Aplicação foliar de biofertilizante no cultivo de feijão preto em bases agroecológicas

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1 Aplicação foliar de biofertilizante no cultivo de feijão preto em bases agroecológicas Foliar application of biofertilizer in black beans cultivation in agroecological bases ESCOBAR, Mardileu 1 ; QUEVEDO, Lorislene 1 ; SOARES, Adenilto 1 ; MANOEL, Edmar 1 ; SILVA, Rogério Ferreira da 1. 1 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária de Glória de Dourados, Gloria de Dourados, MS, mardileu_santos@hotmail.com, lorislenequevedo@gmail.com, adenilton_soares@outlook.com, edmar-poty@outlook.com, rogerio@uems.br. Resumo: O trabalho teve como objetivo avaliar os aspectos de produção do feijão preto submetido à adubação orgânica com biofertilizante líquido. O experimento foi conduzido na área experimental da UEMS, Glória de Dourados, MS. O delineamento estatístico adotado foi o de blocos casualizados, com cinco repetições, sendo doses: D1 0% de biofertilizante, D2 5% de biofertilizante, D3 10% de biofertilizante, D4 15% de biofertilizante e D5 20% de biofertilizante. As variáveis avaliadas foram: altura de planta aos 50 dias após a semeadura (DAS), massa seca da parte aérea, número de vagens planta -1, número de grãos vagem -1, número de grãos planta -1 e produtividade. Aos 50 DAS do feijoeiro, observou-se efeito linear significativo para altura de planta com o aumento de concentrações de biofertilizante. O número de grãos planta -1 e produtividade da cultura do feijoeiro se ajustaram a uma linha de tendência quadrática, com respectivos pontos de máximo de 10,5 e 10,4 % de biofertilizante. O biofertilizante bovino apresenta potencial para aplicação, via foliar, no cultivo de feijão preto em sistemas agroecológicos, sendo recomendada dose de até 10,5%, havendo benefícios na altura de plantas, número de grãos planta -1 e rendimento de grãos. Palavras-chave: Phaseolus vulgaris, adubação orgânica, sustentabilidade. Abstract: The objective of this work was to evaluate the aspects of production of black beans submitted to organic fertilization with liquid biofertilizer. The experiment was conducted in the experimental area of the UEMS, Glória de Dourados, MS. The experimental design was a randomized block design, with five replications, with doses: D1-0% of biofertilizer, D2-5% of biofertilizer, D3-10% of biofertilizer, D4-15% of biofertilizer and D5-20% of biofertilizer. The variables evaluated were: plant height at 50 days after sowing (DAS), dry weight of aerial part, number of pods plant -1, number of grains pod -1, number of grains plant -1 and productivity. The 50 DAS of the bean, we observed a linear effect significant for plant height with increasing concentrations of biofertilizer. The number of grains plant -1 and productivity of the culture of the bean plants if adjusting a trend line quadratic, with the respective points of maximum of 10.5, and 10.4 % of biofertilizer. The biofertilizer of cattle has shown potential to be applied via foliar application, in the cultivation of black beans in agroecological systems, being recommended dose of 10.5%, with benefits in the height of plants, number of grains plant -1 and yield of grain. Keywords: Phaseolus vulgaris, organic fertilization, sustainability. Introdução O feijoeiro-comum (Phaseolus vulgaris L.) é uma cultura de grande relevância para a segurança alimentar, em várias regiões do mundo, e é cultivado em uma ampla gama de ambientes e em distintos níveis tecnológicos de produção (BROUGHTON et al., 2003). A

