IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO BIOLÓGICOS E AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE BEBÊS PRÉ-TERMO
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- Olívia Fagundes Morais
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1 IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO BIOLÓGICOS E AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE BEBÊS PRÉ-TERMO Thalita Galdino de Oliveira 2,4 ; Renan Neves Urzêda 1,4 ; Amanda Martins Campos 2,4 ; Josy Paula Souza Vieira 2,4 ; Cibelle Kayenne Martins Roberto Formiga 3,4,5 ; Maria Beatriz Martins Linhares 5 1 Bolsista PBIC/UEG, 2 Voluntário Iniciação Científica PVIC/UEG, 3 Pesquisadora Orientadora, 4 Curso de Fisioterapia, Unidade Universitária de Goiânia, ESEFFEGO, UEG, 5 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo, USP. RESUMO Os fatores biológicos e ambientais podem interferir no desenvolvimento motor da criança no período pré-natal, peri-natal e pós-natal. O objetivo do presente estudo foi identificar os principais fatores de risco que podem influenciar o desenvolvimento motor de crianças prematuras com idade entre 6 a 8 meses de idade corrigida. Participaram 100 crianças nascidas prematuras no Hospital Materno Infantil de Goiânia-GO. O desenvolvimento motor das crianças foi avaliado pela Alberta Infant Motor Scale; e foram coletados dados biológicos e ambientais referentes à gestação, parto e internação. Predominou na amostra o sexo masculino, parto cesárea, apresentação cefálica, peso ao nascer 1.500g, IG > 32 semanas e cor branca. Em relação aos indicadores ambientais verificou-se que a maior parte das famílias residia em casa própria; baixa escolaridade dos pais, mães que não trabalhavam fora do lar e pais empregados. Quanto ao desenvolvimento motor, 36% das crianças apresentaram atraso e os fatores relacionados foram muito baixo peso ao nascer, maior tempo de internação hospitalar e número elevado de complicações clínicas ao nascer. Palavras-chave: fatores de risco; desenvolvimento motor, prematuridade. Introdução Os fatores que podem influenciar o desenvolvimento da criança podem ser de caráter tanto intrínseco (biológicos) como extrínseco (ambientais), e que podem, ao se combinarem, provocar variações de um individuo para o outro e, assim, tornar o desenvolvimento de cada criança único e individual (Needlman, 1997). 1
2 A prematuridade continua sendo uma das complicações mais freqüente durante a gestação. Além disso, a maioria dos bebês prematuros tem associado inúmeros outros fatores determinantes de risco que podem interferir no desenvolvimento motor (Mussen et al., 2001). Até mesmo os procedimentos médicos que os lactentes de risco passam durante a internação podem torná-los expostos a riscos. Conforme Diament (1996), a freqüência e a gravidade das seqüelas do recém-nascido são proporcionais ao número de complicações e sintomas no período neonatal. Uma boa caracterização de um recém-nascido (RN) requer a utilização do peso e da idade gestacional, ou ainda, a associação dessas duas variáveis. O critério mais empregado para se fazer essa associação é a curva de crescimento intra-uterino de Lubchenco; que classifica o RN em pequeno (PIG), adequado (AIG) e grande (GIG) para a idade gestacional conforme percentil (do percentil 10 ao percentil 90 o RN será adequado; menor que 10 será pequeno e maior que 90 será grande) (Ramos, et al., 1994). Estudo realizado por Pedromônico et al. (1998) demonstrou que o tempo de internação também influencia o desempenho neuropsicomotor, no qual verificou que tempo superior a 35 dias propiciava à alteração no processo de construção da imagem corporal. Alguns escores especiais avaliam o grau de gravidade da condição neonatal do recémnascido, como por exemplo, a existência de seqüelas neurológicas (Linhares, et al., 2004). Entre esses indicadores de risco tem-se o Apgar, o Clinical Risk Index for Babies (CRIB) e Neonatal Medical Index (NMI). Além dos fatores biológicos existem fatores ambientais que podem determinar risco para o desenvolvimento da criança. Isso significa que as condições ambientais como, por exemplo, o baixo grau de instrução e as dificuldades inerentes aos serviços de saúde comumente oferecidos a esta população, tanto com relação ao pré-natal e condições de parto, como ao acompanhamento do recém-nascido; tanto podem atenuar como agravar os efeitos dos fatores de risco (Rodrigues, 2003). Dessa forma, ao considerar os fatores de risco, é importante salientar que cada fator tem peso variável na instalação da condição da excepcionalidade; fatores observados isoladamente podem não possuir validade preditiva. A Alberta Infant Motor Scale (AIMS) é uma escala de avaliação que possibilita a mensuração e a detecção de alterações específicas no desenvolvimento motor de bebês a termo e pré-termo de idade de 0 a 18 meses (Piper e Darrah, 1994). O objetivo do presente estudo foi verificar a prevalência de atraso no desenvolvimento motor de crianças prematuras entre 6 a 8 meses de idade corrigida e identificar os principais 2
