RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA

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3 RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA MAIO 2011 Lisboa,

4 BANCO DE PORTUGAL Av. Almirante Reis, Lisboa Edição Departamento de Estudos Económicos Design, impressão e distribuição Departamento de Serviços de Apoio Área de Documentação, Edições e Museu Serviço de Edições e Publicações Lisboa, 2011 Tiragem 350 exemplares ISSN (impresso) ISSN (online) Depósito Legal n.º /05 Este Relatório foi redigido segundo o novo Acordo Ortográfi co.

5 ÍNDICE I. ESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO 7 1. APRECIAÇÃO GLOBAL RISCOS MACROECONOMICOS E FINANCEIROS SITUAÇÃO FINANCEIRA DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO SISTEMA BANCÁRIO Atividade e rendibilidade Risco de mercado Risco de liquidez Risco de crédito Adequação de fundos próprios 101 Caixa 4.1. O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa 113 Caixa 4.2. Situação financeira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no primeiro trimestre de 2011 II. ARTIGOS 119 Dívida e extinção das empresas António Antunes, José Mata, Pedro Portugal 131 O acesso ao crédito bancário quando os bancos são acionistas das empresas: evidência para Portugal Paula Antão, Miguel A. Ferreira, Ana Lacerda 145 Estimativa do impacto de fusões bancárias: uma aplicação ao sistema bancário português Diana Bonfim, Pedro Pita Barros, Moshe Kim, Nuno C. Martins

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7 ESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO I APRECIAÇÃO GLOBAL RISCOS MACROECONÓMICOS E FINANCEIROS SITUAÇÃO FINANCEIRA DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO SISTEMA BANCÁRIO

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9 1. Apreciação global Os bancos portugueses enfrentam um período de assinaláveis desafios, enquadrados por um programa de ajustamento da economia portuguesa, no âmbito do acordo de assistência financeira recentemente concluído. Ao longo dos últimos meses, o enquadramento em que os bancos têm vindo a desenvolver a sua atividade doméstica registou uma significativa deterioração. As tensões associadas à crise da dívida soberana desde a primavera de 2010 têm colocado fortes pressões sobre os custos de financiamento do Estado português, mas têm também condicionado de forma severa o acesso dos bancos portugueses aos mercados internacionais de dívida por grosso. Neste contexto, ao longo do último ano, os bancos portugueses têm recorrido de forma expressiva a financiamento junto do Eurosistema e, simultaneamente, têm vindo a ajustar gradualmente a estrutura do seu balanço, em particular desde o segundo semestre de Apreciação Global Em termos globais, o sistema bancário português tem mantido uma assinalável capacidade de adaptação e resistência desde o início da crise financeira e económica internacional, assegurando, sem perturbações significativas, o financiamento da economia num enquadramento global muito adverso. De facto, ao contrário do observado noutros países, os bancos portugueses apresentavam uma exposição negligenciável a ativos de elevado risco e complexidade que originaram perdas significativas em grandes grupos bancários internacionais. Para além disso, os bancos portugueses têm vindo a desenvolver a sua atividade com base num modelo de intermediação financeira relativamente tradicional e com níveis de capital regulamentar globalmente adequados face aos riscos assumidos. Deste modo, a escalada do prémio de risco da dívida pública portuguesa, no contexto da crise da dívida soberana na Europa, refletiu essencialmente fragilidades da situação orçamental, enquadradas por vulnerabilidades estruturais da economia, não estando associada a problemas intrínsecos do sistema bancário. Nos últimos meses assistiu-se a uma forte deterioração da avaliação dos participantes nos mercados financeiros sobre a sustentabilidade das finanças públicas em Portugal, refletindo inter alia níveis de défice e de dívida pública relativamente altos e superiores ao esperado. A avaliação das fragilidades da situação orçamental não pode ser dissociada dos vários desequilíbrios estruturais que caracterizam a economia portuguesa. De facto, ao longo da última década a economia registou taxas de crescimento efetivo e de crescimento potencial bastante reduzidas, o que se traduziu numa evolução divergente face aos restantes países da área do euro. Nesse período, este fraco desempenho económico foi acompanhado por uma taxa de poupança historicamente baixa e por um aumento do endividamento da economia, o que se traduziu numa significativa deterioração da posição de investimento internacional. Mais recentemente, em março de 2011, as condições de financiamento externo da economia agravaram-se significativamente, num contexto de instabilidade política e de incertezas quanto aos mecanismos temporários e permanentes de assistência financeira na União Europeia. As agências de rating efetuaram sucessivas revisões em baixa das notações atribuídas ao Estado português, bem como aos bancos e a algumas empresas não financeiras. O agravamento das pressões sobre a dívida pública e privada portuguesa tornou inevitável o pedido de assistência financeira internacional do governo português no início de abril. O programa de ajustamento económico e financeiro definido no âmbito desse pedido de assistência constitui um instrumento fundamental para assegurar a correção inadiável dos desequilíbrios e vulnerabilidades estruturais da economia portuguesa, de forma a assegurar um crescimento mais equilibrado e sustentado no médio e longo prazo. Neste contexto, os atuais desafios para a economia portuguesa

10 I 8 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 assumem duas dimensões complementares, que são contempladas neste programa 1 : por um lado, é necessário assegurar a correção dos desequilíbrios das finanças públicas; por outro lado, é fundamental atuar sobre as vulnerabilidades estruturais da economia para promover o seu crescimento potencial. Neste sentido, o programa prevê a implementação de reformas estruturais em inúmeras áreas, incluindo nos mercados de trabalho, de bens e serviços e de habitação, bem como no sistema judicial. A estabilidade financeira é também uma dimensão essencial do programa de ajustamento. Neste sentido, refira-se que, desde o verão de 2010, o Banco de Portugal tem vindo a tomar diversas medidas para reforçar a estabilidade e a confiança no sistema bancário português, aconselhando os bancos a promover uma desalavancagem gradual dos respetivos balanços, de forma a diminuir a sua dependência do recurso ao financiamento junto do BCE, a adotar políticas prudentes de distribuição de resultados, a reforçar o seu capital regulamentar, e a melhorar a sua eficiência operacional. No início de abril, com o objetivo de reforçar a solvabilidade do sistema bancário português, o Banco de Portugal anunciou, por via da publicação do Aviso n.º 1/2011, que todos os grupos bancários teriam de ter, em base consolidada, um rácio Core Tier 1 mínimo de 8 por cento a partir do final de Estas orientações foram reforçadas no programa de ajustamento económico e financeiro definido no âmbito do pedido de assistência financeira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, no contexto do programa, vai ter lugar um processo gradual de desalavancagem do sistema financeiro, que será consistente com o processo de ajustamento do setor privado não financeiro e que irá aprofundar o processo que se iniciou de no segundo semestre de Adicionalmente, o programa engloba medidas para assegurar a liquidez do sistema financeiro, incluindo o reforço do colateral disponível e a possibilidade de emissão de dívida com garantia estatal num montante global até 35 mil milhões de euros. O programa prevê também um reforço das exigências sobre os rácios de solvabilidade, impondo-se um rácio Core Tier 1 mínimo de 9 por cento a partir do final de 2011 e de 10 por cento o mais tardar até ao final do ano seguinte, medida já concretizada no Aviso n.º 3/2011 do Banco de Portugal. Os bancos deverão desejavelmente cumprir as novas exigências de capital através do recurso a soluções privadas de mercado, ainda que o programa inclua um fundo de apoio à recapitalização dos bancos para assegurar o cumprimento desta exigência, envolvendo um montante global de 12 mil milhões de euros. Por último, o programa também prevê a intensificação do acompanhamento do sistema bancário e da sua regulação e supervisão, na linha do trabalho que está já em curso no Banco de Portugal. Em termos globais, o processo de desalavancagem gradual do sistema financeiro definido no âmbito do programa deverá ser acompanhado por uma melhoria dos rácios de capital e de liquidez e por uma redução das necessidades de financiamento face ao exterior, condições necessárias para assegurar a recuperação do acesso a financiamento nos mercados financeiros internacionais de dívida por grosso. Refira-se a importância de que este processo de desalavancagem ocorra de forma gradual e ordenada, de modo a não comprometer o financiamento dos setores mais produtivos da economia. Deste modo, os planos específicos de financiamento e desalavancagem, a nível de cada banco, no âmbito deste programa deverão permitir conciliar, a nível agregado, a tensão entre a necessidade de redução gradual dos níveis de alavancagem do sistema bancário e a importância de manter um fluxo de crédito suficiente para assegurar o financiamento da economia, nomeadamente de forma a não pôr em causa a sua gradual recuperação. Dado o lugar que ocupa o sistema bancário no financiamento da economia portuguesa, é altamente desejável que este processo de desalavancagem tenha por base estratégias que minimizem o seu impacto sobre a respetiva capacidade de concessão de novos créditos. Por isso, os bancos deverão privilegiar estratégias de reforço da sua base de capital, de alienação de créditos e de ativos não estratégicos face aos setores privado e público, e de reforço do financiamento estável, nomeadamente dos depósitos 1 As principais medidas do programa encontram-se resumidas na Caixa O programa de ajustamento económico e financeiro no âmbito do pedido de assistência financeira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

11 captados junto de clientes. Refira-se que um processo de desalavancagem dos bancos assente na redução da atividade internacional tenderá a afetar menos diretamente a economia portuguesa mas, em contrapartida, poderá ter um efeito negativo na evolução da rendibilidade e, consequentemente, na solvabilidade dos bancos, dado que os resultados obtidos por via da atividade internacional têm oferecido um importante contributo para a rendibilidade de vários bancos portugueses ao longo dos últimos anos. Em contrapartida, a desalavancagem efetuada através da venda de ativos terá um efeito diferente sobre a economia do que se tiver lugar via redução de novo crédito. Todavia, importa ter presente que as vendas de ativos têm o seu reverso da medalha, na medida em que podem dar origem a perdas, com consequências negativas para a rendibilidade e solvabilidade dos bancos. A implementação deste programa de ajustamento económico e financeiro assume um caráter essencial para criar as bases para um crescimento sólido e sustentado da economia num horizonte de médio e longo prazo, promovendo a competitividade e a recuperação do crescimento potencial. Contudo, é necessário ter presente que o impacto económico e social dos ajustamentos a efetuar será substancial no curto prazo e que existem riscos, em particular, decorrentes dos desenvolvimentos económicos e financeiros a nível internacional. Apesar disso, o cumprimento rigoroso do programa, em tudo o que dependa do empenhamento nacional, constitui um imperativo incontornável. De facto, um novo adiamento da correção dos profundos desequilíbrios orçamentais e estruturais da economia portuguesa implicaria um substancial agravamento dos já elevados custos económicos e sociais associados à situação atual. 1 9 Apreciação Global O ano de 2010 foi globalmente caracterizado pelo adiamento da correção daqueles desequilíbrios macroeconómicos. Apesar de uma aceleração temporária da atividade económica (em parte assente em fatores não sustentáveis do lado da procura interna), as condições no mercado de trabalho continuaram a deteriorar-se, a consolidação das finanças públicas foi insuficiente e o défice externo continuou a assumir valores elevados, apesar de ter evidenciado uma ligeira melhoria. Adicionalmente, os níveis de endividamento do setor privado continuaram a apresentar valores muito elevados, acompanhados pela persistência de um nível reduzido das taxas de poupança, ainda que se tenha observado um ligeiro aumento da poupança bruta das sociedades não financeiras. Refira-se que, por comparação com os restantes países da área do euro, as empresas portuguesas continuam a evidenciar necessidades de financiamento muito significativas, enquanto a capacidade de financiamento dos particulares se situa em níveis próximos da média da área do euro. A correção dos desequilíbrios do setor privado não financeiro constitui, a par da necessária consolidação orçamental e da desalavancagem do sistema financeiro, um dos pilares do processo de ajustamento da economia portuguesa, sendo essencial para assegurar a convergência do défice externo para níveis compatíveis com um equilíbrio sustentável de longo prazo numa união monetária. Os bancos têm vindo a implementar planos de desalavancagem assentes no reforço do capital regulamentar, na venda de ativos, no abrandamento da concessão de crédito e na intensificação da captação de depósitos de clientes. Ainda assim, em 2010 continuou a observar-se uma expansão da atividade do sistema bancário, essencialmente por via do crescimento da carteira de ativos financeiros (centrado no crescimento da carteira de títulos de dívida pública portuguesa) e do crédito a clientes. Refira-se que se tem vindo a observar uma clara distinção entre a evolução da atividade dos bancos domésticos e não domésticos residentes em Portugal, o que tem permitido suavizar o perfil de desalavancagem do conjunto do sistema financeiro português (ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório). Contudo, a intensificação dos esforços de desalavancagem do sistema bancário deverá exigir um abrandamento adicional (ou mesmo uma contração) do total do ativo do sistema bancário. Importa ter presente que não se pode avaliar a escala e a natureza do processo de desalavancagem apenas com base na observação da evolução do ativo. Importa atender também à relação deste com as responsabilidades assumidas pelos bancos e com o capital regulamentar disponível. Deste modo, tendo em consideração a relação entre crédito e recursos de clientes, a evidência disponível para o sistema

12 I 10 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 bancário em base consolidada sugere que o processo de desalavancagem se terá iniciado de forma consistente no segundo semestre de 2010, tendo-se observado uma diminuição significativa deste rácio, refletindo essencialmente o aumento dos depósitos captados junto de clientes, mas também alguma diminuição do crédito. Adicionalmente, na segunda metade do ano também se assistiu a um reforço dos rácios de solvabilidade, bem como do rácio de alavancagem que avalia a relação entre o capital e o ativo do sistema bancário. Refira-se que a melhoria dos rácios de adequação de fundos próprios ocorreu num contexto de níveis historicamente reduzidos de rendibilidade. Ainda assim, no conjunto do ano, os indicadores de rendibilidade do sistema bancário registaram um ligeiro aumento. Refira-se, ainda, que os resultados obtidos por via da atividade internacional têm oferecido um importante contributo para a rendibilidade dos bancos portugueses ao longo dos últimos anos, tendência que se manteve em As perspetivas globalmente favoráveis para o enquadramento macroeconómico global deverão contribuir para manter esta tendência. Em suma, o conjunto de informação disponível para o sistema bancário em base consolidada evidencia uma diferenciação entre o primeiro e o segundo semestre de Enquanto no primeiro semestre de 2010 os bancos tiveram de reagir a choques negativos não antecipados, no segundo semestre tornou-se evidente a necessidade de implementação de uma trajetória sustentada de ajustamento. A evidência disponível para o primeiro trimestre de 2011 aponta para a consolidação desta tendência para os principais grupos bancários portugueses (ver Caixa 4.2 Situação financeira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no primeiro trimestre de 2011, deste Relatório). Apesar disso, estes deverão ser apenas os primeiros passos num processo gradual e ordenado que permita o reforço dos rácios de solvabilidade dos bancos e a convergência para uma estrutura de financiamento mais estável e equilibrada no médio prazo. De facto, na atual situação, uma das principais vulnerabilidades do sistema bancário português prende-se com as pressões associadas ao risco de liquidez e de financiamento, num contexto de fortes restrições no acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso, tendo o acesso a financiamento junto do Eurosistema assumido um papel importante. Antes da eclosão da crise financeira global, os bancos portugueses tiveram acesso a financiamento nos mercados de dívida por grosso a prazos longos e em condições bastante favoráveis, o que permitiu sustentar a expansão do crédito ao setor privado não financeiro. Contudo, esta expansão teve implicações sobre a estrutura de financiamento do conjunto do sistema bancário, repercutindo-se numa deterioração estrutural dos indicadores de liquidez. Neste contexto, um dos pontos essenciais do processo de ajustamento a implementar pelos bancos portugueses consiste em privilegiar fontes de financiamento mais estáveis, tais como os recursos de clientes, de forma a diminuir a dependência do acesso a financiamento nos mercados de dívida por grosso. Na segunda metade de 2010 observaram-se alguns progressos neste domínio, tendo ocorrido um crescimento dos recursos captados junto de clientes, acompanhado por um aumento do peso dos depósitos a mais de 2 anos, o que contribui de forma favorável para reduzir o mismatch de maturidades entre o ativo e o passivo dos bancos. O processo de ajustamento a implementar será igualmente consistente com o cumprimento das novas exigências regulamentares em termos de risco de liquidez no âmbito de Basileia III. A este respeito refira-se que a heterogeneidade da atual situação de liquidez dos bancos portugueses deverá consubstanciar-se em trajetórias de ajustamento e desalavancagem diferenciadas. A expansão do crédito ao longo da última década não se traduziu num aumento do crescimento do produto potencial da economia portuguesa, mas implicou a subida dos níveis de endividamento do conjunto da economia, com reflexos na forte deterioração da posição de investimento internacional. Estes desequilíbrios, que condicionam sobremaneira a capacidade de ajustamento face ao atual enquadramento particularmente desfavorável, terão de ser corrigidos ao longo dos próximos anos. As medidas definidas no programa de ajustamento económico e financeiro oferecem a estrutura de incentivos adequada para o sucesso deste processo. Deste modo, num contexto de maiores restrições à concessão de crédito, é fundamental assegurar que os bancos canalizam os recursos disponíveis para o financiamento dos

13 setores mais produtivos e competitivos da economia, baseando a sua avaliação e seleção em critérios de viabilidade e produtividade. Em 2010 continuou a observar-se alguma heterogeneidade na evolução dos empréstimos de pequena e grande dimensão. De facto, apesar do crescimento ligeiramente positivo evidenciado pelos empréstimos concedidos a sociedades não financeiras no seu conjunto, assistiu-se a uma diminuição significativa dos empréstimos associados a pequenas exposições. A maior parte do fluxo líquido de crédito a sociedades não financeiras foi concedido por instituições não domésticas a operar em Portugal, que poderão ter um contributo importante para mitigar o impacto do processo de desalavancagem do sistema bancário sobre a economia portuguesa. Por seu turno, os empréstimos concedidos a particulares evidenciaram uma forte desaceleração a partir do segundo semestre de 2010, justificada tanto por restrições do lado da oferta como por menores pressões por parte da procura. A desaceleração foi particularmente pronunciada nos empréstimos para consumo e outros fins. Esta tendência deverá persistir no curto prazo, num quadro de expectável contração do consumo privado Apreciação Global Apesar da recuperação da atividade económica em 2010, manteve-se uma tendência de significativa materialização do risco de crédito, ainda que com diferenças entre os vários segmentos do mercado de crédito. Por um lado, o rácio de incumprimento nos empréstimos a particulares para aquisição de habitação manteve-se estável, em níveis historicamente elevados mas relativamente contidos. Por outro lado, o incumprimento nos empréstimos a particulares para consumo e outros fins e a sociedades não financeiras continuou a aumentar. O profundo processo de ajustamento a implementar na economia portuguesa ao longo dos próximos anos terá inevitavelmente repercussões sobre a atividade económica e, consequentemente, sobre a materialização do risco de crédito, em particular num contexto de subida das taxas de juro. Neste sentido, afigura-se desejável o reforço da dotação de imparidades para perdas na carteira de crédito, sobretudo nos segmentos onde o aumento do incumprimento tem assumido uma magnitude mais significativa. Note-se que a desalavancagem do sistema bancário português deverá implicar a diminuição das exposições face a diferentes contrapartes, tanto do setor privado como do setor público. Refira-se que, antes da eclosão da crise financeira global, os bancos portugueses não apresentavam uma exposição muito significativa ao risco soberano. Contudo, a redução da procura de dívida pública portuguesa nos mercados financeiros internacionais implicou uma maior colocação destes instrumentos junto dos bancos portugueses que, por sua vez, podem utilizar estes ativos como colateral junto do BCE. A forte diminuição dos preços da dívida soberana deverá ter um impacto limitado sobre os resultados e o capital regulamentar dos bancos, uma vez que estes títulos estão registados na sua maioria nas carteiras de ativos financeiros disponíveis para venda ou detidos até à maturidade e que os requisitos de fundos próprios se mantêm inalterados para bancos no método padrão de Basileia II. Não obstante, esta exposição do sistema bancário não deixa de criar perdas latentes e de ser avaliada negativamente pelos participantes nos mercados financeiros e pelas agências de rating, devendo ser gradualmente reduzida no âmbito do processo de desalavancagem do sistema financeiro. Neste difícil enquadramento, é de salientar o esforço efetuado pela maior parte dos grupos bancários para reforçar os seus rácios de solvabilidade, que se situam atualmente em níveis elevados em termos históricos. Este reforço dos rácios de fundos próprios é essencial para recuperar a confiança dos participantes nos mercados financeiros no sistema bancário português, a fim de assegurar a recuperação do acesso a financiamento junto dos mercados internacionais de dívida por grosso. Apesar dos níveis globalmente adequados registados pelos bancos portugueses, continua a ser desejável prosseguir esta tendência de reforço dos fundos próprios, a fim de assegurar a sua capacidade para continuar a absorver choques negativos sobre a sua atividade, bem como a consistência com as novas exigências regulamentares a nível internacional. Os bancos portugueses estão a enfrentar um dos períodos mais desafiantes da história recente, exigindo um significativo esforço de adaptação e resistência. Apesar das perspetivas para o enquadramento

14 I 12 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 macroeconómico e financeiro internacional serem globalmente positivas, a economia portuguesa irá passar por um período prolongado de ajustamento dos seus desequilíbrios e vulnerabilidades estruturais. Adicionalmente, não deixam de existir riscos sobre o enquadramento externo. Apesar dos substanciais custos decorrentes deste processo de ajustamento no curto prazo, a correção destes desequilíbrios será essencial para assegurar a convergência para uma situação mais sustentada e sustentável dos diferentes setores da economia portuguesa, promovendo o crescimento e a competitividade no médio e longo prazo. Neste sentido, os bancos deverão privilegiar estratégias de reforço da sua base de capital, de venda de créditos e ativos não estratégicos face aos setores privado e público, e de reforço do financiamento estável, nomeadamente dos depósitos captados junto de clientes, permitindo a implementação de um processo gradual e ordenado de desalavancagem do sistema financeiro e do conjunto da economia portuguesa, num quadro de consolidação orçamental e de profundas reformas estruturais, em linha com as orientações definidas no programa de ajustamento económico e financeiro. Este Relatório foi elaborado com informação disponível até meados de maio de 2011.

15 PRINCIPAIS INDICADORES (CONTINUA) EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO Indicadores macroeconómicos e financeiros Preço do petróleo (Tvh USD brent) Taxas de juro de referência da política monetária EUA Área do euro Euribor 3 meses Yield das obrigações do Tesouro 10 anos EUA Área do euro Portugal Mercados acionistas (tvh) S&P Dow Jones Euro Stoxx PSI Geral PSI Serviços Financeiros Situação financeira do setor privado não financeiro Particulares Endividamento (dívida financeira) (a) Em percentagem do PIB Em percentagem do rendimento disponível Empréstimos concedidos por instituições financeiras residentes (b) Taxa de variação anual dos quais: Para aquisição de habitação Para consumo e outros fins Capacidade (+) / Necessidade (-) de financiamento (c) Em percentagem do PIB Em percentagem do rendimento disponível Poupança corrente (c) Em percentagem do PIB Em percentagem do rendimento disponível (d) Investimento em ativos reais (c) Em percentagem do PIB Sociedades não financeiras Dívida total (e) Em percentagem do PIB Taxa de variação anual Dívida financeira (f) Em percentagem do PIB Empréstimos concedidos por instituições financeiras residentes (b) Taxa de variação anual Capacidade (+) / Necessidade (-) de financiamento (c) Em percentagem do PIB Poupança corrente (c) Em percentagem do PIB Investimento em ativos reais (c) Em percentagem do PIB Apreciação Global Notas: tvh - taxa de variação homóloga; n.d.- não disponível. (a) A dívida financeira corresponde à soma de empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos pelo setor. (b) Empréstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias e Outros Intermediários Financeiros. Os valores referentes a Dezembro de 2010 foram ajustados relativamente à venda de uma carteira de créditos por parte do BPN. (c) Os rácios de capacidade/necessidade de financiamento, poupança e investimento em percentagem do PIB até 2008 (inclusivé) são calculados utilizando dados das Contas Nacionais na base 2006; os rácios de 2009 em diante baseiam-se nas contas trimestrais do INE. O investimento inclui a formação bruta de capital e as aquisições menos cessões de ativos não financeiros não produzidos (essencialmente, terrenos). (d) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação líquida das famílias nos fundos de pensões. (e) Inclui empréstimos concedidos a sociedades não financeiras por outros setores institucionais; papel comercial e obrigações emitidas por sociedades não financeiras na posse de outros setores e créditos comerciais recebidos de outros setores. (f) Igual à dívida total excluindo créditos comerciais recebidos de outros setores.

16 I 14 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 PRINCIPAIS INDICADORES (CONTINUAÇÃO) EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO * 2008* 2009* 2010* Atividade e rendibilidade Taxa de variação anual do ativo total ROE - Rendibilidade dos capitais próprios (g) ROE - Rendibilidade dos capitais próprios - ajustada (g),(h) ROA - Rendibilidade do ativo (g) ROA - Rendibilidade do ativo - ajustada (g),(h) Margem financeira (perc. ativo total médio) Comissões líquidas (perc. ativo total médio) Rácio entre custos operacionais e produto da atividade Exposição internacional (para o conjunto dos bancos domésticos) Peso dos ativos externos no ativo total (i) dos quais: Ativos locais em moeda local Ativos internacionais, por setor de contrapartida: Setor bancário Setor não bancário Solvabilidade (j) Rácio de adequação global de fundos próprios Rácio de adequação de fundos próprios de base Risco de mercado Taxa de cobertura dos fundos de pensões dos empregados bancários (em percentagem dos fundos próprios) Risco de liquidez Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes Gap de liquidez (l) até 3 meses até 3 meses - Instrução nº 13/ até 1 ano até 1 ano - Instrução nº 13/ Para o conjunto dos bancos domésticos Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes Gap de liquidez (l) até 3 meses até 3 meses - Instrução nº 13/ até 1 ano até 1 ano - Instrução nº 13/ Risco de crédito Empréstimos concedidos por instituições financeiras residentes ao setor privado não financeiro (b) Taxa de variação anual Crédito e juros vencidos (em base consolidada) (m) Em percentagem do crédito sobre clientes Em percentagem do ativo Incumprimento no crédito a particulares (n) Em percentagem do crédito a particulares Incumprimento no crédito a sociedades não financeiras (n) Em percentagem do crédito a sociedades não financeiras Fluxo anual de novos créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa (n),(o) Em percentagem dos empréstimos bancários ajustados de operações de titularização Particulares Ajustado de vendas para fora do sistema bancário Sociedades não financeiras Ajustado de vendas para fora do sistema bancário Provisões para crédito vencido e outro de cobrança duvidosa (base individual) (p),(q) Em percentagem do crédito Em percentagem do crédito com incumprimento (conceito prudencial de incumprimento) (r) Dotação de imparidade (base consolidada) (m),(s) Em percentagem do crédito Em percentagem do crédito vencido Fontes: Bloomberg, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal. Notas: * Quebra de série relacionada com um alargamento do conjunto de instituições em análise. Esta quebra de série não se aplica aos indicadores baseados nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito às instituições bancárias residentes. (g) Para efeitos do cálculo das rendibilidades do ativo e dos capitais próprios foram considerados os resultados antes de impostos e de interesses minoritários, utilizando valores médios de período para as variáveis de stock. (h) Os indicadores de rendibilidade ajustados em 2006 obtêm-se após dedução aos resultados do impacto da operação de re-estruturação de participações em empresas (nomeadamente na área seguradora) que ocorreu num dos principais grupos bancários considerados. Por sua vez, os indicadores ajustados de 2008 a 2010 são obtidos após a exclusão dos bancos BPN e BPP do agregado de instituições em análise. (i) Os valores comparáveis de 2004 a 2007 têm subjacente estimativas do valor do ativo total. (j) A partir de 2008, todas as instituições em análise determinaram o rácio de adequação de fundos próprios de acordo com a regulamentação de Basileia II, o que se refletiu essencialmente no cálculo dos requisitos de capital. (l) Até 2008, o cálculo deste indicador tem por base a Instrução n.º 1/2000 e desde então a Instrução n.º13/2009, às quais estão sujeitas apenas as instituições financeiras que captam depósitos. (m) Os indicadores calculados são obtidos após exclusão do BPN e do BPP a partir de (n) Os valores apresentados para o mês de dezembro de 2010 foram corrigidos relativamente à venda da carteira de créditos do BPN acrescentando o valor da carteira e o respetivo crédito em incumprimento. (o) Variação do saldo de crédito vencido e outros de cobrança duvidosa no balanço das instituições financeiras monetárias residentes ajustada dos abatimentos ao ativo e das reclassificações. As vendas para fora do sistema bancário incluídas no fluxo ajustado correspondem a créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, conforme reporte trimestral definido pela Instrução nº 2/2007. (p) Valores de crédito a residentes reportados em base individual pelas outras instituições financeiras monetárias (bancos, caixas económicas e caixas de crédito agrícola mútuo) e outros intermediários financeiros. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. (q) Os valores apresentados foram calculados excluindo o BPN a partir de (r) Crédito com incumprimento definido com base no conceito prudencial que compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas quanto à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso do Banco de Portugal nº3/95 (disponível em www. bportugal.pt/sibap/sibap_p.htm). (s) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português, incluindo o crédito concedido a residentes e a não residentes bem como os créditos concedidos pelas filiais estrangeiras dos bancos portugueses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. Quebra de série em Para informação adicional consultar o Relatório de Estabilidade Financeira 2008.

17 2. Riscos macroeconómicos e financeiros O enquadramento recente do sistema bancário português tem sido particularmente adverso. A crise de dívida soberana europeia ao longo do último ano envolveu pressões importantes sobre a dívida pública portuguesa, acabando por impor o pedido de assistência financeira internacional pelo governo português no início de abril de O substancial aumento do custo da dívida pública, ao longo de 2010 e sobretudo nos primeiros meses de 2011, dificultou sobremaneira o acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso por parte dos bancos portugueses. De facto, o financiamento dos bancos nestes mercados, sobretudo nas maturidades médias e longas, tem vindo a enfrentar fortes restrições desde o final de abril de 2010, no contexto da intensificação da crise da dívida soberana na área do euro. Neste contexto os bancos portugueses tiveram que recorrer, de forma expressiva, ao financiamento junto do Eurosistema. Para além disso, mais recentemente, os bancos têm procurado ajustar o seu balanço a um enquadramento macroeconómico e financeiro adverso. Este processo de desalavancagem do sistema financeiro, que deverá contribuir também para uma desalanvancagem gradual do setor privado não financeiro, tem consistido no reforço do capital, na venda de ativos, num abrandamento da concessão de crédito e na intensificação da captação de depósitos de clientes. Refira-se que é de esperar a continuação deste processo de desalavancagem nos próximos anos, em linha com o previsto no programa de apoio financeiro da União Europeia, de países membros da área do euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI) Riscos Macroeconómicos e Financeiros As perspetivas quanto ao enquadramento da atividade dos bancos portugueses são dominadas por uma elevada incerteza. O necessário ajustamento de desequilíbrios estruturais da economia portuguesa traduzir-se-á, no curto prazo, em quedas significativas da atividade económica. Contudo, num horizonte de médio e longo prazo, a correção destes desequilíbrios deverá contribuir para a recuperação da competitividade da economia que, ao longo da última década, se caracterizou por um crescimento potencial muito baixo, consubstanciado numa divergência face à média da União Europeia. Nesse período, o fraco desempenho económico foi acompanhado por uma taxa de poupança reduzida e por um aumento generalizado do endividamento da economia, o que se traduziu numa significativa deterioração da posição de investimento internacional. Neste contexto, os atuais desafios para a economia portuguesa assumem duas dimensões complementares: por um lado, é necessário assegurar a correção dos desequilíbrios das finanças públicas; e, por outro, é fundamental atuar sobre as vulnerabilidades estruturais da economia portuguesa para promover o seu crescimento potencial. O programa de ajustamento económico e financeiro engloba estas duas dimensões. As principais medidas deste programa encontram-se resumidas na Caixa O programa de ajustamento económico e financeiro no âmbito do pedido de assistência financeira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional, do Relatório Anual de 2010 do Banco de Portugal. As perspetivas para o sistema bancário português não podem ser dissociadas destes desafios de curto e médio prazo. Neste difícil enquadramento, os principais riscos sobre a estabilidade financeira em Portugal prendem-se com: i) a interação entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia; ii) a possibilidade de se intensificarem as dificuldades no acesso a financiamento nos mercados internacionais de dívida por grosso; iii) o impacto de um enquadramento económico adverso sobre a atividade, rendibilidade e solvabilidade dos bancos, em particular sobre a qualidade do crédito.

18 I 16 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Todos estes riscos interagem entre si, tendendo a reforçar-se mutuamente. Existe uma elevada incerteza quanto à probabilidade e quanto ao impacto destes riscos, dada a ordem de grandeza do ajustamento expectável da economia. Refira-se que o Banco de Portugal tomou diversas medidas ao longo dos últimos meses para mitigar o efeito destes riscos sobre a estabilidade do sistema bancário português. Desde o verão de 2010, o Banco de Portugal recomendou aos bancos uma redução gradual do recurso ao financiamento junto do BCE, através de uma desalavancagem seletiva e gradual dos respetivos balanços, a retenção dos resultados do exercício, o reforço do respetivo capital regulamentar, e a melhoria da sua eficiência operacional. No início de abril, com o objetivo de reforçar a solvabilidade do sistema bancário português, o Banco de Portugal anunciou, por via da publicação do Aviso n.º 1/2011, que todos os grupos bancários teriam de ter, em base consolidada, um rácio Core Tier 1 mínimo de 8 por cento a partir do final de Refira-se que, no final de 2010, o conjunto do sistema bancário português apresentava um rácio Core Tier 1 médio de 8.3 por cento 2. As medidas incluídas no programa de ajustamento económico e financeiro definido na sequência do pedido de apoio financeiro vêm reforçar estas orientações do Banco de Portugal, contribuindo também para um reforço da estabilidade do sistema bancário por via de um processo de desalavancagem equilibrado e gradual, acompanhado por um reforço da solvabilidade dos bancos. Conforme é mencionado na caixa do Relatório Anual supra referida, é possível elencar quatro dimensões fundamentais do programa de ajustamento económico e financeiro no que diz respeito à estabilidade do sistema financeiro: i) garantia de que os bancos portugueses dispõem da liquidez necessária (incluindo o reforço do colateral disponível e a possibilidade de emissão de obrigações com garantia estatal); ii) definição de planos de financiamento de médio prazo, específicos para cada instituição, para assegurar, de forma gradual, a desalavancagem do setor bancário e a redução do financiamento junto do Eurosistema; iii) reforço das exigências recentemente impostas pelo Banco de Portugal sobre os rácios de solvabilidade (impondo-se um rácio Core Tier 1 mínimo de 9 por cento a partir do final de 2011 e de 10 por cento a partir do final do ano seguinte); iv) intensificação do acompanhamento do sistema bancário e da sua regulação e supervisão, aprofundando a linha de orientação que estava já a ser implementada. Adicionalmente, serão efetuadas algumas alterações e aperfeiçoamentos nos mecanismos de intervenção precoce e de resolução dos bancos, assim como nos fundos de garantia de depósitos. Para além disso, será revisto o enquadramento legal tendo em vista facilitar os processos de re-estruturação da dívida de empresas e particulares. Esta revisão irá incluir alterações do Código de Insolvência e será complementada pela intensificação do acompanhamento da situação das empresas e dos particulares, incluindo o desenvolvimento de planos de contingência para gerir de forma eficiente eventuais problemas decorrentes do endividamento excessivo destes setores. Todas as medidas referidas contribuem para mitigar os riscos anteriormente enumerados, promovendo o reforço da solidez do sistema bancário português, num contexto de ajustamento gradual dos desequilíbrios da economia portuguesa. Adicionalmente, refira-se que se espera que a economia global continue a recuperar, o que terá impacto positivo sobre o desempenho das empresas portuguesas exportadoras e sobre a atividade internacional dos bancos portugueses, que tem vindo a assumir um papel cada vez mais importante na sua rendibilidade. De facto, sendo Portugal uma pequena economia aberta, uma 1 O cálculo do rácio Core Tier 1 é definido no Aviso n.º 1/2011, tendo por referência as regras de Basileia III para As alterações na regulação do sistema financeiro a nível global no âmbito do pacote regulamentar Basileia III encontram-se sumariadas na Caixa 2.1 As principais propostas de Basileia III, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro Excluindo o BPN e o BPP.

19 evolução favorável do enquadramento macroeconómico global dará um contributo positivo para a atividade económica do país bem como para a situação financeira dos bancos, e tanto mais relevante quanto ocorre num quadro de contração da procura interna. Não obstante, o enquadramento financeiro internacional, em particular num contexto de intensificação das tensões nos mercados de dívida soberana, poderá continuar a suscitar dificuldades acrescidas aos bancos portugueses Recuperação da economia global em 2010, ainda que com bastante heterogeneidade Depois da recessão global observada em 2009, assistiu-se a uma recuperação significativa, ainda que heterogénea, da economia mundial em 2010 (Gráfico 2.1). Em 2009, a contração da atividade económica foi particularmente severa nas economias avançadas (Gráfico 2.2). Apesar de se ter observado nestas economias uma recuperação generalizada em 2010, alguns países continuaram num quadro recessivo (nomeadamente, Grécia, Islândia, Irlanda e, em menor grau, Espanha). Adicionalmente, de acordo com as previsões do FMI, a maior parte das economias avançadas deverá continuar a registar um crescimento económico inferior ao potencial durante algum tempo. Persiste também grande incerteza quanto ao nível e crescimento do produto potencial, podendo exigir reformas estruturais para promover o crescimento e a competitividade de algumas economias. Neste contexto, a crise financeira global que se seguiu ao colapso do banco de investimento Lehman Brothers deverá ter tido efeitos persistentes nalgumas economias avançadas que deverão continuar a registar elevados níveis de desemprego e taxas de crescimento relativamente moderadas ao longo dos próximos anos. Este cenário será relevante sobretudo para os países em que persiste a necessidade de corrigir vulnerabilidades estruturais ou conjunturais, incluindo a correção de sobrevalorizações nos mercados imobiliários e a resolução de problemas em bancos particularmente afetados pela crise financeira e económica global. Adicionalmente, muitos países prosseguem esforços significativos de consolidação orçamental, na sequência dos desequilíbrios gerados durante a crise global. Não obstante esta consolidação ser essencial para assegurar a sustentabilidade a longo prazo das finanças públicas, não deixa de condicionar a capacidade de recuperação das economias no curto prazo. Riscos Macroeconómicos e Financeiros Apesar destes riscos sobre as perspetivas de crescimento das economias avançadas, a recuperação registada em 2010 não deixa de ser assinalável: de acordo com o FMI, a taxa de crescimento do produto nestas economias aumentou 6.4 p.p. em 2010, para 3.0 por cento. Por seu turno, as economias de mercado emergentes, que não foram tão severamente afetadas pela crise económica e financeira global, Gráfico 2.1 Gráfico 2.2 TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB MUNDIAL E PREVISÕES MEDIANA E QUARTIS 8 TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB DAS ECONOMIAS AVANÇADAS E PREVISÕES MEDIANA E QUARTIS Em percentagem Em percentagem Fonte: FMI (World Economic Outlook). Fonte: FMI (World Economic Outlook).

20 I 18 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 também evidenciaram um forte aumento da sua taxa de crescimento, de 2.7 para 7.3 por cento. A recuperação dos fluxos de comércio internacional em 2010 contribuiu de forma importante para esta evolução. Contudo, persistem desequilíbrios macroeconómicos globais significativos, conforme ilustrado no gráfico 2.3. Apesar de em 2009 se ter assistido a alguma correção destes desequilíbrios, a discrepância entre países com saldos positivos e negativos da balança corrente não deixa de assumir uma magnitude importante e, tendo por base as previsões do FMI, poderá voltar a aumentar nos próximos anos. Um ajustamento abrupto destes desequilíbrios teria repercussões negativas substanciais sobre a recuperação da economia mundial. Outro risco sobre as perspetivas de crescimento da economia global prende-se com a intensificação das pressões sobre os preços das matérias-primas, em particular de bens energéticos, observada desde meados de 2010 (Gráfico 2.4). Estas subidas de preços têm vindo a refletir choques negativos da oferta, incluindo as recentes tensões nalguns países do Médio Oriente e Norte de África, bem como pressões da procura, em parte associadas à forte recuperação das economias de mercado emergentes. Contudo, a transposição do aumento dos preços das matérias-primas em pressões inflacionistas deverá ser relativamente contida, em particular para as economias avançadas, onde as expectativas de inflação se mantêm ancoradas em níveis relativamente reduzidos. Gráfico 2.3 Gráfico 2.4 DESEQUILÍBRIOS GLOBAIS BALANÇA CORRENTE EM PERCENTAGEM DO PIB MUNDIAL 3 Resto do mundo China e economias de mercado emergentes asiáticas Alemanha e Japão Países exportadores de petróleo Outros países com défices da balança corrente EUA Discrepância estatística PREÇOS DE MATÉRIAS-PRIMAS COMMODITIES S&P GSCI Commodity index Preço do crude Brent USD/barril (esc dir.) 160 Em percentagem do PIB mundial Índice USD/barril Jan-02 Jul-03 Jan-05 Jul-06 Jan-08 Jul-09 Jan-11 Fonte: FMI (World Economic Outlook). Nota: Previsões a partir de Fonte: Thomson Reuters. A economia portuguesa em 2010, refletiu uma envolvente externa positiva, com impacto na evolução das exportações, e uma forte recuperação da procura interna. De facto, o consumo privado e o consumo público contribuíram para a recuperação temporária da economia, apesar de o investimento ter continuado a registar uma evolução negativa. Nos próximos anos a economia portuguesa estará sujeita a um profundo processo de ajustamento de desequilíbrios estruturais que vai determinar uma forte queda da procura interna, cujo efeito deverá ser mitigado pelo dinamismo projetado para as exportações, tendo subjacente um aumento da procura externa dirigida às empresas portuguesas num contexto de virtual estabilização da quota de mercado. Deste modo, a economia deverá registar uma contração, no curto prazo, sendo de esperar que, a médio prazo, a implementação adequada das medidas decorrentes do processo de ajustamento das finanças públicas e das restantes reformas estruturais, conduza à progressiva solidificação de um processo de crescimento sustentado.

21 Na área do euro a crise de dívida soberana continua a condicionar a estabilidade financeira e as perspetivas de crescimento económico Conforme discutido na edição anterior do Relatório de Estabilidade Financeira, os receios em torno da crise de dívida soberana contribuíram para uma significativa volatilidade e aversão ao risco ao longo de 2010 e nos primeiros meses de 2011 (Gráfico 2.5), em particular nalguns países da área do euro. Ao longo de 2009 assistiu-se a uma deterioração generalizada da situação das finanças públicas nas economias avançadas, num contexto de forte contração da atividade económica. Neste período observou-se um aumento relativamente generalizado dos prémios de risco da dívida soberana (Gráfico 2.6). Nalguns países, a exposição direta e indireta dos bancos a mercados imobiliários sobrevalorizados e a outros ativos com risco elevado consubstanciou-se em perdas significativas que, nalguns casos, exigiram medidas de apoio das respetivas autoridades nacionais. Por sua vez, outros países assumiram uma política orçamental expansionista, com o intuito de mitigar os efeitos recessivos da crise financeira sobre a economia, o que implicou uma deterioração significativa das finanças públicas, expondo vulnerabilidades estruturais que condicionaram a capacidade de absorção de choques. Deste modo, o forte aumento registado nos prémios de risco soberano desde o final de 2009 foi mais significativo em países que registaram uma forte deterioração das finanças públicas desde o início da crise financeira, que apresentavam vulnerabilidades estruturais ou cujo sistema bancário registou perdas avultadas no âmbito da crise económica e financeira global com repercussões negativas sobre a situação das finanças públicas (Gráfico 2.7) Riscos Macroeconómicos e Financeiros A situação nos mercados de dívida soberana agudizou-se a partir do final de 2009, assistindo-se a um aumento sem precedentes do prémio de risco subjacente a alguns países da área do euro, sendo particularmente expressivo na Grécia, na Irlanda e em Portugal (Gráfico 2.6). O aumento assinalável dos diferenciais da dívida pública grega face à alemã no final de 2009 e, sobretudo, no segundo trimestre de 2010 deu origem a efeitos de contágio entre países europeus, o que justificou a implementação de planos de consolidação orçamental em países que também tinham registado uma deterioração das finanças públicas. Por seu turno, o BCE adotou um conjunto de medidas para assegurar a liquidez do sistema financeiro e da economia, incluindo a implementação de um programa de aquisição de títulos de dívida pública e privada da área do euro (Securities Market Programme). A intensificação das tensões nos mercados de dívida soberana deu ainda origem à definição de um plano conjunto da União Euro- Gráfico 2.5 Gráfico 2.6 INDICADOR DE APETITE AO RISCO GLOBAL DIFERENCIAIS FACE À ALEMANHA DAS TAXAS DE RENDIBILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA DE EMITENTES EUROPEUS 10 ANOS Euforia Em pontos base Áustria França Grécia Irlanda Itália Portugal Espanha Reino Unido Pânico Dez-06 Mar-07 Jun-07 Set-07 Dez-07 Mar-08 Jun-08 Set-08 Dez-08 Mar-09 Jun-09 Set-09 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 0 Jun-07 Mar-08 Dez-08 Set-09 Jun-10 Mar-11 Fonte: Credit Suisse. Nota: Última observação: 17 de maio Fonte: Thomson Reuters.

