CEP -CENTRO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS. Curso de Formação em Pasicanálise. Ciclo IV 3ª Noite
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- Vinícius Leveck Morais
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1 CEP -CENTRO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS Curso de Formação em Pasicanálise Ciclo IV 3ª Noite O atravessamento da Psicanálise em meu cotidiano Nathália Miyuki Yamasaki 2014
2 Chego para análise e me ponho a falar, falar e falar, como de costume, quando meu analista me coloca uma questão. Ia começar nessa repetição de falar novamente, de formular teorias e de ter a resposta na ponta da língua, quando nesse segundo momento ele se direciona à porta e pede que eu volte na semana que vem. Não diria que não tinha nada a dizer com todo esse blá, blá, blá, mas acho que justamente era no que não era dito, o que era escondido pelas palavras, que ali está ou estava o que tinha para dizer. Será esse meu sintoma? Sintoma esse que vem por uma compulsão por repetição, nas minhas ações do dia a dia, que se reedita na cena transferencial? O que aconteceu? O que foi isso que realmente me deixou com uma questão? O que foi isso que me deixou sem palavras, literalmente, e que me fez pensar em coisas que nem havia pensado? Qual foi o manejo transferencial e a repercussão disso no meu processo analítico? Em Recordar, repetir e elaborar (1914), Freud fala de pacientes que ao invés de recordarem o esquecido e o recalcado, eles o atuam. Não reproduzem o esquecido como uma lembrança, mas reproduzem no ato, sem saber que assim o fazem. Sendo isso o que Freud chamou de compulsão por repetição e sendo essa compulsão um modo de recordar. Ainda no mesmo texto fala da relação dessa compulsão de repetição com a transferência e as resistências. Fala que na trasnferência repete esse sintoma e que tais repetições não ocorrem tão somente na análise com o analista, mas são percebidas e vividas nos demais relacionamentos e nas atividades cotidianas. Fala ainda que quanto maior a resistência, maior será a atuação, maior será o recordar em forma de atos. Caberia ao analista o manejo dessa compulsão pela transferência. Caberia ao analista
3 transformar o recordar por atos em recordar por lembranças. Qual o papel do analista? O que é isso que tenho chamado de manejo da e na transferência? No evento com Antônio Quinet, No princípio era o ato, ele falou justamente do analista e de sua posição na transferência. Fala do analista como quem dirige o tratamento, não o paciente. Dirige o tratamento no sentido da declaração do desejo do paciente. Coloca uma questão para o analisante. Traz para cena analítica de forma enigmática o enigma que é do analisante e cabe a esse último, decifrar. A interpretação do analista não deveria ser uma resposta à demanda do analisante, se assim o for, não há lugar para o sujeito do inconsciente e do desejo aparecer. Quando há um tamponamento da demanda, não há o aparecimento do sujeito. Penso que é disso que Calligaris em Introdução à uma clínica diferencial das Psicoses fala, do analista não estar no lugar de um par imaginário para analisante. Ser um par imaginário, acredito eu que é ser aquele que se identifica com o analisante e que responde do mesmo lugar, não o implicando com sua questão, com seu desejo e sua falta. Para não responder desse lugar de identificação e de par imaginário, é necessário que o analista se destitua enquanto sujeito, pagando como diz Quinet com o cerne do seu ser. O analista ali não existe como pessoa e como sujeito e deveria se abster de compreender, ficando assim atento para aparição do sujeito. E, para o analisante, não sendo colocado uma resposta à sua demanda, o sujeito do inconsciente vai emergindo e vai caminhando mais em direção ao seu próprio desejo. Já nascemos atrelados e marcados pelo desejo do Outro e na análise vamos em direção a essa separação. Logicamente como Calligaris, não acredito que haja um completo estado de autonomia, algumas marcas do desejo do Outro em nossas vidas permanecem,
4 mas acredito que a análise permite ir para além do conhecimento de nós mesmos, possibilita que possamos empreender numa construção, no processo analítico, do tentar nos tornar aquilo que já somos, ou seja tentar fazer nosso aquilo que já somos (Zeferino Rocha). Permite que saiamos do lugar de alienação total ao Outro. Quinet falando de Lacan, fala que para o analisante poder ocupar o lugar e a posição de analista é preciso que chegue, por meio de sua própria análise, nesse processo de destituição subjetiva. Seria o que Lacan chamou do desejo do analista, poder chegar em sua própria análise, nesse não-lugar, no ponto que o Outro te falta, lugar de solidão absoluta, lugar sem o Outro, lugar de desalienação. O que caracteriza o desejo do analista é esse real, esse vazio. E assim, quando o analisante chega nesse não-lugar, pode querer fazer da sua causa a causa da Psicanálise, indo para a posição de analista. Esses questionamentos que parecem não ter nenhum nexo e nenhuma coerência lógica estão me atravessando intensamente nesse momento. O que é, enfim, a análise? O que vivo no meu processo de analise? O que acho que falta para eu ser uma analista? Existe um ideal de análise? Ou mesmo um analista ideal? O quanto esses questionamentos têm a ver com meu próprio sintoma? O quanto tais questionamentos estão permeados pela busca por um ideal de ego? Penso que por mais ilogico que pareça inicialmente todas essas questões, elas de alguma forma estão articuladas. Me parece que nesse momento, estou tão tomada pelas minhas questões de análise que fica difícil pensar em teoria psicanalítica sem deixar transbordar meu próprio processo analítico. Não consigo articulá-las nesse momento, e o que fiz nesse trabalho foi o que foi possível diante do caos e da incoerência do meu inconsciente. O que foi possível também diante do processo analítico que me atravessa,
5 seja pela curso de formação, seja pela minha própria análise. Acho que o trabalho vai me abrindo para mais questões e o termino com muito mais questões do que quando tentei iniciá-lo. Talvez como no processo de análise, vou entender o que se passou e qual o significado disso tudo apréss-coup.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALLIGARIS, C. Introdução à uma clínica diferencial das Psicoses. São Paulo: Zagodoni, FREUD, S. (1914). Recordar, repetir e elaborar. In: FREUD, S. Observações Psicanalíticas sobre um caso de paranóia relatado em autobiografia ( O caso Schreber ), Artigos sobre a técnica e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, Evento: No princípio era o ato, com Antônio Quinet, realizado no dia 18/10/14, na Livraria Cultura. ROCHA, Z. A experiência psicanalítica: seus desafios e vicissitudes, hoje e amanhã. Ágora (Rio J.) [online]. 2008, vol.11, n.1
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