3 indicadores de risco biológicos e ambientais envolvidos no desenvolvimento motor dessas crianças. Materiais e Métodos a) Amostra: O estudo contou com a participação de 100 crianças prematuras, de ambos os sexos. Os critérios de inclusão na pesquisa foram crianças que nasceram com idade gestacional menor que 37 semanas, que se submeteram ao processo de internação em algumas das unidades de cuidado especial e, cujos pais permitiram a participação dos mesmos na pesquisa. Foram excluídas do estudo as crianças portadoras de patologias osteo-musculares e com suspeita de síndromes genéticas. b) Aspectos Éticos: O estudo está de acordo a Resolução CNS nº. 196 de 1996 do Conselho Regional em Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Materno Infantil de Goiânia-GO (HMI-GO). c) Local do Estudo: O estudo ocorreu no Ambulatório de Alto Risco do HMI-GO. A análise dos dados ocorreu no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa da ESEFFEGO (NIPE). d) Materiais: roteiro de anamnese; escalas de pontuação do Risco Neonatal pelo Neonatal Medical Index (NMI) e Clinical Risk Index for Babies (CRIB II); escala e a ficha de registro da Alberta Infant Motor Scale (PIPER & DARRAH, 1994); e) Procedimentos: Os bebês foram avaliados mensalmente pela AIMS sendo, posteriormente, classificados em desenvolvimento normal (percentil AIMS > 50%), suspeito (percentil AIMS > 10% e 50%) e atrasado (percentil AIMS 10%) (PIPER & DARRAH, 1994). Foi realizado o teste de comparação de grupos pelo teste t de Student para grupos independentes, considerando nível de significância de 0,05. Resultados e Discussão Em relação às características biológicas da amostra, predominou o sexo masculino, parto cesárea, apresentação cefálica, peso ao nascer 1.500g, IG > 32 semanas e cor branca. Já em relação aos indicadores ambientais, verificou-se que a maior parte das famílias residia em casa própria; baixa escolaridade dos pais, mães que não trabalhavam fora do lar, pais empregados. Na análise do desenvolvimento motor das crianças pela escala AIMS, 36% das crianças tiveram o desempenho classificado como anormal. A tabela 1 apresenta os principais 3
4 fatores de risco entre as crianças classificadas com desenvolvimento normal e anormal. Foi verificada uma diferença significativa entre as médias dos indicadores biológicos peso ao nascer, complicações do bebê, medidas clínicas, tempo de internação e CRIB II em relação aos dois grupos com desenvolvimento normal e anormal. Quanto ao peso ao nascer, as crianças com desenvolvimento anormal nasceram com menor peso. No estudo realizado por Sweeney e Swanson (2004) para verificar também a influência do peso ao nascer no desenvolvimento motor de crianças a termo utilizando a Escala Motora Infantil de Alberta (AIMS), notou-se uma diferença significativa no desempenho entre crianças consideradas pequenas (PIG) e adequadas (AIG) para a idade gestacional, sendo que o desempenho das crianças AIG foi superior aos das crianças PIG. Tabela 1. Principais fatores de risco dos bebês com desenvolvimento motor normal e anormal Normal Anormal Indicadores Biológicos (n = 64) (n = 36) p valor Média Média IG (dias) ,63 Peso ao nascer (g) ,02* Complicações do bebê 3 4 0,004* Medidas clínicas 3 4 0,03* Tempo de internação (dias) ,003* Apgar no 5 minuto 8 8 0,07 CRIB II 1 2 0,04* NMI 2 3 0,17 Indicadores Ambientais Média Média p valor Idade da mãe (anos) ,73 Número de filhos 2 2 0,16 Renda familiar (salários mínimos) 3 3 0,86 Número de cômodos na residência 5 5 0,87 Número de pessoas que moram com a criança 4 4 0,27 *p valor com significância estatística ( 0,05) O tempo de internação, o número de complicações neonatais e as medidas clínicas realizadas do grupo com desempenho anormal em comparação ao grupo com desenvolvimento normal foram relativamente maiores. As complicações clínicas ao nascer e as medidas clínicas também influenciaram o desenvolvimento motor grosso o que foi concordante com o estudo de Kreling, Brito e Matsuo (2006), que constatou que os principais fatores intervenientes de risco foram às doenças desenvolvidas no período neonatal, conseguintemente, os maiores determinantes de má evolução dos prematuros de muito baixo peso. Tais autores verificaram também que as piores evoluções neuropsicomotoras estavam 4