22 Gráfico 2.7 I 20 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 DESEQUILÍBRIOS MACROECONÓMICOS E EVOLUÇÃO DOS SPREADS DA DÍVIDA PÚBLICA DE ALGUNS PAÍSES EUROPEUS da pública em % do PIB 2010, em p.p.) Variação da dívid ( PT GR IE Saldo da balança corrente em % do PIB (média ) peia e do FMI para apoio financeiro à Grécia no valor de 110 mil milhões de euros em maio de Neste âmbito, foi constituído o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira para conceder apoio a estados-membros da União Europeia em situações excecionais e em articulação com o FMI. Foi ainda estabelecido o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, através da criação de um veículo financeiro com a duração prevista de 3 anos. idade de financiamento da stração pública , em % PIB) Necessidade/capac adminis (média PT GR Saldo da balança corrente em % do PIB (média ) Fontes: FMI e Thomson Reuters. Nota: A área dos círculos corresponde à variação do spread da dívida pública a 10 face à Alemanha de cada país entre o final de agosto de 2008 e 16 de maio de IE A implementação destas medidas a nível europeu, a divulgação de informação sobre o novo quadro de regulação internacional do sistema bancário por parte do Comité de Basileia (Basileia III) e os resultados do exercício europeu de stress-test dos bancos permitiram reduzir a diferenciação dos prémios de risco na área do euro durante parte do verão de 2010, ainda que permanecendo em níveis historicamente elevados. No outono as tensões nos mercados de dívida soberana voltaram a intensificar-se refletindo, por um lado, as discussões em torno da implementação de um mecanismo de assistência financeira permanente a partir de 2013 (que poderia ter subjacente re-estruturações da dívida, com perdas para os investidores privados) e, por outro lado, uma deterioração das perspetivas quanto à solvabilidade dos bancos irlandeses (Gráfico 2.8). As dificuldades no acesso a financiamento de mercado pressionaram o governo irlandês a solicitar o apoio financeiro da União Europeia e do FMI no final de 2010, num montante total de 85 mil milhões de euros, em parte para assegurar a recapitalização do sistema bancário. Nos primeiros meses de 2011 as tensões sobre a dívida soberana persistiram, continuando a afetar países com maiores desequilíbrios orçamentais e estruturais ou com vulnerabilidades no sistema bancário (Gráfico 2.7). Para mitigar estas tensões intensificaram-se os esforços de consolidação orçamental em vários países. Por seu turno, as autoridades espanholas anunciaram diversas medidas para reforçar a solvabilidade dos bancos espanhóis. Apesar destes esforços, os prémios de risco soberano mantiveram-se em níveis elevados. Em março a situação portuguesa registou uma significativa e rápida deterioração, num contexto de instabilidade política e de novas incertezas quanto aos mecanismos temporários e permanentes de assistência financeira na União Europeia. As agências de rating efetuaram sucessivas revisões em baixa das notações atribuídas ao Estado português, bem como aos bancos e a algumas empresas não financeiras (Quadro 2.1). Estes desenvolvimentos agudizaram as pressões sobre a capacidade de emissão de dívida pública,

23 Gráfico 2.8 CREDIT DEFAULT SWAPS DE BANCOS EUROPEUS 5 ANOS SÉNIOR Em pontos base Alemanha Áustria Espanha França Grécia Irlanda Itália Portugal Reino Unido 0 Set-08 Fev-09 Jul-09 Dez-09 Mai-10 Out-10 Mar Riscos Macroeconómicos e Financeiros Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal. Nota: As séries para cada país referem-se a médias não ponderadas de credit default swaps de bancos desse país em euros. Quadro 2.1 NOTAÇÕES DE RATING DA DÍVIDA DE LONGO PRAZO DOS CINCO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES E DA REPÚBLICA PORTUGUESA S&P Moody s Fitch 8-Nov Mar Mai-11 8-Nov Mar Mai-11 8-Nov Mar Mai-11 CGD A- A- BBB- A1 A1 Baa1 A+ A BBB- BCP BBB+ BBB+ BBB- A3 A3 Baa3 BBB+ BBB+ BBB- BST A A BBB- A1 A1 A3 AA AA AA BPI A- A- BBB- A2 A2 Baa2 A- A- BBB- BES A- A- BBB- A2 A2 Baa2 BBB+ - - República Portuguesa A- A- BBB- A1 A1 Baa1 AA- A+ BBB- Fonte: Bloomberg. Nota: Para os bancos, os ratings da S&P referem-se à categoria LT Local Issuer Credit; os ratings da Moody s referem-se à categoria Long Term Bank Deposits; os ratings da Fitch referem-se à categoria LT Issuer Default Rating. Para a República Portuguesa, os ratings referem-se todos à categoria Local Currency LT Debt. bem como sobre o acesso a financiamento dos bancos portugueses nos mercados financeiros internacionais, dado que estes downgrades exerceram um efeito negativo sobre a valorização dos ativos elegíveis como colateral em operações de crédito junto do Eurosistema, bem como sobre os requisitos de capital, conforme discutido na Secção 4.3 Risco de liquidez e na Secção 4.5 Adequação de fundos próprios, deste Relatório. Neste quadro, no início de abril o governo português solicitou o apoio financeiro da União Europeia, dos países membros da área do euro e do FMI, tendo o pedido sido aprovado no dia 17 de maio pelo Conselho de Ministros da Economia e das Finanças da UE e no dia 20 de maio pelo FMI. Mais recentemente assistiu-se a um novo agravamento da situação nos mercados de dívida soberana na área do euro. Esta situação traduziu-se numa forte inversão da inclinação da curva de rendimento dos três países da área do euro com programas de assistência financeira internacional, em particular da Grécia (Gráfico 2.9).

24 Gráfico 2.9 I INCLINAÇÃO DA CURVA DE CDS SOBERANOS BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Pontos base Alemanha Grécia Irlanda Portugal Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal Out-08 Mar-09 Ago-09 Jan-10 Jun-10 Nov-10 Abr-11 Nota: A inclinação da curva reflete a diferença entre os CDS soberanos a 10 e a 5 anos, para cada país. A interação entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia constitui um dos principais riscos para a estabilidade financeira Ao longo do último ano, o aumento do prémio de risco soberano agravou a incerteza e a volatilidade nos mercados financeiros. Nalguns países, com destaque para a Irlanda, o agravamento do risco soberano decorreu diretamente da transferência de riscos do sistema bancário para o setor público no período posterior ao colapso do banco de investimento Lehman Brothers e do impacto sobre as finanças públicas das medidas de apoio ao sistema financeiro assumidas nesse contexto. Noutros países, os bancos não foram afetados de forma tão direta pela crise financeira global, mas a deterioração das finanças públicas e a existência de desequilíbrios e vulnerabilidades estruturais implicaram um forte aumento do prémio de risco soberano que, por sua vez, se traduziu em dificuldades no acesso a financiamento nos mercados internacionais por parte dos bancos desses países (tendo sido este o mecanismo prevalecente nos casos grego e português). Neste contexto, os bancos têm vindo a ser afetados direta e indiretamente por estas perturbações. Por um lado, o sistema bancário é diretamente afetado por via das exposições ao setor público. Em geral, os bancos devem procurar ter um conjunto de ativos de elevada qualidade e liquidez que lhes permitam fazer face a choques negativos sobre a sua capacidade de financiamento. As obrigações do Tesouro com ratings elevados são habitualmente consideradas como um instrumento preferencial para integrar tais buffers de liquidez. Refira-se que o novo enquadramento regulamentar de Basileia III cria incentivos muito específicos para a detenção deste tipo de ativos. Contudo, o forte aumento do prémio de risco associado a obrigações do Tesouro de países sob pressão financeira, acompanhado por sucessivas revisões em baixa das respetivas notações de rating, tem vindo a exercer um efeito muito negativo sobre as exposições dos bancos a risco soberano, deixando em muitos casos de assumir as características necessárias para se poderem considerar como ativos de elevada qualidade e liquidez. Note-se que este efeito não se concentra apenas nos bancos dos países mais afetados pela crise da dívida soberana, dado que existe bastante dispersão geográfica na exposição a dívida soberana (Gráfico 2.10). De facto, tendo em conta o grau de integração financeira na União Europeia e, sobretudo, na área do euro, os potenciais efeitos de contágio decorrentes da exposição a ativos de outros países, não apenas de dívida soberana, são substanciais (Gráfico 2.11). Conforme discutido na Secção 4.2 Risco de mercado, deste Relatório, os bancos portugueses não apresentavam uma exposição muito significativa ao risco soberano antes da eclosão da crise financeira (Gráfico 2.10). Contudo, a redução da procura de dívida pública portuguesa

25 Gráfico 2.10 EXPOSIÇÃO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A DÍVIDA SOBERANA (EMPRÉSTIMOS E TÍTULOS) PARA ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO Em percentagem dos ativos totais Área do euro Portugal Bélgica Alemanha Irlanda Grécia Espanha França Itália Países Baixos Áustria Empréstimos Área do euro Portugal Bélgica Alemanha Irlanda Grécia Espanha França Itália Países Baixos Áustria Títulos de dívida 2 23 Riscos Macroeconómicos e Financeiros Fontes: BCE e cálculos do Banco de Portugal. Gráfico 2.11 EXPOSIÇÕES NÃO DOMÉSTICAS DE BANCOS AOS PAÍSES DA ÁREA DO EURO COM PROGRAMA DE AJUSTAMENTO ECONÓMICO E FINANCEIRO SETEMBRO 2010 Em milhares de milhões de USD Exposições totais das quais: setor público Exposições totais Resto do mundo Reino Unido Outros países da área do euro Itália França Espanha Alemanha das quais: setor público Exposições totais Grécia Irlanda Portugal das quais: setor público Fonte: BIS (Quarterly Review março 2011). Nota: o total das exposições não domésticas refere-se aos ativos de bancos face a estes três países europeus, incluindo ativos do setor público e privado, numa base de último risco e tendo por base as BIS Consolidated Banking Statistics. As exposições totais também incluem derivados, garantias e compromissos de crédito. Para mais detalhes metodológicos ver quadro 1 do BIS Quarterly Review de março nos mercados financeiros internacionais deverá ter implicado uma maior colocação destes instrumentos junto dos bancos portugueses que, por sua vez, podem utilizar estes ativos como colateral junto do Eurosistema. Os impactos da forte diminuição dos preços da dívida soberana de países sob pressão sobre os resultados e o capital regulamentar dos bancos são relativamente limitados, dado que estes títulos estão registados na sua maioria nas carteiras de ativos financeiros disponíveis para venda ou detidos até à maturidade e que os requisitos de fundos próprios se mantêm inalterados para bancos no método padrão de Basileia II. Não obstante, esta exposição do sistema bancário não deixa de criar perdas latentes e de ser

26 I 24 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 avaliada negativamente pelos participantes nos mercados financeiros e pelas agências de rating, devendo ser gradualmente reduzida no âmbito do processo de desalavancagem do sistema financeiro. Contudo, conforme referido na Secção 4.2 Risco de mercado, deste Relatório, a capacidade de alienação dos títulos em carteira encontra-se limitada pela necessidade de reconhecimento de perdas potencialmente elevadas nestes ativos, dada a forte diminuição do seu preço ao longo dos últimos meses. A crise da dívida soberana também tem importantes impactos indiretos sobre a estabilidade do sistema bancário. Em primeiro lugar, a referida avaliação negativa dos participantes de mercado e das agências de rating consubstancia-se em maiores custos de financiamento dos bancos nos mercados internacionais de dívida por grosso e, nalguns casos, em efetivas restrições quantitativas. Neste domínio, os bancos portugueses têm vindo a enfrentar fortes dificuldades no acesso a financiamento nos mercados de dívida por grosso ao longo do último ano, conforme discutido na Secção 4.3 Risco de liquidez, deste Relatório. De facto, desde o final de abril de 2010, os bancos portugueses deixaram de ter acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso a médio e longo prazo, financiando-se essencialmente junto do BCE e do Banco Europeu de Investimento, bem como nos mercados de dívida a curto prazo. Assim, os bancos procuraram reforçar a captação de depósitos junto da sua base de clientes, o que se traduziu numa diminuição da margem financeira sobre operações passivas calculada relativamente a taxas de juro do mercado monetário (tendo vindo a assumir valores médios negativos). Em segundo lugar, o aumento do risco soberano tem implicações negativas sobre a valorização do colateral dos bancos para operações de financiamento, exercendo pressões adicionais sobre a sua capacidade de refinanciamento. Em terceiro lugar, a deterioração da qualidade de crédito das exposições diretas e, sobretudo, indiretas a risco soberano tem implicações sobre os rácios de capital dos bancos 3. Conforme já referido, estes dois últimos efeitos foram particularmente relevantes para os bancos portugueses no final de março e no início de abril de 2011, na sequência das fortes revisões em baixa dos ratings de dívida pública e privada portuguesa, tendo agravado severamente uma situação que já se caracterizava pela persistência de dificuldades no acesso a financiamento de mercado. Por último, o agravamento do risco soberano também afeta potencialmente os bancos por via da perceção dos mercados e das agências de rating da diminuição da probabilidade de apoio implícito do Estado ao setor bancário em casos de dificuldades. A este respeito, refira-se que o programa de ajustamento económico e financeiro recentemente aprovado inclui medidas que asseguram este apoio aos bancos portugueses, nomeadamente a concessão de garantias estatais para a emissão de dívida e o aumento do montante disponível para injeções de capital nos bancos 4. As tensões sobre o risco soberano e a sua interação com a estabilidade financeira têm implicações sobre a evolução da atividade económica. A necessidade de implementar programas de austeridade para possibilitar a consolidação orçamental tem consequências sobre o crescimento económico no curto prazo, por via da contração da procura interna. Por outro lado, o aumento da incerteza e da aversão ao risco tendem a condicionar as expectativas dos agentes económicos, reforçando a pressão sobre a procura interna, em particular sobre o consumo e o investimento. Por último, a persistência de dificuldades no acesso a financiamento de mercado também contribui para uma contração da atividade económica, por via de uma inevitável intensificação da restritividade na concessão de crédito. De facto, neste contexto, os bancos deverão desalavancar gradualmente o seu balanço, sendo este processo essencial para assegurar a estabilidade do sistema financeiro no médio prazo. No entanto, o processo de desalavancagem poderá ser efetuado por diferentes vias, com impactos diferenciados sobre a economia portuguesa. Neste sentido, os bancos deverão privilegiar estratégias de reforço da sua base de capital, 3 Refira-se que os requisitos de fundos próprios se mantêm inalterados para exposições a títulos de dívida soberana de países da União Europeia emitidos em euros para os bancos que estejam no método padrão de Basileia II, de acordo com o definido na Diretiva de Requisitos de Capital (ver Aviso do Banco de Portugal nº 5/2007). 4 Ver Caixa O programa de ajustamento económico e financeiro no âmbito do pedido de assistência financeira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

27 de venda de créditos e de ativos não estratégicos face aos setores privado e público, e de reforço do financiamento estável, nomeadamente dos depósitos captados junto de clientes. Dado o importante papel desempenhado pelos bancos no financiamento da economia, um processo de desalavancagem dos bancos implicará necessariamente uma desalavancagem do setor privado. Refira-se que um processo de desalavancagem dos bancos assente na redução da atividade internacional tenderá a afetar menos a economia portuguesa mas, em contrapartida, poderá ter um efeito negativo na evolução da rendibilidade e, consequentemente, na solvabilidade dos bancos, dado que os resultados obtidos por via da atividade internacional têm oferecido um importante contributo para a rendibilidade de vários bancos portugueses ao longo dos últimos anos (ver Secção 4.1 Atividade e rendibilidade, deste Relatório). Por outro lado, a desalavancagem efetuada através da venda de ativos terá um efeito diferente sobre a economia do que se tiver lugar via redução de novo crédito. Contudo, as vendas de ativos poderão originar perdas com consequências negativas para a rendibilidade e solvabilidade dos bancos. Refira- -se também que os bancos não domésticos com atividade em Portugal têm contribuído para mitigar o impacto do processo de desalavancagem do sistema bancário sobre a economia portuguesa, conforme discutido na Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório Riscos Macroeconómicos e Financeiros Os elevados níveis de endividamento do setor privado, intermediados pelo sistema bancário, traduziram- -se em desequilíbrios persistentes da economia portuguesa, designadamente face ao exterior. O gráfico 2.12 ilustra a importância da ligação entre o setor privado não financeiro e o sistema bancário, bem como a sua exposição face ao resto do mundo, o que se tem refletido numa progressiva deterioração da posição de investimento internacional ao longo da última década 5. Em 2010, é de referir o aumento da ligação entre o sistema financeiro e o banco central e deste com o resto do mundo, o que reflete o aumento do recurso a financiamento junto do Eurosistema. Em termos estruturais é patente a importância das exposições intra-setoriais do setor financeiro e, sobretudo, das empresas não financeiras. Adicionalmente, as exposições brutas entre o resto do mundo e o setor financeiro e a exposição deste último setor a particulares e a empresas não financeiras também assumem uma magnitude significativa (existindo também alguma exposição bilateral entre o resto do mundo e as empresas não financeiras). Estas fortes ligações entre o sistema bancário e o setor privado não financeiro reforçam a necessidade de que o ajustamento dos desequilíbrios estruturais da economia portuguesa se processe de forma gradual e não abrupta, num quadro de inadiável consolidação orçamental. Neste sentido, uma dimensão importante deste processo de ajustamento consiste em assegurar que os bancos continuam a financiar os setores mais produtivos da economia doméstica, de forma a minimizar eventuais restrições à atividade das empresas. Em termos globais, a adequada correção destes desequilíbrios, designadamente a obtenção de uma estrutura de financiamento mais estável, é essencial para assegurar a estabilidade financeira no médio prazo e a reabertura aos bancos portugueses dos mercados internacionais de dívida por grosso a médio e longo prazo. Por último, a deterioração das perspetivas sobre o crescimento económico, num contexto de consolidação orçamental e de desalavancagem do sistema bancário, terá implicações negativas sobre a atividade, rendibilidade e solvabilidade dos bancos portugueses conforme discutido no Capítulo 4. Sistema Bancário, deste Relatório. A contração da procura interna deverá contribuir para uma redução da procura de crédito, o que concorre para o necessário processo de desalavancagem. Não obstante, tal redução da atividade de concessão de crédito poderá exercer pressões sobre a margem financeira dos bancos. Note-se que, em cenários de aumento gradual da restritividade da política monetária, os bancos portugueses tendem a beneficiar de efeitos positivos sobre a margem financeira, ao contrário do observado em países onde 5 Neste gráfico o diâmetro do círculo é proporcional à exposição intra-setorial e a largura dos traços é proporcional às relações inter-setoriais. A metodologia pressupõe a estimação por máxima entropia de exposições bilaterais de cada setor, tendo por base exposições bilaterais de empréstimos e depósitos (para mais detalhes sobre a metodologia ver Silva, N. (2010), Relações inter-setoriais na economia portuguesa: uma aplicação do modelo de dívida contingente, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010).

28 I 26 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 predominam taxas de juro fixas ou com períodos de refixação longos nos empréstimos concedidos. Contudo, dada a expectável compressão da margem financeira em operações passivas e a diminuição do volume de operações ativas, estes efeitos podem ser menores do que o habitualmente observado. Por seu turno, o aumento esperado das taxas de juro a curto prazo tenderá a exercer uma pressão negativa sobre a qualidade de crédito, acrescendo às perspetivas de aumento das imparidades associadas a uma contração da atividade económica. Os bancos tenderão deste modo a registar uma pressão sobre os seus requisitos de capital, que poderá ser contrariada com o reforço do capital regulamentar ou com a venda de ativos, no contexto de um processo gradual e equilibrado de desalavancagem. Um importante mitigante deste enquadramento globalmente adverso para o sistema bancário português prende-se com as perspetivas de recuperação da economia mundial que deverão estimular a procura externa dirigida à economia portuguesa. Nesse sentido, os bancos com atividade internacional relevante poderão mitigar os impactos do enquadramento nacional sobre a sua rendibilidade, enquanto as empresas com atividades internacionais ou de exportação poderão beneficiar de um aumento da procura externa. Note-se que estas empresas deverão enfrentar também menores restrições no acesso a financiamento, dada a possibilidade de se financiarem através de créditos comerciais no exterior ou, no caso de empresas de maior dimensão, nos mercados financeiros internacionais (Gráfico 2.12). Adicionalmente, conforme referido, os bancos residentes não domésticos poderão continuar a mitigar o impacto do processo de desalavancagem do sistema bancário sobre a economia portuguesa. Estabilidade financeira num cenário de desalavancagem da economia portuguesa Apesar do enquadramento muito adverso em que os bancos portugueses têm vindo a desenvolver a sua atividade desde o início da crise financeira global, a sua capacidade de adaptação e resistência a choques tem sido assinalável. Para esta resiliência contribuíram a inexistência de exposições materialmente relevantes a ativos associados ao mercado subprime norte-americano ou a outros ativos complexos e a prevalência de um modelo de intermediação relativamente tradicional, assente numa base de capital adequada. Gráfico 2.12 EXPOSIÇÃO BRUTA INTER-SETORIAL NA ECONOMIA PORTUGUESA 2009T T4 2010T T4 BC RM BC RM SF SF AP SNF Part AP SNF Part Fonte: Banco de Portugal. Notas: BC banco central; RM resto do mundo; SF sistema financeiro; AP Administrações públicas; SNF sociedades não financeiras; Part particulares. Diâmetro do círculo proporcional à exposição intra-setorial; largura dos traços proporcional às relações inter-setoriais. A metodologia pressupõe a estimação por máxima entropia de exposições bilaterais de cada setor, tendo por base exposições bilaterais de empréstimos e depósitos. Para mais detalhes sobre a metodologia ver Silva, N. (2010), Relações inter- -setoriais na economia portuguesa: uma aplicação do modelo de dívida contingente, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010

29 Para além disso, a evolução das imparidades dos bancos portugueses foi moderada, em contraste com o observado noutros países onde se tinha observado uma valorização excessiva do mercado imobiliário. De facto, em Portugal a evidência disponível aponta de forma consistente para a inexistência de desalinhamentos entre os preços dos bens imobiliários e os fundamentos macroeconómicos. Neste enquadramento, as fortes dificuldades enfrentadas pelos bancos portugueses no acesso a financiamento refletiram essencialmente o substancial aumento do risco soberano. Num horizonte de curto e médio prazo, as perspetivas para o sistema bancário português encontram-se profundamente condicionadas pela interação entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia, dada a existência de mecanismos de transmissão e contágio que se podem reforçar mutuamente. Por seu turno, estes mecanismos podem consubstanciar-se na persistência de dificuldades no acesso a financiamento nos mercados de dívida por grosso e num impacto negativo sobre a situação financeira dos bancos. Estes riscos para a estabilidade financeira são comuns a outros países europeus que têm enfrentado aumentos semelhantes no prémio de risco soberano, ainda que por motivos diferenciados. Apesar das perspetivas para a atividade económica serem globalmente positivas na Europa, a estabilidade financeira continua a ser ameaçada por efeitos de contágio decorrentes da crise da dívida soberana. Neste contexto, existem duas fontes de pressão potencialmente críticas: a manutenção de incerteza quanto à sustentabilidade da dívida pública de alguns países e a possibilidade de uma deterioração das perspetivas dos investidores internacionais sobre a situação das finanças públicas e dos bancos noutros países da área do euro. A materialização de tais riscos teria efeitos adicionais bastante negativos sobre a estabilidade financeira na área do euro e em Portugal Riscos Macroeconómicos e Financeiros Estes importantes desafios exigem que os bancos portugueses se dotem com o capital necessário para enfrentar possíveis choques adicionais, de forma a continuar a assegurar a estabilidade do sistema financeiro. Neste sentido, as recomendações efetuadas pelo Banco de Portugal ao longo dos últimos meses e as medidas integradas no programa de ajustamento económico e financeiro contribuem para reforçar a solidez do sistema bancário. Os bancos começaram a implementar planos de desalavancagem que deverão conduzir a uma situação mais sustentável da economia portuguesa no médio prazo. É essencial, contudo, que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva convergência para um novo equilíbrio. A par deste processo, a prossecução dos esforços de consolidação orçamental é essencial para assegurar a sustentabilidade das finanças públicas, contribuindo também para a estabilidade financeira. Não obstante, estes esforços têm necessariamente de ser complementados com medidas que permitam ultrapassar algumas debilidades estruturais da economia portuguesa, promovendo a sua competitividade e o seu crescimento potencial. Em termos globais, o programa de ajustamento económico e financeiro engloba medidas essenciais para assegurar uma posição mais sustentável do sistema bancário num horizonte de médio prazo, assegurando simultaneamente a consistência com o inevitável processo de ajustamento macroeconómico da economia portuguesa. Dada a posição globalmente sólida do sistema bancário, a implementação destas medidas deverá permitir um regresso gradual ao financiamento nos mercados internacionais de dívida por grosso.

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31 3. SITUAÇÃO FINANCEIRA DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO Em 2010, as necessidades de financiamento do setor privado não financeiro permaneceram estáveis, num nível semelhante ao valor mínimo da última década. Subjacente a esta evolução esteve uma redução das necessidades de financiamento das sociedades não financeiras, a qual compensou a ligeira diminuição da capacidade de financiamento dos particulares, num contexto de crescimento significativo do consumo privado (Gráfico 3.1). O excedente bruto de exploração das empresas e o rendimento disponível bruto dos particulares aumentaram, refletindo, em grande parte, no primeiro caso, um maior dinamismo da atividade económica e, no segundo, um acréscimo do rendimento de juros. Em ambos os setores, a taxa de investimento em ativos reais manteve uma tendência de redução. Contudo, a taxa de poupança registou uma evolução diferenciada, reduzindo-se no caso dos particulares e aumentando no caso das sociedades não financeiras. Comparativamente com os restantes países da área do euro as empresas portuguesas continuam a evidenciar necessidades de financiamento bastante superiores, enquanto a capacidade de financiamento dos particulares se situa em níveis próximos da média da área do euro (Gráfico 3.2). Os empréstimos concedidos ao setor privado não financeiro registaram uma moderação em Este comportamento resultou de um forte abrandamento dos empréstimos concedidos por instituições financeiras domésticas residentes, o qual foi parcialmente compensado por um aumento da importância do crédito concedido por instituições residentes não domésticas e por instituições não residentes 1. Para além dos efeitos negativos sobre a procura e a oferta de crédito, decorrentes das perspetivas negativas para a atividade económica em Portugal, os empréstimos concedidos pelas instituições financeiras domésticas ao setor privado estarão a ser negativamente afetados pelas dificuldades de financiamento enfrentadas pelos bancos, no contexto da crise de dívida soberana, assim como pela necessidade de desalavancagem dos seus balanços. A transmissão ao setor privado não financeiro das dificuldades de financiamento dos bancos nos mercados internacionais de dívida por grosso tornou-se mais evidente a partir de meados de 2010, quando os empréstimos ao setor privado não financeiro retomaram a tendência de moderação, interrompida na primeira metade do ano, e os respetivos spreads face às taxas de juro 3 29 Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro Gráfico 3.1 CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO Sociedades não financeiras Particulares Setor privado não financeiro 2.0 Em percentagem do PIB Fonte: INE. 1 Ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo da desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório.

32 Gráfico 3.2 I CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO COMPARAÇÃO INTERNACIONAL BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Fonte: Eurostat. Em percentagem do PIB Sociedades não financeiras Particulares de mercado aumentaram. No curto prazo é de esperar que os bancos domésticos continuem a tornar mais restritivas as condições de concessão de empréstimos, refletindo um aumento do risco de crédito assim como a continuação da reestruturação gradual dos seus balanços. Neste aspeto importa mencionar que o programa de assistência financeira a Portugal engloba várias medidas para reforçar a estabilidade do sistema financeiro e minimizar o efeito do processo de desalavancagem sobre a concessão de novos créditos ao setor privado. Refira-se em particular o fundo de apoio à recapitalização dos bancos, o qual pretende contribuir para que estes sejam capazes de cumprir os critérios mais exigentes para os requisitos de capital, e, por outro lado, as medidas que permitem assegurar liquidez ao sistema bancário, nomeadamente o reforço dos ativos disponíveis como colateral e a emissão de obrigações com garantia estatal IE DE NL AU BE FI ES SK SI FR GR IT PT AE DK SE UK Nota: A média e a mediana foram calculadas com os dados para os países da área do euro para os quais existe informação disponível. Média Mediana A desalavancagem do setor privado não financeiro é, no entanto, parte integrante do processo de ajustamento da economia portuguesa e a moderação da concessão de crédito por parte do sistema bancário doméstico irá induzir um processo conducente à realização deste objetivo. Em 2010, o endividamento do setor privado não financeiro estabilizou num nível elevado, após a tendência de aumento registada na última década. Os fluxos de incumprimento nos empréstimos, que estavam a apresentar uma redução até ao terceiro trimestre de 2010, inverteram esta tendência no final do ano, situando-se em níveis elevados no caso das sociedades não financeiras e dos empréstimos ao consumo e outros fins, mas ainda em linha com os seus valores históricos no caso dos empréstimos à habitação. Num quadro de ajustamento da economia, que implica um período recessivo, com reflexos ao nível do mercado de trabalho e da rendibilidade das empresas, e que ocorrerá em simultãneo com o aumento das taxas de juro, a persistência de níveis de endividamento elevados deverá continuar a traduzir-se em maiores dificuldades das famílias e das empresas em satisfazerem os seus compromissos de dívida. Particulares A capacidade de financiamento dos particulares diminuiu ligeiramente em 2010, o que refletiu uma redução da taxa de poupança superior ao decréscimo da taxa de investimento A capacidade de financiamento dos particulares, em percentagem do rendimento disponível, reduziu-se ligeiramente face a 2009, permanecendo, contudo, acima dos valores médios observados na década anterior. Esta evolução refletiu principalmente uma redução da taxa de poupança, que mais do que

33 compensou a manutenção da tendência de diminuição da taxa de investimento registada ao longo da última década (Gráfico 3.3). Em 2010, a taxa de poupança dos particulares situou-se em 9.8 por cento, revertendo parcialmente o acréscimo verificado no ano anterior. Este comportamento esteve associado a um crescimento significativo do consumo, após a redução registada em 2009 (em volume, -1.1 e 2.2 por cento, em 2009 e 2010, respetivamente), o que sugere que o processo de ajustamento em baixa da despesa de consumo das famílias foi interrompido temporariamente, apesar das perspetivas mais negativas para a evolução do rendimento permanente das famílias. O crescimento do consumo em 2010 foi particularmente acentuado na componente de bens duradouros, refletindo em parte alguma antecipação de despesas motivada por alterações fiscais. A aceleração das despesas de consumo ocorreu num contexto de maior crescimento do rendimento disponível nominal, pese embora a moderação observada no rendimento real. Num quadro de aumento da taxa de desemprego, de redução do emprego e de moderação nas remunerações por trabalhador, as remunerações totais do trabalho registaram em 2010 um crescimento semelhante ao do ano anterior em termos nominais, mas uma redução em termos reais. Adicionalmente os esforços de consolidação das contas públicas traduziram-se num contributo praticamente nulo das prestações sociais deduzidas das contribuições sociais, que tinham tido um contributo significativo para o rendimento em Assim, a aceleração do rendimento disponível nominal foi em grande parte determinada por um aumento do rendimento de juros e por uma menor redução dos rendimentos distribuídos das sociedades. A evolução favorável da diferença entre os juros recebidos e os juros pagos terá decorrido de alguma recomposição da carteira de investimento dos particulares a favor de instrumentos que vencem juros e com prazos mais longos mas, principalmente, de uma redução do diferencial entre as taxas de juro dos empréstimos e as taxas de juro das aplicações financeiras. Com efeito, o diferencial positivo entre as taxas de juro de mercado de prazos mais longos e as taxas de juro do mercado monetário, às quais a maioria dos empréstimos das famílias está indexada, aumentou significativamente ao longo de O rendimento de juros dos particulares terá ainda beneficiado de uma redução da margem de intermediação bancária e, em particular, da margem aplicada aos empréstimos (Gráfico 3.4). De facto, os spreads das taxas de juro de saldos dos empréstimos, face às taxas de referência de mercado de curto prazo, reduziram-se em termos médios anuais em Estes spreads começaram no entanto a registar um acréscimo moderado na segunda metade do ano, para o que terá contribuído o aumento da restritividade nos critérios de 3 31 Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro Gráfico 3.3 CAPACIDADE DE FINANCIAMENTO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DOS PARTICULARES 15 Em percentagem do rendimento disponível (a) Capacidade/necessidade líquida de fi nanciamento Poupança Saldo de transferências de capital Aquisições líquidas de cessões de ativos reais (b) Cap. líq. fi nanciamento, excluindo contribuições extraordinárias para fundos de pensões Fonte: INE. Notas: (a) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação das famílias nos fundos de pensões. (b) Corresponde à soma da formação bruta em capital fixo, variação de existências, aquisições líquidas de cessões de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos financeiros não produzidos.

34 Gráfico 3.4 I JUROS LÍQUIDOS RECEBIDOS POR PARTICULARES E MARGEM DA INTERMEDIAÇÃO BANCÁRIA COM PARTICULARES 32 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem do rendimento disponível Margem dos empréstimos (a) Margem dos depósitos (b) Juros recebidos (c) Juros pagos (d) Juros líquidos (c-d) Fontes: INE e Banco de Portugal. Notas: Os serviços de intermediação financeira indiretamente medidos constituem a remuneração indireta obtida pelas instituições financeiras nas operações de depósitos e empréstimos que realizam com os seus clientes. (a) SIFIM estimados para os empréstimos de particulares. (b) SIFIM estimados para os depósitos de particulares. (c) Corresponde à diferença entre os juros a receber incluídos na conta de distribuição de rendimento dos particulares e os respetivos SIFIM. (d) Corresponde à soma dos juros a pagar incluídos na conta de distribuição de rendimento dos particulares com os respetivos SIFIM. concessão de crédito. Neste período observou-se também um aumento do diferencial positivo entre as taxas de juro dos depósitos dos particulares e as taxas do mercado monetário, refletindo possivelmente uma tentativa dos bancos de aumentarem a captação de fundos num contexto de dificuldades de financiamento nos mercados de dívida por grosso e de receios quanto a uma eventual alteração na política de cedência de liquidez por parte do BCE. A redução registada na capacidade de financiamento dos particulares em 2010 foi essencialmente determinada pela evolução no segundo semestre. Relativamente ao período homólogo, a taxa de poupança registou uma redução mais acentuada na segunda metade do ano, e as transferências de capital, em percentagem do rendimento disponível, registaram uma redução depois de terem aumentado ligeiramente no primeiro semestre. O agravamento da situação económica na segunda metade de 2010 refletiu-se numa desaceleração do rendimento disponível, que não foi, contudo, acompanhada por uma moderação das despesas de consumo na mesma magnitude. Para 2011 espera-se que o processo de ajustamento da despesa das famílias se acentue, num quadro de níveis de endividamento elevados, evolução negativa do rendimento corrente e incerteza quanto à sua evolução futura. O aumento dos custos com juros, decorrentes de uma política monetária menos acomodatícia e da continuação do aumento da restritividade nos critérios de concessão de crédito por parte dos bancos, deverá contudo continuar a ser acompanhado por um aumento das taxas de juro dos depósitos bancários. As transações de ativos e passivos financeiros continuaram a situar-se em níveis significativamente menores do que os registados antes da crise económica e financeira Em 2010, as aquisições líquidas de ativos financeiros por parte dos particulares diminuíram ligeiramente face ao ano anterior (Gráfico 3.5). A maior parte das transações líquidas de ativos consistiram em aquisições de seguros de vida e fundos de pensões, as quais, depois da interrupção observada em 2008, retomaram níveis próximos dos registados na década de Num contexto de acréscimos muito acentuados nas taxas de rendibilidade das obrigações, as aquisições líquidas de títulos a longo prazo registaram igualmente um crescimento significativo. Por sua vez, os depósitos aumentaram mais do que em 2009, embora significativamente menos do que nos anos precedentes. O crescimento moderado dos

35 Gráfico 3.5 Em percentagem do rendimento disponível TRANSAÇÕES EM ATIVOS FINANCEIROS POR PARTICULARES Fontes: INE e Banco de Portugal. Outros débitos e créditos (a) Empréstimos, créditos comerciais e adiantamentos Seguros de vida e fundos de pensões Ações não cotadas e outras participações Ações cotadas Participações em fundos de investimento Títulos exceto ações Numerário e depósitos Total transações líquidas em ativos fi nanceiros Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro depósitos deverá ser em parte justificado pelo facto das taxas de juro terem permanecido num nível baixo em 2010, pese embora a tendência de aumento que têm vindo a registar desde meados desse ano. Esta evolução mais recente reflete as expectativas de início de um ciclo de subida da taxa de juro por parte do BCE, que se veio a materializar em abril de 2011, e também a tentativa dos bancos aumentarem a captação de recursos junto de clientes. As aquisições líquidas destes ativos contrastam com a redução das aplicações em ações cotadas e participações em fundos de investimento observadas em 2010, após algum retorno a este tipo de investimentos no ano anterior. Apesar da aquisição líquida de ativos financeiros, o valor da carteira de particulares em percentagem do rendimento disponível reduziu-se ligeiramente face ao final de 2009 (Gráfico 3.6). Para a redução no valor dos ativos foi determinante a existência de um efeito de volume no valor de -2.8 mil milhões de euros, sobre os seguros de vida e fundos de pensões, decorrente da forma como a transferência de três fundos de pensões do grupo Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações é registada na Contabilidade Nacional. Excluindo este efeito, os ativos financeiros em percentagem do rendimento disponível situaram-se num nível próximo do registado em Em 2010, os efeitos negativos de valor foram mais significativos no caso dos títulos de dívida a longo prazo e das ações cotadas, em linha com a evolução dos preços destes ativos nos mercados financeiros. As variações negativas de valor registadas nos últimos anos nos ativos sujeitos a risco de mercado contribuem para que a principal alteração na carteira de ativos financeiros dos particulares, face ao período anterior à crise económica e financeira, seja uma redução dos pesos das participações em fundos de investimento e das ações cotadas, que tem como principal contrapartida um aumento do peso dos depósitos e, excluindo o efeito referido anteriormente, dos seguros de vida e fundos de pensões. Em 2010, o fluxo de empréstimos contraídos por particulares foi positivo mas relativamente reduzido, o que se traduziu na estabilização do rácio de endividamento face ao rendimento disponível Em 2010, o fluxo liquido total de empréstimos contraídos por particulares foi mais elevado do que em 2009, mas permaneceu num nível reduzido quando comparado com os dos anos anteriores (cerca de 2.7 por cento do rendimento disponível, face a 2.4 por cento em 2009 e cerca de 10 por cento no período ) (Gráfico 3.7). O ligeiro aumento do fluxo de empréstimos ficou a dever-se, em parte, a

36 Gráfico 3.6 I ATIVOS FINANCEIROS DE PARTICULARES POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem do rendimento disponível Outros débitos e créditos (a) Empréstimos, créditos comerciais e adiantamentos Fundos de pensões Seguros de vida Ações não cotadas e outras participações Ações cotadas Participações em fundos de investimento Títulos exceto ações Numerário e depósitos Fontes: INE e Banco de Portugal. Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber. uma variação positiva dos empréstimos concedidos por outros intermediários financeiros e auxiliares financeiros, os quais tinham registado um re-embolso líquido superior em O fluxo líquido de empréstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias (IFM) manteve a tendência de redução que vem a registar desde 2007, e de forma mais acentuada desde No caso das IFM o fluxo líquido positivo ficou a dever-se à componente de habitação, a qual se situou em 2.3 por cento do rendimento disponível (2.5 por cento em 2009). Os empréstimos bancários concedidos a particulares para consumo e outros fins registaram fluxos líquidos praticamente nulos em O enfraquecimento dos empréstimos concedidos por IFM a particulares foi essencialmente determinado pelo comportamento a partir de meados de 2010, existindo alguns indícios de que no início de 2011 os empréstimos, tanto para a habitação, como para outros fins, estejam a registar re-embolsos líquidos. Para a desaceleração dos empréstimos concedidos por IFM a particulares terá contribuído a continuação do aumento da restritividade nos critérios de concessão de crédito por parte dos bancos. De acordo Gráfico 3.7 TRANSACÇÕES EM PASSIVOS FINANCEIROS POR PARTICULARES Em percentagem do rendimento disponível Outros débitos e créditos(a) Créditos comerciais e adiantamentos Outros empréstimos Empréstimos bancários para outros fins Empréstimos bancários para consumo Empréstimos para habitação Total Fonte: INE e Banco de Portugal. Notas: Valores consolidados. (a) Inclui títulos exceto ações e outras contas a pagar.

37 com as respostas dos bancos portugueses participantes no Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, este aumento da restritividade tem-se traduzido principalmente em spreads mais elevados, mas também em comissões mais altas, menores maturidades e condições mais exigentes ao nível das garantias aceites 2. O maior grau de restritividade aplicado nas condições de concessão de crédito é justificado por parte dos bancos tanto por uma deterioração das expectativas quanto à situação económica, como por aumentos nos custos de financiamento e restrições de balanço. A menor preponderância deste último fator no caso dos bancos não domésticos, os quais enfrentam menores restrições ao seu financiamento por terem acesso a fundos através das respetivas casas-mãe, pode justificar o aumento significativo do peso das instituições financeiras residentes não domésticas na concessão de crédito aos particulares 3. Segundo as respostas ao Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, a procura de empréstimos para habitação reduziu-se ao longo de 2010, refletindo a deterioração das condições macroeconómicas, enquanto a procura de empréstimos para consumo e outros fins só terá começado a reduzir-se na parte final do ano, sendo sustentada durante a maior parte de 2010 pelas despesas de consumo de bens duradouros. Desde o último trimestre de 2010, as respostas ao inquérito apontam para uma acentuação da queda da procura de empréstimos tanto para habitação como para consumo. Neste período, para além do efeito negativo associado à deterioração da confiança dos consumidores, a procura de empréstimos para consumo e outros fins estará a ser negativamente afetada por uma redução das despesas de consumo em bens duradouros e a procura de empréstimos à habitação pela intensificação das perspetivas negativas para o mercado de habitação. De acordo com o índice Confidencial Imobiliário 4, os preços da habitação estão a desacelerar em termos homólogos desde o verão de 2010, observando no início de 2011 um crescimento nominal baixo e uma redução em termos reais (Gráfico 3.8). Note-se que em Portugal, ao contrário do que acontece em alguns países europeus e nos Estados Unidos, a evidência disponível aponta para a ausência de sobrevalorização dos preços da habitação na segunda metade da 3 35 Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro Gráfico 3.8 ÍNDICE CONFIDENCIAL IMOBILIÁRIO Taxa de variação homóloga (em percentagem) Nominal Real (a) -8.0 Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11 Fonte: Newsletter Confidencial Imobiliário. Nota: (a) Deflacionado pela taxa de variação homóloga do IPC. 2 No primeiro trimestre de 2011 os bancos reportaram igualmente uma diminuição significativa do rácio entre o valor dos empréstimos à habitação e a garantia exigida. 3 Ver Secção 4.5 Risco de crédito, deste Relatório. 4 O índice Confidencial Imobiliário é calculado com base em preços de oferta e ponderado por região e estado de uso do alojamento. No entanto, o ajustamento de qualidade no cálculo do índice não permite controlar de forma integral variações neste parâmetro, facto que estará subjacente ao crescimento relativamente elevado registado no final de Para informação metodológica, ver Índice Confidencial Imobiliário: procedimentos metodológicos, Isabel Fonseca e Ricardo Guimarães, Newsletter Imobiliária Portuguesa Confidencial Imobiliário, outubro de 2006.

38 década de Neste contexto, a evolução futura dos preços deverá ser essencialmente condicionada pelo processo de ajustamento em baixa da procura interna. I 36 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Refletindo o crescimento mais moderado dos empréstimos relativamente ao rendimento disponível, a dívida financeira dos particulares em percentagem do rendimento disponível registou uma redução marginal em 2010, situando-se em cerca de 129 por cento (130 por cento em 2009) (Gráfico 3.9). O endividamento dos particulares tem permanecido relativamente estável desde 2008, tendo assim interrompido a tendência de aumento observada anteriormente, embora se mantenha entre os mais elevados de entre os países da área do euro (Gráfico 3.10). Em percentagem do rendimento disponível Gráfico 3.9 Gráfico 3.10 ENDIVIDAMENTO DOS PARTICULARES POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO Empréstimos bancários - Habitação Empréstimos bancários - Consumo Empréstimos bancários - Outros fins Outros empréstimos Juros a pagar (percentagem do rendimento disponível; esc.direita) Taxa de juro implicita (esc.direita) 0 0 Dez-00 Dez-02 Dez-04 Dez-06 Dez-08 Dez Em percentagem Em percentagem do PIB DÍVIDA FINANCEIRA DOS PARTICULARES COMPARAÇÃO INTERNACIONAL Países Baixos Irlanda Portugal Espanha Alemanha Finlândia Áustria França Bélgica Grécia Itália Eslováquia Eslovénia área do euro Suécia Reino Unido Dinamarca Fontes: INE e Banco de Portugal. Nota: Estimativas do Banco de Portugal relativas a juros a pagar de dívida financeira dos particulares. Fontes: Eurostat e Banco de Portugal. Nota: Valores consolidados, exceto Irlanda e Reino Unido. Apesar da estabilização do balanço dos particulares em termos agregados, acentuaram-se os riscos de uma deterioração da capacidade das famílias satisfazerem o serviço da dívida No período entre 2008 e 2010, a posição de solvência dos particulares em termos agregados, avaliada com base no rácio entre a riqueza e a dívida total, permaneceu relativamente estável (Gráfico 3.11). Contudo, num quadro em que o nível de endividamento é muito elevado e em que as famílias registam uma redução substancial do rendimento disponível, ligada, entre outros fatores, à tendência de aumento da taxa de desemprego, a capacidade das famílias satisfazerem o serviço da dívida terá retomado uma evolução mais negativa no final de Os fluxos de incumprimento nos empréstimos aos particulares, que tinham apresentado uma redução entre o início de 2009 e o terceiro trimestre de 2010, inverteram esta tendência no final do ano, situando-se em níveis elevados no caso dos empréstimos para consumo e outros fins, mas ainda em linha com os seus valores históricos no caso dos empréstimos à habitação 6. Para as maiores dificuldades das famílias em satisfazerem o serviço da dívida deverá ainda contribuir, ao longo de 2011, a manutenção de uma tendência de aumento das taxas de juro do mercado monetário, o que constitui o cenário mais provável num quadro de aumento das pressões inflacionistas na área do euro. No contexto atual, de fortes restrições de financiamento nos mercados internacionais de dívida por grosso, os bancos terão menos capacidade do que no passado, para adaptarem, em termos de outras 5 Ver Caixa 1.1 Os mercados de habitação na área do euro, Banco de Portugal, Relatório Anual Para uma análise pormenorizada da evolução do incumprimento no setor privado não financeiro ver Secção 4.5 Risco de crédito, deste Relatório.

39 Gráfico 3.11 RÁCIO ENTRE RIQUEZA E DÍVIDA DOS PARTICULARES POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO 600 Riqueza financeira/dívida total Riqueza não financeira/dívida total Em percentagem Fontes: INE e Banco de Portugal. condições contratuais, as prestações dos empréstimos à capacidade das famílias para servirem a dívida. Desta forma, a sensibilidade dos encargos com a dívida das famílias portuguesas às taxas de juro do mercado monetário poderá vir a revelar-se mais significativa do que o habitual. De acordo com a informação divulgada pelo INE, o valor médio da prestação vencida dos empréstimos à habitação aumentou cerca de 5 por cento desde meados de 2010, permanecendo, contudo, ainda num nível relativamente baixo em março de 2011 (Gráfico 3.12). Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro Como referido anteriormente, embora desde o início da crise financeira se tenha assistido a uma estabilização do balanço dos particulares, os níveis de endividamento continuam muito elevados. Para o sucesso do processo de ajustamento da economia portuguesa é essencial que o endividamento do setor privado se reduza e que a taxa de poupança aumente. Num quadro de redução do rendimento disponível, esta situação terá que traduzir-se numa menor despesa por parte dos particulares, que terá impactos negativos no consumo privado e no investimento em habitação, contribuindo assim, no curto prazo, para uma deterioração adicional da atividade económica e da situação no mercado de trabalho. Este necessário processo de ajustamento da economia tenderá a ser acompanhado por uma deterioração da Gráfico 3.12 PRESTAÇÃO MÉDIA NO CRÉDITO À HABITAÇÃO Juros totais Capital amortizado Euros Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11 Fonte: INE. Nota: Último valor: março de 2011.

