Situação de aprendizagem: O processo de desnaturalização ou estranhamento da realidade.
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- Aurora Castelhano Schmidt
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1 Aline Nishiyamamoto Mendes R.A.: Gilmara Maria de Souza R.A.: HZ103 Estágio Supervisionado I Professor Doutor Roberto do Carmo Situação de aprendizagem: O processo de desnaturalização ou estranhamento da realidade. Objetivos O tema proposto constitui o tema inaugural da Sociologia no Ensino Médio no Caderno do Professor do Estado de São Paulo, sendo composto por duas aulas. O objetivo previsto pelo caderno é o da construção de um olhar sociológico com os alunos, que se caracterizaria pelo estranhamento, pela não naturalização, ou seja, a ideia é a de demonstrar aos alunos que os olhares não são neutros ou naturais e sim construções, repletas de pré-noções e preconceitos. Este trabalho, apesar de iniciado nestas duas primeiras aulas, deve servir de pano de fundo em todas as situações de aprendizagem propostas, sendo trabalhado e exercitado constantemente a fim de atingir a desnaturalização do olhar dos alunos perante a realidade. Proposta de aula A aula foi dividida em três etapas: a) apresentação de um histórico do ensino de sociologia no Brasil; b) apresentação e problematização de imagens c) debate visando o estranhamento de algumas situações tidas como normais (divisão de brinquedos e profissões por sexo, por exemplo). Etapa 1: Histórico sobre o Ensino de Sociologia no Brasil A contextualização seria um primeiro momento da aula de curta duração, cujo objetivo seria o de mostrar aos alunos que a Sociologia é ligada a um pensamento crítico, fora do senso comum. Lembrando que o senso comum não necessariamente precisa ser descartado. Para Quine, por exemplo, o conhecimento científico e o conhecimento produzido pelo 1
2 senso comum são diferentes não em espécie, mas em grau: O próprio neologismo científico é somente evolução linguística que se tornou autoconsciente, assim como a própria ciência é senso comum autoconsciente (QUINE, 2010, p. 24). O sociólogo, neste contexto, seria o homem científico, que vai além do senso comum, sem necessariamente descartá-lo e às vezes até partindo dele, mas pensando a sociedade de forma crítica e com uma postura constante de estranhamento do que pode parecer, à primeira vista, um fato, algo natural, certo por definição. A proposta de apresentar um histórico do ensino de Sociologia veio como recurso para demonstrar, mesmo que superficialmente em um primeiro momento, o que é a Sociologia e a sua importância pela negação dela mesma. A ideia é destacar para os alunos o fato de que ela foi abolida das escolas na época da Ditadura Militar e substituída pelas disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil, sendo grande indicador da censura ao pensamento crítico no período. Etapa 2: Apresentação e problematização de imagens A segunda etapaa consiste na apresentação das seguintes imagens e problematização das mesmas: Imagem 1: Imagem: Turning the tables (SHEPARD, Roger N.) A imagem escolhida é uma ilusão de ótica feita por Roger Shepard, na qual as duas mesas, apesar de aparentemente diferentes, possuem as mesmas dimensões. 2
3 A discussão seria baseada em uma única pergunta feita aos alunos: Qual mesa possui o tampo maior?. A resposta esperada é a de que a mesa da esquerda possui um comprimento maior do que a da direita e, por sua vez, esta possui uma largura maior do que a primeira, em suma, que elas possuem tamanhos diferentes. A segunda etapa da apresentação seria a demonstração de que as mesas são iguais, podendo ser realizada tanto através de recursos audiovisuais como a imagem projetada diretamente do computador, como através da medição dos tampos em uma imagem impressa, através de uma régua. O objetivo desta etapa é demonstrar aos alunos que o olhar imediatista, sem análise detida e cuidadosa pode levar a conclusões precipitadas e, às vezes, até erradas. Traça-se assim um paralelo entre o olhar do senso comum e o olhar científico, no qual o primeiro se deteria apenas à observação das mesas superficialmente, chegando à conclusão de que elas parecem ser diferentes, e o segundo iria além, utilizando um método científico, que no caso seria a medição das dimensões dos tampos, o que levaria à conclusão de que eles possuem a mesma área de superfície. Imagem 2: Imagem: Relativity (ESCHER, Maurits C.) 3
4 A segunda imagem escolhida é Relatividade de Maurits Cornelis Escher, na qual existem diversos planos convivendo em uma mesma imagem. As pessoas nela representadas parecem estar andando pelas paredes, no chão, no teto, dependendo do ângulo pelo qual se observa a imagem. A discussão seria realizada com os alunos inicialmente através da pergunta como: O que vocês observaram de diferente na imagem?. Em um segundo momento, a proposta seria pedir para cada aluno olhar a imagem de um ângulo diferente e perguntar: Quais pessoas estão andando no lugar certo?. A expectativa é que as respostas obtidas sejam opostas umas às outras. O objetivo dessa atividade é mostrar aos alunos que existem diferentes perspectivas sobre o mesmo objeto, sendo que nenhuma delas pode ser considerada como uma verdade absoluta. Novamente se traça o paralelo entre o olhar do senso comum e o olhar científico, no qual o primeiro é construído com pré-noções e