LEITURA SEMIÓTICA DE UMA ESTAMPARIA ARTE NAS ESCOLAS E INTERDISCIPLINARIDADE
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- Amélia Coradelli Valgueiro
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1 LEITURA SEMIÓTICA DE UMA ESTAMPARIA ARTE NAS ESCOLAS E INTERDISCIPLINARIDADE Sandra Conceição Nunes RESUMO: Baseada nos estudos da semiótica discursiva e tendo como modelo a proposta elaborada por Sandra Ramalho e Oliveira, este artigo apresenta a análise de uma estamparia feita em uma camiseta promocional de uma rádio católica da região da Grande Florianópolis. A escolha de uma estamparia se deve ao fato de que uma proposta deste tipo pode ser usada para diferentes imagens, sejam elas artísticas ou estéticas; e também para ilustrar que o professor de Arte pode e deve fazer uso de imagens diferenciadas em suas aulas. Uma imagem do design, como a que foi selecionada, está mais próxima dos educandos e servirá para posteriores analogias em relação à arte. PALAVRAS-CHAVE: Imagem; Leitura de Imagem; Semiótica; Ensino de Arte Ao olhar uma imagem o observador é convidado a adentrá-la, percorrendo-a sem uma direção pré-determinada; num jogo de ir e vir que permite perceber a sua complexidade. Para que uma leitura contemple o seu todo é necessário perceber as partes do todo ou o todo e suas partes, ou seja, deve-se vasculhar o texto visual. A semiótica discursiva tem como objeto de estudo o texto 1 que, por sua vez, é entendido como possuidor de dois planos: o de expressão ( sintaxe ) e o de conteúdo (semântica), que somente reunidos são capazes de produzir significação. O plano de expressão se refere a o que Saussure chamou de significante, aquilo que o olho percebe, ou seja, seus elementos constitutivos, por exemplo: cor, linha, forma, plano, ponto. O plano de conteúdo diz respeito ao significado que um texto pode gerar numa determinada cultura e para uma determinada pessoa. É da semiose destes dois planos que a análise deve ser feita. No caso de uma pintura ou de uma estamparia - como a que será analisada posteriormente- o texto em questão faz parte de um sistema semi-simbólico, ou seja, sua organização se dá em função da construção de uma imagem a partir de códigos estéticos que não seguem padrões pré-definidos culturalmente. É, também, um sistema aberto à interpretação ou à busca de significação em que podemos perceber e estabelecer uma relação entre enunciador e enunciatário. O primeiro é 1 A palavra texto, para a semiótica greimasiana, ultrapassa a idéia de texto verbal. Greimas, um dos semioticistas que mais conservou as proposições de Saussure, dizia que um ritual ou balé poderiam ser considerados textos ou discursos. Ele e seus seguidores ampliaram seus estudos para distintos tipos de textos, como: da arquitetura, da televisão, da pintura, da teologia, do cinema, da publicidade, da moda, dentre outros. 117
2 quem cria o enunciado, neste caso, a pintura ou a estamparia, tentando fazer com que o segundo aceite o que está sendo comunicado, a partir da organização textual; cabe, a este último, aceitar ou não à medida que for dando sentido ao texto. Por isso, as imagens, de maneira geral, precisam de um enunciatário ou observador, pois elas só fazem sentido diante deste. Ana Claudia de Oliveira (2005), pesquisadora brasileira que segue os pressupostos da semiótica discursiva para analisar textos visuais, propõe que para efeito de análise de um texto, deva-se, primeiramente, dividi-lo em dois planos: o de expressão 2 e o de conteúdo. A autora destaca a importância de iniciar a análise pelo plano de expressão, pois, gradativamente, chega-se ao de conteúdo 3. Existem diversas abordagens para análise de imagens; porém, a escolha de um modelo pautada na semiótica, não é em virtude de que esta venha a ser a melhor maneira de adentrar na complexidade de uma imagem, ela é uma das. Ao permitir analisar, não só imagens da arte, nem só produções visuais, mas qualquer tipo de texto, a semiótica apresenta um caminho mais estruturado para se chegar à significação. A opção de escolha do modelo de Ramalho e Oliveira (1998, 2005) para analisar a imagem é em função de que sua proposta tem preocupações didáticas 4, sendo possível ser utilizada nas aulas de Arte. O roteiro elaborado é flexível e perpassa algumas etapas, sendo que deve-se partir do plano de expressão para o plano de conteúdo. Primeiramente, é necessário perceber uma estrutura na imagem, ou seja, a estrutura básica que sustenta a composição; podendo ser uma linha, um ponto central, uma forma. Assim que a estrutura básica for encontrada, parte-se para percepção