INFLUÊNCIA DO GÊNERO NO INTERESSE PELA LEITURA E COMPREENSÃO DOS RÓTULOS NUTRICIONAIS

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1 INFLUÊNCIA DO GÊNERO NO INTERESSE PELA LEITURA E COMPREENSÃO DOS RÓTULOS NUTRICIONAIS K. C. N. da Silva 1, E. F. de Souza 2, A. R. dos Santos 3, F. L. N de Oliveira 4, C. T. Carvalho 5, G. A. Azerêdo 6. 1 Colégio Agrícola Vidal de Negreiros - Universidade Federal da Paraíba. CEP: samaracristinne15@gmail.com 2 Colégio Agrícola Vidal de Negreiros - Universidade Federal da Paraíba. CEP: edinhafreire@hotmail.com 3 Colégio Agrícola Vidal de Negreiros - Universidade Federal da Paraíba. CEP: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. CEP: fernando.oliveira@vitoria.ifpe.edu.br 5 Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias - Universidade Federal da Paraíba. CEP: catherine-carvalho@hotmail.com 6 Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias - Universidade Federal da Paraíba. CEP: geiza.azeredo@cchsa.ufpb.br RESUMO A rotulagem nutricional é uma importante ferramenta de repassar informações e orientar o consumidor na hora de adquirir produtos alimentícios. O objetivo deste trabalho foi verificar se o gênero exerce influência no comportamento dos consumidores frente aos rótulos. Para isso, foram aplicados 150 questionários, que continham questões objetivas, sobre o interesse e compreensão dos consumidores por determinadas informações presentes nos rótulos. Voluntariamente, foram entrevistados consumidores de supermercados de 03 (três) municípios do Brejo paraibano. Realizaram-se análises de frequência absoluta e relativa, teste estatístico não paramétrico do Qui-quadrado a um nível de significância de 5%. Utilizou-se o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Verificou-se que as informações como teor de sódio, gorduras saturadas e gorduras trans não são compreendidas por mais da metade da população em estudo, e isto gera preocupação, devido à alta correlação do consumo dessas substâncias no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. ABSTRACT Nutrition labeling is an important tool to transmit information and guide consumers when purchasing food products. The aim of this study was to determine whether gender influences the behavior of consumers in the reading and understanding of labels. For this, we applied 150 questionnaires, containing objective questions about the interest and understanding of consumers for certain information found on labels. Voluntarily were supermarket consumers interviewed three (03) cities of Paraiba. Analyses were performed absolute and relative frequency, non-parametric statistical test Chi-square at a 5% significance level. We used the SPSS (Statistical Package for Social Sciences). It was found that the information such as sodium, saturated fats and trans fats are not understood by more than half of the study population, and this causes concern due to the high correlation between the consumption of these substances in the development of chronic diseases. PALAVRAS-CHAVE: sexo; rotulagem nutricional; consumidores. KEYWORDS: sex; nutrition labeling; consumers.

2 1. INTRODUÇÃO Nos dias atuais, é notório que a população vive em constante mudança de seus hábitos, incluindo os alimentares, motivados pela busca por facilidades, aliado à falta de tempo. Isto vem incitando a indústria a criar produtos que atendam às necessidades dos consumidores, que cada vez menos destinam tempo para o preparo dos alimentos, substituindo por produtos convenientes e prontos para o consumo (Barros, 2015). Entretanto, o crescimento do consumo dos alimentos processados e industrializados é motivo de preocupação, pois, apesar da presença de informações contidas na rotulagem nutricional, estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), na maioria das vezes os consumidores não se utilizam dessa importante ferramenta de comunicação, alegando dificuldades na compreensão e na leitura das informações. Consequentemente, ficam alheios às informações que podem auxiliar na escolha de produtos mais saudáveis, com promoção da saúde e bem-estar (Bendino, 2012). Muito embora a rotulagem nutricional tenha sido criada com o objetivo de informar ao consumidor as propriedades nutricionais de um produto, permitindo ao consumidor analisar e fazer uma adequada escolha dos alimentos, o fato é que a descrição dessas informações na maioria das vezes não chega ao consumidor, que alega constantemente não ter compreensão dos rótulos (Gonçalves, 2016) Além disso, o que se observam nos rótulos são informações confusas com relação ao conceito e as unidades de medida, que se destinam ao termo caloria (Wartha, 2015). Em contrapartida, a preocupação com a saúde associada muitas vezes ao bem-estar e a busca por padrões de beleza tem aumentado e levado a população a adquirirem um certo interesse pelos rótulos, mesmo, por vezes, não compreendendo algumas informações (Brittes, 2015) Aspectos culturais, sociais, pessoais e psicológicos também influenciam na tomada de decisão do consumidor, que vão desde a simples atitude de ler um rótulo até adquirir um produto. Dentre os fatores pessoais, estão as características pessoais de cada indivíduo como idade, estágio do ciclo de vida, ocupação, condições econômicas, estilo de vida, personalidade (Rodrigues et al., 2014), mas também de gênero. Alguns autores já relataram que pessoas do sexo feminino tendem a prestar mais atenção ao rótulo, em comparação às do sexo masculino, como também são determinantes no consumo de um produto (Goulart et. al, 2015; Verbeke e Ward, 2006). Portanto, sabe-se que o desinteresse e incompreensão dos rótulos reflete em escolhas equivocadas ou inadequadas do alimento a ser consumido, colocando em risco a saúde do organismo, ao desencadear diversas doenças. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi analisar o nível de interesse e percepção dos consumidores, de três municípios do Brejo paraibano, sobre as informações contidas nos rótulos dos alimentos, investigando se o gênero influencia na sua leitura e compreensão. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os dados aqui apresentados foram coletados em 03 (três) cidades da região do Brejo Paraibano, onde os critérios de inclusão foram consumidores de produtos alimentícios industrializados, alfabetizados, de ambos os sexos e com idade mínima de 14 anos. Os consumidores participaram voluntariamente, após o esclarecimento dos objetivos, procedimentos metodológicos e confidencialidade do trabalho. A eles também foi pedido que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contendo as informações necessárias do projeto e garantindo que não existiam riscos aos voluntários, uma vez que os seus dados não seriam divulgados, nem seriam submetidos a procedimentos invasivos. Uma cópia deste termo, assinada também pelos pesquisadores, foi entregue ao participante. Os administradores dos

3 supermercados também foram consultados sobre a liberação do espaço para realização das entrevistas, e, ao concordarem, assinaram o Termo de Autorização Institucional. Para que o contato com o consumidor fosse facilitado, foram abordadas as pessoas que estavam aguardando na fila o momento para pagar os gêneros alimentícios, sempre considerado para a abordagem o último cliente da fila. Desse modo, garantir-se-ia a aleatoriedade requerida, como sugere Silva (2003). A coleta dos dados, com as entrevistas, foi realizada no período de maio a junho de 2016 e o instrumento de coleta de dados (Adaptado de Silva, 2003) consta de um formulário composto, em sua maioria, de questões objetivas, que visam verificar a percepção e o conhecimento dos sujeitos quanto a importância, o entendimento e a utilização da rotulagem nutricional obrigatória e das informações presentes nas embalagens de alimentos industrializados em geral. Ainda, os sujeitos responderam a questões para o levantamento de dados sociodemográficos, como sexo, idade, estado civil, escolaridade e renda, com o intuito de caracterizar o perfil da população entrevistada. Como forma de otimizar o tempo, optou-se pela elaboração de questões de múltipla escolha, muito embora em algumas delas tenha sido deixado espaço para permitir alguns registros e sugestões relatadas pelos consumidores. O banco de dados foi construído a partir das informações registradas nos formulários, com apoio do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Além das análises de frequência absoluta e relativa, foi realizado o teste estatístico não paramétrico do Qui-quadrado para avaliar associação entre as variáveis, a um nível de significância de 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 estão apresentados os resultados quanto às informações que os consumidores leem nos rótulos dos produtos alimentícios, de acordo com o gênero. Observou-se que todos os entrevistados, independente do sexo, têm maior interesse em informações como prazo de validade, data de fabricação e marca do produto alimentício. Contudo, foi detectada diferença significativa para a observância de prazo de validade e marca entre os sexos (p< 0.05). Com relação ao hábito de leitura dos rótulos dos alimentos, todos os entrevistados (100%, n=150) afirmam ler as informações presentes, sendo a maioria do gênero feminino (n=95), o que denota que as mulheres em grande maioria são as principais responsáveis na aquisição do alimento. Felipe et al. (2003) e Cassemiro et al. (2006) avaliando o interesse dos consumidores quanto as informações contidas nos rótulos de alimentos, observaram que grande parte dos entrevistados consultam os rótulos dos produtos, evidenciando uma maior preocupação por parte dos consumidores em conhecer a qualidade nutricional bem como a vida de prateleira do produto adquirido, estando em concordância com os resultados obtidos nesse trabalho.