40 I 38 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 qualidade de crédito das famílias, o que, dado o peso importante dos empréstimos aos particulares no crédito total concedido pelos bancos, deverá ter um efeito negativo sobre a rendibilidade dos bancos. A magnitude deste impacto deverá contudo ser mitigada por diversos fatores. Em primeiro lugar, o crédito à habitação, e em particular o crédito para a primeira habitação, para o qual a probabilidade de incumprimento é menor, tem um peso dominante nos empréstimos dos particulares 7. Adicionalmente, a dívida das famílias mais vulneráveis, nomeadamente as mais jovens e de menores rendimentos, tem um peso relativamente pequeno na carteira de crédito do setor bancário 8 e, no caso do crédito à habitação, uma parte significativa destes créditos para além das garantias hipotecárias, têm associadas garantias pessoais prestadas por familiares 9. É ainda de referir que o rácio das prestações dos empréstimos à habitação no rendimento familiar é relativamente reduzido em Portugal, quando comparado com o de outros países da área do euro, incluindo para as famílias de rendimentos mais baixos com crédito à habitação, o que deve refletir o prazo elevado dos empréstimos 10. Por fim, o facto de não existir evidência de uma sobrevalorização em termos agregados dos preços da habitação em Portugal aponta para que, em caso de execução de hipotecas, as instituições de crédito não deverão registar perdas muito significativas, não obstante alguma redução de preços que se possa vir a observar decorrente do abrandamento da procura. Sociedades não financeiras Em 2010, as necessidades de financiamento das sociedades não financeiras registaram uma ligeira diminuição, mantendo-se num nível elevado As necessidades de financiamento das sociedades não financeiras registaram uma ligeira diminuição face a 2009, mantendo-se, ainda assim, significativas e superiores aos valores observados no período recessivo de (Gráfico 3.13). Esta diminuição resultou essencialmente de um aumento da taxa de poupança bruta que manteve, não obstante, um nível baixo em termos históricos, tendo-se registado apenas uma ligeira redução do investimento em ativos reais medido em percentagem do PIB. O acréscimo da taxa de poupança decorreu de um aumento do excedente bruto de exploração assim como de uma redução dos rendimentos de propriedade que, no entanto, continuam a apresentar um valor superior ao observado na primeira metade da década. Por sua vez, o valor de impostos não apresentou alterações significativas (Gráfico 3.14). 7 Ver Caixa 4.2 Principais características dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação em Portugal, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Ver Farinha (2008), O endividamento das famílias portuguesas: evidência recente com base nos resultados do IPEF , Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Ver Caixa 4.3 Crédito concedido às famílias e incumprimento: uma caracterização com base na Central de Responsabilidades de Crédito, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-maio Ver Caixa 4.3 Características dos empréstimos hipotecários de maior risco nos Estados Unidos e na Europa, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-2008 e Housing finance in the euro area, Occasional Paper No 101, BCE, Conforme referido anteriormente, no último trimestre de 2010 procedeu-se à transferência de três fundos de pensões do grupo Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações. Para que esta operação se concretizasse, e dado que os referidos fundos não estavam equilibrados, a Portugal Telecom teve de assumir diretamente o montante em falta nos ativos dos fundos. Esta contribuição agravou as necessidades de financiamento do setor, em Contabilidade Nacional, mas não reflete, de facto, decisões tomadas pelas sociedades não financeiras relativamente à sua atividade económica.

41 Gráfico 3.13 NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS Em percentagem do PIB Capacidade/ necessidade líquida de fi nanciamento Capacidade/ necessidade líquida de fi nanciamento (a) Poupança bruta Saldo de transferências de capital (a) Saldo de transferências de capital Aquisições líquidas de cessões de ativos reais (b) Fonte: INE. Notas: (a) Estes valores estão corrigidos da operação de transferência dos fundos de pensões da Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações. (b) Corresponde à soma da formação bruta em capital fixo, variação de existências, aquisições líquidas de cessões de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos financeiros não produzidos. Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro Gráfico 3.14 CONTRIBUTOS PARA A POUPANÇA BRUTA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS Em percentagem do PIB Excedente de exploração (bruto) Impostos s/rendimento e património Juros (saldo) Rendimentos distribuídos de sociedades (saldo) Outros rendimentos de propriedade (saldo) Rendimentos de propriedade (saldo) Outras transferências correntes (saldo) Poupança bruta Fonte: INE. Nota: O saldo corresponde à diferença entre recursos e empregos. A partir de 2009 (inclusivé) os dados referem-se às contas trimestrais não sendo possível decompor o saldo de rendimentos de propriedades nas suas componentes, i.e., juros, rendimentos distribuídos de sociedades e outros rendimentos de propriedade.

42 A rendibilidade das sociedades não financeiras melhorou em 2010, invertendo a tendência decrescente registada nos últimos anos I 40 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em 2010, e de acordo com informação trimestral da Central de Balanços do Banco de Portugal 12, a rendibilidade do capital investido e dos capitais próprios registou um acréscimo significativo, tendo-se invertido a tendência decrescente que se vinha a registar desde 2007 (Gráfico 3.15). Esta evolução esteve associada a uma recuperação do volume de negócios com origem tanto no mercado interno como no mercado externo, a qual se seguiu a uma queda muito forte no contexto da recessão de Adicionalmente, assistiu-se a uma estabilização dos custos com pessoal, pese embora tenham aumentado os custos com consumos intermédios, o que deverá estar relacionado com a subida dos preços das matérias-primas, designadamente do petróleo. Em percentagem Gráfico 3.15 Gráfico 3.16 RENDIBILIDADE DO CAPITAL INVESTIDO CBA CBT Em percentagem CUSTO DA DÍVIDA CBA CBT Juros a pagar, esc. dir. (a) Em percentagem Fonte: Banco de Portugal. Nota: Rendibilidade do capital investido = (resultado líquido do exercício + juros suportados) / (ações e outras participações + dívida financeira) exceto para os dados da CBT no período até 2004 inclusivé em que o numerador corresponde à soma do resultado corrente com os juros suportados. CBA: Central de Balanços anual. CBT: Central de Balanços trimestral. Os rácios são calculados aplicando, ao último valor disponível, taxas de variação calculadas com base em dados de empresas comuns em pares de anos consecutivos. A partir de 2005 (inclusivé), o rácio relativo à CBA é calculado utilizando a Informação Empresarial Simplificada. Fontes: INE e Banco de Portugal. Notas: Custo da dívida = Juros suportados / dívida financeira. CBA: Central de Balanços anual. CBT: Central de Balanços trimestral. Os rácios são calculados aplicando, ao último valor disponível, taxas de variação calculadas com base em dados de empresas comuns em pares de anos consecutivos. A partir de 2005 (inclusivé), o rácio relativo à CBA é calculado utilizando a Informação Empresarial Simplificada. (a) Juros a pagar pelas sociedades não financeiras em percentagem do excedente bruto de exploração do setor, ajustado pelo montante total de serviços de intermediação financeira indirectamente medidos (SIFIM). Os encargos com dívida das sociedades não financeiras não aumentaram em 2010 apesar da subida do prémio de risco soberano O custo da dívida das empresas que integram a amostra de empresas da Central de Balanços Trimestral tem mantido uma trajetória descendente desde 2008, refletindo a evolução das taxas de juro do mercado monetário (Gráfico 3.16). Por sua vez, as estimativas disponíveis para juros a pagar em percentagem 12 Para uma caracterização detalhada das empresas participantes na Central de Balanços do Banco de Portugal, de inquirição anual (CBA) e trimestral (CBT), ver Banco de Portugal, Suplemento 5/2005 ao Boletim Estatístico, dezembro-2005 e Suplemento 1/2008 ao Boletim Estatístico, maio de Refira-se que na amostra de empresas da CBT, e, em menor grau, na amostra de empresas da CBA até 2005, existe um enviesamento para as empresas de grande dimensão. A partir de 2006, com a utilização da Informação Empresarial Simplificada, a cobertura da CBA melhorou significativamente sendo próxima de 100 por cento em termos do VAB total das sociedades não financeiras.

43 do excedente bruto de exploração do setor das sociedades não financeiras praticamente estabilizou. O que significa que a alteração das condições de financiamento dos bancos domésticos nos mercados internacionais de dívida por grosso, ao longo de 2010, decorrentes da crise da dívida soberana e dos subsequentes aumentos dos spreads da dívida pública portuguesa, terá tido um impacto muito limitado no custo da dívida das sociedades não financeiras. Note-se, no entanto, que as taxas de juro médias dos empréstimos a sociedades não financeiras apresentaram no último trimestre de 2010 e primeiros meses de 2011 uma tendência crescente, em contraste com a estabilidade que se vinha a registar desde meados de A maior transmissão das condições mais restritivas de financiamento dos bancos domésticos ao custo de financiamento das empresas vai ter um impacto muito significativo sobre as condições de exploração das empresas portuguesas, dado o seu elevado nível de endividamento. Em 2010, as transações de passivos financeiros das sociedades não financeiras reduziram-se significativamente, em linha com o verificado no ano anterior, tendo a dívida estabilizado a um nível alto O fluxo de financiamento das sociedades não financeiras reduziu-se significativamente em 2010, tal como já havia acontecido no ano anterior 13 (Gráfico 3.17). Depois de uma redução forte em 2009, o fluxo líquido de empréstimos contraídos pelas sociedades não financeiras voltou a diminuir. O fluxo de empréstimos com origem em instituições de crédito domésticas residentes manteve uma tendência de forte redução que foi parcialmente compensada por um aumento dos empréstimos concedidos por bancos residentes não domésticos e por não residentes. Esta substituição de fontes de financiamento foi particularmente importante para as empresas de maior dimensão. O maior financiamento, direto e indireto, por entidades externas constitui uma resposta à maior restritividade na concessão de crédito pelos bancos domésticos e não é habitual em Portugal, dado que historicamente os bancos residentes intermedeiam a quase totalidade do financiamento do setor privado não financeiro. Este facto assume 3 41 Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro Gráfico 3.17 TRANSAÇÕES DE PASSIVOS FINANCEIROS DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS 25 Em percentagem do PIB Efeito da transferência dos fundos de pensões Outros (a) Créditos comerciais e adiantamentos Ações não cotadas e outras participações Ações cotadas Títulos exceto ações Empréstimos Total Fontes: INE e Banco de Portugal. Notas: Valores consolidados. (a) Inclui reservas técnicas de seguros e outras contas a pagar e exclui valores relativos à transferência de fundos de pensões. 13 A transferência dos fundos de pensões do grupo Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações foi precedida pela incorporação do referido fundo no setor das sociedades não financeiras, já que anteriormente era considerado no setor das sociedades financeiras. Assim, no gráfico 3.17 procedeu-se à decomposição do valor de Outros débitos e créditos em duas parcelas, destacando-se a que corresponde à incorporação do referido fundo no setor das sociedades não financeiras e que não reflete um fluxo de financiamento. De facto, no mesmo trimestre, este valor surge como variação de volume de sinal contrário.

44 I 42 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 particular relevância na medida em que mitiga o impacto das restrições quantitativas na concessão do crédito dos bancos domésticos às sociedades não financeiras (Ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo da desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório). Também o financiamento das empresas não financeiras através de títulos de dívida se reduziu refletindo o re-embolso líquido de títulos a curto prazo, já que as transações de títulos de dívida a longo prazo permaneceram positivas e praticamente inalteradas face ao ano anterior. Note-se que se verificaram emissões líquidas positivas de títulos de dívida ao longo do ano, as quais, sendo em parte detidas por empresas não financeiras, não são evidentes nos dados consolidados do setor. No que diz respeito ao financiamento através de emissão de ações e outras participações, registou-se uma alteração face ao ano anterior, tendo diminuído a importância do financiamento por ações não cotadas e outras participações e aumentado o financiamento por ações cotadas. De acordo com as respostas dos bancos portugueses participantes no Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, os critérios de concessão de empréstimos ou linhas de crédito a empresas tornaram-se significativamente mais restritivos no final de 2010 e início de 2011, por comparação com os trimestres anteriores. Para a adoção de critérios mais restritivos terão contribuído, sobretudo, a deterioração das condições no acesso ao financiamento de mercado e da posição de liquidez dos bancos e as expectativas menos favoráveis quanto à atividade económica em geral. Relativamente às condições aplicadas pelos bancos, a restritividade traduz-se, principalmente, em spreads mais elevados, o que se terá refletido num aumento da taxa de juro das empresas no último trimestre do ano. A maior restritividade na concessão de crédito também se terá traduzido numa diminuição da maturidade dos empréstimos. Para 2011, as instituições inquiridas no âmbito do referido Inquérito antecipam que os critérios de concessão de crédito se tornem ainda mais restritivos. De acordo com a informação disponível na Central de Balanços Trimestral, os prazos médios de recebimentos e de pagamentos aumentaram em 2010, tal como se tinha verificado no ano anterior, refletindo a maior dificuldade das empresas em fazerem face aos seus compromissos operacionais de curto prazo (Gráfico 3.18). Num contexto de restrições à concessão de crédito por parte dos bancos domésticos, em particular a empresas de menor dimensão, o ritmo de crescimento da atividade destas empresas poderá ser afetado por dificuldades de financiamento da sua atividade corrente. No entanto, dado que Gráfico 3.18 PRAZOS MÉDIOS DE RECEBIMENTOS E PAGAMENTOS 65 Prazo médio de recebimentos Prazo médio de recebimentos: face ao exterior Prazo médio de pagamentos Prazo médio de pagamentos: face ao exterior 60 Em número de dias Fonte: Banco de Portugal. Notas: Indicadores calculados com base nas empresas da Central de Balanços Trimestral. Dados relativos a dezembro de cada ano. Prazo médio de recebimentos = (créditos comerciais e adiantamentos concedidos / vendas e prestações de serviços) x número de dias no período. Prazo médio de pagamentos = (créditos comerciais e adiantamentos obtidos / (compras de mercadorias, de matérias primas, subsidiárias e de consumo + fornecimentos e serviços externos)) x número de dias no período. Os indicadores são calculados aplicando ao valor de dezembro de 2009 taxas de variação calculadas com base em dados de empresas comuns em pares de anos consecutivos.

45 as empresas de maior dimensão não foram tão afetadas pela redução de crédito bancário e, na medida em que são essas empresas que têm uma maior presença a nível internacional, a recuperação da atividade económica portuguesa poderá beneficiar da recuperação da procura externa dirigida a Portugal, via recuperação económica dos principais parceiros comerciais, tal como se verificou em O nível de endividamento das empresas portuguesas continua a apresentar-se como um dos mais elevados no conjunto dos países da área do euro (Gráfico 3.19). No final de 2010, a dívida financeira deste setor praticamente estabilizou em torno de 130 por cento do PIB 14 (Gráfico 3.20). Em 2010 registou-se uma redução do rácio de dívida sobre capital próprio das empresas não financeiras incluídas na Central de Balanços Trimestral, o que contrasta com o observado nos anos anteriores. Para a redução deste rácio terá contribuído a estabilização do nível de endividamento das empresas, em conjugação com o financiamento via capitais próprios e a rendibilidade positiva (Gráfico 3.21). Comparando com outros países europeus, as empresas não financeiras portuguesas continuam a apresentar níveis elevados do rácio de dívida sobre capital próprio (Gráfico 3.22). No futuro próximo, espera-se que se acentue a heterogeneidade no setor das empresas não financeiras À semelhança do observado em 2010, o setor das sociedades não financeiras deverá continuar a refletir situações heterogéneas em Por um lado, estando prevista uma forte contração da procura interna, em consequência das medidas de contenção orçamental e de uma maior restritividade das condições 3 43 Situação Financeira do Setor Privado não Financeiro Gráfico 3.19 Gráfico 3.20 DÍVIDA FINANCEIRA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS (a) COMPARAÇÃO INTERNACIONAL DÍVIDA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO Em percentagem do PIB Irlanda Portugal Espanha Países Baixos Áustria Eslovénia França Itália Finlândia Bélgica Alemanha Grécia Eslováquia Área do euro Dinamarca Reino Unido Suécia Em percentagem do PIB Dívida total (a) Dívida financeira (b) Dívida financeira - tva (esc. dir.) Empréstimos concedidos por ICs residentes - tva (esc. dir.)(c) Em percentagem Fontes: Eurostat e Banco de Portugal. Notas: O valor da área do euro corresponde à média dos países apresentados no gráfico. Valores consolidados, exceto Irlanda e Reino Unido. (a) A dívida financeira inclui empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos por sociedades não financeiras. Fontes: INE e Banco de Portugal. Notas: Valores consolidados. (a) A dívida total corresponde à dívida financeira acrescida dos créditos comerciais e adiantamentos recebidos de outros setores. (b) A dívida financeira inclui empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos por sociedades não financeiras. (c) Os valores de dezembro de 2010 foram ajustados relativamente à venda de uma carteira de créditos por parte do BPN. 14 No contexto da notificação do Procedimento dos Défices Excessivos publicada pelo Instituto Nacional de Estatística em 31 de março de 2011, relativa aos anos de 2007 a 2010, foi adotado, pelas autoridades estatísticas nacionais, um conjunto de alterações metodológicas, ao nível da classificação de setor institucional. Neste sentido, três empresas públicas de transportes (REFER Rede Ferroviária Nacional - EPE; Metropolitano de Lisboa - EPE; Metro do Porto -SA) foram reclassificadas do setor institucional das sociedades não financeiras para o setor institucional das administrações públicas. Esta reclassificação contribui para a redução do nível de endividamento das sociedades não financeiras face aos valores apresentados em anteriores publicações em cerca de 7 pontos percentuais do PIB.

46 I 44 de financiamento, as empresas mais orientadas para o mercado interno deverão apresentar níveis de atividade e rendibilidade inferiores, contribuindo para a deterioração da sua situação financeira e com consequências para a materialização do risco de crédito do setor bancário. Por outro lado, as empresas com uma grande parte de atividade dirigida ao mercado externo deverão beneficiar do aumento da procura externa na medida em que esta evolua de acordo com a recuperação esperada da atividade económica a nível europeu e global. BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 O aumento dos custos de financiamento e, em geral, a maior restritividade das condições de concessão de crédito, deverá afetar negativamente a rendibilidade das empresas portuguesas e a sua capacidade de auto-financiamento. Neste contexto a sua atividade poderá ser condicionada. Esta situação será mais relevante para as empresas de menor dimensão pois foram mais afetadas pela redução de crédito bancário concedido pelos bancos domésticos, enquanto as empresas de maior dimensão conseguiram contrair empréstimos junto de instituições residentes não domésticas e instituições não residentes. Adicionalmente, são as empresas de maior dimensão que também terão maior facilidade em emitir dívida titulada assim como obter financiamento fora de Portugal. Neste sentido, deverão acentuar-se as diferenças entre empresas de maior e menor dimensão. Neste contexto, importa referir que o programa de assistência financeira a Portugal prevê o aperfeiçoamento do enquadramento jurídico relativo à dissolução de empresas por falência. As alterações previstas à lei de falências incluem a aceleração dos procedimentos judiciais de aprovação dos planos de re-estruturação de dívida, com vista a mais rapidamente se identificarem empresas viáveis que possam ser recuperadas. Gráfico 3.21 Gráfico 3.22 RÁCIO DE DÍVIDA SOBRE CAPITAL PRÓPRIO RÁCIO DE DÍVIDA SOBRE CAPITAL PRÓPRIO VARIAÇÃO HOMÓLOGA COMPARAÇÃO INTERNACIONAL Em pontos percentuais Em percentagem Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Grécia Eslovénia Espanha Portugal Itália Irlanda Áustria Alemanha Eslováquia Países Baixos Finlândia França Bélgica Área do euro Dinamarca Suécia Reino Unido Fonte: Banco de Portugal. Nota: Variação calculada com base numa amostra constante de empresas em trimestres homólogos, utilizando a informação disponível na Central de Balanços Trimestral. Rácio calculado pelo quociente entre a dívida financeira e o valor contabilístico de ações e outras participações. Fontes: Eurostat e Banco de Portugal. Notas: Este rácio corresponde ao quociente entre o valor da dívida financeira, i.e., empréstimos e títulos exceto ações, e o do capital (medido a valores de mercado). O valor da área do euro corresponde à média dos países apresentados no gráfico. Valores consolidados exceto Irlanda e Reino Unido

47 4. Sistema Bancário Atividade e rendibilidade Os bancos têm procurado adequar o seu balanço a um enquadramento macroeconómico e financeiro adverso, iniciando um processo de ajustamento através do aumento da captação de depósitos, do abrandamento da concessão de crédito, da venda de ativos e do reforço de capital. Refira-se que é de esperar uma intensificação deste processo de desalavancagem nos próximos anos, em linha com as metas previstas no programa definido no âmbito do programa de assistência financeira internacional Sistema Bancário Contudo, a inevitável desalavancagem do setor público e privado não deixará de refletir-se desfavoravelmente na atividade económica e num aumento do desemprego no curto prazo. O impacto expectável no rendimento das empresas e dos particulares deverá refletir-se numa deterioração da qualidade dos ativos dos bancos, nomeadamente do crédito concedido a estes setores. A crescente materialização do risco de crédito e do risco de mercado nomeadamente através da desvalorização das carteiras de ações de emitentes nacionais, com o consequente registo de perdas, tenderá a pressionar negativamente a rendibilidade dos bancos. Estes importantes desafios exigem que os bancos portugueses tenham o capital necessário para enfrentar possíveis choques negativos adicionais, de forma a continuar a assegurar a estabilidade do sistema financeiro. Neste sentido, as recomendações efetuadas pelo Banco de Portugal ao longo dos últimos meses e as medidas integradas no programa de assistência financeira internacional contribuem para reforçar a solidez do sistema bancário. Adicionalmente, caso os bancos não consigam atingir as metas definidas através de soluções de mercado no horizonte especificado, o programa inclui um fundo de apoio à recapitalização dos bancos tendo em vista o cumprimento desta exigência, envolvendo um montante global de 12 mil milhões de euros. 1 Na análise efetuada neste capítulo, o agregado definido como sistema bancário português refere-se às instituições de crédito e empresas financeiras a operar em Portugal sob supervisão do Banco de Portugal, com exceção das instituições com sede no off-shore da Madeira. Assim, são considerados os grupos financeiros, em base consolidada, que incluam no perímetro de consolidação pelo menos uma instituição de crédito ou uma empresa de investimento, e as instituições de crédito e empresas de investimento, em base individual, que não são objeto de consolidação em Portugal (incluindo as sucursais de instituições de crédito ou empresas de investimento). A análise deste universo revela-se importante na medida em que é a este conjunto de instituições que se aplica a nova Diretiva de Requisitos de Capital, sendo o universo de referência na generalidade dos países europeus. Todavia, não é possível ter dados anteriores a 2007 para o agregado em consideração, uma vez que a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) não foi transversal a todas as instituições, coexistindo em 2005 e 2006 diferentes sistemas contabilísticos. Deste modo, os dados apresentados neste capítulo têm por base diferentes agregados de instituições. Em particular, até 2004 o conjunto de instituições refere-se a bancos e caixas económicas, com exceção dos bancos com sede ou atividade exclusiva no off-shore da Madeira e/ou atividade predominante com não residentes. Foram considerados como bancos as sucursais de instituições de crédito com sede em outro Estado-membro da União Europeia excluindo aquelas que não sejam classificáveis como instituições financeiras monetárias (IFM) assim como as sucursais de instituições de crédito com sede em países terceiros. De dezembro de 2004 até 2010, são considerados dois conjuntos de instituições. Um primeiro, para o período de dezembro de 2004 a dezembro de 2007, que corresponde aos treze grupos bancários que adotaram as NIC (ou as Normas de Contabilidade Ajustadas) na elaboração das respetivas demonstrações financeiras em 2005 (e que representava, em dezembro de 2004, cerca de 87 por cento do total do ativo do conjunto de instituições analisado até então). O segundo para o período de março de 2007 a O período de sobreposição dos diferentes conjuntos de instituições permite a análise consistente de variações. De forma a facilitar a leitura, sempre que necessário os gráficos e quadros deste capítulo apresentamum tracejado vertical que sinaliza as quebras de série. 2 Para mais detalhes sobre o acordo ver Caixa O programa de ajustamento económico e financeiro no âmbito do pedido de assistência financeira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

48 A expansão da atividade do sistema bancário foi sustentada em 2010 essencialmente pelo aumento da carteira de ativos financeiros disponíveis para venda e do crédito a clientes I 46 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em dezembro de 2010, a atividade do sistema bancário português, avaliada pelo ativo total, em base consolidada, registou uma taxa de variação de 4.1 por cento por comparação com o final de 2009, o que corresponde a um sensível abrandamento face ao ano anterior, em especial na segunda metade do ano (Quadro 4.1.1) 3. Em 2010, o crescimento do ativo refletiu essencialmente os aumentos dos ativos financeiros disponíveis para venda e da carteira de crédito a clientes (Gráfico 4.1.1). No primeiro caso destaca-se a aquisição de títulos de dívida pública sobretudo no decurso do primeiro semestre e, em menor grau, de títulos de dívida não subordinada 4. No segundo caso, refira-se a importância, para o crescimento do ativo dos bancos dos empréstimos concedidos à administração central e, em menor grau, às sociedades não financeiras no segundo trimestre de Pelo contrário, e em contraste com o observado no ano anterior, as aplicações em instituições de crédito quer no país quer no estrangeiro contribuíram negativamente para a variação do ativo em De acordo com os dados das Estatísticas Monetárias e Financeiras, importa ainda referir que, após a significativa desaceleração dos empréstimos bancários concedidos ao setor privado não financeiro residente entre o primeiro semestre de 2008 e o final de 2009, a correspondente taxa de variação anual manteve-se relativamente estável no decurso de 2010, em torno de 2 por cento. Não obstante, verificou-se a partir de dezembro de 2010 uma clara desaceleração, situando-se a respetiva taxa de variação anual em 1.2 por cento em março de No entanto, destacaram-se diferentes situações consoante o segmento. A sustentar o crescimento do crédito estiveram sobretudo os empréstimos a particulares para habitação. Desde o terceiro trimestre de 2009 até junho de 2010, os empréstimos concedidos a particulares para aquisição de habitação apresentaram uma ligeira tendência de aceleração, mantendo-se contudo o crescimento em valores relativamente reduzidos (3.3 por cento em junho de 2010). No período mais recente, apresentaram algum abrandamento, situando-se a respetiva taxa de variação anual em 1.6 por cento em março de No caso dos empréstimos para consumo e outros fins, a taxa de variação anual permaneceu relativamente estável até maio de 2010 (2.4 por cento), apresentando posteriormente uma significativa desaceleração atingindo taxas de variação anual negativas nos primeiros meses de 2011 (-1.4 por cento em março de 2011). Por sua vez, os empréstimos concedidos a sociedades não financeiras mantiveram alguma tendência de desaceleração em 2010, após o forte abrandamento observado no ano anterior, não obstante terem apresentado alguma recuperação a partir do final do segundo trimestre do ano ainda que mantendo níveis reduzidos (1.5 por cento em março de 2011) 7. De referir que, depois de um período em que a desaceleração observada nos empréstimos bancários concedidos ao setor privado não financeiro em Portugal foi globalmente menos intensa do que a registada para o conjunto da área do euro, onde se observaram taxas de variação anual negativas entre setembro de 2009 e março de 2010, mais recentemente tem-se observado um abrandamento mais pronunciado dos empréstimos a este setor em Portugal. 3 Em dezembro de 2010, o BPN cedeu um montante significativo de ativos a um conjunto de veículos financeiros, o que teve um impacto relevante em algumas rubricas do balanço do sistema bancário. Excluindo o BPN em toda a série, de forma a obter valores comparáveis, o crescimento do ativo do sistema bancário em base consolidada ascendeu a 4.7 por cento em dezembro de A carteira de títulos e investimentos financeiros é analisada em detalhe na Secção 4.2 Risco de mercado, deste Relatório. 5 Para uma análise pormenorizada ver Secção 2.2 Condições monetárias e financeiras da economia portuguesa, Banco de Portugal, Relatório Anual Note-se que a evolução dos empréstimos bancários em dezembro de 2010 foi condicionada de forma significativa pela venda de empréstimos por parte do BPN à Parvalorem, com destaque para o impacto desta venda nos empréstimos concedidos a sociedades não financeiras. Desta forma, os valores a partir de dezembro de 2010, referidos no texto encontram-se corrigidos desta operação. 7 Para uma análise pormenorizada da evolução da carteira de crédito a clientes e respetiva qualidade ver Secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório.

49 Gráfico CONTRIBUTOS PARA A EVOLUÇÃO DO ATIVO (a) Em percentagem e pontos pecentuais Sistema Bancário -2-4 Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Disponibilidades e aplicações em Bancos Centrais Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito Títulos, derivados e participações Crédito a clientes líquido ajustados de operações de titularização Outros créditos e valores a receber (titulados) Ativos tangíveis e intangíveis Outros ativos Taxa de variação homóloga do ativo Fonte: Banco de Portugal. Notas: A quebra de série representada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. Os títulos, derivados e participações compreendem os ativos financeiros ao justo valor através de resultados, os ativos financeiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em filiais e os derivados de cobertura. O crédito a clientes liquído ajustado de operações de titularização exlui a componente de outros créditos e valores a receber (titulados), classificados na carteira de crédito. (a) Face a idêntico período do ano anterior. Financiamento do sistema bancário fortemente dependente dos recursos obtidos junto do Eurosistema e intensificação da captação de depósitos de clientes Neste quadro de agravamento das tensões nos mercados internacionais de dívida por grosso, a continuação da expansão da atividade do sistema bancário dependeu em magnitude elevada do acesso às operações de cedência de liquidez do BCE, em particular desde maio de Assistiu-se, assim, a uma recomposição da estrutura de financiamento dos bancos, com uma redução pronunciada do financiamento por parte de não residentes, quer por via de títulos, quer de depósitos, a par de uma subida acentuada do financiamento junto do Eurosistema na primeira metade de Na segunda metade do ano e início de 2011, a captação de recursos de clientes intensificou-se e o recurso às operações de cedência de liquidez do Eurosistema manteve-se relativamente estável até abril de 2011, quando registou uma subida significativa 8. Este aumento prosseguiu até meados de maio, tendo-se observado no final do mês uma reversão do recurso a esta fonte de financiamento para um valor próximo do registado no final de abril. De facto, após a redução observada no primeiro trimestre de 2010, os recursos de clientes sob a forma de depósitos registaram alguma recuperação a partir de meados do ano 9. Neste período, a evolução dos depósitos deve ser enquadrada quer na estratégia de financiamento dos bancos, envolvendo nomeada- 8 A análise detalhada do financiamento do sistema bancário no decurso de 2010, bem como a respetiva posição de liquidez, é apresentada na Secção 4.3. Risco de liquidez, deste Relatório. 9 Refira-se que para o aumento dos depósitos no terceiro trimestre do ano contribuiu uma operação de montante elevado decorrente da venda de ativos ao exterior por parte de uma sociedade não financeira em setembro.

50 I 48 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Quadro (continua) BALANÇO DO SISTEMA BANCÁRIO BASE CONSOLIDADA Taxas de variação trimestral (em percentagem) Taxas de variação semestral (em percentagem) Taxas de variação homóloga (em percentagem) Estrutura (em percentagem do ativo total) Em milhões de euros Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. S1 S2 S1 S2 T1 T2 T3 T4 Caixa e disponibilidades em bancos centrais Disponibilidades em outras instituições de crédito Aplicações em instituições de crédito dos quais: em Bancos Centrais Ativos financeiros ao justo valor através de resultados Títulos de capital Instrumentos de dívida Outros Ativos financeiros disponíveis para venda Títulos de capital Instrumentos de dívida Outros Investimentos detidos até à maturidade Derivados de cobertura Investimento em filiais Crédito a clientes líquido Crédito bruto do qual: Crédito vencido a clientes Imparidade e correções de valor de crédito a clientes Ativos titularizados e não desreconhecidos do qual: Crédito a clientes Ativos tangíveis e intangíveis Outros ativos TOTAL DO ATIVO Recursos de bancos centrais Recursos de outras instituições de crédito Recursos de clientes e outros empréstimos

51 Quadro (continuação) (continua) BALANÇO DO SISTEMA BANCÁRIO BASE CONSOLIDADA Taxas de variação trimestral (em percentagem) Taxas de variação semestral (em percentagem) Taxas de variação homóloga (em percentagem) Estrutura (em percentagem do ativo total) Em milhões de euros Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. S1 S2 S1 S2 T1 T2 T3 T4 Responsabilidades representadas por títulos Passivos subordinados Passivos financeiros de negociação Derivados de cobertura Passivos por ativos não desreconhecidos em operações de titularização Outros passivos Total do passivo Capital TOTAL DO PASSIVO E CAPITAL Por memória: Crédito a clientes incluindo operações de titularização não desreconhecidas Crédito a clientes não representado por valores mobiliários incluindo operações de titularização não desreconhecidas Recursos de clientes (incluindo títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes) Excluindo o banco BPN (a) Ativos financeiros disponíveis para venda Títulos de capital Instrumentos de dívida Outros Crédito a clientes líquido Crédito bruto do qual: Crédito vencido a clientes Imparidade e correções de valor de crédito a clientes TOTAL DO ATIVO Por memória: Crédito a clientes incluindo operações de titularização não desreconhecidas Fonte: Banco de Portugal Nota: (a) Em dezembro de 2010, o BPN cedeu um montante significativo de ativos a um conjunto de veículos financeiros, o que teve um impacto relevante em algumas rubricas do balanço do sistema bancário Sistema Bancário

52 I mente um aumento da remuneração dos depósitos de clientes, quer nos desenvolvimentos da carteira de aplicações dos particulares. Estas estratégias são particularmente relevantes tendo em conta a já elevada dependência dos bancos portugueses dos recursos obtidos junto do Eurosistema BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Exposição internacional do sistema bancário doméstico permanece concentrada em países desenvolvidos e no setor privado não financeiro Em dezembro de 2010, o valor dos ativos externos dos grupos bancários, em base consolidada, registou uma diminuição de 2.4 por cento face ao final do ano anterior e representava cerca de 28 por cento do ativo das instituições domésticas (Quadro 4.1.2) 11. Esta diminuição refletiu a redução observada no segundo semestre de 2010 que mais do que compensou o ligeiro aumento registado na primeira metade do ano. Não obstante, e à semelhança do observado nos últimos anos, verificou-se um aumento do peso dos ativos com maturidade superior a 2 anos e das aplicações no setor privado não bancário. Em Quadro ATIVOS EXTERNOS CONSOLIDADOS DO SISTEMA BANCÁRIO DOMÉSTICO NA ÓTICA DO RISCO IMEDIATO ESTRUTURA EM PERCENTAGEM Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Total (10 6 ) Em percentagem do ativo total Ativos internacionais Maturidade até 1 ano de 1 a 2 anos a mais de 2 anos Outros Contraparte institucional Bancos Setor público Setor privado não bancário Outros Contraparte geográfica Países desenvolvidos Centros off-shore Países em desenvolvimento na Europa Outros Ativos locais em moeda local Contraparte geográfica Países desenvolvidos Centros off-shore Países em desenvolvimento na Europa Outros Por memória: Ativos locais em moeda local (10 6 ) Passivos locais em moeda local (10 6 ) Fonte: Banco de Portugal. 10 O caráter temporário das medidas de política monetária do Eurosistema e o peso considerável no ativo dos bancos portugueses motivou um conjunto de ações por parte do Banco de Portugal no sentido de incentivar o recurso a fontes de financiamento alternativas. Para uma análise pormenorizada ver Secção 4.3 Risco de liquidez, deste Relatório. 11 A análise da exposição internacional é efetuada de acordo com as orientações metodológicas do Bank for International Settlements para o reporte e publicação das Consolidated banking statistics. Nesta análise apenas se considera o subconjunto das instituições domésticas, em base consolidada, uma vez que as instituições não domésticas são integradas no perímetro de consolidação dos sistemas bancários dos países das respetivas sedes.

53 2010, evidenciou-se ainda o crescimento das aplicações no setor público, em particular no primeiro semestre do ano, ainda que o peso destas aplicações no total dos ativos internacionais tenha permanecido relativamente contido (4.9 por cento no final do ano). No que diz respeito à contraparte geográfica, domina a exposição aos países desenvolvidos entre os quais se destacam os países da área do euro. A informação mais recente disponível indica que a dívida soberana de países da União Europeia, incluindo títulos de dívida e outros créditos, na carteira dos principais quatro bancos portugueses é dominada pela dívida portuguesa 12. Finalmente, note-se que apesar do peso dos ativos financeiros associados a dívida soberana portuguesa e estrangeira na carteira dos bancos ter aumentado, os bancos portugueses continuaram a apresentar, em geral, uma menor exposição a estes ativos do que outros sistemas financeiros da área do euro Sistema Bancário A rendibilidade do sistema bancário melhorou em 2010, mas manteve-se em níveis reduzidos Em 2010, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do sistema bancário português, em base consolidada, registaram um crescimento de 15.5 por cento em termos homólogos (Quadro 4.1.3). Esta evolução refletiu-se num ligeiro aumento quer da rendibilidade do ativo (ROA) quer da rendibilidade dos capitais próprios (ROE) face ao observado no conjunto de 2009, situando-se os respetivos indicadores em 0.48 e 7.8 por cento. Refira-se que, na segunda metade de 2010, os indicadores de rendibilidade apresentaram uma diminuição por comparação com a primeira metade do ano (Gráfico 4.1.2). Em 2010, as curvas de distribuição empírica relativas à rendibilidade do ativo e à rendibilidade dos capitais próprios apontam para uma maior concentração da rendibilidade dos grupos bancários tendo-se observado alguma compensação entre instituições (Gráficos e 4.1.4). Para o ligeiro aumento da rendibilidade do ativo em 2010 face ao ano anterior destacaram-se os contributos positivos associados às dotações para provisões e perdas por imparidade, bem como à contenção dos custos com pessoal. Em 2010, as dotações para provisões e perdas por imparidade registaram uma diminuição de 7.0 por cento face ao registado no ano anterior, o que se traduziu num contributo positivo de 11 pontos base para o aumento da rendibilidade do ativo (a parcela respeitante a crédito a clientes contribuiu com 6 pontos base) 14. Para esta diminuição deverá ter contribuído a redução do fluxo anual de novos créditos vencidos e de cobrança duvidosa relativos ao setor privado não financeiro em 2010 após o máximo atingido em outubro de Pelo contrário, ou seja, contribuindo negativamente para a variação da rendibilidade, destacaram-se a margem financeira e os resultados associados a operações financeiras (Gráfico 4.1.5). Esta evolução refletiu essencialmente a significativa diminuição dos ativos financeiros ao justo valor através de resultados em 2010 face ao registado no ano anterior. Finalmente, é de salientar que, no segundo semestre de 2010, se observou uma ligeira diminuição da rendibilidade por comparação com a primeira metade do ano, refletindo o contributo negativo associado às outras dotações para provisões e perdas por imparidade, aos custos operacionais e aos resultados associados a operações financeiras (Gráfico 4.1.5). Com efeito, observou-se um aumento das outras dotações para provisões e perdas por imparidade no segundo semestre de 2010 face à primeira metade do ano associadas sobretudo a ativos financeiros disponíveis para venda refletindo a desvalorização das cotações nos mercados acionistas que desencadeou o reconhecimento de imparidades em algumas participações financeiras por parte de um dos principais grupos bancários portugueses. 12 A evolução das aplicações em títulos de dívida pública é analisada em detalhe na Secção 4.2 Risco de mercado, deste Relatório. 13 Para mais detalhes ver Capítulo 2. Riscos Macroeconómicos e Financeiros, deste Relatório. 14 Para uma análise do contributo da imparidade associada à carteira de títulos e instrumentos financeiros para a rendibilidade do ativo ver Secção 4.2 Risco de mercado, deste Relatório. 15 Para uma análise pormenorizada da evolução do incumprimento no setor privado não financeiro ver Secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório.

54 I 52 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Quadro DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DO SISTEMA BANCÁRIO BASE CONSOLIDADA Estrutura Taxas de variação homóloga (em percentagem do ativo médio) (a) (em percentagem) Em milhões de euros S1 S2 Ano S1 S2 Ano S1 S2 Ano S1 S2 Ano S1 S2 Ano S1 S2 Ano 1.Juros e rendimentos similares Juros e encargos similares Margem financeira (1-2) Rendimentos de instrumentos de capital Rendimentos (líquidos) de serviços e comissões Resultados de ativos e passivos financeiros avaliados ao justo valor através de resultados Resultados de ativos financeiros disponíveis para venda Resultados de reavaliação cambial Resultados de alienação de outros ativos financeiros Outros resultados de exploração Produto de atividade ( ) Custos com o pessoal Gastos gerais administrativos Amortizações do exercício Provisões líquidas de reposições e anulações Perdas de imparidade e outras correções de valor líquidas Diferenças de consolidação negativas Apropriação de resultados de associadas e empreedimentos conjuntos (equi. patrimonial) Resultado antes de impostos e de interesses minoritários ( ) Imposto sobre os lucros do exercício Resultado antes de interesses minoritários (19-20) Interesses minoritários Resultado líquido (21-22) Por memória: Resultados de operações financeira e imparidades associadas Provisões e imparidade associadas a crédito a clientes Fonte: Banco de Portugal. Nota: (a) Os dados relativos aos semestres encontram-se anualizados.

55 Gráfico RENDIBILIDADE DO ATIVO (ROA) E DOS CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE) ROE ROE - Excluindo BPN e BPP ROA (esc. dir.) ROA - Excluindo BPN e BPP (esc. dir.) 4 53 Em percentagem Em percentagem Sistema Bancário S2 2008S2 2009S2 2010S2 Fonte: Banco de Portugal. Notas: A quebra de série apresentada em 2004 corresponde à introdução das normas internacionais de contabilidade, a qual implicou, adicionalmente, uma redefinição do conjunto de instituições bancárias analisado. Os dados relativos ao semestre encontram-se anualizados. Gráfico Gráfico RENDIBILIDADE DO ATIVO DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA RENDIBILIDADE DOS CAPITAIS PRÓPRIOS DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA Dez-09 Jun-10 Dez-10 Dez-09 Jun-10 Dez Fonte: Banco de Portugal. Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de interesses minoritários. Fonte: Banco de Portugal. Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de interesses minoritários. Em 2010 a margem financeira registou uma ligeira diminuição por comparação com o conjunto do ano de 2009, mas denotou alguma recuperação face ao observado no primeiro semestre do ano Em 2010, dada a sua relevância nos resultados das instituições financeiras (60 por cento do produto da atividade), refira-se a ligeira redução de 0.8 por cento da margem financeira, o que se traduziu num contributo negativo para a rendibilidade do ativo de cerca de 13 pontos base. Destaque-se, no entanto, que no segundo semestre de 2010 face à primeira metade do ano o contributo da margem financeira para a variação da rendibilidade do ativo foi positivo. À semelhança do observado em 2009, o efeito taxa de juro constituiu o principal fator subjacente à evolução da margem financeira. De facto, em

56 I 54 Gráfico VARIAÇÃO HOMÓLOGA DA RENDIBILIDADE DO ATIVO ROA DECOMPOSIÇÃO DE CONTRIBUTOS 0.3 VARIAÇÃO FACE AO SEMESTRE ANTERIOR DA RENDIBILIDADE DO ATIVO ROA DECOMPOSIÇÃO DE CONTRIBUTOS 0.3 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 percentuais Em pontos Margem fi nanceira Comissões liquídas Rendimentos de instrumentos de capital Resultados em operações fi nanceiras Outros resultados de exploração Custos operacionais Provisões e imparidade associado a crédito a clientes Outras provisões e imparidades Apropriação de resultados de associadas e diferenças de consolidação Variação do ROA Fonte: Banco de Portugal. percentuais Em pontos p S2 2010S1 Nota: A rendibilidade do ativo é calculada considerando os resultados antes de impostos e de interesses minoritários. 2010, o diferencial total das taxas de juro médias implícitas nos saldos das principais operações ativas e passivas diminuiu por comparação com o ano anterior (Quadro 4.1.4). Não obstante, no primeiro e segundo semestres de 2010 verificou-se já alguma recuperação face ao valor significativamente reduzido observado na segunda metade de Decompondo a margem financeira por tipo de operação, a evolução observada refletiu sobretudo a redução da margem em operações com clientes, parcialmente compensada pela variação na margem associada a operações com instrumentos financeiros e no mercado monetário (Gráfico 4.1.6). A evolução do diferencial entre as taxas de juro ativas e passivas com clientes é também visível no comportamento do diferencial entre as taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos de clientes, tomando por base as Estatísticas Monetárias e Financeiras. Desde o final de 2008, registou-se um aumento significativo dos diferenciais associados às taxas de juro aplicadas pelos bancos nas operações ativas e uma diminuição dos diferenciais associados às taxas de juro oferecidas nos depósitos com prazo acordado (Gráfico 4.1.7). Estes movimentos foram justificados, em parte, pelo habitual desfasamento observado na transmissão das variações nestas taxas de juro às taxas aplicadas pelos bancos a novas operações com clientes, bem como pelo facto das novas operações aquelas em que há lugar à fixação/renegociação da taxa de juro representarem apenas uma fração do stock de crédito e depósitos. A evolução no decurso de 2010 sugere, no entanto, que existirão outros fatores nomeadamente a dificuldade acrescida dos bancos na obtenção de recursos nos mercados financeiros internacionais e a deterioração das expectativas sobre a evolução da atividade económica com consequências negativas ao nível da atividade das empresas e do desemprego a explicar o facto dos spreads aplicados pelos bancos nas operações ativas se situarem em níveis claramente superiores aos observados antes do início da crise financeira, verificando-se o inverso

57 Quadro TAXAS DE JURO MÉDIAS IMPLÍCITAS DAS PRINCIPAIS RUBRICAS DO BALANÇO (a) EM PERCENTAGEM S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 Ativos remunerados com juros dos quais: Ativos interbancários (b) Ativos não interbancários Crédito Títulos Passivos remunerados com juros dos quais: Passivos interbancários (c) Passivos não interbancários Depósitos Títulos Passivos subordinados Diferenciais (pontos percentuais): Ativos remunerados-passivos remunerados Crédito-depósitos Fonte: Banco de Portugal. Notas: A quebra de série apresentada em 2004 corresponde à introdução das normas internacionais de contabilidade, a qual implicou, adicionalmente, uma redefinição do conjunto de instituições bancárias analisado. Por sua vez, a quebra de série representada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto das instituições em análise. (a) Taxas de juro média implícitas calculadas como o rácio entre o fluxo de juros no período em consideração e o stock médio da correspondente rubrica do balanço. (b) Inclui caixa, depósitos à ordem no Banco de Portugal, disponibilidades sobre instituições de crédito e aplicações em instituições de crédito. (c) Inclui recursos de bancos centrais e de outras instituições de crédito Sistema Bancário

58 Gráfico Gráfico I 56 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem DECOMPOSIÇÃO DA MARGEM FINANCEIRA EM PERCENTAGEM DO ATIVO MÉDIO Operações com clientes Operações com instrumentos financeiros Operações no mercado monetário Outras operações Margem financeira - Total S1 08S2 09S1 09S2 10S1 10S2 Fonte: Banco de Portugal. Nota: Os valores semestrais encontram-se anualizados. DIFERENCIAIS DE TAXA DE JURO NAS OPERAÇÕES COM CLIENTES no que respeita aos depósitos 16, que, desde maio de 2010, apresentam um valor progressivamente mais negativo. De facto, no contexto de intensificação das perturbações nos mercados de dívida soberana, a partir de maio de 2010, as taxas dos depósitos a prazo têm vindo a aumentar progressivamente a um ritmo superior à subida das taxas de juro do mercado monetário 17. Em percentagem e pontos percentuais Diferencial dos empréstimos Diferencial dos depósitos a prazo (esc. dir; invertida) Diferencial total mm6 da taxa Euribor 6 meses Diferencial dos depósitos - Total (esc. dir; invertida) -3 Jan-00 Jul-01 Jan-03 Jul-04 Jan-06 Jul-07 Jan-09 Jul-10 Fonte: Banco de Portugal. Notas: O diferencial das operações ativas foi calculado como a diferença entre as taxas de juro de saldos dos empréstimos (disponibilizadas pelas Estatísticas Monetárias e Financeiras) e a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses, enquanto o das passivas como a diferença entre a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses e as taxas de juro de saldos dos depósitos. O diferencial total corresponde à diferença entre a taxa de juro dos empréstimos e a taxa de juros dos depósitos. Última observação: março de Em pontos percentuais No quadro dos riscos associados ao refinanciamento da dívida dos bancos, dados os elevados montantes envolvidos, a maior concentração no curto prazo, o elevado recurso ao financiamento junto do Eurosistema e o alto nível de aversão ao risco dos investidores é expectável a continuação do aumento dos recursos de clientes e do abrandamento da atividade bancária. Neste último caso, em particular no que se refere ao crédito concedido, refletindo uma diminuição da procura e também um aumento das restrições da oferta de crédito. Com efeito, os dados disponíveis para o período mais recente sugerem que, em especial, os bancos domésticos terão iniciado um processo de desalavancagem. Finalmente é de esperar a continuação deste processo nos próximos anos, em linha com o definido no programa de apoio internacional 18. A contenção dos custos operacionais contribuiu favoravelmente para a variação da rendibilidade do ativo em 2010 Em 2010, a evolução dos custos operacionais voltou a contribuir positivamente para a variação da rendibilidade do ativo. A contenção dos custos verificou-se essencialmente na componente de custos com pessoal, mas esteve também patente nas outras componentes. Apesar da contenção dos custos 16 Calculados como a diferença entre a taxa Euribor e as taxas de juro dos depósitos. 17 Para uma avaliação pormenorizada da evolução dos spreads bancários ver Secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório. 18 Ver Capítulo 2 Riscos Macroeconómicos e Financeiros, deste Relatório.

