por desejo. E podemos encontrar exemplos desta extremidade do desejo mesmo quando, por exemplo, uma amante pede ao homem que ela deseja que a mate, quando há esse sentimento de equivalência entre desejar e morrer por desejo. Desaparecer corresponde, assim, ao final da rejeição que depende somente da força do desejo sexual. Há uma poetisa russa que escreveu um poema que explica bem esta extremidamiolo Correio APPOA 211.pmd 19

20 temática. de: Eu espero que aquele que primeiro me compreender enfim atirará à queima-ropupa. Deve-se ver que este sentimento de abandono não é o resultado dos acontecimentos da realidade e não é também a consequência de um sadismo masculino. É somente o que acompanha o desejo, e em análise não serve de nada o fato do analista ser compreensivo quando aparece o sentimento de rejeição. Se o analista se mostrar compreensivo, um cara legal, o que deve saber, é que ele vai, desta maneira, evitar analisar o desejo sexual. Desejo sexual que se contradiz em si mesmo, um desejo que de seu próprio movimento vai até paralisar-se, até não fazer nada, abster-se, ficar na imobilidade. Ficar na imobilidade enquanto não intervém o desejo de um homem, e aqui podemos ver o que Freud escreveu sobre a passividade feminina, ao contrário do que eu disse há pouco da masculinidade e sua atividade. Esta passividade feminina não é, de maneira alguma, o simétrico da atividade masculina. Não é o resultado de algo exterior, não é o resultado de uma expressão exterior. Há uma passividade feminina não porque haja uma repressão masculina na sociedade. É uma passividade que vem do próprio movimento do desejo. Por isso uma mulher pode, por exemplo, ficar um tempo, ou também muito tempo, sem vida sexual, digamos, normalmente e não patologicamente, como resultado da estrutura mesma do desejo. Havíamos visto que a rejeição pode ser igual ao fato mesmo de rejeitar, o que implica em muitas consequências clínicas. Não somente pelo fato de rejeitar precisamente o que é desejado, mas também pelo fato da rejeição ser o equivalente, por exemplo: a amar impotentes, ou também ao amor pelos homossexuais. É algo que existe muitas vezes em várias mulheres, o amar homens que sejam impotentes ou uma afeição particular pelos homossexuais, ou, ainda, uma cumplicidade com homossexuais masculinos. E, como havíamos visto, este amor pelo impotente é uma consequência do desejo pelo pai, se o desejo for recusado por este pai. É melhor pensar que ele seja impotente ou um homossexual que pensar ter sido rejeitada. 20. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 20

21 A erótica e o amor. Antes de tentar uma conclusão sobre etas particularidades do desejo feminino, quero sublinhar um último ponto: se o nascimento do desejo sexual para o homem é acompanhado de um sentimento de rejeição, ele é também o reconhecimento do lugar de onde vem este desejo. Quer dizer, da mãe, porque o pai tem seu lugar, tem sua posição somente porque ele alivia a respeito da castração da mãe. Assim, o lugar de onde vem o amor do pai é o lugar da mãe, do grande Outro. Há, portanto, a presença de outra mulher que é constante no desejo sexual feminino. E no desejo sexual feminino heterossexual, completamente heterossexual, há a presença da outra mulher, sempre. Por isso pode-se definir um tipo de homossexualidade feminina neurótica normal com o desejo feminino: um reconhecimento do lugar da outra mulher que tem esta particularidade de passar pelo homem. Há vários exemplos clínicos de mulheres que primeiro se casam com homens, por suposto, e depois vão viver com uma mulher. Este tipo de homossexualidade é totalmente diferente da homossexualidade masculina perversa. Agora gostaria de concluir sobre o que me parece mais importante no desejo sexual feminino porque existe este sentimento de recusa, de abandono, que vem com o desejo mesmo. Porém, vocês sabem que existe um outro sentimento de exílio, de recusa que vem regularmente em relação à mãe, ao primeiro tempo do complexo de castração. Com efeito, há para o ser humano uma dívida impossível de ser paga, porque está além de suas forças responder à demanda da mãe. No primeiro tempo da castração, a criança não pode responder à demanda materna. Se a demanda é a demanda do falo, a criança não pode equivaler-se ao falo sem morrer, porque sua mãe não tem falo. Equivaler-se ao falo quer dizer equivaler-se a nada. Por isso, o primeiro encontro com a demanda do Outro é, ao mesmo tempo, amor e pulsão de morte. Assim, existe um primeiro sentimento de recusa para com esta dívida impossível de ser paga, de responder à demanda da mãe, de equivaler-se ao falo, equivaler-se a nada. Vocês podem ver o que pode acontecer de trágico no momento em que há uma rejeição pelo pai. abril 2012 l correio APPOA.21 miolo Correio APPOA 211.pmd 21

