Lélio Braga Calhau R E S U M O D E C R I M I N O L O G I A. 4a Edição, revista, ampliada e atualizada I B H. Niterói, RJ

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1 Lélio Braga Calhau R E S U M O D E C R I M I N O L O G I A 4a Edição, revista, ampliada e atualizada I B H Niterói, RJ

2 O lançamento de obras de elevada qualidade no mercado editorial brasileiro nos últimos dois anos e incremento da inclusão da matéria de Criminologia em concursos públicos em todo o país, em especial, para os cargos de delegado de polícia e promotor de justiça, refletem a importância que a matéria tem cada vez mais para os profissionais que atuam na área criminal. A sociedade cobra uma ação mais eficiente de seus agentes públicos, os quais devem pautar suas ações pelas determinações do ordenamento constitucional e legal. A Constituição Federal não autoriza guerras contra o crime e nem a figura de paladinos, mas uma ação integrada, com respeito aos direitos fundamentais dos acusados, e com a utilização eficiente dos recursos disponibilizados para controle da criminalidade. Esta quarta edição recebe uma grande atualização, com o intuito de facilitar o estudo de seus leitores. Inserimos os pontos mais importantes e os exigidos nos cursos de graduação e especializações em ciências criminais. O conteúdo desta edição aborda o que o estudante ou profissional precisará, qualquer que seja o seu objetivo específico. E por último, introduzimos de forma objetiva e clara temas avançados da moderna Criminologia, com o intuito de permitir um aprofundamento teórico para aqueles que assim o desejarem. Belo Horizonte (MG), janeiro de Lélio Braga Calhau

3 A violência e a criminalidade continuam a ser temas de extrema atenção dos brasileiros. De um lado autoridades afirmam que os crimes estão sob controle. Do outro, o brasileiro cada vez mais acuado, encastelado e receoso em sua residência. As condições das cadeias públicas do Brasil são, em muitos casos, vexatórias. Não há vagas para todos os condenados nas penitenciárias. Gráficos são apontados pelos governantes, mas, de fato, a situação não mudará em curto prazo. Décadas de omissão não serão superadas de uma hora para a outra. Não há soluções mágicas para reduzir a violência. Há trabalho. Muito trabalho aliado à técnica (fornecida pela Criminologia) pode gerar resultados efetivos e duradouros. O crime não é um problema somente da polícia, é de toda a sociedade civil. A terceira edição mantém o espírito do trabalho idealizado pelo Professor William Douglas, nosso mestre. Ser simples, atual e objetivo. Rio de Janeiro, maio de Lélio Braga Calhau

4 Não foi surpresa para este autor o sucesso da primeira edição deste livro. Cartas, s, telefonemas de professores, policiais, promotores, juizes, advogados, estudantes e candidatos de concursos públicos, bem como mensagens pelo Orkut deram rapidamente ao professor a sensação de que o objetivo da obra foi alcançado. Procurei neste pro jeto esclarecer e sim plificar o entendimento da Criminologia. Além de fazer um paralelo sobre os principais temas apresentados pelos autores brasileiros, adicionei minha experiência de 10 anos de magistério dedicado às ciências criminais. O fato que me surpreendeu foi a rápida aceitação por alunos e professores de outros cursos como Sociologia, Psicologia, Serviço Social, Jornalismo etc. Procurei trazer os assuntos mais importantes numa linguagem de fácil acesso a todos. A violência e a criminalidade têm sido temas de maior interesse dos brasileiros por motivos óbvios. Precisamos compreender melhor este fenômeno para podermos atacá-lo, não somente nas conseqüências, mas em suas causas. O caso João Hélio abalou a todos os brasileiros. Algo deve ser feito. Com respeito aos direitos fundamentais dos acusados, sim, mas algo que possa ser efetivo, legalista, justo e com custos sociais aceitáveis para o nosso país e em defesa da sociedade civil. A Criminologia possui alternativas para o Brasil. Rio de Janeiro, agosto de Lélio Braga Calhau

5 O estudo da Criminologia tornou-se cada vez mais necessário para o profissional que atua na esfera criminal. Cada vez mais juizes, promotores, delegados e advogados criminais têm buscado o estudo e o desenvolvimento da Criminologia em seu âmbito de trabalho. Figueiredo Dias registra que, sem deixar de ser na essência uma ciência empírica e interdisciplinar, com anseio de integração, o seu objeto não é tanto constituído pelo fenômeno social enquanto tal, mas reconverte-se em larga medida ao fenômeno jurídicocriminal; deixando, por outro lado, de se limitar estreitamente à investigação das causas do fato criminoso e da pessoa do delinqüente, para passar a abranger a totalidade do sistema de aplicação da justiça penal, nomeadamente as instâncias formais (a polícia, o Ministério Público, o juiz, a administração penitenciária, os órgãos de reinserção social e, em definitivo e antes de todas, a própria lei penal) e informais (a família, a escola, as associações privadas de ajuda social) de controle de delinqüência; para passar a abranger numa palavra, o inteiro processo de produção da delinqüência. O criminólogo na atualidade é um profissional que busca intervir no fenômeno criminal. Mais do que estudar e participar da repressão do crime, o criminólogo procura métodos que possam prevenir a ocorrência do delito, sendo sua atuação de suma importância no sistema criminal de nosso país. A presente obra trata dos conceitos básicos da Criminologia moderna e foi escrita numa linguagem clara e de forma objetiva. Com ela você irá tomar contato de forma bastante acessível com a Criminologia. Rio de Janeiro, julho de Lélio Braga Calhau direitopenal@uol.com.br

6 A obra Resumo de Criminologia, de Lélio Braga Calhau, veio ocupar um espaço próprio, e importante, para aqueles que se interessam pelo estudo da Criminologia e das ciências criminais em geral. Como seu título diz, trata-se de um resumo. Como tal, interessa àqueles que querem ter um primeiro contato sistemático e abrangente com a ciência criminológica, conhecer sua especificidade diante do direito criminal e demais ciências criminais, conhecer seu objeto de estudo (delito, delinqüente, vítima e controle social), ter uma visão de sua história e de suas principais correntes teóricas (teorias do consenso e teorias do conflito) e respectivos autores. E o autor o faz com clareza, didática e conhecimento da matéria. Dialoga com seu leitor de maneira informal, como se estivesse falando com ele numa sala de aula. A obra mostra-se adequada, portanto, para quem quer ter uma leitura relativamente rápida, sucinta, porém ao mesmo tempo clara, embasada e confiável sobre a Criminologia. Uma obra que, apesar de introdutória e resumida, não deixa de abordar com propriedade as grandes questões polêmicas da Criminologia, sejam elas referentes à história e à evolução do pensamento, sejam elas referentes aos temas enfrentados pelas ciências criminais na atualidade. Nesse passo, não se furta à discussão feita no âmbito dos embates teóricos sobre como entender e enfrentar na atualidade o problema da criminalidade. O autor não deixa também, ainda que vez ou outra, de imprimir na obra seu cunho de experiência como promotor de justiça no Estado de Minas Gerais. Gostaria de expressar aqui o meu sentimento de que o autor, promotor de justiça que é, deixa um recado importante (embora não explícito): o de que os estudiosos do crime e os operadores do direito devem se preocupar em entender as verdadeiras dimensões do fenômeno crime, seus verdadeiros significados e os desdobramentos possíveis das decisões que o

7 sistema punitivo toma (ou deixa de tomar) em relação àqueles que ele seleciona para punir (ou que preventiva ou privilegiadamente descarta de sua malha de punições). Oxalá o operador de direito seja sempre muito consciente, muito lúcido sobre aquilo que está fazendo e decidindo. E, para o desenvolvimento desta consciência e lucidez, a obra de Lélio Braga Calhau vem trazer sua importante contribuição. Alvino Augusto de Sá Professor de Criminologia da Faculdade de Direito da USP

8 O mundo jurídico sente a ausência de trabalhos que além de atender às necessidades acadêmicas, sejam úteis também para a prática criminal do operador do Direito. Lélio Braga Calhau é promotor de justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, professor, pós-graduado em Direito Penal, mestre em Direito, com grande destaque por sua experiência profissional e acadêmica na área jurídica. Cultor do Direito Penal, percebe-se sua desenvoltura e o frutificar de sua vocação no que diz respeito à paixão pelas ciências criminais como objeto do Direito. Vale ressaltar que o autor é fundador e editor da Revista de D ireito Penal &ciências afins do site O estudo da Criminologia está se tornando cada vez mais necessário para o profissional da área criminal e indiretamente para a sociedade, fato refletido recentemente na inclusão dessa disciplina nos concursos públicos. Cada vez mais os estudiosos do direito têm buscado o estudo e o desenvolvimento da Criminologia nas suas áreas de trabalho. O objeto da Criminologia é buscar as causas e os motivos para o fato delituoso. Normalmente interessa ao criminólogo fazer um diagnóstico do crime e uma tipologia do criminoso, assim como uma classificação do delito cometido. Essas causas e motivos abrangem desde a avaliação do entorno prévio ao crime, os antecedentes vivenciais e emocionais do delinqüente, até a motivação pragmática para o crime. Entre as qualidades da obra, permito-me citar de pronto a primeira: a objetividade nas explicações, didática e clareza nos exemplos. A obra é propícia, portanto, para quem deseja ter uma leitura rápida, sucinta, porém ao mesmo tempo clara e segura. De acordo com o seu título, trata-se de um resumo de criminologia, interessando àqueles que desejam ter um primeiro contato com os fundamentos teóricos da criminologia, seu conceito,

9 método, objeto e funções ou àqueles que desejam revigorar tal conhecimento na memória, não deixando que se percam. O tema é atual e foi abordado de forma técnica e clara, trazendo ao leitor o complemento jurídico relevante. William Douglas Juiz Federal, Professor e Membro do Conselho Editorial

10 C apítulo 1 - P or que estudar a C riminologia?... 1 C apítulo 2 - O que é a C riminologia? O conceito de Criminologia Interdisciplinaridade e multidisciplinaridade da Criminologia As principais características da moderna Criminologia Funções da Criminologia C apítulo 3 - H istória d o P ensamento C riminológico C apítulo 4 - A ciência total d o D ireito P enal C apítulo 5 - O método crim inológico: em pirism o...29 C apítulo 6 - O objeto da moderna C rim inologia O d elito O delinqüente A vítima crim inal O controle social Quanto ao modo de exercício do controle social Com relação aos destinatários Com relação aos agentes fiscalizadores Quanto ao âmbito de atuação C apítulo 7 - A moderna C riminologia c ie n t íf ic a Biologia criminal Psicologia crim inal Sociologia crim inal...61

11 C apítulo 8 - T eorias m a crossociológicas da CRIMINALIDADE Escola de Chicago Teoria da associação diferencial Teoria da anomia Teoria da subcultura delinqüente Teoria do labellingaproach, interacionismo simbólico, etiquetamento, rotulação ou reação social Teoria crítica, radical ou nova criminologia...85 C apítulo 9 - P revenção da infração penal n o E stado D emocrático de D ireito Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciária Modelos de reação ao crime...93 C apítulo 10 - T ópicos especiais de C rim inologia Fenômeno bullying Assédio moral e stalking Justiça restaurativa Pena de morte Depoimento sem dano C apítulo 11 - C onsiderações finais A pê n d ic e Exercícios de fixação/ Q uestões de concurso O bras recomendadas para aprofundamento Referências Bibliográficas...121

12 f^or cfrue eótuaswk^rlinlitofocjia? O Direito Penal é uma disciplina normativa capaz de criar um sistema abstrato de normas que possibilitam a análise e posterior aplicação da lei ao caso concreto. Do ponto de vista social (dinâmico), o Direito Penal é um dos intrumentos de controle social formal por meio do qual o Estado, mediante determinado sistema normativo (as leis penais), castiga com sanções de particular gravidade (penas ou medidas de segurança e outras conseqüências afins) as condutas desviadas ofensivas a bens jurídicos e nocivas para a convivência humana (fatos puníveis = delitos e contravenções).1 Sendo a finalidade do Direito Penal a proteção dos bens essenciais ao convívio em sociedade, deverá o legislador fazer a sua seleção. Embora esse critério de escolha de bens fundamentais não seja completamente seguro, já que nele há forte conotação subjetiva, natural da pessoa humana encarregada de levar a efeito tal seleção, podemos afirmar que a fonte de todos esses bens se encontra na Constituição.2 Essa seleção pelo Poder Legislativo não é perfeita. Há interesses sociais que deverão ser protegidos pelo Direito Penal e outros que poderão ser protegidos pelo Direito Administrativo e/ou Direito Civil. O legislador deve sobepesar, então, a necessidade ou não de se lançar mão de uma lei penal para tentar controlar a criminalidade. Para tanto, deverá lançar mão do Direito Penal apenas nos casos mais graves, e mesmo assim, quando a criminalidade não puder ser controlada por instrumentos preventivos. 1GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal - parte geral. 2. ed., São Paulo: RT, 2004, p GRECO, Rogério. Curso de Direito Penai - parte geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2005, v. 1. p. 5.

13 Sendo o Direito Penal o instrumento de controle (social) mais drástico, mais violento (precisamente porque conta com os meios coativos mais intensos - penas e medidas de segurança ou seja, mais ameaçadores aos direitos fundamentais da pessoa), desde o Iluminismo a preocupação do penalista (leia-se: do penalista minimalista e garantista, que se opõe ao punitivista ) tem sido a de construir limites ao exercício desse poder.3 Então, como dar mais segurança ao legislador quanto à necessidade de elaborar ou não uma lei? Quando podemos comprovar a necessidade ou não da criação de uma proibição normativa penal? O Direito Penal traz em seu bojo essas proibições normativas, que são chamadas de infrações criminais, e isso ele faz com um sistema bem elaborado de princípios penais. Todavia, o Direito Penal não dá o diagnóstico do fenômeno criminal, assim como também não está em condições de sugerir programas, diretrizes ou estratégias para intervir nele. Todas essas iniciativas são próprias da Criminologia. Ex.: Projeto Fica Vivo 4 em Minas Gerais, o Proasp5 - Programa de Ações em 3 GOMES, Luiz Flávio, MOLINA, Antonio García-Pablos de e BIANCHINI, Alice. Direito Penal, volume 1. São Paulo: RT, 2007, p Um projeto piloto de prevenção à violência urbana está contribuindo significativamente para reduzir o número de homicídios em áreas violentas de Belo Horizonte (MG). Criado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto Fica Vivo é coordenado pela Secretaria Estadual de Defesa Social de Minas Gerais. Além da comunidade acadêmica e do.governo de Minas, o Fica Vivo envolve o Ministério Público, as polícias Civil e Militar e outras entidades. Iniciado em agosto de 2002, o projeto é uma alternativa importante para a prevenção à violência urbana, avalia o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime para o Brasil e o Cone Sul. O Fica Vivo foi implantado primeiramente na favela Morro das Pedras, o aglomerado urbano mais violento de Belo Horizonte, com o objetivo de reduzir o número de homicídios na região. De acordo com a metodologia desenvolvida pelo CRISP, o projeto combina dois ingredientes básicos. De um lado, pesquisa aplicada, multidisciplinaridade e análise quantitativa de dados para efeitos de planejamento e avaliação. Leia mais sobre esse programa: 50 Programa de Ações em Segurança Pública atua em diversas frentes de trabalho: no desenvolvimento de Planos Municipais de Prevenção à Violência e Ordem Pública: em z Resumo de Criminologia

14 Segurança Pública da ONG Viva Rio (RJ), "m étodo APAC ' de execução penal etc. Não existem soluções mágicas no controle da criminalidade. A prevenção do delito é um dos principais objetivos da moderna Criminologia, que busca o controle razoável da criminalidade, não a utopia do seu completo desaparecimento. A Criminologia busca pesar a eficácia do controle do crime e os custos sociais para a sociedade civil. Ex.: discussão que envolve a implantação do programa de política criminal tolerância zer& na cidade de Nova York (USA). Custo Social Eficácia Social CRIMINOLOGIA Figura 1: Criminologia/custos/eficácia projetos de Capacitação de Policiais; e na reforma da polícia através do acompanhamento do trabalho dos GPAE (Grupamentos de Polícia de Áreas Especiais). O Viva Rio assessora as Prefeituras na criação, implementação e monitoramento de Planos de Prevenção da Violência que têm por objetivo a formulação de um modelo integrado de ordem pública municipal. Os planos têm duas orientações complementares: o controle de determinados delitos, desordens ou crimes, focalizando grupos e áreas de risco através da articulação das instituições de segurança (prevenção focalizada); e a prevenção dos fatores econômicos e sociais que dão origem ao delito. No Rio de Janeiro, o Viva Rio já desenvolveu planos para as cidades de Resende, Barra Mansa, Niterói e Piraí. Leia mais em: 6 Para uma noção mais completa sobre o tolerância zero" consulte o excelente artigo teoria das janelas quebradas: e se a pedra vem de dentro? de autoria de Jacinto Nelson de Miranda Coutinho e Edward Rocha de Carvalho. Disponível no meu site: htto:// Por que estudar a Criminologia? 3

15 Então, como você já pôde perceber, uma das principais preocupações da Criminologia é com a qualidade da resposta ao fenômeno criminal. Essa resposta pode ser tanto da sociedade civil (informal) ou quanto do Estado (formal). As duas são muito importantes e possuem funções que não podem ser substituídas completamente pela outra. A qualidade da resposta ao crime não depende apenas da punição do infrator, mas passa pelo atendimento da expectativa dos infratores e das vítimas (de suas famílias), bem como da comunidade onde ocorreu o delito. A q u a lid a d e da re sp o sta ao c rim e não depende prioritariamente da coerência do sistema legislativo criminal. Esperar a resposta somente das leis penais é o que caracterizamos como leis penais simbólicas. Elas existem, causam repercussão quando são sancionadas, mas na prática seus efeitos são irrisórios (quando não prejudicam a harmonia do sistema). No Brasil, são raras as leis criminais que são precedidas de estudos criminológicos científicos. A prevenção do delito é um dos principais objetivos da moderna Criminologia O jurista que se perm ite envolver com importantes questões criminológicas a visão do crime como problema, a seletividade e a falibilidade do aparato repressor formal, o enfoque vitimológico, o controle social, a relação do fenômeno da criminalidade com a identidade social e com os aspectos econômicos, dentre outras retorna aos seus processos, aos seus códigos e às suas audiências com uma visão mais ampla. E capaz de avaliar o contexto em que está inserido e, sobretudo, os limites de suas possibilidades. Se for verdadeiramente bem-intencionado, voltará à sua lida com mais humildade. Se a reconstrução jurídica dos fatos (aquela que transforma a subtração do projeto pertencente a José por João na infração do artigo 155 do CP) requer alguma teorização, a visão criminológica 4 Resumo de Criminologia

16 serve de lastro ao operador do Direito, que, dessa forma, não poderá afastar-se em demasia da realidade. A criminologia, por seu conteúdo instigante, mas também por seu método necessariamente interdisciplinar, guarda a vocação de ser fator de mudança até mesmo pessoal. Por seu conteúdo, traz sempre novas interrogações: verdadeiras molas propulsoras. Por seu método, rechaça a auto-suficiência e mostra o caminho da tolerância e da boa convivência. Experimente: a Criminologia pode mudar a sua vida.7 Nesse contexto, e segundo Luiz Flávio Gomes e Garcia-Plabos de Molina,8 as principais funções da moderna Criminologia são: Explicar e prevenir o crime. \ Intervir na pessoa do infrator. 1 ^ * Avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime. J Vê-se que a prevenção do delito é um dos objetivos principais da Criminologia, mas estamos falando em uma prevenção que seja mais efetiva, com custos sociais adequados para a população e que, sempre que possível, se antecipe ao início do fenômeno criminal. Ensina Davi Tangerino que as ações intencionais de prevenção da criminalidade urbana encontram-se agrupadas em duas grandes categorias: as estatais e as patrocinadas pela sociedade civil. Quanto às estatais, merece atenção outra divisão possível das mencionadas ações: as políticas de segurança pública e as políticas públicas de segurança. As primeiras correspondem àquelas ações vinculadas ao poder punitivo estatal ou ainda ao controle social formal: polícia, leis penais, política penitenciária, etc. As últimas correspondem àquelas ações que, embora públicas, não estão ligadas ao sistema da justiça 7OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt de Oliveira. Como a Criminologia pode mudar a sua vida. São Paulo, Boletim do IBCCRIM, 132, novembro de MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, p. 39. Por que estudar a Criminologia? s

17 criminal: educação, habitação, transporte público, intervenção urbanística, etc.9 A Criminologia, com a utilização de seu método científico, é justamente a ciência apropriada para diagnosticar e buscar uma aproximação realista dos índices de criminalidade de um bairro, cidade ou até de um país, oferecendo ao Poder Público informação válida e confiável para abalizar a opção de Política Criminal adequada para cada situação. 9 TANGERINO, Davi de Paiva Costa. Alternativas ao sistema punitivo: possibilidade de prevenção da criminalidade urbana violenta por meio do controle social informal. Revista de Estudos Criminais do ITEC/PUC-RS, n2 27, Porto Alegre, outubro-dezembro de 2007, p Resumo de Criminologia

18 2.1. O conceito de Criminologia O crime foi sempre um motivo de atenção do meio social. As sociedades sempre buscaram meios de atribuir marcas identificatórias aos criminosos, usando, conforme os regimes e épocas, diversas mutilações, desde a extração dos dentes até a amputação sistemática de órgãos: nariz, orelha, mãos, língua etc. No Antigo Regime, na França, a marca feita com ferro em brasa constituía o traço infamante d crime, como é ilustrado em Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, pelo personagem da Senhora de Winter. Entre os puritanos da Nova Inglaterra, o A de adultério era costurado na roupa das mulheres, como é testemunhado pelo célebre romance de Nathaniel Hawthorne ( ), A letra escarlate,10 Segundo o Dicionário Aurélio, a palavra conceito tem origem no latim {conceptus). Entre outros significados, a palavra conceito significa a ação de formular uma idéia por meio de palavras; definição e caracterização.11 Nesse sentido, conceituar criminologia não é uma tarefa fácil. Etimologicamente, Criminologia deriva do latim crimen (crime, delito) e do grego logo (tratado). Foi o antropólogo francês, Paul Topinard ( ), o primeiro a utilizar este termo no ano de Todavia, o termo só passou a ser aceito internacionalmente com a publicação da obra Criminologia, já no ano de 1885, de Raffaele Garofalo ( ). 10ROUDINESCO, Elizabeth; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, p. 514.