dos detalhes, ou seja, para os elementos constitutivos: pontos, linhas, cores, planos, formas, luz, dimensão, volume, textura, suporte. Tais elementos, por sua vez, podem estabelecer relações, articulações ou combinações entre si; é o que recebe o nome de procedimentos relacionais. As relações podem acontecer entre elementos, entre elementos e blocos de elementos, ou ainda, entre blocos de elementos entre si; por exemplo, podem ser percebidos: contrastes, ritmo, simetria e 2 Ana Cláudia divide o plano de expressão em: formantes eidéticos (forma), formantes cromáticos (cor) e formantes topológicos (organização e suporte). Sandra Ramalho e Oliveira sub-dividiu o plano de expressão em: elementos constitutivos e procedimentos relacionais. 3 Outros autores propõem uma análise semiótica a partir do plano de conteúdo. 4 É importante destacar que, esta autora não foi a única que procurou elaborar uma metodologia de análise de imagens visando a aplicação na Educação. 118
3 muitas outras relações, as quais vão depender de cada imagem proposta. Assim, cada análise será tão diferente quanto são as imagens entre si. Este primeiro momento resulta num processo de desconstrução da imagem para a sua reconstrução, posteriormente. A leitura vai se construindo a partir de relações, do micro para o macro e vice-versa. Cabe destacar que, os elementos constituintes utilizados pelo enunciador ou produtor da imagem, deixados de forma intuitiva ou proposital, revelam o momento vivido e/ou suas pretensões. O que está fora da imagem, por exemplo, aspectos referentes à história de vida do autor, não se faz necessária para efeito de análise, em um primeiro momento. Deve-se partir do próprio o texto para perceber o quê e como ele diz. É este o universo de cada análise. Após vasculhar o plano de expressão, seus elementos constituintes e os procedimentos relacionais, o leitor deve adentrar o plano de conteúdo, ou seja, buscar as significações, indo do todo para as partes e vice-versa. Por isso, a necessidade de primeiro perceber, de forma mais detalhada, o plano de expressão, pois é a partir dele que os efeitos de sentidos serão construídos, deixando de lado os achismos e a superficialidade da análise. Tudo o que for dito ou pensado está no próprio texto; e a passagem de um plano para o outro, acontece de forma natural, não é algo mecânico, pois eles são dependentes um do outro. Cada leitura é pessoal, ou seja, depende de quem lê: seus conhecimentos e suas experiências anteriores; e de quanto à imagem será capaz de provocar a busca de novos conhecimentos, mas sempre partindo do texto em análise. O leitor é autônomo; isto não quer dizer que cada um pode atribuir as significações que bem entender para as imagens. Cada imagem propõe, pela sua própria constituição, o que há para ler. Diante de uma imagem ele, o enunciatário, também se torna produtor de um discurso durante sua análise, pois este ato não deixa de ser também uma produção, pois ao buscar dar sentido ao texto, ele precisa construir e reconstruir aquilo que é visto. O leitor torna-se ativo, construtor do seu próprio conhecimento. O texto imagético selecionado não é uma imagem artística, mas sim, uma imagem estética 5 : uma estamparia feita a partir da técnica de serigrafia, aplicada em 5 Uma imagem é denominada imagem estética quando, dentre suas funções, a função estética for secundária. Quando em uma imagem a função estética for principal, ela é chamada de imagem artística, cf. proposto por J. Mukarovský. 119
4 uma camiseta promocional de uma rádio católica recém-lançada 6. A opção por um texto imagético deste tipo serve para mostrar que a proposta de análise desenvolvida por Ramalho e Oliveira pode ser aplicada a várias categorias de imagem e que nas aulas de Arte o professor pode possibilitar, ao educando, analisar diferentes imagens, inclusive suas camisetas, ampliando, assim, o seu universo de análise. Como nem sempre é possível estar diante da própria obra (original), os professores recorrem às reproduções ao proporem uma análise de imagem. Isso interfere diretamente, pois uma reprodução pode não oferecer as mesmas cores, as mesmas dimensões e qualidades formais da obra original. Por isso, esta análise foi feita não só levando em conta a estamparia em si, mas, também, o suporte a camiseta. Dentre tantas camisetas possíveis de serem analisadas, esta foi escolhida por conta do caráter ideológico de sua estampa, que visava um público alvo: católicos, principalmente jovens, que gostavam de música católica carismática. É importante ressaltar que esta análise será feita a partir da