2 produção nacional de feijão atingiu 2,7 milhões de toneladas na safra 2015/2016, 13,3% menor que a última temporada, com produtividade média de 992 kg ha -1 (IBGE, 2016), sendo que 70% do feijão produzido é proveniente da agricultura familiar. Os grãos de feijão do tipo comercial carioca representam a maior parte do mercado consumidor no Brasil, 53% da área total cultivada, e o tipo preto é o segundo grão mais comercializado no país (FERNANDES et al.,2015). O feijão preto é mais popular no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, sul e leste do Paraná, Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais e sul do Espírito Santo (CARNEIRO et al., 2005). O cultivo desse tipo feijão no sistema agroecológico familiar constitui uma alternativa de produção, para a exploração de nichos de mercado, obtenção de um produto diferenciado e de maior valor de comercialização (THUNG et al., 2009). Alternativas como a redução dos custos de produção, a agregação de valor ao produto produzido, a substituição de insumos e a utilização de técnicas compatíveis com a preservação dos recursos disponíveis podem ser utilizadas não somente para se produzir feijão, mas também para manejar de forma sustentável a unidade produtiva, em um contexto local e regional (DIDONET et al., 2009). Assim, o uso da adubação orgânica a base de biofertilizantes representa uma alternativa agroecológica promissora capaz de reduzir a aplicação de fertilizantes minerais no solo (ROCHA et al., 2015). Atualmente, vários biofertilizantes são utilizados regionalmente, preparados com resíduos animais, vegetais e agroindustriais, que são aplicados de diversas maneiras: via solo, via sistemas de irrigação ou pulverização sobre as plantas (ROCHA et al., 2015). Na forma líquida, via foliar, o biofertilizante é assimilado com maior rapidez, tendo grande utilidade para culturas que necessitam de quantidade elevada de nutrientes (BARROS; LIBERALINO FILHO, 2008). A relevância do uso de biofertilizantes líquidos na forma de fermentados microbianos simples ou enriquecidos, está nos quantitativos dos elementos, na diversidade dos nutrientes minerais e na disponibilização de nutrientes pela atividade biológica (ALVES et al., 2009). O biofertilizante, além do efeito nutricional, fornece também proteínas, enzimas, vitaminas, antibióticos naturais, alcaloides, macro e micronutrientes (PENTEADO, 2000). Diante do exposto, o trabalho teve como objetivo avaliar os aspectos de produção do feijão preto submetido à adubação orgânica com biofertilizante líquido. Metodologia O experimento foi conduzido na área experimental da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Glória de Dourados, MS (22 o 22'S e 54 o 30'W, 400 m de altitude), num solo com as seguintes características químicas e granulométricas (0,0-0,2 m de profundidade): ph = 5,4; P = 1,58 mg dm³; K = 0,07 cmolc dm - ³; Ca = 0,6 cmolc dm - ³; Mg = 0,3 cmolc dm - ³; Al = 0,2 cmolc dm - ³; H + Al: 3,0 cmolc dm - ³; matéria orgânica = 9,7 g kg -1 ; areia: 836,1 g kg -1 ; silte: 50,0 g kg -1 e argila: 113,9 g kg -1. O clima de ocorrência, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, com estação quente e chuvosa no verão e moderadamente seca no inverno. A área experimental foi preparada com duas gradagens, com aplicação a lanço de

3 calcário e fosfato natural reativo, conforme a análise química do solo. A parcela foi constituída de seis linhas de plantas de 7 m de comprimento, espaçadas com 0,5 metros, com densidade de 12 sementes/m linear. A semeadura do feijoeiro, cultivar BRS Campeiro (grupo preto), foi realizada manualmente ( feijão da seca, safra 2015/2016), tendo o seu desenvolvimento ocorrido em condições de sequeiro. O delineamento estatístico adotado foi o de blocos casualizados, com cinco repetições, sendo doses: D1 0% de biofertilizante, D2 5% de biofertilizante, D3 10% de biofertilizante, D4 15% de biofertilizante e D5 20% de biofertilizante. A aplicação de biofertilizante foi realizada semanalmente, por via foliar, com o auxilio de um pulverizador costal de 20 litros. Iniciou-se a aplicação do biofertilizante aos 15 dias após a emergência da cultura até o inicio da formação das vagens.. O biofertilizante utilizado foi fabricado na área experimental da UEMS, sua composição contém: 60 L de esterco fresco de gado, 5 kg de fosfato natural, 5 kg de calcário, 6 L de caldo de cana e 6 L de leite (direto do curral). A mistura, que resultou no biofertilizante foi colocada em um tambor plástico com capacidade para 200 L, completando com agua sem cloro, tendo ocorrido a fermentação anaeróbica, ficando o biofertilizante pronto cerca de 90 dias após a colocação no referido. As plantas foram avaliadas aos 50 dias após a semeadura (DAS), quanto à altura e massa seca da parte aérea. As plantas colhidas foram acondicionadas em sacos de papel e secas em estufa de circulação forçada de ar, à temperatura de 70º C, e, quando atingiram peso constante, foram pesados. A colheita foi realizada manualmente, após o feijoeiro ter atingido a maturidade fisiológica e o teor de água sendo corrigido para 13%. As variáveis avaliadas pós-colheita foram: número de vagens planta -1, número de grãos vagem -1, número de grãos planta -1 e produtividade (kg ha -1 ). Os dados obtidos foram submetidos à análise de regressão, sendo realizado o ajuste de equações em relação às concentrações de biofertilizante aplicadas. Resultados e discussões Aos 50 DAS do feijoeiro, observou-se um efeito positivo da aplicação das concentrações de biofertilizante para a altura de plantas (AP). Por meio da análise de regressão, demonstrou que houve efeito linear significativo para AP com o aumento de concentrações de biofertilizante (Figura 1). Resultados semelhantes no mesmo local foram obtidos por Rocha et al. (2015) que verificaram que a aplicação de biofertilizante Agrobio proporcionou aumento de 56% e 57%, aos 50 DAS, na altura de planta e massa seca da parte aérea, respectivamente. No que se refere à massa seca da parte aérea (MSPA), não houve ajuste significativo de um modelo de regressão em relação às concentrações de biofertilizante aplicadas.