59 operacionais, uma vez que o produto da atividade apresentou um crescimento inferior, o rácio cost to income registou uma deterioração face ao ano anterior, situando-se em 57.5 por cento. Esta variação reflete uma menor dispersão deste indicador entre grupos bancários, visível na respetiva distribuição empírica em 2010 por comparação com o ano anterior (Gráfico 4.1.8). Gráfico RÁCIO COST TO INCOME DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA Dez-09 Jun-10 Dez Sistema Bancário Fonte: Banco de Portugal. Nota: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo ativo total; indicador calculado como o quociente entre os custos operacionais (definidos como o somatório dos custos com pessoal, dos custos administrativos e das depreciações) e o produto da atividade. Os resultados da atividade internacional apresentaram um crescimento significativo em 2010, em particular na primeira metade do ano Ao contrário do observado em 2009, a atividade desenvolvida no estrangeiro contribuiu de forma expressiva para os resultados do sistema bancário português em Deste modo, embora o peso das filiais estrangeiras no ativo total do sistema bancário se mantenha em níveis semelhantes aos apresentados em 2009, ascendendo a cerca de 11 por cento, os resultados antes de impostos e interesses minoritários associados à atividade realizada pelas filiais de alguns dos principais grupos bancários no exterior registaram um aumento significativo em 2010 (21.1 por cento), representando cerca de 35 por cento do total dos resultados do conjunto de instituições financeiras em análise (Quadro 4.1.5). Esta evolução compara com um aumento de 12.7 por cento dos resultados decorrentes da atividade doméstica. Num contexto de ajustamento gradual dos desequilíbrios da economia portuguesa, o desenvolvimento da atividade internacional dos bancos portugueses tem vindo a assumir um papel cada vez mais importante na sua rendibilidade. Sendo Portugal uma pequena economia aberta, o atual enquadramento macroeconómico global poderá dar um contributo favorável para a situação financeira dos bancos. Não obstante, o enquadramento financeiro poderá continuar a suscitar dificuldades acrescidas aos bancos portugueses, em particular num contexto de intensificação das tensões nos mercados de dívida soberana.

60 Quadro I 58 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE INTERNACIONAL PARA OS RESULTADOS DOS SISTEMA BANCÁRIO EM PERCENTAGEM Peso das filiais estrangeiras Atividade internacional Taxa de variação homóloga Atividade doméstica Taxa de variação homóloga Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Margem financeira Comissões Produto da atividade Gastos administrativos dos quais: Custos com pessoal Imparidade Resultado antes de impostos e de interesses minoritários Resultado líquido Fonte: Banco de Portugal.

61 4.2. Risco de Mercado A carteira de títulos e investimentos financeiros do sistema bancário português apresentou um crescimento muito significativo nos últimos dois anos 1. O aumento desta carteira, essencialmente composta por títulos de dívida, criou vulnerabilidades acrescidas para as instituições portuguesas dado o risco de taxa de juro, no contexto de intensificação da crise nos mercados de dívida soberana e de pressões inflacionistas na área do euro. Contudo, uma vez que uma parte muito significativa destes instrumentos está classificada em ativos disponíveis para venda e investimentos detidos até à maturidade, as repercussões sobre a rendibilidade e adequação de capital das instituições encontram-se limitadas. Por sua vez, a exposição do ativo dos bancos aos mercados acionistas é relativamente reduzida, sendo a carteira de títulos de capital maioritariamente constituída por ações de empresas residentes. No entanto, os resultados e o capital regulamentar das instituições poderão ser negativamente condicionados por esta via no decurso de 2011, uma vez que a necessidade de desalavancagem do setor privado não financeiro e as novas medidas de austeridade definidas no programa de ajustamento económico e financeiro recentemente acordado terão efeitos adversos sobre a atividade económica no curto prazo, e consequentemente sobre a rendibilidade das empresas, apesar de se estar perante medidas que são fundamentais para promover o crescimento económico a médio prazo. O capital regulamentar poderá também ser penalizado pelas responsabilidades com fundos de pensões, dada a sensibilidade da carteira destes fundos a flutuações nos mercados financeiros. Por fim, será de salientar que a alienação de alguns ativos no atual enquadramento poderá originar o registo de menos valias, com impacto desfavorável na rendibilidade e, por sua vez, nos fundos próprios das instituições Sistema Bancário A carteira de títulos e investimentos financeiros voltou a registar um crescimento significativo em 2010, aumentando a exposição do sistema bancário a dívida soberana Em 2010, a carteira de títulos e investimentos financeiros do sistema bancário português apresentou novamente um crescimento bastante expressivo, próximo de 40 por cento (Gráfico 4.2.1). À semelhança do observado no ano anterior, a dinâmica desta carteira foi crucial para a expansão do balanço do sistema Gráfico CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NIC Em percentagem do ativo Ativos financeiros ao justo valor através de resultados Ativos financeiros disponíveis para venda Investimentos detidos até à maturidade Investimento em filiais Derivados detidos para negociação Derivados de cobertura Total da carteira de titulos e instrumentos financeiros Jun/07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Fonte: Banco de Portugal. Nota: Carteira de títulos e investimentos financeiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada. 1 A carteira de títulos e investimentos financeiros compreende os ativos financeiros ao justo valor através de resultados incluindo derivados de negociação (líquidos de passivos detidos para negociação), os ativos financeiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em filiais e o valor líquido de derivados de cobertura, registados no balanço do sistema bancário português, em base consolidada.

62 I 60 bancário, passando a representar cerca de 16 por cento do ativo total (no final de 2008 situava-se em torno de 8 por cento). A aquisição líquida de títulos de dívida foi determinante para o crescimento desta carteira, num período em que a evolução das taxas de juro nos mercados de dívida contribuiu para a redução do valor da carteira destes instrumentos. Por seu turno, a componente de títulos de capital registou uma diminuição, em linha com a alienação de alguns títulos e com as desvalorizações observadas no mercado acionista nacional no conjunto do ano. BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 O crescimento da carteira de títulos e investimentos financeiros concentrou-se nos ativos financeiros disponíveis para venda e investimentos detidos até à maturidade (Gráfico 4.2.2). Como já foi referido, este aumento refletiu, em grande medida, a aquisição de títulos de dívida, evidenciando-se a aquisição de títulos de dívida pública portuguesa, sobretudo no decurso do primeiro semestre. A componente de outros títulos de dívida apresentou igualmente um aumento significativo, o qual esteve relacionado com a transformação de alguns ativos em instrumentos elegíveis como colateral nas operações de financiamento junto do Eurosistema e a aquisição por parte da CGD de obrigações emitidas pelas entidades criadas no âmbito da re-estruturação do BPN. Refira-se ainda que a variação da carteira de investimentos detidos até à maturidade resultou também da reclassificação de títulos anteriormente registados em outras carteiras de ativos 2. Deste modo, o peso da carteira de títulos de dívida no ativo total do sistema bancário português, em base consolidada, voltou a aumentar em 2010, situando-se próximo de 14 por cento. Refletindo a aquisição de títulos de dívida pública em montantes significativos desde meados de 2009, cerca de metade desta carteira é composta por títulos de dívida soberana, dominando a componente de dívida pública portuguesa (Gráfico 4.2.3). Quando comparados com outras instituições monetárias da área do euro, em particular com as de países também sujeitos a fortes pressões nos mercados de dívida soberana, os bancos portugueses continuaram a apresentar, em geral, uma menor exposição dos respetivos balanços a títulos de dívida pública (Gráfico 4.2.4). De qualquer forma, uma vez que estes títulos são normalmente emitidos a taxa de juro fixa, o aumento do peso destes instrumentos implica uma maior exposição das Gráfico DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NIC E FONTE DE RISCO Em percentagem do ativo Dez 08 Dez 09 Dez 10 Dez 08 Dez 09 Dez 10 Dez 08 Dez 09 Dez 10 Dez 08 Dez 09 Dez 10 Taxa de juro Ações Cambial Outros Filiais Dez 08 Dez 09 Dez 10 Ativos financeiros ao justo valor através de resultados (líquidos) Ativos financeiros disponíveis para venda Investimentos detidos até à maturidade Derivados de Investimento em cobertura e de filiais negociação Fonte: Banco de Portugal. Nota: Carteira de títulos e investimentos financeiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada. 2 Esta reclassificação de títulos tornou-se possível após a revisão das normas contabilísticas efetuada no final de 2008, na sequência das fortes perturbações nos mercados financeiros que ocorreram no segundo semestre desse ano. A este respeito, veja-se Caixa 1 Principais medidas das autoridades portuguesas relativamente ao sistema financeiro no âmbito da crise financeira internacional, Banco de Portugal, Boletim Económico Outono 2008.

63 Gráfico DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS DE DÍVIDA Dívida pública portuguesa e outros emitentes públicos residentes Emitentes públicos estrangeiros e organismos financeiros internacionais Outros títulos de dívida 4 61 Em mil milhões de euros Sistema Bancário 10 0 Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Fonte: Banco de Portugal. Nota: Carteira de títulos de dívida no balanço do sistema bancário, em base consolidada. instituições portuguesas a variações de taxa de juro. Note-se, no entanto, que tal situação poderá ser mitigada pela existência de posições de cobertura de risco de taxa de juro. Neste contexto, recorde-se que a evolução das carteiras de ativos financeiros a justo valor através de resultados e de ativos financeiros disponíveis para venda, ambas registadas a valor de mercado, condiciona de forma diferenciada os resultados e o capital (contabilístico e regulamentar) das instituições. Enquanto as variações na carteira de ativos financeiros a justo valor através de resultados têm sempre contrapartida nas rubricas de resultados, a evolução da carteira de ativos financeiros disponíveis para venda apenas influencia os resultados do exercício quando os títulos são alienados ou quando a variação do seu valor implica o reconhecimento de perdas por imparidade. As restantes variações de valor não realizadas associadas aos ativos financeiros disponíveis para venda são contabilizadas na conta de reservas de reavaliação, componente dos capitais próprios. Adicionalmente, as flutuações de valor dos títulos de Gráfico TÍTULOS DE DÍVIDA PÚBLICA DETIDOS POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS EM ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO Espanha Irlanda Portugal Grécia Itália Em percentagem do ativo Jan-07 Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Fonte: BCE. Nota: Última observação - março 2011.

64 I capital classificados na carteira de ativos financeiros disponíveis para venda têm impacto sobre o capital regulamentar das instituições 3. Por sua vez, as variações associadas aos títulos de dívida desta carteira têm um efeito neutro em termos prudenciais. 62 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Os resultados associados à carteira de títulos e investimentos financeiros mantiveram um contributo positivo para a rendibilidade do ativo Em 2010, os resultados associados a variações na carteira de títulos e investimentos financeiros diminuíram face ao ano anterior, mas continuaram a contribuir positivamente para a rendibilidade do ativo (Gráfico 4.2.5) 4. Os resultados beneficiaram da realização de mais valias em alguns títulos de capital, registados essencialmente durante o segundo semestre e associados à carteira de ativos financeiros disponíveis para venda. Observou-se também um contributo significativo dos resultados obtidos em diferenças cambiais e em outras operações financeiras. Em sentido oposto, refiram-se os contributos negativos dos resultados decorrentes da carteira de derivados e das menos valias em alguns títulos de dívida, as quais refletiram sobretudo os desenvolvimentos observados na segunda metade do ano. Por sua vez, o contributo para a rendibilidade do ativo das perdas por imparidade associadas à carteira de títulos e investimentos financeiros aumentou ligeiramente face ao registado em Gráfico CONTRIBUTOS DOS RESULTADOS DE OPERAÇÕES FINANCEIRAS E RESPETIVAS IMPARIDADES PARA A RENDIBILIDADE DO ATIVO DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NIC E FONTE DE RISCO Em percentagem do ativo médio Taxa de juro Ações Outros riscos Taxa de juro Ações Outros riscos Ativos fin. ao justo valor através de resultados Ativos fin. disponíveis para venda Derivados de cobertura e negociação Inv. em filiais Res. em diferenças cambiais Outros resultados em op. finaceiras Imparidades associadas à carteira de títulos e inv. financeiros Total Fonte: Banco de Portugal. 3 O impacto das variações de valor dos títulos de capital sobre o capital regulamentar ocorre também de forma diferenciada. As menos valias latentes são registadas na sua totalidade como elemento negativo dos fundos próprios, enquanto as mais valias potenciais apenas são reconhecidas em 45 por cento como elemento positivo destes fundos. 4 Os resultados de operações financeiras correspondem à soma dos resultados de ativos financeiros e passivos financeiros avaliados ao justo valor através de resultados, dos resultados de ativos financeiros disponíveis para venda, dos resultados de reavaliações cambiais e dos resultados de alienação de outros ativos financeiros.

65 Ainda relativamente aos resultados relacionados com os mercados financeiros, as comissões líquidas obtidas em operações financeiras aumentaram em 2010, permanecendo o respetivo contributo para a rendibilidade do ativo similar ao do ano anterior. Subjacentes a esta evolução estiveram essencialmente as comissões aplicadas na gestão dos fundos de investimento e na montagem de operações. A posição financeira dos fundos de pensões foi penalizada pelos desenvolvimentos nos mercados financeiros e refletiu-se negativamente na evolução do capital regulamentar Em 2010, o valor da carteira dos fundos de pensões dos empregados bancários apresentou uma diminuição de 2.4 por cento (Quadro 4.2.1). Esta variação refletiu essencialmente a quebra da rendibilidade dos ativos em carteira, num contexto de instabilidade nos mercados financeiros. No mesmo período, as responsabilidades associadas a estes fundos aumentaram ligeiramente. Assim, em 2010, registou-se uma diminuição da cobertura dos fundos de pensões dos empregados bancários (mas compatível com os requisitos regulamentares) Sistema Bancário A evolução da posição financeira dos fundos de pensões traduziu-se num acréscimo dos desvios atuariais negativos acumulados, decorrente de diferenças significativas entre os valores efetivos e alguns pressupostos, bem como numa redução do corredor contabilístico, i.e. do limite a partir do qual as perdas atuariais condicionam adversamente os fundos próprios das instituições 5. Estes factos, em conjugação com o reconhecimento prudencial de parte das perdas atuariais registadas em 2008, de acordo com o regime transitório definido pelo Banco de Portugal no Aviso N.º11/2008, repercutiram-se negativamente na variação do capital regulamentar do sistema bancário em Note-se, contudo, que esta situação foi bastante diferenciada entre os principais grupos bancários. O impacto negativo de uma evolução desfavorável dos fundos de pensões dos empregados bancários sobre o capital das instituições tem sido referenciado como uma das vulnerabilidades do sistema bancário Quadro MAPA DE FUNDO DE PENSÕES - SISTEMA BANCÁRIO EM BASE INDIVIDUAL, EM MILHÕES DE EUROS Responsabilidades Responsabilidades totais Nível mínimo de responsabilidades a cobrir Fundo de pensões Valor do Fundo de Pensões no início do ano Rendimento líquido do fundo Contribuição entregue ao fundo Contribuições entregues pelos beneficiários Pensões de reforma pagas pelo fundo Pensões de sobrevivência pagas pelo fundo Variações do valor do Fundo resultantes de cortes ou liquidações Outras variações líquidas Valor do fundo de pensões no fim do ano Cobertura do fundo (Valor fundo pensões fim ano (inc. outras formas cobertura) - Nível mínimo de responsabilidades a cobrir) Fonte: Banco de Portugal. 5 O corredor contabilístico corresponde a 10 por cento do máximo entre o valor da carteira dos fundos de pensões e o valor das responsabilidades. Em termos prudenciais, o montante das perdas atuariais acumuladas que exceda o corredor é totalmente registado como elemento negativo dos fundos próprios. 6 Dadas as características excecionais registadas nos mercados financeiros em 2008, o Banco de Portugal, através do Aviso N.º11/2008, permitiu que os desvios atuariais negativos apurados em 2008, deduzidos do rendimento esperado dos ativos do fundo de pensões no ano, fossem reconhecidos nos fundos próprios de forma faseada ao longo de 4 anos. Assim, durante esse período, existe um alargamento do corredor para efeitos prudenciais, sendo esse alargamento progressivamente diminuído até 2012.

66 I 64 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 português em anteriores Relatórios de Estabilidade Financeira. Tal fragilidade advém, por um lado, do facto da carteira de ativos dos fundos de pensões estar bastante exposta a flutuações nos mercados financeiros (para o conjunto das principais instituições, a componente de ações e obrigações representava cerca de 65 por cento dos ativos em carteira no final de 2010) e, por outro, do facto das perdas atuariais acumuladas estarem significativamente acima do corredor para alguns grupos bancários. Neste caso, um choque negativo adicional sobre a posição financeira dos fundos de pensões reflete-se diretamente nos fundos próprios. A maior exposição do sistema bancário português aos desenvolvimentos nos mercados de dívida soberana constitui um risco adicional num período em que o enquadramento macroeconómico, financeiro e regulamentar é particularmente exigente A evolução da carteira de títulos e investimentos financeiros, sobretudo de títulos de dívida pública, contribuiu favoravelmente para a geração de resultados nos últimos anos, permitindo mitigar a redução da margem financeira obtida em operações com clientes. Contudo, o aumento desta carteira impõe constrangimentos na gestão de ativos das instituições, uma vez que o aumento das yields dos títulos de dívida pública tem originado diminuições de valor, que se acentuaram consideravelmente nos primeiros meses de Estas variações, apesar de não afetarem, de um modo geral, nem os resultados nem os fundos próprios (na medida em que os títulos subjacentes estão maioritariamente classificados nas carteiras de ativos financeiros disponíveis para venda e detidos até à maturidade), limitam significativamente a capacidade de desinvestimento destes títulos. De facto, a alienação destes ativos nas presentes circunstâncias implicaria o reconhecimento de perdas elevadas, penalizando a rendibilidade e consequentemente os rácios de solvabilidade das instituições. Por sua vez, a contração da atividade económica projetada para Portugal nos próximos dois anos deverá condicionar adversamente a evolução do mercado acionista nacional, em contraste com o esperado para os principais mercados acionistas internacionais. Apesar da reduzida dimensão da carteira de títulos de capital no balanço dos bancos, esta evolução poderá condicionar negativamente os resultados e adequação de capital das instituições. Neste contexto, a variação de valor da carteira de ações dos fundos de pensões poderá também penalizar o capital regulamentar. A materialização destes riscos no futuro próximo poderá ser particularmente relevante, uma vez que a generalidade das instituições do sistema bancário português terá que reforçar o respetivo capital, em linha com a nova regulamentação relativa ao rácio Core Tier I, inicialmente definida pelo Banco de Portugal e posteriormente revista no âmbito do programa de ajustamento económico e financeiro 7. Será, contudo, de salientar que, a par da definição de uma trajetória mais exigente para este rácio, o programa contemplou também um aumento do fundo de apoio à recapitalização dos bancos portugueses. Apesar das novas exigências de adequação de capital, existe ainda um conjunto alargado de alterações regulamentares que têm que ser implementadas, no contexto de Basileia III, com custos de ajustamento significativos 8. A este respeito, refira-se a eliminação progressiva, a partir de 2014, do corredor contabilístico no apuramento do impacto sobre o capital das perdas atuariais relativas aos fundos de pensões. Uma vez que para algumas instituições estas perdas estão acima do limite permitido, a nova 7 O Banco de Portugal (pelo Aviso N.º 1/2011) estabeleceu, no início de abril, 8 por cento como nível mínimo para o rácio Core Tier I a partir de dezembro de No contexto do programa de assistência financeira a Portugal acordado em maio, foi definida uma nova trajetória para este rácio: mínimo de 9 por cento no final de 2011 e de 10 por cento a partir de dezembro de Para mais detalhes sobre as medidas definidas no programa, em particular as relacionadas com o sistema financeiro português, ver Caixa O programa de ajustamento económico e financeiro no âmbito do pedido de assistência financeira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional, Banco de Portugal, Relatório Anual Uma breve descrição das propostas associadas ao Novo Acordo de Capital é efetuada na Caixa 2.1 As principais propostas de Basileia III, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro de 2010.

67 regulamentação deverá originar necessidades adicionais de capital. No longo prazo, o impacto desta medida poderá ser mitigado pela integração dos empregados bancários no ativo (contratados antes de 2009) no Regime Geral de Segurança Social a partir de 2011, para efeitos das responsabilidades futuras de pensões por velhice e nas eventualidades de maternidade, paternidade e adoção. De facto, a partir de janeiro de 2011, o Regime Geral passou a ser responsável pelo pagamento das pensões dos empregados bancários relativas aos anos de serviço prestado após essa data, sendo a parcela referente aos anos anteriores assegurada pelos fundos de pensões das instituições bancárias Sistema Bancário

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69 4.3. Risco de liquidez O ano de 2010 foi marcado pela acentuada diferenciação do risco nos mercados de dívida soberana da área do euro, com um forte impacto sobre a República portuguesa. Uma vez que a avaliação do risco de crédito dos emitentes de um determinado país está intrinsecamente associada ao respetivo risco soberano, esta situação traduziu-se em significativas dificuldades de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso por parte dos bancos portugueses. De facto, tanto as taxas de rendibilidade associadas à dívida pública como o rating soberano tendem a constituir referências para os respetivos valores associados aos emitentes privados 1. A evolução dos ratings é particularmente relevante no sentido em que alguns investidores institucionais estão sujeitos a regras de investimento internas que os impedem de adquirir títulos com rating inferior a um determinado limiar e alguns instrumentos de dívida preveem alterações nas condições em caso de determinadas revisões em baixa da notação de rating 2. Neste contexto, os bancos aumentaram de forma acentuada o seu recurso ao financiamento junto do Eurosistema. Contudo, esta não constitui uma fonte de financiamento sustentável a médio prazo. Adicionalmente, a evolução negativa da notação de rating da República pressiona o valor dos títulos detidos pelos bancos para utilizar como colateral junto do Eurosistema, e não se anteveem para o futuro próximo melhorias na sua capacidade de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso. Face a estes desenvolvimentos, os dados disponíveis apontam para que os bancos tenham iniciado na segunda metade de 2010 um processo de desalavancagem através do aumento da captação de depósitos, do abrandamento da concessão de crédito, da venda de ativos e do aumento do capital, embora não se tenha ainda observado até ao final de 2010 uma diminuição do balanço do sistema bancário em base consolidada Sistema Bancário A evolução do risco soberano como principal fator de risco para a situação de liquidez dos bancos Uma vez que as dificuldades de liquidez dos bancos portugueses resultaram em grande medida do efeito de contágio decorrente das perturbações nos mercados de dívida soberana, não advindo diretamente de problemas intrínsecos de solvabilidade ou de rendibilidade, a perceção dos participantes nos mercados financeiros relativamente à evolução da situação das finanças públicas portuguesas é determinante para a situação de liquidez dos bancos. Neste contexto, assume especial relevância a implementação bem sucedida do programa de ajustamento económico e financeiro. Adicionalmente, com base na evolução observada em 2010, existe o risco de uma deterioração adicional da situação de outros países da área do euro ter, por efeito de contágio, um impacto negativo na avaliação do risco soberano nacional. A materializar-se, esta evolução poderá surgir associada a uma deterioração adicional da notação de rating da República portuguesa, com um impacto negativo adicional nos ratings dos bancos e no valor dos títulos utilizados como colateral no mercado de repos e nas operações de financiamento junto do Eurosistema. A consolidação orçamental no contexto do programa de ajustamento económico e financeiro e a transição para um enquadramento regulamentar mais exigente O programa de ajustamento económico e financeiro permite assegurar o financiamento do Estado nos próximos anos, ao mesmo tempo que prevê um conjunto alargado de reformas estruturais que têm em vista promover o crescimento potencial da economia. No que respeita ao sistema bancário, merecem 1 Refira-se no entanto que, nos períodos de maiores perturbações nos mercados de dívida soberana, apesar de terem registado um aumento, as taxas de rendibilidade em mercado secundário de algumas empresas não financeiras portuguesas mantiveram-se abaixo das correspondentes à dívida pública. Para mais detalhe a este respeito, ver Secção 2.2 Condições Monetárias e Financeiras da Economia Portuguesa, Banco de Portugal, Relatório Anual As alterações previstas nas condições de alguns instrumentos de dívida poderão ir desde uma exigência do aumento do colateral associado até ao reembolso antecipado.

70 I 68 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 destaque as medidas do programa que visam uma redução do grau de alavancagem do sistema, uma redução ordenada do financiamento junto do Eurosistema e um reforço da posição de capital, que visam garantir a consolidação, a médio prazo, de uma estrutura de financiamento sustentável da economia portuguesa. Esta deverá privilegiar as fontes de financiamento mais estáveis, tais como os recursos de clientes, de forma a diminuir a dependência do financiamento nos mercados de dívida por grosso. Adicionalmente, o programa inclui algumas medidas que têm em vista a garantir a estabilidade financeira e minimizar os impactos sobre a oferta de crédito ao setor produtivo. No domínio da liquidez, está previsto um reforço do colateral elegível para o recurso a operações de cedência de liquidez junto do Eurosistema, incluindo, se necessário, a emissão de dívida com garantia do Estado num um valor até 35 mil milhões de euros. Recorde-se que a adoção de regras mais exigentes para a gestão de liquidez, no âmbito da futura regulamentação comunitária sobre requisitos de liquidez, constitui um desafio adicional para os bancos a nível internacional, incluindo os portugueses 3. De facto, embora estas medidas visem uma diminuição do risco de liquidez a médio e longo prazo, haverá o compromisso de proceder a ajustamentos significativos no balanço de algumas instituições no período de adaptação ao novo enquadramento regulamentar, reforçando o peso dos ativos líquidos e privilegiando fontes de financiamento globalmente estáveis. De qualquer modo, o ajustamento do balanço dos bancos portugueses previsto no programa de ajustamento económico e financeiro é consentâneo com a regulamentação internacional de liquidez a aplicar no futuro. A significativa dispersão da situação de liquidez dos bancos portugueses deverá repercutir-se em esforços de ajustamento bastante diferenciados. Assim, o programa de ajustamento económico e financeiro visa reforçar a solidez dos bancos, nomeadamente através de um processo de desalavancagem exigente mas gradual e adequado. Significativa deterioração das condições de acesso dos bancos portugueses aos mercados internacionais de dívida por grosso desde o segundo trimestre de 2010 Durante o ano de 2010 observou-se um significativo aumento do prémio de risco associado à dívida pública portuguesa no contexto da emergência de sérias perturbações nos mercados de dívida soberana da área do euro. Esta situação refletiu-se num forte aumento dos Credit Default Swaps (CDS) para a República portuguesa e para os principais grupos bancários portugueses, tendo o efeito sobre estes últimos sido particularmente evidente aquando do recurso aos mecanismos de apoio financeiro internacionais da Grécia em abril e da Irlanda em novembro de 2010 ( Gráfico 4.3.1). O diferencial entre os CDS dos maiores bancos nacionais e os da República portuguesa aumentou significativamente durante estes períodos de maior incerteza. Durante os primeiros meses de 2011 verificou-se uma diminuição dos CDS correspondentes aos maiores bancos privados nacionais, convergindo para os valores registados pelos CDS da República portuguesa, que continuaram a aumentar até finais de abril, registando alguma diminuição até meados de maio. As taxas de juro do mercado monetário mantiveram-se ao longo de 2010 em valores reduzidos, em linha com as taxas de juro oficiais do BCE, embora apresentando uma tendência de subida desde a segunda metade do ano (Gráfico 4.3.2). Ainda assim, os bancos sentiram significativas restrições quantitativas no acesso ao mercado monetário, essencialmente nos segmentos de prazos mais longos, bem como um aumento do custo de financiamento associado. Esta situação, que foi particularmente marcada desde o segundo trimestre do ano, refletiu o impacto dos downgrades da notação de rating da República Portuguesa nos ratings dos próprios bancos, bem como no valor dos títulos de dívida soberana e na disponibilidade das contrapartes os aceitarem como colateral. Adicionalmente, num enquadramento marcado pelo aumento da diferenciação do risco soberano, verificaram-se nos meses de abril e novembro de 2010 fortes aumentos das taxas de rendibilidade em mercado secundário das obrigações emitidas por bancos 3 Para mais detalhes sobre as propostas para o novo enquadramento regulamentar, ver Caixa 2.1 As principais propostas de Basileia III, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010.

71 Gráfico Gráfico CREDIT DEFAULT SWAP SPREADS DE BANCOS PORTUGUESES (5 ANOS SENIOR) CUSTO DE FINANCIAMENTO DOS BANCOS PORTUGUESES 4 Em pontos base BCP CGD BES DJ itraxx Financial Senior 5 years CDS República Portuguesa Em percentagem Operações principais de refinanciamento do BCE Euribor 6 meses (média mensal) Taxas de rendibilidade de obrigações senior de bancos portugueses Taxas de rendibilidade de obrigações com garantia estatal de bancos portugueses Depósitos a prazo do setor privado não financeiro (saldo) Sistema Bancário Jan-07 Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 0 Dez-06 Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Fontes: Bloomberg e Thomson Reuters. Nota: Última observação: 16/05/2011. Fontes: Bloomberg e Banco de Portugal. Nota: A série da taxa de rendibilidade de obrigações senior de bancos portugueses refere-se a médias ponderadas pelo montante de emissão de obrigações do BCP, BPI, BES, BST, CGD e MG. A série correspondente a obrigações com garantia estatal de bancos portugueses inclui obrigações emitidas pelo BCP e BES. A falta de liquidez do mercado restringe a representatividade dos preços das obrigações, pelo que as taxas apresentadas devem ser interpretadas como meramente indicativas. As obrigações emitidas com garantia estatal têm subjacente uma comissão paga ao governo de 50 p.b., a que se adiciona o prémio de risco do credit default swap do banco (ou de bancos semelhantes, caso não exista CDS para esse emitente) à data de emissão se esta tiver uma maturidade superior a 1 ano. portugueses com garantia estatal e das obrigações senior de bancos portugueses. Contudo, tendo em conta as fortes restrições quantitativas no acesso aos mercados de dívida titulada por grosso e a liquidez reduzida no mercado secundário dos títulos de dívida dos bancos portugueses, importa sublinhar que a evolução das respetivas taxas de rendibilidade deverá ser interpretada apenas como uma aproximação ao custo que os bancos enfrentariam se acedessem de facto ao mercado. Financiamento do sistema bancário português dependente, em larga medida, dos recursos obtidos junto do Eurosistema e de depósitos de clientes, face às dificuldades de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso No primeiro semestre de 2010, e em particular no segundo trimestre do ano, a expansão da atividade do sistema bancário português foi financiada essencialmente através do forte aumento do recurso às operações de cedência de liquidez do Eurosistema (Gráfico 4.3.3). Por outro lado, registou-se uma significativa diminuição das responsabilidades representadas por títulos desde o segundo trimestre do ano, em linha com as dificuldades de acesso aos mercados financeiros de dívida por grosso. Neste enquadramento, os bancos realizaram, na segunda metade de 2010, algumas operações de titularização de crédito e outras emissões de dívida titulada que, em certas circunstâncias, permitiram um reforço da pool de colateral para a realização de operações de crédito do Eurosistema. De salientar que o valor da referida pool de colateral foi negativamente afetado pela forte diminuição do rating da República.

72 Gráfico I 70 FLUXOS DE FINANCIAMENTO DO SISTEMA BANCÁRIO EM BASE CONSOLIDADA BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em milhares de milhões de euros S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S Sistema bancário Bancos domésticos Recursos de clientes e outros empréstimos Responsabilidades representadas por títulos Passivos subordinados Passivos por ativos não desreconhecidos em operações de titularização Recursos (líq.) de outras instituições de crédito Recursos (líq.) de bancos centrais Financiamento total Fonte: Banco de Portugal. Nota: Existe uma quebra de série em Junho de 2007 que corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. No primeiro trimestre de 2010, o valor emitido de obrigações a taxa fixa foi significativamente superior ao de obrigações a taxa variáve l (Quadro 4.3.1). Adicionalmente, no contexto da estratégia dos bancos de emissão de títulos para utilizar como colateral nas operações cedência de liquidez do Eurosistema, o peso das covered bonds aumentou de cerca de 30 por cento do total de obrigações emitidas no período entre janeiro de 2009 e março de 2010 para um valor próximo de 75 por cento entre o segundo trimestre de 2010 e março de Quanto à estrutura de financiamento dos bancos no mercado de títulos, observou-se ao longo de 2010 uma diminuição considerável do stock de certificados de depósito no passivo dos bancos, que levou a uma diminuição do peso destes instrumentos no total das responsabilidades representadas por títul os (Gráfico 4.3.4). As emissões líquidas de obrigações e de outras responsabilidades representadas por títulos foram também negativas desde o segundo trimestre de As dificuldades de acesso aos mercados de financiamento por grosso traduziram-se numa diminuição do saldo vivo das obrigações emitidas por bancos portugueses em 2010 e no primeiro trimestre de 2011 (Gráfico 4.3.5). Os recursos de clientes sob a forma de depósitos mantiveram-se como a principal fonte de financiamento dos bancos, representando em dezembro de 2010 cerca de 43 por cento do ativo em base consolidada (48 por cento no caso das instituições domésticas). Face às dificuldades de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso, ao forte aumento do financiamento junto do Eurosistema e ao compromisso de desalavancagem dos bancos assumido no contexto do programa de ajustamento económico e financeiro, a captação de depósitos de clientes tem vindo a assumir um papel mais relevante na sua estratégia de financiamento. Neste contexto, após a relativa estabilidade dos recursos de clientes observada no primeiro semestre de 2010, verificou-se um aumento dos depósitos na segunda metade do ano. Esta evolução está em linha com a aceleração dos depósitos em Portugal e no exterior do setor não monetário residente Quadro EMISSÕES BRUTAS DE OBRIGAÇÕES DOS GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES ESTRUTURA POR TIPO DE TAXA (EM PERCENTAGEM DO TOTAL) (a) Posição em 31 de março de 2011 Taxa variável Taxa fixa e outros Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters. Notas: (a) Inclui observações até 31 de março.

73 Gráfico Gráfico ESTRUTURA DAS RESPONSABILIDADES REPRESENTADAS POR TÍTULOS EM BASE CONSOLIDADA SALDO VIVO DAS OBRIGAÇÕES EMITIDAS POR BANCOS PORTUGUESES POR MATURIDADE RESIDUAL EM PORTUGAL E NO EXTERIOR 4 Em percentagem Obrigações Certificados de depósito Outras responsabilidades representadas por títulos Dez- 07 Jun- Dez- Jun- Dez-Mar-Jun Sistema bancário Set- 10 Dez- 10 Dez- Jun- Dez- Jun- Dez-Mar-Jun- Set Bancos domésticos Dez- 10 Em milhares de milhões de euros Mais de 10 anos ou obrigações perpétuas 5 a 10 anos 3 a 5 anos 2 a 3 anos 1 a 2 anos Até 1 ano Dez-06 Dez-07 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Mar Sistema Bancário Fonte: Banco de Portugal Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters. Nota: Inclui emissões de sucursais e filiais de bancos portugueses no exterior. que mais do que compensou a evolução negativa dos depósitos do setor não monetário não resid ente (Gráfico 4.3.6). Esta última, por sua vez, esteve associada aos depósitos de instituições financeiras não monetárias não residentes. O aumento dos depósitos do setor não monetário residente foi relativamente generalizado em termos de setor institucional dos depositantes, estando associado essencialmente à evolução dos depósitos de instituições financeiras não monetárias e do setor privado não financeiro. A taxa de variação homóloga dos depósitos de particulares residentes situou-se nos primeiros quatro meses de 2010 em torno de 1 por cento, mantendo-se nos restantes meses do ano em valores ligeiramente acima de 2 por cento (Gráfico 4.3.7). O aumento dos depósitos em 2010 inseriu-se no ajustamento da Gráfico TAXAS DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DOS DEPÓSITOS DE CLIENTES Em percentagem Dez-98 Jun-00 Nov-01 Mai-03 Nov-04 Mai-06 Nov-07 Mai-09 Nov-10 Depósitos em Portugal do setor não monetário (residente e não residente) e depósitos no exterior (residentes) (a) Depósitos em Portugal e no exterior do setor não monetário residente (a) Recursos de clientes (sistema bancário em base consolidada) Fonte: Banco de Portugal. Nota: (a) Excluindo passivos por contrapartida de operações de titularização não desreconhecidas do balanço, registados sob a forma de depósitos (e equiparados) de OIFAF.

74 I 72 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 carteira de aplicações financeiras dos particulares caracterizado por um aumento mais significativo das aplicações em seguros de vida e em títulos de dívida a longo prazo, em detrimento das aplicações em ações e fundos de investimento 4. Adicionalmente, contribuindo de forma favorável para a posição de liquidez dos bancos, continuou a verificar-se durante o ano de 2010 um aumento do peso dos depósitos a mais de 2 anos no total dos depósitos de particulares, em contrapartida de uma diminuição da importância dos depósitos a prazos mais curtos, embora de forma progressivamente menos marcada ao longo do ano (Gráfico 4.3.8). Em percentagem Gráfico Gráfico DEPÓSITOS DE PARTICULARES RESIDENTES TAXAS DE VARIAÇÃO Taxa de variação homóloga Taxa de variação trimestral anualizada Dez-98 Jun-00 Nov-01 Mai-03 Nov-04 Mai-06 Nov-07 Mai-09 Nov-10 DEPÓSITOS DE PARTICULARES RESIDENTES E DE EMIGRANTES NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA E RESPETIVOS CONTRIBUTOS Em pontos percentuais Dep. prazo mais de 2 anos Dep. prazo de 1 a 2 anos Dep. prazo até 1 ano Dep. ordem e pré-aviso Total (esc. direita) Jan-99 Jul-00 Jan-02 Jul-03 Jan-05 Jul-06 Jan-08 Jul-09 Jan Em percentagem Fonte: Banco de Portugal. Nota: A taxa de variação trimestral anualizada é calculada com base em valores ajustados de sazonalidade. Fonte: Banco de Portugal. No primeiro trimestre de 2011 observou-se uma aceleração dos depósitos de particulares residentes, registando em março uma taxa de variação homóloga de 3.8 por cento. Em contraste com a evolução observada desde meados de 2009, em março de 2011 o principal contributo para o crescimento dos depósitos de particulares adveio dos depósitos com prazo inferior a 1 ano (Gráfico 4.3.8). Durante o primeiro trimestre de 2011, observou-se uma diminuição das aplicações em certificados de aforro mais significativa do que o aumento nas aplicações em certificados do Tesouro, a par de uma diminuição das subscrições líquidas de unidades de participação em fundos de investimento. Esta evolução sugere que a aceleração dos depósitos no período mais recente deverá estar associada a um movimento de recomposição da carteira de aplicações financeiras dos particulares. No que respeita à estratégia de financiamento dos bancos, para além da oferta de remunerações mais atrativas nos depósitos, as instituições terão adotado uma estratégia comercial direcionada para a transferência de recursos de clientes de títulos de dívida e de instrumentos extrapatrimoniais para depósitos. Paralelamente, a prazo, a evolução dos depósitos de particulares tenderá a refletir o aumento expectável da taxa de poupança no contexto do processo de ajustamento da economia portuguesa ao longo dos próximos anos. 4 Para mais detalhes a respeito da evolução da carteira de aplicações financeiras dos particulares, ver Capitulo 3 Situação financeira do setor privado não financeiro, deste Relatório.

75 Diminuição do rácio entre o crédito e os recursos de clientes no período mais recente, apesar do aumento verificado no primeiro semestre de 2010, sugerindo que se terá iniciado na segunda metade do ano o processo de desalavancagem do sistema bancário O rácio entre o crédito e os recursos de clientes apresentou uma evolução diferenciada ao longo de Na primeira metade do ano, apesar das perturbações nos mercados internacionais de financiamento por grosso, registou-se um aumento do crédito superior ao dos recursos de clientes, em base consol idada (Gráfico e Gráfico ). Esta evolução foi semelhante para o sistema bancário e para o agregado dos bancos domésticos, mantendo estes últimos níveis inferiores aos observados para os bancos não domésticos. Importa referir que, para o aumento do rácio entre o crédito e os depósitos observado no contexto de intensificação da turbulência nos mercados de dívida soberana, contribuiu o significativo aumento do crédito concedido à administração central e às empresas não financeiras de maior dimensão 6. Entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2011, observou-se uma diminuição do rácio entre o crédito e os recursos de clientes, refletindo essencialmente o aumento dos depósitos de clientes, mas também alguma diminuição do crédito. Esta evolução surge em linha com o compromisso de desalavancagem assumido no âmbito do programa de ajustamento económico e financeiro, e deverá prosseguir nos próximos anos. O rácio entre o crédito e os depósitos relativo à atividade internacional dos bancos domésticos registou um aumento até ao terceiro trimestre de 2010 e uma diminuição no último trimestre do ano. Este rácio manteve-se em valores relativamente reduzidos comparativamente com os observados para a atividade doméstica 7. No contexto da área do euro, o sistema bancário português apresentava no final de 2009 um rácio entre o crédito e os depósitos relativamente elevado Sistema Bancário O aumento do rácio entre o crédito e os recursos de clientes no primeiro semestre de 2010 e a diminuição que se seguiu na segunda metade do ano e, em menor grau, no primeiro trimestre de 2011, foram obser- Gráfico RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES (a) SISTEMA BANCÁRIO 180 Em percentagem Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes (b) Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10 Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem depósitos de clientes. 5 O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. 6 Para mais detalhes ver Secção 2.2 Condições monetárias e financeiras da economia portuguesa, Banco de Portugal, Relatório Anual O valor dos créditos titularizados e não desreconhecidos, que não está incluído nos rácios entre o crédito e os depósitos calculados para a atividade internacional, está em larga medida concentrado na atividade doméstica dos bancos.

76 Gráfico I RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES (a) BANCOS DOMÉSTICOS BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10 Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes (b) Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes Rácio crédito bruto - recursos de clientes (Atividade internacional) Rácio crédito líquido de imparidade - recursos de clientes (atividade internacional) Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem depósitos de clientes. vados para a generalidade das instituições domésticas (Gráfico ). Ainda assim, importa destacar o contributo particularmente relevante para a diminuição do rácio entre o crédito e os depósitos por parte de uma instituição que detinha um rácio particularmente elevado e que, para além de ter desenvolvido um plano de desalavancagem que permitiu reduzir o crédito, registou um aumento significativo dos depósitos, em parte por via da transferência de recursos de fora do balanço. Gráfico RÁCIO ENTRE O CRÉDITO E OS RECURSOS DE CLIENTES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA Dez-09 Jun-10 Dez-10 Mar Fonte: Banco de Portugal. Nota: Dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo.

77 Num quadro de significativas dificuldades de acesso aos mercados de financiamento por grosso, registou-se um forte aumento dos recursos líquidos de aplicações junto do Eurosistema No contexto da significativa deterioração das condições de acesso aos mercados de dívida internacional, quer em termos de preços, quer em termos de quantidades, observou-se em 2010, em particular no segundo trimestre do ano, um forte aumento do recurso dos bancos portugueses ao financiamento junto do Eurosistema (Quadro 4.3.2). Estes recursos permitiram ao sistema bancário continuar a financiar o setor não monetário residente num enquadramento de perturbações nos mercados financeiros internacionais e de subida limitada dos recursos de clientes. Adicionalmente, os recursos obtidos junto do Eurosistema foram em parte utilizados para financiar sucursais de bancos portugueses no exterior no primeiro semestre de 2010, num contexto da aplicação de regras de liquidez mais exigentes às suas filiais e sucursais no estrangeiro Sistema Bancário No primeiro trimestre de 2010, e relativamente às instituições domésticas, os recursos líquidos de outras instituições de crédito mantiveram-se relativamente estáveis. No caso das instituições não domésticas registou-se no mesmo período um aumento dos recursos líquidos de outras instituições de crédito, motivado essencialmente pelo aumento dos recursos de outras instituições de crédito no estrangeiro. A evolução observada para os recursos de outras instituições de crédito desde o segundo trimestre de 2010 refletiu as tensões acrescidas nos mercados de dívida soberana, e a sua repercussão sobre o acesso dos bancos portugueses aos mercados internacionais de dívida por grosso. Assim, no caso dos Quadro POSIÇÃO DOS BANCOS PORTUGUESES FACE A BANCOS CENTRAIS E A OUTRAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHARES DE MILHÕES DE EUROS Sistema bancário Dez- 07 Recursos (líq.) de bancos centrais Recursos (líq.) de outras instituições de crédito Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito no país no estrangeiro sede e sucursais da própria instituição Recursos de bancos centrais Recursos de outras instituições de crédito no país no estrangeiro sede e sucursais da própria instituição Bancos domésticos Dez- 07 Dez- 08 Jun- 09 Dez- 09 Mar- 10 Jun- 10 Set- 10 Dez- 10 Recursos (líq.) de bancos centrais Recursos (líq.) de outras instituições de crédito Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito no país no estrangeiro sede e sucursais da própria instituição Recursos de bancos centrais Recursos de outras instituições de crédito no país no estrangeiro sede e sucursais da própria instituição Fonte: Banco de Portugal. Dez- 08 Jun- 09 Dez- 09 Mar- 10 Jun- 10 Set- 10 Dez- 10

78 I 76 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 bancos domésticos, observou-se uma diminuição dos recursos obtidos junto de outras instituições de crédito que foi compensada por uma diminuição mais expressiva das disponibilidades e aplicações junto de outras instituições de crédito. No caso dos bancos não domésticos registou-se, de forma particularmente marcada no segundo trimestre, um aumento dos recursos obtidos junto da sede e sucursais das próprias instituições. A informação disponível para o primeiro trimestre de 2011, que considera apenas as instituições que recebem depósitos de clientes, ilustra a intensificação das dificuldades de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso. No caso dos bancos domésticos, registou-se um aumento dos recursos líquidos obtidos junto de bancos centrais e, de forma mais significativa, um aumento dos recursos líquidos de outras instituições de crédito, que refletiu essencialmente uma diminuição das disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito. Manutenção do recurso ao financiamento junto do Eurosistema em valores elevados No contexto das dificuldades de obtenção de financiamento junto dos mercados de dívida internacionais, os bancos recorreram ao financiamento junto do Eurosistema em montantes elevados, tendo atingido, em Agosto de 2010, um valor superior a 10 por cento do ativo consolidado das outras instituições financeiras monetárias residentes valor que em dezembro de 2010 ainda era da ordem de 8 por cento. O programa de ajustamento económico e financeiro prevê um reforço do colateral dos bancos, de forma a possibilitar um aumento do recurso a esta fonte de financiamento, em resposta a desenvolvimentos negativos inesperados. Ainda assim, tal aumento deverá ter um caráter pontual, devendo os bancos transitar de uma forma ordenada para uma estrutura de financiamento mais baseada em recursos estáveis, nomeadamente recursos de clientes. Ainda em 2010, o forte peso do financiamento obtido junto do Eurosistema no balanço dos bancos motivou um conjunto de ações do Banco de Portugal junto daquelas instituições no sentido de incentivar o recurso a fontes de financiamento alternativas. Neste contexto, verificou-se em setembro uma diminuição do saldo das operações de política monetária dos bancos portugueses, em linha com o aumento dos recursos de clientes, com a realização de algumas operações de venda com acordo de recompra de títulos no mercado e com alguma melhoria nas condições de acesso aos mercados de dívida por grosso de curto prazo, sendo ainda de destacar o contributo de uma operação de montante elevado decorrente da venda de ativos ao exterior por parte de uma empresa nã o financeira (Gráfico ). Posteriormente, o recurso ao financiamento junto do Eurosistema manteve-se relativamente estável em níveis elevados. Em abril, no contexto da deterioração da avaliação do risco associado aos emitentes portugueses que culminou no pedido de assistência financeira internacional, observou-se um aumento adicional do recurso dos bancos portugueses às operações de política monetária. Esta evolução prosseguiu até meados de maio tendo-se observado no final do mês uma reversão do recurso a esta fonte de financiamentro para um valor próximo do registado no final de abril. Por sua vez, o recurso ao financiamento obtido junto do Eurosistema para o conjunto dos países da área do euro tem seguido uma trajetória descendente no período mais recente (Gráfico ). Deterioração generalizada dos gaps de liquidez no primeiro semestre de 2010, seguida de alguma reversão e de uma nova deterioração no período mais recente Os gaps de liquidez do sistema bancário português apresentaram no primeiro semestre de 2010 uma deterioração em todos os prazos considerados sendo que, para o agregado das instituições domésticas, esta foi particularmente marcada nos horizont es mais curtos (Gráfico ) 8. Esta evolução deveu-se 8 Gap de liquidez definido como (Ativos Líquidos Passivos Voláteis)/(Ativo Ativos Líquidos)*100, em cada escala cumulativa de maturidade.