estampa na camiseta, tornando o suporte, um elemento menos relevante inicialmente, pois neste primeiro momento estaremos analisando os elementos constitutivos e os procedimentos relacionais do texto imagético. Analisando a estampa, percebe-se que não é possuidora somente de texto visual, também encontramos elementos da linguagem verbal, tornando-a uma imagem híbrida. A estampa tem como suporte o tecido, ou melhor, a camiseta de mangas curtas, em algodão na cor branca; e está localizada na parte frontal. (Ver figura 1) 6 Destaca-se que esta camiseta foi produzida em 2004 para comemorar e divulgar o lançamento de uma rádio católica carismática - a Rádio Cultura AM Mais Feliz com Jesus. Hoje a rádio utiliza outra logomarca e também pode ser ouvida pela internet: 120
5 Figura 1 Figura 2 A imagem é semi-simbólica, bidimensional e possui uma forma retangular que delimita/emoldura o texto imagético, possuindo as dimensões de 9,7 x 18,1 cm 7. Ao ser feita a estrutura básica da imagem, percebe-se duas linhas retas diagonais de tamanhos distintos, porém a verticalidade predomina, por isso pode-se dizer que a estrutura básica da imagem seria uma linha reta vertical (Ver figura 2). A forma retangular da moldura tem sua maior dimensão à altura que também é a maior dimensão do suporte e o texto imagético contido neste retângulo pode ser dividido em dois planos principais. O primeiro é formado por um conjunto de formas visuais, semi-simbólicas que ocupam, aproximadamente, metade da parte inferior do texto imagético. Na parte superior deste plano, encontra-se o texto verbal, que também está presente na base do mesmo, só que em dimensão menor e isolado uma palavra. Por sua vez, o outro plano, que chamaremos de fundo, também foi dividido em duas partes, em função de suas duas cores. (Ver figura 3). O fundo é composto por duas cores: o azul que aparece na parte superior esquerda da imagem e tem dimensão menor que a outra cor; e o preto que ocupa a parte inferior, mas se estende até o canto superior direito e acaba ocupando quase todo o fundo, gerando um peso visual na imagem. Tais cores são separadas por uma linha ondulada em diagonal que vai do canto 7 Neste artigo, a Figura 1 (estamparia) não foi apresentada com suas dimensões originais. 121
6 superior direito até quase a metade do lado esquerdo do retângulo. Esta linha se opõe as linhas diagonais da estrutura básica. (Destacadas na figura 3 na cor verde) Figura 3 Dando continuidade a esta leitura semiótica da imagem em questão, torna-se necessário analisar mais detalhadamente os elementos constituintes da mesma, para percebermos sua estrutura mais profunda 8. Primeiramente iremos analisar o texto verbal e sua disposição dentro da imagem. Cada palavra da frase Mais Feliz Com Jesus, recebeu diferentes características: cores distintas, tamanho, espessura e tipo de letra. Elas foram dispostas na horizontal, não lado a lado, mas sim intercaladas verticalmente, que provocam um vai e vem ou um ir e vir do olhar, ocasionando uma instabilidade. Isso é acentuado pela variação de espessuras das letras, que vão diminuindo gradativamente, até aumentar assustadoramente na palavra Jesus. A palavra Jesus recebeu maior destaque, direcionando a relação da imagem com a religião. A importância dada a esta palavra é percebida ao se comparar com as demais; e por sua cor branca, sombreada de azul, que se destaca sobre o fundo preto. As demais palavras receberam core e espessuras diferentes; dentre elas, cabe destacar a palavra Mais que também destaca-se por dimensão e espessura das letras, porém menores em relação à citada anteriormente. Podemos fazer uma relação entre estas duas palavras destacadas, que resultariam na frase: Mais Jesus. Dentro deste texto imagético, ainda podemos encontrar mais uma palavra, Florianópolis, localizada na base, no canto direito, onde o fundo é preto. Para lermos todo o texto verbal, precisamos passar pela imagem semisimbólica que o separa Mais Feliz Com Jesus, na parte superior; e 8 Cabe destacar que, diante das limitações de laudas para publicação deste artigo, esta análise não pode ser muito detalhada. 122
