Estudo sazonal da produção do óleo essencial de pau-rosa e de espécimens identificados como suas variedades morfológicas

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1 Estudo sazonal da produção do óleo essencial de pau-rosa e de espécimens identificados como suas variedades morfológicas Hilma Alessandra Rodrigues do Couto 1, Ana Carla Moraes da Silva 2 ; Eloisa Helena de Aguiar Andrade 2 ; José Guilherme Soares Maia 1 1 Universidade Federal do Pará (UFPA) - Departamento de Química, Belém, PA. 2 Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) - Coordenação de Botânica, Belém, PA; RESUMO: O estudo sazonal de uma planta de pau-rosa (Aniba rosaeodora) foi realizado pelo período de 1 ano, para analisar a variação no rendimento do óleo essencial e no teor de linalol. Foram analisados também 4 espécimens identificados como variedades pau-rosa preciosa, tachi, itaúba e imbaúba. Foram usadas técnicas de micro-extração em fase sólida (SPME) e de hidrodestilação para obtenção dos óleos e de cromatografia de gás para identificação e quantificação do linalol. No estudo sazonal o rendimento em óleo variou de 1,1-1,5% e o teor de linalol de 68,0-92,8%. As variedades mais produtivas, em termos de rendimento em óleo e teor de linalol foram os pau-rosa preciosa e pau-rosa tachi, confirmando observação prévia de produtores em trabalho de campo. Palavras-chaves: Pau-rosa, Aniba rosaeodora Ducke, Aniba duckei Kosterm., linalol, SPME, hidrodestilação, CGL. ABSTRACT Seasonal study of rosewood essential oil production and of specimens identified as their morphological varieties The one year seasonal study of a rosewood (Aniba rosaeodora) plant was performed to analyze the variation of the rosewood oil yield and the linalool content. Four rosewood varieties identified as preciosa, tachi, itaúba and imbaúba were also analyzed. The techniques solid phase micro-extraction (SPME) and hydrodistillation were used to obtain the oils and the gas chromatography was used to identify and quantify the linalool. In the seasonal study the oil yield varied from 1.1 to 1.5% while the linalool content was 68.0 to 92.8%. The most available rosewood varieties that are related the oil yields and linalool contents were preciosa and tachi, confirming the previous producers observation in the field work.

2 Keywords: Rosewood, Aniba rosaeodora Ducke, Aniba duckei Kosterm., linalool, SPME, hydrodistillation, GLC. A continuidade da produção do óleo essencial de pau-rosa na Amazônia não está assegurada, em virtude da exploração extrativista, das dificuldades resultantes da propagação e do crescimento lento das espécies que o produzem (Aniba rosaeodora Ducke e Aniba duckei Kosterm). Essas espécies vem sendo fortemente exploradas desde a década de 20 e a procura por novos espécimens exige incursões cada vez mais longas no meio da floresta (Gottlieb & Kubitzki, 1981). No inicio da década de 70, com vistas a conservação do pau-rosa, surgiu a idéia de se explorar somente as partes aéreas da planta, à semelhança do que é feito com a indústria do óleo de eucalipto, sem sacrifício das árvores. Nesta ocasião realizamos um trabalho com o óleo essencial das folhas e galhos de um espécimen de Aniba duckei, existente na Reserva Ducke do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus (Araújo et al., 1971), onde foi observado que o percentual de óleo destilado foi maior no final do período chuvoso (julho), enquanto que o teor de linalol (álcool terpênico de alto valor comercial e componente majoritário) atingiu o seu máximo no final do período seco (dezembro). O presente trabalho teve por objetivo realizar um estudo sazonal de A. rosaeodora, utilizando as técnicas de amostragem e análise por microextração em fase sólida e hidrodestilação, seguido de cromatografia em fase gasosa com coluna capilar de sílica e, eventualmente, acoplada à espectrometria de massas. Também foram analisados folhas & galhos e madeiras de 4 espécimens de pau-rosa quanto ao rendimento em óleo e o percentual de linalol, identificados pelos mateiros e produtores como as variedades preciosa, tachi, itaúba e imbaúba, tendo por base a cor da casca da madeira e a forma das folhas MATERIAL E MÉTODOS Foram usadas 12 amostras de folhas e galhos de pau-rosa, provenientes de um exemplar de A. rosaeodora Ducke existente no campus de pesquisa do Museu Emílio Goeldi, Em Belém (PA). As amostras foram coletadas mensalmente no período de um ano (Set/2001-Ago/2002), tendo sido processadas de duas maneiras: (1) usando-se material recém-colhido do campo e um sistema de micro-extração em fase sólida (SPME), contendo fibra de polidimetilsiloxano/divinilbenzeno de 65µm, exposta por 15 min à planta fresca contida em frasco de vidro hermeticamente fechado, para adsorção dos seus constituintes voláteis; (2) usando-se material seco à temperatura ambiente por 4 dias e um sistema de hidrodestilação (HIDRO) tipo Clevenger, por 3 horas, produzindo óleos essenciais com os