22 temática. Pelo simples fato da filha desejá-lo, a menina corre o risco de recair do lado da mãe, na dívida materna. Assim, a recusa se multiplica pela recusa, e pode ser que seja este o momento mais suicida do sentimento de abandono, momento que permite entender o que é o primeiro traumatismo sexual. Recordo uma lenda Tupi brasileira, o mito da criação da mandioca, em que há um pai que tem um menino e uma menina, e o pai não ama a filha. Então, há este primeiro tempo de rejeição pelo pai, a filha chora, sem parar, o que é o signo do seu desejo rejeitado. Então se vira para o lado da mãe e fala que está muito infeliz, e pede à mãe que a enterre. A mãe finalmente aceita enterrá-la, e a filha pede que ela parta sem olhar para trás uma vez que esteja enterrada. A mãe então a enterra e vai embora, mas continua ouvindo o choro da filha enterrada, apesar da palava empenhada ela olha para trás. Vê uma árvore imensa no lugar onde a enterrou e se aproxima. Quanto mais ela se aproxima, mais a árvore diminui de tamanho, até desaparecer embaixo da terra. Disto resulta a mandioca. É interessante, porque aqui se vê bem o momento da queda. À medida em que o pai rejeita a filha, ela volta no espaço materno até desaparecer. Além disto, está na relação com a pulsão oral porque a mandioca se come. Isto é importante porque permite entender o que é o primeiro traumatismo sexual e porque na histeria vale mais inventar a ficção de um pai violador que recair no espaço da dívida materna. E, assim, o que aparece é o que Freud chama a primeira mentira histérica: é por isso que, na histeria, a mentira às vezes é tão importante. É importante sempre mentir, sempre inventar que os homens são violadores. Melhor a sedução desta maneira que cair no espaço da dívida materna. Temos desta forma a causalidade estrutural em seu laço com o desejo do traumatismo sexual. Este é um ponto essencial para se entender que há primeiro um amor, uma sedução, e depois um engano, mas que é o próprio engano do desejo que é uma sedução. É o engano do desejo que provoca o amor. O homem que 22. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 22

23 A erótica e o amor. engana é, por isso mesmo, sedutor; é algo que escreve Kierkgaard no seu Diário de um sedutor. É o engano que primeiro provoca o amor, em lembrança desta estrutura do desejo. Quero falar agora sobre outro ponto que me parece importante no que concerne ao desejo masculino. O desejo masculino parece fácil de ser entendido enquanto se trata de homossexualidade. Com efeito, ele entra facilmente no amor do homem quando seu pai o alivia do desejo de sua mãe. Neste momento, ele vai estar numa virilização feminilizante com respeito a este pai. Neste sentido, a passagem à heterossexualidade é muito mais fácil de entender do lado da mulher que do lado do homem. E pode ser que seja um dos êxitos mais importantes de uma análise o fato de permitir a um homem sair de sua relação ao pai da potência, ao pai do sexo que faz dele um soldado anônimo, uma pessoa sempre atrás de um chefe, quer dizer, um soldado feminilizado. E, como disse Freud no Três ensaios sobre a sexualidade infantil, o verdadeiro problema é a passagem à heterossexualidade. Não é que não possam existir todas as aparências da heterossexualidade, mas ela vai decidir-se no momento da eleição do sexo, quer dizer, com respeito ao primeiro pai, ao pai totêmico. Porque esta diferença entre dois pais é a diferença freudiana entre o pai totêmico, o primeiro, e o pai do Édipo. Este primeiro pai não se pode vencer, é sempre o mais forte, sobretudo porque ele já ganhou pelo fato de ser amado. Não é uma diferença de força física. Ele ganha porque é amado e por isso não há nenhuma maneira de vencê-lo. E por isso esse é pai o que bate, é o pai da perversão do fantasma de Bate-se numa criança, descrito por Freud. Assim, há uma entrada no desejo sexual muito importante a observar, é o fato de que bater permite ser equivalente ao pai que bate, do lado do homem. Há uma entrada na sexualidade masculina que é sádica e que tem sua razão. [ ] puxa os cabelos das meninas, chuta. É uma primeira forma de entrar no sadismo masculino, quer dizer, tratar uma mulher da mesma abril 2012 l correio APPOA.23 miolo Correio APPOA 211.pmd 23