4 Figura 1. Altura de plantas do feijoeiro aos 50 DAS em função da concentração de biofertilizante aplicada, cv. BRS Campeiro. ** significativo a 1%. Observou-se que o nº de vagens planta -1 e nº de grãos vagem -1 não foram influenciados pela aplicação de biofertilizante. Os dados de nº de grãos planta -1 se ajustaram a uma linha de tendência quadrática, onde, se tem um aumento inicial no número de vagens planta -1, atingindo um máximo com a concentração de 10,5 % de biofertilizante, para posteriormente ocorrer um decréscimo em concentrações mais altas (Figura 2a). O efeito das concentrações de biofertilizante sobre a produtividade de grãos ajustou-se a uma função quadrática com ponto de máxima sendo alcançado com a concentração de 10,4 % de biofertilizante para a cv. BRS Campeiro (Figura 2b). Rocha et al. (2015) avaliaram os efeitos da concentração de aplicação de biofertilizante Agrobio na produtividade do feijoeiro e obtiveram melhor resultado na concentração de 8,9%. Essa superioridade pode ser atribuída ao adequado fornecimento e disponibilidade de nutrientes fornecidos nesta concentração do biofertilizante (SOUSA et al., 2012). Figura 2. Número de vagens por planta (a) e rendimento de grãos (b) de feijoeiro em função da quantidade de biofertilizante aplicada, cv. BRS Campeiro. ** significativo a 1%. Conclusões O biofertilizante bovino apresenta potencial para aplicação, via foliar, no cultivo de feijão preto em sistemas agroecológicos, sendo recomendada dose de até 10,5%, havendo benefícios na altura de plantas, número de grãos planta -1 e rendimento de grãos. Referências bibliográficas

5 ALVES, G. S.; SANTOS, D; SILVA, J. A.; NASCIMENTO, J. A. M; CAVALCANTE, L. F.; DANTAS, T. A. G. Estado nutricional do pimentão cultivado em solo tratado com diferentes tipos de biofertilizantes. Revista Acta Scientiarum, v.31, p , BARROS, L.E.O.; LIBERALINO FILHO, J. Composto orgânico sólido e em suspensão na cultura do feijão-mungo-verde (Vigna radiatal). Revista Verde, v.3, n.1, p , BGE. Levantamento sistemático da produção agrícola Disponível em: < Acesso em: 15 set BROUGHTON, W. J.; HERNÁNDEZ, G.; BLAIR, M.; BEEBE, S.; GEPTS, P.; VANDERLEYDEN, J. Beans (Phaseolus spp.) model food legumes. Plant and Soil, v. 252, p , CARNEIRO, J. C. S.; MINIM, V. P. R.; SOUZA Jr, M. M.; CARNEIRO, J. E. S.; ARAÚJO, G. A. A. Perfil sensorial e aceitabilidade de cultivares de feijão (Phaseolus vulgaris L.). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 25, n. 1, p , DIDONET, A. D.; MOREIRA, J. A. A.; FERREIRA, E. P. B. Sistema de Produção Orgânico de Feijão para Agricultores Familiares. Santo Antônio de Goiás, GO: Embrapa Arroz e Feijão p. (Comunicado Técnico, 173). FERNANDES, R. C.; GUERRA, J. G. M.; ARAÚJO, A. P. Desempenho de cultivares de feijoeiro-comum em sistema orgânico de produção. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.50, n.9, p , PENTEADO, S.R. Introdução à Agricultura Orgânica: normas e técnicas de cultivo. Campinas: Ed. Grafimagem, p. ROCHA, D. P.; BRITO, M. F.; SANTOS, L. C.; SOUZA, R. L.; GALLO, A. S.; SILVA, R. F. Desempenho do feijoeiro sob o uso de biofertilizante em sistema orgânico de produção. Acta Iguazu, v.4, n.2, p , SOUSA, G. G.; MARINHO, A. B.; ALBUQUERUQE, A. H. P.; VIANA, T. V. A.; AZEVEDO, B. M. Crescimento inicial do milho sob diferentes concentrações de biofertilizante bovino irrigado com águas salinas. Revista Ciência Agronômica, v.43, n.2, p , THUNG, M.; SOARES, D. M.; AIDAR, H. Agregação de valores com feijões especiais. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE,L.F.; AIDAR, H. (Ed.). Fundamentos para uma agricultura sustentável, com ênfase na cultura do feijoeiro. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, p