79 Gráfico SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DOS BANCOS PORTUGUESES Em milhares de milhões de euros Em percentagem Operações principais de refi nanciamento Operações de refinanciamento de prazo alargado Facilidade permanente de cedência de liquidez Outras operações de cedência de liquidez (a) Facilidade permanente de depósito Outras operações de absorção de liquidez (b) Peso do fi nanciamento obtido junto do Eurosistema no ativo concolidado das OIFM residentes (c) 77 Sistema Bancário Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Inclui as Operações ocasionais de regularização de liquidez e as Operações estruturais de ajustamento de liquidez. (b) Inclui Depósitos a prazo e Acordos de recompra. (c) OIFM - Outras Instituições Financeiras Monetárias. Gráfico SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DO EUROSISTEMA Em milhares de milhões de euros Operações principais de refi nanciamento Operações de refinanciamento de prazo alargado Facilidade permanente de cedência de liquidez Outras operações de cedência de liquidez (a) Facilidade permanente de depósito Outras operações de absorção de liquidez (b) Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Inclui as Operações ocasionais de regularização de liquidez e as Operações estruturais de ajustamento de liquidez. (b) Inclui Depósitos a prazo e Acordos de recompra. essencialmente ao aumento dos passivos voláteis, que mais do que compensou o aumento dos ativos elegíveis como colateral para as operações de política monetária do Eurosistema, refletindo em grande medida a substituição de financiamento a prazos mais longos por financiamento junto do Eurosistema (Gráfico ). Este efeito surgiu reforçado pelo facto de, a partir de maio, o financiamento junto do Eurosistema ter sido feito a prazos mais curtos do que na segunda metade de No terceiro trimestre de 2010 assistiu-se a uma melhoria dos gaps de liquidez que foi particularmente significativa para as instituições domésticas e que, no que respeita aos prazos mais longos, se prolongou até ao final do ano. Esta evolução surge num contexto em que se observou uma estabilização dos recursos líquidos de aplicações junto de bancos centrais, ao passo que os ativos elegíveis para operações de crédito junto de

80 Gráfico I 78 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 GAPS DE LIQUIDEZ EM ESCALAS CUMULATIVAS DE MATURIDADE Em percentagem dos ativos totais deduzidos dos ativos líquidos Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano -21 Dez-08Mar-09 Jun-09 Set-09 Dez-09Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10Mar-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: Gap de liquidez definido como (Ativos líquidos - Passivos voláteis)/(ativo - Ativos líquidos)x100 em cada escala cumulativa de maturidade residual. O indicador foi calculado com base nos dados e nos conceitos definidos na Instrução 13/2009. Os resultados para as instituições domésticas surgem a tracejado. bancos centrais continuaram a aumentar, essencialmente no que respeita aos bancos domésticos. Os indicadores para os prazos mais longos situavam-se assim em dezembro de 2010 em valores superiores aos observados no final do ano anterior (ou seja, em valores menos negativos). No primeiro trimestre de 2011, verificou-se uma deterioração dos gaps de liquidez, em linha com a diminuição observada nos ativos líquidos. Esta evolução refletiu, no contexto da deterioração da avaliação do risco soberano português nos mercados de dívida internacionais, a diminuição do valor dos ativos Gráfico GAP DE LIQUIDEZ DAS INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS PARA HORIZONTES TEMPORAIS DE ATÉ 12 MESES PRINCIPAIS CONTRIBUTOS Em percentagem do ativo total deduzido dos ativos líquidos Ativos elegíveis como garantia em operações de crédito de bancos centrais (disponíveis) Instrumentos fi nanceiros derivados Compromissos assumidos perante terceiros Outros ativos/passivos Recursos (liq.) de bancos centrais Recursos (liq.) de outras instituições de crédito Responsabilidades representadas por títulos Gap de liquidez - Até 1 mês Gap de liquidez - Até 3 meses Gap de liquidez - Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano Dez-08 Mar-09 Jun-09 Set-09 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Fonte: Banco de Portugal. Nota: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal.

81 elegíveis como colateral para as operações de política monetária junto do Eurosistema bem como, no caso das instituições domésticas, a evolução dos recursos líquidos obtidos junto de outras instituições de crédito que não bancos centrais. Os gaps de liquidez evoluíram de forma próxima para a generalidade das instituições em 2010 e no primeiro trimestre de Contudo, em linha com a intensificação das perturbações nos mercados de financiamento, observou-se na primeira metade de 2010 um aumento da dispersão dos valores observados para este indicador, em particular para os pr azos mais cu rtos (Gráfico e Gráfico ). O processo de desalavancagem do sistema bancário português nos próximos anos, acordado no âmbito do programa de ajustamento económico e financeiro, deverá traduzir-se numa melhoria dos gaps de liquidez à medida que os bancos convirjam para uma estrutura de financiamento mais estável, traduzindo- -se em rácios entre o crédito e os recursos de clientes mais baixos. Este facto deverá contribuir para que, a prazo, os bancos recuperem o acesso aos mercados de dívida por grosso Sistema Bancário A evolução dos elementos extrapatrimoniais, e nomeadamente a sua probabilidade de execução, como risco adicional para a posição de liquidez dos bancos e para o processo de desalavancagem No atual contexto de crise económica, e em particular de significativas dificuldades de financiamento das empresas, uma possível fonte de pressão adicional sobre a liquidez dos bancos prende-se com os compromissos assumidos perante terceiros, que incluem linhas de crédito, descobertos bancários e garantias concedidas. De facto, existe a possibilidade de se verificar uma utilização dos compromissos assumidos mais intensa do que o esperado por parte das instituições, traduzindo-se na transferência destes elementos extrapatrimoniais para o balanço dos bancos e, consequentemente, num risco adicional para o processo de desalavancagem que os bancos deverão desenvolver nos próximos anos. Gráfico Gráfico GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 1 MÊS - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 12 MESES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA Dez-09 Jun-10 Dez-10 Mar-11 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Mar Fonte: Banco de Portugal. Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo. Fonte: Banco de Portugal. Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, considerando dados em base consolidada. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo.

82 I 80 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 De acordo com a instrução do Banco de Portugal No. 12/2009 os bancos reportam, por maturidades residuais, o valor dos compromissos assumidos perante terceiros em relação aos quais haja certeza ou elevada probabilidade de execução, incluindo na classe de maturidade superior a 12 meses os compromissos que considerem como sendo de execução improvável. Embora o valor dos compromissos assumidos perante terceiros tenha registado uma diminuição no primeiro trimestre de 2011, estes constituíram ainda assim um valor muito significativo. A fração dominante deste valor é representada pelos compromissos com reduzida probabilidade de execução ou com maturidade residual superior a 12 meses. Por seu turno, os compromissos incluídos nas classes de maturidade até 1 ano representaram cerca de 1.5 por cento do ativo total, merecendo entre estes particular destaque os compromissos com prazo de execução esperado inf erior a uma semana (Gráfico ). Importa ainda referir que estes valores incluem compromissos revogáveis e irrevogáveis, representando estes últimos cerca de um terço do total em março de Gráfico COMPROMISSOS ASSUMIDOS PERANTE TERCEIROS PELO SISTEMA BANCÁRIO Em milhares de milhões de euros À vista e até 1 semana Superior a 1 semana e até 1 mês Superior a 1 mês e até 3 meses Superior a 3 meses e até 6 meses Superior a 6 meses e até 12 meses 0 Dez-08 Mar-09 Jun-09 Set-09 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: Dados recolhidos ao abrigo da instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.

83 4.4. Risco de crédito A taxa de variação anual dos empréstimos bancários ao setor privado não financeiro permaneceu estável em torno de 2 por cento ao longo de 2010, embora com uma clara desaceleração para valores próximos de 1 por cento a partir de dezembro 1. A contribuir para o crescimento do crédito em 2010 estiveram sobretudo os empréstimos a particulares para aquisição de habitação e os empréstimos a sociedades não financeiras de grande dimensão. Este crescimento foi sustentado de forma significativa por instituições financeiras residentes não domésticas (ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório). Ao nível do incumprimento, seguindo a tendência registada em 2010, o primeiro trimestre de 2011 caracterizou-se por uma forte materialização do risco de crédito (Gráfico 4.4.1). No entanto, registam- -se situações diferenciadas consoante o segmento. Assim, enquanto o rácio de incumprimento nos 4 81 Sistema Bancário Gráfico INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS AO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO RESIDENTE Em percentagem Em percentagem Jan-99 Jul-00 Jan-02 Jul-03 Jan-05 Jul-06 Jan-08 Jul-09 Jan-11 Rácio de incumprimento (a) Rácio incumprimento corrigido (a),(c) Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc. dir.) (b) Fluxo corrigido (esc. dir.) (b),(c) Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Definido como crédito em incumprimento (empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do saldo dos empréstimos ajustados de titularização. (b) A estimativa do fluxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassificações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução nº 2/2007 do Banco de Portugal. (c) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas. 1 O mês de dezembro de 2010 ficou marcado por duas operações com um forte impacto nas estatísticas monetárias e financeiras. De forma a facilitar a análise, os dados apresentados neste relatório foram corrigidos destas operações. Assim, em primeiro lugar, as empresas Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto passaram do setor das sociedades não financeiras para o setor das administrações públicas. Esta passagem foi tratada nas estatísticas monetárias e financeiras, para fins de cálculo das taxas de variação anual, por via de uma reclassificação. No entanto, note-se que todas as variáveis stock permanecem afetadas por esta alteração. Paralelamente, o BPN procedeu à venda de uma carteira de crédito com um valor próximo de 1.7 mil milhões (dos quais 1.6 mil milhões ao setor privado não financeiro) à Parvalorem, empresa que, também no mês de dezembro, transitou para o setor das administrações públicas. Esta operação teve impacto tanto ao nível das taxas de variação dos empréstimos como nos rácios de incumprimento. Relativamente às taxas de variação anuais, as estatísticas monetárias e financeiras publicadas corrigem cerca de 55 por cento do impacto gerado por esta operação (correspondentes às imparidades). Os gráficos apresentados corrigem esta operação na totalidade. Ao nível do rácio de incumprimento, tratando-se de um rácio de duas varáveis stock, este não se encontra corrigido nas estatísticas monetárias e financeiras. De forma a melhor compreender a evolução deste indicador corrigiram-se os valores na totalidade, sendo que os gráficos publicados apresentam as duas séries.

84 I 82 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 empréstimos a particulares para aquisição de habitação permaneceu estável a níveis historicamente elevados mas relativamente contidos, o incumprimento nos empréstimos a particulares para consumo e outros fins e nos empréstimos a sociedades não financeiras continuou a aumentar. Ao nível do fluxo anual de novos empréstimos em incumprimento, após cerca de um ano de clara redução, assistiu-se no primeiro trimestre de 2011 a um novo aumento para níveis que, à exceção dos empréstimos às famílias para aquisição de habitação, se podem considerar como elevados. Dado o atual contexto económico, caracterizado por uma necessidade de desalavancagem do setor público e privado, as perspetivas de aumento de incumprimento sugerem a necessidade de um reforço da dotação de imparidade para perdas na carteira de crédito, em especial nos empréstimos a particulares para consumo e outros fins e nos empréstimos às sociedades não financeiras (Quadro 4.4.1). Quadro INDICADORES PROVISÕES E IMPARIDADES DE CRÉDITO EM PERCENTAGEM Dez Dez Jun Dez Jun Último mês: Dez Rácio de incumprimento na carteira de crédito/empréstimos ao setor privado não financeiro Crédito, reporte em base consolidada (a)(b) Crédito, reporte em base individual (conceito prudencial de incumprimento) (c)(d) Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa (Estatísticas Monetárias e Financeiras) (e) Provisões para crédito vencido e outro de cobrança duvidosa (base individual) (d) Em percentagem do crédito Em percentagem do crédito com incumprimento (conceito prudencial de incumprimento) (c) Dotação de imparidade (base consolidada) (b) Em percentagem do crédito Em percentagem do crédito vencido Fonte: Banco de Portugal. Notas: Os valores apresentados não são comparáveis com anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira, na medida em que, de forma a facilitar a análise, decidiu-se excluir o BPN a partir de (a) O crédito em incumprimento compreende o crédito e juros vencidos há mais de 30 dias. (b) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português, incluindo o crédito concedido a residentes e a não residentes, bem como os créditos concedidos pelas filiais estrangeiras dos bancos portugueses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. Para informação adicional consultar o Relatório de Estabilidade Financeira de (c) Crédito com incumprimento definido com base no conceito prudencial que compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas relativamente à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso do Banco de Portugal nº 3/95, (d) Valores de crédito a residentes reportados em base individual pelas outras instituições financeiras monetárias (bancos, caixas económicas e caixas de crédito agrícola mútuo) e outros intermediários financeiros. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. (e) A estimativa do fluxo anual dos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassificações e das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme Instrução do Banco de Portugal nº 2/2007. Ao contrário das restantes estatísticas deste quadro, que foram corrigidas do efeito da venda da carteira do BPN por exclusão da instituição, o fluxo anual de novos créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa foi corrigido acrescentando no mês de dezembro de 2010 o valor da carteira e o respetivo crédito em incumprimento. Desaceleração dos empréstimos concedidos a particulares assente tanto em fatores do lado da procura como do lado da oferta Após um ano de gradual aceleração, assistiu-se a partir do segundo semestre de 2010 a uma forte diminuição da taxa de variação anual dos empréstimos a particulares, em especial no segmento de empréstimos para consumo e outros fins. No caso dos empréstimos para aquisição de habitação (Gráfico 4.4.2), a taxa de variação anual passou de 3.3 por cento em junho de 2010 para 1.6 por cento em março de O facto de a taxa de variação trimestral anualizada se encontrar abaixo da sua equivalente

85 anual desde o segundo trimestre de 2010 indicia que esta tendência de redução da taxa anual deverá manter-se no futuro próximo. A contribuir para a maior sustentação do crescimento dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação terão estado sobretudo instituições financeiras residentes não domésticas, as quais estarão a aproveitar o atual quadro de maiores dificuldades de financiamento das instituições domésticas nos mercados internacionais de dívida por grosso para ganhar quota de mercado (ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório). No caso dos empréstimos para consumo e outros fins, apesar do contributo positivo das instituições não domésticas, verificaram-se taxas de crescimento negativas (Gráfico 4.4.3). Dadas as previsões de forte contração do consumo privado para o resto do ano, é de esperar que estas taxas permaneçam negativas ao longo de Tal parece estar já a ser indicado pelo facto de a taxa de variação trimestral anualizada se encontrar próxima de -3 por cento. Por fim, refira-se que, tal como no primeiro semestre de 2010, o crescimento dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação continua acima do que seria expectável, dados os seus determinantes de longo prazo (taxas de juro e investimento em habitação) Sistema Bancário Gráfico Gráfico EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS Taxa de variação anual Taxa de variação trimestral anualizada 20 Taxa de variação anual Taxa de variação trimestral anualizada Taxa de variação anual corrigida(a) Em percentagem Em percentagem Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11-5 Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: A taxa de variação anual e trimestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. Os valores apresentados estão corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem. Fonte: Banco de Portugal. Notas: A taxa de variação anual e trimestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. (a) Valores corrigidos da venda de uma carteira de créditos do BPN à Parvalorem em dezembro de De acordo com o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, na base desta desaceleração terão estado fatores tanto do lado da procura como da oferta. Do lado da procura, os bancos apontam a menor confiança dos consumidores, as perspetivas negativas relativamente ao mercado da habitação e a menor despesa em bens de consumo duradouro. Do lado da oferta, o atual quadro de dificuldades de financiamento dos bancos domésticos nos mercados internacionais, acompanhado de perspetivas negativas relativamente à evolução da atividade económica, terá conduzido a uma maior restrição dos critérios de concessão de empréstimos, o que se terá traduzido num aumento dos spreads nos empréstimos para aquisição de habitação. Este aumento terá sido mais acentuado a partir de julho de Castro, G. e C. Santos, (2010), Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário, Banco de Portugal, Boletim Económico Primavera.

86 Gráfico I 84 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 TAXAS DE JURO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO E PARA CONSUMO Em percentagem 14 Spread - habitação (esc.dir.)(a) 14 Spread - consumo (esc.dir.)(b) Taxa de juro de novas operações - habitação Taxa de juro de novas operações - consumo(c) Taxa de juro de saldos - habitação Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Spread de taxa de juro de novos empréstimos a particulares para aquisição de habitação utilizando Euribor a 6 meses. (b) Spread de taxa de juro de novas empréstimos a particulares para consumo estimado utilizando, respetivamente, a Euribor a 6 meses, a Euribor a 1 ano e a taxa de rendibilidade das obrigações de Tesouro portuguesas com prazo residual de 5 anos, nos casos em que o prazo de fixação inicial da taxa é 1 ano, entre 1 e 5 anos e mais de 5 anos). (c) Taxa de juro média calculada com base nas taxas de novos empréstimos por prazo de fixação inicial da taxa, ponderados pelos montantes de novas operações em cada prazo. (Gráfico 4.4.4) levando a taxa de juro das novas operações de crédito à habitação a situar-se, em março de 2011, aproximadamente 100 p.b. acima da taxa de juro média de saldos. Note-se, no entanto, que estes valores estão afetados negativamente por um efeito composição sem o qual o aumento do spread teria sido ainda maior. Assim, o facto de os bancos estarem a limitar a concessão de empréstimos de maior risco deverá estar a mitigar parcialmente o efeito do aumento do spread. No mesmo sentido, o crescente peso dos bancos não domésticos, que atualmente praticam um spread mais baixo (ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório), no fluxo de empréstimos concedidos estará a contribuir para o não aumento do spread das novas operações. No caso dos empréstimos a particulares para consumo, apesar do forte crescimento da taxa de juro das novas operações e das indicações dos bancos, não se verificou um aumento do spread. Este facto deverá estar relacionado não só com um efeito composição semelhante ao que se verifica nos empréstimos para aquisição de habitação, mas também à utilização da taxa de rendibilidade das obrigações do Tesouro portuguesas como referência em relação à taxa de juro praticada nos empréstimos para consumo com maturidade superior a 5 anos. Assim, a não repercussão sobre as taxas de crédito ao consumo dos fortes aumentos da taxa de rendibilidade das obrigações de dívida pública explicam em parte a obtenção de valores mais baixos para o spread bancário neste segmento. O aumento das taxas de juro das novas operações de empréstimos a particulares refletiu, para além da evolução dos spreads, a subida das taxas Euribor em resultado das expectativas em torno de uma possível sequência de aumentos da taxa de juro por parte do BCE. Em pontos percentuais Ao nível da distribuição da taxa de crescimento dos empréstimos a particulares, a elevada incerteza do atual quadro económico conduziu a uma maior convergência das estratégias implementadas pelas diferentes instituições financeiras (Gráfico 4.4.5). No caso dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação, onde essa convergência já era patente em dezembro de 2009, assistiu-se a uma ainda maior concentração da distribuição em torno da sua moda, a qual teve uma ligeira diminuição. Não obstante esse movimento de convergência, observou-se um forte crescimento por parte de algumas instituições residentes não domésticas. Relativamente aos empréstimos a particulares para consumo e outros fins, e apesar da elevada dispersão de quotas de mercado neste segmento, verificou-se também alguma

87 Gráfico DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES Para aquisição de habitação Para consumo e outros fins Dez 09 Dez 10 Dez 09 Dez Sistema Bancário Taxa de variação anual dos empréstimos Taxa de variação anual dos empréstimos Fonte: Banco de Portugal. Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições financeiras pelo crédito concedido. convergência, ainda que num intervalo relativamente amplo. Esta concentração deu-se sobretudo em torno de taxas de variação ligeiramente negativas. Ainda assim, um número bastante significativo de instituições apresentou taxas de crescimento fortemente positivas. Forte materialização do risco de crédito sustentada pelos empréstimos a particulares para consumo e outros fins Dando seguimento à tendência de aumento iniciada no primeiro trimestre de 2008, observou-se, ao longo de 2010 e no primeiro trimestre de 2011, uma subida do rácio de incumprimento dos empréstimos bancários a particulares (Gráfico 4.4.6) 3. O referido acréscimo do incumprimento reflete no entanto duas situações distintas. Assim, no que concerne aos empréstimos a particulares para aquisição de habitação, o rácio de incumprimento permanece estável em níveis mais elevados do que os observados antes do início da crise financeira internacional, mas que podem ser considerados relativamente contidos. Esta estabilização esteve associada a uma gradual diminuição nos fluxos de novos empréstimos em incumprimento a partir do primeiro semestre de 2009 (Gráfico 4.4.7). Apesar de esta tendência ter sido revertida no primeiro trimestre de 2011, o fluxo de novos empréstimos para aquisição de habitação em incumprimento permanece em linha com a média registada desde o início da área do euro. Adicionalmente, refira-se que embora o rácio de incumprimento permaneça estável, existe evidência que o número de devedores em incumprimento no crédito à habitação está a reduzir-se, o que poderá estar a refletir, em parte, um aumento da execução de hipotecas e/ou das dações em pagamento (Quadro 4.4.2). A situação atual poderá registar alterações com a evolução de vários indicadores. Por um lado, o atual quadro de aumento da taxa de desemprego e de queda da atividade económica, acompanhado por um aumento das taxas de juro do mercado interbancário poderá contribuir para um aumento do incum- 3 A carteira de créditos vendida pelo BPN à Parvalorem (já referida na nota 1) era constituída maioritariamente por empréstimos a sociedades não financeiras (86 por cento), sendo que dos restantes 14 por cento, apenas 1.5 por cento correspondia a empréstimos a particulares para aquisição de habitação. Aproximadamente 68% da carteira correspondia a créditos de cobrança duvidosa. Dado este perfil, o impacto desta venda nos rácios de incumprimento tendeu a concentrar-se nos empréstimos a sociedades não financeiras e nos empréstimos a particulares para consumo e outros fins.

88 Gráfico Gráfico I RÁCIOS DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS Particulares FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA Particulares 86 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem Total Habitação Consumo e outros fins Total corrigido(a) Habitação corrigido(a) Consumo corrigido(a) 0 Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: Definido como crédito com incumprimento (empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do saldo dos empréstimos ajustados de titularização. (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem. Em percentagem Total Habitação Consumo e outros fins Total corrigido(a) Habitação corrigido(a) Consumo e outros fins corrigido(a) -0.5 Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-1 Fonte: Banco de Portugal. Notas: A estimativa do fluxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassificações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução nº 2/2007 do Banco de Portugal. (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem. primento. Por outro lado, a existência de vários mitigantes, de onde se destaca o facto das famílias de menor rendimento terem uma participação muito baixa neste segmento de mercado, os relativamente contidos rácios de serviço da dívida das famílias portuguesas em comparação com as famílias de outros países da área do euro e o facto de um grande número de empréstimos terem associadas garantias pessoais que acrescem à hipoteca do imóvel, deverá contribuir para diminuir a vulnerabilidade dos rácios de incumprimento a uma conjuntura macroeconómica desfavorável 4. No que se refere aos empréstimos a particulares para consumo e outros fins, e em contraste com o observado nos empréstimos para aquisição de habitação, registou-se uma forte subida do rácio de incumprimento ao longo de 2010 e no primeiro trimestre de 2011 (Gráfico 4.4.6). Este aumento reflete sobretudo o facto dos fluxos de novos empréstimos em incumprimento permanecerem em valores historicamente elevados (Gráfico 4.4.7). Acresce que, eliminando o efeito causado pela venda da carteira de crédito do BPN, o fluxo de novos empréstimos em incumprimento apresenta desde setembro de 2010 uma tendência ascendente. A contribuir para o elevado nível dos fluxos de novos empréstimos em incumprimento no caso do crédito ao consumo deverão ter estado duas ordens de fatores. Por um lado, o maior acesso a este mercado por parte de famílias de rendimento mais reduzido durante os anos que antecederam a atual crise financeira 5 poderá ter tornado este segmento mais sensível ao forte aumento do desemprego no contexto da atual crise. Em segundo lugar, o facto do crédito para consumo e outros fins ser em larga maioria concedido a taxa fixa faz com que este tenha beneficiado em menor grau do facto das taxas de juro do mercado monetário se encontrarem em valores historicamente baixos. 4 Ver Housing Finance in the Euro Area, Occasional Paper Series No 101, European Central Bank, 2009 e Caixa 4.3 Crédito concedido às famílias e incumprimento: uma caracterização com base na Central de Responsabilidades de Crédito, Relatório de Estabilidade Financeira Maio Resultados apresentados nos inquéritos ao Património e Endividamento das Famílias, realizados em 2000 e em 2006/2007.

89 Quadro INDICADORES DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES, POR DIMENSÃO DA EXPOSIÇÃO (a) Jun Dez Jun Dez Habitação Exposição total Número de devedores com incumprimento (%) Crédito e juros vencidos (%) Exposições de montante superior ao P90 Percentagem do crédito Número de devedores com incumprimento (%) Crédito e juros vencidos (%) Sistema Bancário Consumo Exposição total Número de devedores com incumprimento (%) Crédito e juros vencidos (%) Exposições de montante superior ao P90 Percentagem do crédito Número de devedores com incumprimento (%) Crédito e juros vencidos (%) Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Correspondem a crédito concedido por bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições financeiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação financeira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários financeiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição financeira superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de crédito não utilizadas. Considerou-se que uma determinada sociedade não financeira se encontra em situação de incumprimento se o montante de crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema financeiro. Os valores obtidos através da CRC não têm necessariamente que coincidir com os apurados no âmbito das Estatísticas Monetárias e Financeiras (EMF) visto que as instituições com obrigações de reporte direto para efeito das EMF (Bancos, Caixas Económicas e Caixas de Crédito Agrícola Mútuo) são um subconjunto das entidades participantes na CRC. Crescimento ligeiramente positivo dos empréstimos concedidos a sociedades não financeiras, apesar de uma diminuição significativa dos empréstimos de pequena dimensão Após um longo período de desaceleração entre 2008 e o primeiro semestre de 2010, as taxas de variação anual dos empréstimos às sociedades não financeiras mantiveram-se estáveis em torno de 1 por cento desde o segundo semestre de Não obstante o reduzido crescimento, este é ainda assim superior ao que se encontra subjacente aos seus determinantes de longo prazo (investimento empresarial e taxas de juro bancárias) 6. Para este crescimento estarão a contribuir sobretudo as instituições não domésticas a operar em Portugal, visto que a taxa de crescimento dos empréstimos às sociedades não financeiras por parte dos bancos domésticos, mesmo corrigindo da venda da carteira do BPN, apresenta valores negativos desde dezembro de 2010 (ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório). Adicionalmente, analisando um agregado mais lato, nomeadamente o total de empréstimos às sociedades não financeiras, que inclui para além dos empréstimos concedidos por bancos residentes, os concedidos por não residentes, por outros intermediários financeiros e auxiliares financeiros e por particulares, observa-se que em dezembro de 2010 o crescimento anual do total de empréstimos às sociedades não financeiras se situou em 1.6 por cento (ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório). Este crescimento estará em larga medida associado a uma entrada de fundos do exterior, nomeadamente de instituições financeiras não residentes, o que, a par da atuação dos bancos residentes não domésticos, permitiu atenuar ligeiramente os efeitos sobre o financiamento das sociedades não financeiras das perturbações existentes nos mercados de dívida soberana. 6 Castro, G. e C. Santos, (2010), Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário, Banco de Portugal, Boletim Económico Primavera.

90 I 88 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 De acordo com o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, o reduzido crescimento dos empréstimos a sociedades não financeiras estará associado à adoção de critérios substancialmente mais exigentes por parte dos bancos. Com efeito, no último trimestre de 2010 e no primeiro trimestre de 2011, registou- -se um forte aumento do grau de restritividade aplicado pelos bancos na concessão de empréstimos, em especial, a grandes empresas. A maior exigência dos critérios de concessão de empréstimos ter-se-á refletido num aumento dos spreads (Gráfico 4.4.9), o que ocorreu de forma bastante acentuada nos bancos domésticos a partir do quarto trimestre de 2010 (ver Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições financeiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa, deste Relatório). No que refere ao prazo contratual dos empréstimos a sociedades não financeiras, e apesar da desaceleração registada no início de 2011, os empréstimos com maturidade superior a 5 anos continuam a ser os únicos a contribuir positivamente para o crescimento dos empréstimos (Gráfico ). A contribuir negativamente estiveram todas as restantes maturidades. No entanto, enquanto nos descobertos bancários e nos empréstimos até 1 ano se regista um contributo progressivamente menos negativo, nos empréstimos de 1 a 5 anos regista-se um contributo progressivamente mais negativo. Relativamente à distribuição das taxas de crescimento dos empréstimos a sociedades não financeiras (Gráfico ) verificou-se uma forte bipolarização nas políticas de concessão de crédito. Assim, se por um lado existe uma proporção significativa de instituições a executar estratégias de redução da sua carteira de empréstimos a sociedades não financeiras, por outro, observa-se uma fração ainda mais Gráfico Gráfico CRÉDITO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS TAXAS DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA 20 TAXAS DE JURO DO MERCADO MONETÁRIO, DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS E RESPETIVO SPREAD Em percentagem Em percentagem Em pontos percentuais Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11 Jan-99 Jan-00 Jan-01 Jan-02 Jan-03 Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11 Taxa de variação anual dos empréstimos e dos títulos emitidos pelas sociedades não fi nanceiras e detidos pelo sistema fi nanceiro Taxa de variação anual dos empréstimos Taxa de variação anual dos empréstimos (a) Taxa de variação trimestral anualizada dos empréstimos Taxa de juro de saldos de empréstimos bancários Euribor a 6 meses Diferencial (esc. dir.) Fonte: Banco de Portugal. Notas: A taxa de variação homóloga e trimestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários (ou saldos de empréstimos bancários e títulos de curto prazo detidos pelo sistema bancário) em fim de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. Os valores apresentados encontram-se corrigidos da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas e parcialmente corrigidos da venda da carteira de créditos do BPN. (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem. Fonte: Banco de Portugal. Notas: Taxas e diferencial referentes a saldos em fim de período. Os finais de ano encontram-se sublinhados. Até dezembro de 2002, as taxas de saldos são estimativas. O diferencial é calculado como a diferença entre a taxa sobre saldos e a média móvel de 6 meses da Euribor a 6 meses.

91 Gráfico Gráfico CONTRIBUTOS DOS SEGMENTOS DE PRAZO CONTRATUAL PARA A TAXA DE VARIAÇÃO DO SALDO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS 4 Em pontos percentuais Em percentagem Dez 09 Dez Sistema Bancário Jan-03 Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan Taxa de variação anual dos empréstimos Empréstimos a mais de 5 anos Empréstimos de 1 a 5 anos Empréstimos até 1 ano, excluindo descobertos Descobertos bancários Taxa de variação homóloga do saldo de empréstimos bancários Taxa de variação anual dos empréstimos bancários Fonte: Banco de Portugal. Notas: Os contributos referem-se ao saldo de empréstimos bancários contabilizados no ativo dos bancos, sem qualquer ajustamento, para o qual a taxa de variação homóloga é apresentada. A taxa de variação homóloga dos empréstimos ajustados é calculada com base na relação entre os saldos ajusta dos de operações de titularização e transações mensais calculadas a partir dos saldos corrigidos de reclassificações, abatimentos ao ativo e reavaliações cambiais e de preço. Os descobertos bancários foram classificados como tendo prazo inferior a um ano. Os valores apresentados encontram-se corrigidos tanto da venda da carteira de créditos do BPN à Parvalorem como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas através de uma estimativa baseada em dados da CRC. Fonte: Banco de Portugal. Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições financeiras pelo crédito concedido. notória a apresentar taxas de crescimento moderadamente positivas, bem como um número relevante com taxas de variação muito elevadas. No entanto, ao contrário do que acontece nos empréstimos a particulares para aquisição de habitação, neste caso as instituições não domésticas não são dominantes. No que respeita à dimensão das exposições, a carteira de empréstimos às sociedades não financeiras permanece concentrada nas exposições de montante mais elevado, sendo que são estas que continuam a apresentar a maior taxa de crescimento (Quadro 4.4.3) 7. Com efeito, enquanto as exposições de maior dimensão registaram uma aceleração no segundo semestre de 2010, as exposições de pequena dimensão apresentaram uma ligeira redução. Na medida em que empresas de menor dimensão tendem a apresentar taxas de incumprimento maiores, esta diferenciação nas taxas de crescimento deverá estar a traduzir critérios mais restritivos de concessão de crédito a estas empresas por parte das instituições financeiras. Esta diminuição ganha maior relevância dado que as pequenas empresas, ao contrário das grandes, não estão a conseguir aumentar o seu financiamento quer junto dos bancos não domésticos a operar em Portugal quer de bancos não residentes. Adicionalmente, verifica-se que os empréstimos 7 Note-se que os valores apresentados não são comparáveis com anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira na medida em que, de forma a facilitar a análise da evolução dos agregados de crédito, excluíram-se da base de dados todos os empréstimos relativos à Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto, bem como todos os empréstimos concedidos pelo BPN (nota 1).

92 Quadro I CRÉDITO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS, POR DIMENSÃO DAS EXPOSIÇÕES (a) TAXAS DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA, EM PERCENTAGEM (b) Por memória (em Dezembro 2010): 90 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Limite inferior (d) (10 3 ) Saldo médio (10 3 ) Peso do saldo no total (%) BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Total Exposições de montante superior ao percentil 90 (b) das quais: exposições de montante superior ao percentil 99 (b) das quais: exposições de montante superior ao quantil 99.5 (b) das quais: exposições de montante superior ao quantil 99.9 (b) Pequenas exposições (c) Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), sendo cada exposição caracterizada pelo valor total dos empréstimos do sistema financeiro a uma determinada sociedade não financeira. Foram considerados como elementos do sistema financeiro todos os bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições financeiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação financeira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários financeiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição financeira superiores a 50 euros foram consideradas. (b) Para o cálculo das taxas de variação homóloga, os limites inferiores de cada grupo de exposições coincidem com os quantis, que em cada momento do tempo são definidos com base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. (c) Exposições cujos montantes são menores do que o limite inferior das grandes exposições. Correspondem a 90 por cento das empresas com dívida junto das instituições participantes na CRC. (d) Montante da exposição de menor valor do conjunto das exposições consideradas no quantil. de maior dimensão têm maturidades residuais mais elevadas (Quadro 4.4.4). Dado que a maioria da carteira de empréstimos às sociedades não financeiras se encontra concentrada nos empréstimos de maior dimensão, este é um fator mitigante do risco de refinanciamento das empresas. Por fim, e dado que o setor bancário também se encontra exposto ao risco de crédito das sociedades não financeiras através de posições em dívida titulada, é relevante analisar o comportamento de um agregado de crédito mais amplo que contemple não só os empréstimos concedidos mas também este tipo de dívida na posse dos bancos. Assim, em março de 2011 a dívida titulada emitida por sociedades não financeiras na posse dos bancos ascendia a cerca de 17.8 mil milhões de euros, correspondentes a cerca de 13.4 por cento do total de crédito disponibilizado pelas instituições financeiras a este segmento. Conforme é apresentado no gráfico e após um crescimento mais forte no período que antecedeu a atual crise financeira, a taxa de variação anual deste tipo de crédito encontra-se em linha com a dos empréstimos bancários às sociedades não financeiras. Quadro NÚMERO DE EMPRÉSTIMOS POR DIMENSÃO E POR MATURIDADE RESIDUAL (a) Dimensão das exposições Prazo residual Até 90 dias 90 dias a 180 dias 180 dias a 1 a 5 anos 5 a 10 1 ano anos 10 a 20 anos Mais de 20 anos Maturidade média (anos) Pequenas exposições Superior ao percentil Superior ao percentil Superior ao percentil Superior ao percentil Fonte: Banco de Portugal. Notas: A variável dimensão encontra-se definida de forma semelhante ao quadro (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), sendo cada exposição caracterizada pelo valor total dos empréstimos do sistema financeiro a uma determinada sociedade não financeira. Foram considerados como elementos do sistema financeiro todos os bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições financeiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação financeira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários financeiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição financeira superiores a 50 euros foram consideradas.

93 Diferenciação na evolução dos empréstimos às sociedades não financeiras nos vários setores de atividade dá lugar a homogeneização das taxas de crescimento O ano de 2010 ficou marcado por uma forte desaceleração dos empréstimos às sociedades não financeiras, com os setores mais atingidos pela crise, nomeadamente Construção e Atividades imobiliárias, a registarem taxas de variação fortemente negativas (Quadro 4.4.5). Ainda assim, houve setores que apresentaram uma tendência de crescimento, tais como Transportes e armazenagem, Alojamento, restauração e similares, Atividades das SGPS não financeiras e Atividades de comunicação e informação. Este padrão bipolar de crescimento foi atenuado no primeiro trimestre de 2011 com os setores que registavam taxas de crescimento mais baixas no final de 2010, nomeadamente, Indústrias extrativas, Construção e Atividades imobiliárias a serem aqueles que mais aceleraram apesar de nos últimos dois casos estas permanecerem em valores negativos. Assim, a evolução dos empréstimos a estes setores compensou de alguma forma um maior abrandamento por parte dos setores que registavam taxas de crescimento mais elevadas no final de 2010, nomeadamente Atividades de informação e de comunicação, Alojamento, restauração e similares e Transportes e armazenagem Sistema Bancário Quadro EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS POR OUTRAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS (a) DESAGREGAÇÃO SETORIAL, TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL EM FIM DE PERÍODO (b) (c) 2011 Peso no total Mar. (c) Dez Total Por setor de atividade: Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca Indústrias extrativas Indústrias transformadoras Eletricidade, gás, vapor, água, gestão de resíduos e despoluição Construção Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos Transportes e armazenagem Alojamento, restauração e similares Atividades de informação e de comunicação Atividades das SGPS não financeiras Atividades imobiliárias Atividades de consultoria técnicas e administrativas Educação, saúde e outras atividades de serviços sociais e pessoais Outras atividades de serviços Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) São considerados os empréstimos concedidos por outras instituições financeiras monetárias, sendo a afetação dos empréstimos por setor de atividade estimada com base na estrutura da Central de Responsabilidades de Crédito. (b) As taxas de variação são calculadas com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de período e transações calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações. São igualmente ajustados de operações de titularização e corrigidos de abatimentos ao ativo e reavaliações cambiais e de preço. (c) As taxas de variação anual de dezembro de 2010 e de março de 2011 foram corrigidas do efeito causado pela venda da carteira de créditos do BPN através de uma estimativa baseada na variação da composição da carteira de empréstimos do banco e das reclassificações efetuadas em cada setor. Forte materialização do risco de crédito nas sociedades financeiras traduzida num elevado e crescente fluxo de novos empréstimos em incumprimento Dando seguimento à tendência iniciada em 2008, o rácio de incumprimento dos empréstimos às sociedades não financeiras continuou a subir ao longo de 2010 e no primeiro trimestre de 2011 (Gráfico ). Assim, os créditos de cobrança duvidosa totalizavam em março de 2011 cerca de 4.7 por cento do total de empréstimos concedidos às sociedades não financeiras face a 4.1 por cento em janeiro de Acresce que este crescimento encontra-se afetado pela venda da carteira de crédito do BPN referenciada na nota 1 deste capítulo. Corrigindo o efeito desta operação, o rácio de incumprimento ascenderia a 5.3

94 I Gráfico INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS 8 Rácio de incumprimento(a) BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem Rácio de incumprimento corrigido(a),(c) Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc.dir.)(b) Fluxo corrigido (esc. dir,)(b),(c) Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Definido como crédito em incumprimento (empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do saldo dos empréstimos ajustados de titularização. (b) A estimativa do fluxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassificações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução nº 2/2007 do Banco de Portugal. (c) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas. por cento. De realçar que a materialização do risco de crédito traduziu-se num elevado fluxo de novos créditos em incumprimento. Assim, corrigindo o efeito da venda de créditos do BPN, verifica-se que a partir de novembro de 2010, e após um ano de fluxos de incumprimento gradualmente menores, o fluxo de novos empréstimos em incumprimento voltou a aumentar. Tendo em conta a evolução esperada dos seus determinantes, designadamente o hiato do produto e a taxa de juro dos empréstimos às empresas, e dado que o fluxo de novos empréstimos em incumprimento se encontra em valores historicamente muito elevados, é de esperar que o rácio de incumprimento continue a aumentar ao longo de Em percentagem De acordo com o quadro , o risco de crédito das empresas não financeiras continua a exibir um perfil muito diferenciado consoante a dimensão da exposição. Assim, as exposições de retalho (inferiores a 542 mil euros) apresentam um rácio de incumprimento muito superior a todas as outras categorias, sendo que o rácio de incumprimento diminui à medida que se consideram exposições cada vez maiores. Em termos de evolução, relativamente a dezembro de 2009, o rácio de incumprimento registou um aumento em média de cerca de 1 ponto percentual, transversal aos empréstimos de todas as dimensões. Adicionalmente, o gráfico apresenta a evolução do rácio de incumprimento para os principais setores de atividade. O gráfico mostra que, tendo por base os valores corrigidos do efeito da venda da carteira de créditos do BPN, o aumento do incumprimento foi generalizado a todos os setores, mas com especial incidência sobre as Atividades imobiliárias, Construção e Indústrias transformadoras. 8 Note-se que, tal como no quadro 4.4.3, os valores apresentados não são comparáveis com anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira na medida em que, de forma a facilitar a análise da evolução dos agregados de crédito, resolveu-se retirar da base de dados todos os empréstimos relativos à Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto, bem como todos os empréstimos concedidos pela instituição BPN.

95 Quadro INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DO CRÉDITO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS POR DIMENSÃO DAS EXPOSIÇÕES (a), EM PERCENTAGEM Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Exposição total Número de devedores com incumprimento (b) Crédito e juros vencidos (c) Exposições de montante superior ao percentil 90 (d) Número de devedores com incumprimento (e) Crédito e juros vencidos (f) das quais: exposições de montante superior ao percentil 99 (d) Número de devedores com incumprimento (e) Crédito e juros vencidos (f) das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.5 (d) Número de devedores com incumprimento (e) Crédito e juros vencidos (f) das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.9 (d) Número de devedores com incumprimento (e) Crédito e juros vencidos (f) Sistema Bancário Exposições de retalho (g) Número de devedores com incumprimento (e) Crédito e juros vencidos (f) Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Correspondem a crédito concedido por bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições financeiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação financeira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários financeiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição financeira superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de crédito não utilizadas. Considerou-se que uma determinada sociedade não financeira se encontra em situação de incumprimento se o montante de crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema financeiro. (b) Em percentagem do número de sociedades não financeiras com dívidas a instituições financeiras participantes na CRC. (c) Em percentagem do crédito total concedido por instituições financeiras participantes na CRC a sociedades não financeiras residentes. (d) Percentis definidos com base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. (e) Em percentagem do número de devedores desta carteira. (f) Em percentagem do crédito total desta carteira. (g) Exposições cujos montantes são menores do que o limite inferior das grandes exposições. Gráfico RÁCIO DE INCUMPRIMENTO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS 9 8 Correção BPN Rácio de incumprimento tagem Em percent Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Indústrias transformadoras Construção Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos Transportes e armazenagem Alojamento, restauração e similares Atividades das SGPS não financeiras Atividades imobiliárias Atividades de consultoria técnicas e administrativas Fonte: Banco de Portugal. Notas: Os valores relativos à carteira de crédito vendida pelo BPN foram estimados com base na diferença entre a posição do banco no mês de novembro e de dezembro e ajustados pelo montante das reclassificações efetuadas em cada setor. Relativamente ao setor Atividades das SGPS não financeiras, o qual registou uma diminuição no rácio de incumprimento ao longo do último ano, note-se que este corresponde em larga medida a veículos de financiamento de grupos com atividades bastante distintas.

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97 4.5. Adequação de fundos próprios 1 No final de 2010, o rácio de adequação global de fundos próprios do sistema bancário português, em base consolidada, situou-se em 10.3 por cento, enquanto o rácio de adequação de fundos próprios de base, rácio Tier I, se fixou em 8.3 por cento. Note-se, contudo, que os rácios de adequação de fundos próprios do sistema bancário continuaram a ser negativamente afetados pela situação particularmente adversa do BPN (instituição intervencionada pelas autoridades nacionais no final de dezembro 2008). Com efeito, excluindo os valores relativos ao BPN e BPP 2, o rácio de adequação global de fundos e o rácio Tier I situaram-se em 11.1 e 9.1 por cento, respetivamente (Gráfico e Quadro 4.5.1). Finalmente, o rácio Core Tier I situou-se em 7.3 por cento em dezembro de 2010 e em 8.3 por cento excluindo o BPN Sistema Bancário Uma diminuição dos fundos próprios totais, em paralelo com um aumento dos fundos próprios de base, como reflexo de uma significativa redução dos fundos próprios complementares Em dezembro de 2010, os fundos próprios totais registaram uma diminuição de 1.9 por cento face ao final de Esta diminuição refletiu sobretudo a redução dos fundos próprios complementares por parte de três dos principais grupos bancários. Para esta redução contribuiu essencialmente a diminuição dos passivos subordinados elegíveis como capital. Gráfico RÁCIO DE ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS 12 Rácio de adequação global de fundos próprios Rácio de adequação de fundos próprios de base Rácio de adequação global de fundos próprios - excluindo BPN e BPP (a) Rácio de adequação de fundos próprios de base - excluindo BPN e BPP (a) 11 Em percentagem Dez 1999 Dez 2000 Dez 2001 Dez 2002 Dez 2003 Dez 2004 Dez 2005 Dez 2006 Dez 2007 Dez 2008 Dez 2009 Dez 2010 Fonte: Banco de Portugal. Notas: A quebra de série apresentada em 2004 corresponde à introdução das normas interrnacionais de contabilidade, a qual implicou, adicionalmente, uma redefinição do conjunto de instituições bancárias analisado. Por sua vez, a quebra de série representada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto das instituições em análise. A partir de 2008, o rácio de adequação de fundos próprios foi determinado de acordo com os critérios de Basileia II para a totalidade das instituições em análise, que alterou essencialmente a metodologia de cálculo dos requisitos de fundos próprios. (a) Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010, deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias. 1 O conjunto de instituições analisado nesta secção difere do considerado nas secções anteriores, na medida em que foram excluídas as sucursais de grupos financeiros com sede em países membros da União Europeia. 2 Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril 2010, deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias. 3 O Rácio Core Tier I estabelece um nível mínimo de capital que as instituições devem ter em função dos requisitos de fundos próprios decorrentes dos riscos associados à sua atividade. Como tal, este rácio é apurado através do quociente entre o conjunto de fundos próprios designado de core e as posições ponderadas em função do risco. O conjunto de fundos próprios core compreende o capital de melhor qualidade da instituição, em termos de permanência e capacidade de absorção de prejuízos, deduzido de eventuais prejuízos e de certos elementos sem valor de realização autónomo, numa perspetiva de continuidade da atividade de uma instituição. Para mais detalhes relativos ao rácio Core Tier I ver Aviso Nº. 1/2011 do Banco de Portugal.