24 temática. maneira que o próprio homem foi tratado por seu pai. Há uma entrada na sexualidade masculina que é puramente sádica, perversa. Neste ponto, o fato de causar sofrimento a uma mulher é uma medida erótica muito corrente. E o desejo sexual masculino pode ficar realmente neste ponto, porque ele vai encontrar uma dificuldade importante no momento da simbolização do falo pelo nome. Com efeito, quando o menino for tomar o nome patronímico para possuir o falo, podemos acreditar que a potência que terá, desta maneira, consiste no que é necessário para realizar o incesto. Porém, há aqui uma dificuldade do desejo que não é simétrica a que encontra uma mulher. Ele, o menino, quer o nome de seu pai, porém somente na medida em que este pai já tenha a posse da mãe. Assim ele vai adquirir uma potência, porém em pura perda. Ele já perdeu para ganhar. Para poder ganhar a potência fálica, ele, forçosamente, já perdeu. E o desejo encontra uma impossibilidade que não é absolutamente o resultado de uma proibição quando a atividade começar. Uma atividade que pode assinar-se como nome, como a metáfora paterna. Quer dizer que esta atividade não vai servir de nada pelo que ela é feita, isto é, esta possessão da mãe. Por exemplo, o jogo serve para atuar, a atuação de uma virilidade ao menino, porém esta virilidade não serve para nada de sexual, geralmente. Pode-se dizer isto de toda a atividade masculina que vai acumular a potência fálica. É uma atividade em pura perda: seja o jogo, o trabalho, ou a sublimação, todo o ato já está marcado por essa pura perda. E me parece interessante entender a neurose atual, de Freud, neste sentido. Assim, o sucesso da simbolização parece ser proporcional ao fracasso da sexualidade. Vejo somente esta dificuldade do desejo sexual masculino, que permite sublinhar a clivagem, que me parece ter muitas consequências clínicas na vida sexual entre desejo sexual e desejo do fantasma quer dizer, finalmente, o que vai se fixar no sintoma. Com estas particularidades do desejo masculino, quero sublinhar agora uma questão que não se pode evitar que é: Como pode encontrar-se o desejo sexual da mulher com o do homem se são tão diferentes? A primeira 24. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 24

25 A erótica e o amor. vem com o sentimento de recusa, de abandono, e o produto do segundo, do desejo do homem, é uma proibição. Parece que não deveriam se encontrar, porém, parece também que ocasionalmente se encontram. É um fenômeno assombroso que merece algumas explicações. A primeira explicação que se pode pensar é a da perversão, quer dizer, que o sentimento de abandono da mulher é uma dor, e esta dor vai excitar o sadismo do homem, e assim se pode obter uma eficácia erótica que é algo certo. Porém isto parece em demasia agradável pela perversão masculina, e penso que este ponto de vista deve levar em contra também o fantasma de sedução feminino. De fato, pode ser que este fenômeno de sedução feminina comande essencialmente o processo dos desejos. A sedução é um trabalho feminino que é tão cansativo que deveria fazer com que a mulher pudesse se abster de qualquer outra atividade. Quero dizer que há uma tal diferença entre o desejo sexual masculino e o feminino, que o esforço que implica o trabalho da sedução se a primazia não está com o esquema perverso, se este é o ponto que é necessário colocar em primeiro plano, ou seja, o trabalho da sedução é o que havíamos visto há pouco com a ambiguidade do genitivo do desejo, que permite entender que o fato de ser abandonada e ter este sentimento de abandono equivalesse a recusar. é a partir disso que se pode ver como podem se encontrar os desejos. Mais precisamente: sem encontrar-se, porque não se trata aqui de uma complementação perversa entre um sádico e uma masoquista, senão o momento em que o abandono é o próprio sinal do desejo pelo homem. Assim se pode entender uma particularidade interessante do desejo de alguns homens, que às vezes desejam ardentemente uma mulher precisamente porque esta mulher o maltrata. É um desejo que pode parecer catastrófico, mas é neste catastrófico que há um encontro. Agora há uma outra questão a propósito da sexualidade feminina é a questão de saber se podemos definir o que é uma mulher. Como diz Freud, um indivíduo bissexuado no início torna-se mulher, e este tornar-se mulher define uma posição no sentido deste amor do pai abril 2012 l correio APPOA.25 miolo Correio APPOA 211.pmd 25