3 rendimentos expressos nas Tabelas 1 e 2. Os concentrados dos óleos obtidos por SPME foram desorvidos diretamente na câmara do injetor do cromatógrafo de gás (CG) para análise de seus constituintes voláteis. Dos óleos essenciais obtidos por hidrodestilação, foram preparadas soluções hexânicas na proporção de 2:1000 e, um volume de 0,1 µl de cada solução foi injetada no CG para análise de seus componentes voláteis. Foram usados um cromatógrafo de gás (CG) HP 5890, com detector de ionização de chamas, e um cromatógrafo de gás acoplado à espectrômetro de massas (CG-EM) Finnigan Incos XL, nas seguintes condições: coluna capilar de sílica do tipo DB-5ms (30 m x 0,25 mm, espessura do filme de 0,25 µm), temperatura do forno programada para C, com gradiente de 3 C/min; gás de arraste helio; injetor e detector a 220 C. Foram usadas amostras de folhas & galhos e madeiras de 4 espécimens de pau-rosa, fornecidas por um produtor de óleo essencial de Parintins (AM), identificadas como sendo pau-rosa preciosa, pau-rosa tachi, pau-rosa itaúba e pau-rosa imbaúba. RESULTADOS E DISCUSSÃO A técnica de SPME foi usada neste trabalho com o objetivo de monitorar o trabalho de campo com espécimens de pau-rosa. A metodologia de obtenção, amostragem e análise do óleo essencial foi bastante rápida quando usou-se as técnicas SPME e CG, em comparação com a técnica tradicional de hidrodestilação, preparação da amostra e análise cromatográfica do óleo. Com o emprego da primeira metodologia gastou-se cerca de 1 hora em todo o processo, enquanto que no segundo caso, foram necessárias mais de 4 horas para a análise de uma amostra da planta. As Tabelas 1 e 2 apresentam os valores obtidos para a variação de linalol nas amostras analisadas. No trabalho sazonal, ou seja, com folhas e galhos, o teor de linalol nos óleos obtidos por SPME foi sempre menor do que por hidrodestilação, variando de 68,0% no mês de março, para 96,1% no mês de dezembro. Estes dados confirmam o trabalho prévio de Araújo et al (1971). Por HIDRO o teor de linalol manteve-se numa média de 96,6%. O rendimento em óleo no trabalho sazonal com folhas & galhos de pau-rosa não apresentou uma grande variação, mantendo-se entre 1,1-1,5%. No caso das variedades de pau-rosa observou-se que por SPME o teor de linalol nas folhas & galhos e madeira apresentou teor mínimo no pau-rosa itaúba (68,0% e 62,2%) e teor máximo no pau-rosa tachi (70,7% e 78,2%). Por HIDRO o teor de linalol nas folhas & galhos variou entre o pau-rosa itaúba (79,7%) e o pau-rosa preciosa (83,9%), e na madeira entre o pau-rosa preciosa (75,3%) e o pau-rosa tachi (84,8%). O rendimento em óleo observado nas 4 variedades foi maior para o pau-rosa preciosa (folhas & galhos : 3,1%; madeira: 3,4%), seguido do pau-rosa tachi (folhas & galhos : 2,6%; madeira:

4 2,9%). Estes resultados estão de acordo com os relatos dos mateiros e produtores de óleo de pau-rosa, segundo os quais, 12 toneladas de madeira de pau-rosa preciosa são necessárias para fornecer 1 tambor de 200 litros de óleo. Já para o pau-rosa tachi a relação é 15 toneladas/tambor. Para as variedades pau-rosa itaúba e imbaúba a relação seria de 18 toneladas/tambor. A padronização do método de SPME, expondo a fibra por 15 min à temperatura ambiente e, em seguida, usando o sistema como um headspace acoplado ao cromatógrafo de gás, permite o monitoramento de experimentos de reflorestamento com pau-rosa, em amostragens rotineiras a cada 30 dias, reduzindo o tempo de análise. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao MCT/PPG-7/Comunidade Européia, MMA/PROBEM e CNPq/PNOPG pelo apoio financeiro. LITERATURA CITADA ARAÚJO, V. C. de; CORRÊA, R. G. C.; MAIA, J. G. S.; SILVA, M. L. da, GOTTLIEB, O. R.; MARX, M. C.; MAGALHÃES, M. T. Óleos essenciais da Amazônia contendo linalol. Acta Amazonica, v. 1, p , GOTTLIEB, O. R. & KUBITZKI, K. Chemosystematics of Aniba. Biochemical Systematics and Ecology, v. 9, p. 5-12, 1981.

5 Tabela 1. Percentuais de óleo e linalol obtidos em folhas e galhos de um espécimen de pau-rosa (Aniba rosaeodora). Registro Orgão da planta Data %Óleo SPME HIDRO Linalol (%) Linalol (%) PR01 Folhas & galhos Set/2001 1,1 90,5 96,5 PR02 Folhas & galhos Out/2001 1,1 88,1 96,2 PR03 Folhas & galhos Nov/2001 1,4 87,4 96,6 PR04 Folhas & galhos Dez/2001 1,4 96,1 96,9 PR05 Folhas & galhos Jan/2002 1,3 82,8 96,3 PR06 Folhas & galhos Fev/2002 1,2 84,2 96,1 PR07 Folhas & galhos Mar/2002 1,5 68,0 97,0 PR08 Folhas & galhos Abr/2002 1,4 74,8 96,5 PR09 Folhas & galhos Mai/2002 1,4 84,3 96,5 PR10 Folhas & galhos Jun/2002 1,3 91,2 96,5 PR11 Folhas & galhos Jul/2002 1,4 92,8 97,2 PR12 Folhas & galhos Ago/2002 1,3 86,6 96,6 Tabela 2. Percentuais de óleo e linalol obtidos em folhas & galhos e madeiras de quatro espécimens de pau-rosa identificados como pau-rosa preciosa, tachi, itaúba e imbaúba. Registro Orgão da planta % Óleo SPME Linalol (%) HIDRO Linalol (%) Pau-rosa preciosa Folhas e galhos 3,1 69,5 83,9 Madeira 3,4 68,2 75,3 Pau-rosa tachi Folhas e galhos 2,6 70,7 82,1 Madeira 2,9 78,2 84,8 Pau-rosa itaúba Folhas e galhos 2,6 68,0 79,7 Madeira 1,8 62,2 78,9 Pau-rosa imbaúba Folhas e galhos 2,4 68,2 79,8 Madeira 2,0 71,6 76,9