19 Para Antonio García-Pablos de Molina, a Criminologia é a ciência empírica e interdisciplinar que tem por objeto o crime, o delinqüente, a vítima e o controle social do comportamento delitivo; e que aporta uma informação válida, contrastada e confiável, sobre a gênese, dinâmica e variáveis do crime - contemplado este como fenômeno individual e como problema social, comunitário assim como sua prevenção eficaz, as formas e estratégias de reação ao mesmo e as técnicas de intervenção positiva no infrator.12 O domínio do saber criminológico possibilita um conhecimento efetivo mais próximo da realidade que o cerca, concedendo acesso a dados e estudos que demonstram o funcionamento correto ou não da aplicação da lei penal. Com a utilização correta da Criminologia, por exemplo, o promotor de justiça criminal passa a gozar de uma amadurecida relação entre a teoria e a prática. Esse saber criminológico (científico) contrapõe-se ao saber popular, ainda muito arraigado na mente de agentes que atuam no controle do crime, em especial, um grande número de agentes policiais. O estudo científico do delito também inclui a sua medida e extensão, isto é, quantos delitos são cometidos em certo período de tempo em dada unidade espacial, podendo ser um país, uma região ou bairro. Naturalmente, a medida pode se referir também a tipos concretos de delitos. Também se ocupa de estudar as tendências dos delitos ao longo do tempo, por exemplo, se aumenta ou diminui; da comparação entre diferentes países, comunidades ou outras entidades; ou de estudar se o delito se concentra em certos lugares, momentos ou grupo de pessoas.13 Nesse sentido, toda cautela deve ser adotada quando os agentes públicos analisam a variação da criminalidade em uma cidade em um período muito curto, forçando inferências de queda de criminalidade, que não se sustentam sem uma análise mais prudente por parte da Criminologia. 12 MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia. Tirant Io Blanch, p MAÍLLO, Alfonso Serrano, introdução à Criminologia. Tradução de Luiz Régis Prado. São Paulo: RT, 2007, p Resumo de Criminologia

20 O saber comum ou popular está ligado estreitamente a experiências práticas, generalizadas a partir de algum caso; nesse sentido, poder-se-ia atribuir-lhe uma metodologia empíricoindutiva, que, como logo veremos, predomina nas ciências sociais. Não obstante, o saber comum se produz pela convivência social, na qual se instalam tabus, superstições, mitos e preconceitos, isto é, verdades estabelecidas que condicionam fortemente a vida social pela pura convicção cultural do grupo.14 E nesse sentido que Winfried Hassemer e Francisco Munoz Conde ensinam que para evitar a cegueira diante da realidade que muitas vezes tem a regulação jurídica, o saber normativo, ou seja, o jurídico, deve ir sempre acompanhado, apoiado e ilustrado pelo saber empírico, isto é, pelo conhecimento da realidade que brindam a Sociologia, a Economia, a Psicologia, a Antropologia, ou qualquer outra ciência de caráter não-jurídico que se ocupe de estudar a realidade do comportamento humano na sociedade.15 Nesse contexto, não devemos nos esquecer do papel cada vez mais destinado à vítima16 criminal, assunto muito estudado pela Vitimologia e pela Criminologia, mas ainda abordado de forma tímida e precária na seara jurídico-penal.17 Para a maior parte da doutrina, a Criminologia é ciência autônoma e não apenas uma disciplina. 14 ELBERT, Carlos Alberto. Manual básico de Criminologia. Tradução de Ney Fayet Jr. Porto Alegre: Ricardo Lenz, p HASSEMER, Winfried; CONDE, Francisco Munoz. Introducción a Ia Criminologia. Madri: Tirant, p Para uma compreensão melhor do tema, sugerimos a leitura de nossa obra: CALHAU, Lélio Braga. Vítima e Direito Penal. 2. ed. Belo Horizonte: Mandamentos, '7 A reforma do Código de Processo Penal brasileiro de 2008 inseriu um capítulo específico sobre a vítima criminal, traçando uma série de direitos que a mesma passa a possuir, como, por exemplo: o ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem. O que é a Criminologia? 9

21 2.2. Interdisciplinaridade e multidisciplinaridade da Criminologia Figura 2: A Criminologia como instância superior em um modelo não-piramidal (não há preferência por nenhum saber criminológico parcial). A Criminologia é uma ciência plural.1* Buscando o conhecimento científico, a Criminologia recebe a influência e a contribuição de diversas outras ciências (Psicologia, Sociologia, Biologia, Medicina Legal, Criminalística, Direito, Política etc.) com seus métodos respectivos. Aceita-se também, com muita generalidade, que o método mais comum a ser aplicado em Criminologia é o interdisciplinar. Em princípio, essa denominação não parece oferecer problemas interpretativos: tratar-se-ia do fato de que várias disciplinas confluiriam a investigar um ponto, aportando cada uma seus próprios métodos. A noção de interdisciplinaridade está amplamente difundida, não só em Criminologia, como também em temas de família, educação, menores etc.19 Todavia, deve ficar claro que a Criminologia procura utilizar a visão interdisciplinar e não a multidisciplinar na análise do fenômeno criminal. 18 Há entendimento diverso minoritário que a Criminologia não teria autonomia cientifica, e que seria apenas uma disciplina. Nesse sentido: Carlos Albert Elbert. 19ELBERT, op. cit, p Resumo de Criminologia

22 A Criminologia busca mais que a multidisciplinaridade. Esta ocorre quando os saberes parciais trabalham lado a lado em distintas visões sobre um determinado problema. Já a interdisciplinaridade existe quando os saberes parciais se integram e cooperam entre si. Lembre-se1A visão interdisciplinar é m ais profunda que a abordagem multidisciplinar. O princípio interdisciplinar está significativamente associado ao processo histórico de consolidação da Criminologia como ciência autônoma.20 A interdisciplinaridade surge como uma necessidade prática de articulação dos conhecimentos, mas constitui um dos efeitos ideológicos mais importantes sobre o atual desenvolvimento das ciências, justamente por apresentar-se como o fundamento de uma articulação teórica. Fundada num princípio positivista do conhecimento, as práticas interdisciplinares desconhecem a existência dos objetos teóricos das ciências; a produção conceituai dissolve-se na formalização das interações e relações entre objetos empíricos. Dessa forma, os fenômenos não são captados a partir do objeto teórico de uma disciplina científica, mas surgem da integração das partes constitutivas de um todo visível.21 Não é suficiente diferentes profissionais estarem lado a lado, num mesmo ambiente científico, respeitando-se mutuamente em suas especificidades, em suas diferenças, mas cada um preso hermeticamente à sua cultura profissional, sem oportunizarem 20 MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. 4. ed. São Paulo: RT, p. 46, *' LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. Tradução de Sandra Valenzuela. São Paulo: Cortez, p. 36. O que é a Criminologia?

23 diálogo entre elas, para trocas e complementações que possam resultar em ampliação de suas perspectivas diante da realidade e em ações mais efetivas e abrangentes diante da sociedade, em otimização da qualidade social e política de seu desempenho.22 Ou seja, não basta aos juizes de direito, promotores de justiça, policiais, psicólogos e assistentes sociais trabalharem no mesmo prédio no estudo do fenômeno criminal. E preciso manter um diálogo aberto (um verdadeiro diálogo) com os outros profissionais, procurando interagir com as outras áreas materialmente, não somente no sentido formal, da boca para fora, sem estar internamente comprometido com isso. Esse é um dos principais obstáculos para o avanço do controle da criminalidade, porquanto muitos dos profissionais que lidam com o controle do crime mantêm-se resistentes a aceitar essa interdisciplinaridade, trazendo de suas instituições barreiras pessoais e corporativas para a melhoria da integração dos saberes e do Sistema da Justiça Criminal em nosso país. Leciona Saio de Carvalho que a condição mínima para que se possam realizar investigações interdisciplinares é dotar os sujeitos interlocutores de condições similares de fala, ou seja, abdicar da idéia de estar um saber a serviço de outro. Significa, sobretudo, respeito às diferenças inerentes aos saberes.23 Essa advertência é importante para muitos de nós, profissionais do Direito, que temos o péssimo costume de iniciarmos nossas afirmações com a expressão o certo é etc. e tal, ato que fecha as possibilidades da realização de um diálogo franco e sincero com as outras áreas do conhecimento. Adverte, ainda, Saio que o modelo oficial para as ciências criminais vislumbra os demais saberes como servis, permitindo apenas que forneçam subsídios para a disciplina mestra do Direito Penal. A arrogância do Direito Penal, aliada à subserviência 22 MUNHOZ, Divanir Eulália Naréssi. Da multi à interdisciplinaridade: a sabedoria do percurso. Revista de Estudos Criminais, n. 18, abril/junho de 2005, Porto Alegre, Notadez, p CARVALHO, Saio de. Antimanuai de Criminologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p Resumo de Criminologia

24 das áreas de conhecimento que são submetidas e se submetem a este modelo, obtém como resultado o reforço do dogmatismo, o isolamento científico e o natural distanciamento dos reais problemas da vida.24 Interdisciplinaridade não é um simples monólogo de especialistas, implica graus sucessivos de cooperação e coordenação crescentes, interações: reciprocidade de intercâmbios. O trabalho interdisciplinar leva ao enriquecimento de cada disciplina/ profissão/área de saber - pela incorporação de resultados de uma especialidade por outras, da partilha de métodos e técnicas à ampliação da consciência crítica. Contribui significativamente para o fim do imperialismo disciplinar, da departamentalização da ciência, dos distritos do saber.25 Como instância superior, não cabe à Criminologia se identificar com nenhum dos saberes parciais criminológicos (biológicos, psicológicos, sociológicos, estatísticos etc.), porquanto todos têm a mesma importância científica. Adota-se um modelo não piramidal (onde quem ocupa a parte superior é mais importante que aquele que está na parte inferior). Lembrete: O criminólogo deve manter constante vigilância e humildade para compreender que existem outras variantes, teses, fatores que possam se aproximar mais da realidade. A função de instância superior, no estudo do fenômeno criminal, busca a integração dos saberes parciais, procurando sempre (que ocorrerem) a correção de pequenas inconsistências entre os dados criminais. Essa postura do criminólogo diante do papel de instância superior da Criminologia é uma exigência estrutural do saber 24 CARVALHO, Saio de, op, cit, p Idem. O que é a Criminologia? 13

25 científico, decorrente da natureza totalizadora desse e não admite monopólios dos setores que compõem o seu tronco principal As principais características da moderna Criminologia As principais características da moderna Criminologia, segundo Molina e Gomes são-.27 ^ Parte da caracterização do crime como problema - face humana e dolorosa do crime; S Amplia o âmbito tradicional da Criminologia (adiciona a vítima e o controle social ao seu objeto); S Acentua a orientação prevencionista do saber criminológico, diante da obsessão repressiva explícita de outros modelos con vencionais; S Substitui o conceito tratamento (conotação clínica e individualista) por intervenção (noção mais dinâmica, complexa e pluridimensional, mais próxima da realidade criminal); S Destaca a análise e avaliação dos modelos de reação ao delito como um dos objetos da Criminologia; S Não renuncia, porém, a uma análise etiológica do delito (desviação primária) no marco do ordenamento jurídico como referência última. 26 Leciona Rogério Greco que a pesquisa do criminólogo, esquecendo momentaneamente o ato criminoso praticado, mergulha no seio da família, no seu meio social, nas oportunidades sociais que lhe foram concedidas, no seu caráter; enfim, mais do que saber se a conduta praticada pelo agente era típica, ilícita e culpável, busca-se investigar todo o seu passado, que forma um elo indissociável com o seu comportamento tido como criminoso. Retrocede-se, enfim, em busca de possíveis causas do crime. Percebe-se, portanto, que o conceito criminológico de comportamento delitivo é mais amplo do que aquele adotado pelo Direito Penal. GRECO, Rogério. Direito Penai do Equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal. Rio de Janeiro: Impetus, 2005, p MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, p Resumo de Criminologia

26 Além das situações acima apontadas por Molina e Gomes, podemos também incluir a substituição da expressão combate ao crime por controle da criminalidade. A expressão combate ao crime dá idéia de exclusão - eu contra você, nós contra eles - e traz no seu bojo a idéia de que nós somos o bem e os outros o mal. O controle da criminalidade é uma expressão neutra, sem preconceitos e mais bem adequada ao pensamento criminológico moderno Funções da Criminologia A função prioritária da Criminologia, como ciência interdisciplinar e empírica, é aportar um núcleo de conhecimentos mais seguros e contrastados com o crime, a pessoa do delinqüente, a vítima e o controle social.28 A investigação criminológica, enquanto atividade científica, reduz ao máximo a intuição e o subjetivismo, ao submeter o fenômeno criminal a uma análise rigorosa, com técnicas adequadas e empíricas. Sua metodologia interdisciplinar permite coordenar os conhecimentos obtidos setorialmente nos distintos campos de saber pelos respectivos especialistas, eliminando contradições e completando as inevitáveis lacunas. Oferece, pois, um diagnóstico qualificado e de conjunto do fato criminal mais confiável MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant Io Blanch, 1999, p Op. cit. O que é a Criminologia?

27 ^ JJ lâto n a G ^ ^ e n ó a m e n to ( ^ r i m i n - o í o Q l c o 9 { O presente trabalho não nos permite a explanação integral da História da Criminologia. Isso demandaria uma quantidade maior de espaço e tempo de sua parte. Todavia, algumas idéias devem ser pinceladas aqui para que você não ingresse no estudo do objeto da moderna Criminologia sem saber o que ocorreu na ciência nos últimos 200 anos. Uma das classificações históricas da Criminologia divide o seu desenvolvimento em duas fases: período pré-científico e período científico. O período pré-científico abrange desde a Antiguidade, onde encontramos alguns textos esparsos de alguns autores que já demonstravam preocupação com o crime, terminando com o surgimento do trabalho de Beccaria ou de Lombroso. Por que coloquei um ou outro? Porque você verá que existe uma divergência na doutrina sobre o nascimento da Criminologia como ciência. A maioria da doutrina aponta o surgimento da fase científica com o trabalho de Cesare Lombroso, mas há autores que creditam o nascimento da Criminologia a Cesare Beccaria também. Para você, o importante nesse momento é saber que há essa divergência sobre o nascimento da Criminologia, mas que tanto Beccaria como Lombroso trouxeram grandes contribuições ao estudo do fenômeno criminal. A nosso ver, a Criminologia passou a existir com o surgimento da Escola Clássica. Anteriormente já foram publicados alguns textos em que se questionava o problema da criminalidade, mas sem a atenção científica e sistemática que a matéria demanda. 17

28 Durante a Idade Média, destaca-se a influência e o poder político da Igreja, questão que determina todo o pensamento em torno da delinqüência por meio da filosofia escolástica e da teologia, que modelaram diretamente o campo do Direito Penal (então podia falar-se de confusão ou identificação entre o pecado e o delito, e de pecador e delinqüente).30 Pela sua índole e pelo seu impacto histórico, sobressai naturalmente a obra de Beccaria, D ei D elitti e D elle Pene (1764), que já foi crismada (por Radzinowicz) como o m anifesto da abordagem liberal ao direito criminal. Em síntese, Beccaria procurou fundamentar a legitimidade do direito de punir, bem como definir critérios da sua utilidade, a partir do postulado do contrato social. Serão ilegítimas todas as penas que não relevem da salvaguarda do contrato social (se., da tutela de interesses de terceiros), e inúteis todas as que não sejam adequadas a obviar as suas violações futuras, em particular as que se revelem ineficazes do ponto de vista da prevenção geral. É desta tese central que decorrem as reivindicações de direito substantivo e processual que Beccaria se fez eco e que, no seu conjunto, persistem ainda como arquétipo do moderno ordenamento jurídico-penal.31 O positivismo criminológico surge no fim do século XIX com a Scuola Positiva que foi encabeçada por Lombroso,32 Garofalo e Ferri. Surge como crítica e alternativa à denominada Criminologia clássica, dando lugar a uma polêmica doutrinária conhecidíssima, que é, em última análise, uma polêmica sobre métodos e paradigmas do científico (o método abstrato e dedutivo dos clássicos, baseado no silogismo, diante do método empíricoindutivo dos positivistas, baseado na observação dos fatos, dos dados). A Scuola Positiva italiana, no entanto, apresenta duas 30 PAZ, Miguel Angel Nuriez; PEREZ, Francisco Alonso. Nociones de Criminologia. Madrid: Colex, p DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia - O homem delinqüente e a sociedade criminógena, 2a reimpressão. Coimbra: Coimbra, p Sobre a vida de Cesare Lombroso, ver nosso artigo: CALHAU, Lélio Braga. Cesare Lombroso: Criminologia e a Escola Positiva de Direito Penal. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal, Porto Alegre; janeiro de 2004, p Resumo de Criminologia

29 direções opostas: a antropológica de Lombroso e a sociológica de Ferri, que acentuam a relevância etiológica do fator individual e do fator social em suas respectivas explicações do delito.33 O ponto de partida da teoria de Lombroso proveio de pesquisas craniométricas de criminosos, abrangendo fatores anatômicos, fisiológicos e mentais.34 A base da teoria, primeiramente, foi o atavismo: o retrocesso atávico ao homem primitivo. Depois, a parada do desenvolvimento psíquico: comportamento do delinqüente semelhante ao da criança. Por fim, a agressividade explosiva do epilético. Lombroso mudava o fundamento de sua teoria segundo as investigações que realizava. De Enrico Ferri (Itália, ) ficou a luta progressista, sobalegenda: Menos justiça penal, mais justiça social. Sua obra recebeu a impregnação coletivista e assistencialista do século XIX.35 A contribuição principal de Lombroso para a Criminologia não reside tanto em sua famosa tipologia (onde destaca a categoria do delinqüente nato ) ou em sua teoria criminológica, senão no método que utilizou em suas investigações: o m étodo empírico. Sua teoria do delinqüente nato foi formulada com base em resultados de mais de 400 autópsias de delinqüentes e seis mil análises de delinqüentes vivos; e o atavismo que, conforme o seu ponto de vista caracteriza o tipo criminoso - ao que parece contou com o estudo minucioso de 25 mil reclusos de prisões européias.36 A idéia de atavismo aparece estreitamente unida à figura do delinqüente nato. Segundo Lombroso, criminosos e não-criminosos se distinguem 33 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, 1997, p ALBERGARIA, Jason. Noções de Criminologia. Belo Horizonte: Mandamentos, p LYRA, Roberto. Direito Penal Científico (Criminologia). Rio de Janeiro: José Konfino, p MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia, 4. ed. São Paulo: RT, p Breve estudo histórico criminológico: do passado ao presente na Criminologia 19

30 entre si em virtude de uma rica gama de anomalias e estigmas de origem atávica ou degenerativa.37 Lombroso apontava as seguintes características corporais do homem delinqüente: protuberância occipital, órbitas grandes, testa fugidia, arcos superciliares excessivos, zígomas salientes, prognatismo inferior, nariz torcido, lábios grossos, arcada dentária defeituosa, braços excessivamente longos, mãos grandes, anomalias dos órgãos sexuais, orelhas grandes e separadas, polidactia. As características anímicas, segundo o autor, são: insensibilidade à dor, tendência à tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta de senso moral, preguiça excessiva, caráter impulsivo.38 No Brasil, seguindo com ardor as idéias de Lombroso, tivemos o trabalho do médico e sociólogo Raimundo Nina Rodrigues ( ), o qual chegou a ser conhecido como Lombroso dos trópicos.39 Na Argentina, o grande seguidor de Lombroso foi sem dúvida o médico José Ingenieros.40 O grande equívoco dos positivistas foi acreditar na possibilidade de se descobrir uma causa biológica para o fenômeno criminal. Os estudos e as investigações nesse sentido ocuparam o centro das preocupações positivistas, cujos resultados foram um verdadeiro fracasso. Primeiro, porque não se pode falar em causaúnica da delinqüência e, em segundo lugar, porque a Escola Positiva se preocupou apenas com os aspectos biológicos do fenômeno criminal, quando se sabe que os fatores exógenos são preponderantes. Ferri procurou corrigir essa postura unilateral, ao escrever sua Sociologia Criminal, onde acentua a importância dos fatores socioeconômicos e culturais da delinqüência. Além disso, inútil também se revelou a proposta positivista de transformar o Direito Penal numa disciplina médico-científica MOLINA, Antonio-García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant, p ALBERGARIA, op. cit., p Para conhecer melhor a vida e o trabalho de Nina Rodrigues, consulte: polbr.med.br/arquivo/wal0803.htm. 40 Sobre a vida de José Ingenieros, ver nosso artigo: Criminologia Positiva e a obra de José Ingenieros. Belo Horizonte. Jornal do Sindicato dos Promotores e Procuradores de Justiça do Estado de Minas Gerais, maio de LEAL, João José. Direito Penal Geral. São Paulo: Atlas, p Resumo de Criminologia

31 Não deixaram de aparecer e crescer vozes apostadas em contestar a validade e em explorar os limites das teses positivistas. Vozes provenientes não apenas do lado da sociologia criminal, que paralelamente se desenvolvia - casos de Tarde, Lacassagne e outros - mas também do campo da própria antropologia: casos de Baer, Der Verbrecher in antropologischer Bez/ehung (1893), e, sobretudo Goring, cuja obra The English Convict (1913) é em geral considerada como que assinalando o termo da teoria lombrosiana.42 A Escola Francesa de Lyon atacou fortemente as idéias de Lombroso. Entre os mais notáveis membros dessa escola temos Lacassagne. A tese fundamental da Escola de Lyon é a seguinte: o criminoso é como o micróbio ou o vírus, algo inócuo, até que o adequado ambiente o faz eclodir. O meio social desempenha papel relevante e se junta com a predisposição criminal individual latente em certas pessoas. Em outras palavras: a predisposição pessoal e o meio social fazem o criminoso.43 Enquanto a escola positiva percorria a trajetória descrita, consolidava-se, entrando em choque com aquela, a sociologia criminal. Pode-se considerar o 32 Congresso Internacional de Antropologia Criminal (Bruxelas, 1892) como que assinalando o início do desequilíbrio em favor das teorias sociológicas, a ponto de, na viragem do século - em que se situaram as obras de Lacassagne, Tarde e Durkheim ser nítido o seu predomínio.44 Usando o crime como exemplo, Durkheim afirma que esse fenômeno é um traço generalizado das sociedades e, por se prender às condições gerais da vida coletiva, mostra-se normal. Nesse caso, tratar o crime como uma doença social, como um fenômeno mórbido, seria tornar a doença um traço característico do organismo. Seria, como afirma Durkheim, perder qualquer possibilidade de distinção entre o normal e o patológico. Devemos 42 DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia - O homem delinqüente e a sociedade criminógena. 2a reimpressão. Coimbra: Coimbra, p GOMES, Luiz Flávio, MOLINA, Antonío García-Pablos de e BIANCHINI, Alice. Direito Penal, volume 1. São Paulo: RT, 2007, p DIAS, op. cit., p. 20. Breve estudo histórico criminológico: do passado ao presente na Criminologia 21

32 lembrar, por outro lado, que o fato de o crime ser normal não quer dizer que seja um fenômeno livre de limites, que o excesso não implique prejuízos para a coletividade. O normal, no sentido durkheimiano, é a existência do crime e a normalidade deve se submeter à condição de que, para cada tipo social determinado, não ultrapasse um certo nível.45 De importância destacável é Tarde, que realiza severa crítica da obra de Lombroso. Concede muita importância aos condicionamentos sociais e à imitação, que costuma ser interpretada como uma teoria antecipada da aprendizagem. Essa aprendizagem se transmitiria por gerações. A imitação também pode ter efeitos positivos como o bom exemplo dos cidadãos.46 O fim do século XIX assistiu ainda ao aparecimento da criminologia socialista em sentido amplo, entendida como explicação do crime a partir da natureza da sociedade capitalista e como crença no desaparecimento ou redução sistemática do crime depois de instaurado o socialismo. Surgiram nessa época, com efeito, numerosas obras, mais ou menos influenciadas pelos ensinamentos de Marx e Engels, encarando o crime segundo essa perspectiva.47 O século XX iniciou-se sob o signo do ecletismo, em que assistiu-se à exploração dos caminhos abertos no século anterior, sob a influência moderadora da União Internacional de Direito Penal, fundada em 1889 por Hamel, Liszt e Prins. No que especificamente se prende com as teorias orientadas para o delinqüente, consumou-se o abandono do antropologismo lombrosiano, progressivamente substituído pelas teorias explicativas de índole psicológica, psicanalítica, psiquiátrica e pela atenção dedicada às leis da hereditariedade, à combinação de cromossomos etc MAGALHÃES, Carlos Augusto Teixeira. Crime, sociologia e políticas públicas. Belo Horizonte: Newton Paiva, 2004, pp MAÍLLO, Alfonso Serrano. Introdução à Criminologia. Tradução de Luiz Régis Prado. São Paulo: RT, 2007, p DIAS, op. cit., p DIAS, op. cit., p Resumo de Criminologia

33 Este panorama viria, contudo, a ser profundamente alterado por dois eventos significativos. Referimo-nos, em primeiro lugar, ao aparecimento da sociologia criminal americana, que se confundiria praticamente com a criminologia ocidental. Há, em segundo lugar, que se ter presente a criação da criminologia socialista em sentido estrito, isto é, o estudo das causas do crime nos países socialistas à luz dos princípios do marxismo-leninismo. A medida que os estados socialistas se constituíram, foi-se desenvolvendo neles uma sociologia acadêmica (Gouldner) que influenciou os rumos da criminologia praticada nos referidos países.49 Nos Estados Unidos, antes da Primeira Guerra Mundial, a Criminologia orientava-se pelo modelo europeu. Depois, seguiu orientação de caráter prático e sociológico. Gillin fundou a primeira clínica psiquiátrica, mas seu trabalho não suplantou a orientação sociológica de Burgess, Shaw e Mckay. A teoria sociológica americana deve muito a Sutherland e Sellin.50 Essas teorias sociológicas, por serem nucleares ao nosso estudo, serão adequadamente abordadas no capítulo oito desta obra. 49 DIAS, op. cil., p , 50 ALBELGARIA, Jason. Noções de Criminologia. Belo Horizonte: Mandamentos, p. 35. Breve estudo histórico criminológico: do passado ao presente na Criminologia

34 J c iê n c ia f^ e n a ( 5í Você também já deve ter lido em algum lugar sobre a expressão ciência conjunta (ou total) do Direito Penal. Trata-se de uma forma diferente de se refletir sobre o fenômeno criminal. Ele passa a ser abordado pelos ângulos da Criminologia, Direito Penal e pela Política Criminal. O modelo rompe com aquela visão formal e abstrata do intérprete da norma penal que fica postado em uma torre de marfim, alijado da realidade social. Todavia, embora o assunto tenha sido reacendido recentemente por Jorge de Figueiredo Dias, ele já possui mais de 100 anos. Vejamos então como surgiu essa idéia. Foi Franz Von Liszt ( ), o maior político criminal alemão, que chamou primeiramente a atenção para esse conhecim ento totaldas ciências penais, visto que deu à ciência do Direito Penal uma complexa e nova estrutura. Passa ela a ser uma disciplina completa, resultante da fusão da dogmática, criminologia, política criminal: agesamte Strafrechtswissenschaft (ciência total do Direito Penal).52 Liszt procurou levar a bom termo a antinomia por ele descrita, dividindo a ciência penal em dois reinos: os pressupostos da punibilidade deveriam determinar-se segundo os postulados de um Estado Liberal de Direito, assim como havia proposto a Escola Clássica. Porém, uma vez caracterizada a punibilidade pelo m étodo jurídico, a sanção deveria medir-se, exclusivamente, pelas necessidades sociais. Liszt identificou essas duas tendências com 51 O ponto "Relação entre Direito Penal, Criminologia e Política Criminal é o tema principal deste capítulo e foi cobrado no 27a CONCURSO PARA PROMOTOR DE JUSTIÇA ADJUNTO PROVA ORAL - PERÍODO: 07 a 10/SET/ MPDFT. 52 PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal brasileiro - Parte Geral. São Paulo: RT, p 51.