5 associadas a doenças neonatais como convulsão, infecção, hemorragia cerebral, doença e insuficiência respiratória. Pedromônico, Azevedo e Kopelman (1998) determinaram uma relação significativa entre o tempo de internação prolongado e a interação nas crianças com diagnóstico de alteração neurológica. Quanto ao escore do indicador de risco CRIB II, o grupo anormal obteve escore mais alto do que o grupo com desenvolvimento normal. Entretanto, não houve diferenças entre os grupos quanto as médias dos indicadores biológicos como IG, Apgar do 5 minuto e NMI. A análise da mortalidade segundo o escore do CRIB II permite identificar o grupo populacional de maior risco para morte, além de se tornar num instrumento padronizado para comparação das taxas de mortalidade entre diferentes serviços (Matsuoka et al.,1998). Conclusão Os fatores que influenciaram negativamente o desenvolvimento motor foram: peso ao nascer < 1500g; maior tempo de internação hospitalar; número elevado de complicações clínicas, maiores procedimentos clínicos e escore mais altos do CRIB II. Este estudo possibilitou o reconhecimento de alguns fatores que contribuíram para desfechos desfavoráveis ao desenvolvimento motor de crianças prematuras. Os fatores biológicos tiveram maior influência negativa no desenvolvimento motor, demonstrando que no primeiro ano de vida os fatores intrínsecos da criança se apresentam em maior evidência em relação ao desempenho neuropsicomotor em idade mais avançada. Acredita-se, portanto, que o desenvolvimento neuropsicomotor e motor da criança prematura sejam determinados por um conjunto de fatores que podem atuar simultaneamente sobre o desenvolvimento. Este resultado é importante para a prática de profissionais que trabalham com bebês de risco, especialmente as crianças que nasceram prematuras e de baixo peso. Referências Bibliográficas DIAMENT, A. Exame neurológico do recém-nascido de termo. In: DIAMENT, A.; CYPEL, S. Neurologia Infantil. 3. ed. São Paulo: Atheneu, p p. LINHARES, M.B.; CARVALHO, A.E.V.; PADOVANI, F.H.P.; BORDIN, M.B.M.; MARTINS, I.M.B.; MARTINEZ, F.E. a Compreensão do Fator de Risco da Prematuridade sob a Ótica Desenvolvimental. In: MARTURANO,E.M.; LINHARES, M.B.; LOUREIRO, 5
6 S.R. Vulnerabilidade e Proteção: Indicares na Trajetória de Desenvolvimento do Escolar 1. ed. São Paulo:Casa do Psicólogo, p p. MATSUOKA, O.T.; SADECK, L.S.R; HABER, J.F.S; PROENÇA, R.S.M; MATALOUN, M.M.G; RAMOS, J.L.A.; LEONE, C.R. Valor preditivo do Clinical Risk Index for Babies para o risco de mortalidade neonatal. Revista de Saúde Pública. V. 32 n.6, p , MUSSEN, P.H.; CONGER, I.I.; KAGAN, I.; HUSTON, A.C. Desenvolvimento e Personalidade da Criança. 4. ed. São Paulo: Harbsca, p. NEEDLMAN, R.D. Crescimento e Desenvolvimento. In: BEHRMAN, R.E.; KLIEGMAN, R.M.; ARVIN, A.M. Tratado de Pediatria. 15. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v.1. p p KRELING, K.C.A.; BRITO, A.S.J.; MATSUO, T. Fatores perinatais associados ao desenvolvimento neuropsicomotor de recém-nascidos e muito baixo peso. Pediatria. v. 28, n. 2, p , PEDROMÔNICO, M. R.M.; AZEVEDO, M. F.; KOPELMAN B. I. Recém-nascidos prétermo internados em unidade de terapia intensiva: desenvolvimento da conduta interativa no primeiro ano de vida. Jornal de Pediatria. v. 74, n. 4, p , PIPER, M.C., & DARRAH, J. Motor assessment of the developing infant. EUA: W. B. Saunders Company, RAMOS, J.L.A.; CORRADINI, H.B.; VAZ, F.A.C. Classificação do Recém-nascido Diagnóstico da Idade Gestacional e da Qualidade do Crescimento. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8.ed. São Paulo: Sarvier, P p. RODRIGUES, O.M.P. R Bebês de risco e a sua família: o trabalho preventivo. Temas em Psicologia. v. 11, n. 2, SWEENEY, J.K.; SWANSON, M.W. Crianças com baixo peso ao nascer. In: UMPHERD, D.A. Reabilitação Neurológica. 4. ed. São Paulo: Manole, p p. 6
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