7 Florianópolis, na parte inferior. Podemos dizer que uma linha quebrada estrutura este olhar, movimentando-o. Se fizermos um outro esquema nesta imagem, percebemos pequenos retângulos dentro do retângulo maior que o emoldura. Estas formas retangulares, que se repetem dão ritmo irregular e contraste à imagem. (Ver figura 4 e 5) (Ver figura 4) (Ver figura 5) Passando agora à análise da imagem semi-simbólica que compõe o texto imagético, localizada sobre o fundo, temos um conjunto de formas variadas e cores que se repetem, alternadas. É importante destacar, que parte desta imagem semisimbólica tem um fundo específico, vermelho e quadrangular. (Ver figura 1) Logo abaixo da letra J, da palavra Jesus, e quase no limite da linha que separa as duas cores do fundo da imagem, tem uma forma circular resultante de uma linha espiral, bem fina em relação às demais, na cor azul. Em torno desta forma, há uma repetição de pequenas linhas/traços em diferentes posições, possuindo a mesma cor e espessura da linha espiral. Esta forma é repetida um pouco mais abaixo, disposta em diagonal em relação à citada anteriormente, possuindo a cor amarela e a espessura mais grossa que a anterior, bem como, não é envolvida com pequenas linhas. Os pontos de atenção do texto imagético são: a palavra Jesus e a forma semi-simbólica que lembra uma figura humana. Esta última, em cor azul, é contornada e destacada por espessas linhas curvas brancas. Podemos dizer ainda que, tal forma encontra-se, quase que completamente, sobre o fundo específico, na cor vermelha. 123
8 Dentro desta área/fundo 9 vermelho temos três losangos simétricos brancos e dentro dos mesmos temos mais três formas menores de cores diferentes, que lembram a forma a qual estão inseridas, cada uma recebendo uma cor. Este conjunto de losangos encontra-se no lado direito da forma semi-simbólica, e estão alinhados verticalmente, dando ritmo ao conjunto. Logo abaixo deles, encostada no último, temos uma linha espiral amarela. Do lado esquerdo da forma semi-simbólica, temos duas formas retangulares na cor amarela sombreadas de branco e alinhadas com a linha espiral azul, criando uma linha reta vertical. Estas formas retangulares, assim como os losangos, estão dispostos verticalmente. Se analisarmos a estrutura dos dois actantes, verificaremos que eles dirigem o olhar diagonalmente, da esquerda para a direita, sugerindo instabilidade e movimento; percebidos no texto verbal, entre a palavra Mais e Jesus e no texto visual. Porém esta tensão para um lado da imagem é neutralizada com a linha ondulada diagonal presente no fundo, separando as duas cores: azul e preto, que é oposta a citada anteriormente. Essa separação do fundo através das cores, onde o preto ocupa a base da imagem, mas que se estende até o topo do texto imagético, provoca um peso visual excessivo, que é suavizado com as cores contrastantes usadas no conjunto, principalmente no texto visual. Essa predominância da cor preta na estamparia serve também para destacá-la do seu suporte, a camiseta na cor branca. Tais cores, se alteram e se repetem no texto imagético, equilibram-se; ao mesmo tempo em que provocam tensão, percebida, por exemplo, na cor branca sobre o fundo negro na palavra Jesus. Cabe destacar que a cor amarela dá luminosidade ao texto imagético. As linhas curvas dão movimento à imagem, predominando onde estão as formas semi-simbólicas. Porém, esse movimento se contrasta com as formas encontradas ao seu lado: formas geométricas, rígidas, dispostas linearmente, que remetem a Igreja Católica, que é repleta de normas. A disposição das formas no texto imagético, muito em decorrência da moldura, enfatiza a verticalidade, a espiritualidade. Podemos dizer, então, que a imagem provoca ambigüidade. A força da verticalidade, nos remete ao próprio poder da Igreja Católica na sociedade, ao passo que o movimento gerado pelas linhas curvas, causam dinamismos e nos 9 Se considerarmos a forma azul e branca, citada anteriormente, como sendo a figura. 124
9 remetem a dança e a música. Talvez ai esteja a ligação entre a rádio música, ondas sonoras e a Igreja Católica, no caso. O ritmo que é dado nesta imagem é dinâmico. Nas formas geométricas e nas linhas repetidas dá a sensação de ordem e harmonia. Porém o ritmo que o texto verbal proporciona é irregular. A palavra Mais pode ser relacionada com a palavra Com por dois fatores: pelas cores semelhantes amarela e vermelha - e por sua ligação para produzir efeito de significação, pois para eu ter mais (no caso felicidade, alegria) eu preciso combinar alguma coisa (estar com Jesus). Pelas cores semelhantes, também podemos relacionar a palavra Feliz com Florianópolis. Por sua vez a palavra Jesus é a que causa maior impacto. Seu tamanho a torna um dos principais elementos da estamparia; sua cor faz ligação com a figura semi-simbólica que nos remete a figura humana e que também se opõe ao fundo preto. É como se estivesse saindo das trevas (fundo preto). Estes elementos constitutivos: gráficos, verbais e pictóricos; possibilitam efeitos de sentido, ou