35 os conceitos de Direito Penal e Política Criminal, que considerava como opostos entre si. Daí a sua antológica e expressiva frase, considerando o Direito Penal como: a barreira intransponível da Política CriminalP Liszt, como professor de Direito Penal, foi o primeiro a transpor os métodos e o conceito de ciência do positivismo para o Direito Penal. Ao definir o âmbito de toda ciência do Direito Penal, nele incluiu, como já foi visto, a Criminologia e a penologia (um termo por ele cunhado). A Criminologia para ele tem a função de explicar as causas do delito, enquanto a penologia deve estudar as causas e os efeitos da pena. O Direito Penal como teoria absoluta, da retribuição ou vingança, para Liszt, era apenas de importância secundária.54 Ao proferir sua aula inaugural na Faculdade de Direito da Universidade de Marburg em 1882, sem dúvida conhecedor dos trabalhos e das pesquisas de Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garofalo, Liszt, lançando sua doutrina da nova prevenção especial, obteve com esta, como construção racional abstrata, grande repercussão internacional, ao mesmo tempo, remodelando profundamente o sistema de sanções do Direito Penal alemão.55 Rejeitou a tese do criminoso nato de Cesare Lombroso, afirmando estarem as mais profundas raízes criminais nas relações sociais. O tema, que parece ter ficado esquecido pela literatura penal brasileira por um bom tempo, é lembrado por vários penalistas do Direito Penal Comparado. Figueiredo Dias, em obra recente lançada no Brasil, chama a atenção para a chamada Ciência Conjunta do Direito Penal, finalizando sua conclusão com o entendimento que cremos saber hoje, por um lado, que é à política criminal que pertence a competência para definir, tanto nos planos do direito constituído, como do direito a constituir, os limites da punibilidade; como, por outro lado, que a dogmática jurídicopenal não pode evoluir sem atenção ao trabalho prévio" de uma 53 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal - Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, p ASHTON, Peter Walter. /\s principais teorias de Direito Penal, seus proponentes e seu desenvolvimento na Alemanha, Revista dos Tribunais: São Paulo, RT 742, p ASHTON, op. cit., p Resumo de Criminologia

36 índole criminológica. Mas também, este não pode evoluir sem uma mediação político-criminal que lance luz sobre as finalidades e os efeitos que se apontam à (e se esperam da) aplicação do Direito Penal. Política criminal, dogmática jurídico-penal e Criminologia são assim, do ponto de vista científico, três âmbitos autônomos, ligados, porém, em vista do integral processo da realização do Direito Penal, em uma unidade teleológica-funcional. E a esta unidade que continua hoje justificadamente a convir o antigo conceito de V Liszt, de ciência conjunta do Direito Penal?6 Reforçando esse entendimento, Claus Roxin registra que um Direito Penal moderno não é imaginável sem uma constante e estreita colaboração de todas as disciplinas parciais da ciência global do Direito Penal. Sem embargo, certamente o Direito Penal material é num certo modo a ciência base de todo esse campo jurídico, pois a punibilidade de uma conduta, que deve determinar-se segundo suas regras, é - e ele vale em substância também para o campo de objeto da Criminologia, concebido pela maioria dos autores de modo algo mais amplo - o pressuposto para que as demais ciências a serviço da justiça penal possam sequer se ocupar do caso.57 Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes esclarecem que é hoje a opinião dominante, a de que a Criminologia, a Política Criminal e o Direito Penal são os três pilares do sistema das ciências criminais, inseparáveis e interdependentes. A criminologia deve incumbir-se, assim, de fornecer o substrato empírico do sistema, seu fundamento científico; a política criminal, de transformar a experiência criminológica em opções e estratégias concretas de controle da criminalidade; por último, o direito penal deve encarregar-se de converter em proposições jurídicas, gerais e obrigatórias, o saber criminológico esgrimido pela política criminal, com estrito respeito às garantias individuais e aos princípios jurídicos de segurança e igualdade típicos do Estado de Direito DIAS, Figueiredo, op. cit., p ROXIN, Claus. Derecho Penal -P ane General. Madrid: Civitas, p MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, p A ciência total do Direito Penal 27

37 Embora a Política Criminal59 não seja reconhecida como uma ciência autônoma pela maioria da doutrina (e sim como disciplina), ela também é de suma importância para o profissional que atua no sistema penal. E a Política Criminal que, em contato com a realidade criminal demonstrada pela Criminologia, seleciona quais são os programas, projetos e normas penais (e aí o Direito Penal poderá ser acionado) que ela irá escolher para a concretização da resposta penal (informal e formal) que o Estado adotará em face do fenômeno criminal. 59 Ensina Cláudio Guimarães que, a partir da análise econômica dos delitos e das penas, ficam formulados de maneira inter-relacionada os dois grandes marcos do Direito Penal oficial, a saber: a natureza e determinantes do comportamento criminal, assim como os indicativos de política criminal que devem ser elaborados, levando-se em conta, principalmente, a destinação de recursos que deve fazer a sociedade, por meio de seu sisterpa de justiça criminal, para previnir, ou pelo menos diminuir, a prática de condutas delitivas e assim evitar os custos de maneira mais eficiente, GUIMARÃES, Cláudio Alberto Gabriel. Funções da pena privativa de liberdade no sistema penal capitalista. 2a ed. Rio de Janeiro: REVAN, 2007, p Resumo de Criminologia

38 0 m étodo c n ic o : e m p ín á m o O método de trabalho utilizado pela Criminologia é o empírico. Busca-se a análise, e através da observação conhecer o processo, utilizando-se da indução para depois estabelecer as suas regras: o oposto do método dedutivo utilizado no Direito Penal. Foi graças à Escola Positiva que surgiu a fase científica da Criminologia e generalizou-se a utilização do método empírico na análise do fenômeno criminal. A Criminologia é uma ciência do ser, empírica; o Direito, uma ciência cultural, do dever ser, normativa. Em conseqüência, enquanto a primeira se utiliza de um método indutivo, empírico, baseado na análise e na observação da realidade, as disciplinas jurídicas utilizam um método lógico, abstrato e dedutivo.60 Segundo o Novo Dicionário Aurélio, a palavra empirism o significa doutrina ou atitude que admite, quanto à origem do conhecimento, que este provenha unicamente da experiência, seja negando a existência de princípios puramente racionais, seja negando que tais princípios, existentes embora, possam, independentemente da experiência, levar ao conhecimento da verdade MOLINA, Antonio García-Pablos de; Gomes, Luiz Flávio, op. cit., p Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004, p

39 Figura 3: Empirismo: análise - observação - indução Empirismo não é achismo. O método empírico é árduo e pouco íntimo dos profissionais do meio jurídico (juizes, promotores de justiça, delegados e advogados) e lamentavelmente muitas pessoas se apresentam como criminólogos, emitindo opiniões totalmente sem fundamentos científicos e com base em entrevistas pessoais, sem nenhuma observação rigorosa do método científico e emitindo juízos de valor {acho isso, acho aquilo etc.). Existe muito disso no ambiente criminológico que investiga a segurança pública, onde o amadorismo do Estado ainda perde em qualidade e quantidade diante das formas modernas de criminalidade (crime organizado, ataques de hackers pela Internet, delinqüência transnacional, crimes contra o sistema financeiro etc.). Nesse sentido, apesar da proximidade do Direito Penal em relação à Criminologia, a realidade de interpretação e a metodologia de ambas as matérias é por demais antagônica. Talvez, por isso, não haja um bom trânsito entre o Direito Penal e a Criminologia no Brasil, lembrando-se que a Criminologia nos Estados Unidos possui muita força nas faculdades de sociologia, e que no Brasil é pouco estudada nos cursos de graduação nas faculdades de Direito. E são raros os professores de Direito Penal que transitam facilmente nas duas ciências com a desenvoltura de Zaffaroni, García-Pablos de Molina, Francisco Munoz Conde, Antonio Beristain, Carlos Canedo, Miguel Angel Nunez Paz, Luiz Flávio Gomes, Paulo Queiroz, Alice Bianchini, Juarez Cirino dos Santos, Luciana Boiteux, Ana Lucia Sabadell e Sérgio Salomão 30 Resumo de Criminologia

40 Shecaira. Resumindo: nem sempre o bom penalista será um bom criminólogo e vice-versa. São realidades próximas, íntimas, mas com métodos distintos. García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes lembram que o jurista parte de premissas corretas para deduzir delas as oportunas conseqüências. O criminólogo, ao contrário, analisa alguns dados e induz às correspondentes conclusões, porém, suas hipóteses se verificam - e se reforçam - sempre por força dos fatos que prevalecem sobre os argumentos subjetivos de autoridade.02 Como você já pode observar, o método de investigação criminológico é diverso do método utilizado pelo Direito Penal. Enquanto o Direito Penal trabalha com o método dedutivo, onde há uma regra geral, e dela se parte para o caso concreto, a Criminologia utiliza o método empírico, de observação da realidade para, após análises, retirar dessas experiências as suas conseqüências. Um cuidado que você deve ter durante seus estudos é não confundir m étodo experimental com m étodo empírico. O m étodo experim ental [processo científico que consiste em construir uma hipótese com apoio na observação de fatos, pondo-os à prova por meio de um artefato experimental construído para esse fim) é um método empírico, de observação, mas nem todo método empírico é experimental. O importante é que a observação seja realizada de forma segura e que haja confiabilidade nos resultados. 1 Método experim entalm étodo empírico Sustentar, pois, que só é científico o demonstrável de forma experimental dentro de um laboratório carece de fundamento. Trata-se de um pressuposto simplificador no qual incorrem, por exemplo, determinados setores criminológicos de natureza 62 MOLINA, Antonio García-Pablos de; Gomes, Luiz Flávio, op. cit., p. 44. O método criminológico: empirismo

41 biologicista ( v.g., psicologia radical da conduta), que terminam por negar todo cientificismo à psicanálise, apesar de sua tradição empírica.63 Tal postura se faz necessária porquanto o crime é um fenômeno cultural e humano, demandando do criminólogo uma postura aberta e flexível. Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes nos informa sobre as principais técnicas de investigação criminológica empíricas utilizadas na atualidade: reconhecimentos médicos, exploração, entrevista, questionário, observação, discussão em grupo, experimento (experimentação), testes psicológicos, métodos de medição, métodos sociométricos, métodos longitudinais, estudos de seguimento (follow-up), estudos paralelos e investigações com grupo de controle MOLINA, Gomes, op. c/f., p MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p Resumo de Criminologia

42 0 objeto dia m s w t m a (^rim lnolc 9 ia Depois de estudarmos o conceito, as funções, as características e o desenvolvimento histórico da Criminologia, passamos a analisar agora o seu objeto de estudo. Na atualidade, o objeto da Criminologia está dividido em quatro pilares: delito, delinqüente, vítima e controle social. (^Objeto da Criminologia D elito^ (^D elinqüente^)(^vítim a} (^ControlesodãT^> Figura 4: Objeto da Criminologia Você já observou que do surgimento da Criminologia até a fase atual houve uma substancial transformação no seu objeto de estudo. Na época de Beccaria, a investigação era com relação apenas ao crime. Com o surgimento da Escola Positiva, e de Lombroso e seus seguidores, o objeto de estudo da Criminologia passou a ser o delinqüente. Até aí, verificamos uma substituição do objeto de estudo da Criminologia. Durante muito tempo foram apenas o delito e o delinqüente os objetos de estudo da Criminologia. Da metade do século XX até a atualidade, passamos a ter não mais uma substituição, mas também uma ampliação do objeto de estudo, porquanto são mantidos os interesses com o crime e o delinqüente, e são adicionados mais dois pontos: a vítima e o controle social. 33

43 Foi por volta da década de 1950 que começaram a surgir estudos criminológicos específicos sobre a vítima criminal. Isso cresceu muito e talvez seja a área da Criminologia hoje que esteja em maior efervescência. E no Brasil não seria diferente. Afinal, hoje quase todos nós ou familiares já fomos vítimas de algum crime. Mais ou menos nessa época também começaram a eclodir os estudos sobre o controle social, sendo que iremos tratar detalhadamente dessas quatro áreas de interesse a seguir. A problematizaçãoào objeto da Criminologia - e do próprio saber criminológico - reflete uma profunda mudança ou uma crise do modelo de ciência (paradigma) e dos postulados até então vigentes sobre o fenômeno criminal. A Criminologia tradicional tinha por base um sólido e pacífico consenso: o conceito legal de delito, não questionado; as teorias etiológicas da criminalidade, que tomavam daquele seu autêntico suporte ontológico ; o princípio da diversidade (patológica) do homem delinqüente (e da disfuncionalidade do comportamento criminal); e os fins conferidos à pena, como resposta justa e útil ao delito. Estes constituíam seus quatro pilares mais destacados.65 Todos os paradigmas da Criminologia tradicional vêm sendo questionados pela moderna Criminologia e serão explicados a seguir O delito O delito é um dos objetos mais antigos de preocupação da humanidade. Já presente nos primórdios da narrativa bíblica com o homicídio praticado por Caim em face de Abel, ou nos escritos da Grécia Antiga, passando por diversos autores da Idade Média, não há dúvida de que o assunto crime angustia e movimenta a sociedade. Isso é claramente demonstrado hoje pelos jornais populares, tanto da televisão como da mídia impressa, que acumulam seus lucros narrando a ocorrência de crimes violentos e bizarros. O crim e é um fenômeno humano e cultural. Ele só existe em nosso meio. Na natureza não há a figura do crime. Os animais 65 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p Resumo de Criminologia

44 são regidos por leis próprias e são irracionais. Embora alguns sejam mais inteligentes que outros, eles não possuem o poder de reflexão que o homem possui. E impossível a um animal ter a compreensão necessária para um julgamento racional - se tal ato é um crime ou não. Então, os animais estão excluídos da autoria de crime. O Direito Penal trabalha com três conceitos de delito: material, formal e analítico. O conceito m aterial está vinculado ao ato que possui danosidade social, ou que provoque lesão a um bem jurídico. O conceito form al está ligado ao fato de existir uma lei penal que descreva determinado ato como infração criminal. Já o conceito analítico expõe os elementos estruturais e aspectos essenciais do conceito de crime. Perguntando a um penalista sobre o conceito analítico de delito, ele irá responder (pelo menos a grande maioria ) que o crime é um ato típico, ilícito e culpável. Outros responderão que o crime é um fato típico e ilícito. E agora também, retornando ao conceito de que o crime é um fato típico, ilícito, culpável e punível, haverá respostas apontando esses quatro elementos essenciais. Esses conceitos são fundamentais para que a hermenêutica possa ser utilizada. Assim, é possível ao intérprete da norma aplicar a norma abstrata ao caso concreto com a segurança que tais situações exigem. Na verdade, os conceitos formal e material não traduzem com precisão o que seja crime. Se há uma lei penal editada pelo Estado, proibindo determinada conduta, e o agente a viola, se ausente qualquer causa de exclusão da ilicitude ou dirimente da culpabilidade, haverá crime. Já o conceito material sobreleva a importância do princípio da intervenção mínima quando aduz que somente haverá crime quando a conduta do agente atenta contra os bens mais importantes. Contudo, mesmo sendo importante e necessário o bem para a manutenção e subsistência da sociedade, se não houver uma lei penal protegendo-o, por mais relevante que seja, não haverá crime se o agente vier a atacá-lo, em face do princípio da legalidade GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral, 5. ed. Rio de Janeiro: Impetus, p O objeto da moderna Criminologia 35

45 Mas esses conceitos são rasos. Eles não traduzem a profundidade do fenômeno criminal. Isso fica visível na diferença que existe na aplicação da lei penal pela Justiça Criminal togada e pelo Tribunal do Júri. O crime é muitas vezes visto de forma distanciada, sem emoção, comparando-se com jurisprudências e mais jurisprudências; no Tribunal do Júri é tudo insólito, a emoção nos julgamentos está presente, os jurados em seu íntimo se colocam no banco dos réus e se perguntam se teriam feito a mesma coisa. Antes de acusação e defesa discursarem sobre legítima defesa e inexigibilidade de conduta diversa, o jurado já fez, pelo menos por algumas vezes, a operação mental de ter se colocado no lugar do réu, com as condições pessoais do mesmo e na hora dos fatos. Antes da descrição abstrata do crime (utilizada pelo Direito Penal), o jurado quer perscrutar os fatores que levaram à ocorrência daquele homicídio. O Tribunal do Júri é pura Criminologia1. O Tribunal do Júri épura Criminologial Ali estão bem visíveis: delito, delinqüente, vítima e o controle social. A Criminologia moderna não mais se assenta no dogma de que convivemos em uma sociedade consensual. Pelo contrário, vivemos em uma sociedade conflitiva. Não basta afirmar que crime é o conceito legal. Isso não explica tudo e não ajuda em quase nada na percepção da origem do crime. O crime é muito complexo, ele pode ter origens das mais diversas como o excessivo desnível social de uma localidade, defeitos hormonais no corpo de uma pessoa, problemas de ordem psíquica como traumas, fobias e transtornos de toda ordem emocional etc. A Criminologia moderna busca se antecipar aos fatos que precedem o conceito jurídico-penal de delito. O Direito Penal só age após a execução (ex.: tentativa) ou na consumação do crime. A Criminologia quer mais! Ela quer entender a dinâmica do crime 36 Resumo de Criminologia

46 e intervir nesse processo com o intuito de dissuadir o agente de praticar o crime, o que pode ocorrer das mais variadas formas. Mas para que isso seja feito, a Criminologia teve que desenvolver outros conceitos para o delito. Conceitos estes mais próximos e íntimos da realidade que o fenômeno criminal apresenta. Diversos conceitos foram surgindo no desenvolvimento da Criminologia. Já foram tratados aqui os três conceitos utilizados pelo Direito Penal, os quais são obrigatórios pontos de partida da Criminologia, mas não esgotam o problema. Molina leciona que Garofalo chegou a criar a figura do delito natural, ou seja, para ele, delito seria: uma lesão daquela parte do sentido moral, que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais (piedade e probidade) segundo o padrão médio em que se encontram as raças humanas superiores, cuja medida é necessária para a adaptação do indivíduo à sociedade, outros autores, no entanto, realçam a nocividade social da conduta ou a periculosidade do seu autor.67 A sociologia criminal já utiliza outro parâmetro, bastante em voga na atualidade: o de conduta desviada ou desvio. Esse critério utiliza como paradigma as expectativas da sociedade. As condutas desviadas são aquelas que infringem o padrão de comportamento esperado pela população num determinado momento. É um conceito que não se confunde com o de crime, mas que o abrange. Anthony Giddens ensina que podemos definir o desvio como o que não está em conformidade com determinado conjunto de normas aceitas por um número significativo de pessoas de uma comunidade ou sociedade. Como já foi enfatizado, nenhuma sociedade pode ser dividida de um modo linear entre os que se desviam das normas e aqueles que estão em conformidade com elas. A maior parte das pessoas transgride, em certas ocasiões, regras de comportamento geralmente aceitas. Quase toda a gente, por exemplo, já cometeu em determinada altura atos menores de furto, como levar alguma coisa de uma loja sem pagar ou apropriar-se de pequenos objetos do emprego - como papel de correspondência 67 MOLINA, Gomes, 2002, p. 66. O objeto da moderna Criminologia 37

47 - e dar-lhes uso privado. A dada altura de nossas vidas, podemos ter excedido o limite de velocidade, feito chamadas telefônicas de brincadeira (trote), ou fumado marijuana (maconha).68 Crime Desvio Figura 5: Crime e desvio Desvio e crime não são sinônimos, embora muitas vezes se sobreponham. O âmbito do conceito de desvio é mais vasto do que o conceito de crime, que se refere apenas à conduta inconformista que viola uma lei. Muitas formas de comportam ento desviante não são sancionadas pela lei. Sendo assim, os estudos sobre desvio podem examinar fenômenos tão diversos como os naturalistas (nudistas), a cultura rave ou os viajantes new age.69 O conceito de desvio pode aplicar-se tanto ao comportamento do indivíduo, como às atividades dos grupos.70 O conceito de desvio tem íntima relação com a política de controle da criminalidade conhecida como tolerância zero. O controle da criminalidade naquele modelo começa na repressão de condutas desviadas. Retornaremos mais à frente ao desvio, quando tratarmos das teorias sociológicas da criminalidade. 68 GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Tradução de Alexandra Figueiredo, Ana Patrícia Duarte Baltazar, Catarina Lorga da Silva, Patrícia Matos e Vasco Gil. Coordenação e revisão científica de José Manuel Sobral, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p GIDDENS, op. c/f., p GIDDENS, op. c/f., p Resumo de Criminologia

48 6.2. O delinqüente O delito foi o objeto principal de estudo da Escola Clássica criminal. Foi com o surgimento da Escola Positiva que houve um giro de estudo, abandonando-se a centralização na figura do crime e passando o núcleo das pesquisas para a pessoa do delinqüente. A Escola Positiva surgiu no contexto de um acelerado desenvolvimento das ciências sociais (Antropologia, Psiquiatria, Psicologia, Sociologia, Estatística etc.). Esse fato determinou de forma significativa uma nova orientação nos estudos criminológicos. Ao abstrato individualismo da Escola Clássica, a Escola Positiva opôs a necessidade de defender mais enfaticamente o corpo social contra a ação do delinqüente, priorizando os interesses sociais em relação aos indivíduos.71 Na atualidade, os modelos biológicos de explicação da criminalidade perderam quase que totalmente a sua força. Todavia, não foram totalmente eliminados, dentro de suas limitações também podem contribuir para a compreensão do fenômeno criminal. Na moderna Criminologia, o estudo do homem deliqüente passou a um segundo plano, como conseqüência do giro sociológico experimentado por ela e da necessária superação dos enfoques individualistas em atenção aos objetivos político-criminais. O centro de interesse das investigações - ainda que não tenha abandonado a pessoa do infrator - deslocou-se prioritariamente para a conduta delitiva, para a vítima e para o controle social. Em todo caso, o delinqüente é examinado, em suas interdependências sociais, como unidade biopsicossocial e não de uma perspectiva biopsicopatológica como sucedera com tantas obras clássicas orientadas pelo espírito individualista e correcionalista da Criminologia tradicional.72 No entanto, também não há dúvida de que a Psicologia Criminal, com toda sua técnica de investigação, possa contribuir 71 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penai, Parte Geral. São Paulo: p MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p. 74. O objeto da moderna Criminologia 39

49 sensivelmente para a Criminologia com seus estudos, individuais ou coletivos, do delinqüente. A Psicologia Criminal destina-se a estudar a personalidade do criminoso. A personalidade refere-se, usualmente, aos processos estáveis e relativamente coesos de comportamento, pensamento, reação e experiência, que são característicos de uma determinada pessoa. Por interm édio dessas características poderemos compreeender e até prever grande parte do comportamento do indivíduo.73 O estudo da personalidade das pessoas em conflito com a lei (e aqui podemos incluir as crianças e adolescentes) pode contribuir efetivamente para se entender o fenômeno criminal. Uma das maiores contribuições criminológicas que a Psicologia pode dar nesse sentido é ajudar na criação de programas que auxiliem a redução da reincidência criminal, campo que ainda não foi explorado totalmente A vítima criminal É inquestionável o valor que o estudo da vítima possui hoje para a Ciência total do D ireito Penal A vítima passou por três fases principais na história da civilização ocidental. No início, fase conhecida como idade de ouro, a vítima era muito valorizada, valorava-se muito a pacificação dos conflitos e a vítima era muito respeitada. Depois, com a responsabilização do Estado pelo conflito social, houve a chamada neutralização da vítima. O Estado, assumindo o monopólio da aplicação da pretensão punitiva, diminuiu a importância da vítima no conflito. Ela sempre era tratada como uma testemunha de segundo escalão, pois, aparentemente, ela possuía interesse direto na condenação dos acusados. E, por último, da década de 1950 para cá, adentramos na fase do redescobrimento da vítima, onde a sua importância é retomada sob um ângulo mais humano por parte do Estado. Os estudos criminológicos da vítima foram se multiplicando na segunda parte do século XX, sendo fundada uma nova disci 73 DOURADO, Luiz Angelo. Ensaio de psicologia criminal: o teste da árvore e a criminalidade. Rio de Janeiro: Zahar, p Resumo de Criminologia

50 plina (ou ciência para alguns): a Vitimologia. E, para infortúnio dos acusadores que o criminólogo não passaria de um rei sem reino, começamos a observar o surgimento e a expansão em progressão geométrica nos últimos 20 anos dos centros profissionais de apoio às vítimas criminais, dentre outras iniciativas. Localizados em diversas capitais e cidades de porte médio do Brasil, esses centros ou núcleos de atendimento às vítimas criminais foram se diversificando, já existindo programas de atendimento específicos para as vítimas de crimes sexuais, violência doméstica, defesa das crianças e adolescentes etc. Algumas vezes esses núcleos recebem verbas públicas para se manterem, ou, em alguns casos, trabalham mantidos por organizações nãogovernamentais, às vezes com o auxílio de voluntários, alguns deles que já foram vítimas de crimes. Esses centros que estão também funcionando em outros países como EUA, Portugal, Nova Zelândia e Espanha, entre outros, trabalham em muitos casos com advogados, psicólogos e assistentes sociais, auxiliando a vítima principalmente na atenuação do processo conhecido como vitimização secundária. Ao contrário do aspecto racional, que seria o fim do sofrimento ou a abrandamento da situação em face da ação do sistema repressivo estatal, a vítima criminal muitas vezes sofre danos psíquicos, físicos, sociais e econômicos adicionais, em conseqüência da reação formal e informal derivada do fato. Não são poucos os autores a afirmar que essa reação traz mais danos efetivos à vítima do que o prejuízo derivado do crime praticado anteriormente ( vitimização primária). Já a sobrevitimização do processo penal ou vitimização secundária é o sofrimento adicional que a dinâmica da Justiça Criminal (Poder Judiciário, Ministério Público, Polícias e sistema penitenciário), com suas mazelas, provoca normalmente nas vítimas. No processo penal ordinário e na fase de investigação policial, a vítima é tratada com descaso, e muitas vezes com desconfiança pelas agências de controle estatal da criminalidade. A própria sociedade também não se preocupa em ampará-la, chegando, muitas vezes, a incentivá-la a manter-se no anonimato, contribuindo para a formação da malsinada cifra O objeto da moderna Criminologia 41