26 temática. que falei antes, no sentido de um tipo de estupefação por este traumatismo do amor do pai. Posição da mulher que podemos facilmente ver em termos genéticos. Não somente isto se encontra no começo da neurose, mas podemos dizer também que esta posição da mulher não é nenhuma forma clínica em particular. A posição feminina não é então a neurose, mas não é tampouco a perversão. E vou mostrar que é, de alguma forma, o simétrico da perversão masculina não somente aquela do pai, mas a do masculino em geral. Voltarei a falar dessa posição feminina como simétrica da perversão masculina no sentido em que aqui os sexos se complementam, pois me parece que deste ponto de vista os sexos se complementam num sentido. Um sentido que é necessário esclarecer, pois isto não quer dizer que se trate de uma complementação adequada, como vimos antes. Eu gostaria, primeiramente, de salientar este fato da posição feminina como simétrica à perversão masculina. Como havíamos visto, o pai é um perverso porque ele não responde ao desejo da menina é um sedutor. E a mulher, enquanto tal, não necessita da perversão. E o ponto que quero sublinhar é que a mulher não ocupa uma posição masoquista da qual o homem ocuparia a vertente sádica. Não é dessa forma que se passa, pois o sadismo e o masoquismo se encontram ambos do lado da perversão, então, do lado masculino. Não quero dizer que uma mulher não pode ser masoquista, mas quando é o caso, o é a título de neurótica, isto é, a título de masoquismo moral e não de masoquismo da perversão, ou ainda de sua culpabilidade, ou ainda como um gosto pela humilhação que pode ser útil a seu gozo sexual, por exemplo. Esta posição da mulher não é então aquela que seria simétrica ao sadismo masculino. Quando o sadismo masculino ataca o feminino, ele o ataca, primeiramente, em relação a sua própria angústia de feminilização e, por isso, o masoquismo se define pelo que concerne à perversão. Como, aliás, diz Freud, unicamente como uma posição masculina diante do pai no fantasma Bate-se numa criança. 26. correio APPOA l abril 2012 miolo Correio APPOA 211.pmd 26

27 A erótica e o amor. abril 2012 l correio APPOA.27 Vocês podem ver então que esta posição feminina não se situa mais no campo da perversão. Ela também não está no campo da psicose, pois ela se define somente graças ao amor do pai. Eu insisto no termo. O amor do pai dá a sua posição e não dá a sua definição. Vocês podem deduzir que, se existe este amor do pai que salva da angústia da castração materna, então o problema de uma forclusão não pode mais se colocar. Sublinho este ponto com respeito a debates que existiram na França há uns dez anos, nos quais alguns analistas faziam uma comparação entre a posição feminina e a psicose. O problema de uma forclusão não pode mais ser colocado. Se há este amor do pai, não há, consequentemente, forclusão do pai. E, no entanto, este amor não é suficiente para que haja simbolização do falo. E o estado de estupefação causado pelo amor é um estado de estupefação que pode permanecer tal qual, sem que possamos dizer que haja forclusão e sem que exista, também, qualquer urgência levando à simbolização. No livro de Marguerite Duras, O deslumbramento, acho que dá para ver bem o que é este estado de estupefação de besteira feminina, podem ficar assim, pois esta posição feminina não reclama, enquanto tal, ser recalcada, reprimida, como é o caso do lado masculino em que há uma angústia de castração, uma angústia de ser feminilizado. O feminino não reclama a repressão como é o caso do masculino, porque a repressão é fundamentalmente dirigida contra o feminino. O falocentrismo não tem somente o sentido de uma preferência dada ao masculino porque não existiria um único símbolo, o falo. Ele tem o sentido de uma repressão, de um ódio ao feminino. Vejam então esta posição feminina determinada, e mesmo, com muita frequência, muito bem determinada, pelo amor do pai, que não pode ser a psicose e que não é tampouco a simbolização do falo. É um amor do falo não simbolizado que emerge assim. Quero dizer que esta não simbolização é, sem dúvida, o que faz o lado carnal do amor feminino pelo falo. Vejam que não estamos aqui na ordem das consequências do amor do pai e, de forma algumiolo Correio APPOA 211.pmd 27