seja, nos permitem entrar no plano de conteúdo desta imagem, tendo o próprio texto como ponto de partida. Isso não impede que levemos em consideração o que está fora da imagem, pelo contrário, o contexto para a qual a imagem se propõe também pode ser percebido nela mesma, pois pistas/sinais já foram dados. Tendo em vista que o período de lançamento da rádio católica foi no verão, a camiseta suporte da estamparia - recebeu não só as mangas curtas, mas também uma cor que não absorvesse os raios solares. Não podemos esquecer que a cor branca também é símbolo da pureza e muito utilizada nas vestimentas dos rituais católicos. Buscando os efeitos de significação deste texto imagético a partir dos seus elementos constituintes e seus procedimentos relacionais, podemos dizer que o mesmo tinha uma finalidade específica: atrair as pessoas à Igreja Católica e divulgar o slogan da rádio que fora lançada. As vestimentas podem definir uma época, um estilo, um gosto, uma ideologia, enfim; e neste caso, a camiseta citada é um exemplo. Não fora feita para qualquer pessoa, seu público era específico. Ao mesmo tempo, a questão da música está presente na imagem pela sensação de movimento que o texto semi-simbólico nos remete. 125
10 Como o destaque fora dado à palavra Jesus e à forma que nos remete a figura humana, nos permite pensar que as pessoas podem estar ou ser mais felizes com Jesus. A felicidade é ressaltada pela cores contrastantes, pelo colorido, principalmente no uso das cores primárias, também lembram a alegria do verão, pois as pessoas nesta época parecem estar mais felizes. Este homem, repleto de felicidade que vem de Deus na figura de Jesus, que parece se movimentar enfatiza este estado de espírito, é como se a figura dançasse. Porém, percebe-se que ele encontra-se na parte terrena da imagem, onde temos o fundo preto, que nos remete a tristeza, ao pecado. Opondo-se a esta área preta, temos o azul, que lembra o céu, o infinito ao mesmo tempo, lembra o manto de Maria. É céu x terra. O céu local de pureza, alegria, felicidade, de santidade, que lembra Deus e a terra é local de pecado, principalmente para a Igreja Católica. O autor, ainda especifica o local, situando-o, ao escrever Florianópolis, explicitando o contexto da imagem. Esta felicidade que vem do céu, que vem de Deus, na cor azul, está presente na linha espiral azul, que nos remete ao sol, ao verão, devido às pequenas linhas retas que a envolve; e este azul celestial invade e enche o homem, até que se tornar sua base, sua sustentação,s eu apoio. Esta base nos remete as ondas do mar, a água. E a água para a Igreja Católica representa o batismo, ao mesmo tempo em que na Bíblia está escrito que Jesus andou sobre a água. A cor branca da palavra Jesus, que ilumina a área preta da imagem (fundo), também está presente na forma que lembra uma pessoa, como uma aura. Se analisarmos o que está próximo da imagem que lembra a figura humana, veremos um fundo vermelho, quadrangular que remete a igreja e a forma, também vermelha acima, lembra as torres, ao que vem do alto. Ao lado direito temos os três losangos que, pela quantidade, podem significar a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Se pensarmos da mesma forma, temos dois retângulos, que poderiam significar na Bíblia, o Antigo e o Novo Testamento. Se observarmos a palavra Feliz, encontra-se nos dois mundos, céu e terra. Assim, podemos pensar que a felicidade não precisa só estar no céu, pode estar também na terra, em Florianópolis, principalmente se estiver com Jesus. Quanto ao suporte, a camiseta, pode-se dizer que o material corriqueiro e simples, o qual possibilita que um grande número de pessoas a use, e esse é o 126
11 objetivo, divulgar a Igreja Católica, a rádio católica, a felicidade que se pode encontrar por intermédio da religião. REFERÊNCIAS: DONDIS, D. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo, Martins Fontes, GREIMAS, A. J. & J. COURTÉS. Dicionário de Semiótica. São Paulo, Cultix, LANDOWSKI, E. O semioticista e seu duplo. In: OLIVEIRA, A. C. & E. LANDOVSKI, eds. Do inteligível ao sensível: em torno da obra de Algirdas Julien Greimas. São Paulo, Educ, MUKAROVSKÝ, J. Escritos sobre estética e semiótica da arte. Lisboa, Estampa, OLIVEIRA, A.C. As semioses pictóricas. In: LANDOWSKI, E. & A. C. OLIVEIRA (orgs.). Semiótica Plástica. São Paulo, Hacker, RAMALHO E OLIVEIRA, S. R. Leitura de Imagens para a Educação. São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica PUC/SP, 1998, Tese de Dout.. Imagem também se lê. São Paulo, Rosari,
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