51 negra, o grupo formado pela quantidade considerável de crimes que não chegam ao conhecimento do sistema penal. Fala-se até em vitímização terciária,74 Essa cifra negra é uma das responsáveis pela questionável falta de legitimidade do sistema penal vigente no Brasil, pois uma quantidade ínfima de crimes chega ao conhecimento do Poder Público, e desta, uma grande parte não recebe resposta adequada por parte do Estado. > Os processos de vitimização (primária, secundária e terciária) sãopontos centrais v y no estudo da Vítimologia. A vitímização secundária está ligada diretamente ao fenômeno que conhecemos na Criminologia como cifras negras, ou seja, o conjunto de crimes que não chegam ao conhecimento do Estado pelos mais variados motivos. As cifras negras75 são mais elevadas nas infrações criminais menores e tendem a ser reduzidas nos crimes violentos e de maior gravidade. Um dos instrumentos 74 A vitímização terciária vem da falta de amparo dos órgãos públicos (além das instâncias de controle) e da ausência de receptividade social em relação à vítima. Especialmente diante de certos delitos considerados estigmatizadores, que deixam seqüelas graves, a vítima experimenta um abandono não só por parte do Estado, mas, muitas vezes, também por parte do seu próprio grupo social. Esta terceira etapa da vitímização, que se distingue da vitimização secundária, merece um estudo específico, pois só a partir de seu dimensionamento e compreensão poderão surgir alternativas. OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt de. A vítima e o Direito Penal. São Paulo: RT, p A pesquisa científica e a investigação policial cada vez mais dependem uma da outra, embora baseadas em éticas, propósitos e estratégias diferentes. O entendimento da dinâmica dos crimes precisa de dados oficiais, mas sobretudo que o pesquisador se mantenha distante das disputas político-ideológicas. Pode ajudar governos, mas nunca servir a eles. A falta de investigação policial no caso dos homicídios atrapalha o conhecimento científico que se possa ter dessa tenebrosa experiência vivenciada no país desde finais dos anos 70. Isso porque dados confiáveis que possam ser repetidos em séries históricas são imprescindíveis para comparar cidades, Estados, regiões. No registro de homicídios, ainda estamos longe de conseguir a uniformidade e a precisão desejáveis, apesar dos grandes avanços feitos no registro do sistema SIM/Datasus/Ministério da Saúde e, com menos uniformidade, do Senasp/ Ministério da Justiça. ZALUAR, Alba. Impunidade e investigação. Folha de São Paulo , p. A2. 42 Resumo de Criminologia

52 mais importantes para se buscar uma aproximação dessas cifras é a pesquisa de vitimização. Esse tipo de pesquisa contém informações sobre os acontecimentos criminais sofridos pelos indivíduos, a quantidade e o tipo de perda incorrida e as características dos criminosos. Além disso, engloba informações sobre as características socioeconômicas, os hábitos e as características de residência e vizinhança dos indivíduos.76 A seguir apresento o relatório-síntese de uma pesquisa que foi realizada com muito brilhantismo pelo CRISP da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG na cidade de Belo Horizonte (MG) no ano de Quadro 1: Resumo do relatório da pesquisa de vitimização realizada em domicílios pelo CRISP em 2002 na cidade de Belo Horizonte (MG). VhiRuzaçSo em Belo Horiaonle (CRISP-UFMG) no início de 2002 em cerca de donucâios i capstaí, ela revela, do ponto de vista do ddadso comum, ; sobre as ocorrêndas, os agressores, a forma de ação dos, os tipos de cránese o momento em que ocorrem, ipercepção do problema da segurança pública, da ação das e outras informações de extrema importância para t tjw i^ w w o n tft A * n A m (V «fg riw x D - alguns dados obtidos: j j j BEJjO HORIZONTE: j j ROUBO: j 9,2% da população foi vítima de roubo no último ano mais de uma vez) 73% não acionou a policia 76 BEATO FILHO, PEIXOTO, Betânia Totino e ANDRADE, Mônica Viegas. Crime, oportunidade e vitimização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, volume 19, número 55, p. 76. O objeto da moderna Criminologia 43

53 2. FURTO: a) 14,4% da população foi vítima de furto nos últimos 12 meses (3,8% mais de uma vez) b) 70,8% não acionou a polícia 3. AGRESSÕES SEXUAIS: a) 0,4% foi vítima de agressões sexuais no último ano (metade delas mais de uma vez) b) 86% não acionou a polícia 4. CORRUPÇÃO POLICIAL: a) 2% da população já foi extorquido pela PM, 2,5 % foi extorquido pela PC. 54% da população acha que a PM desempenha bem o seu papel. 51% da população acha que a PC desempenha bem o seu papel. COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES FURTO: Austrália (2000) - 6,5% da população foi vítima / 62% não acionou a polícia Polônia (2000) - 5,3% da população foi vítima / 74% não acionou a polícia EUA (2000) - 4,9% da população foi vítima / 69% não acionou a polícia ROUBO: Espanha (1989) - 3,1% da população foi vítima / 71% não acionou a polícia 44 Resumo de Criminologia

54 AGRESSÕES SEXUAIS: Austrália (2000) - 4% da população foi vítima / 92% não acionou a polícia Espanha (1989) - 2,3% àa população foi vítima / 95% não acionou a polícia EUA (1989) - 4,5% da população foi vítima / 82% não acionou a polícia Itália (1992) - 1,7% da população foi vítima / 95% não acionou a polícia CORRUPÇÃO POLICIAL: (sem distinção entre diferentes polícias) Itália (1992) - 50% acredita na polícia Polônia (2000) - 46% acredita na polícia / 2,4% da população já foi extorquida Portugal (2000) - 45% acredita na polícia / 0,7% da população já foi extorquida MAIS DADOS DE BELO HORIZONTE FURTO: 14,4% da população foi vítima de furto nos últimos 12 meses (3,8% mais de uma vez) 88,4 % da população foi vítima de furto nos últimos cinco anos A mediana do prejuízo foi de R$ 150,00 70,8% não acionou a polícia Razões para não chamar a polícia: 47,4% não chamou porque achava que a polícia não poderia fazer nada 31,3% achou que o incidente não era importante o suficiente para chamar a polícia 7,2% não queria a polícia envolvida O objeto da moderna Criminologia 45

55 Atendimento da polícia: Quem acionou a polícia esperou menos de 30 minutos para ser atendido Em 90,4% dos casos ninguém foi preso 95% não pensou em nenhuma forma de vingança a respeito do assunto Locais e circunstâncias do crime: 46% dos furtos ocorrem em casa e em ruas e locais do bairro 70% dos casos acontecem em dias de semana pela manhã ou tarde 53% das vítimas tiveram prejuízos até de R$ 100,00 ROUBO: 9,2% da população foi vítima de roubo no último ano (2,6% mais de uma vez) 7,1% foi vítima de tentativa de roubo 22,7% da população já foi vítima de roubo alguma vez na vida (8,7% mais de uma vez) Em geral os roubos acontecem em dias de semana à tarde (31,4%) ou à noite (13%) 73% não acionou a polícia Razões para não chamar a polícia: 52% não chamou porque achava que a polícia não poderia fazer nada 32% achou que o incidente não era importante o suficiente para chamar a polícia Atendimento da polícia: 66,7% de quem acionou a polícia esperou até 30 minutos para ser atendido Em 80% dos casos ninguém foi preso Resumo de Criminologia

56 Locais e circunstâncias do crime: 55% dos roubos ocorrem em ruas e locais fora do bairro 61% dos casos de roubos ocorrem de 2a à 6a feira pela manhã e à tarde Em mais de 55% dos casos a vítima estava sozinha Verificaram-se até dois agressores em 70% dos casos Armas de fogo estavam presentes em 26,1% dos casos Em 41,1% os agentes utilizaram as próprias mãos para ameaçar as vítimas Conseqüências: Em 85,5% dos casos a vítima não foi ferida Nos casos em que foi ferida pela última vez, 88% não quis buscar atendimento 9,3% foi atendido pela rede pública As perdas diretas do roubo foram em torno de R$ 81,50 por vítima As que foram feridas gastaram em torno de R$ 100,00 cada vez O número usual de assaltantes é de dois. INVASÃO DE RESIDÊNCIAS: 5,6% da população teve sua residência invadida nos últimos 12 meses (2,1 % mais de uma vez) Nos últimos 12 meses tentaram invadir a residência de 6% dos entrevistados 42% das vítimas que tiveram residências invadidas ganham de 2 a 7 SM 54% das vítimas presenciam criminosos circulando na sua vizinhança 44% das vítimas têm pouca convivência com seus vizinhos Das vítimas de invasão, 18% moram sozinhas O objeto da moderna Criminologia 47

57 AGRESSÕES SEXUAIS: 0,4% foi vítima de agressões sexuais nos últimos 12 meses (metade delas mais de uma vez) 0,8% sofreu tentativas de agressões sexuais Em 78,6% dos casos, as vítimas não sofreram ferimentos 86% não acionou a polícia Razões para não chamar a polícia: 38% não chamou, porque achava que a polícia não poderia fazer nada 25% não queria a polícia envolvida Atendimento da polícia: 75% que acionou a polícia esperou até 30 minutos para ser atendido Em 66% dos casos ninguém foi preso AGRESSÕES SEXUAIS: Locais e circunstâncias do crime 28% das agressões ocorrem em casa 23% das agressões sexuais acontecem em ruas ou praças do bairro 67% dos casos de roubos ocorrem de 2 a 6a feira à noite ou madrugada Em 90% dos casos, os agressores eram do sexo masculino Verificou-se apenas um agressor em 81% dos casos SEQÜESTROS: 0,2% foi vítima de seqüestro durante sua vida 0,5% foi vítima de alguma tentativa de seqüestro durante sua vida 3% já teve algum parente seqüestrado 3,2% já teve algum amigo seqüestrado 1,5% já teve vizinhos seqüestrados 48 Resumo de Criminologia

58 AGRESSÕES FÍSICAS: 4,3% foi vítima de agressão física no último ano (2% mais de uma vez) Tentaram agredir fisicamente 4,3% dos entrevistados nos últimos 12 meses Razões para não chamar a polícia: 28% não chamou porque achava que a polícia não poderia fazer nada 42% achou que o incidente não era importante Atendimento da polícia: 68% que acionou a polícia esperou até 30 minutos para ser atendido Em 88% dos casos ninguém foi preso Locais e circunstâncias do crime: 24% das agressões ocorrem em casa 31% das agressões sexuais acontecem em ruas ou praças do bairro 55% dos casos de roubos ocorrem de 2* a 6 feira pela manhã ou tarde Em 85% dos casos, os agressores eram do sexo masculino Verificou-se, em 61% dos casos, apenas um agressor TENTATIVAS DE HOMICÍDIO: I,5% já foi vítima de alguma tentativa de homicídio durante sua vida HOMICÍDIOS: II,2% da população já teve algum parente assassinado 1 16,8% já teve algum amigo assassinado 15,1% já teve algum vizinho assassinado O presente relatório está publicado na Internet no site. O objeto da moderna Criminologia

59 Não há dúvida que a Criminologia influenciou fortemente o ressurgimento da vítima no seio da discussão do fenômeno criminal. No Brasil, a Lei Federal 9.099/95 reflete essa restauração da importância nuclear da vítima na pacificação dos conflitos. No sistema da justiça criminal comum, por diversos motivos, o Direito Penal não só afastou a vítima do conflito, como criou um abismo quase insuperável de diálogo entre as partes envolvidas. A Lei Federal 9.099/95 quer, entre vários objetivos, romper essa falta de diálogo e resgatar a importância da vítima. O advento da Lei Federal /06 - Lei Maria da Penha - reflete a preocupação da sociedade com as vítimas da violência doméstica. Para essa lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. E uma lei que foi sancionada com profundo sentimento vitimológico. Essa forma de vitimização possui altos índices de impunidade (cifras negras) e merece uma atenção melhor do Poder Público. Há muita resistência no Direito Penal em se aceitar uma participação mais ativa da vítima na dogmática penal. Todavia, a defesa da vítima, dentro do conceito de intervenção mínima, deve ser também valorada pelo intérprete. O Direito Penal não pode se desconectar da realidade criminal a ponto de não proteger a vítima tal qual ela merece. Há de se respeitar também a vítima criminal, pois a cidadania77 é um dos fundamentos de nossa República, e 77 Sobre isso, ver nosso artigo: CALHAU, Lélio Braga. Vítima, Justiça Criminal e Cidadania. Revista Brasileira de Ciências Criminais 31. São Paulo: RT, outubro de 2000, p SO Resumo de Criminologia

60 a proteção da mesma se coaduna também com um dos objetivos do Estado Democrático de Direito. Para David Garland, nas últimas três décadas, houve o notável retorno da vítima para o centro da política criminal. No enquadramento penal-previdenciário, vítimas individuais não possuíam figuração além da autoria das manifestações que provocavam a ação estatal. Seus interesses eram absorvidos pelo interesse público e certamente não eram contrapostos aos interesses do ofensor. Tudo agora mudou. Os interesses e os sentimentos das vítimas - vítimas verdadeiras, famílias das vítimas, vítimas potenciais, a figura projetada da vítima - agora são rotineiramente invocados em apoio às medidas de segregação punitiva.78 Aqui reside o perigo, que pode ser explorado indevidamente por alguns políticos no sentido de realizar um discurso radical pró-vítima, sem levar em conta a figura do outro (réu), o que, a meu ver, é danoso para a sociedade. Temos de tomar cuidado para evitar o uso maniqueísta da vítima para não incorrermos em injustiças. Em 2008, o Governo Federal do Brasil, sensibilizado com a questão das vítimas criminais, deu início ao projeto de realização de uma grande pesquisa de vitimização no país, a qual transcorrerá no período de alguns anos GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Tradução de André Nascimento. Rio de Janeiro: Revan/ICC, 2008, p De acordo com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, ligada ao Ministério da Justiça, apenas cerca de 20% dos crimes ocorridos são de fato registrados. Os demais entram no rol do fenômeno conhecido como sub-registro. Os crimes de furtos e os sexuais são os que possuem as mais baixas taxas de registro, estima o governo. Apenas 8% dos casos de estupro, por exemplo, estariam registrados nas delegacias de polícia. O índice de registros cresce em casos de crimes violentos e naqueles em que as vítimas necessitam do boletim de ocorrência, como roubos de carros, para acionar a seguradora e a busca policial. Serão 160 questões, que abrangem agressões, ofensas sexuais, crimes raciais e até casos de corrupção. Os homicídios não entram, o governo entende que tais estatísticas são eficientes. Entre os objetivos está o de identificar quais são os entraves, medos e burocracias que afastam a população das delegacias. Outra meta: com os resultados em mãos, propor políticas focadas nos resultados da pesquisa. Governo quer saber quais crimes não são registrados. Folha de São Paulo. Cotidiano, O objeto da moderna Criminologia 5

61 6.4. O controle social Desde tenra idade sofremos influência da socialização. Somos educados por nossos pais a agir de uma forma ou de outra. A mídia, o meio escolar e outros grupos colaboram com essa aprendizagem das regras sociais. De forma lenta e gradual vamos aprendendo as regras que a comunidade espera que sigamos. Paulatinamente, em grande número de situações, essas normas vão sendo internalizadas. O controle que um grupo social exerce sobre seus membros, para que não se desviem das normas aceitas, é muitas vezes imperceptível, e nós mesmos exercemos um certo controle sobre os nossos atos, aflorando um sentimento de culpa quando nos desviamos do que é considerado correto. Esse controle é absolutamente fundamental para o funcionamento das sociedades: sem ele não haveria nenhum tipo de ordem social e não saberíamos como proceder nas mais diversas situações, criando assim uma desordem nas relações entre indivíduos e grupos sociais.80 A socialização nunca é perfeita: para muitos, a lealdade jamais é sentida, e para outros os padrões não são seguidos espontaneamente. Isso ocorre na sociedade, na universidade e em grupos de toda parte. Se a socialização funcionasse perfeitamente, haveria pouquíssima individualidade, inexistiriam criminosos, revolucionários, membros insatisfeitos ou que se desviaram, e ninguém ficaria desgostoso da estrutura social. Para estimular os membros relutantes, as organizações sociais desenvolvem sanções sociais (também denominados controles sociais).m O controle social constitui um tema central da sociologia. O termo aparece em estudos sociológicos do final do século XIX. Esses estudos examinaram os meios que aplica a sociedade para pressionar o indivíduo a adotar um comportamento conforme os valores sociais, e, dessa forma, garantir uma convivência pacífica. A sociologia do século XX dedicou-se ao exame dos elementos e 80 DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, p CHARON, Joel M. Sociologia. 5. ed. Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Saraiva, p Resumo de Criminologia

62 das finalidades do controle social.82 A definição de controle social não é fácil. E uma expressão, tal qual a de crime organizado, que pode levar a um número elevado de conceituações. O controle social é exercido das mais variadas formas, podendo ser discreto, tênue, difuso, como o olhar de reprovação de um professor ao aluno que demonstra não ter realizado uma tarefa de pesquisa prévia quando havia uma instrução anterior, e pode chegar a ponto de levar uma pessoa a ser presa pela prática de um delito, com a utilização da pena, instrumento mais poderoso e duro utilizado pelo Estado ao exercer o controle social formal. O objetivo principal é transformar o padrão de comportamento de um indivíduo adaptando-o aos padrões de comportamento sociais dominantes. A sociedade recorre ao controle social, um conjunto de sanções negativas e positivas, especificadas no processo de socialização, para ter certeza de que os indivíduos e as instituições irão adaptar sua conduta a padrões ou modelos normativos, criando um denominador comum necessário à sua própria coesão e funcionamento. Dessa forma, o controle social começa na infância e, ao longo de toda a nossa existência, se internaliza e insere na nossa consciência valores e normas. Primeiramente por meio de instituições formadas por laços de parentesco e afetividade e, em seguida, por intermédio de organizações formais (instituições como a escola e a igreja), dotadas de pessoal especializado para criar e administrar normas.83 O que você já pode concluir é que o controle social começa a agir no indivíduo já na fase da infância e as pessoas são quase que doutrinadas a seguir uma linha invisível, um fio, um tipo de padrão de comportamento que as levará a ser mais aceitas ou não pela sociedade. 82 SABADELL, Ana Lucia. Manual de sociologia jurídica - introdução a uma leitura externa do Direito. 3. ed. São Paulo: RT, p SCURO NETO, Pedro. Manual de sociologia gera! e jurídica. 4. ed. São Paulo: Saraiva, p O objeto da moderna Criminologia 53

63 O desrespeito a essas normas sociais pode criar um estigma negativo na pessoa (ex.: ela pode ser taxada pelos amigos de encrenqueira e acabar sofrendo um isolamento social), pode até ser agredida (ex.: uma pessoa que durante um jogo do Flamengo e do Vasco, adentra a área reservada da torcida do tipo adversário com a camisa de seu time) ou até, num caso mais grave, ser acusada da prática de um delito e ser presa. Um exemplo claro de controle social informal é o do filme Duro de Matar 3 - A vingança (1994). No início do filme, o vilão Simon P. Gruber (Jeremy Irons) determina que o tenente John Maclane (Bruce Willis) fique, com poucas roupas, em uma rua de um bairro negro de Nova York, com um cartaz enorme pendurado onde está escrito: Eu odeio negros. Ora, logo um grupo de jovens negros vê a situação e reage, tentando aplicar o controle social em. Maclane.84 Dentro do sistema formal de controle social nós encontramos o Sistema da Justiça ou Justiça Criminal, formado pelo Poder Judiciário, Ministério Público, Polícias e Administração Penitenciária, os quais exercem um papel muito expressivo na condução do controle social formal, imposto pelo Poder Público. O funcionamento dessas quatro instâncias (separadas e organizadas) não é objeto de investigação do Direito Penal, mas sim da Criminologia, pois são aplicadores natos do controle social formal. Apenas a título de exemplo, para a sociedade é de extrema importância que o Ministério Público conheça a Polícia (com saber científico e não apenas comum), para que possa exercer de forma adequada (sem preconceitos ou falsos dogmas) o mandamento constitucional do controle externo da Polícia. Existe uma classificação apresentada por Ana Lúcia Sabadell na obra citada neste tópico (cuja leitura recomendo por ser um livro admirável) bastante interessante do controle social, que, por motivos didáticos, passo a explicar sem preocupação de esgotar o tema. 84 Outro filme que retrata bem é a questão do controle social e o crime é Questão de Honra (1992), quando dois fuzileiros, na defesa do controle social interno da Marinha, aplicam um código vermelho e um dos fuzileiros morre na base de Guantânamo, em Cuba. 54 Resumo de Criminologia

64 Quanto ao modo de exercício do controle social Nessa tipologia, o controle pode ser analisado de duas formas: como instrumento de orientação e como meio de fiscalização do comportamento social da pessoa. Em grande número de ocasiões, o controle pode ser orientador e fiscalizador ao mesmo tempo, como na atuação da Polícia e do Ministério Público Com relação aos destinatários Nessa condição o controle poderá ser difuso (fiscalizando toda a comunidade) ou localizado (controle intenso de grupos estigmatizados como os ciganos etc.) Com relação aos agentes fiscalizadores Aqui o controle poderá ser realizado pelos agentes do Estado (controle social formal) ou pela própria sociedade civil (<controle social informal, exercido pela família, opinião pública, ambiente de trabalho e escolar). O controle formal é conhecido popularmente como repressão Quanto ao âmbito de atuação O controle social poderá ser exercido diretamente nas pessoas e aí será direto ou indiretamente por intermédio das instituições sociais. Ex.: um policial pode exercer um controle social direto sobre uma comunidade, mas pode ser influenciado em seu controle pela Corregedoria de Polícia, que pode expedir recomendações alterando a rotina do exercício do controle social que esse policial fazia. (^Formas de controle socii í Figura 6: Formas de controle social 0 objeto da moderna Criminologia 55

65 O controle social pode ser exercido de diversas formas. No organograma acima você acompanha as três principais formas de controle social. Vejamos como elas funcionam: a) Com sanções formais e informais. As sanções formais são aplicadas pelo Estado. Podem consistir principalmente em sanções cíveis, administrativas ou penais. Já as sanções informais não possuem coercibilidade. b) Com m eios positivos e negativos. De acordo com o meio de atuação, os meios podem ser positivos (prêmios e incentivos) ou negativos (reprovações com aplicações de sanções). Esse sistema costuma ser utilizado na educação. Os alunos são premiados quando executam tarefas como apresentar trabalhos em grupo, fazer o resumo crítico de um livro, comparecer a um seminário. E um sistema que possui amigos e inimigos no meio educacional. Os prêmios e as sanções podem possuir gradações bem diversas. c) Controle interno e externo. O controle interno é também chamado de autodisciplina. Desde que somos crianças aprendemos as regras sociais. Elas vão sendo internalizadas e com o passar do tempo passam a nos orientar sobre como devemos agir para cumprir as regras sociais de cada situação. Quando a autodisciplina falha, a pessoa pode ser compelida a agir por meio do controle externo. Ele pode se dar pela ação da sociedade ou até do Estado. Um exemplo típico de controle externo social é o da aplicação de multas de trânsito e ambientais. O caso mais grave do controle externo é o da aplicação da pena de prisão pelo Estado. Resumo de Criminologia

66 J mocléem a íca A Criminologia estuda o fenômeno criminal e lança mão de estudos realizados pelos diversos ramos do conhecimento. Entre as principais áreas, encontramos a biologia, a psicologia e a sociologia criminal. Este livro, embora se chame um resumo, trata dos principais assuntos da moderna criminologia, todavia seria impossível aqui esgotar todos os temas. Apenas a título de exemplificação, o Tratado de Criminologia de García-Pablos de Molina, em sua segunda edição espanhola, possuía páginas. Esgotar os temas de biologia, psicologia e sociologia criminal ultrapassa os limites físicos deste livro. Todavia, algumas linhas são desenvolvidas para que vocês possam aprofundar esses temas, em sendo de seu interesse Biologia criminal Julgada morta por muitos, a biologia criminalé ligada sempre aos trabalhos de Cesare Lombroso e causou grande polêmica onde foi aplicada. A ascensão da sociologia criminal ao topo do pensamento criminológico no século XX contribuiu para que se colocasse na biologia criminal o estigma de ultrapassada e retrógrada. As teorias de orientação biológica miram novamente através do homem delinqüente, tratando de localizar e identificar em alguma parte de seu corpo - no funcionamento deste, de algum de seus sistemas ou subsistemas - o fator diferencial que explique a conduta delitiva. Esta se supõe como conseqüência, portanto, de 57