preconceitos e se fecha às demais possibilidades, e o segundo analisa os diferentes ângulos de um mesmo objeto antes de chegar a uma conclusão, ou a um balanço das diferentes visões. Etapa 3: Debate A terceira e última etapa da aula aconteceria em torno de um debate proposto pelo docente a respeito da separação homem versus mulher. A discussão seria conduzida em torno das seguintes perguntas: Com quais brinquedos você brincava quando criança? Quais as funções de sua mãe na organização de sua casa? E do seu pai? Nomeie profissões masculinas e femininas. As respostas podem ser anotadas na lousa conforme forem anunciadas pelos alunos, a fim de criar um recurso visual para ajudar na discussão. A expectativa é a de que as respostas venham repletas de noções previamente interiorizadas, como: boneca é brinquedo de menina e carrinho de menino, quem cuida da casa e cozinha é a mãe, policial é um profissional tipicamente masculino. 4
5 A intenção deste debate é suscitar nos alunos o questionamento por quê?. Por que carrinho é coisa de menino? Por que é a sua mãe que cuida da casa e não o seu pai? A ideia é, portanto, utilizar as respostas deles mesmos e relativizá-las, fazendo com que os alunos comecem a desnaturalizar o que sempre consideraram como natural. A fim de ilustrar melhor a ideia de que a divisão entre homem e mulher não é natural e sim uma construção, selecionamos um trecho do livro Sexo e Temperamento de Margaret Mead, no qual ela descreve resumidamente as personalidades do homem e da mulher nas sociedades pesquisadas: Nem os Arapesh nem os Mundugumor tiram proveito de um contraste entre os sexos; o ideal Arapesh é o homem dócil e suscetível, casado com uma mulher dócil e suscetível; o ideal Mundugumor é o homem violento e agressivo, casado com uma mulher também violenta e agressiva. Na terceira tribo, os Tchambuli, deparamos verdadeira inversão das atitudes sexuais de nossa própria cultura, sendo a mulher o parceiro dirigente, dominador e impessoal, e o homem a pessoa menos responsável e emocionalmente dependente. (MEAD, 2000, p. 268). Fica claro a partir dessa descrição o quanto do que é considerado natural não passa de uma construção, na qual os diferentes sexos assumem papéis, temperamentos e atitudes de acordo com uma divisão pré-estabelecida pela sociedade, baseada não necessariamente em diferenças biológicas, por exemplo. Outro recurso interessante é o artigo da CBSNews 1 que descreve uma escola de educação infantil na qual o projeto pedagógico é baseado na eliminação das diferenças por sexo, começando da disposição dos brinquedos e chegando até os banheiros, que, de acordo com o artigo, são conjuntos. O objetivo final do debate é suscitar nos alunos o estranhamento do pensamento deles mesmos, a fim de caminhar, posteriormente, durante a disciplina, pelo estranhamento da sociedade como um todo
6 Avaliação Consideram-se duas alternativas de avaliação para esta situação de aprendizagem. A primeira encontra-se no próprio caderno de atividades e a segunda seria uma análise crítica de um vídeo viral 2 da internet. 1. Uma etnografia, na qual os alunos escolheriam um local e observariam as pessoas e as situações existentes nesse lugar, descrevendo com base apenas no que podem ver. Uma segunda etapa do trabalho consistiria em analisar o que descreveram tentando adotar uma atitude de estranhamento, relativizando as situações, a fim de eliminar pré-noções e preconceitos de sua análise. Este trabalho pode ser realizado em duplas ou grupos pequenos. 2. Redação que dialogue com o discurso da menina do vídeo que pergunta: Por que os meninos tem que comprar super-heróis e as meninas princesas?. O objetivo do trabalho é tentar olhar para a divisão dos brinquedos de forma estranhada, tirando-a da posição de natural que talvez ocupe no pensamento dos alunos. Este trabalho pode ser individual. Observação Por ser o primeiro contato dos alunos com a Sociologia, optou-se por uma aula mais interativa, com conversas e assuntos próximos à realidade do corpo discente, sem muitos conceitos sociológicos e vocabulário acadêmico, a fim de cativar os alunos, mostrando a eles a proximidade entre a Sociologia e o seu cotidiano e tentar fugir do modelo de certo e errado vigente hoje na grande maioria das escolas brasileiras em todas as disciplinas. 2 Menininha questionando o sexismo da indústria de brinquedos (legendado). Vídeo. Enviado por gabifeliz em 29/12/2011. Disponível em: < 6
7 Bibliografia MEAD, Margaret. Sexo e Temperamento. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., QUINE, Willard van Orman. Palavra e Objeto. Rio de Janeiro: Editora Vozes, PARANÁ (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Sociologia: ensino médio. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Caderno do professor: sociologia, ensino médio 1ª série, volume 1 / Secretaria da Educação. São Paulo: SEE, CBSNews. No "him" or "her": preschool fights gender bias. Disponível em: < Acesso em: 04/03/2012. M.C. Escher The Official Website. Picture Gallery. Disponível em: < TED Ideas Worth Spreading. Sam Richards: A radical experiment in empathy (video). Disponível em: < ml> Thinkquest. The Shepard Table Top Illusion. Disponível em: < Menininha questionando o sexismo da indústria de brinquedos (legendado). Vídeo. Enviado por gabifeliz em 29/12/2011. Disponível em: < 7
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