98 Quadro I 96 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHÕES DE EUROS Jun. Dez. Jun. Dez. 1. Fundos próprios 1.1. Fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade Fundos próprios de base (brutos) Deduções aos fundos próprios de base Fundos próprios complementares totais para efeitos de solvabilidade Fundos próprios complementares (brutos) Deduções aos fundos próprios complementares Deduções aos fundos próprios totais Fundos próprios suplementares totais disponíveis para cobertura de riscos de mercado Total dos fundos próprios Requisitos de fundos próprios 2.1. Requisitos de FP para risco de crédito, risco de crédito de contraparte e transações incompletas Risco de liquidação Requisitos de fundos próprios para riscos de posição, riscos cambiais e riscos de mercadorias Requisitos de fundos próprios para risco operacional Requisitos de fundos próprios - Despesas gerais fixas Grandes riscos - Carteira de negociação Requisitos transitórios de fundos próprios ou outros requisitos de fundos próprios Total dos requisitos de fundos próprios Rácios (em percentagem) 3.1. Fundos próprios/requisitos totais Fundos próprios/(requisitos totais x 12.5) Fundos próprios de base/(requisitos totais x 12.5) Rácio Core Tier I (a) Por memória: Rácios de capital excluindo BPN e BPP (b) Fundos próprios/requisitos totais Fundos próprios/(requisitos totais x 12.5) Fundos próprios de base/(requisitos totais x 12.5) Rácio Core Tier I (a) Fonte: Banco de Portugal. Notas: (a) Calculado como o rácio entre (fundos próprios de base - elementos non-core) e (requisitos totais x 12.5) (b) Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010, deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias. De facto, em 2010, observou-se um aumento dos fundos próprios de base por comparação com o final do ano anterior. Para esta evolução contribuiu, em larga medida, o aumento observado nas reservas associadas a resultados transitados de exercícios anteriores, reservas legais, estatutárias e outras formadas por resultados não distribuídos incluídas nos outros elementos positivos e, também, o aumento dos interesses minoritários (Gráfico 4.5.2). Em sentido contrário, i.e., contribuindo para a diminuição dos fundos próprios de base, destacou-se a evolução dos fundos de pensões. Tal fragilidade advém, por um lado, do facto da carteira de ativos dos fundos de pensões estar bastante exposta a flutuações nos mercados financeiros, em particular nos mercados acionistas, e, por outro, do facto das perdas atuariais acumuladas estarem significativamente acima do corredor para alguns dos principais grupos bancários. Finalmente é de salientar que, uma vez que a maior parte dos títulos de dívida soberana se encontra classificado nas carteiras de ativos disponíveis para venda ou detidos até à maturidade, o impacto da sua desvalorização sobre o capital regulamentar dos bancos é relativamente limitado, restringindo-se à realização de menos valias em caso de venda destes ativos financeiros ou de registo de imparidades, nomeadamente no caso de incumprimento de um estado soberano 4. 4 Para mais detalhes sobre a evolução dos fundos de pensões e dos títulos de dívida soberana ver Secção 4.2 Risco de Mercado, deste Relatório.

99 Gráfico DECOMPOSIÇÃO DOS FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE - TIER I Em milhões de euros Capital elegível Outros elementos positivos Deduções ao FP de Base Interesses minoritários Elementos negativos Fundos Próprios Totais 4 97 Sistema Bancário Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Fonte: Banco de Portugal. As perturbações nos mercados de dívida soberana não terão tido reflexos marcados nos requisitos de capital em 2010, mas a situação deteriorou-se nos primeiros meses de 2011 Em 2010, os requisitos totais de fundos próprios registaram uma ligeira redução face ao observado no final de 2009 (-0.2 por cento). Esta redução refletiu evoluções diferenciadas das suas componentes. Por um lado, observou-se uma diminuição nos requisitos associados a risco de crédito, de contraparte e a transações incompletas que representam cerca de 90 por cento dos requisitos totais bastante concentrada num dos principais grupos bancários 5. Por outro lado, compensando parcialmente esta diminuição, observou-se um aumento dos requisitos associados a riscos de posição, cambiais e de mercadorias, essencialmente associados a títulos de dívida, por parte de outro dos principais grupos bancários. Ligeiro aumento do rácio de adequação de fundos próprios de base Entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, verificou-se um aumento do rácio de adequação de fundos próprios de base, rácio Tier I, de 7.8 para 8.3 por cento. De acordo com a distribuição empírica deste indicador, observou-se uma concentração significativa no intervalo entre 8 e 9 por cento em dezembro de 2010 (Gráfico 4.5.3). Por sua vez, verificou-se uma deterioração do rácio de adequação global de fundos próprios, generalizada entre os grupos financeiros, conforme ilustrado na sua distribuição empírica (Gráfico 4.5.4). O grau de alavancagem do sistema bancário manteve-se estável face ao final do ano anterior Em dezembro de 2010, verificou-se uma virtual estabilização do rácio entre os capitais próprios e o ativo total por comparação com o final do ano anterior, mesmo quando excluídas as componentes intangíveis (designadamente as diferenças de consolidação positivas Goodwill; Gráfico 4.5.5) 5 Os requisitos de fundos próprios deste grupo bancário passaram a ser calculados através do método das Notações Internas (IRB) que assenta na utilização, previamente autorizada pelo Banco de Portugal, de metodologias internas que se baseiam nos parâmetros de risco probabilidade de incumprimento, perda dado o incumprimento e fatores de conversão. Para mais detalhes relativos ao método de Notações Internas ver Aviso Nº. 5/2007 do Banco de Portugal.

100 Gráfico Gráfico I 98 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 RÁCIO DE ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE - TIER I FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE / REQUISITOS TOTAIS * 12.5, DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA Dez-09 Jun-10 Dez Fonte: Banco de Portugal. Nota: Distribuição empírica recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo total do ativo. O rácio foi calculado aplicando os critérios definidos em Basileia II por todas as intituições analisadas. Dada a situação financeira dos bancos BPN e BPP, estas instituições não foram incluidas nas distribuições. RÁCIO DE ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS FUNDOS PRÓPRIOS / REQUISITOS TOTAIS * 12.5, DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA A transição para um enquadramento regulamentar mais exigente a curto e médio prazo Dez-09 Jun-10 Dez-10 Fonte: Banco de Portugal. Nota: Distribuição empírica recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo total do ativo. O rácio foi calculado aplicando os critérios definidos em Basileia II por todas as intituições analisadas. Dada a situação financeira dos bancos BPN e BPP, estas instituições não foram incluidas nas distribuições. As fortes dificuldades registadas pelos bancos portugueses no acesso ao financiamento de mercado refletiram essencialmente o significativo aumento do risco soberano. Num horizonte de curto e médio prazo, as perspetivas para o sistema bancário português encontram-se profundamente condicionadas pela interação entre o risco soberano, o sistema financeiro e a economia, dada a existência de mecanismos de transmissão e contágio que se reforçam mutuamente. Por seu turno, estes mecanismos podem consubstanciar-se na persistência de dificuldades no acesso a financiamento nos mercados de dívida por grosso e num impacto negativo sobre a atividade, rendibilidade e solvabilidade dos bancos, em particular sobre a qualidade do crédito 6. Refira-se que, desde o verão de 2010, o Banco de Portugal tomou diversas medidas para mitigar estes riscos sobre a estabilidade do sistema bancário português, ao recomendar, nomeadamente, a desalavancagem gradual do balanço dos bancos tendo em vista reduzir a dependência do financiamento de curto prazo, em particular junto do Eurosistema, a retenção dos resultados de 2010, o reforço do capital regulamentar e a melhoria da eficiência operacional. Na mesma linha de orientações, e tendo em vista reforçar a solvabilidade do sistema bancário português, o Banco de Portugal determinou, em Abril de 2011, por via da publicação do Aviso n.º 1/2011, que todos os bancos teriam de apresentar um rácio Core Tier I mínimo de 8 por cento a partir do final de Conforme já referido, em dezembro de 2010, o sistema bancário português apresentava um rácio de Core Tier I, excluindo o BPN, de 8.3 por cento. As medidas incluídas no programa de assistência financeira internacional reforçam estas orientações do Banco de Portugal, contribuindo também para um ajustamento do sistema bancário por via de um processo de desalavancagem equilibrado e gradual, acompanhado por um reforço da solvabilidade dos bancos. Com efeito, uma das quatro dimensões fundamentais do acordo no que diz respeito ao sistema 6 Para mais detalhes ver Capítulo 2. Riscos macroeconómicos e financeiros, deste Relatório.

101 Gráfico RÁCIO ENTRE CAPITAL E ATIVO Capital/Ativo Capital/Ativo - excluindo BPN e BPP Capital Tangível/Ativo Tangível (esc. dir.) Capital Tangível/Ativo Tangível - excluindo BPN e BPP (esc. dir.) Em percentagem Em percentagem Sistema Bancário Dez 2005 Jun 2006 Dez 2006 Jun 2007 Dez 2007 Jun 2008 Dez 2008 Jun 2009 Dez 2009 Jun 2010 Dez Fonte: Banco de Portugal. Nota: A quebra de série apresentada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto das instituições em análise. financeiro refere-se ao reforço das exigências em matéria de rácios de solvabilidade (impondo-se um rácio Core Tier I mínimo de 9 por cento no final de 2011 e de 10 por cento a partir do final do ano seguinte) 7. Note-se que, em 2011, a evolução dos rácios de adequação de fundos próprios deverá ser condicionada pela deterioração da qualidade dos ativos no balanço, por via da materialização do risco de crédito, e também pelos downgrades sobre os ativos detidos pelos bancos. Contudo, a informação disponível para o período mais recente sugere que os bancos iniciaram já um processo de desalavancagem, através do reforço do capital, da venda de ativos e de um abrandamento significativo da concessão de crédito, o que contribui para a redução dos ativos ponderados pelo risco. Caso os bancos não consigam atingir através de soluções de mercado as metas que estão estabelecidas no programa de ajustamento para os rácios no horizonte especificado, o programa de assistência financeira internacional contempla um fundo de apoio à recapitalização dos bancos, envolvendo um montante global de 12 mil milhões de euros 8. 7 Para mais detalhes sobre o acordo ver Caixa O programa de ajustamento económico e financeiro no âmbito do pedido de assistência financeira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional, Banco de Portugal, Relatório Anual Tendo por base as regras já definidas na Lei N.º 63-A/2008 e especificadas na Portaria N.º 493-A/2009, que impõem diversas limitações à gestão das instituições que recorram a estas medidas de apoio.

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103 CAIXA 4.1 O PAPEL MITIGANTE DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS RESIDENTES NÃO DOMÉSTICAS NO PROCESSO DE DESALAVANCAGEM DA ECONOMIA PORTUGUESA O ano de 2010 e o primeiro trimestre de 2011 ficaram marcados por uma deterioração da perceção dos investidores internacionais relativamente ao risco soberano português que culminou com o pedido de assistência financeira internacional no início de abril de As fortes perturbações nos mercados financeiros internacionais traduziram-se de forma especialmente negativa sobre as condições de financiamento do sistema bancário nacional. Não obstante estas dificuldades, os números relativos ao fluxo de crédito concedido pelos bancos mostram que este ajustamento tem acontecido de forma bastante gradual. Para tal estará a contribuir sobretudo a atual política de cedência de liquidez do BCE. No entanto, também a atuação de bancos não domésticos residentes em Portugal tem permitido mitigar uma desalavancagem mais forte por parte dos bancos domésticos, contribuindo assim para uma maior estabilidade da oferta de crédito na economia. Dada a necessidade de reduzir o financiamento junto do BCE, estes bancos poderão continuar a desempenhar um papel especialmente relevante no processo de desalavancagem da economia portuguesa Sistema Bancário A importância das instituições financeiras não domésticas para a estabilidade do sistema financeiro A literatura sobre os efeitos da entrada de bancos estrangeiros no sistema financeiro de um país é bastante vasta. No entanto, tende a focar-se nos efeitos sobre a eficiência operacional e concorrência (Claessens e Laeven, (2004) 1 ) e nas alterações no acesso ao crédito por parte de empresas e particulares (Goldberg, (2002) 2 ). Recentemente, a literatura tem dado uma maior importância ao impacto da entrada de instituições financeiras estrangeiras na estabilidade financeira dos países de acolhimento. Mais concretamente, pretende-se avaliar se a entrada de bancos estrangeiros contribui para a estabilização da oferta de crédito, ou pelo contrário, acentua a concessão de crédito em momentos de forte crescimento económico e retrai essa mesma oferta em períodos recessivos, contribuindo assim para uma maior volatilidade da oferta de crédito. Infelizmente, a existência de aspetos específicos a cada país e às instituições não tem permitido concluir de forma clara sobre o efeito da entrada de bancos estrangeiros na volatilidade do ciclo de crédito do país de acolhimento (Morgan and Strahan, ). Entre os argumentos a favor de um efeito estabilizador sobre a oferta de crédito, destaca-se o facto das filiais e sucursais de bancos estrangeiros fazerem parte de grandes grupos internacionais com uma carteira de ativos bastante diversificada. Assim, as respetivas casas-mãe podem funcionar como uma espécie de credores de último recurso, tornando estas instituições menos sujeitas a choques. Em linha com este pensamento, Galindo, Micco e Powell (2004) 4 argumentam que perante choques negativos de liquidez ou aumento do custo de financiamento, a quota de mercado dos bancos estrangeiros tende a aumentar significativamente. Em sentido contrário, tem sido apontado que instituições financeiras estrangeiras tendem a ter políticas de crédito pró-cíclicas. Assim, a casa-mãe tende a realocar o capital nas diferentes áreas geográficas consoante as suas expectativas em relação ao risco e retorno. Nos casos 1 Claessens, S. and Laeven, L, (2004), What drives bank competition? Some international evidence, Journal of Money, Credit and Banking, 36, 3, pp Goldberg, L.S., (2002), When is US bank lending to emerging markets volatile?, Preventing Currency Crises in Emerging Markets, University Of Chicago Press. 3 Morgan, D. and Strahan, P., (2003), Foreign bank entry and business volatility: Evidence from US states and other countries, NBER Working Paper, 9710, National Bureau of Economic Research (Cambridge, EUA). 4 Galindo, A., Micco, A., Powell, A., (2004), Loyal lenders or fickle financiers: foreign banks in Latin America, Working Paper Series, Inter-American Development Bank.

104 I 102 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 em que as instituições financeiras domésticas estão menos diversificadas, estas não terão outras alternativas de investimento que não a concessão de crédito no próprio país. Paralelamente, a literatura tem chamado à atenção para a importância de um conjunto de outros aspetos, tais como, o ciclo económico do país de origem da instituição, a condição financeira da casa-mãe, a dimensão da instituição e o tipo de relacionamento desenvolvido com os clientes. Analisemos cada um destes fatores. Relativamente ao ciclo económico do país de origem da instituição, é difícil avaliar o seu efeito. Por um lado, pode-se argumentar que perante dificuldades no país de origem, as instituições financeiras estrangeiras tendem a centrar-se no core do seu negócio funcionando como transmissores de choques adversos. Esta lógica tende a ser mais forte quando as casas-mãe apresentam dificuldades financeiras. No entanto, é possível também argumentar que, em situações de recessão ou de dificuldades no mercado doméstico, as instituições bancárias tendem a focar-se nas oportunidades presentes nos mercados internacionais como forma de crescimento. Clarke, Cull, Peria e Sanchez (2002) 5 sublinham a importância da dimensão do banco na estabilização ou não da oferta de crédito. Bancos estrangeiros de maior dimensão tendem a ter um nível de compromisso maior com a economia, o que se traduz em estratégias de longo prazo. Em contrapartida, bancos mais pequenos tendem a atuar em nichos, o que lhes permite reduzir as suas operações com maior facilidade e em consonância com as suas perspetivas de curto prazo. Por último, Has e Lelyveld (2005) 6 diferenciam dois tipos de atuação. Por um lado, aqueles bancos que praticam uma política de transação por transação, ou seja, aumentam a oferta quando a procura aumenta e reduzem-na quando as condições económicas pioram. Por outro lado, os bancos que apostam mais na relação com os seus clientes, como forma de obter uma vantagem competitiva no processo de intermediação financeira, tendem a ser menos sensíveis às flutuações do ciclo económico. Assim, dada a importância de um vasto conjunto de fatores específicos na avaliação do contributo das instituições financeiras estrangeiras para a estabilidade na oferta de crédito na economia, torna-se indispensável uma análise caso a caso. As instituições financeiras não domésticas em Portugal O mercado de crédito em Portugal é claramente dominado por instituições domésticas (Quadro 1). Este facto é mais evidente nos empréstimos a empresas não financeiras e nos empréstimos a particulares para habitação onde a quota de mercado das instituições domésticas é de cerca de 80%. No caso dos empréstimos para consumo e outros fins, a quota de mercado das instituições domésticas é ligeiramente superior a 60%. Os bancos não domésticos a operar em Portugal são maioritariamente instituições com origem em Espanha, cujo peso neste grupo é de 64 por cento, 79 por cento e 49 por cento nos empréstimos a sociedades não financeiras, particulares para aquisição de habitação e particulares para consumo e outros fins, respetivamente. Este facto é especialmente relevante dada a proximidade geográfica entre os dois países e a perceção por parte dos agentes económicos de pertença a um mercado único, a qual leva a crer que os bancos espanhóis a operar em Portugal tendam a ter uma perspetiva de longo prazo nos seus investimentos. Quadro 1 QUOTA DE MERCADO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO DOMÉSTICAS Dez-07 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Sociedades não financeiras Habitação Consumo e outros fins Fonte: Banco de Portugal 5 Clarke, G. and Cull, R. and Peria, M.S.M. and Sanchez, S.M., (2005), Bank lending to small businesses in Latin America: does bank origin matter?, Journal of Money, Credit and Banking, pp Has, R., e Lelyveld, I., (2005), Foreign banks and credit stability in Central and Eastern Europe. A panel data analysis, Journal of banking and finance, 30, pp

105 Em termos de dimensão, a larga maioria destas instituições faz parte de grandes grupos financeiros internacionais com uma carteira diversificada geograficamente (Santander, Barclays, BBVA). No entanto, apenas uma destas instituições tem um peso verdadeiramente significativo no sistema financeiro nacional (Santander-Totta). O facto de estas instituições fazerem parte de grandes grupos internacionais tende a traduzir-se em duas vantagens face aos restantes concorrentes domésticos. Por um lado, estes bancos dispõem de uma situação mais facilitada em termos de liquidez, visto poderem recorrer às suas casas- -mãe. O gráfico 1 apresenta os recursos dos bancos domésticos e não domésticos com contraparte no banco central ou noutras instituições de crédito entre dezembro de 2007 e dezembro de O gráfico mostra dois padrões muito distintos a partir de maio de 2010, aquando da intensificação da crise da dívida soberana europeia. Enquanto as instituições domésticas tenderam a compensar uma menor capacidade de recurso ao mercado interbancário com um aumento do recurso ao banco central, as instituições não domésticas recorreram sobretudo às suas casas-mãe, as quais mantiveram o acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso a médio e longo prazo, o que não aconteceu com os bancos domésticos. Dada a maior sustentabilidade deste modo de financiamento a longo prazo, quando em comparação com o recurso ao BCE, conclui-se que as instituições financeiras não domésticas têm uma clara vantagem face às restantes Sistema Bancário De facto, a inclusão em grandes grupos financeiros internacionais tem garantido o acesso a financiamento com custos mais baixos, o que contrasta com a situação de racionamento quantitativo do financiamento dos bancos domésticos nos mercados de dívida por grosso. O gráfico 2 compara a evolução das taxas de rendibilidade das obrigações seniores de médio prazo de um conjunto de instituições domésticas (BCP, BES, BPI e CGD) e não domésticas (Santander-Totta, BBVA e Barclays). No caso do Santander apresenta- -se a rendibilidade das obrigações tanto da filial portuguesa (BST) como da casa-mãe. Relativamente ao BBVA e ao Barclays, na medida em que não emitem dívida em Portugal, apresentam-se apenas as taxas de rendibilidade das obrigações emitidas pela casa-mãe. O gráfico mostra uma clara diferença, com as taxas de rendibilidade das obrigações dos quatro bancos domésticos (BCP, BES, BPI e CGD) a registarem valores significativamente superiores aos restantes, o que evidencia uma clara desvantagem competitiva das instituições domésticas. Adicionalmente, o novo enquadramento do sistema bancário português contemplado no programa de apoio financeiro internacional, assinado em maio, e segundo o qual todos os grupos bancários sujeitos à regulação do Banco de Portugal deverão atingir um rácio de capital de 9 Gráfico 1 RECURSOS DOS BANCOS COM CONTRAPARTE EM BANCOS CENTRAIS E OUTRAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO Bancos domésticos Bancos não domésticos Sede e sucursais da própria instituição Bancos Centrais Outros Sede e sucursais da própria instituição Bancos Centrais Outros Em milhões de euros Em milhões de euros Dez-07 Abr-08 Ago-08 Dez-08 Abr-09 Ago-09 Dez-09 Abr-10 Ago-10 Dez-10 Dez-07 Abr-08 Ago-08 Dez-08 Abr-09 Ago-09 Dez-09 Abr-10 Ago-10 Dez-10 Fonte: Banco de Portugal.

106 Gráfico 2 I 104 TAXA DE RENDIBILIDADE DAS OBRIGAÇÕES DE ALGUNS BANCOS DOMÉSTICOS E NÃO DOMÉSTICOS BCP BES BPI CGD BST BBVA Santander Barclays BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Fonte: Bloomberg. Em percentagem Ago-10 Out-10 Dez-10 Fev-11 Abr-11 Nota: As obrigações no gráfico correspondem a títulos sénior não colateralizados com maturidades entre janeiro de 2013 (Santander) e junho de 2015 (BST). Com exceção do Barclays e do Santander, cujas obrigações são em dólares, todos os restantes títulos estão cotados em euros. por cento até ao final de 2011 e de 10 por cento a partir do final de 2012, deverá ter impacto ao nível da competitividade de algumas instituições financeiras. Neste contexto, refira-se que em dezembro de 2010 a quota de mercado das instituições financeiras não sujeitas à regulação do Banco de Portugal era de 8.9 por cento nos empréstimos a sociedades não financeiras, 3.5 por cento nos empréstimos para aquisição de habitação e 8.1 por cento nos empréstimos para consumo e outros fins 7. A literatura existente parece sugerir que no caso português as instituições não domésticas possam ter um contributo positivo para a suavização da oferta de crédito. Subjacente a esta conclusão está a elevada dimensão de algumas das instituições financeiras não domésticas a operar em Portugal, as suas menores restrições de financiamento nos mercados financeiros internacionais e o facto da maioria destas instituições ter um horizonte temporal alargado de investimento. Não obstante, existem alguns fatores que devem ser tidos em linha de conta. Assim, a grande importância das instituições financeiras espanholas aumenta o grau de interdependência do sistema financeiro português em relação à evolução macroeconómica em Espanha. Adicionalmente, a forte presença de algumas destas instituições na América Latina, onde existem neste momento fortes oportunidades de crescimento, aumenta também a exposição da economia portuguesa a esta região. O papel das instituições financeiras não domésticas no contexto da atual crise financeira em Portugal Analisemos agora os desenvolvimentos em cada um dos segmentos do mercado de crédito. O gráfico 3 mostra a taxa de variação anual dos empréstimos concedidos a sociedades não financeiras pelos bancos residentes domésticos e não domésticos entre janeiro de 2008 e fevereiro de Distinguem-se dois padrões. Enquanto os bancos domésticos têm gradualmente desacelerado a concessão de crédito às empresas desde 2008, os bancos não domésticos têm vindo a seguir um comportamento que resulta essencialmente de dois fatores. Por um lado, as expectativas relativas à evolução da atividade económica internacional levaram a uma muito forte restrição na concessão de crédito a partir de setembro de As principais instituições não domésticas não sujeitas à regulação prudencial do Banco de Portugal são o Barclays Bank, o Eurohypo Aktiengesellschaft e o Banque PSA Finance.

107 Por outro lado, as dificuldades de financiamento nos mercados internacionais de dívida por grosso, que se traduziram num gradual aperto da concessão de empréstimos por parte dos bancos domésticos, sobretudo a partir do segundo semestre de 2010, poderá ter gerado oportunidades de negócio para os bancos não domésticos, o que se traduziu numa aceleração na concessão de empréstimos. Esta diferença de comportamento é também visível em termos absolutos (Gráfico 4), com os bancos não domésticos a apresentarem um fluxo semestral de empréstimos positivo e largamente superior ao dos bancos domésticos, apesar de terem uma quota de mercado bastante inferior no stock de crédito. Esta dualidade entre bancos domésticos e não domésticos explica em grande medida o caráter bimodal da distribuição empírica da taxa de variação anual dos empréstimos bancários a sociedades não financeiras apresentado no gráfico da secção 4.4 deste relatório. Apesar do maior crescimento do fluxo de empréstimos concedido por bancos não domésticos, a sua quota de mercado em dezembro de 2010 teve uma diminuição ligeira face a igual período de 2009 (Quadro 1). Isto aconteceu, no entanto, devido a um vasto conjunto de empréstimos detidos por bancos não domésticos que foram reclassificados na sequência da passagem de algumas empresas para a esfera das administrações públicas. Em termos agregados, a taxa de variação anual dos empréstimos às sociedades não financeiras encontrava-se em março de 2011 em valores próximos de 1 por cento Sistema Bancário Gráfico 3 Gráfico 4 TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS FLUXO SEMESTRAL DE EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS Domésticas Não domésticas Total Domésticas Não domésticas Total Em percentagem Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11-5 Em milhões de euros Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan Fonte: Banco de Portugal. Notas: A taxa de variação anual é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem, como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para as administrações públicas (ver nota 1 da secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório). Fonte: Banco de Portugal. Notas: O fluxo semestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem, como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para as administrações públicas (ver nota 1 da secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório). A contribuir para a trajetória de desaceleração dos empréstimos às sociedades não financeiras terá estado um aumento generalizado dos spreads praticados pelas instituições financeiras a partir do terceiro trimestre de 2008, após um longo período de spreads historicamente baixos (Gráfico 5). Com a intensificação da crise da dívida soberana europeia observou-se uma diminuição do spread praticado pelas instituições não domésticas em oposição a uma forte subida por parte das instituições domésticas. Este facto pode no entanto estar relacionado com um efeito composição. A este respeito, o gráfico 6 mostra

108 Gráfico 5 I 106 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 SPREAD NAS NOVAS OPERAÇÕES DE EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS Fonte: Banco de Portugal. Em pontos percentuais Domésticas Não domésticas Total 0.0 Jan-03Out-03 Jul-04 Abr-05 Jan-06Out-06 Jul-07 Abr-08 Jan-09Out-09 Jul-10 Nota: O spread é calculado com base no diferencial entre a taxa de juro das novas operações e a Euribor a 3 meses. que é nos empréstimos de maior dimensão, superiores a 14 milhões de euros, os quais tipicamente apresentam um menor risco de crédito, que as instituições financeiras não domésticas mais têm crescido. Em oposição, é nas exposições de menor dimensão, inferiores a 542 mil euros que o diferencial é mais reduzido, apresentando as instituições não domésticas um crescimento próximo de zero enquanto as instituições domésticas registaram uma redução de 3.7 por cento. Adicionalmente, se analisarmos um agregado de crédito mais lato, nomeadamente o total de empréstimos às sociedades não financeiras, que inclui, para além dos empréstimos concedidos por instituições financeiras monetárias (domésticas e não domésticas), os empréstimos concedidos por instituições financeiras não residentes, outros intermediários financeiros e auxiliares financeiros e particulares, observa-se que este tem tido uma taxa de variação anual superior à dos empréstimos bancários, o que se explica por um maior recurso por parte de algumas empresas, de maior dimensão, a entidades financeiras não residentes como forma de financiamento. Assim, da análise dos gráficos 6 e 7, realça-se que, apesar de as instituições financeiras não domésticas residentes e não residentes estarem a contribuir positivamente para o financiamento da economia portuguesa, este papel tende a centrar-se nas empresas de maior dimensão, defrontando-se as empresas de menor dimensão com maiores restrições na oferta de crédito. À semelhança da análise feita para os empréstimos a sociedades não financeiras, os gráficos 8 e 9 mostram, respetivamente, a taxa de variação anual e o fluxo semestral de empréstimos a particulares para aquisição de habitação. No que se refere às instituições domésticas, a par do que se observa nos empréstimos a empresas não financeiras, verifica-se que estas têm vindo a abrandar a concessão de empréstimos desde Esta tendência acentuou-se a partir de maio de 2010, aquando da intensificação da crise da divida soberana europeia. Relativamente às instituições não domésticas, também estas apresentam um comportamento no segmento de habitação semelhante ao das sociedades não financeiras. Assim, a taxa de variação anual apresentou uma tendência descendente desde o início de No entanto, ao contrário do que ocorreu nos empréstimos às empresas, a desaceleração nos empréstimos a particulares para aquisição de habitação foi mais suave, mantendo-se sempre claramente acima da registada pelos bancos domésticos. Com a intensificação da crise da dívida soberana em maio de 2010, algumas instituições não domésticas aproveitaram a maior restrição nos critérios de concessão de crédito de algumas instituições nacionais para adotar uma estratégia de forte crescimento, visível na existência de alguns valores extremos no gráfico da secção 4.4 deste relatório relativo à distribuição empírica

109 Gráfico 6 TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS POR DIMENSÃO DA EXPOSIÇÃO EM DEZEMBRO DE Em percentagem Bancos não domésticos Bancos domésticos 107 Sistema Bancário Pequenas Exposições exposições superiores ao percentil 90 Exposições superiores ao percentil 99 Exposições superiores ao percentil 99.5 Exposições superiores ao percentil 99.9 Total Fonte: Banco de Portugal. Notas: Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), sendo cada exposição caracterizada pelo valor total dos empréstimos do sistema financeiro a uma determinada sociedade não financeira. Foram considerados como elementos do sistema financeiro todos os bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições financeiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação financeira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários financeiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição financeira superiores a 50 euros foram consideradas. Para o cálculo das taxas de variação homóloga, os limites inferiores de cada grupo de exposições coincidem com os quantis, que em cada momento do tempo são definidos com base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. De forma a facilitar a análise, a Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto foram excluídas da análise, bem como o BPN. Ver quadro da secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório, para mais informação relativamente ao limite inferior dos intervalos relativos à dimensão das exposições. Gráfico 7 EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS Em percentagem Taxa de variação anual dos empréstimos (Contas Nacionais Financeiras) Taxa de variação anual de empréstimos (Estatísticas Monetárias e Financeiras) Taxa de variação anual de empréstimos (exceto empréstimos concedidos por IFMs residentes) Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Fonte: Banco de Portugal. Notas: A taxa de variação anual dos empréstimos (Estatísticas Monetárias e Financeiras) é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias (IFM) em fim de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. A taxa de variação anual de empréstimos (Contas Nacionais Financeiras) é baseada nas contas nacionais financeiras, que incluem os empréstimos concedidos por Outros Intermediários Financeiros e Auxiliares financeiros (OIFAF), instituições financeiras não residentes e particulares. A taxa de variação anual dos empréstimos (exceto empréstimos concedidos por IFM a residentes) é calculada a partir das restantes.

110 Gráfico 8 Gráfico 9 I TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO FLUXO SEMESTRAL DE EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO 108 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem Domésticas Não domésticas Total 0.00 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: A taxa de variação anual é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem (ver nota 1 da secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório) Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 das taxas de crescimento anuais. A implementação de estratégias mais competitivas traduziu-se num ganho de quase 2 pontos percentuais de quota de mercado por parte das instituições não domésticas no período de um ano. Este forte aumento da quota de mercado num segmento de elevada importância estratégica para estes bancos como é o da habitação traduz um elevado nível de compromisso por parte dos bancos não domésticos em Portugal, na medida em que estão a aproveitar o atual contexto de dificuldades dos bancos domésticos para angariar um elevado número de novos clientes de longo prazo. Em termos agregados, a taxa de variação anual dos empréstimos para aquisição de habitação situava-se em março de 2011 em 1.6 por cento. No entanto, e em face dos resultados do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, este valor deverá diminuir nos próximos meses, sobretudo devido a uma redução da procura, conforme indicado por todas as instituições que responderam ao inquérito. Em milhões de euros Doméstico Não domésticas Total Fonte: Banco de Portugal. Notas: O fluxo semestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem (ver nota 1 da secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório). A contribuir para esta dicotomia em termos de taxas de crescimento anuais poderão estar os menores spreads praticados pelas instituições financeiras não domésticas. O gráfico 10 mostra a evolução do spread bancário nas novas operações de crédito para aquisição de habitação para as instituições domésticas e não domésticas. Com base na análise gráfica distinguem-se três períodos. Assim, entre 2003 e 2007 assistiu-se a uma diminuição gradual dos spreads. Este cenário inverteu-se no terceiro trimestre de 2008 na sequência da falência do banco de investimento Lehman Brothers, tendo-se assistido a uma subida generalizada dos spreads. A partir de maio de 2010, com a intensificação da crise da dívida soberana registou-se um forte aumento do spread por parte das instituições domésticas e uma forte diminuição por parte das instituições não domésticas. Assim, em fevereiro de 2011, as instituições domésticas apresentavam um spread médio no novo crédito à habitação 95 p.b. acima das suas congéneres não domésticas, correspondendo os novos empréstimos à habitação concedido por instituições financeiras não domésticas a cerca de 40 por cento do total de novos empréstimos à habitação, um valor muito acima da sua quota de mercado no total do stock de crédito à habitação (20.2 por cento).

111 Gráfico 10 SPREAD NAS NOVAS OPERAÇÕES DE EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO Pontos percentuais Domésticas Não domésticas Total Sistema Bancário Jan-03Out-03 Jul-04 Abr-05 Jan-06Out-06 Jul-07 Abr-08 Jan-09Out-09 Jul-10 Fonte: Banco de Portugal. Notas: O spread é calculado com base no diferencial entre a taxa de juro das novas operações e a Euribor a 6 meses. Note-se que o uso de um indexante diferente da Euribor a 6 meses poderá resultar num erro de cálculo do spread aplicado. O gráfico 11 mostra a taxa de variação anual para o segmento de consumo e outros fins. Tal como nos restantes segmentos, a taxa de variação anual dos empréstimos concedidos por instituições domésticas apresenta uma forte tendência de desaceleração desde No entanto, ao contrário dos restantes segmentos, este abrandamento é também acompanhado pelas instituições não domésticas, embora de forma mais lenta. Em termos agregados, a taxa de variação anual dos empréstimos ao consumo e outros fins apresenta uma clara tendência descendente, encontrando-se em valores negativos desde o início de Dada a atual conjuntura económica marcada por uma diminuição da procura interna é de esperar que o fluxo de empréstimos a particulares para consumo e outros fins continue a diminuir. Esta tendência descendente é já visível no gráfico 12, onde os fluxos semestrais total e relativo aos bancos domésticos apresentam valores negativos desde agosto de Ao nível das taxas de juro (Gráfico 13) notam-se comportamentos distintos entre os empréstimos ao consumo e os empréstimos para outros fins. Assim, enquanto nos empréstimos ao consumo, o diferencial médio na taxa de juro praticada pelos bancos domésticos e não domésticos se encontra abaixo do praticado nos restantes segmentos (90 p.b.), nos empréstimos para outros fins este diferencial atinge 300 p.b.. Este valor é especialmente significativo dado o reduzido peso das instituições não domésticas neste segmento, quer em termos de quota no agregado de crédito, quer sobretudo ao nível da quota no novo crédito concedido, a qual, ao contrário do que acontece noutros segmentos, permanece em valores bastante reduzidos (13 por cento em fevereiro de 2011).

112 Gráfico 11 Gráfico 12 I 110 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Em percentagem TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS Domésticas Não domésticas Total Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: A taxa de variação anual é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem (ver nota 1 da secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório). Em milhões de euros FLUXO SEMESTRAL DE EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS Domésticas Não domésticas Total -500 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal. Notas: O fluxo semestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fim de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassificações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem (ver nota 1 da secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório). Gráfico 13 TAXA DE JURO NOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS Em percentagem Consumo - domésticas Consumo - não domésticas Outros fins - domésticas Outros fins - não domésticas 0.0 Jan-03 Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11 Fonte: Banco de Portugal.

113 Conclusão Conforme sugerido na literatura apresentada, a informação disponível indica que as instituições financeiras não domésticas têm tido um papel importante para a suavização do presente ciclo de desalavancagem da economia portuguesa. Assim, o maior fluxo de crédito por parte dos bancos não domésticos tem compensado parcialmente a clara desaceleração por parte dos bancos domésticos. Este contributo ganha especial relevância no caso dos empréstimos às sociedades não financeiras em face das dificuldades atuais de refinanciamento dos seus passivos. Adicionalmente, o menor spread praticado pelos bancos não domésticos poderá estar a mitigar alguma perda de competitividade das empresas nacionais em virtude de um maior custo de financiamento comparativamente às suas congéneres europeias. No entanto, os menores spreads dos bancos não domésticos poderão estar a refletir um efeito composição, ou seja, estes bancos poderão estar a financiar clientes de menor risco, o que naturalmente contribui para que o seu spread médio seja mais baixo. A este propósito note-se que o aumento do fluxo de empréstimos dos bancos não domésticos diz respeito sobretudo a grandes empresas, com um perfil de risco tradicionalmente menor. Assim sendo, o aumento da oferta de crédito por parte das instituições não domésticas não estará a evitar um ajustamento mais forte por parte das empresas de menor dimensão. No caso dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação e para consumo, o maior fluxo de crédito por parte de bancos não domésticos tem concorrido para a suavização do processo de desalavancagem das famílias, em especial nos empréstimos para aquisição de habitação que apresentaram ao longo de 2010 o maior crescimento de entre os empréstimos ao setor privado não financeiro Sistema Bancário

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115 CAIXA 4.2 SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE No primeiro trimestre de 2011, verificou-se uma redução da atividade em base consolidada dos seis maiores grupos bancários portugueses face ao trimestre anterior, refletindo essencialmente a diminuição da carteira de ativos financeiros disponíveis para venda e, em menor grau, do crédito concedido a clientes. Neste período, os indicadores de rendibilidade reduziram-se ligeiramente mantendo a tendência decrescente que têm vindo a observar desde o início da crise financeira no verão de Por seu turno, os rácios de capital regulamentar registaram um ligeiro aumento por comparação com o trimestre anterior. Finalmente, a informação disponível para o primeiro trimestre de 2011 aponta para uma deterioração em termos agregados quer da qualidade de crédito quer das condições de liquidez face ao final do ano anterior Sistema Bancário Considerando os dados para o primeiro trimestre de 2011 dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português, a atividade, avaliada pelo ativo total em base consolidada, registou uma queda de 2.3 por cento face ao final do último trimestre de 2010 (diminuição de 0.6 por cento em termos homólogos; Quadro 1). Para esta redução contribuiu essencialmente a diminuição da carteira de ativos financeiros disponíveis para venda por parte de três dos grupos bancários em análise. A diminuição generalizada da carteira de crédito a clientes incluindo operações de titularização não desreconhecidas, refletindo em larga medida a evolução dos empréstimos concedidos quer às administrações públicas quer às sociedades não financeiras, contribuiu também para a redução observada no ativo. No primeiro trimestre de 2011, manteve-se a tendência de recomposição do financiamento destes grupos bancários, destacando-se a diminuição das responsabilidades representadas por títulos e o aumento dos recursos de clientes sob a forma de depósitos face ao observado no final de Os recursos obtidos junto do Eurosistema registaram uma ligeira redução face ao último trimestre de 2010, não obstante o seu peso no total dos recursos das instituições em análise ter permanecido virtualmente inalterado. No primeiro trimestre de 2011, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do conjunto de instituições em análise registaram uma diminuição quando comparados com os resultados apurados em igual período de 2010, o que implicou uma redução dos indicadores de rendibilidade (Quadro 2 e Gráfico 1). Esta redução refletiu essencialmente a evolução dos resultados de ativos e passivos financeiros avaliados ao justo valor através de resultados, em particular de títulos de dívida pública, parcialmente compensada pelo aumento observado na margem financeira, face ao observado no primeiro trimestre de 2010 (Gráfico 2). Refira-se que, face ao último trimestre de 2010, os indicadores de rendibilidade apresentaram uma ligeira redução. No que diz respeito à adequação de capital, em março de 2011, os rácios de adequação dos fundos próprios das instituições em análise registaram em geral um ligeiro aumento face ao final do ano anterior (Quadro 3). Adicionalmente, o rácio de adequação de fundos próprios de base registou também um nível mais elevado do que o observado no período homólogo do ano anterior, refletindo essencialmente os aumentos registados por parte de dois dos grupos bancários em análise. Para um dos grupos contribuiu sobretudo o aumento observado nos respetivos instrumentos de dívida elegíveis como fundos próprios. Por sua vez, o outro grupo bancário beneficiou do aumento das reservas e resultados elegíveis como capital, bem como da redução dos requisitos de fundos próprios para risco de crédito, risco de crédito de contraparte e transações incompletas. Finalmente, o rácio Core Tier I situou-se em 8.0 por cento no final de março de 2011, face a 7.7 por cento em dezembro de O total do ativo dos seis grupos bancários analisados na presente caixa (Caixa Geral de Depósitos, Espírito Santo Financial Group, BCP, Banco Português de Investimento, Banco Santander Totta e Caixa Económica Montepio Geral) representava cerca de 78 por cento do ativo do sistema bancário português em dezembro de Para mais detalhes ver Secção 4.3 Risco de liquidez e Secção 4.4 Risco de crédito, deste Relatório.

116 I 114 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Quadro 1 BALANÇO DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS BASE CONSOLIDADA Taxas de variação trimestral (em percentagem) Taxas de variação homóloga (em percentagem) Estrutura (em percentagem do ativo) Dez. Dez. Mar. Mar. Jun. Set. Dez. Mar. Mar. Jun. Set. Dez. Mar. Disponibilidades e aplicações em bancos centrais Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito Títulos, derivados e participações Crédito a clientes líquido Ativos titularizados e não desreconhecidos Ativos tangíveis e intangíveis Outros ativos Total do ativo Recursos de bancos centrais Recursos de outras instituições de crédito Recursos de clientes e outros empréstimos Responsabilidades representadas por títulos Passivos subordinados Outros passivos Capitais próprios Total do passivo e capital Por memória: Crédito a clientes incluindo operações de titularização não desreconhecidas Fonte: Banco de Portugal.

117 Quadro 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS BASE CONSOLIDADA Estrutura (em percentagem do ativo médio) (a) Taxas de variação homóloga (em percentagem) T1 T2 T3 T4 T1 T1 T2 T3 T4 T1 Margem financeira Rendimentos (líquidos) de serviços e comissões Resultados em operações financeiras Outros resultados Produto da atividade Custos operacionais Dotações de provisões e de imparidade Das quais: associadas a crédito a clientes Diferenças de consolidação e apropriação de resultados Sistema Bancário Resultados antes de impostos e de interesses minoritários Imposto sobre os lucros do exercício Resultado antes de interesses minoritários Interesses minoritários Resultado líquido Fonte: Banco de Portugal. Nota: (a) Os dados trimestrais encontram-se anualizados. Gráfico 1 RENDIBILIDADE DO ATIVO (ROA) E DOS CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE) DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS Em percentagem ROE ROA (esc. dir.) Em percentagem Mar-08 Set-08 Mar-09 Set-09 Mar-10 Set-10 Mar-11 Fonte: Banco de Portugal. Nota: Os dados intra-anuais encontram-se anualizados. Os indicadores de rendibilidade são calculados considerando os resultados antes de impostos e interesses minoritários.

118 Gráfico 2 I 116 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS FLUXOS TRIMESTRAIS Fonte: Banco de Portugal. Em milhões de euros Margem financeira Rendimentos (líquidos) de serviços e comissões Resultados de operações financeiras e imparidades associadas Custos operacionais Provisões e imparidades associadas a crédito a clientes Resultados antes de impostos e de interesses minoritários 2009T1 2009T2 2009T3 2009T4 2010T1 2010T2 2010T3 2010T4 2011T1 Quadro 3 ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS BASE CONSOLIDADA, EM MILHÕES DE EUROS Mar. Jun. Set. Dez. Mar. 1. Fundos próprios Fundos próprios de base totais Fundos próprios complementares Deduções aos fundos próprios totais Requisitos de fundos próprios Rácios (em percentagem) 3.1 Rácio de adequação global de fundos próprios Rácio de adequação de fundos próprios de base Rácio Core Tier I Fonte: Banco de Portugal.

119 ARTIGOS II DÍVIDA E EXTINÇÃO DAS EMPRESAS O ACESSO AO CRÉDITO BANCÁRIO QUANDO OS BANCOS SÃO ACIONISTAS DAS EMPRESAS: EVIDÊNCIA PARA PORTUGAL ESTIMATIVA DO IMPACTO DE FUSÕES BANCÁRIAS: UMA APLICAÇÃO AO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

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121 DÍVIDA E EXTINÇÃO DAS EMPRESAS* 119 António Antunes** José Mata*** Pedro Portugal** Artigos Mas aprende que a morte é uma dívida que todos pagaremos. Eurípides Resumo O final da atividade de uma empresa por via da falência pode ser traumático para os seus credores. Por outro lado, uma empresa que saia de atividade liquidando voluntariamente as suas dívidas raramente representará um problema económico importante. Neste artigo procuramos validar os resultados teóricos que mostram, em geral, que um maior nível de endividamento tende a aumentar a probabilidade de saída com falência e a reduzir a probabilidade de liquidação voluntária. Usando dados da central de responsabilidades de crédito e dos Quadros de Pessoal, mostramos que, tudo o resto igual, uma empresa com o dobro da dívida de outra tem uma probabilidade anual de saída por falência 25 por cento maior, enquanto que para a saída por liquidação voluntária a probabilidade cai 5 por cento. Estes resultados têm implicações evidentes no apreçamento dos empréstimos a empresas não financeiras endividadas, visto que maiores probabilidades de saída implicam maiores spreads no crédito. 1. Introdução Quando uma empresa cessa a sua atividade, pode fazê-lo de muitas formas diferentes. Uma possibilidade é a sua saída ser preparada com antecedência; por assim dizer, a empresa é encerrada de forma ordeira. Neste caso, as dívidas contraídas junto de instituições de crédito e fornecedores serão reembolsadas, os empregados serão avisados das perspetivas de fecho e, após os procedimentos necessários, os seus responsáveis procederão à formalização do fecho. No pólo oposto situa-se a falência clássica: a empresa simplesmente deixa de funcionar e as dívidas não são pagas, no todo ou em parte. Em muitos casos os próprios empresários e trabalhadores sairão penalizados. Entre estas duas situações outras haverá com algumas caraterísticas de uma ou outra; interessa-nos, no entanto, reduzir essa variedade de situações a estes dois casos polares. * As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsabilidade dos autores. ** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos. *** NOVA School of Business and Economics.