67 alguma patologia, disfunção ou transtorno orgânico. As hipóteses são tão variadas como as disciplinas e especialidades existentes no âmbito das ciências; antropológicas, biotipológicas, endocrinológicas, genéticas, neurofisiológicas, bioquímicas etc.85 O crescimento da neurociência demonstra que a biologia criminal não morreu e que seu campo, com o devido cuidado, pode contribuir (e muito) para a compreensão do fenômeno criminal.86 Constituem as orientações biológicas o contraponto das teorias ambientalistas, a outra cara da moeda. A grande tentação a que são submetidas - a que freqüentemente sucumbem seus setores mais radicais - é de generalizar indevidamente, vendo relações de causa e efeito e leis universais, onde, no máximo, só existe uma correlação válida exclusivamente com relação ao caso concreto examinado.87 Adverte Eduardo Luiz Santos Cabette que o retrocesso que pode ocorrer com uma adesão acrítica a uma criminologia genética com pretensões de controle sobre a conduta humana mediante intervenções pré ou pós-delitivas, sustentando-se em concepções superadas do crime e do criminoso como entes naturais marcados por desvios patológicos, também apresenta outra faceta ainda mais sombria e obscura. Trata-se de uma clara tendência para a conformação de uma estrutura totalitarista de poder.88 O que se vê é um enfraquecimento das teorias biológicas mais radicais com a aceitação da interferência concomitante de fatores ambientais MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant Io Blanch, 1999, p Veja a matéria Estudo vai mapear cérebro de homicidas. Jornal Folha de S. Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2007, caderno Folha Ciência. A informação causou polêmica na mídia. 87 MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant Io Blanch, 1999, p CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Criminologia Genética - Perspectivas e Perigos. Curitiba: Juruá, 2008, p Para um aprofundamento do tema, recomendo a leitura do capítulo pertinente na obra Criminologia, de Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina, publicada pela Editora RT. 58 Resumo de Criminologia

68 7.2. Psicologia criminal O que leva uma pessoa a cometer um ato de agressão? Quais fatores psicológicos contribuíram de forma conjunta para que uma pessoa se torne um serial killerl Por que algumas vítimas de bullying reagem posteriormente atirando em colegas de escola e professores e cometendo suicídio depois? Essas e outras perguntas são também alvos do estudo da psicologia criminal. Enquanto a sociologia domina os estudos da visão macro da criminalidade (de grandes grupos), as teorias psicológicas se destacam com o estudo micro (do indivíduo e de pequenos grupos). Se frustrações, insultos ou modelos agressivos aumentam as tendências de pessoas isoladas, então esses fatores têm probabilidade de inspirar as mesmas reações em grupos. Ao começar um tumulto, os atos agressivos, por exemplo, muitas vezes espalham-se rapidamente após o início de um processo agressivo de uma pessoa antagônica. Ao verem saqueadores pegando livremente aparelhos de tevê, espectadores normais, que respeitam as leis, podem abandonar sua inibição moral e imitá-los.90 A violência, em suas várias formas, é um dos objetos de estudo da psicologia criminal. Leciona Alvino Augusto de Sá que o campo de trabalho do criminólogo clínico (psicólogo criminal), via de regra, é o presídio, o sistema penitenciário.91 É ali que ele vai procurar entender e compreender os indivíduos, os grupos que se envolveram com a delinqüência, e estudar a instituição prisional, suas regras, seus profissionais, seus hábitos etc., visando desenvolver estratégias de intervenção que promovam de forma saudável a reinserção social dos presos. Para tanto, é desejável que o sistema funcione como um todo coerente em seus posicionamentos teóricos e em suas práticas MYERS, David G. Psicologia social. 6. ed. Tradução de A.B.Pinheiro de Lemos. Rio de Janeiro: LTC, 2000, p Sobre alternativas à substituição das prisões, veja: GOMES, Geder Luiz Rocha Gomes. A substituição da prisão - alternativas penais: legitimidade e adequação. Salvador: Podium, SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia Clínica e Psicologia Criminal. São Paulo: RT, 2007, p. 18. A moderna Criminologia científica 59

69 Sobre o papel específico do psicólogo no sistema prisional, é recomendável a leitura do interessante documento produzido em conjunto pelo Ministério da Justiça e Conselho Federal de Psicologia, no ano de 2007, e que expõe a necessidade de uma atuação mais crítica, e não apenas meramente reprodutiva das práticas atuais, do psicólogo que atua no sistema prisional.93 O estudo de depoimentos testemunhais,94 aplicações de testes psicológicos (ex.: teste projetivo de Rorschach) em delinqüentes, estudos psicossociais de carreiras criminais e assassinos seriais [serial killers), por exemplo, são, alguns, os temas que interessam à psicologia criminal brasileira /, David Myers95 registra, ainda, que Bushman j jt e Anderson observam que os psicólogos ; n sociais estudaram a agressão tanto no mundo imjll. do laboratório quanto no cotidiano, e que as conclusões são excepcionalmente coerentes. Em ambos os contextos, o aumento da agressão é previsto por: 1. atores do sexo masculino, 2. personalidades agressivas ou do tipo A, 3. consumo de álcool, 4. exposição a cenas de violência, 5. anonimato, 6. provocação, 7. a presença de armas e 8. interação do grupo. \ J 93 Disponível no site do M inistério da Justiça (arquivo em extensão.pdf): ww.m i. aov.br/services/documentm anaoem ent/filedownload.eztsvc. asp?documentld=i2e0e050a-1f9f-4c4a ?fef02cc6l&servicelnstuid= I4AB C49-420B-9F76-15A4137F1CCDI. 94 Veja interessante estudo sobre o tema: TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 3. ed. Porto Alegre: 2008, p MYERS, David G. Psicologia social. 6. ed. Tradução de A.B.Pinheiro de Lemos. Rio de Janeiro: LTC, 2000, p Resumo de Criminologia

70 Luiz Flávio Gomes e García-Pablos de Molina registram, ainda, a importância de modelos psicopatológicos e psicanalíticos para a abordagem do fenômeno criminal, no que uma consulta a essa obra é recomendável para aprofundamento Sociologia criminal Sobre as principais teorias sociológicas, recomendamos a leitura do capítulo específico deste livro. A moderna Criminologia científica 61

71 eonaó macfõòáocioió^icaá ad üa cnrvunauaaae de No capítulo três tratamos da evolução histórica da Criminologia. Começamos com um breve comentário sobre a fase pré-científica, passamos pela Escola Clássica, estudamos a Escola Positiva e adentramos finalmente na sociologia norte-americana, atualmente um dos campos mais avançados e profícuos da Criminologia moderna. Ao passarmos para o estudo da Criminologia nos Estados Unidos da América, você perceberá que a Criminologia deu um giro espantoso nas suas investigações. De um estudo de criminalidade focado no indivíduo ou em pequenos grupos, a Criminologia passou a se preocupar com grande ênfase no estudo da macrocriminalidade, uma abordagem dos fatores que levam a sociedade como um todo a praticar ou não infrações criminais. Teorias criminológicas, em geral, têm como objeto quatro elementos: a lei, o criminoso, o alvo e o lugar. A forma como são classificadas diz respeito aos diversos níveis de explicação, que variam do individual ao contextual. As teorias criminólogicas que adotam o nível individual de análise partem do pressuposto de que o crime - a explicação de suas causas e o controle de sua ocorrência na sociedade - se deve aos fatores internos aos indivíduos que os motivam, ou melhor, os impulsionam a cometerem um ato criminoso. Variáveis como idade, raça, posição social e educação seriam algumas das medidas consideradas fundamentais para explicar a atitude criminosa de um indivíduo SILVA, Bráulio Figueiredo Alves da. Coesão social, desordem percebida e vitimização em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Orientador: Cláudio Beato Filho. UFMG, 2004, p

72 A maioria das teorias criminólogicas mais importantes são explicações relativamente precisas que aspiram a propor dedutivamente hipóteses claras e consistentes entre si e que possam ser submetidas a propósitos de refutação e superá-los com êxito.97 Com o surgimento das teorias sociológicas da criminalidade, houve uma bifurcação muito poderosa dessas pesquisas em dois grupos principais. Essa divisão leva em consideração, principalmente, a forma como os sociólogos encaram a composição da sociedade: consensual ou conflitual. Figura 7: Teorias macrossociológicas Para a perspectiva das teorias consensuais, a finalidade da sociedade é atingida quando há um perfeito funcionamento de suas instituições, de forma que os indivíduos compartilhem os objetivos comuns a todos os cidadãos, aceitando as regras vigentes e compartilhando as regras sociais dominantes. Para a teoria do conflito, no entanto, a coesão e a ordem na sociedade são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e sujeição de outros; ignora-se a existência de acordos em torno de valores de que depende o próprio estabelecimento da força MAlLLO, Alfonso Serrano. Introdução à Criminologia. Tradução de Luiz Régis Prado. São Paulo: RT, 2007, p SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: RT, p Resumo de Criminologia

73 Quadro 2: Citação de Zuenir Ventura da sociedade de conflito ~ «k A sociedade de conflito está bem identificada no trecho abaixo de Zuenir Ventura: Curiosamente, só na metade é que a década de 80 resolveu mostrar que tinha algo de novo a oferecer: estávamos caindo na democracia. E nada mais dava trabalho do que ser plural e aceitar o outro - não o igual ou o semelhante, mas o oposto. A primeira lição do ano era, portanto, a de que a democracia não é consenso, mas dissenso. Em termos de opinião, todos só são iguais perante a ditadura. Na democracia, tudo é diferença (grifos meus). ^ Minhas histórias dos outros. São Paulo, Planeta, 2005, p Dentro desses dois grupos vamos encontrar, principalmente, as seguintes teorias: escola de Chicago, teoria da associação diferencial, teoria da anomia, teoria da subcultura delinqüente, labelling aproach (interacionismo simbólico) e teoria crítica. São consideradas de consenso, escola de Chicago, associação diferencial, anomia e subcultura delinqüente. São conflitivas. íahelling e a teoria crítica Escola de Chicago É considerada uma teoria de consenso. Pode-se dizer que a criminologia americana, como tal, se iniciou nas décadas de 20 e 30, à sombra da Universidade de Chicago, com a teoria ecológica e os múltiplos trabalhos empíricos que inspirou. Na linha da obra pioneira de Robert Park e Ernest Burguess (de ambos os autores, Introduction to the Science o f Sociology, 1921, e The City, 1925) em sede de sociologia, a escola criminológica de Chicago encarou o crime como fenômeno ligado a uma área natural. Historicamente coincidente com o período das grandes migrações e da formação das grandes metrópoles, teve a escola de Chicago que se afrontar com o problema característico do ghetto. As sucessivas ondas de imigrantes arrumavam-se segundo critérios rigidamente étnicos, dando origem a comunidades tendencialmente estanques. Parecia, assim, natural que se optasse por um modelo ecológico - ou seja, de Teorias macrossociológioas da criminalidade 65 J

74 equilíbrio entre a comunidade humana e o ambiente natural - para o enquadramento dos fenômenos sociais." Caracterizou-se pelo seu empirismo e sua finalidade pragmática, isto é, pelo emprego da observação direta em todas as investigações (da observação dos fatos são induzidas as oportunas teses) e pela finalidade pragmática a que se orientavam: um diagnóstico confiável sobre os urgentes problemas sociais da realidade norte-americana de seu tempo. Seus representantes iniciais não eram sociólogos nem juristas, senão jornalistas, predominando em todo o caso, como setor de procedência, o amplo espectro das ciências do espírito.100 A escola de Chicago pode ter seu trabalho melhor compreendido dividindo-o em duas fases: a Primeira Escola vai de 1915a 1940, enquanto a segunda escola vai de 1945 a O trabalho dessa escola explorou a relação entre a organização do espaço urbano e a criminalidade. A s teorias derivadas da escola de Chicago ^ exploraram a relação entre a organização do espaço urbano e a criminalidade. A escola de Chicago se tornou bastante importante para o estudo da criminalidade urbana. As teorias estabelecidas por seus sociólogos durante aquele período influenciaram valiosos estudos urbanos sobre o crime, que foram posteriormente conduzidos nos Estados Unidos e na Inglaterra. Sua atuação foi marcada pelo pragmatismo, e, dentre outras inovações que preconizou, destacam-se o m étodo da observação participante e o conceito de ecologia humana}^ Park pregava que a sociologia não estava interessada em fatos, mas em como as pessoas reagiam a eles. Nesse compasso, a experiência prática era considerada fundamental, visto que a melhor estratégia de pesquisa era aquela em que o pesquisador participava diretamente 99 DIAS, op. cit., p, MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p FREITAS, Wagner Cinelli de Paula. Espaço urbano e criminalidade - Lições da Escola de Chicago. São Paulo. IBCCRIM, p Resumo de Criminologia

75 do objeto de seu estudo. Este método inovador e cuja introdução na pesquisa se deve à Escola de Chicago é o da observação participante. Nesse método, o observador toma parte no fenômeno social que estuda, o que lhe permite examiná-lo da maneira como realmente ocorre. Assim, o conhecimento tem por base não a experiência alheia, mas a própria experiência do pesquisador.102 A primeira das teorias que eclodem com surgimento da escola de Chicago é a teoria ecológica. Para os defensores dessa teoria, a cidade produz delinqüência. Existiriam para esses autores até áreas bastante definidas, onde a criminalidade se concentra e outras em que seria bastante reduzida. A teoria ecológica explica esse efeito criminógeno da grande cidade, valendo-se dos conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos e, sobretudo, invocando o debilitamento do controle social desses núcleos. A deterioração dos grupos primários (família etc.), a modificação qualitativa das relações interpessoais que se tornam superficiais, a alta mobilidade e a conseqüente perda de raízes no lugar de residência, a crise dos valores tradicionais e familiares, a superpopulação, a tentadora proximidade às áreas comerciais e industriais onde se acumula riqueza e o citado enfraquecimento do controle social criam um meio desorganizado e criminógeno.103 Z o n a l (loop) Zona II Zona III Zona IV ZonaV Figura 8: Teoria das zonas concêntricas de Ernest Burgess 102 FREITAS, op. cit., p MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p Teorias macrossociológieas da criminalidade 67

76 Para a teoria das zonas concêntricas de Ernest Burgess, as cidades não crescem em seus limites, mas tendem a se expandir a partir do seu centro e de formas concêntricas, que ele chamou de zonas. Citando o texto de Burgess, Wagner Cinelli de Paula Freitas registra de forma muito clara que a Zona I é o bairro central, com comércio, bancos, serviços etc. Burgess chamou esse distrito de loop. A Zona II é a área imediatamente em torno da Zona I e representa a transição do distrito comercial para as residências. Normalmente ocupada pelas pessoas mais pobres, é a chamada zona em transição ou, ainda, zona de transição. A Zona III contém residências de trabalhadores que conseguiram escapar das péssimas condições de vida da Zona II, sendo composta geralmente pela segunda geração de imigrantes. A Zona IY chamada de suburbia, é formada por bairros residenciais e é caracterizada por casas e apartamentos de luxo. E onde residem as classes média e alta. A Zona V, denominada exurbia, fica além dos limites da cidade e contém áreas suburbanas e cidades-satélites. E habitada por pessoas que trabalham no centro e despendem um tempo razoável no trajeto entre casa e trabalho. Esta área não é caracterizada por residências proletárias. Ao contrário, normalmente é composta de casas de classe média-alta e alta. O conceito de subúrbio das cidades norte-americanas é diverso do das cidades da América Latina. Enquanto nas cidades latino-americanas o subúrbio é usualmente caracterizado por ser uma área pobre, nos EUA, é onde residem pessoas de alto padrão socioeconômico.104 Park e Burgess consideravam a Zona II como de particular interesse, eis que era a área que as estatísticas indicavam com maior incidência de crime. Eles observaram que a expansão do bairro central acarretava no deslocamento dos residentes da Zona II.105 Foi dessa época que surgiram os estudos de um dos subprodutos da Zona II e que também é um dos temas centrais da Criminologia hoje: as gangues. As gangues e a delinqüência juvenil são problemas graves e que desafiam a intervenção que a sociedade (e a própria Criminologia) prevê para esses casos. 104 FREITAS, Wagner Cinelli de Paula. Espaço urbano e criminalidade - Lições da Escola de Chicago. São Paulo: IBCCRIM, p Ibid, p Resumo de Criminologia

77 Ensina Davi de Paiva Costa Tangerino que evidentemente o esquema de divisão da cidade em cinco zonas características é mero artifício didático, posto que nenhum processo pode ser apontado estatisticamente. Cada uma dessas zonas encontra-se em expansão, o que resulta na expansão da cidade como um todo. Nesse processo, porém, uma área forçosamente invade a outra para fazer sua expansão. Assim, a zona comercial para crescer tem de invadir a zona adjacente, impingindo-lhe sempre um caráter transitório, posto que sempre comportando elementos da Zona I (comércio e indústria) e da Zona II(residências). Esse aspecto da expansão urbana pode ser denominado de sucessão, importante princípio ecológico.106 Em resumo: com a escola de Chicago, a Criminologia abandonou o paradigma até então dominante do positivismo criminológico, do delinqüente nato de Lombroso, e girou para as influências que o ambiente, e no presente caso, que as cidades podem ter no fenômeno criminal. Ganhou-se qualidade metodológica. Com os estudos da escola de Chicago criou-se também o ambiente cultural para as teorias que se sucederam e que são a feição da moderna Criminologia. Foi a sociologia americana, em especial, com a escola de Chicago, que passou a utilizar os socialsurveys (inquéritos sociais) na investigação da criminalidade. E um importante instrumento para o conhecimento do índice real da criminalidade de uma cidade ou bairro. As pesquisas realizadas pela escola de Chicago transformaram profundamente o pensamento criminológico e até ressoam de alguma forma no meio científico. Você encontrará isso ^ no site Teoria da associação diferencial É considerada uma teoria de consenso. Foi iniciada por Edwin Sutherland, um dos sociólogos que mais influenciou a Criminologia moderna, tendo se inspirado, em 106 TANGERINO, Davi de Paiva Costa. Crime e cidade: violência urbana e escola de Chicago. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 25. Teorias macrossociológicas da criminalidade 69

78 parte, nas idéias de Gabriel Tarde. Sutherland, que nasceu em 1883 e viveu até 1950, teve seu primeiro contato com a Criminologia no início do século XX, com a escola de Chicago, sendo por ela influenciado. No final dos anos 30, Sutherland cunha a expressão whitecollar crimes, que passa a identificar os autores de crimes diferenciados, que apresentavam pontos acentuados de dessemelhança com os criminosos chamados comuns. Dez anos mais tarde, em 1949, revê parcialmente sua teoria, chegando a uma formulação mais próxima da que conhecemos hoje.107 Segundo Edwin Sutherland, a associação diferencial é o processo de aprender alguns tipos de comportamento desviante, que requer conhecimento especializado e habilidade, bem como a inclinação de tirar proveito de oportunidades para usá-las de maneira desviante. Tudo isso é aprendido e promovido principalmente em grupos tais como gangues urbanas ou grupos empresariais que fecham os olhos a fraudes, sonegação fiscal ou uso de informações privilegiadas no mercado de capitais.108 A teoria da associação diferencial parte da idéia segundo a qual o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação das pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade destas. Em certo sentido, ainda que influenciado pelo pensamento da desorganização social de William Thomas, Sutherland supera o conceito acima para falar de uma organização diferencial e da aprendizagem dos valores criminais. A vantagem dessa teoria é que, ao contrário do positivismo, que estava centrado no perfil biológico do criminoso, tal pensamento traduz uma grande discussão dentro da perspectiva social. O homem aprende a conduta desviada e associa-se com referência nela SHECAIRA, op. cit., p JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia - Guia prático da linguagem sociológica. Tradução de Ruy Jugmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p SHECAIRA, op. cit., p Resumo de Criminologia

79 Quadro 3: Teoria da Associação Diferencial de Sutherland Teoria da Associação Diferencial de Sutherland (nove proposições) Segundo Molina e Gomes, a teoria da associação diferencial de Sutherland é resumida com nove proposições.110 1) A conduta criminal se aprende, como se aprende também o comportamento virtuoso ou qualquer outra atividade: os mecanismos são idênticos em todos os casos. 2) A conduta criminal se aprende em interação com outras pessoas, mediante um processo de comunicação. Requer, pois, uma aprendizagem ativa por parte do indivíduo. Não basta viver em um meio criminógeno, nem manifestar, é evidente, determinados traços da personalidade ou situações freqüentemente associadas ao delito. Não obstante, em referido processo participam ativamente, também, os demais. 3) A parte decisiva do citado processo de aprendizagem ocorre no seio das relações mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou com pessoas do seu meio. A influência criminógena depende do grau de intimidade do contato interpessoal. 4) A aprendizagem do comportamento criminal inclui também a das técnicas de cometimento do delito, assim como a da orientação específica das correspondentes motivações, impulsos, atitudes e da própria racionalização (justificação) da conduta delitiva. 5) A direção específica dos motivos e dos impulsos se aprende com as definições mais variadas dos preceitos legais, favoráveis ou desfavoráveis a eles. A resposta aos mandamentos legais não é uniforme dentro do corpo social, razão pela qual o indivíduo acha-se em permanente 110 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed, São Paulo: RT, p Teorias macrossociológicas da criminalidade 71

80 contato com outras pessoas que têm diversos pontos de vista quanto à conveniência de acatá-los. Nas sociedades pluralistas, dito conflito de valorações é inerente ao próprio sistema e constitui a base e o fundamento da teoria sutherlaniana da associação diferencial. 6) Uma pessoa se converte em delinqüente quando as definições favoráveis à violação da lei superam as desfavoráveis, isto é, quando por seus contatos diferenciais aprendeu mais modelos criminais que modelos respeitosos ao Direito. 7) As associações e contatos diferenciais do indivíduo podem ser distintas conforme a freqüência, duração, prioridade e intensidade dos mesmos. Contatos duradouros e freqüentes, é lógico, devem ter maior influência pedagógica, mais que outros fugazes ou ocasionais, do mesmo modo que o impacto que exerce qualquer modelo nos primeiros anos de vida do homem costuma ser mais significativo que o que tem lugar em etapas posteriores; o modelo é tanto mais convincente para o indivíduo quanto maior seja o prestígio que este atribui à pessoa ou grupos cujas definições e exemplos aprende. 8) Precisamente porque o crime se aprende, isto é, não se imita, o processo de aprendizagem do comportamento criminal mediante contato diferencial do indivíduo com modelos delitivos e não delitivos implica a aprendizagem de todos os mecanismos inerentes a qualquer processo deste tipo. 9) Embora a conduta delitiva seja uma expressão de necessidades e de valores gerais, não pode ser explicada como concretização deles, já que também a conduta adequada ao Direito corresponde a idênticas necessidades e valores Teoria da anomia É considerada uma teoria de consenso. A anomia é um dos temas mais estudados pela moderna Criminologia. 72 Resumo de Criminologia

81 A anomia é uma situação social onde falta coesão e ordem, especialmente no tocante a normas e valores. Se as normas são definidas de forma ambígua, por exemplo, ou são implementadas de maneira causai e arbitrária; se uma calamidade como a guerra subverte o padrão habitual da vida social e cria uma situação em que se torna obscuro quais normas têm aplicação; ou se um sistema é organizado de tal forma que promove o isolamento e a autonomia do indivíduo a ponto das pessoas se identificarem muito mais com seus próprios interesses do que com os do grupo ou da comunidade como um todo - o resultado poderá ser a anomia, ou falta de normas.111 Como exemplo prático disso, podemos tomar a situação de dificuldade de controle da ordem pública que a força de paz da ONU enfrenta no Haiti. O colapso do governo anterior gerou uma situação de anomia nos país (ex.: saques, estupros e violações de direitos humanos, como torturas e aumento dos homicídios). E uma situação de caos, onde os índices de criminalidade encontram terreno propício para forte elevação. Não será fácil a tarefa de restabelecer a ordem pública no Haiti. O Iraque é outro exemplo a ser citado. No âmbito das teorias mais propriamente sociológicas, o princípio do bem e do mal foi posto em dúvida pela teoria estruturalfuncionalista da anomia e da criminalidade. Esta teoria, introduzida pelas obras clássicas de Emile Durkheim e desenvolvida por Robert Merton, representa a virada em direção sociológica efetuada pela Criminologia contemporânea. Constitui a primeira alternativa clássica à concepção dos caracteres diferenciais biopsicológicos do delinqüente e, por conseqüência, à variante positivista do princípio do bem e do mal. Nesse sentido, a teoria funcionalista da anomia está na origem de uma profunda revisão crítica da Criminologia de orientação biológica e caracterológica, na origem de uma direção alternativa que caracteriza todas as teorias Criminológicas das quais se tratará mais adiante.112 1" JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia - guia prático da linguagem sociológica. Tradução de Ruy Jugmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p A teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade afirma: 1) As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropológicos e naturais (clima, raça), nem em uma situação patológica da estrutura social; 2) O desvio é um fenômeno Teorias macrossociológicas da criminalidade 73