4 Tabela 1. Informações que os consumidores, por gênero, leem nos rótulos dos produtos alimentícios. Gênero Informações Feminino (n = 95) Masculino (n = 55) n % n % Prazo de validade 72 75, ,91 Data de fabricação 62 65, ,09 Integral 47 49, ,27 Sódio 29 30, ,00 Colesterol 32 33, ,36 Light 38 40, ,73 Diet 26 27, ,73 Glúten 25 26, ,27 Calorias 48 50, ,27 Ingredientes 43 45, ,82 Gorduras trans 33 34, ,55 Fibras 18 18, ,64 Gorduras saturadas 27 28, ,73 Transgênico 16 16, ,64 Orgânico 9 9, ,55 Marca 49 51, ,64 Lactose 22 23, ,82 Quanto ao conteúdo de sódio, é relevante frisar que tal informação é observada por 30,52% das mulheres entrevistadas, ao passo que 40% da população masculina levam em consideração esta informação. Isto impacta diretamente as estratégias para redução do consumo de sódio pelos brasileiros. Perin et al. (2013) constataram que os homens com renda menores apresentaram maior consumo de sódio em suas dietas, o que torna estes indivíduos mais susceptíveis a doenças cardiovasculares. Estes dados estão de acordo com os de Souza et al. (2011), que também encontraram percentuais baixos (7%) de consumidores que levavam em consideração o conteúdo de sódio descritos nos rótulos. Um dado interessante que merece ser destacado é que as mulheres deram mais importância se um produto é light do que diet (p<0.05), aspecto pouco considerado entre indivíduos do sexo masculino (p>0.05). Isto pode ser justificado pelas mudanças que vem ocorrendo há pelo menos três décadas, acerca dos padrões estéticos femininos, que levam às mulheres a se submeterem a restrições alimentares mais rígidas, passando a considerar os produtos light como parte de sua dieta habitual. Entretanto, Góes et al. (2010) verificaram que o consumo desse tipo de produto foi semelhante entre os sexos, desmistificando que essa seria uma preocupação apenas das mulheres e sinalizando que os homens também têm se preocupado com a qualidade de vida. No presente estudo verificou-se que apenas 10% das mulheres entrevistadas observavam no rótulo se o produto era orgânico. Na pesquisa realizada por Andrade e Bertoldi (2012) os consumidores de alimentos orgânicos eram predominantemente mulheres (76%). Menos da metade (43,33%) dos entrevistados consideraram a marca do produto na análise do rótulo, o que poderá influenciar na sua decisão de compra. No entanto entre as mulheres esse percentual passa para quase 70%. Silva et al. (2012) observaram que fatores como aspecto da loja, lealdade à loja, qualidade do produto, imagem da loja e marca influenciam mais fortemente a tomada de decisão (compra) em mulheres que em homens.

5 Tabela 2. Informações que os consumidores, por gênero, compreendem nos rótulos dos produtos alimentícios. Gênero Informações Feminino (n = 95) Masculino (n = 55) n % n % Prazo de validade 81 85, ,73 Data de fabricação 69 72, ,09 Integral 55 57, ,91 Sódio 47 49, ,27 Colesterol 37 38, ,45 Light 43 45, ,73 Diet 35 36, ,18 Glúten 28 29, ,09 Calorias 46 48, ,91 Ingredientes 50 52, ,73 Gorduras trans 32 33, ,55 Fibras 29 30, ,91 Gorduras saturadas 24 25, ,27 Transgênico 18 18, ,09 Orgânico 19 20, ,18 Marca 65 68, ,64 Lactose 39 41, ,73 A Tabela 2 contém informações acerca da compreensão dos rótulos dos alimentos, de acordo com o gênero. Observou-se que a população masculina está cada vez mais preocupada com o entendimento das informações nutricionais contidas nos rótulos, o que poderia ser determinante na sua decisão de compra. Inclusive, que detêm mais conhecimento do que as mulheres sobre as informações de colesterol, transgênico e orgânico, a um nível de significância de 0,05%, conforme dados deste estudo em questão. Entretanto, era esperado que tanto os homens, quanto as mulheres, considerassem mais esse conhecimento durante a aquisição de um produto, lendo mais o rótulo. Isto é válido também para outras informações do produto, como glúten, diet, calorias, ingredientes, fibras e lactose. 4. CONCLUSÃO Informações como prazo de validade, data de fabricação, calorias, ingredientes e marca são as informações compreendidas por pelo menos metade da população em estudo, com destaque para os homens que vêm ainda demonstrando interesse em outras informações como colesterol, orgânico e transgênico, maior até que as mulheres. Entretanto, verificou-se também que as informações como teor de sódio, gorduras saturadas e gorduras trans não são compreendidas por mais da metade da população em estudo, e isto gera preocupação, devido à alta correlação do consumo dessas substâncias no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.