122 II 120 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 O objetivo deste trabalho é usar dados empíricos para estudar os fatores que levam uma empresa a sair de atividade por liquidação ordeira ou por falência. Mais especificamente, estamos interessados na relação que possa existir entre o montante de dívida de uma empresa e a maneira como se processa a sua saída de atividade. A resposta a esta questão é também um teste às teorias sobre endividamento de empresas que surgiram na literatura económica ao longo dos últimos trinta anos. Diferentes teorias sugerem previsões distintas no que toca à probabilidade e ao de modo de saída de atividade das empresas. Os economistas acreditam que, em mercados eficientes com baixos custos de monitorização e de financiamento, as empresas menos eficientes são as que abandonam a atividade, enquanto as que têm melhores projetos permanecem no mercado. No entanto, quando existem assimetrias de informação entre empresas e bancos, ou diferentes incentivos entre gestores e investidores, por exemplo, esta conclusão pode não ser aplicável. No que diz respeito ao que nos interessa, ou seja, à questão de uma eventual saída ser voluntária ou por via de uma falência 1, um primeiro argumento deve-se a Ross (1977) e baseia-se na assimetria de informação existente entre os gestores de uma empresa e agentes externos, em particular as instituições de crédito 2. Em termos simples, os gestores de boas empresas têm um incentivo em aumentar o valor da dívida da empresa para assinalar uma baixa probabilidade de sair de atividade. O endividamento excessivo funciona porque aumenta a probabilidade de, a ocorrer, a saída ser por via de uma falência, o que conduziria a grandes perdas para eles, sob a forma de perda de reputação, redução de rendimentos, ou mesmo custos legais. O agente externo percebe que, em caso de liquidação, os gestores têm de suportar grandes perdas; deduzem então que, se a empresa fosse má, eles não quereriam incorrer em dívidas elevadas; logo, a empresa deverá ser boa. Em termos empíricos, este argumento implica, ceteris paribus, que a dívida deverá aumentar a probabilidade de, em caso de saída, esta ser por via da falência. O segundo argumento baseia-se nas diferenças de incentivos que existem entre os donos das empresas e os detentores da sua dívida e está desenvolvido, por exemplo, em Myers (2001). Os donos de empresas com níveis de dívida elevados têm um incentivo em prosseguir estratégias empresariais mais arriscadas. Pensemos num projeto com probabilidade de sucesso baixa, mas, em caso de sucesso, ganhos elevados; em caso de insucesso, as perdas são também elevadas. Nesta situação, os benefícios em caso de sucesso irão essencialmente para os donos das empresas, visto que eles apenas deverão reembolsar as dívidas contraídas nos termos acordados, ficando com o resto; em caso de insucesso do projeto, as perdas recairão essencialmente sobre os detentores da dívida, pois não haverá recursos para reembolsar a dívida. Para os gestores, os ganhos estão truncados inferiormente mas não superiormente; para os detentores da dívida, os ganhos estão truncados superiormente, mas podem ir até uma perda igual ao montante global da dívida. Esta assimetria de ganhos induz uma escolha racional desta estratégia face a uma estratégia que garantisse o repagamento da dívida com grande probabilidade, mas que limitasse os ganhos potenciais para os gestores. Há ainda uma linha de argumentação (ver Jensen, 1986) que defende estar a simples existência de dívida associada a uma maior probabilidade de saída. O argumento é o seguinte: se uma oportunidade de investimento precisar de financiamento interno porque o nível de endividamento é elevado, o dono terá de injetar o capital necessário; no entanto, ele poderá não beneficiar totalmente dos ganhos do investimento visto que a empresa pode entretanto cessar a atividade. Isto implica que alguns investimentos rentáveis não são efetuados, o que aumenta a probabilidade de saída. Em princípio, o argumento é válido quer para a falência quer para a liquidação voluntária. No entanto, não esperamos ver um impacto 1 A noção de falência que utilizaremos não é a jurídica mas sim a ideia de saída de atividade sem pagamento integral da dívida, como veremos adiante. O leitor interessado num tratamento mais detalhado destes argumentos deve reportar-se a Mata, Antunes e Portugal (2010). 2 Admitimos que os gestores da empresa têm os seus interesses alinhados com os donos das empresas. Esta é certamente uma hipótese natural em muitas empresas, mas em algumas, e em especial em empresas de grandes dimensões, é possível que haja incentivos diferentes para os gestores e os donos das empresas.

123 significativo da dívida na saída voluntária porque este problema põe-se precisamente quando o endividamento é elevado e já só se pode recorrer a financiamento interno, o que significa que, em caso de saída, a empresa dificilmente escapará à falência. Existem muitos outros argumentos relacionando endividamento com falência. Em geral, quase todos preveem uma relação positiva entre o nível de endividamento e a probabilidade de falência. Adicionalmente, como vimos por exemplo no argumento exposto no parágrafo anterior, o nível de endividamento deverá também estar associado a uma menor probabilidade de saída voluntária. Aliás, o caso em que a empresa liquida as suas dívidas atempadamente sugere que os problemas de agência e assimetria de informação associados à dívida não são relevantes; daí esperarmos, por esta via também, um impacto negativo da dívida na probabilidade de saída voluntária Artigos Os resultados empíricos confirmam estas previsões teóricas. Usando a especificação estatística de base, estimamos que, numa empresa típica, a uma duplicação do nível de endividamento corresponda um agravamento da probabilidade de saída por falência em cerca de 25 por cento (de 1.9 por cento para 2.3 por cento ao ano), e uma redução da probabilidade de saída voluntária em cerca de 5 por cento (de 4.1 por cento para 4 por cento ao ano). Dadas as probabilidades de saída por falência e por liquidação voluntária para uma empresa típica, isto implica um aumento total na probabilidade de saída de 6 para 6.3 por cento ao ano. Ou seja, o nível de endividamento tem um impacto grande na incidência de falências, e pequeno na incidência de liquidações voluntárias, em sentidos opostos; como a probabilidade de saída da empresa típica é maior por liquidação voluntária do que por falência, a probabilidade global de saída é relativamente pouco agravada pelo nível de endividamento. 2. Dados empíricos e estratégia de modelação O tipo de questão a que queremos responder presta-se a uma modelação em que, no final de cada período, estão disponíveis três opções mutuamente exclusivas: a continuação da atividade, a liquidação voluntária e a falência. Esta estrutura de dados sugere o uso de modelos estatísticos de escolhas discretas multinomiais, e será essa a estratégia que adotaremos. Mas antes de mergulharmos na questão da modelação, viremo-nos para os dados disponíveis e para a maneira como iremos caraterizar cada uma das opções que referimos acima. Este desvio será útil para melhor compreendermos as opções de modelação tomadas e a interpretação que faremos dos resultados. Para a informação relativa à dívida iremos usar a Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal (CRC), uma base de dados contendo todas as relações de crédito entre empresas não financeiras (entre outras entidades) e instituições de crédito a operar em Portugal. Embora as medidas de endividamento registadas na CRC possam parecer limitativas, já que não incluem a dívida emitida pelas empresas, é um facto bem conhecido que em Portugal, como de resto nos outros países da Europa continental, a maioria das relações de crédito se processa entre bancos e empresas, e o recurso a financiamento por emissão de dívida ou dispersão de capital em mercados organizados é relativamente restrito. Para além da componente do crédito, necessitamos também algumas medidas que caraterizem as empresas e que se sabe serem relevantes para o seu nível de dívida, como a dimensão, o setor de atividade, a idade, e por aí em diante. Esses dados são obtidos usando os Quadros de Pessoal. Trata-se de dados de periodicidade anual cobrindo o universo dos estabelecimentos com empregados contratados, e incluem variáveis como o número de empregados ao serviço, o volume de vendas no ano anterior, a data de fundação da empresa, e o setor de atividade. Neste artigo usamos dados para o período de 1995 a Para uma descrição mais detalhada destes argumentos, bem como para um tratamento mais exaustivo das questões abordadas neste artigo, ver Mata et al.(2010).

124 2.1. Saídas de empresas e sua classificação II 122 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Para identificar saídas de empresas, usámos a seguinte metodologia. Dado que os Quadros de Pessoal são de preenchimento obrigatório, considerámos que ocorre uma saída sempre que uma dada empresa está ausente desta base de dados durante dois anos seguidos. Assim, se uma empresa reporta aos Quadros de Pessoal no ano t e permanece ausente nos anos t + 1 e t + 2, consideramos que ocorre uma saída no ano t. Foram efetuados mais alguns ajustamentos aos dados, designadamente quando ocorre apenas um ano de ausência de reporte; nesses casos preenchemos os dados do ano de ausência com a média dos anos anterior e seguinte 4. Uma vez ligadas as duas bases de dados, obtemos, para cada empresa, o seu historial de crédito. O próximo passo consiste em classificar as saídas em falências ou liquidações voluntárias. Definimos falência como uma saída para a qual a empresa teve algum registo de crédito significativo em incumprimento, de acordo com a classificação de créditos da CRC, durante os dois anos subsequentes à saída. Quer o montante total do crédito quer a parte que estava em incumprimento (se existente) foi calculada por agregação dos respetivos montantes para todas as instituições de crédito com que a empresa em questão tinha relacionamento. Todos os outros casos foram considerados liquidação voluntária: a empresa consegue cumprir integralmente as suas obrigações de crédito (se ainda existentes) nos dois anos subsequentes à sua saída. De forma a centrarmos a nossa análise em empresas com relacionamentos bancários, apenas considerámos observações em que a empresa teve um montante positivo de dívida no ano corrente ou no ano anterior, ou em ambos. De um total de observações para os anos de 1995 a 1998, a propensão para saída é relativamente baixa, com um total anual médio de saídas igual a 6 por cento das empresas. Paralelamente, observa-se uma divisão de 69 contra 31 por cento entre saídas por liquidação voluntária e por falência (Quadro 1). Quadro 1 ESTATÍSTICAS RESUMO DA AMOSTRA Permanência Saída Total Liquidação voluntária Falência Nº de observações Variável Log (1 + dívida) média desvio-padrão Log (nº empregados) média desvio-padrão Idade média desvio-padrão Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores Dívida e variáveis de controlo De entre as variáveis explicativas, ou seja, as variáveis que nos hão de ajudar a racionalizar os diferentes modos de saída ou permanência das empresas, a mais importante é o nível da dívida. Como é comum nesta literatura, iremos usar o logaritmo do montante da dívida em euros mais 1 euro, visto existirem observações com dívida nula. Na saída por falência, as empresas estão em média mais endividadas (cerca de 69 mil euros) do que a média quer das empresas que permanecem em atividade (cerca de 16 mil euros), quer das que saem por liquidação voluntária (cerca de 3 mil euros). Estas observações sugerem, 4 Ver Mata et al. (2010) para mais detalhes sobre este procedimento.

125 desde já, que os argumentos teóricos expostos anteriormente poderão ter sustentação empírica. No entanto, como sabemos de inúmeros exemplos da literatura económica, sem levarmos em consideração outras dimensões importantes do processo de saída das empresas poderemos estar a ser induzidos em erro e retirar conclusões erradas dos nossos resultados (Quadro 1). Que outras vertentes para além do nível de endividamento podem ser também importantes para explicar o fenómeno da saída de empresas? Uma delas será a dimensão da empresa. Neste caso, usamos o logaritmo do número de empregados. Em termos gerais, as empresas que sobrevivem tendem a ser maiores, se aferirmos o seu tamanho pelo número de empregados. Convertendo as unidades logarítmicas para unidades naturais, as empresas que sobrevivem têm em média cerca de 8.1 trabalhadores, contra 5.4 e 3.6 para as que saem por falência ou liquidação voluntária. No que diz respeito ao tempo de atividade das empresas, não se observam grandes diferenças entre as empresas que saem por liquidação ou falência. Em ambos os casos, a idade média à saída ronda os 12 anos, contra 14.6 do total das empresas (Quadro 1). 123 Artigos Estas observações parecem desde já indicar que mais dívida, menos empregados e menos idade favorecem a saída por falência, em detrimento da permanência em atividade. Em contraste, menos endividamento favorece a saída por liquidação voluntária relativamente à permanência; nas outras duas variáveis o efeito é igual ao caso da saída por falência. Estas observações, no entanto, são apenas sugestivas dos efeitos finais. Será necessária uma análise de regressão para as validar. Para eliminar a especificidade do setor de atividade e o impacto sistemático das flutuações macroeconómicas, adicionámos também variáveis categóricas por setor de atividade (com determinada granularidade) e por ano a que a observação diz respeito. Uma objeção que se pode fazer a esta escolha de regressores é que todas estas variáveis estão a medir a mesma coisa: quanto mais velhas, maiores serão as empresas, e maior capacidade terão para pedir empréstimos bancários. Na verdade, o método de estimação que usamos levará isso em conta. Mesmo que essa associação exista, o método de estimação dos parâmetros do modelo escolhido (descrito um pouco adiante) assenta justamente na comparação de mudanças de modos de saída de empresas atribuíveis a mudanças na variável sob estudo, tomando todas as outras como constantes. Uma objeção mais profunda é a seguinte. Suponhamos que há uma variável que nós não conhecemos e que determina em larga medida o modo de saída de uma empresa. Um exemplo é a qualidade do empresário em questão. Então, quando estimamos os nossos modelos, e abstraindo dos outros regressores, estamos a atribuir todas as variações no modo de saída a variações no endividamento, quando parte deveria estar a ser atribuída à variável que omitimos 5. Para leitores mais habituados à terminologia econométrica, a variável que estamos a estudar está correlacionada com o termo do erro do modelo estatístico, isto é, com a parte do modelo estatístico que captura tudo aquilo que não conhecemos e também influencia a saída. Para resolver este problema, os economistas recorrem a variáveis instrumentais, ou instrumentos. Neste caso, gostaríamos de aceder a alguma variável que, não fazendo parte do elenco de variáveis que têm um efeito sistemático sobre as saídas, ainda assim fosse correlacionada com a nossa variável de interesse (no nosso caso, o nível de endividamento), condicional aos restantes regressores. O instrumento não deverá padecer do mesmo problema da variável de interesse, ou seja, não deverá estar correlacionado com o termo do erro. Uma sugestão poderá ser a variação de alguma (ou várias) das variáveis que citámos, incluindo da própria dívida. Este procedimento dá mais ênfase à evolução temporal da empresa, e se, no exemplo de se tratar da qualidade do empresário, esta for constante ao longo do tempo, temos de facto um instrumento possível. Fica fora do âmbito deste trabalho apresentar um tratamento mais detalhado deste tópico (ver, por exemplo, Train, 2009); contentar-nos-emos em estimar uma regressão por variáveis instrumentais. 5 Note-se igualmente que o mesmo problema ocorrerá se o tipo de saída tiver alguma influência no endividamento. Por exemplo, se a ameaça de saída por falência permitir um endividamento maior, então o resultado que se pretende estudar tem influência no próprio nível de endividamento. Esta é uma situação de causalidade inversa.

126 2.3. Modelação estatística II 124 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 A estratégia de modelação é, pode dizer-se, convencional. Em cada período existem três possibilidades mutuamente exclusivas: a permanência em atividade, a saída por liquidação voluntária e a saída por falência. Esta estrutura sugere um modelo de escolha multinomial, como o logit ou o probit multinomial. O modelo em particular que iremos usar tem especificação probit multinomial. Trata-se de um modelo de escolha múltipla mutuamente exclusiva, em que uma das escolhas possíveis é definida como a referência e as restantes opções são comparadas com essa referência. Em termos formais, suponhamos que as caraterísticas relevantes da empresa i no ano t são sumariadas pelo vetor, e que o benefício da opção j = 0,1,2 é j = + it it j jit u x g e em que g é um vetor de coeficientes de regressão, e é um erro aleatório com distribuição normal, j jit e o índice j é 0 em caso de permanência, 1 em caso de saída voluntária, e 2 em caso de falência 6. A decisão é tomada de acordo com o benefício em cada opção. A opção m é escolhida se e só se m j u ³ u it it para todo j ¹ m. Se y it for a variável aleatória que nos dá a opção escolhida pela empresa i no ano t, aquilo que acabámos de expor implica que a probabilidade de a escolha ser m é m j it it it Pr( y = m) = Pr( u ³ u para todo j ¹ m). Se repararmos bem, o modelo da equação anterior é invariante no caso de (i) somarmos a mesma constante a todas as equações (o que não altera a ordem quando comparamos as diferentes opções) e de (ii) alterarmos a magnitude dos desvios-padrão dos erros no mesmo fator (por uma razão um pouco mais obscura, e que assim permanecerá se o leitor não consultar, por exemplo, Long e Freese, 2006, pág. 272). O facto (i) implica que as decisões são tomadas com base na diferença entre os benefícios para as diferentes alternativas, pelo que, escolhendo uma alternativa como referência por exemplo, j = 0, a permanência podemos exprimir o modelo em termos dessas diferenças. Definindo j j 0 v = u - u, e = it it it jit e - jit e e b = 0it j g - j g, para j = 1, 2, ficamos com um modelo um 0 pouco diferente:, x it 1 v = x b + e it it 1 1it 2 v = x b + e it it 2 2it it it it it it it it it Pr( y = 1) = Pr( v ³ v e v ³ 0) Pr( y = 2) = Pr( v ³ v e v ³ 0). (1a) (1b) (1c) (1d) j Como temos as expressões para os v s em termos dos e it jit s e admitimos que os erros têm distribuição normal, podemos usar a distribuição normal bivariada para calcular as probabilidades acima, condicionais a b 1 e b 2. Em seguida maximizamos a verosimilhança da amostra (basicamente o produto de todas as probabilidades, uma por cada observação) nesses dois vetores de parâmetros. Na verdade, temos também que maximizar num parâmetro adicional, a variância de e 2it ; a observação (ii) acima implica que podemos normalizar a variância de e 1it a 1. 6 Os erros são considerados independentes equação a equação e observação a observação. Também foram consideradas especificações em que permitimos correlação equação a equação; essa modelação é bastante mais complexa do que a usada neste trabalho, estando por isso fora do seu âmbito, mas conduz a resultados consistentes com os aqui apresentados.

127 3. Resultados O gráfico 1 representa graficamente os resultados de diversas regressões multinomiais. Para cada tipo de saída (liquidação ou falência) e para cada uma das quatro regressões efetuadas, a barra é proporcional ao valor do coeficiente associado à dívida. Recordemos que a literatura económica prevê que a um nível de dívida maior corresponda uma menor propensão a sair de atividade por liquidação voluntária, e uma maior tendência para sair por falência. Esta conclusão é sugerida pela regressão (1), que usa apenas o nível de dívida como regressor. Vemos que, para esse caso, o coeficiente associado à saída por liquidação voluntária é negativo, e é positivo para a saída por falência. Num contexto de modelo probit multinomial, isto corresponde a uma redução da probabilidade de saída por liquidação voluntária, e a um aumento na probabilidade de saída por falência. Este resultado é inteiramente consistente com os argumentos apresentados na secção Artigos Pode agora argumentar-se: o resultado é espúrio porque a dívida é apenas uma medida da qualidade creditícia da empresa; dever-se-ia considerar explicitamente variáveis relacionadas com o historial da empresa e com a envolvente macroeconómica ou setorial. Para atalhar a estes argumentos, a regressão (2) mostra o resultado quando incluímos, além da dívida, dummies anuais e setoriais, a idade da empresa e a idade da empresa ao quadrado. Esta última variável pretende capturar efeitos não lineares da idade na decisão de sair. O resultado inicial sobrevive: mais dívida implica maior propensão a sair por falência e a menor propensão a sair por liquidação voluntária. Gráfico 1 EFEITO DO VOLUME DA DÍVIDA Regressões de modelos probit multinomiais, com as seguintes especificações: (1) somente a dívida como regressor; (2) a anterior mais dummies anuais e setoriais, a idade da empresa e a idade da empresa ao quadrado; (3) a anterior mais o logaritmo do número de trabalhadores; (4) a anterior usando variáveis instrumentais. Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores. Nota: Valores em fração do coeficiente para saída por falência da regressão (3). A categoria omitida é a permanência em atividade. Todos os coeficientes são signicativos a 1%.

128 II 126 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Um outro argumento poderá ser: a dívida pode ser uma medida da dimensão da empresa, e é sabido que as empresas com melhores projetos, ou seja, com menos probabilidade de irem à falência, atingem uma escala maior. A regressão (3) inclui, além dos controlos anteriores, uma medida da dimensão da empresa: o logaritmo do número de trabalhadores. Neste caso, na verdade, obtemos um reforço significativo da magnitude do efeito da dívida na saída por falência, e uma atenuação do efeito de redução na probabilidade de saída por liquidação voluntária. A utilização do número de trabalhadores da empresa permite isolar o efeito de dimensão do efeito da dívida 7. Na verdade, o coeficiente associado à dimensão da empresa é semelhante para os dois tipos de saída, e equivale a cerca do dobro do coeficiente associado à variável de dívida na saída por falência. A regressão (4) consiste na utilização de instrumentos para eliminação de efeitos de enviesamento nas nossas estimativas por variável omitida ou endogeneidade dos regressores ver secção 2.2. As variáveis instrumentais usadas são variações anuais quer do logaritmo da dívida, quer do logaritmo do número de empregados. A técnica usada para estimação vem referida em Train (2009). Neste caso, é tranquilizador observar que o efeito da dívida permanece praticamente inalterado. Referimos anteriormente que os erros podem ser multiplicados por um fator positivo arbitrário sem que os nossos resultados se alterem. A consequência disto é que a escala dos coeficientes do gráfico 1 é, per se, arbitrária. É certo que comparar a magnitude dos coeficientes para as diferentes variáveis e para as duas equações é um exercício inteiramente válido, mas para verificarmos se o efeito da dívida é substancial ou não convém estimar os efeitos marginais da dívida. Uma medida possível é a variação média na probabilidade da saída em questão, calculada para a amostra, desencadeada por uma variação na variável de interesse, neste caso a dívida. Consideremos a regressão de referência (3). Com base no modelo estimado podemos calcular a probabilidade média, para a amostra, de saída por liquidação ou por falência. Os valores que obtemos são de 4.1 por cento anual para a saída por liquidação voluntária, e 1.9 por cento anual para a saída por falência. Mas para além disso podemos obter uma estimativa razoável de qual seria a probabilidade média de saída se, por exemplo, o nível da dívida de cada empresa fosse o dobro do nível original. O resultado encontra-se representado no gráfico 2. A conclusão que se tira do gráfico é que o efeito quantitativo do nível de endividamento na probabilidade de saída por falência é elevado, e na probabilidade de saída global (ou seja, incluindo ambos os tipos de saída) é mais pequeno. De facto, vemos que, quando duplicamos o nível da dívida, ocorre um aumento da probabilidade de saída por falência em cerca de 25 por cento; a redução da probabilidade de saída voluntária cifra-se em cerca de 5 por cento do nível original. Em termos globais, estes valores implicam um aumento na probabilidade de saída de 6 para 6.2 por cento ao ano. Como número de referência, estimamos que uma redução em 10 por cento na dívida de uma empresa implica, sob certas hipóteses simplificadoras e por via da redução da probabilidade de falência 8, uma redução máxima na taxa de juro cobrada de cerca de 7 pontos base. Uma última questão relaciona-se com a influência da dimensão da empresa, medida pelo logaritmo do número de empregados, na probabilidade de saída. No gráfico 3 verificamos que a dimensão exerce uma enorme influência na probabilidade de saída. Por exemplo, uma empresa relativamente pequena, ou seja, uma empresa cujo número de empregados seja igual ao percentil 10 dessa variável na amostra (2 empregados), tem probabilidades estimadas médias de saída de 7.4 por cento por liquidação voluntária e 4.6 por cento por falência. Em contraste, para uma empresa relativamente grande (no percentil 90 da dimensão, 37 empregados) as mesmas probabilidades são de 1 e 0.65 por cento. 7 Incluir outras variáveis de dimensão, como por exemplo as vendas anuais, pouco altera estes resultados. 8 As hipóteses são: condições de concorrência na concessão de crédito; perda total do crédito em caso de incumprimento; perdas por liquidação voluntária desprezáveis. Ver Chatterjee, Corbae, Nakajima e Rios-Rull (2007) para um modelo em que a probabilidade de incumprimento afeta a taxa de juro cobrada pela instituição de crédito, de acordo com Δ i =Δ p, em que Δ i é a variação da taxa de juro cobrada e Δ p é a variação da probabilidade de falência.

129 Gráfico 2 IMPACTO DO NÍVEL DE DÍVIDA NAS PROBABILIDADES DE SAÍDA 127 Artigos Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores. Nota: Para cada observação, é estimada a probabilidade de saída por liquidação voluntária ou falência, quer usando o nível de dívida original, quer para um nível duplo do inicial. Os valores do gráfico são médias amostrais para essas probabilidades. Gráfico 3 PROBABILIDADES DE SAÍDA DE ACORDO COM A DIMENSÃO DA EMPRESA Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores. Nota: Para cada observação, é estimada a probabilidade de saída por liquidação voluntária ou falência, fixando a variável de dimensão nos respetivos percentis 10 e 90. Os valores do gráfico são médias amostrais para essas probabilidades.

130 4. Conclusão II 128 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Os resultados deste trabalho sugerem que a dívida de uma empresa é um determinante essencial para o cálculo da probabilidade de saída e o modo como esta se processa. Esta constatação é consistente com uma volumosa literatura sobre endividamento e saída de empresas. Na verdade, tendo existido na maioria desses trabalhos uma tendência para identificar qualquer tipo de saída como falência, mostramos que na maior parte das vezes a saída se processa de forma relativamente ordeira e sem demasiados créditos por pagar. E o que distingue as duas situações? A dívida, esse elemento simultaneamente salvífico e comprometedor. Se, por um lado, permite melhorar a eficiência na alocação dos recursos e explorar convenientemente o potencial de um projeto, por outro gera incentivos poderosos a comportamentos estratégicos e de risco moral nefastos para o investidor, e que se traduzem em efeitos palpáveis na probabilidade de incumprimento no crédito. Talvez os resultados deste trabalho possam emprestar suporte à noção de que, ao contrário daquilo que uma economia sem fricções deveria exibir, numa economia com problemas de agência e de assimetria de informação entre outras fricções a probabilidade de extinção de uma empresa, e em especial de extinção por um processo traumático de falência, depende consideravelmente do nível de endividamento. Esse acréscimo de risco é, como não podia deixar de ser, refletido na taxa de juro cobrada: empresas mais endividadas, na presença de fricções financeiras, enfrentam taxas de juro mais altas. Esta é uma realidade com que não poucas vezes os agentes económicos endividados, ou até os países, são dolorosamente confrontados.

131 Referências Chatterjee, S., Corbae, D., Nakajima, M. e Rios-Rull, J.-V. (2007), A quantitative theory of unsecured consumer credit with risk of default, Econometrica 75(6), Jensen, M. C. (1986), Agency Costs of Free Cash Flow, Corporate Finance, and Takeovers, American Economic Review 76(2), Jensen, M. C. e Meckling, W. H. (1976), Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure, Journal of Financial Economics 3(4), Artigos Long, J. S. e Freese, J. (2006), Regression Models for Categorical Dependent Varia-bles Using Stata, second edn, Stata Press. Mata, J., Antunes, A. e Portugal, P. (2010), Borrowing Patterns, Bankruptcy and Voluntary Liquidation, Working Paper 27, Banco de Portugal. Myers, S. C. (1977), Determinants of Corporate Borrowing, Journal of Financial Economics 5, Myers, S. C. (2001), Capital Structure, Journal of Economic Perspectives 15(2), Ross, S. A. (1977), The Determination of Financial Structure: The Incentive-Signalling Approach, Bell Journal of Economics 8(1), Train, K. (2009), Discrete Choice Models with Simulation, second edn, Cambridge University Press.

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133 O ACESSO AO CRÉDITO BANCÁRIO QUANDO OS BANCOS SÃO ACIONISTAS DAS EMPRESAS: EVIDÊNCIA PARA PORTUGAL* Paula Antão** Miguel A. Ferreira*** Ana Lacerda**** 131 Resumo Artigos A teoria financeira sugere que a participação de um banco no capital de uma empresa não financeira contribui para aumentar a probabilidade desse banco conceder um empréstimo a essa empresa, na medida em que permite atenuar assimetrias de informação e custos de agência da dívida. Usando uma amostra de empréstimos bancários a empresas portuguesas, conclui-se que a participação de um banco no capital de uma empresa aumenta em 10 pontos percentuais a probabilidade de lhe conceder um empréstimo, face a um banco sem participação no capital. Esta conclusão é robusta à inclusão de variáveis explicativas que permitem capturar diferentes características das empresas com potencial impacto na capacidade de obtenção de crédito, bem como à estimação do modelo utilizando variáveis instrumentais, que permitem corrigir a potencial endogeneidade da variável participação do banco no capital das empresas. O efeito é menor quando a empresa tem relações comerciais com um maior número de grupos bancários e quando o seu capital se encontra disperso por um maior número de grupos bancários. Os nossos resultados sugerem, desta forma, que a existência de participações no capital das empresas tem impacto no mercado de crédito bancário. 1. Introdução Os empréstimos bancários são a nível internacional a fonte mais comum de financiamento externo empresarial. Em concreto, para os países da zona do euro os empréstimos têm um peso muito maior no financiamento das empresas do que os títulos de dívida, que representam menos de 10 por cento da dívida total. Os bancos, através do desenvolvimento de um relacionamento próximo e permanente com as empresas, adquirem vantagens no acesso e na produção de informação. De facto, a concessão de crédito e a prestação de outros serviços financeiros de uma forma continuada por um determinado banco implica que informações confidenciais possam ser acumuladas, o que lhe permite usufruir de benefícios significativos na concessão de crédito. Existe evidência empírica, bem como argumentos teóricos, que suportam esta análise 1. A relação banco-empresa está para além das repetidas operações de crédito. De facto, atualmente, a função dos bancos universais não se esgota no financiamento das empresas, pois procedem à emissão e transação de títulos, detêm participações no capital das empresas e gerem fundos de investimento. Desta forma, o papel dos bancos na governação das empresas pode ser de importância extrema 2. Para * As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsabilidade dos autores. ** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos. *** NOVA School of Business and Economics. **** Banco de Portugal; em exercício de funções na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia. 1 Para uma revisão da literatura ver Boot (2000). Outros artigos na mesma temática incluem Bharath et al. (2007). 2 Nos EUA é pouco frequente a participação dos bancos no capital das empresas, dadas as restrições históricas decorrentes da Lei Glass-Steagall, relativa aos bancos como proprietários de empresas não-financeiras. Outros países permitem que os bancos assumam participações em empresas não financeiras (para uma discussão deste tema ver, a título exemplificativo, Santos (1998)).

134 II 132 além das participações diretas no capital, um outro canal de influência crescente dos bancos sobre a governação empresarial consiste em participações via investidores institucionais. Nos últimos anos, muitos grupos bancários universais desenvolveram departamentos de gestão de ativos com elevados volumes de negócios, que incluem fundos de investimentos e fundos de pensões. Estes fundos têm a possibilidade, que efetivamente exercem, de investir nas mesmas empresas a quem os bancos concedem crédito e onde têm participações no capital. BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Este trabalho pretende examinar o efeito que o envolvimento dos bancos na governação das empresas portuguesas (enquanto acionistas), tem sobre a concessão de empréstimos. Esta questão assume atualmente importância adicional dada a relevância do crédito bancário para as empresas, em particular as de pequena e média dimensão que se têm relevado cruciais para o desenvolvimento económico de algumas economias. Neste sentido, começa por testar-se se um banco com informação privilegiada pode fazer um acompanhamento mais eficaz da empresa, mitigando potenciais restrições financeiras. De facto, com a informação adicional que obtêm como acionistas da empresa, os bancos podem mais facilmente monitorizar os empréstimos e obter informações privadas sobre a situação financeira da empresa. Caso a vantagem informacional seja partilhada com as empresas, por exemplo em termos de condições contratuais mais vantajosas, é expectável que um banco que tenha um papel na gestão de uma empresa conceda um maior volume de empréstimos. Em consequência, uma hipótese testável é a de que a um banco com informação privilegiada está associada uma maior probabilidade de capturar futuras operações de crédito bancário: Hipótese 1 (H1): A participação de um banco no capital de uma empresa aumenta a probabilidade de lhe conceder empréstimos. A segunda hipótese testada neste trabalho respeita à intensidade da relação, na medida em que se acredita que condiciona a escolha de um futuro credor. As empresas com uma relação mais intensa com o banco que tem informação privilegiada poderão ter mais facilidade em obter crédito desse banco. Além disso, uma relação muito forte com um determinado banco pode estar associado à ausência de alternativas de financiamento, devido a um problema de seleção adversa, tendo por isso a empresa que recorrer a empréstimos bancários a essa mesma instituição com mais frequência 3. Esta ideia é capturada na seguinte hipótese: Hipótese 2 (H2): Quanto mais intenso o relacionamento entre uma empresa e um banco, maior a probabilidade da empresa contratar futuros empréstimos com esse banco. Este estudo utiliza uma amostra de empréstimos a empresas não financeiras portuguesas (cotadas e não cotadas) para o período , com vista a analisar a relação entre a existência de participações dos bancos no capital das empresas e o acesso das mesmas ao crédito bancário. A amostra é dominada por empresas não cotadas, onde se acredita que a assimetria de informação e custos de agência da dívida são mais elevados. Os resultados indicam que as empresas tendem a obter mais empréstimos de bancos que têm participações no seu capital do que de bancos sem essas participações. Os bancos com participação no capital da empresa têm uma probabilidade aproximadamente 10 pontos percentuais maior de serem escolhidos para uma operação de crédito do que os bancos sem participação. Relativamente à hipótese 2, os resultados indicam que quer o número de relações bancárias quer o número de bancos acionistas, variáveis utilizadas para medir a intensidade da relação entre a empresa e o banco, contribuem para reduzir a probabilidade de um banco com participação realizar um empréstimo a essa empresa no futuro. Estas conclusões são consistentes com a hipótese 2. 3 Uma posição especial de um banco como um insider da empresa, pode-lhe permitir obter ganhos devido à sua posição privilegiada para aceder a informação sobre a empresa e potencialmente prendê-la devido à assimetria de informação entre a empresa e outros credores (Sharpe (1990) e Rajan (1992)).

135 O artigo está organizado da seguinte forma. Na Secção 2 é apresentada uma breve revisão da literatura, enquanto que na Secção 3 é realizada uma descrição dos dados e apresentadas as estatísticas descritivas. Na Secção 4 é apresentada a metodologia e os principais resultados empíricos. Finalmente, na última secção são apresentadas as principais conclusões deste trabalho. 2. Literatura A participação dos bancos no capital das empresas não-financeiras permite-lhes aceder a informação sobre a situação financeira das mesmas. De facto, as empresas podem ter mais incentivo para revelar informações adicionais ao banco, ao mesmo tempo que o banco tem maiores incentivos para a produção de informação (Boot (2000)). Sempre que um acionista pertence ao Conselho de Administração, ele terá acesso a informações adicionais que podem proporcionar algum controle sobre a empresa. Desta forma, as condições de acesso ao mercado de crédito poderão ser alteradas se o banco com participação na empresa for um potencial credor. 133 Artigos Diferentes autores estudaram o efeito de atividade creditícia passada sobre a probabilidade de um banco conceder empréstimos e ganhar mandatos de subscrição (Yasuda (2005), Bharat et al. (2007) e Drucker e Puri (2005)). Existe, porém, evidência mista sobre a influência dos bancos nas empresas através de participações no capital ou assentos no Conselho de Administração (Drucker e Puri (2006)). Utilizando dados alemães, Gorton e Schmid (2000) concluiram que os bancos utilizam as suas participações no capital, ou assentos no Conselho de Administração, para melhorar o desempenho da empresa, enquanto mais recentemente Dittman, Maug e Schneider (2007) encontraram evidência de que a representação do banco no Conselho de Administração das empresas não-financeiras não é necessariamente no melhor interesse das mesmas. No Japão, as empresas com maior proximidade aos bancos têm custos mais altos associados aos empréstimos (Weinstein e Yafeh (1998)); têm menor rendibilidade (Morck, Nakamura e Shivdasani (2000)); adotam políticas que favorecem os credores sobre os acionistas (Morck e Nakamura (1999)) e enfrentam taxas de subscrição de obrigações mais elevadas (Yasuda (2007)). Por sua vez, na Europa, Kracaw e Zenner (1998) encontram evidência de impacto negativo na capitalização bolsista de uma empresa aquando da obtenção de empréstimos bancários junto de bancos que pertencem ao Conselho de Administração. O presente trabalho contribui para a literatura das relações bancárias utilizando as posições de capital privilegiadas para captar a dependência da empresa face ao seu credor. Outros autores concentram-se em outras medidas da intensidade das relações empresa-banco, tais como a distância geográfica entre o banco e o mutuário (Petersen e Rajan (1994), Degryse e Ongena (2005)), a duração da relação (Petersen e Rajan (1994 ), Berger e Udell (1995), Degryse e Van Cayseele (2000) e Ongena e Smith (2001)) e a nacionalidade tanto do banco como do mutuário (Carey e Nini (2007) e Houston, Itzkowitz e Naranjo (2007)). A evidência aponta para uma maior disponibilidade do crédito, havendo contudo sinais mistos sobre os custos dos empréstimos. Berger e Udell (1995) concluíram que as empresas com relações mais longas pagam taxas de juro mais baixas nos seus empréstimos, enquanto Degryse e Van Cayseele (2000) concluíram que na Europa as condições dos contratos se deterioraram com a duração dos mesmos. Os nossos resultados sugerem que a participação dos bancos no capital das empresas não-financeiras tem implicações no mercado de crédito. Um banco com informação privilegiada é suscetível de ser o credor principal da empresa, o que pode gerar benefícios em termos de disponibilidade de crédito mas também pode condicionar a empresa. Este monopólio de informação poderá ser explorado mais tarde pelo banco com informação previligiada, extraindo rendas da empresa. Os resultados deste trabalho sugerem que os reguladores devem estar conscientes das implicações no mercado de crédito de políticas sobre a estrutura do sistema bancário, em particular no que respeita ao envolvimento dos bancos como acionistas das empresas não-financeiras.

136 II 134 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Uma preocupação associada aos nossos resultados é o facto de a presença de um banco como acionista ser endógena a questões de governação (Adams, Hermalin e Weisbach (2010)). Na verdade, um banco pode tornar-se insider em empresas que enfrentam dificuldades de acesso aos mercados de crédito e que têm custos mais elevados. Este problema é tratado no presente trabalho de diferentes formas. Numa primeira abordagem, a participação no capital dos bancos foi medida com um desfasamento temporal de um ano em relação ao momento em que se avalia a relação creditícia. Os resultados encontrados mantêm-se válidos caso a participação de capital seja medida com um desfasamento de três anos. O efeito positivo de uma participação de capital sobre a escolha do banco credor continua forte após serem incluídas diferentes co-variáveis. Além disso, os resultados são robustos à inclusão de efeitos fixos ao nível da empresa e banco. A última abordagem utilizada para fazer face às preocupações de endogeneidade consistiu na estimação de um modelo de variáveis instrumentais. 3. Dados Neste trabalho foi utilizada uma base de dados original, construída a partir de diferentes fontes: o Sistema Integrado de Estatísticas de Títulos, a Central de Responsabilidades de Crédito, a Central de Balanços, os Quadros de Pessoal e a Thomson Reuters. Os dados cobrem o período de 2001 a A análise foi restrita aos 20 maiores grupos bancários que operam em Portugal, utilizando como unidade de medida o crédito concedido a empresas ou as participações de capital. O Sistema Integrado de Estatísticas de Títulos reúne informação sobre as emissões de capital e de títulos de dívida das empresas não-financeiras, o que permite identificar as empresas portuguesas não-financeiras nas quais os grupos bancários têm participações de capital e das quais detêm títulos de dívida, bem como o valor de mercado das suas detenções. Esta base de dados também permite identificar se as posições de capital e/ou dívida são detidas pelo banco, por um fundo de investimento ou outra instituição pertencente ao mesmo grupo bancário. A Central de Responsabilidades de Crédito, gerida pelo Banco de Portugal, dispõe de informação mensal sobre os empréstimos concedidos a sociedades não financeiras por todas as instituições de crédito a operar em Portugal. Esta base de dados foi também utilizada para calcular o número de relações bancárias de cada empresa bem como a quota de mercado dos bancos, medida em função dos empréstimos concedidos a empresas não financeiras. A Central de Balanços, com informação contabilística das empresas portuguesas, permite obter informação sobre o valor do ativo, capital, resultados e juros da dívida. As duas outras fontes de informação - Quadros de Pessoal e Thomson Reuters permitiram obter informaçao adicional ao nível da empresa, completando a lista de variáveis a utilizar. Utilizando informação dos Quadros de Pessoal, que contém informação do inquérito (obrigatório) ao emprego efetuado anualmente pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, foi possível obter informação sobre a existência de acionistas estrangeiros na empresa. Informação sobre as empresas cotadas em bolsa é obtida na Thomson Reuters. Como neste trabalho se pretende testar se é mais provável um banco conceder um empréstimo a uma empresa onde tem uma participação acionista, face a outras onde não tem posição acionista, a base de dados foi expandida para considerar todas os pares possíveis empresa grupo bancário (para cada ano), tendo sido considerados os 20 maiores grupos bancários a operar em Portugal. Alguns desses pares são correspondidos, ou seja, um banco tem uma participação no capital de determinada empresa e também lhe concede crédito, enquanto outros pares não são correspondidos. Na amostra foram também incluídas empresas em que os bancos não têm participações, que constituem o grupo de controlo. Para o período amostral são analisados 20 grupos bancários e mais de empresas, tendo a amostra mais de observações. Estes números incluem apenas as empresas não-financeiras que, durante o período amostral, dispõem de informação na Central de Responsabilidades de Crédito e na Central de Balanços durante pelo menos quatro anos e cujo ativo total anual é de pelo menos dez milhões de euros.

137 O quadro 1 apresenta uma definição detalhada das variáveis utilizadas neste estudo. São apresentadas variáveis com informação ao nível da relação banco-empresa (tais como a existência de crédito e de participação no capital da empresa); variáveis com informação apenas ao nível da empresa, que permitem caracterizar as empresas na amostra; e uma variável ao nível do banco, que mede a quota de mercado de cada banco em termos do crédito concedido a empresas não financeiras. A nossa amostra compreende um total de 874 participações no capital das empresas, correspondendo a um total de 454 observações empresa-ano. No período amostral, os bancos mostraram ter participações acionistas em cerca de 60 empresas que, por sua vez, têm na maior parte dos casos 1 ou 2 grupos bancários como acionistas. As participações de capital são mais frequentemente detidas pelo banco do que por outras divisões não-bancárias do grupo bancário (ou seja, companhias de seguros, fundos de investimento, fundos de capital de risco e fundos de pensões). 135 Artigos O gráfico 1 apresenta uma caracterização do número de participações e o valor médio de cada participação, para os diversos bancos na amostra (a dimensão do círculo corresponde à quota de mercado de cada banco). Como seria de esperar, os bancos de maior dimensão caracterizam-se por um número de participações mais elevado, considerando as participações tomadas pelo banco ou outras instituições não-banco pertencentes ao grupo bancário. Por sua vez, entre os bancos de menor dimensão existe maior heterogeneidade ao nível do valor médio da participação acionista do que entre os bancos de maior dimensão. Na amostra global, o valor médio de uma participação de capital, medido em percentagem do valor contabilístico do capital, é de 12%, enquanto a mediana é de 5%. Quadro 1 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS A participação de capital é definida como o valor de mercado da participação em percentagem do valor contabilístico do capital se superior a 1 por cento. Caso seja inferior a 1 por cento, esta variável toma o valor 0. Variáveis com informação ao nível banco e empresa Empréstimos (dummy) Variável discricionária que assume o valor 1 se o grupo bancário concede empréstimos à empresa. Em caso contrário, assume o valor 0. Empréstimos (%) Empréstimos concedidos pelo grupo bancário em percentagem do valor total dos empréstimos bancários da empresa. Participação de capital (dummy) Variável discricionária que assume o valor 1 quando a participação de capital é estritamente positiva. Em caso contrário, assume o valor 0. Participação de capital (%) Valor da participação de capital, caso esta exista. Em caso contrário, o valor desta variável é 0. Detenção de dívida titulada (dummy) Variável discricionária que assume o valor 1 se o grupo bancário detém títulos de dívida da empresa. Em caso contrário, assume o valor 0. Detenção de dívida titulada (%) Valor dos títulos de dívida detidos pelo banco em percentagem da dívida total da empresa. Relação creditícia Empréstimo bancário concedido pelo grupo bancário a uma determinada empresa, em percentagem dos empréstimos totais concedidos a essa empresa, no final do ano anterior ao da concessão do empréstimo. Variáveis com informação ao nível da empresa Ativos Logaritmo do ativo total. Rendibilidade do investimento (ROI) EBITDA em percentagem do ativo total. Ativos fixos tangíveis Ativos fixos tangíveis em percentagem do ativo total. Cobertura de juros EBITDA em percentagem dos juros pagos. Endividamento Dívida financeira em percentagem do ativo total. Número de relações bancárias Número de grupos bancários que concedem empréstimos, ou linhas de crédito, a uma determinada empresa. As instituições financeiras que não pertencem a um grupo bancário são contabilizadas como um grupo bancário. Número de bancos acionistas Número de grupos bancários com participação de capital estritamente positiva numa determinada empresa. As instituições financeiras que não pertencem a um grupo bancário são contabilizadas como um grupo bancário. Obrigações Variável discricionária que assume o valor de 1 caso a empresa detenha dívida titulada. Em caso contrário, assume o valor de 0. Capital estrangeiro Percentagem de capital detido por estrangeiros. Cotação bolsa Variável discricionária que assume o valor de 1 se a empresa está cotada em bolsa. Em caso contrário, assume o valor de 0. Variáveis com informação ao nível do banco Quota de mercado do banco Quota de mercado do banco em termos de empréstimos concedidos às empresas nãofianceiras. Fontes: Quadros de Pessoal, Thomson Reuters e Banco de Portugal (Central de Balanços, Central de Responsabilidades de Crédito).

138 Gráfico 1 II CARATERIZAÇÃO DOS BANCOS COM PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL 136 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Número de participaçõ ões via banco e outras institutições do grupo bancário Vl Valor médio da participação tii Fonte: Cálculos dos autores. Nota: A dimensão dos círculos corresponde à quota de mercado de cada banco. O gráfico 2 pretende caracterizar a variável empréstimos assim como outras variáveis com informação ao nível da empresa. Esta caracterização é apresentada para dois grupos de empresas: as empresas nas quais os bancos têm participação acionista e as empresas sem participação acionista dos bancos. A variável empréstimos refere-se ao valor do empréstimo concedido pelo banco em percentagem dos empréstimos totais da empresa. Observamos que os empréstimos concedidos pelos bancos que são simultaneamente credores e acionistas da empresa representam, em média, 40% dos empréstimos totais da empresa. Tomando em consideração todas as observações empresa / banco quando o banco não tem uma participação acionista, o empréstimo médio é menor (25%), implicando que quando um banco tem uma participação no capital da empresa é mais suscetível de conceder um empréstimo à empresa. As empresas onde os bancos têm uma participação no capital são, em média, ligeiramente maiores, mas com menos ativos tangíveis do que as restantes empresas. As empresas onde os bancos têm uma Gráfico 2 ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS Percentagem com participação sem participação com participação sem participação com participação sem participação Empréstimo ROI Ativos fixos tangíveis com participação sem participação Endividamento com parti-secipação participação Capital estrangeiro 0 com participação sem participação Ativos (logaritmo) com participação sem participação Número relações bancárias Fonte: Cálculos dos autores. Notas: Os triângulos correspondem ao percentil 95 e os quadrados ao percentil 25. Os limites superior e inferior da zona a sombreado correspondem aos percentis 25 e 75, respectivamente. O traço corresponde ao valor médio. Todas as variáveis estão definidas no quadro 1.