82 Da abordagem sociológica do suicídio nas obras de Durkheim, podemos destacar uma regra geral: quando se criam na sociedade espaços anômicos, ou seja, quando um indivíduo ou um grupo perde as referências normativas que orientavam a sua vida, então enfraquece a solidariedade social, destruindo-se o equilíbrio entre as necessidades e os meios para sua satisfação. O indivíduo sente-se livre de vínculos sociais, tendo, muitas vezes, um comportamento anti-social ou inclusive autodestrutivo.113 Segundo Figueiredo Dias, a teoria da anomia é uma versão criminológica das teorias funcionalistas em sociologia, que tiveram em The Social System (1950), de T. Parsons, a sua expressão mais acabada. A teoria da anomia foi, pela primeira vez, enunciada por Robert Merton, em 1938, num artigo publicado na American Socioiogical Review, sob o título de Social Structre andanomie. A teoria da anomia radica a explicação do crime no defasamento entre a estrutura cultural e a estrutura social. A primeira impõe a todos os cidadãos a persecução dos mesmos finse prescreve para todos os mesmos meios legítimos. A segunda reparte desigualmente as possibilidades de acesso a estes meios e induz, por isso, o recurso a m eios ilegítimos. Noutros termos, o crime é, segundo Merton, uma das formas individuais de adaptação no quadro de uma sociedade agônica em torno de meios escassos. Na mesma linha se mantém, entre outras, a obra de A. Cloward e L. Ohlin, D eliquency and Opportunity. A Theory o f D eliquent Gangs (1960), com a particularidade de encarar o crime como solução coletiva e subcultural.ua Robert King Merton foi quem deu melhor desenvolvimento ao conceito de anomia. E, embora tenha sido enunciada pela normal de toda estrutura social; 3) Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é negativo para a existência e o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se um estado de desorganização, no qual todo o sistema de regras de conduta perde valor, enquanto um novo sistema ainda não se afirmou (esta é a situação de "anomia"). Ao contrário, dentro de seus limites funcionais, o comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural. BARATTA, Alessandra. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 2. ed. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, p ,3 SABADELL, Ana Lucia. Manual de sociologia jurídica - Introdução a uma leitura externa do Direito. 3. ed. São Paulo: RT, p DIAS, op. cit., p Resumo de Criminologia

83 primeira vez em 1938, você poderá constatar a seguir que a mesma pode auxiliar também a compreensão do fenômeno criminal na atualidade. Merton afirma que em todo contexto sociocultural desenvolvem-se m etas culturais. Estas expressam os valores que orientam a vida dos indivíduos em sociedade. Coloca-se então uma questão: como uma pessoa pode atingir essas metas? Merton diz que, para tal efeito, cada sociedade estabelece meios. Trata-se de recursos institucionalizados ou legítimos que são socialmente prescritos. Existem também outros meios que permitem atingir estas mesmas metas, mas que são rejeitados pelo grupo social. A utilização destes últimos é considerada como violação das regras sociais em vigor."5 O insucesso em atingir as metas culturais devido à insuficiência dos meios institucionalizados pode produzir o que Merton chama de anomia: manifestação de um comportamento no qual as regras do jogo social são abandonadas ou contornadas. O indivíduo não respeita as regras do comportamento que indicam os meios de ação socialmente aceitos. Surge então o desvio, ou seja, o comportamento desviante.116 Não sabemos exatamente quais fatores levam algumas pessoas a cometerem infrações criminais ou não. Mas, em entrevistas individuais, algumas vezes encontramos casos de pessoas que simplesmente praticam o delito porque entenderam que é o caminho mais rápido para alcançarem a riqueza e/ou o prestígio. E aqui posso citar um caso relativamente comum no leste de Minas Gerais, de jovens que passam a trabalhar na ilicitude do envio de pessoas para trabalhar ilegalmente em outros países, algumas vezes falsificando passaportes, comprando vistos de entrada de passaportes originais, emprestando dinheiro a juros extorsivos para as famílias iniciarem a viagem ao país de destino, extorsões etc. Esses jovens preferiram abandonar a tentativa de progredir socialmente pelos m eios institucionalizados (ex.: trabalho) e optaram por chegar ao sucesso e prestígio com condutas criminais. Para eles, o risco de serem processados e condenados vale a pena. Em 116 SABADELL, Ana Lucia. Manual de sociologia jurídica - Introdução a uma leitura externa do Direito. 3. ed. São Paulo: RT, p Ibid, p, 84. Teorias macrossociológicas da criminalidade 75

84 tempo relativamente curto, passam a comprar carros importados, freqüentar colunas sociais, organizar festas de arromba etc. Não são também incomuns os casos de pessoas que se envolvem em quadrilhas de extorsão mediante seqüestro e tráfico de drogas com o mesmo objetivo. Muitas vezes elas não passam por dificuldades financeiras, mas escolhem esse caminho - o do comportamento desviante - para atingir a meta cultural da riqueza e do sucesso. Então, basicamente no conceito de anomia de Merton, temos um conflito de dois pontos: metas culturais (ex.: riqueza, sucesso, status profissional etc.) versus meios institucionalizados. Merton criou então um esquema onde ele explica os meios de adaptação dos indivíduos, que chamou de modos de adaptação, e que são cinco: conformidade, inovação, ritualismo, evasão e rebelião. O sinal positivo sinaliza quando o indivíduo aceita o meio institucionalizado ou meta cultural. O sinal negativo é quando não os aceita. Vejamos então o esquema de Merton: Modos de Metas culturais Meios adaptação institucionalizados Conformidade + + Inovação + - Ritualismo - + Evasão - - Rebelião Quadro 4: Classificação da Anomia de Robert Merton (modos de adaptação) Conformidade, também chamado de comportamento modal. Aqui o indivíduo aceita os meios sociais institucionais para alcançar as metas culturais. Ele adere totalmente ao comportamento aceito e esperado pela sociedade e não apresenta comportamento desviante. Os demais comportamentos são não-modais ou desviantes e sinalizam a ocorrência de anomia. 76 Resumo de Criminologia

85 Inovação, na inovação o indivíduo aceita as metas culturais, mas não os meio institucionalizados. Quando o indivíduo verifica que não estão acessíveis a ele todos os meios institucionais, ele rompe com o sistema e passa ao desvio para atingir as metas culturais. Ritualismo. neste modelo o indivíduo vê com descaso o atendimento das metas socialmente dominantes. Por um motivo ou outro, a pessoa acredita que nunca atingirá as metas culturais, e mesmo assim continua respeitando as regras sociais, mas agindo como uma espécie de ritual. E um conformista. Neste modelo há uma focalização nos meios e não nos objetivos sociais. Evasão, neste conjunto encontramos os párias, mendigos, bêbados e drogados crônicos etc. Enquanto para Merton o conformismo era o modo de adaptação mais comum, a evasão já é o modo mais raro. Neste modelo o indivíduo vive num determinado ambiente social, mas não adere às suas normas sociais, nem aos meios institucionais e nem a metas culturais. E um comportamento claramente anômico. Rebelião, consiste na rejeição das metas e dos meios dominantes - julgados como insuficientes ou inadequados - e na luta pela sua substituição. A conduta da rebelião busca assim a configuração de uma nova ordem social. Por essa razão, Merton entende que essa conduta não pode ser considerada especificamente como negativa, utilizando simultaneamente como símbolos os sinais positivos e negativos. Exemplos claros da conduta de rebelião constituem os movimentos de revolução social.117 Três elementos básicos emergem desta construção teórica: objetivos (ou fins) culturais, normas institucionalizadas e oportunidades reais. Eles são independentes, mas podem, em variações autônomas, provocar estados de defasagem recíproca. Em relação às defasagens dos elementos da estrutura cultural, elas podem oscilar entre duas situações-limite, expressando as formas mais sérias de desintegração cultural. De um lado, está a sociedade que 117 SABADELL, Ana Lucia. Manual de sociologia jurídica - Introdução a uma leitura externa do Direito. 3. ed. São Paulo: RT, p. 86. Teorias macrossociológicas da criminalidade 77

86 atribui excessivo valor aos fins e relega a segundo plano as normas, à procura do sucesso a qualquer preço. De outro, a sociedade que concede prioridade aos meios e descuida dos objetivos, caindo na armadilha da conformidade absoluta e do apego desmedido à tradição como valores dominantes Teoria da subcultura delinqüente É considerada uma teoria de consenso. O criador dessa teoria foi o sociólogo norte-americano Albert K. Cohen e teve como marco o ano de lançamento de seu livro D eliquent boys, em A subcultura é uma cultura associada a sistemas sociais (incluindo subgrupos) e categorias de pessoas (tais como grupos étnicos) que fazem parte de sistemas mais vastos, como organizações formais, comunidades ou sociedades. Bairros étnicos urbanos - variando de indianos em Londres e muçulmanos em Paris, a americanos em Hong Kong ou chineses em Nova York - compartilham freqüentemente de linguagens, idéias e práticas culturais que diferem das seguidas pela comunidade geral, mas, ao mesmo tempo, sofrem pressão para conformar-se, em certo grau, à cultura mais vasta na qual está enraizada a subcultura. O mesmo fato pode acontecer também em sistemas sociais menores, como grandes empresas, departamentos do governo ou unidades militares, que se aglutinam muitas vezes em torno de interesses especializados ou de laços criados por interações diárias e interdependência mútua.119 As teorias subculturais sustentam três idéias fundamentais: o caráter pluralista e atomizado da ordem social, a cobertura normativa da conduta desviada e a semelhança estrutural, em sua gênese, do comportamento regular e irregular. A premissa dessas teorias subculturais é, antes de tudo, contrária à imagem 118 FERRO, Ana Luiza Almeida. Robert Merton e o Funcionalismo. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p ,9 JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia - Guia prático da linguagem sociológica. Tradução de Ruy Jugmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p Resumo de Criminologia

87 monolítica da ordem social que era oferecida pela Criminologia tradicional. A referida ordem social, a teor deste novo modelo, é um mosaico de grupos, subgrupos, fragmentado, conflitivo; cada grupo ou subgrupo possui seu próprio código de valores, que nem sempre coincidem com os valores majoritários e oficiais, e todos cuidam de fazê-los valer diante dos restantes, ocupando o correspondente espaço oficial.120 A s teorias subculturais sustentam três idéias fundamentais: o caráter pluralista e atomizado da ordem social, a cobertura norm ativa da conduta desviada e a semelhança estrutural, em sua gênese, do comportamento regular e irregular. Aqui podemos identificar os fundamentos dessa teoria (ou teorias, porquanto existem variantes) nos casos das gangues de delinqüência juvenil. Ao participar de uma gangue, o jovem passa a aceitar os valores daquele grupo, fazendo-os valer para si, em muitos casos, mais que os valores sociais dominantes. Uma subcultura profissional muito estudada pela Criminologia na atualidade é a policial. Os policiais trabalham com o perigo diariamente em sua profissão. Possuem laços de relacionamento muito fortes com a corporação. O chamado espírito de corpo dos policiais é um reflexo claro do dever de lealdade que os seus membros devem ter com a subcultura policial. O membro que desrespeita esse espírito de corpo está fadado a ser isolado do convívio dos demais policiais e familiares. Passa a ser evitado e visto com reservas pelos colegas, mesmo quando faz legalmente uma denúncia de desvio de comportamento ilegal de algum membro de sua unidade. Sem o estudo profundo da subcultura profissional policial é difícil criar mecanismos mais eficientes para se controlar a criminalidade derivada da corrupção policial. 120 MOLINA, Antonio García-Pablos: GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p Teorias maorossociológtoas da criminalidade 79

88 A conduta delitiva para as teorias subculturais - diferentemente do que sustentavam as teses ecológicas - não seria produto da desorganização ou da ausência d e valores, senão reflexo e expressão de outros sistemas de normas e valores distintos: os subculturais. Teria, portanto, um respaldo normativo. Assim, tanto a conduta normal, regular e adequada ao Direito, como a irregular, desviada e delitiva seriam definidas em relação aos respectivos sistemas sociais de normas e valores oficiais e subculturais, isto é, contariam com uma estrutura e significação muito semelhante, visto que o autor, em última análise (delinqüente ou não-delinqüente), o que faz é refletir com sua conduta o grau de aceitação e interiorização dos valores da cultura ou subcultura à qual pertence (não por decisão própria), valores que se interiorizam - reforçam e transmitem - mediante idênticos mecanismo de aprendizagem e socialização, tanto no caso de conduta normal ou regular como no de conduta irregular ou desviada Teoria do la b e ilin g a p r o a c h, interacionismo simbólico, etiquetamento, rotulação ou reação social É considerada um dos marcos das teorias de conflito. A teoria do etiquetamento rompeu paradigmas. Ela deu um giro profundo na forma de se analisar o crime. Deixou de centrar estudos no fenômeno delitivo em si e passou a focar suas atenções na reação social proveniente da ocorrência de um determinado delito. Os principais representantes dessa linha de pensamento são Erving Goffman e Howard Becker. Seguindo Becker, os grupos sociais criam os desvios ao fazerem as regras cuja infração constitui o desvio e ao aplicarem tais regras a certas pessoas em particular, qualificando-as como marginais. Os processos de desvios, assim, podem ser considerados primários e 121 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p Resumo de Criminologia

89 secundários.122 O desvio primário corresponde à primeira ação delitiva do sujeito, que pode ter como finalidade resolver alguma necessidade, por exemplo, econômica, ou produz-se para acomodar sua conduta às expectativas de determinado grupo subcultural. O desvio secundário se refere à repetição dos atos delitivos, especialmente a partir da associação forçada do indivíduo com outros sujeitos delinqüentes.123 A tese central dessa corrente pode ser definida, em termos muito gerais, pela afirmação de que cada um de nós se toma aquilo que os outros vêem em nós e, de acordo com essa mecânica, a prisão cumpre uma função reprodutora: a pessoa rotulada como delinqüente assume, finalmente, o papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo com o mesmo. Todo o aparato do sistema penal está preparado para essa rotulação e para o reforço desses papéis.124 Como exemplo nítido dessa situação podemos citar o personagem Carlito Brigante, representado por Al Pacino em O Pagam ento Final (C a rlito 's Way), filme dirigido por Brian de Palma, em Nesse filme, Carlito é traficante de drogas e consegue sair da cadeia com uma brecha da lei. Ele tenta então dar um novo rumo à sua vida, mas seus ex-colegas do crime, a polícia, sua família e o resto do sistema rotularam Carlito como criminoso. Uma linha invisível vai conduzindo a vida de Carlito, até o mesmo se enquadrar novamente em seu rótulo. Surgida nos Estados Unidos por volta dos anos 70, o labelling approach privilegia, na análise do comportamento desviado, o funcionamento das instâncias de controle social (criminalização secundária), ou seja, a reação social aos comportamentos assim etiquetados. Crime e reação social são, segundo esse enfoque, manifestações de uma só realidade: a interação social. Não há 122 GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio - uma visão minimalista do Direito Penal. Niterói: Impetus, p Ibid, p ZAFFARONI, Eugênio Raul. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema penal. 2. ed. Tradução de Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopes da Conceição. Rio de Janeiro: Revan p. 60. Teorias macrossociológicas da criminalidade 81

90 como compreender o crime senão em referência aos controles sociais.125 De acordo com essa perspectiva interacionista, não se pode compreender o crime prescindindo da própria reação social, do processo social de definição ou seleção de certas pessoas e condutas etiquetadas como delitivas. Delito e reação social são expressões interdependentes, recíprocas e inseparáveis. O desvio não é uma qualidade intrínseca da conduta, senão uma qualidade que lhe é atribuída por meio de complexos processos de interação social, processos estes altamente seletivos e discriminatórios.126 Do ponto de vista metodológico, há que se realçar a importância da descoberta do defasamento quantitativo e, sobretudo, qualitativo entre a delinqüência potencial (ou secreta) e a delinqüência real. Tal fato permitiu ao labelling, por um lado, contestar os fundamentos epistemológicos da criminologia tradicional e, por outro lado, retirar a idéia de delinqüência de sua dimensão ontológica. O que os delinqüentes têm em comum, o que verdadeiramente os caracteriza, é apenas a resposta das audiências de controle.127 Ou seja, não é o crime em si que vai ser o ponto central da visão criminológica, mas sim a respectiva reação social que é deflagrada com a prática do ato pelo delinqüente. Temos um giro nos sistema que sai do crime para a reação social ao mesmo. Deslocando o problema criminológico do plano de ação para o da reação social - dos bad actors para os p o w erfu l reactors - o labeilin g erige as audiências sociais em variáveis críticas do estudo da deviance", segundo a expressiva formulação de Erikson. Noutros termos, toda a investigação interacionista gravita em torno da problematização da estigmatização, assumida como variável depen dente (quais os critérios em nome dos quais certas pessoas, e só elas, são estigmatizadas como delinqüentes?), quer como variável 125 QUEIROZ, Paulo de Souza. Do Caráter Subsidiário do Direito Penal - Lineamentos para um direito penal mínimo. Belo Horizonte: Del Rey, p MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, p DIAS, op. cit, p Resumo de Criminologia

91 indepen dente (quais as conseqüências desta estigmatização?).128 Nesse plano de idéias podemos citar o caso de envolvimento de agentes de classes mais humildes com a contravenção penal de embriaguez129 no Brasil.130 Com as teorias da criminalidade e da reação penal baseadas sobre o labelling approach, e com as teorias conflituais, tem lugar no âmbito da sociologia criminal contemporânea a passagem da criminologia liberal para a crim inologia crítica. Uma passagem, como parece evidente, que ocorre lentamente e sem uma verdadeira solução de continuidade. A recepção alemã do labelling approach em particular é um momento importante dessa passagem.131 Essa direção de pesquisa parte da consideração de que não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal que a define e reage contra ela, começando pelas normas abstratas até as instâncias oficiais (polícia, juizes, instituições penitenciárias que as aplicam), e que, por isso, o status social do delinqüente pressupõe, necessariamente, o efeito da atividade das instâncias oficiais de controle social da delinqüência, enquanto não adquire esse status aquele que, apesar de ter reali- 128 DIAS, op. cit., p Artigo 62 da LCP. Embriaguez. Art Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia: Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa. Parágrafo único - Se habitual a embriaguez, o contraventor é internado em casa de custódia e tratamento. 130 Durante quase quatro anos de trabalho como membro do Ministério Público em Itanhomi (MG) era comum o enquadramento de pessoas pobres, negras, de pouca cultura nessas ocorrências pelas polícias. Mas tanto as classes menos abastadas como as mais bebiam muito em Itanhomi. Todavia, a quase totalidade de Termos Circunstanciados de Ocorrências (TCOs) era sobre o grupo acima. Em pelo menos duas oportunidades, tivemos conhecimento de casos de embriaguez escandalosa (um por um parente do então prefeito na rua principal da cidade), e que por um motivo ou outro (ex.: as testemunhas não quererem se envolver), não se transformou em TCO. Esse caso chegou a ser cômico, pois o suposto autor dos fatos chegou a abraçar os policiais militares dessa operação totalmente embriagado durante a ocorrência, sendo que tal fato é notório na cidade e não se transformou em processo criminal. 131 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 2. ed. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, p Teorias macrossociológicas da criminalidade 83

92 zado o mesmo comportamento punível, não é alcançado, todavia, pela ação daquelas instâncias. Portanto, este não é considerado e tratado pela sociedade como delinqüente}^2 O discurso jurídico-penal ficou irremediavelmente desqualificado pela demonstração incontestável de sua falácia, enquanto a criminologia etiológica, complemento teórico sustentador desse discurso, viu-se irreversivelmente desmentida. A parir dessas contribuições teóricas, o sistema penal já não podia permanecer fora dos limites da Criminologia, convertendo-se em seu objeto necessário ao revelar-se como mecanismo reprodutor da realidade crim inai Por isso, afirmamos que as investigações interacionistas e fenomenológicas constituem o golpe deslegitimador mais forte recebido pelo exercício de poder do sistema penal, do qual o discurso jurídico-penal não mais poderá recuperar-se, a não ser fechando-se hermeticamente a qualquer dado de realidade, por menor que seja, isto é, estruturando-se como um delírio social.133 Não interessam, enfim, à perspectiva interacionista as causas da desviação primária, mas só os processos de criminalização secundária, vale dizer, os processos de funcionamento de reação e controle sociais, que são, em última análise, os responsáveis pelo surgimento do desvio como tal.134 Ou seja, para o interacionismo, o delito é apenas um rótulo social derivado do processo de etiquetamento. 132 Neste sentido, o labeling approach tem se ocupado principalmente das reações das instâncias oficiais de controle social, consideradas na sua função, constitutiva em face da criminalidade. Sob o ponto de vista, tem estudado o efeito estigmatizante da atividade da polícia, dos órgãos de acusação pública e dos juizes. BARATTA, Alessandra. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 2. ed. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, p ZAFFARONI, Eugênio Raul. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema penal. 2. ed. Tradução de Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopes da Conceição. Rio de Janeiro: Revan p QUEIROZ, Paulo de Souza. Do Caráter Subsidiário do Direito Penal- Lineamentos para um direito penal mínimo. Belo Horizonte: Del Rey, p Resumo de Criminologia

93 8.6. Teoria crítica, radical ou "nova criminologia" É considerada teoria de conflito. Essa perspectiva criminológica - a mais recente - afirmou-se em plena década de Ela surgiu quase ao mesmo tempo nos Estados Unidos e na Inglaterra, irradiando depois para a generalidade dos países europeus - sobretudo Alemanha, Itália, Holanda, França e Países Nórdicos -, para o Canadá etc.135 O ramo americano da criminologia radical desenvolveu-se sobretudo a partir da escola criminológica de Berkeley (com os Schwendinger e T. Platt). Criou a organização, a Union o f Radical Criminologists, e a sua revista própria, C rim e and Social Justice. Na Inglaterra, a criminologia radical, organizada em torno da N ational D eviance C onference, é encabeçada por I. Taylor, P. Walton e J. Young, autores do mais conhecido tratado de criminologia desse tipo, The N ew Criminology: Fora Social Theory o f D eviance (1973) e organizadores da coletânea Criticai Criminology (1975).136 O Grupo de Berkeley surge como reação aos objetivos básicos da escola de Criminologia que se consubstanciava na formação de técnicos e profissionais treinados para a luta contra o crim e. Tratava-se de um confronto entre os interesses básicos do Estado, em sua política de criação de novos profissionais para o exercício do controle funcional da criminalidade, e os teóricos universitários que queriam a redefinição do próprio objeto da Criminologia.137 A N ational D eviance C onference nasce como uma reação ao pragmatismo da criminologia européia, na busca da visão interdisciplinar associada à sociologia, e com uma postura crítica ao positivismo e às posições reformistas e correcionais da criminologia tradicional.138 O grupo inglês entende que a solução para a redução da criminalidade passa pela extinção da exploração econômica e 135 DIAS, op. cit., p DIAS, op. cit., p SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: RT, p Idem. Teorias macrossoclológieas da criminalidade 85

94 da opressão das classes políticas. Em resumo: a criminologia radical se apresenta expressamente como uma criminologia marxista. As bases dessa linha de pensamento se materializaram na crítica às posturas tradicionais da criminologia do consenso, incapazes de compreender a totalidade do fenômeno criminal. A premissa do pensamento estava indubitavelmente ancorada no pensamento marxista, pois sustentava ser o delito um fenômeno dependente do modo de produção capitalista.139 Todavia, sabemos hoje que até na antiga União Soviética havia crime durante o comunismo. A China comunista (mesmo com abertura) hoje enfrenta com mão de ferro a criminalidade, utilizando a pena de morte com excessivo rigor para o controle da criminalidade do país. Há notícia de 2004 que cerca de 10 mil pessoas são condenadas à morte e executadas anualmente na China. Então, não há como acusar de forma simplista que o capitalismo é o principal gerador da criminalidade. Tanto no comunismo mais denso e fechado da antiga URSS como no comunismo mesclado com a abertura da China, há muita criminalidade também. Nesse contexto, é bastante provável também que a m áfia russa já operasse naquele país na época do comunismo, talvez não com a ousadia de hoje. De qualquer modo, é quando o enfoque macrossociológico se desloca do comportamento desviante para os mecanismos de controle social dele, em especial para o processo de criminalização, que o momento crítico atinge sua maturação na Criminologia, e ela tende a transformar-se de uma teoria da criminalidade em uma teoria crítica e sociológica do sistema penal. De modo que, deixando de lado possíveis diferenciações no seu interior, ela se ocupa hoje em dia, fundamentalmente, da análise dos sistemas penais vigentes.140 A atenção da nova criminologia - da criminologia crítica - se dirigiu principalmente para o processo de criminalização, identificando nele um dos maiores nós teóricos e práticos das relações sociais de desigualdades próprias da sociedade capitalista, e per 139 Ibid, p ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão da Segurança Jurídica - Do controle da violência à violência do controle penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, p Resumo de Criminologia

95 seguindo, como um de seus objetivos principais, estender ao campo do Direito Penal, de modo rigoroso, a crítica do direito desigual.141 Igualmente expressiva foi a ruptura m etodológica e epistem ológica com a criminologia tradicional. Ela significa, desde logo, o abandono do paradigma etiológico-determinista (sobretudo no plano individual) e a substituição de um modelo estático e descontínuo de abordagem do comportamento desviante por um modelo dinâmico e contínuo. Traduz-se, por outro lado, na desvalorização das estatísticas oficiais como instrumento de acesso à realidade do crime, e que por isso colocavam necessariamente aporias insuperáveis dum ponto de vista gnosiológico.142 A criminologia radical é, em grande parte, uma criminologia da criminologia, principalmente a discussão e análise de dois temas: a definição do objeto e do papel da investigação criminológica.143 Nesse sentido, uma das principais demandas da Criminologia radical, conseqüente da sua visão marxista, é a da própria 141 C onstruir uma teoria m aterialista (econôm ico-política) do desvio, dos comportamentos socialmente negativos e da criminalização, e elaborar as linhas de uma política criminal alternativa, de uma política das classes subalternas no setor do desvio: estas são as principais tarefas que incumbem aos representantes da criminologia crítica, que partem de um enfoque materialista e estão convencidos de que só uma análise radical dos mecanismos e das funções reais do sistema penal na sociedade tardo-capitalista pode permitir uma estratégia autônoma e alternativa no setor de controle social do desvio, ou seja, uma política criminal das classes atualmente subordinadas. Somente partindo do ponto de vista dos interesses destas últimas, consideramos ser possível perseguir as finalidades aqui indicadas. BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 2. ed. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, p Todas essas perspectivas criminológicas implicam, ainda, por outro lado, a recusa do monismo cultural que se constituía um pressuposto fundamental da criminologia anterior, prevalentemente uma criminologia de consenso. As normas penais passam a ser vistas numa perspectiva de pluralismo axiológico ou mesmo de conflito, como expressão do domínio de um grupo ou classe. Em resumo, o direito criminal passa agora a ser encarado como um instrumento nas mãos de moral entrepreneurs (Becker) ao serviço dos interesses dos detentores do poder. DIAS, Jorge de Figueiredo: ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia - O homem delinqüente e a sociedade criminógena. 2a reimpressão. Coimbra: Coimbra, p DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia - O homem delinqüente e a sociedade criminógena. 2a reimpressão. Coimbra: Coimbra, p. 59. Teorias macrossociológicas da criminalidade 87