6 5. REFERÊNCIAS Andrade, L. M. S., Bertoldi, M. C. (2012) Atitudes e motivações em relação ao consumo de alimentos orgânicos em Belo Horizonte MG. Brazilian Journal of Food Technology, Barros, T. S. G., Carvalho, D., Córdova, S., Sales, L., Cardoso, V., & Moreira, A. P. B. (2015). Avaliação dos rótulos de alimentos doces e light. ANAIS SIMPAC, 5(1). Bendino, N. I., Popolim, W. D., & Oliveira, C. R. A. (2012). Avaliação do conhecimento e dificuldades de consumidores frequentadores de supermercado convencional em relação à rotulagem de alimentos e informação nutricional. Journal of the Health Sciences Institute, 30(3), Brittes, C. L. (2015). Avaliação da compra de produtos alimentícios por consumidores em um supermercado no município de palmeira das missões/rs. Salão do Conhecimento, 1(1). Cassemiro, I. A.; Colauto, N. B.; Linde, G. A. (2006) Rotulagem nutricional: quem lê e por quê? Arquivo Ciência Saúde UNIPAR, Umuarama, 10(1), Felipe, M. R.; Mezadri, T.; Calil, J. Rotulagem de alimentos: o comportamento do consumidor usuários de supermercados do balneário Camboriú/SC. Higiene Alimentar, São Paulo, v. 17, n. 111, p , Góes, F. B., Góes, F. J., Popolim, W. D., Tribst, A. A. L., Augusto, P. E. D. (2010) Nível de conhecimento de consumidores em supermercados da grande São Paulo sobre produtos alimentícios diet e light, Revista da Associação Brasileira de Nutrição, 3(1), 5-7. Gonçalves, N. A. (2016). Rotulagem de alimentos e consumidor. Nutrição Brasil, 14(4). Goulart, G. S., Luchese-Cheung, T., Pereira, M. W. G. (2015). Atitudes do consumidor em relação a um produto alimentar: tendências do setor de alimentos congelados, Pretexto, 17(1), Nunes, S. T., & Gallon, C. W. (2013). Conhecimento e consumo dos produtos diet e light e a compreensão dos rótulos alimentares por consumidores de um supermercado do município de Caxias do Sul, RS-Brasil. Nutrire: revista da sociedade brasileira de alimentação e nutrição, 38(2), Rodrigues, A. M. S., Saron, M. L. G., Nascimento, K. O. (2014). Revista Verde, 9(2), Silva, L. A. da; Merlo, E. M.; Nagano, M. S. (2012). Uma análise dos principais elementos influenciadores da tomada de decisão de compra de produtos de marca própria de supermercados. Read. Revista eletrônênica de administração [online], 18(1), Silva, M. Z. T. da. (2003) Influência da rotulagem nutricional sobre o consumidor. [Dissertação de mestrado]. Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Souza, S. M. F. da C.; Lima, K. C.; Miranda, H. F. de; Cavalcanti, F. I. D. (2011) Utilização da informação nutricional de rótulos por consumidores de Natal, Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública [online], 29, Perin, L., Zanardo, V. P. S. (2013) A importância dos alimentos funcionais para crianças. Vivências. 9 (16), Verbeke, W.; Ward, R.W. (2006) Consumer interest in information cues denoting quality, traceability and origin: an application of ordered probit models to feed labels. Food Quality and Preference, 17(6), Wartha, E. J., Andrade-Wartha, E. R. S. A., Santos, L. C. (2015). Students ideas and conceptions on terms such as light, diet, organic and transgenic and the relations with concepts in the advertising. Revista de Educação, Ciências e Matemática, 5(3),