139 participação no capital também são menos rentáveis e a importância dos acionistas estrangeiros é menor. Não se observa uma diferença significativa no número de relações bancárias entre os dois grupos de empresas. A análise de outras variáveis não apresentados neste artigo, mas disponível em Antão, Ferreira e Lacerda (2011), permite-nos concluir que as empresas onde os bancos têm uma participação no capital são mais propensas a serem financiadas por títulos de dívida e a serem cotadas em bolsa. Essas empresas também apresentam um rácio de cobertura de juros inferior Análise empírica Artigos Uma relação próxima entre um banco e uma empresa está geralmente associada a um melhor fluxo de informação, permitindo aos bancos uma melhor avaliação dos riscos subjacentes aos empréstimos. Na verdade, a proximidade entre o banco e a empresa contribui para ultrapassar os problemas de informação assimétrica. Neste cenário, o objetivo principal deste trabalho é testar se os bancos com participações acionistas na empresa são mais propensos a captar empréstimos futuros dessa mesma empresa. Para testar essa hipótese, para cada empresa e em cada ano, criou-se um conjunto de 20 potenciais financiadores, o que resulta em 20 pares banco-empresa por ano. Deste modo, a unidade de observação a utilizar neste trabalho corresponde ao trio empresa-banco-ano. Foram utilizados dois modelos, um modelo logit e um modelo de regressão linear (OLS), para a estimação da seguinte especificação: Empréstimos = q + a + j + b(participação de capital) igt,, t i g igt,, -1 + g(relação creditícia) + dx + ly + e igt,, it, -1 gt, igt,, (1) onde Empréstimos i,g,t corresponde no modelo logit a uma variável discricionária que assume o valor 1 se o banco g concede crédito à empresa i no ano t e 0 nas restantes situações, enquanto que no modelo OLS corresponde ao valor do crédito concedido pelo banco g à empresa i em percentagem dos empréstimos bancários totais da empresa no ano t. A variável Participação de capital i,g,t corresponde ou a uma variável discricionária que assume o valor 1 se o banco g tem uma participação no capital da empresa i no ano t, e 0 nas restantes situações; ou ao valor da participação de capital do banco g em percentagem do valor contabilístico da empresa i no ano t; esta variável está desfasada um período. A variável Relação creditícia i,g,t mede o valor do empréstimo bancário concedido pelo banco g à empresa i, em percentagem dos empréstimos totais concedidos a essa empresa, no final do ano anterior ao da concessão do empréstimo. X i,t corresponde a variáveis caracterizadoras da empresa i em cada ano t, referindo-se ao logaritmo do valor do ativo, rendibilidade do investimento, percentagem de ativos fixos tangíveis no ativo total, rácio de cobertura de juros, nível de endividamento, número de relações bancárias, número de bancos acionistas, existência de títulos de divida e existência de títulos de capital cotados em bolsa. Estas variáveis apresentam-se desfasadas um período. Y g,t corresponde à quota de mercado do banco g considerando apenas os créditos concedidos a empresas não financeiras no ano t. θ t, α i e φ g medem efeitos fixos ao nível do ano, empresa (ou setor de atividade) e banco, respetivamente. Foi estimada uma especificação com efeitos fixos para a indústria e para o ano, bem como outra especificação com efeitos fixos ao nível da empresa, banco e ano. Os desvios-padrão foram ajustados para múltiplas observações para a mesma empresa Resultados da hipótese 1 O quadro 2 reporta os resultados da estimação da equação (1), com vista a testar a hipótese de que a participação de um banco no capital de uma empresa aumenta a sua probabilidade de lhe conceder crédito no futuro. As colunas (1) a (4) reportam os resultados do modelo logit e as colunas (5) e (6) reportam os resultados da estimação por OLS. Com vista a eliminar relações espúrias foram excluídos os outliers, sendo-lhes atribuído o valor do percentil relevante para cada uma das variáveis. O coeficiente

140 da variável participação no capital é positivo e estatisticamente significativo em todas as especificações. O efeito também tem significado económico. II 138 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Os resultados do quadro 2 mostram que a relação positiva entre a participação no capital e a futura concessão de crédito é robusta a diferentes especificações. Em primeiro lugar, usámos uma variável contínua para a variável participação no capital, tendo posteriormente sido utilizada uma especificação OLS onde a variável dependente corresponde à percentagem dos empréstimos concedidos pelo banco à empresa, em percentagem de todos os empréstimos da empresa. Finalmente, estimamos uma especificação com efeitos fixos ao nível da empresa. Os resultados desta especificação mostram que as características das empresas não observadas e invariantes ao longo do tempo não parecem explicar os nossos resultados. Com base nos resultados para a variável participação no capital apresentados na coluna (1), a probabilidade de um banco conceder crédito a uma empresa na qual não tenha participação no capital é de 14%, enquanto a mesma probabilidade aumenta para 25% no caso de um banco com participação no capital da empresa (todas as restantes variáveis avaliadas na média). Assim, tudo o resto constante, a probabilidade de um banco conceder crédito a uma empresa aumenta cerca de 10.7 pontos percentuais se o banco tiver uma posição acionista na empresa. As outras variáveis explicativas têm um impacto significativo sobre a escolha do banco credor, apresentado o sinal previsto. O coeficiente da quota de mercado do banco é positivo e significativo. Utilizando a especificação apresentada na coluna (1), observa-se que o aumento da quota de mercado do percentil 5 ao percentil 95 implica um aumento na probabilidade do banco conceder crédito em 40 pontos percentuais. Adicionalmente, o coeficiente da variável que mede a existência de uma relação de crédito no passado tem um coeficiente positivo e significativo, o que indica que os relacionamentos passados aumentam a probabilidade de o mesmo banco ser escolhido para futuros empréstimos. O quadro 3 apresenta os resultados de testes de robustez incluindo variáveis de controlo adicionais. Começamos por controlar para a detenção de dívida titulada da empresa, isto é, se o banco que concede Quadro 2 RELAÇÃO ENTRE A CONCESSÃO DE CRÉDITO BANCÁRIO E PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL Variáveis (1) (2) (3) (4) (5) (6) Participação no capital (dummy) 0.695*** 0.411* 0.021*** (3.55) (1.87) (2.63) Participação no capital (%) 3.575*** 3.239*** 0.169*** (4.60) (2.79) (3.54) Quota de mercado do banco *** 9.589*** *** 9.580*** 0.343*** 0.343*** (78.58) (12.33) (78.72) (12.32) (8.39) (8.39) Relação creditícia *** 8.763*** *** 8.763*** 0.706*** 0.705*** (27.69) (29.49) (27.69) (29.48) (113.22) (113.10) Dummies setor de atividade Sim Não Sim Não Não Não Dummies ano Sim Sim Sim Sim Sim Sim Dummies banco Não Sim Não Sim Sim Sim Dummies empresa Não Sim Não Sim Sim Sim Modelo Logit Conditional logit Logit Conditional logit OLS OLS pseudo-r Efeito marginal (participação no capital) 0.107*** 0.437*** (2.93) (4.60) Número de observações Fonte: Cálculos dos autores. Notas: Nas colunas 1 a 4, a variável dependente é uma variável discricionária que toma o valor 1 se o grupo bancário concede crédito à empresa num determinado ano, e zero nas restantes situações. Nas colunas 5 e 6, a variável dependente corresponde à percentagem do crédito concedido pelo grupo bancário à empresa num determinado ano sobre o valor total dos créditos dessa empresa no mesmo ano. As restantes variáveis estão definidas no quadro 1. Em parêntesis apresentam-se as estatísticas t calculadas com desvios-padrão robustos e ajustadas para múltiplas observações para a mesma empresa. ***, ** e * indicam significância estatística com grau de confiança 1%, 5% e 10%.

141 Quadro 3 RELAÇÃO ENTRE A CONCESSÃO DE CRÉDITO BANCÁRIO E PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL ANÁLISE DE ROBUSTEZ Variáveis (1) (2) (3) (4) Participação de capital (dummy) 0.501* 0.021*** (2.11) (2.54) Participação de capital (%) 3.638*** 0.173*** (2.92) (3.32) Quota de mercado banco 9.208*** 9.142*** 0.342*** 0.339*** (10.21) (10.15) (6.61) (6.65) Relação creditícia 9.351*** 9.353*** 0.704*** 0.703*** (24.82) (24.81) (99.35) (100.86) Detenção de dívida titulada (dummy) 0.367** (2.43) (-0.07) Detenção de dívida titulada (%) (0.79) (0.44) Ativos 0.249*** 0.250*** 0.001* 0.001* (5.06) (5.10) (1.74) (1.73) Rendibilidade do investimento (0.21) (0.22) (-0.41) (-0.42) Ativos fixos tangíveis (1.58) (1.57) (-0.73) (-0.76) Cobertura de juros ** *** (-2.46) (-2.46) (-0.77) (-0.76) Endividamento (1.47) (1.50) (-0.83) (-0.93) Número de relações bancárias 0.145*** 0.150*** (18.40) (18.37) (-0.00) (0.01) Número de bancos acionistas (-0.20) (-0.21) (1.42) (1.40) Obrigações (1.05) (1.08) (0.63) (0.59) Capital estrangeiro (-0.91) (-0.91) (0.78) (0.77) 139 Artigos Dummies ano Sim Sim Sim Sim Dummies banco Sim Sim Sim Sim Dummies empresa Sim Sim Sim Sim Modelo Conditional logit Conditional logit OLS OLS pseudo-r Número de observações Fonte: Cálculos dos autores. Notas: Nas colunas 1 e 2, a variável dependente é uma variável discricionária que toma o valor 1 se o grupo bancário concede crédito à empresa num determinado ano, e zero nas restantes situações. Nas colunas 3 e 4, a variável dependente corresponde à percentagem do crédito concedido pelo grupo bancário à empresa num determinado ano sobre o valor total dos créditos dessa empresa no mesmo ano. As restantes variáveis estão definidas no quadro 1. Em parêntesis apresentam-se as estatísticas t calculadas com desvios-padrão robustos e ajustadas para múltiplas observações para a mesma empresa. ***, ** e * indicam significância estatística com grau de confiança 1%, 5% e 10%. o crédito bancário também detém dívida titulada emitida pela empresa. Consideramos uma variável discricionária e uma variável contínua, à semelhança do tratamento dado à variável participação no capital. Incluímos também outras variáveis ao nível da empresa, tais como a dimensão da empresa, rendibilidade, endividamento, juros, tangibilidade dos ativos, o número de relações bancárias, número de bancos acionistas, se a empresa tem dívida titulada e se tem acionistas estrangeiros. Os resultados são robustos, permanecendo o coeficiente da variável participação no capital positivo e significativo. A dimensão da empresa e o número de relações bancárias têm um efeito positivo e significativo sobre os empréstimos concedidos, enquanto a cobertura de juros tem um efeito negativo. Foram realizados outros testes de robustez. Verificámos a robustez dos resultados a uma definição alternativa de participação no capital impondo que existe participação só quando o valor de capital detido pelo banco exceder 5 por cento do valor contabilístico, em vez de 1 por cento. Para esta definição de

142 II 140 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 participação, concluímos que a probabilidade de um banco conceder crédito aumenta de 14% se o banco não tiver uma posição no capital da empresa para 28% se tiver uma posição no capital da empresa. De seguida, procedemos à estimação da equação (1) tendo em consideração qual a instituição no grupo bancário que detinha uma posição no capital, isto é, se a posição no capital era detida pelo banco ou por outras instituições dentro do grupo, tais como companhias de seguros ou fundos de investimento. Estas instituições, denominadas não-bancárias, não podem conceder crédito mas podem investir nas empresas. Além disso, os motivos para a realização deste investimento podem diferir entre diferentes instituições. Concluiu-se que a probabilidade de um banco conceder crédito à empresa aumenta em 14 pontos percentuais se tiver uma posição acionista detida pelo banco. O resultado é semelhante se a posição acionista for detida por instituições não-bancárias. Em geral, os nossos resultados são robustos a definições alternativas do tamanho da participação no capital e do tipo de instituições que detém a participação Resultados da hipótese 2 Nesta secção apresentam-se os resultados relativos à hipótese de que relações bancárias mais intensas têm um efeito sobre a probabilidade de um banco com participação no capital conceder um crédito à empresa. Do ponto de vista da empresa uma relação mais forte com o banco pode ser considerada valiosa, na medida em que pode contribuir para a redução das restrições financeiras que as empresas defrontam em períodos de menor atividade. De facto, os bancos podem estar mais dispostos a conceder empréstimos não rentáveis durante tempos difíceis para os clientes, no pressuposto que irão recuperar essas perdas ao longo de uma longa relação. Por outro lado, os bancos podem obter informações privilegiadas sobre as empresas e efetivamente prender esses clientes. Vários estudos empíricos usam a duração de uma relação bancária como uma medida da intensidade da relação. Petersen e Rajan (1994) e Berger e Udell (1995) concluíram que a duração da relação bancária afeta positivamente a disponibilidade de crédito. Este resultado é consistente com a ideia de que quanto maior o tempo da relação, maior é a troca de informações. Por outro lado, Ongena e Smith (2000) concluem que o valor de uma relação declina ao longo do tempo e que as empresas podem terminar essas relações precocemente, possivelmente para evitar ficarem presas ao banco. Além disso, a capacidade de um banco manter presa uma empresa é menor para as empresas com fontes alternativas de crédito bancário. Para testar a hipótese 2, procedeu-se à estimação dos modelos logit e OLS com efeitos fixos ao nível da empresa e do banco, incluindo para este efeito na equação (1) um termo de interação entre a variável participação no capital e variáveis ao nível da empresa. Foram utilizadas duas variáveis ao nível da empresa como proxy da intensidade da relação bancária: o número de relações bancárias e o número de grupos bancários acionistas da empresa. Espera-se que uma empresa com um maior número de relações bancárias e um maior número de bancos acionistas apresente uma menor probabilidade de selecionar o banco que tem uma posição no capital para a contração de créditos futuros. Em contrapartida, as empresas com um menor número de relações bancárias, ou menor número de bancos acionistas, são mais propensas a confiar no banco que tem uma posição no capital da empresa pois estão mais expostas a problemas de seleção adversa (lemmons problem), se não usarem esse banco para a obtenção de crédito bancário. O coeficiente do termo de interação é negativo e significativo em ambos os casos, sugerindo que a relação positiva entre participação do banco no capital e a concessão de crédito diminui com o número de relações bancárias e com o número de bancos acionistas (Quadro 4). Empresas com mais relações bancárias tendem a ser capazes de obter crédito de outros bancos, o que contribui para reduzir a capacidade do banco com participação no capital em manter presa a empresa. Por outro lado, os bancos com participação no capital em empresas com um número mais elevado de bancos como acionistas, poderão ter acesso a menos informação. Em ambos os casos, o efeito positivo entre posição no capital e a concessão futura de crédito diminui. Estes resultados são consistentes com a hipótese 2 mas deverão ser interpretados com algum cuidado na medida em que os efeitos marginais, assim como o seu nível de significância, estão dependentes dos valores assumidos pela variável.

143 Quadro 4 RELAÇÃO ENTRE A CONCESSÃO DE CRÉDITO E A INTENSIDADE DAS RELAÇÕES BANCÁRIAS Variáveis (1) (2) (3) (4) Número de relações bancárias Número de bancos acionistas Número de relações bancárias Número de bancos acionistas Participação de capital (dummy) 1.286*** 0.732*** 0.044** 0.033*** (3.37) (2.58) (2.52) (2.88) Participação de capital x variável da empresa *** *** ** (-3.20) (-2.76) (-1.65) (-2.30) Variável da empresa 0.175*** (23.16) (0.26) (-0.06) (-0.39) Quota de mercado do banco 9.031*** 8.615*** 0.343*** 0.343*** (11.64) (12.37) (8.39) (8.39) Relação creditícia 8.623*** 8.762*** 0.706*** 0.706*** (29.92) (29.49) (113.19) (113.17) 141 Artigos Dummies ano Sim Sim Sim Sim Dummies banco Sim Sim Sim Sim Dummies empresa Sim Sim Sim Sim Modelo Conditional logit Conditional logit OLS OLS pseudo-r Número de observações Fonte: Cálculos dos autores. Notas: Nas colunas 1 e 2, a variável dependente é uma variável discricionária que toma o valor 1 se o grupo bancário concede crédito à empresa num determinado ano, e zero nas restantes situações. Nas colunas 3 e 4, a variável dependente corresponde à percentagem do crédito concedido pelo grupo bancário à empresa num determinado ano sobre o valor total dos créditos dessa empresa no mesmo ano. As restantes variáveis estão definidas no quadro 1. Em parêntesis apresentam-se as estatísticas t calculadas com desvios-padrão robustos e ajustadas para múltiplas observações para a mesma empresa. ***, ** e * indicam significância estatística com grau de confiança 1%, 5% e 10% Endogeneidade Os problemas de endogeneidade são omnipresentes em pesquisas empíricas sobre governo das sociedades. No nosso trabalho, muitas razões podem ser indicadas para que a participação no capital das empresas e a escolha do banco credor possa ser definida conjuntamente. Este problema potencial foi abordado usando métodos com efeitos fixos ao nível da empresa que controlam para fontes não observadas de heterogeneidade entre as empresas. Os métodos com efeitos fixos resolvem problemas de determinação conjunta na qual uma variável não observada e invariante no tempo determina simultaneamente a escolha do banco credor e a participação no capital. É também equivalente a olhar para alterações na participação no capital na mesma empresa. Os resultados de métodos com efeitos fixos contribuem significativamente para eliminar situações em que variáveis omitidas são fontes de endogeneidade. Na medida em que apenas os efeitos de alteração na participação do capital em determinada empresa são considerados, as variáveis omitidas específicas à empresa não explicam a relação observada entre escolha do banco credor e a participação no capital. Outra abordagem para resolver problemas de endogeneidade consiste na utilização da variável participação no capital desfasada um período. Fizemo-lo em todas as nossas estimativas. No entanto, pode-se pensar que desfasamento de um ano não é suficiente para responder à preocupação de determinação conjunta. Assim, estimamos os modelos logit e OLS da equação (1) com efeitos fixos ao nível da empresa e do banco, com a variável participação no capital com um desfasamento de três anos. Foi também utilizada a metodologia de mínimos quadrados em 2 passos (2SLS) para abordar a questão da endogeneidade potencial. Esta metodologia permite tratar simultaneamente as questões relativas a variáveis omitidas e causalidade reversa. Para avaliar a robustez de nossas conclusões a partir da metodologia de variáveis instrumentais 2SLS, recorremos a uma estratégia empírica adicional que envolve estimar o efeito de uma variável endógena discricionária (participação no capital) em outra variável endógena contínua (empréstimo concedido pelo banco em percentagem dos empréstimos totais da empresa). Esta

144 II 142 configuração pode ser estimada utilizando o modelo de treatment effects. Os detalhes desta análise estão disponíveis em Antão, Ferreira e Lacerda (2011). O coeficiente é positivo e significativo. Assim, depois de controlar para a existência de endogeneidade em ambos as metodologias, 2SLS e treatment effects, mantém-se o resultado que bancos com participações nas empresas apresentam maior probabilidade de virem a conceder crédito a essa empresa no futuro. BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio Conclusão Este trabalho procura medir a relação entre a participação dos bancos no capital das empresas e a concessão de crédito bancário, nomeadamente, na escolha do banco credor. Para os credores, o estabelecimento de uma ligação via capital, permite-lhes produzir informação e processar a oferta de empréstimos futuros de forma mais eficiente. Por conseguinte, é mais provável que um banco com uma participação no capital da empresa garanta empréstimos futuros a essa empresa. Usando uma amostra de empresas portuguesas, cotadas e não cotadas em bolsa, conclui-se que a existência de uma participação no capital da empresa, por parte de um banco, aumenta significativamente, tanto estatística quanto economicamente, a probabilidade desse banco conceder empréstimos a essa empresa no futuro. Os resultados não são explicados pela reputação do banco, pela existência de relações creditícias no passado, e uma variedade de características da empresa, tais como a dimensão da empresa, o desempenho, composição acionista e endividamento, entre outros. Além disso, os resultados são robustos à inclusão de efeitos fixos ao nível da empresa e do banco. A especificação de efeitos fixos ao nível da empresa controla para fontes não observadas de heterogeneidade entre as empresas e resolve problemas associados ao facto de uma variável não observada e invariante no tempo determinar simultaneamente a escolha do credor e a participação no capital da empresa. Os resultados sugerem que a participação dos bancos como acionistas em empresas não-financeiras tem implicações no mercado de crédito. Um banco com informação privilegiada é suscetível de ser o principal credor da empresa, o que pode gerar benefícios para a empresa em termos de disponibilidade de crédito, mas também pode limitar o seu recurso a outros bancos.

145 Referências Adams, R., Hermalin, B. e M. Weisbach, 2010, The role of boards of directors in corporate governance: A conceptual framework and survey, Journal of Economic Literature 48, Antão, P., Ferreira, M. e Lacerda, A., 2011, Banks Corporate Control and Relationship Lending: Evidence from Retail Loans, Banco de Portugal, Working Paper n. 17. Berger, A. e G. Udell, 1995, Relationship lending and lines of credit in small firm finance, Journal of Business 68, Artigos Bharath, S., Dahiya, S., Saunders, A. e A Srinivasan, 2007, So what do I get? The bank s view of lending relationships, Journal of Financial Economics 85, Boot, A., 2000, Relationship banking: What do we know? Journal of Financial Intermediation 9, Carey, M. e G. Nini, 2007, Is the corporate loan market globally integrated? A pricing puzzle, Journal of Finance 62, Degryse, H. and S. Ongena, 2005, Distance, Lending Relationships, and Competition, Journal of Finance 60, Degryse, H. e P. Van Cayseele, 2000, Relationship lending within a bank-based system: Evidence from european small business data, Journal of Financial Intermediation 9, Dittman, I., Maug, E. e C. Schneider, 2007, Bankers on the boards of German firms: What they do, what they are worth, and why they are (still) there, Working Paper, European Corporate Governance Institute. Drucker, S. e M. Puri, 2005, On the benefits of concurrent lending and underwriting, Journal of Finance 60, Drucker, S. e M. Puri, 2006, Banks in capital markets: A survey, in Empirical Corporate Finance, ed. by Espen Eckbo, Handbooks in Finance, Elsevier/North-Holland Publishers. Gorton, G. e F. Schmid, 2000, Universal banking and the performance of german firms, Journal of Financial Economics 58, Houston, J., Itzkowitz, J. e A. Naranjo, 2007, Borrowing beyond borders: The geography and pricing of syndicated bank loans, Working Paper, University of Florida. Kracaw, W. e M. Zenner, 1998, Bankers in the board room: Good news or bad news? working paper, University of North Carolina. Morck, R. e M. Nakamura, 1999, Banks and corporate control in Japan, Journal of Finance 54, Morck, R., Nakamura, M. e A. Shivdasani, 2000, Banks, ownership structure, and firm value in Japan, Journal of Business 73, Ongena, S. e D. Smith, 2000, What determines the number of bank relationships? Cross-country evidence, Journal of Financial Intermediation 9, Ongena, S. e D. Smith, 2001, The duration of bank relationships, Journal of Financial Economics 61, Petersen, M. e R. Rajan, 1994, The benefits of firm-creditor relationships: Evidence from small business data, Journal of Finance 49, Rajan, R., 1992, Insiders and outsiders: The choice between relationship and arm s length debt, Journal of Finance 47,

146 Santos, J., 1998, Banking and Commerce: How does the United States compare to other countries?, Federal Reserve Bank of Cleveland Economic Review 34, II 144 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 Sharpe, S., 1990, Asymmetric information, bank lending and implicit contracts: A stylized model of customer relationships, Journal of Finance 45, Weinstein, D. e Y. Yafeh, 1998, On the costs of a bank-centered financial system: Evidence from the changing main bank relations in Japan, Journal of Finance 53, Yasuda, A., 2005, Do bank relationships affect the firm s underwriter choice in the corporate bond underwriting?, Journal of Finance 60, Yasuda, A., 2007, Bank relationships and underwriter competition: Evidence from Japan, Journal of Financial Economics 86,

147 ESTIMATIVA DO IMPACTO DE FUSÕES BANCÁRIAS: UMA APLICAÇÃO AO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS * 145 Diana Bonfim** Pedro Pita Barros*** Moshe Kim**** Nuno C. Martins***** Artigos resumo A maior parte dos estudos de avaliação do impacto de fusões bancárias analisa o impacto diferencial destes processos sobre diferentes variáveis que caracterizam o sistema bancário. Contudo, esta metodologia apresenta limitações importantes, ignorando mudanças endógenas na estrutura de mercado após as fusões. Neste artigo analisa-se o impacto nos mercados de crédito de um conjunto de fusões bancárias no sistema bancário português tendo em consideração a metodologia habitualmente utilizada, bem como uma metodologia alternativa assente na estimação de um modelo estrutural, que permite a derivação de um cenário contrafactual. Neste contexto, torna-se possível avaliar, com base neste modelo estrutural, o que teria acontecido se as fusões não tivessem ocorrido. Observa-se que estas fusões contribuíram para uma diminuição das taxas de juro dos empréstimos superior ao que se poderia antecipar. O fluxo de crédito concedido a empresas não financeiras assumiu um montante superior ao sugerido pela combinação do equilíbrio prevalecente antes das fusões com o enquadramento exógeno posterior. Em contrapartida, o fluxo de empréstimos a particulares assumiu uma magnitude inferior ao esperado, ainda que o crédito concedido a este setor tenha registado um crescimento significativo durante o período em estudo. 1. INTRODUÇÂO Durante as últimas décadas prevaleceu uma tendência de consolidação global no sistema bancário (Boot, 1999, Berger et al., 2004, Uhde e Heimeshoff, 2009). Em Portugal, o aumento da concentração bancária foi especialmente significativo no ano Naquele ano ocorreram várias fusões e aquisições, envolvendo quatro dos sete maiores grupos bancários em atividade nesse período (incluindo um grande banco não doméstico). A magnitude dessas fusões e aquisições deu origem a mudanças profundas na estrutura do sistema bancário português, com implicações sobre o equilíbrio nos mercados de crédito. Neste artigo é analisado o impacto desta vaga de fusões no sistema bancário português, utilizando diferentes metodologias econométricas. Uma das abordagens mais comuns na literatura sobre este tema consiste na estimação do impacto diferencial das fusões. Esta abordagem baseia-se essencialmente na comparação de diversas variáveis relevantes nos períodos anteriores e posteriores às fusões. Contudo, esta metodologia apresenta limitações significativas, uma vez que ignora mudanças endógenas na estrutura * Os autores agradecem os comentários e sugestões de Nuno Alves, Mário Centeno, Ana Cristina Leal e Nuno Ribeiro. As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. ** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos e ISEG-UTL. *** NOVA School of Business and Economics. **** Universitat Pompeu Fabra e University of Haifa. ***** O trabalho subjacente a este artigo foi iniciado quando Nuno Martins colaborava com o Banco de Portugal e com a Universidade Nova de Lisboa.

148 II 146 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 do mercado subjacentes ao equilíbrio no sistema bancário após as fusões. Num artigo recente, Barros et al. (2010) propõem uma nova metodologia que permite ultrapassar essas limitações metodológicas. Utilizando um modelo estrutural do mercado de crédito, esta nova metodologia permite o desenvolvimento de uma análise contrafactual das fusões, combinando o equilíbrio de mercado prevalecente antes das fusões com o enquadramento subjacente ao período posterior, tendo em consideração a propagação de alterações endógenas na estrutura de mercado. Tendo por base este procedimento, torna-se possível estimar os fluxos de crédito e as taxas de juro que seriam observados se o equilíbrio prevalecente antes das fusões não se tivesse alterado, ou seja, se as fusões não tivessem ocorrido. Neste artigo aplica-se a metodologia apresentada em Barros et al. (2010) para estudar a vaga de fusões observada no sistema bancário português em A avaliação de impacto incide sobre os fluxos de crédito e as taxas de juro de empréstimos, diferenciado o impacto sobre particulares e sociedades não financeiras. São identificadas diferenças importantes no impacto das fusões e aquisições de bancos sobre os empréstimos concedidos a particulares e a empresas, observando-se que as fusões deverão ter aumentado o volume de crédito concedido a empresas e, em contrapartida, restringido de alguma forma a concessão de empréstimos a particulares, tendo em consideração a comparação com o cenário contrafactual. Deste modo, em termos globais, os particulares podem ter enfrentado algumas restrições no acesso ao crédito após este período de fusões e aquisições, ainda que os empréstimos a particulares tenham registado taxas de crescimento bastante significativas durante este período. Em contraste, os empréstimos concedidos a sociedades não financeiras parecem ter assumido montantes superiores ao que poderia ter sido previsto antes das fusões. Para além disso, a vaga de fusões induziu uma redução das taxas de juro mais forte do que o que seria expectável, beneficiando deste modo os clientes bancários. Este artigo encontra-se estruturado da seguinte forma. Na secção 2 é apresentada uma breve revisão da literatura sobre a avaliação do impacto de fusões bancárias e na secção 3 descrevem-se os dados utilizados na análise empírica. Na secção 4 apresenta-se uma análise das mudanças na estrutura do sistema bancário português e europeu. Na secção 5 descreve-se sucintamente a metodologia de análise contrafactual proposta por Barros et al. (2010) e na secção 6 apresentam-se os principais resultados sobre o impacto da vaga de fusões no mercado de crédito português. A secção 7 resume as principais conclusões deste artigo. 2. REVISÃO DA LITERATURA Existe uma vasta literatura sobre os benefícios potenciais para os bancos decorrentes de fusões e aquisições. Por exemplo, Focarelli et al. (2002) constatam que as fusões têm um efeito positivo sobre a rendibilidade, ainda que também possam conduzir a um aumento dos custos com pessoal. Adicionalmente, estes autores concluem que as aquisições geram uma redução a longo prazo na concessão de empréstimos, sobretudo para as pequenas empresas, e uma redução permanente nos empréstimos de má qualidade, o que afeta positivamente a rendibilidade a longo prazo. Tendo por base a análise de fusões europeias, Altunbas e Marqués (2008) verificam que as melhorias no desempenho dos bancos após as fusões são mais significativas se existirem similitudes estratégicas entre os bancos envolvidos nas operações. As fusões e aquisições também originam mudanças importantes na estrutura do mercado e na concorrência, conforme discutido por Berger et al. (2004), Cerasi et al. (2010), Craig e Santos (1997) ou Gowrisankaran e Holmes (2004). Alguns autores também concluem que as fusões podem permitir a redução de custos e melhorar a alocação de recursos. Por exemplo, Carbó Valverde e Humphrey (2004) argumentam que as fusões deverão reduzir os custos suportados pelos bancos, aumentar a rendibilidade dos ativos e melhorar a utilização dos recursos em geral. Estes autores também constatam que as fusões têm uma maior probabilidade de sucesso se envolverem um montante significativo (efeito escala) e se forem iniciadas por um banco que tenha estado anteriormente envolvido num processo semelhante (efeito de aprendizagem). Para além disso, as fusões podem gerar ganhos de informação que melhoram a capacidade dos bancos na seleção e discriminação de clientes (veja-se, por exemplo, Hauswald e Marquez, 2006, ou Panetta et al., 2009).

149 Adicionalmente, as fusões bancárias podem ter implicações importantes para a estabilidade financeira, uma vez que dão origem a alterações no poder de mercado, concentração e concorrência no sistema bancário. Alguns autores consideram que existe um trade-off entre concorrência e estabilidade financeira, o que pode justificar a intervenção das autoridades de supervisão bancária e de concorrência nalgumas situações. Chan et al. (1986) demonstram que a intensificação da concorrência no sistema bancário implica uma erosão das margens que os bancos podem obter através da avaliação adequada da qualidade dos devedores. Esta redução dos incentivos para uma seleção adequada dos devedores conduz necessariamente a uma deterioração global da qualidade das carteiras de empréstimos dos bancos. Hellman et al. (2000) e Repullo (2004) apresentam resultados teóricos que complementam a evidência sobre este trade-off entre o poder de mercado e o risco dos bancos. O principal argumento desta linha de investigação baseia-se no facto de o poder de mercado estar diretamente relacionado com o valor dos bancos, limitando assim os incentivos à assunção de riscos. Empiricamente, Beck et al. (2006) constatam que as crises bancárias são menos prováveis quando o sistema bancário regista um nível de concentração mais elevado. Craig e Santos (1997) também mostram que a consolidação no setor bancário nos Estados Unidos permitiu uma maior diversificação do risco, diminuindo assim o risco individual de cada banco. No entanto, os autores referem que esta diminuição do risco do sistema bancário pode ser limitada por um aumento do risco moral associado ao problema too-big-to-fail. Com efeito, se os bancos acreditarem que existe uma elevada probabilidade de apoio público em situação de crise, podem existir incentivos para a tomada de riscos excessivos. Jiménez et al. (2007) também obtêm evidência empírica que apoia esta perspetiva de trade-off. Estes autores observam uma relação negativa entre o poder de mercado no mercado de crédito dos bancos espanhóis e a assunção de riscos, avaliada pelo rácio de incumprimento de empréstimos a empresas. 147 Artigos Contudo, alguns autores têm contestado esta perspetiva tradicional de concorrência-fragilidade, apresentando uma teoria alternativa de concorrência-estabilidade, conforme discutido por Berger et al. (2009). Por exemplo, Boyd e De Nicoló (2005) investigam a relação teórica entre a concorrência bancária e a assunção de riscos e identificam várias limitações nos modelos do paradigma concorrência-fragilidade. De acordo com estes autores, estes modelos não conseguem identificar mecanismos importantes de incentivos ao risco, que encorajam os bancos a assumir mais riscos quando os mercados se tornam mais concentrados. Mais especificamente, quando existe menos concorrência os bancos podem aumentar as rendas cobrando juros mais altos aos seus clientes, o que pode implicar por sua vez uma maior tomada de riscos por parte dos devedores, traduzida num aumento das taxas de incumprimento. Allen e Gale (2004), Carletti e Hartmann (2002) e Carletti et al. (2007) também apresentam argumentos teóricos que desafiam a visão tradicional de concorrência-fragilidade, demonstrando que a concorrência bancária pode, sob determinadas condições, promover a estabilidade financeira. Adicionalmente, Uhde e Heimeshoff (2009) apresentam evidência empírica sobre o efeito negativo da concentração bancária na solidez financeira dos bancos, utilizando dados relativos a bancos europeus entre 1997 e De um modo global, as interações entre a concorrência bancária e a estabilidade financeira são complexas e multifacetadas, tal como discutido por Allen e Gale (2004). Num artigo recente, Berger et al. (2009) mostram empiricamente que as duas visões acima descritas não são necessariamente incompatíveis. Os resultados destes autores, baseados em dados de bancos para 23 economias avançadas, sugerem que os bancos com mais poder de mercado se encontram geralmente menos expostos a risco em termos globais (o que é consistente com a perspetiva concorrência-fragilidade ). Contudo, estes autores também observam que o poder de mercado aumenta o risco da carteira de crédito, o que é consistente com o paradigma concorrência-estabilidade. Também é importante avaliar o impacto das fusões de bancos sobre os clientes bancários. Vários autores concluem que as fusões bancárias podem afetar negativamente os devedores, principalmente as pequenas e médias empresas que se encontram geralmente dependentes de financiamento bancário e que têm um número limitado de relações bancárias. Por exemplo, Bonaccorsi di Patti e Gobbi (2007) constatam que

150 II 148 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 as fusões de bancos têm um efeito negativo sobre o crédito concedido a empresas italianas, sobretudo se a relação entre o banco e a empresa não tiver continuidade na sequência da fusão (embora este efeito seja relevante apenas durante os três anos após a fusão). No entanto, este efeito adverso não é suficiente para gerar um impacto negativo sobre o investimento ou a sensibilidade dos fluxos de caixa das empresas. Outros autores encontram resultados contraditórios quanto ao impacto das fusões bancárias. Por exemplo, utilizando também uma amostra de empresas italianas, Sapienza (2002) conclui que as fusões no mesmo mercado beneficiam os clientes se estas envolverem bancos com poder de mercado relativamente limitado. No entanto, à medida que a quota de mercado do banco adquirido aumenta, os ganhos de eficiência são compensadas por um aumento do poder de mercado, o que poderá implicar uma diminuição na oferta de crédito, especialmente para pequenos devedores. Noutro estudo, Scott e Dunkelberg (2003) analisam os resultados de um inquérito a empresas norte-americanas e verificam que as fusões bancárias não afetam a oferta de crédito ou as taxas de juro, ainda que exista alguma deterioração das condições dos empréstimos não relacionadas com os preços, tais como taxas e comissões para serviços específicos. Degryse et al. (2010) constatam que o impacto de uma fusão bancária é mais negativo para os devedores mais pequenos e para os que têm uma única relação bancária. Para além disso, os clientes do banco adquirido tendem a ser mais prejudicados pela fusão do que os do banco adquirente. Finalmente, Karceski, et al. (2005) concluem que as fusões podem ter impactos sobre os devedores para além dos observados sobre a concessão de crédito e taxas de juro. Estes autores mostram que as fusões podem de facto ter consequências importantes sobre o valor das empresas, observando que os clientes dos bancos adquirentes normalmente beneficiam da fusão, enquanto as empresas com empréstimos do banco adquirido sofrem um impacto de sentido contrário. Existe menos evidência disponível sobre o impacto das fusões bancárias nos depositantes. Alguns resultados empíricos para empresas italianas sugerem que as fusões bancárias podem ter consequências positivas para os depositantes no longo prazo, ainda que possam existir alguns efeitos negativos no curto prazo (Focarelli e Panetta, 2003). No entanto, Craig e Dinger (2009), utilizando dados para os Estados Unidos, obtêm um resultado oposto, não observando qualquer efeito positivo das fusões a longo prazo nas taxas de juro de depósitos. Estes resultados são consistentes com a investigação anterior de Prager e Hannan (1998). 3. DADOS Neste artigo a análise empírica do impacto de um conjunto de fusões e aquisições no sistema bancário português tem por base três fontes de dados diferentes. Em primeiro lugar, a maior parte dos dados tem por base as Estatísticas Monetárias e Financeiras do Banco de Portugal. Utilizando dados individuais para cada banco é possível analisar trajetórias específicas para taxas de juro e fluxos de crédito, distinguindo explicitamente os particulares e as sociedades não financeiras. As Estatísticas Monetárias e Financeiras resultam de um reporte mensal obrigatório que envolve todas as instituições financeiras que operam no país, incluindo informações de final do período sobre saldos vivos e fluxos de crédito a particulares e a sociedades não financeiras 1. Os dados relativos a taxas de juro referem-se a novas operações em cada período. A segunda base de dados utilizada inclui informações sobre a localização dos balcões dos bancos. Os dados são compilados pelo Departamento de Supervisão Prudencial do Banco de Portugal. Sempre que um banco estabelece uma sucursal é necessário que tal seja reportado ao supervisor, assim como quando existe uma alteração de morada de um balcão, um encerramento ou qualquer outra mudança relevante. 1 Para mais detalhes sobre as Estatísticas Monetárias e Financeiras ver Dominios%20Estatisticos/Paginas/EstatisticasMonetariaseFinanceiras.aspx.

151 Finalmente, a terceira base de dados inclui características regionais, mais precisamente estatísticas demográficas trimestrais por distrito em Portugal, compiladas pelo INE. Em termos globais, os dados assumem uma frequência trimestral, referindo-se ao período compreendido entre o primeiro trimestre de 1995 e o terceiro trimestre de Cada observação corresponde a um banco num dado trimestre FUSÕES NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS Artigos Durante as últimas duas décadas observou-se uma significativa consolidação do sistema bancário a nível global (Boot, 1999, Berger et al., 2004, Uhde e Heimeshoff, 2009). Os bancos tornaram-se maiores por via da aquisição e/ou fusão com outros bancos, tanto a nível nacional como internacional. Na União Europeia esta tendência foi apoiada em parte pela crescente integração financeira e económica entre Estados-membros. Em particular, o alargamento da União Europeia aos países da Europa Central e de Leste ofereceu a alguns grupos bancários oportunidades atrativas para a expansão da sua atividade, mesmo que ainda possam persistir algumas barreiras para uma maior consolidação na Europa, conforme discutido por Berger et al. (2001). A tendência de consolidação no sistema bancário europeu encontra-se ilustrada nos gráficos 1 e 2. Tanto a quota de mercado das 5 maiores instituições de crédito como o índice de Herfindahl para os ativos totais das instituições de crédito apresentam uma tendência crescente ao longo da última década 2. O número de balcões por 1000 habitantes diminuiu significativamente entre 1997 e 2005, ainda que tenha ocorrido alguma reversão desta tendência nos anos mais recentes (Gráfico 3). O número total de operações de fusão e aquisição de instituições de crédito na União Europeia foi bastante elevado no período imediatamente após a criação da área do euro (Gráfico 4), tendo diminuído desde 2000 (BCE, 2007) 3. A maior parte das operações envolveu apenas instituições de crédito domés- Gráfico 1 Gráfico 2 CR5 - QUOTA DE MERCADO DAS 5 MAIORES INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NO TOTAL DOS ATIVOS EM PERCENTAGEM ÍNDICE DE HERFINDAHL PARA OS ATIVOS TOTAIS DAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO PT Média ponderada UE PT Média ponderada UE Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking setor, novembro 2002, novembro 2003; EU Banking structures outubro 2005, setembro 2010) e cálculos dos autores. Nota: Dados não consolidados. 2 Estes valores referem-se a dados de bancos não consolidados. Possivelmente, os valores em base consolidada poderiam apontar para uma tendência de concentração mais forte. 3 Apesar da diminuição do número de operações durante a última década, o valor das transações aumentou entre 2006 e 2008, depois de ter diminuído significativamente entre 2001 e 2005 (BCE, 2010).

152 Gráfico 3 Gráfico 4 II NÚMERO DE BALCÕES DE INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO POR 1000 HABITANTES NÚMERO TOTAL DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DE INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NA UNIÃO EUROPEIA 150 BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio PT UE Área do euro Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking setor, novembro 2002, novembro 2003; EU Banking structures outubro 2005, setembro 2010) e cálculos dos autores. ticas (Gráfico 5), contribuindo desta forma para explicar o aumento dos indicadores de concentração observado durante este período (Gráficos 1 e 2). O número de operações foi bastante significativo em muitos países europeus durante este período, conforme ilustrado no gráfico 6. O número absoluto de operações foi particularmente elevado na Alemanha, Itália, França, Espanha e Reino Unido. Contudo, quando avaliado em percentagem do PIB, o número de fusões e aquisições foi mais notável no Luxemburgo e, em menor grau, na Itália, Grécia e Portugal Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, novembro 2003; EU Banking structures outubro 2005) e cálculos dos autores. De facto, as fusões no sistema bancário português durante este período deram origem a mudanças importantes na estrutura do sistema bancário. As fusões e aquisições de bancos portugueses ocorreram Gráfico 5 PERCENTAGEM DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DOMÉSTICAS ENVOLVENDO INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NA UNIÃO EUROPEIA EM PERCENTAGEM Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, novembro 2003; EU Banking structures outubro 2005) e cálculos dos autores.

153 Gráfico 6 NÚMERO TOTAL DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DE INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO BE DK DE GR ES FR IE IT LU NL AT PT FI SE UK 151 Artigos Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, novembro 2003; EU Banking structures outubro 2005) e cálculos dos autores. sobretudo no ano 2000, tendo envolvido vários dos maiores grupos bancários. Em março de 2000, o grupo Banco Pinto e Sotto Mayor (BPSM), que incluía os bancos BPSM, Banco Totta e Sotto Mayor Inv (BTSM Inv), Banco Totta e Açores (BTA) e Crédito Predial Português (CPP), foi extinto. O banco BPSM foi adquirido pelo Banco Comercial Português (BCP). Simultaneamente, o BTSM Inv foi adquirido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o CPP foi adquirido pelo BTA. No final do ano, o grupo bancário espanhol Santander adquiriu o BTA. Estas operações envolveram diretamente quatro dos sete maiores grupos financeiros desse período, originado mudanças profundas na estrutura do sistema bancário português. A magnitude dessas alterações é claramente ilustrada nos gráficos 1 e 2, onde se observa um aumento significativo da concentração no sistema bancário português. Apesar deste aumento, o gráfico 7 demonstra que o sistema bancário português não apresenta um índice de concentração muito elevado, por comparação com outros países europeus. A evidência disponível sugere que as mudanças substanciais que ocorreram em 2000 podem ter tido consequências importantes no mercado de crédito português, nomeadamente na concessão de crédito, nas taxas de juro cobradas e nos efeitos estratégicos entre agentes financeiros. No quadro 1 apresentam-se algumas estatísticas descritivas que permitem caracterizar o sistema bancário português durante o período analisado ( ) 4. Em termos globais, a base de dados inclui 71 bancos com atividade durante pelo menos um trimestre ao longo do período de análise. Os bancos foram agrupados em oito grandes grupos financeiros: consideram-se os sete maiores grupos financeiros, que incluem 26 bancos, e um grupo adicional, que inclui os restantes bancos 5. Quatro destes grupos bancários estiveram diretamente envolvidos na vaga de fusões do ano O quadro 1 apresenta um conjunto de estatísticas descritivas para o saldo vivo e fluxos de crédito, bem como para outras variáveis, tendo em consideração três conjuntos diferentes de bancos: i) os quatro grandes grupos bancários envolvidos na vaga de fusões; ii) os três grandes grupos bancários que não estiveram envolvidos nas fusões e iii) os outros bancos mais pequenos que não estiveram envolvidos neste 4 Uma análise mais detalhada do sistema bancário português durante este período pode ser consultada em Antão et al. (2009). 5 Conforme discutido por Park e Pennacchi (2009), as fusões bancárias afetam de forma distinta bancos pequenos e grandes, o que justifica a sua análise diferenciada.

154 II Gráfico 7 QUOTA DE MERCADO DAS CINCO MAIORES INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO 2002 ÍNDICE HERFINDAHL BANCO DE PORTUGAL RELATÓRIO DE ESTABILIDADE FINANCEIRA Maio 2011 quartil 4 quartil 3 quartil 2 quartil 1 sem dados quartil 4 quartil 3 quartil 2 quartil 1 sem dados Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, novembro 2003) e cálculos dos autores. Nota: As diferentes cores referem-se aos quatro quartis das distribuições da quota de mercado das 5 maiores instituições de crédito (esquerda) e do índice Herfindahl para os ativos totais de instituições de crédito (direita). processo. A quota do mercado de crédito média de um banco integrado no conjunto de instituições envolvidas nas fusões é de 3.4 por cento, enquanto os grandes bancos que não pertencem a este grupo têm em média 6.7 por cento do saldo vivo total de crédito. Por sua vez, os bancos mais pequenos que não estiveram envolvidos nas fusões têm apenas, em média, 0.6 por cento do mercado de crédito. Este último resultado demonstra a importância de se considerar estes bancos separadamente, pelo que serão excluídos da restante análise empírica. A taxa de juro média sobre o fluxo de crédito total aplicada pelos bancos envolvidos em operações de fusão é de 11.1 por cento (9.2 por cento para os outros grandes bancos e 8.5 por cento para os bancos mais pequenos). O segmento de empréstimos a particulares regista taxas de juro mais elevadas neste período (13.2, 10.4 e 10.2 por cento para os diferentes conjuntos de bancos em análise) do que o setor empresarial (9.9, 9.3 e 7.9 por cento, respetivamente) 6. Estas estatísticas referem-se ao conjunto do período em estudo. Na secção 6 analisa-se em que medida a vaga de fusões afetou os fluxos de crédito e as taxas de juro, nos segmentos de empréstimos a particulares e a sociedades não financeiras, utilizando o modelo descrito na secção UM MODELO ESTRUTURAL DO SISTEMA BANCÁRIO Num artigo recente, Barros et al. (2010) apresentam uma nova metodologia para avaliar o impacto das fusões no sistema bancário, baseada num modelo estrutural do mercado de crédito. Utilizando este 6 A maioria dos bancos da amostra tem atividade nos segmentos de crédito a particulares e a empresas não financeiras, apesar de alguns pequenos bancos registarem fluxos de crédito nulos num desses segmentos nalguns trimestres. Todos os bancos considerados concedem crédito a particulares e apenas dois pequenos bancos não concedem crédito a empresas durante o período total da amostra. Note-se que o segmento dos particulares engloba empréstimos para consumo e outros fins e para aquisição de habitação. Durante o período da amostra, a taxa de juro estimada para os empréstimos para consumo e outros fins foi cerca de 4 p.p. superior à estimada para os empréstimos à habitação.

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