96 redescoberta do problema da definição criminológica do que é um delito. A Criminologia radical recusa o estatuto profissional e político da criminologia tradicional, considerada como um operador tecnocrático a serviço do funcionamento mais eficaz da ordem vigente. O criminólogo radical se recusa a assumir esse papel de tecnocrata; desde logo porque considera o problema criminal insolúvel numa sociedade capitalista; depois, e, sobretudo, porque a aceitação das tarefas tradicionais é em absoluto incompatível com as metas da criminologia radical. Como poderiam os criminólogos propor-se a auxiliar a defesa da sociedade contra o crime, se o seu propósito último é defender o Homem contra esse tipo de sociedade?144 O modelo explicativo da criminologia radical se reconduz aos princípios do marxismo. A criminologia radical distingue entre crimes que são expressão de um sistema intrinsecamente criminoso [v.g., a criminalidade de white-collar, o racismo, a corrupção, o belicismo) e crimes das classes mais desprotegidas. Este, que constitui o verdadeiro problema criminal da sociedade capitalista, nem sempre é encarado com simpatia pelos criminólogos radicais. Na medida em que se traduz num ato individual de revolta, este crime revela uma falta de consciência de classe e representa um dispêndio gratuito de energias que importa canalizar para a revolução.145 A teoria crítica combateu diversos posicionamentos das outras teorias da criminalidade. Esse clima de questionamento da crim inologia da crim inologia propiciou o florescimento, alguns anos depois, de três tendências da Criminologia: o neo-realismo de esquerda, o direito penal mínimo e o abolicionismo criminal. O abolicionismo criminal não encontra grande aceitação na América Latina, e, em especial, no Brasil. Eventualmente encontramos defensores do Direito Penal Mínimo que recusam o rótulo de abolicionistas, mas que agem como tais. O neo-realismo de esquerda (e o seu respectivo movimento de law andorder) e o direito penal mínimo são, talvez, duas das posições ideológicas de maior debate na atual Criminologia. 144 DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia - O homem delinqüente e a sociedade criminógena. 2a reimpressão. Coimbra; Coimbra, p Ibid., p Resumo de Criminologia

97 jp revenção p e n a i no é^âtado <LÒem ocrático de ^LÒireito O Estado possui o monopólio da aplicação da lei penal. Todavia, existem regras constitucionais e legais que limitam e determinam como a lei penal possa ser aplicada. Para tanto, deve o Estado- Administração, nos crimes de ação penal pública, após a produção de uma prova mínima, levar o caso ao Estado-Juiz, para que este se manifeste sobre a aplicação ou não da sanção penal ao caso concreto. Para que tal processo criminal possa ser aberto deve o Estado produzir provas iniciais. Tais provas são necessárias já para o oferecimento de uma acusação formal (a denúncia), pois há claro constrangimento para o cidadão que é processado um oferecimento de denúncia com falta de justa causa. Com a instauração do processo deve o Estado produzir provas para condenação sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. Essas provas devem satisfazer o artigo 155 do Código de Processo Penal (CPP), que, em sua nova redação de 2008, determina que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundam entar sua decisão exclusivam ente nos elem entos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil. Pela leitura do artigo, fica claro que não poderá haver condenação com base exclusiva em elementos informativos produzidos na fase policial. Esse artigo reflete o espírito constitucional de valorizar somente a prova produzida em juízo (e com contraditório) para que uma pessoa possa ser condenada. Ele não diminui a importância do trabalho das polícias, que autoriza 89

98 a proposta da ação penal, mas de forma garantista evita que uma pessoa possa ser condenada sem a produção de prova com contraditório. Tal situação decorre das regras do jogo impostas no Estado Democrático de Direito à própria atuação do Estado. Para Eugênio Raul Zaffaroni, a função do Direito Penal de todo Estado de Direito (da doutrina penal como programadora de um exercício racional do poder jurídico) deve ser a redução e a contenção do poder punitivo dentro dos limites menos irracionais possíveis. Se o Direito Penal não consegue que o poder jurídico assuma esta função, lamentavelmente terá fracassado e com ele o Estado de Direito perecerá. Nesse sentido, o Direito Penal é um apêndice indispensável do Direito Constitucional do Estado de Direito, o qual se encontra sempre em tensão dialética com o Estado de Polícia. O Estado de Direito ideal é o instrumento que orienta o Direito Penal em todo o Estado de Direito, marcando os defeitos que a realidade sempre apresenta e que se estabelecem na comparação do estado de direito histórico com o ideal.146 A atuação do Estado encontra na Constituição Federal e nas leis limitações que impedem que o Estado produza (sem controle) todo o tipo de provas em face dos acusados. O Estado é o primeiro a ter de respeitar, então, essas limitações. Enquanto a Crim inologia Clássica vê o delito como um enfrentamento do delinqüente contra a sociedade, uma luta do bem contra o mal, numa forma reducionista de encarar o problema, a Crim inologia M oderna o encara de forma dinâmica, destacando o papel do delinqüente, da vítima, do crime e do controle social. O crime é visto como um ato com plexo e os custos da reação estatal são também computados. Todo o processo criminal (causas, formas, conseqüências da repressão etc.) é analisado de forma prudente.147 ' 6 ZAFFARONI, Eugênio Raul. O Inimigo no Direito Penal. Tradução de Sérgio Lamarão. Rio de Janeiro: Revan/ICC, 2007, p Neste sentido, defendemos que é totalmente contrária à criminologia mais moderna a política de enfrentamento das polícias contra delinqüentes, com verdadeiras operações de guerra midiáticas, exposição desnecessária da população (em especial, as mais carentes) a todo infortúnio decorrente dessas operações (ex.: balas perdidas) 90 Resumo de Criminologia

99 Dentro desse contexto, a prevenção do delito é um assunto recorrente em todas as esferas do poder público. Prefeitos, governadores e presidentes descobriam que o crime não pode ser controlado apenas nas esferas federal e estadual, é preciso, também, o envolvimento do Município.148 Prevenção de crime é um conceito aberto. Para alguns é dissuadir o delinqüente a não cometer o ato, para outros é mais, importa inclusive na modificação de espaços físicos, novos desenhos arquitetônicos, aumento da iluminação pública com o intuito de dificultar a prática do crime e para um terceiro grupo é apenas o impedimento da reincidência Prevenção primária A prevenção primária é a prevenção genuína. Ela se dirige a toda população, é geral, demorada, com altos custos, mas se sustenta com o passar dos anos ou das administrações. Para Antonio García-Pablos de Molina, os programas de prevenção primária se orientam para as causas mesmas, a raiz do conflito criminal, para neutralizar este antes que o próprio problema se manifeste. Tratam, pois, de criar pressupostos necessários ou de resolver as situações carenciais criminógenas, procurando uma socialização proveitosa e de acordo com os objetivos sociais.149 Nesse sentido, educação, trabalho, socialização, qualidade de vida, bem-estar social são importantes para que os cidadãos possam se munir de repertórios comportamentais que lhes qualifiquem a resolver conflitos sociais sem o uso de violência. A prevenção primária é a mais eficiente, mas possui um grande problema para os administradores públicos, que são e que abusam de confrontos com mortes de policiais e suspeitos, excesso de mortes por resistência etc. O Estado deve agir dentro da legalidade e realizar suas operações com planejamento e respeito aos direitos fundamentais dos acusados. 148 Alguns municípios brasileiros chegam a criar secretarias de segurança pública, com o fito de auxiliar no controle do crime em suas circunscrições. 149 MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant Io Blanch, 1999, p Prevenção da infração penal no Estado Democrático de Direito 91

100 eleitos periodicamente (ex.: de quatro em quatro anos) e cobram resultados imediatos das agências de controle social. Há, então, um permanente conflito entre as medidas de prevenção primária e a cúpula das administrações públicas que exigem resultados rápidos de controle da criminalidade, porquanto a segurança pública no Brasil tem cobrado o seu preço em época de eleições Prevenção secundária A prevenção secundária atua nos locais onde os índices de criminalidade são mais avançados. E uma atuação mais concentrada e corresponde ao chamado ataque cirúrgico do jargão militar. Busca uma ação concentrada e com foco em áreas de maior violência, como comunidades carentes dominadas pelo tráfico, em especial. Para Antonio García-Pablos de Molina, os programas de prevenção secundária atuam mais tarde em termos etiológicos: não quando - nem onde - o conflito criminal se produz ou é gerado, mas quando e onde o mesmo se manifesta, quando e onde se exterioriza. Opera a curto e médio prazo, e se orienta de forma seletiva a concretos e particulares setores da sociedade: aqueles grupos e subgrupos que exibam maior risco de padecer ou protagonizar o problema criminal. A prevenção secundária se plasma em uma política legislativa penal e em ação policial, fortem ente polarizadas pelos interesses de uma prevenção geral. Programas de prevenção policial, de controle dos meios de comunicação, de ordenação urbana e utilização do desenho arquitetônico como instrumento de autoproteção, desenvolvidos em bairros localizados em terrenos mais baixos, são exemplos de prevenção secundária Muitos governadores preferem comprar viaturas policiais a investir em programas de prevenção primária, que, segundo os mesmos, não dá retorno. Há um pensamento no meio político de que a população gosta de ver "a polícia na rua. Isso fica patente com as costumeiras e midiáticas solenidades de entrega de viaturas. Desviam o foco da população, enquanto setores como as perícias forenses no Brasil recebem parcos recursos e impossibilitam a prestação de uma solução definitiva por parte do Estado. 151 MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant Io Blanch, 1999, p Resumo de Criminologia

101 9.3. Prevenção terciária Os programas de prevenção terciária possuem apenas um destinatário: a população carcerária e buscam evitar a reincidência. São programas que atuam muito tardiamente no problema criminal e possuem, salvo raras exceções, elevados níveis de ineficácia. Os programas de prevenção terciária atuam somente quando o mal já se instalou e possui um grande inimigo direto que é o conjunto informal de regras existentes no universo prisional, tanto por parte da população carcerária, como também por parte da Administração Penitenciária. Essas regras não-escritas, orais, altamente punitivas, desproporcionais e injustas buscam criar no detento um estado permanente de angústia e sofrimento, visando atacar o seu eu e imputar sofrimento ao condenado. Os programas de prevenção terciária lutam contra as regras desse universo e contra essa despersonalização do eu, que aflige um grande número de detentos. Através de punições formais e informais, ataques, violações morais e físicas, esse conjunto de regras busca despersonalizar o preso, despi-lo de sua humanidade e transformá-lo em objeto. Essas regras do mundo carcerário, tão bem estudadas por Erving Goffman, nos autorizam a afirmar que o sistema prisional é um mal necessário, mas, de longe, é a coisa mais cruel criada pela humanidade. O indivíduo que supera esse calvário de dor e sofrimento ao fim da pena encontra outro obstáculo para os que freqüentam esses programas. A sociedade não lhe dá emprego. Por mais que o mesmo tenha se qualificado em oficinas nos presídios, o estigma de ex-presidiário lhe impinge uma marca moral e o impede de conseguir um emprego, ou melhores oportunidades sociais Modelos de reação ao crime Há dois modelos mais conhecidos de reação ao crime. Eles são parecidos em alguns pontos e coincidem no posicionamento que o crime deve ser resolvido com a aplicação das penas. Prevenção da Infração penal no Estado Democrático de Direito 93

102 Para Antonio García-Pablos de Molina, o m odelo clássico se polariza em torno da pena, ao rigor e severidade desta e a suposta eficácia preventiva do mecanismo intimidatório. Participa, ademais, de uma imagem estandardizada e quase linear do processo de motivação e deliberação. Para Molina, o m odelo neoclássico se refere à efetividade do impacto dissuasório ou contramotivador, mais ao funcionamento do sistema legal, tal como este é percebido pelo infrator potencial, do que pela severidade abstrata das penas MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant Io Blanch, 1999, p Resumo de Criminologia

103 10 D *.picoó espeubttf ( L r i m i n o í co ^ i a A partir da segunda edição passamos a desenvolver em breves comentários alguns tópicos específicos da disciplina Criminologia, os quais têm sido objeto de um grande número de pesquisas na atualidade. O objetivo desta seção não é esgotar os temas, mas apresentá-los ao leitor com uma linguagem mais simplificada Fenômeno b u lly in g A Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal e, em resumo, busca o seu diagnóstico, prevenção e seu controle. Para tanto, ela utiliza uma abordagem interdisciplinar e se vale de conhecimento específico de outros setores como a sociologia, psicologia, biologia, psiquiatria etc., para lançar um novo foco, com a busca de uma visão integrada sobre o fenômeno criminal. Toda vez que a Criminologia tentou identificar um fator isolado como causador da criminalidade ela cometeu um grande erro. Hoje, o que sabemos é que a criminalidade tem inúmeras motivações e fatores (uns internos e outros externos), e que de uma forma ou de outra concorrem para a prática de delitos. A questão da infância e da juventude é ponto fulcral para compreendermos alguns dos (inúmeros) fatores que podem influenciar efetivamente a prática dos delitos. O que ocorre em nossa infância vai refletir em nossa vida adulta. A Criminologia

104 tem buscado junto á Psicologia153 entender como esses fatores influenciam o ser humano em desenvolvimento, propiciando situações que o predisponham ao envolvimento futuro com crimes, em especial os praticados com violência ou grave ameaça. Mas o que o fenômeno bullying pode ter com relação direta à violência e a criminalidade no Brasil. Pouco estudado ainda no Brasil e quase que totalmente desconhecido pela comunidade jurídica, o bullying começa a ganhar espaço nos estudos desenvolvidos por pedagogos e psicólogos que lidam com o meio escolar. Segundo Cleo Fante, o bullying é uma palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre a violência escolar.154 Não se tratam aqui de pequenas brincadeiras próprias da. infância, mas de casos de violência, em muitos casos de forma velada praticadas por agressores contra vítimas. Elas podem ocorrer dentro de salas de aulas, corredores, pátios de escolas ou até nos arredores. Elas são, na maioria das vezes, realizadas de forma repetitiva e com desequilíbrio de poder. Essas agressões morais ou até físicas podem causar danos psicológicos para a criança e o adolescente facilitando posteriormente a entrada dos mesmos no mundo do crime. Para a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de bullying, as ações que podem estar presentes no bullying são: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, 153 CALHAU, Lélio Braga. Criminalidade, infância e Psicologia. Jornal Hoje em Dia. Belo Horizonte: Minas Gerais, , p. 2. Também disponível no site www. novacriminolooia.com.hr 154 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Verus, p Resumo de Criminologia

105 dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences.155 É comum entre os alunos de uma classe a existência de diversos conflitos e tensões. Há ainda inúmeras outras interações agressivas, às vezes como diversão ou como forma de autoafirmação e para se comprovarem as relações de força que os alunos estabelecem entre si. Caso exista na classe um agressor em potencial ou vários deles, seu comportamento agressivo influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas, veementes e violentas. Devido ao tem peram ento irritadiço do agressor e à sua acentuada necessidade de ameaçar, dominar e subjugar os outros de forma impositiva pelo uso de força, as adversidades e as frustrações menores que surgem acabam por provocar reações intensas. As vezes, essas reações assumem caráter agressivo em razão da tendência do agressor a empregar meios violentos nas situações de conflitos. Em virtude de sua força física, seus ataques violentos mostram-se desagradáveis e dolorosos para os demais. Geralmente o agressor prefere atacar os mais frágeis, pois tem certeza de dominá-los, porém não teme brigar com outros alunos da classe: sente-se forte e confiante.156 Quanto aos demais alunos, acabam se tomando testemunhas, vítimas e co-agressores dessa cruel dinâmica. Se não participarem do bullying, podem ser as próximas vítimas. Não denunciam e se acostumam com essa prática violenta, podendo até encará-la como normal dentro do ambiente escolar (e um dia até no ambiente de trabalho). O bullying acaba criando um ciclo vicioso, arrastando os envolvidos cada vez mais para o seu centro. Por que os adultos, que nunca foram vítimas de atos de violência, como assalto ou furto, sentem uma grande sensação de insegurança nos espaços públicos? Simples: porque acreditam que nesses locais tudo pode acontecer. A vida em comunidade 155 ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência. Disponível na Internet: httn:// htm#oauee. 156 FANTE, Cteo, op. cit., p Tópicos especiais de Criminologia 9?

106 está comprometida, e cada um faz o que julga o melhor para si sem considerar o bem comum.157 É esse clima que, de um modo geral, reina entre crianças e jovens: o de que ser um bom garoto ou aluno correto não é um bem em si. Além disso, as crianças e os jovens também convivem com essa sensação de insegurança de que, na escola, tudo pode acontecer. Muitos criam estratégias para evitar serem vistos como frágeis e se tornarem alvo de zombarias. Tais estratégias podem se transformar em atos de incivilidade.158 O sofrimento emocional e moral (até físico eventualmente) da vítima é claro. E comum que a vítima mantenha a lei do silêncio, pois, na maioria das vezes, as agressões são apenas morais e não deixam vestígios. O fenômeno bullying, apesar de ser antigo, deve ocorrer com mais regularidade do que imaginamos. Será que um conselheiro tutelar, um assistente social, membro do Ministério Público ou Poder Judiciário saberá lidar de forma efetiva e adequada com essa situação? Estamos preparados para dar uma resposta efetiva para reduzir o bullying? O fenômeno b u llying estimula a delinqüência e induz a outras formas de violência explícita, produzindo, em larga escala, cidadãos estressados, deprimidos, com baixa autoestima, capacidade de auto-aceitação e resistência à frustração, reduzida capacidade de auto-afirmação e de auto-expressão, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologias de estresse, de doenças psicossomáticas, de transtornos mentais e de psicopatologias graves. Tem, como agravante, interferência drástica no processo de aprendizagem e de socialização, que estende suas conseqüências para o resto da vida podendo chegar a um desfecho trágico.159 Em situações de ataques mais violentos, contínuos e que causem graves danos emocionais, a vítima pode até cometer suicídio ou praticar atos de extrema violência. 157SAYÃO, Rosely. Bullying e incivilidade. Folha de São Paulo. Caderno Equilíbrio, , p Idem. 159 PEDRA, José Augusto em prefácio da obra constante na nota 3 de Cleo Fante, p Resumo de Criminologia

107 O profissional do Direito (juiz de direito, promotor de justiça, advogado ou delegado de polícia), ao se deparar com um problema de bullyíng, deve estar aberto a todas as alternativas possíveis que possam ser colocadas para a solução do problema. Não é o princípio de autoridade por si só, que poderá acabar com essas ocorrências num determinado ambiente escolar. Mente aberta para todas as possibilidades de solução do conflito e interação com os alunos do meio escolar. Sem a participação efetiva dos estudantes na reconstrução da situação problemática, a resposta imposta pode ser temporária e não resolver o problema das vítimas. Uma resposta imposta do meio externo tende a não ser aceita pelos estudantes em médio prazo. Para romper aos poucos com o ciclo vicioso, cada parte deve examinar sua própria contribuição involuntária para o padrão e fazer algo diferente que tenha mais chances de reduzir o problema exteriorizado. E necessário que abandonem essa postura de culpar uma à outra e caminhem em direção a uma compreensão mais profunda do problema que há entre elas.160 Há necessidade de se tratar com a direção da escola a capacitação dos funcionários e professores para lidar com o tema e buscar manter o máximo possível um diálogo aberto e franco com as crianças e adolescentes envolvidos, com o intuito de se procurar uma solução que seja aceita pelo grupo e que seja internalizada e duradoura para aquele ambiente escolar. Todos têm receio de que o filho seja alvo de humilhação, exclusão ou brincadeiras de mau gosto por parte dos colegas, para citar exemplos da prática, mas poucos são os que se preocupam em preparar o filho para que ele não seja autor dessas atividades.161 É preciso buscar um diagnóstico do b u llyín g naquela realidade escolar local. O esclarecimento pode, em muitos casos, facilitar o controle dessas situações. Para que isso possa ser conseguido, é necessário que haja um diálogo franco entre os envolvidos. Isso evitará que os envolvidos tenham uma mensagem 160 BEAUDOIN, Marie-Nathalie; TAYLOR, Maureen. Bullyíng e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Tradução de Sandra Regina Netz. Porto Alegre: Artmed, p SAYÃO, Rosely. Bullying' e incivilidade". Folha de São Paulo. Caderno Equilíbrio, , p. 12. Tópicos especiais de Criminologia 99

108 da sociedade que os problemas devem ser resolvidos com violência ou com a anulação moral dos mais fracos. Há ainda o problema da formação de grupos até de gangues pela ação do agressor, que podem futuramente partir para a prática de atos de delinqüência. A atuação preventiva nesses casos é a melhor saída. Devemos coibir essas práticas e propagar, em vez da violência, a tolerância e a solidariedade. Agindo assim contribuiremos para reduzir a prática futura de crimes violentos decorrentes das situações de bullying Assédio moral e s t a l k in g Podemos definir assédio m o ra l como comportamentos abusivos, que podem ser praticados com gestos, palavras, atos (comissivos ou omissivos), que, praticados de forma reiterada levam à debilidade física ou psíquica de uma pessoa. Ao longo da vida há encontros estimulantes, que nos incitam a dar o melhor de nós, mas há igualmente encontros que nos minam e podem terminar nos aniquilando. Um indivíduo pode conseguir destruir outro por um processo de contínuo e atormentado assédio moral. Pode mesmo acontecer que o ardor furioso dessa luta acabe em verdadeiro assassinato psíquico. Todos nós já fomos testemunhas de ataques perversos em um nível ou outro, seja entre um casal, dentro de famílias, dentro de empresas, ou mesmo na vida política e social. No entanto, nossa sociedade mostra-se cega diante dessa forma de violência indireta. A pretexto de tolerância, tornamo-nos complacentes.162 O assédio moral é um tema debatido por vários ramos do Direito como o Civil, Penal, do Trabalho, entre outros. Essas microagressões podem acontecer em qualquer ambiente, como: trabalho, escola, vida familiar etc., e não são fáceis de serem provadas. No geral, as ações são analisadas de forma específica pelas pessoas, sendo que é o co n texto que deve ser analisado. A Lei Federal /06 (Lei Maria da Penha) trouxe, nesse sentido, uma importante contribuição, quando previu a punição da 162 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Tradução de Maria Helena Kuhner. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, p. 9. ÍOO Resumo de Criminologia

109 violência psicológica. Segundo o art. 5- da referida lei, configura violência dom éstica e fam iliar contra a m u lher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.163 Se o marido, de forma repetida, afirma todo dia à sua esposa que ela não presta para nada", ele vai causar um dano psicológico à mesma. Caso a relação conjugal não possa ser restaurada, com um tratamento de respeito para os envolvidos e sua família, o caminho natural é a separação. Mas, alguns, por diversos motivos, optam por não se separarem e acabam partindo para essas agressões verbais reiteradas, que acabam causando danos psicológicos a todos os envolvidos (inclusive aos filhos).,sj A rt 7o da Lei federal /06. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Tópicos especiais de Criminologia 101

110 Essas agressões psicológicas e morais passaram a ser definidas pela Lei Maria da Penha e configuram assédio moral, e de certa forma expressam casos de violência doméstica, punidos na forma da referida lei. Damásio de Jesus cita uma modalidade de assédio moral denominado stalking. Podemos dizer que assédio moral é o gênero e stalkingum a de suas espécies. O assédio moral pode configurar uma infração criminal ou não; já o stalking detém um juízo de reprovabilidade mais intenso e sempre configurará uma infração criminal. Segundo Damásio de Jesus, o stalking é uma forma de violência na qual o sujeito ativo invade a esfera de privacidade da vítima, repetindo incessantemente a mesma ação por maneiras e atos variados, empregando táticas e meios diversos: ligações nos telefones celular, residencial ou comercial, mensagens amorosas, telegramas, ramalhetes de flores, presentes não solicitados, assinaturas de revistas indesejáveis, recados em faixas afixadas nas proximidades da residência da vítima, permanência na saída da escola ou do trabalho, espera de sua passagem por determinado lugar, freqüência no mesmo local de lazer, em supermercados etc. O stalker, às vezes, espalha boatos sobre a conduta profissional ou moral da vítima, divulga que é portadora de um mal grave, que foi demitida do emprego, que fugiu, que está vendendo sua residência, que perdeu dinheiro no jogo, que é procurada pela Polícia etc. Vai ganhando, com isso, poder psicológico sobre o sujeito passivo, como se fosse o controlador geral dos seus movimentos.164 Segundo Damásio de Jesus, esse comportamento possui determinadas peculiaridades: 1a) invasão de privacidade da vítima; 2a) repetição de atos; 3a) dano à integridade psicológica e emocional do sujeito passivo; 4a) lesão à sua reputação; 5a) alteração do seu modo de vida; 6a) restrição à sua liberdade de locomoção.165 Leciona Jorge Trindade que é bastante difícil delimitar os comportamentos que configuram o fenômeno do stalking. Na 164 JESUS, Damásio de. Stalking. São Paulo: Complexo Jurídico Damásio de Jesus, maio Disponível em: < 165 JESUS, op. cit. ioa Resumo de Criminologia