28 temática. 28. correio APPOA l abril 2012 ma, na ordem da privação paterna. Eu digo no que diz respeito à identificação ao falo como ela pode ser atribuída a esta posição do feminino. É um ponto que merece ser explicado porque existe igualmente uma identificação ao falo na psicose, mas vocês veem facilmente agora a diferença. O psicotizado se identifica com a falta do Outro, da mãe, isto é, com o falo materno, enquanto que, se a mulher se identificasse com o falo, tratarse-ia, de alguma forma, do falo paterno do lado feminino, a título de uma consequência do amor do pai. Acho que o processo desta identidade ao falo paterno merecer ser lembrada, porque esta história de identidade feminina ao falo se presta a confusões e a uma incerteza teórica com a psicose. Não se trata quando se fala da identidade entre mulher e falo de uma identidade ao órgão, evidentemente, mas de uma identidade com o símbolo da castração. É assim que se passa, porque quando uma mulher é desejada enquanto mulher, é o amor do pai que é evocado, isto é, a título deste primeiro trauma. O desejo recusa-se enquanto o que o constitui como desejo, e é esta recusa desejável que faz desta posição feminina o símbolo da castração. De uma castração que vocês veem, pela sua própria definição, que está na origem do desejo sexual, da ereção. A este título, podemos dizer que a mulher é igual ao que ela provoca. A mulher provoca uma ereção, e ela é igual a esta ereção, isto quer dizer, ao símbolo do falo. Não sei se este ponto está claro. É somente pelo fato da existência do desejo sexual que a mulher se iguala ao que ela provoca, quer dizer, a uma ereção. É neste sentido que se pode dizer que a mulher é o símbolo fálico. É neste sentido que uma mulher é identificada ao falo, e o desejo sexual por uma mulher tem somente como consequência a ereção na medida em que ela evoca a castração. Isto não quer dizer que não existam outras modalidades de ereção perfeitamente auto-eróticas que podem ser colocadas em jogo por qualquer pulsão, isto é, pela angústia de castração materna. Mas estas modalidades de ereção nada tem a ver com a castração paterna tal como pode evocar uma mulher desejada. Estão aí detalhes de estrutura completamente detectáveis na prática, em que o homem pode facilmente ter eremiolo Correio APPOA 211.pmd 28

29 A erótica e o amor. ção sob um modo auto erótico, pulsional, e, depois, se ele tenta utilizar esta vantagem com uma senhora pela qual ele tem um afeto, não funciona. Primeiro tempo, auto erotismo e ereção pulsional, e, segundo tempo, para desejar uma mulher não funciona. Funciona muito bem nas preliminares e, depois, no tempo crucial, não funciona mais, pois não é o mesmo tipo de ereção que lhe é pedido. Vejam vocês onde nós chegamos a respeito desta posição do feminino. É uma posição muito centralizada, muito determinada pela identificação ao falo simbólico e, no entanto, não se trata nem da neurose, nem da psicose, nem da perversão. É neste sentido que eu não defino a mulher. Eu circundei uma posição, mas não posso defini-la, porque esta posição irá concernir a uma mulher em particular que, enquanto sujeito, fará parte certamente de uma das três formas clínicas que acabo de evocar. Aproximamo-nos, circundamos, somente uma posição da mulher nem psicose, nem neurose, nem perversão e poderíamos nos perguntar se, no final, não poderíamos nos dizer o mesmo em relação ao homem. Poderíamos mostrá-lo, mas me parece que para o homem é exatamente o contrário. Podemos defini-lo de uma maneira tal que a posição masculina não será exclusiva, nem da perversão, nem da psicose em sua relação ao nome, nem da neurose em sua relação a questão paterna. Temos agora um ponto de apoio sólido no que diz respeito a posição feminina. Isto não permite definir uma mulher, mas permite certamente definir uma abstração do feminino. A mulher, como diz Lacan, la femme, é uma só palavra, é a única abstração que interessa ao ser humano, isto é, abstração do símbolo da castração, o falo simbólico. Esta abstração, que não é nenhuma mulher em particular, apresenta-se como esta ideia da mulher. Que a mulher seja sempre já abstrata e à distância de tudo o que pode ten-tar representá-la através de diferentes encarnações particulares, nos per-mite certamente abordar com tranquilidade uma questão importante e podemos assegurar-nos sobre um fato levantado pela clínica que a feminilidade não é equivalente à histeria. A histeria não é equivalente abril 2012 l correio APPOA.29 miolo Correio APPOA 211.pmd 29

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