111 realidade, trata-se de uma constelação de condutas que podem ser muito diversificadas, mas envolvem sempre uma intrusão persistente e repetida através da qual uma pessoa procura se impor à outra, mediante contatos indesejados, às vezes ameaçadores, gerando insegurança, constrangimentos e medo na vítima. Em decorrência dessa invasão na sua privacidade, a vítima também inicia um conjunto de comportamentos evitativos, tais como trocar o número do telefone, alterar a rotina diária, os horários, os caminhos e os percursos que costumava fazer, deixar avisos no trabalho ou em casa, ou aumentar os mecanismo de segurança e proteção pessoal, podendo transitar da evitação para a negociação e mesmo para o confronto. A procura de recursos por parte da vítima muitas vezes inicia na família, depois se estende para profissionais da área jurídica e da saúde, até chegar ao registro policial e à tomada de providências judiciais por intermédio de processo, geralmente quando os outros meios já se demonstraram insuficientes para fazer cessar o implacável comportamento perseguidor.166 Regra geral, não existindo outras peculiaridades, o stalking, também no entendimento de Damásio de Jesus, configura a contravenção penal do artigo do Decreto-lei 3.688/41 (Lei de Contravenções Penais). Mas o stalkingx>oà& estar acompanhado de outros crimes mais graves. E o caso concreto que vai apontar a melhor solução jurídica para o caso. Recentemente, atuei num processo criminal em face de um stalker. Ele havia tentado matar sua ex-namorada no ano de 2002 por rompimento da relação amorosa por parte dela. Não satisfeito com o resultado, durante muitos meses passou a persegui-la pela via pública, espalhava boatos contra a vítima, permanecia insistentemente na saída de seu trabalho, provocava uma série de outros constrangimentos, ameaçava de morte e a agredia também 166 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 3. ed. Porto Alegre: 2008, p , p Art. 65 da Lei de Contravenções Penais. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqüilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena - prisão simples, de 15 dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. Tópicos especiais de Criminologia 103

112 fisicamente. Tinha um verdadeiro sentimento de posse em relação à vítima. Fomos procurados pelo advogado da vítima, que felizmente havia coletado provas (cópias de inúmeros boletins de ocorrência, fotografias, bilhetes ameaçadores etc.) e conseguimos provar que a vítima corria risco concreto de vida, bem como que o sta/ker a ameaçava insistentemente para não prestar depoimento no plenário do Tribunal do Júri Justiça restaurativa Uma das boas novidades que surgiu no contexto mundial nos últimos anos para auxiliar no controle da violência é o modelo da Justiça restaurativa. Adotada com sucesso na Inglaterra, Austrália, Canadá, África do Sul e Colômbia, a Justiça restaurativa surgiu há mais de dez anos na Nova Zelândia. Inspirada nos mecanismos de solução de litígios dos aborígines maoris, seu objetivo é reduzir as taxas de reincidência entre criminosos jovens, levando-os a assumir a responsabilidade por sua conduta anti-social, a compreender as conseqüências materiais e psicológicas de seus delitos para as vítimas e a reparar os danos a elas causados. Em Bogotá, uma das cidades mais violentas da América Latina, desde que essa experiência foi posta em prática a taxa de homicídios caiu 30%.168 No modelo de Justiça restaurativa, o infrator, a vítima e a comunidade atuam ativamente na solução do conflito. Não é a punição como retribuição pura da sociedade que prevalece, mas a mediação, a resolução efetiva do conflito através da mediação vítima-ofensor. A idéia da Justiça restaurativa é substituir o castigo pela conscientização, permitir que a rigidez processual dê lugar ao diálogo e à mediação e estimular o Poder Público, empresas, escolas e 168 Jornal O Estado de S. Paulo, editorial, Resumo de Criminologia

113 igrejas a agir em conjunto, auxiliando na consecução de acordos de bom comportamento com autores de crimes como lesão corporal e pequenos furtos. Como esses delitos costumam ser cometidos na comunidade onde seus autores moram, o mediador judicial, com o apoio da polícia e de órgãos municipais, procura criar condições mínimas de entendimento entre as partes. Os juizes não têm participação direta nas reuniões. Ao contrário de um magistrado tradicional, que está preso aos autos e é obrigado a aplicar a letra fria da lei, o mediador dispõe de ampla flexibilidade e trabalha com a preocupação de garantir a convivência futura na comunidade. Por isso, além de um perfil pacificador, vocação para o diálogo e paciência, ele precisa ter familiaridade com o nível cultural da população local, falar a mesma linguagem e ser respeitado por todos os envolvidos no caso.169 Alguns projetos de Justiça restaurativa experimentais começam a ser desenvolvidos no Brasil. Em alguns crimes (em especial, os crim es violentos, com o o homicídio) sentimos uma certa dificuldade de aplicação do modelo, mas, nos crimes de pequeno potencial ofensivo e os crimes de média gravidade, a medida pode ser salutar. Todavia, o modelo, a meu ver, é bem promissor. Pedro Scuro Neto leciona que a Justiça restaurativa não é uma alternativa extra-legal ao ordenamento jurídico; no sentido técnico, constitui um paradigma de meio alcance, uma forma padronizada de resolução de conflitos, influência estabilizadora cujo objetivo é restabelecer a confiança da sociedade nas suas instituições políticas e jurídicas. Representa, no entanto, uma promessa de mudança no sistema de justiça, visando de início determinadas ordens de conflitos. Projetos de natureza restaurativa contribuem de modo sistemático para reparar e reconstruir relacionamentos; engendram mudanças no sistema de justiça, tornando-o mais efetivo e adequado na redução do temor 169 Jornal O Estado de S. Pauto, editorial, Tópicos especiais de Criminologia 105

114 de crime ou de insegurança, de violência, desordem, criminalidade e seus custos econômicos e sociais.170 Leonardo Sica entende que a mediação penal é compatível com o ordenamento jurídico pátrio e pode encontrar lugar na racionalidade penal. Também é recomendável ao nosso contexto social e tem potencialidade para atingir os objetivos de integração social, preservação da liberdade e ampliação dos espaços democráticos, diminuição do caráter aflitivo da resposta penal, superação da filosofia do castigo e restauração e/ou manutenção da paz jurídica, desde que inserida em um novo paradigma, a Justiça restaurativa Pena de morte Em nosso entendimento, a pena de morte é injusta, inútil, cara para a sociedade civil e, se adotada no Brasil, provavelmente somente seria aplicada na população já estigmatizada pelo nosso sistema criminal. A pena de morte não se fundamenta em padrões de racionalidade. E vingança pura, ou seja, retribuição sem razão. Não há comprovação científica que a adoção dessa espécie de condenação alcance o resultado pretendido de se reduzir a criminalidade. Sabe-se concretamente apenas que a mesma inibe a reincidência, mas o preço pago pela sociedade civil do país que a adota é muito alto.172 Diversas abordagens demonstram como o assunto da adoção da pena de morte é de muita controvérsia para filósofos, juristas, sociólogos e políticos. Para Bittar e Almeida, na perspectiva dogmática, trata-se de uma matéria de Direito Penal, sujeita a condições legais e a condições constitucionais (art. 5fi, CF de 1988: Não haverá pena de morte salvo em casos de guerra declarada... ), para a qual se pode atribuir uma resposta definitiva, ou relativamente definitiva, 170 SCURO NETO, Pedro. Movimento restaurativo e justiça do século XXI. Disponível em: 171SICA, Leonardo. Justiça Restaurativa e Mediação Penal: o novo modelo da justiça criminal e de gestão do crime. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p Outro argumento forte para a não adoção da pena de morte é que não existe comprovação científica de que a mesma alcança resultados concretos e positivos para a sociedade civil. 106 Resumo de Criminologia

115 de acordo com a legislação positiva e a necessidade de solução de problemas práticos (sim, existe pena de morte e pode ser aplicada/não, não existe pena de morte e não pode ser aplicada); da perspectiva zetética, levantar-se-ão os fundamentos da pena de morte, verificando-se a possibilidade de exercício do direito de punir sobre a vida do cidadão, passando-se aos fundamentos dos direitos humanos e aos limites do exercício do próprio poder do Estado de tirar a vida dos cidadãos.173 Para Luiz Flávio Borges D Urso é preciso ter certa cautela, porque a pena de morte é tema de apelo fácil à emoção. Quando a sociedade está comovida, quando a emoção social está de alguma forma manipulada ou estimulada, verificamos que a pena de morte ganha campo, adeptos, simpatizantes e defensores ferrenhos. Se fizéssemos um plebiscito para que o povo decidisse, se teríamos ou não, no futuro no Brasil, a pena de morte, diante do impacto da notícia de algum eventual crime bárbaro, certamente o resultado do plebiscito seria favorável à implantação da pena de morte.174 Segundo o jornal mineiro H oje em Dia, de , 52% dos belo-horizontinos são contra a pena de morte, índice sete pontos percentuais acima dos que são favoráveis à pena capital, ou seja, 45%. Os dados constam de pesquisa quantitativa realizada nos dias 30 e 31 de agosto e 12 de setembro pelo Instituto Olhar, Pesquisa e Informação Estratégica, por encomenda do Instituto Horizontes. A pesquisa revela que existe uma maior resistência à pena de morte junto aos eleitores com o curso superior, enquanto a variável sexo praticamente não provoca variação de opinião sobre a questão. De acordo com a pesquisa, elaborada com base em 625 questionários na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMHB), dos quais 351 na Capital, com uma margem de erro de 4 pontos percentuais para o conjunto da RMBH, os mais ricos, com mais de dez salários mínimos de renda familiar, são os mais 173 BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do Direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p D'URSO, Luiz Flávio Borges. Pena de morte - o erro anunciado. Disponível na internet em inoloaia.com.br/artinos/leiam ais/default. asp?id= Tópicos especiais de Criminologia 107

116 favoráveis à pena de morte. Nesta faixa de renda, 50,8% são a favor da pena de morte, contra 44,1%. A situação se inverte na faixa de até dois salários mínimos: 41,5% a favor e 51,8% contra.175 Registra o sociólogo Luiz Eduardo Soares que 48,3% dos cariocas são a favor e 45,4% são contra a pena de morte (dados do instituto GPP). Segundo Soares: O resultado é preocupante, pois sabemos que a insegurança pública produz danos e tragédias e uma delas é a demanda por ordem autoritária alimentada pelo medo. Essa pesquisa indica que esses cariocas, que defendem a pena de morte, estão pensando nisso inspirados pelo medo. Por outro lado, esse quadro pode ser entendido a partir de uma razão mais complexa, uma tradução da situação emocional que vivemos e é compreensível. Mas por meio de um debate sério, que se demonstrassem os riscos e os malefícios da pena de morte, esclareceríamos que ela só serve para promover mais injustiça e que não resolve o problema da violência, fato comprovado em 175 Quando o quesito é escolaridade, a maioria das pessoas ouvidas e que possui nível superior ou superior incompleto é contra (61,4%) a pena de morte; 37,1% são favoráveis. A situação se inverte quando o nível de escolaridade é o primário. Neste caso, 50,5% das pessoas ouvidas são favoráveis à pena de morte, enquanto 40,2% são contrárias. As pessoas que não trabalham - aí incluídas as donas de casa, estudantes e aposentados - são as mais contrárias à pena de morte (52,6%). Entre os desempregados, 50% são contra a pena de morte e 45,7%, a favor. Entre os trabalhadores, 48,7% são a favor e 48,2% contra a pena de morte. Quanto ao sexo, 49,7% das mulheres são contra a pena de morte e 46,3%, a favor. No caso dos homens, 49,5% são contra e 46,6% a favor da pena de morte. Pela pesquisa, o perfil médio do morador da Região Metropolitana de Belo Horizonte mostra que a população é predominantemente jovem, já que 80% têm menos de 40 anos. A escolaridade média também é baixa - 51% são analfabetos ou só completaram o ensino fundamental. Do total, 11% têm curso superior completo ou incompleto. No que se refere à renda da população, constata-se que 72% das famílias vivem com menos de cinco salários mínimos por mês. Existe, conforme o diretor do Instituto Olhar, Rodrigo Mendes Ribeiro, uma elite, que representa cerca de 10% da população, que vive com mais de dez salários por mês. A taxa de desemprego, projetada sobre a população economicamente ativa, é de 15%. Jornal Hoje em Dia, Disponível na internet: ta= 1028&anoDeso=?003, [ ]. 108 Resumo de Criminologia

117 muitos países em que foi adotada.176 A pena de morte não resolve em quase nada o problema da segurança pública. Se resolvesse, nos Estados Unidos ou na China, não haveria crime. Pelo contrário, são países onde ocorrem muitos crimes violentos. A notícia boa sobre o tema é que a pena de morte anda perdendo sua força nos Estados Unidos da América. Parece que a razão voltou a dominar a discussão sobre o assunto e há um ligeiro retrocesso nas execuções públicas derivadas de sentenças condenatórias de aplicação da pena de morte. Segundo o site C onsultor Jurídico, as sentenças de morte caíram a 114 casos em Em 2005, foram 128, um número ainda mais baixo do que aquele de 137 casos registrados em 1976, ano em que a Suprema Corte reinstalou a pena de morte nos EUA. O recorde ficou com o ano de 1996, com 317 penas de morte decretadas. Em 2006, foram levadas a cabo 53 execuções nos EUA, 60 casos a menos que em O recorde foi o ano de 1999, com 98 execuções. As causas apontadas por promotores, advogados e juizes que criticam a pena de morte são: o surgimento de mais leis estaduais a determinar como pena máxima a prisão perpétua sem direito a liberdade condicional ou apelações, uma queda generalizada nos índices de criminalidade e a relutância de várias autoridades em levar a pena de morte à frente, dados os altos custos de um processo deste. Mas, o motivo principal seria o temor de erros judiciais. Desde 1976, 123 pessoas saíram da fila de execuções após terem sido decretadas inocentes, 14 delas mediante teste de DNA.177 No Brasil, apesar de grande parte da população possuir simpatia pela adoção da referida medida, o que se demonstrou acima, há uma impossibilidade da mesma ser adotada em face de ferir as cláusulas pétreas, artigo 60, 4a, da Constituição Federal. O que não impede que numa assembléia nacional constituinte tal cláusula pudesse ser adotada, apesar de existirem opiniões 176 Disponível na internet: tema=16. [ ], 177 Consultor Jurídico. Disponível na Internet: text/ [ ], Tópicos especiais de Criminologia 109

118 contrárias. A nosso ver a adoção da pena de morte só poderia ser feita por uma nova Assembléia Nacional Constituinte. E que a pena de morte é vedada em sede de cláusulas pétreas. Não pode ser instituída por emenda. Apenas o p o d er co n stituin te originário tem força para tal adoção. Fato é que a adoção de tal medida no Brasil seria uma temeridade. Paulo Daher Rodrigues defende que um outro fator que dificulta a adoção da pena de morte é que lamentavelmente ainda no país ocorrem de forma não tão corriqueira (muitos causados pela Polícia ou Ministério Público) os chamados erros judiciários (falo dos dois tipos: um quando o réu é culpado e é absolvido ao final e outro quando o é inocente e é condenado). Se o réu é culpado e é absolvido ao final, a sociedade civil fica no prejuízo, mas e quando o inocente é condenado? Depois que foi executado não dá para reparar o erro. E como fica isso? Nesse sentido, registra Daher que a irrevogabilidade da pena de morte transforma o erro humano em erro desumano. Uma punição irreversível, mesmo que pudesse ser lógica e justificada moralmente, pressupõe um tribunal infalível e uma lei consciente.178 A adoção da pena de morte não logrou o êxito de acabar (nem seria possível) ou reduzir a criminalidade onde foi adotada. Concluindo, apesar do alto índice de aprovação junto à população, somos contrários à adoção da pena de morte, por entendermos que a mesma não trará resultados efetivos para a sociedade e é grande o risco de serem executados inocentes em caso da ocorrência de erros judiciários lato sensu (Poder Judiciário, MP, Polícia e Advocacia) em processos criminais Depoimento sem dano Uma criança de pequena idade (três a quatro anos) presencia um assassinato dentro de seu apartamento. Qual é a segurança efetiva de se decidir um processo levando em conta o depoimento dessa criança? 178 RODRIGUES, Paulo Daher. Pena de morte. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p Resumo de Criminologia

119 Uma nova possibilidade que se apresenta para a Justiça Criminal agregando confiabilidade é o que a doutrina chama de depoim ento sem dano. Para Jorge Trindade, todos aqueles que lidam com crianças e adolescentes vítimas de violência física, psicológica, de negligência ou abuso sexual reconhecem que o sistema de oitiva tradicionalmente utilizado deixa muito a desejar.179 Além da questão da segurança da prova, pesa muito em desfavor da oitiva normal de uma criança durante um processo penal o sofrimento que tal relembrança em sua memória pode lhe trazer, o que configuraria um caso típico de vitim ização secundária (um sofrimento adicional) ao do ato direto de ser vítima de um crime.180 A criança não é ouvida dentro da sala de audiência, mas num ambiente menos agressivo com o uso da Câmara de G esel (uma sala onde há um falso espelho que permite que juiz, promotor, advogados e serventuários possam acompanhar todos os atos na sala ao lado sem serem vistos]. Segundo o magistrado José Antonio Daltoé Cezar, na ocasião dos depoimentos das crianças e dos adolescentes vítimas de abuso sexual, retira-se do ambiente formal das salas de audiências e são transferidas para sala especialmente projetada para tal fim, devendo estar devidamente ligada por vídeo, e áudio, ao local onde se encontram o magistrado, promotor de justiça, advogado, réu e serventuários da justiça, os quais podem interagir durante o depoimento.181 Assim, é possível realizar esses depoimentos de forma mais tranqüila e profissional em ambiente mais receptivo, com a intervenção de técnicos previamente preparados para tal tarefa, evitando, dessa forma, perguntas inapropriadas, impertinentes, 179 TRINDADE, Jorge. Prefácio à obra de Cezar, José Antonio Daltoé. Depoimento sem dano: uma alternativa para inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p O sofrimento direto é chamado de vitimização primária. 181CEZAR, José Antonio Daltoé. Depoimento sem dano: uma alternativa para inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 61. Tópicos especiais de Criminologia

120 agressivas e desconectadas não só do objeto do processo, mas principalmente das condições pessoais do depoente.182 Após o depoimento, que é gravado na memória de um computador, sua íntegra, além de ser degravada e juntada aos autos, é copiada em um disco e juntada na contracapa do processo. Tal prática permite que não só as partes e magistrado tenham a possibilidade de revê-lo a qualquer tempo para afastar eventuais dúvidas que possuam, mas também que os julgadores de segundo grau, em havendo recurso da sentença, tenham acesso às emoções presentes nas declarações, as quais nunca são passíveis de serem transferidas para o papel.183 A técnica é interessante e promissora, embora encontre algumas resistências, notadamente, entre alguns profissionais da Psicologia. Esperamos que o debate acadêmico e profissional possa contribuir para solucionar eventuais impasses para a sua aplicação. 182 CEZAR, José Antonio Daltoé, op. cit., p Op. cit. 112 Resumo de Criminologia

121 11 j^inaió O termo Criminologia deriva do latim crirnen (crime, delito) e do grego logo (tratado), sendo Topinard, em 1879, o primeiro autor a utilizar esse termo, que só adquire reconhecimento oficial e chega a ser aceito internacionalmente graças à obra Criminologia (1885), de Garofalo. A Criminologia é a ciência que, utilizando o método empírico e interdisciplinar, tem como objeto o estudo do delito, do delinqüente, da vítima e do controle social. Segundo a doutrina majoritária, é uma ciência autônoma, e não apenas uma disciplina. Adota uma abordagem interdisciplinar. Cabe ao criminólogo adaptar as eventuais incongruências decorrentes dos outros saberes parciais criminológicos, utilizando a Criminologia com o instância superior, para harmonizar as complexas fontes do saber criminológico derivadas dos modelos biológicos, sociológicos e psicológicos. O método de trabalho utilizado pela Criminologia é o empírico. Busca-se analisar e, através da observação, conhecer o processo, utilizando-se da indução para depois estabelecer as suas regras. Uma das principais preocupações da moderna Criminologia diz respeito à qualidade da resposta ao fenômeno criminal. O estudo dos antecedentes históricos da Criminologia propicia uma análise mais íntim a do desenvolvimento do pensamento criminológico e das estruturas das principais teorias macrossociológicas. Esse grupo de teorias se divide basicamente em duas vertentes: consenso e conflito. 113

122 Para as teorias de consenso a sociedade é resultado do compartilhamento dos objetivos comuns de seus membros. Eles aceitam as regras vigentes e a finalidade social é atingida quando há o funcionamento perfeito das instituições. Para as teorias de conflito, os indivíduos não compartilham dos mesmos interesses e admite-se que a coesão e a ordem social são baseadas na força. Para os adeptos da teoria do conflito, o controle social institucionalizado é utilizado para garantia do poder vigente. São consideradas teorias de consenso: escola de Chicago, associação diferencial, anomia e subcultura delinqüente. São classificadas como conflitivas: o labelling e a teoria crítica Temas de extrema relevância para o controle do crime têm sido objeto de recentes estudos criminológicos como: bullying, assédio moral e stalking, Justiça restaurativa, entre outros, os quais podem contribuir efetivamente para a melhor compreensão do fenômeno criminal. 114 Resumo de Criminologia

123 Exercícios de fixação/questões de concurso 1. Delegado de Polícia SP - DP 01/2008. Dentre os modelos de reação ao crime destaca-se aquele que procura restabelecer ao máximo possível o status quo ante, ou seja, valoriza a reeducação do infrator, a situação da vítima e o conjunto social afetado pelo delito, impondo sua revigoração com a reparação do dano suportado. Nesse caso, fala-se em a) modelo dissuasório b) modelo ressocializador c) modelo integrador d) modelo punitivo e) modelo sociológico Resposta: A comissão de concurso informou: c. 2. Delegado de Polícia SP - DP 01/2008. Dentre os fatores condicionantes da criminalidade, no aspecto psicológico, alcança projeção, hoje em dia, nas favelas, um modelo consciente ou inconsciente, com o qual o indivíduo gosta de se identificar, sendo atraente o comportamento do bandido, pois é valente, tem dinheiro e prestígio na comunidade. A esse comportamento dá-se o nome de a) carência afetiva b) ego abúlico c) insensibilidade moral d) mimetismo e) telurismo Resposta: A comissão de concurso informou: d.

124 3. MP-SC - Promotor de Justiça I - O Código de Hamurabi, concebido na Babilônia entre a ac e na atualidade pertencente ao acervo do Museu do Louvre em Paris, não continha disposições penais em sua composição. II - Segundo a Lei Térmica da Criminalidade de Quetelet, fatores físicos, climáticos e geográficos podem influenciar no comportamento criminoso. III -Entende-se por Cifra Negra da criminalidade, o conjunto de crimes cuja violência produz elevada repercussão social. IV - Seguidor da Antropologia Criminal, Lombroso entendia que havia um tipo humano irresistivelmente levado ao crime por sua própria constituição, de um verdadeiro criminoso nato. V - Em sua obra Dos Delitos e das Penas, escrita por volta de 1765, Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, defendeu uma legislação penal rigorosa, aprovando a prática da tortura e da pena de morte. a) ( ) apenas I, III e V estão corretos. b) ( ) apenas II e IV estão corretos. c) ( ) apenas IV e V estão corretos. d) ( ) apenas II e III estão corretos. e) ( ) apenas III, IV e V estão corretos. Resposta: A comissão de concurso informou: b. 4. MP-SC - Promotor de Justiça O chamado princípio da insignificância pode ser admitido quando reduzido o grau de reprovabilidade da conduta, assim considerado pelo valor da res furtiva somado à ausência de periculosidade do agente. II - Pode se dizer que o crime de bagatela tem como fundamento teórico o caráter retributivo do direito penal. III - O Abolicionismo Penal consiste em movimento expressivo no campo da criminologia, cuja formulação teórica e política reside no encolhimento da legislação penal. IV - O Movimento Lei e Ordem, cuja ideologia é estabelecida pela repressão, fulcrada no velho regime punitivo-retributivo, orienta como solução para o controle da criminalidade, a criação de programas do tipo tolerância zero. V - Programas do tipo tolerância zero são estimulados pelo fracasso das políticas públicas de ressodalização dos apenados, uma vez que os índices de reincidência a cada dia estão mais altos. a) ( ) apenas I e IV estão corretos. b) ( ) apenas II e III estão corretos. c) ( ) apenas I, IV e V estão corretos. d) ( ) apenas II e IV estão corretos. e) ( ) apenas IV e V estão corretos. Resposta: A comissão de concurso informou: c. 116 Resumo de Criminologia

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