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1 BuscaLegis.ccj.ufsc.Br Anotações acerca do disposto no 1º do artigo 585 do CPC ação relativa ao débito e ajuizamento de ação de execução Pablo Berger* A Ação de Execução é proponível e tem curso normal, independentemente do ajuizamento de ação relativa ao débito cobrado, nos termos do disposto pelo 1o do artigo 585 do Código de Processo Civil, "in verbis": "Art São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debenture e o cheque; [...] 1o A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução." Por este dispositivo, permite-se ao executado, ao lado da ação de embargos de devedor, invocar seu direito de defesa por outras vias autônomas (defesas heterotópicas), porém sem a força de impedir ou suspender o processo de execução. Nesse sentido, cumpre destacar julgamento proferido pelo Ministro Barros Monteiro, eis que pertinente e extremamente oportuno, "ad litteram": " AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSAO DA EXECUÇÃO. ART. 791 DO CPC. - Não constitui causa de suspensão da execução a coexistência com a ação anulatória proposta pelo devedor. - Divergência de julgados não configurada. Agravo desprovido. (AgRg no Ag /MG, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em , DJ p. 470)

2 Cuida-se de agravo de instrumento interposto de decisão que negou seguimento ao recurso especial, fundado nas alíneas 'a' e 'c' do permissivo constitucional. Não restou configurada a afronta ao art. 535, porquanto o Acórdão recorrido decidiu todas as questões relevantes postas para apreciação e julgamento, embora não na forma almejada pela agravante, inexistindo omissão a ser sanada. Pacífico é o entendimento jurisprudencial de que o órgão julgador não está obrigado a responder a todas as alegações das partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para fundar a decisão. Ademais, não há omissão quando o Acórdão recorrido adota outra fundamentação jurídica que não aquela requerida pela parte. Não restou configurada afronta ao art. 791, do CPC, porquanto o eg. Tribunal a quo decidiu em consonância com a jurisprudência desta Corte, in verbis: 'Processo civil - Execução: suspensão (art. 791 do CPC) - Ajuizamento de ações paralelas. 1. A enumeração das hipóteses de suspensão da execução, previstas no art. 791 do CPC é praticamente exaustiva, porque são raríssimas as hipóteses em que se pode fugir a regra processual. 2. Ações paralelas ajuizadas na tentativa de paralisar a execução não tem a forma para o efeito desejado. 3. Jurisprudência firmada neste tribunal, com inúmeros precedentes, seguindo a esteira do direito pretoriano do STF.' (REsp SP, Relatora Ministra Eliana Calmon). *** 'As hipóteses previstas no art. 791 do CPC são, em princípio, taxativas, razão pela qual, em casos tais, a propositura de ação anulatória de contrato locatício, paralela a execução fundada em título executivo extrajudicial, visando a cobrança de aluguéis, não tem o condão de suspender o feito constritivo, não incidindo, pois, o art. 265, IV, do CPC.' (REsp SP, Relator Ministro Fernando Gonçalves). *** 'O ajuizamento de ação de conhecimento buscando invalidar o título executivo, sem o oferecimento de embargos, não tem o condão de suspender a execução.' (REsp RS, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira). *** 'Há de ser reformada decisão que salientou a possibilidade de se admitir suspensão do processo de execução fiscal apenas pelo fato deter sido ajuizada ação anulatória de débito fiscal.' (REsp PR, Relator Ministro José Delgado).

3 Pela letra 'c', melhor sorte não alcança o apelo nobre. O recorrente não observa o regramento legal pertinente, seja porque deixou de comprovar a divergência mediante certidao ou cópia autenticada ou pela citação do repositório oficial de jurisprudência, seja pela inexistência do confronto analítico do dissídio pretoriano, nos termos dos artigos 541, parágrafos único c c 255, parágrafos 1o e 2o do RISTJ. Ante o exposto, nego provimento ao agravo." (Fls. 207). Sustenta a agravante que, segundo a conclusão no LXII do Simpósio de Curitiba, o elenco das causas de suspensão da execução constante do art. 791 não é exaustivo. Aduz que a decisão agravada não enfrentou a possibilidade de receber a ação anteriormente proposta como embargos do devedor, suspendendo assim a execução, conforme os vários precedentes desta Corte. Afirma terem sido cumpridos tanto exigência de comprovação do requisito do 1o do art. 255 do RISTJ, pois juntou cópia autenticada, como o requisito do 2o, até porque se trata de dissidência interpretativa notória. O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): [...] Tal rigor faz-se necessário, de vez que, se a qualquer tempo for permitido que uma ação de conhecimento suspenda a execução - e que o faça sem garantir o juízo - estar-se-á esvaziando a força executiva dos títulos extrajudiciais, que se presumem líquidos e certos, bem como subvertendo a sistemática legal, já que os embargos a execução exigem previamente a segurança do juízo da execução e prazo determinado para o seu oferecimento, sob pena de preclusão. Segundo precedentes desta Corte, permite-se que a execução seja suspensa quando ajuizada ação de conhecimento, que busca elidir o título executivo, porém exige-se que a referida ação tenha sido proposta anteriormente a execução, bem como esteja seguro o juízo da execução pela penhora de bens do devedor. Não é essa a realidade destes autos, pois, conforme restou consignado no Acórdão dos embargos aclaratórios, a ação de conhecimento foi proposta após o ajuizamento da execução - ação anulatória de execução de confissão de dívida com garantia hipotecária. Assim, não há falar em afronta ao art. 791 do CPC. Ainda, cumpre transcrever a posição adotada pelo professor Livre Docente da Pontifica Universidade Católica de São Paulo Sérgio Shimura, que em sua tese de doutorado assim se manifesta, "ad litteram": "A não-inibição da ação executiva, malgrado haja ação de conhecimento que tenha por escopo atacar o título executivo ou a exigibilidade da dívida, deve-se ao fato de a lei outorgar em favor do correspondente crédito uma presunção de exigibilidade, prevendo a

4 possibilidade de suspensão somente pela ação de embargos do devedor, a teor dos arts. 739, 1o, e 791, CPC. Em harmonia com essa linha de não-suspensão da execução, o art. 489, CPC, menciona que "A ação rescisória não suspende a execução da sentença rescindenda". É interessante lembrar ainda que, entre a ação de execução e a de conhecimento, não há litispendência, objeção que, se existente, levaria a extinção do segundo processo. Com efeito, entre as duas ações - de conhecimento e de execução - inocore a similitude dos três elementos da ação (partes, objeto e causa de pedir), como preconiza o art. 301, 3o, do CPC. Na ação de execução, já existe a presunção de certeza do débito e o pressuposto implícito da aplicação de uma sanção, enquanto na ação cognitiva, o escopo é bem diverso: pode ser desconstituição de um débito, a nulificação de um negócio jurídico ou, ainda, a condenação (repetição do indébito). Como ensina Olavo de Oliveira Neto, o título é representativo de uma dívida líquida e certa que tem o devedor para com o credor, e sua anulação está fatalmente fundada no mesmo conflito de interesses que alberga a necessidade de execução do título." Demonstrando que o simples ajuizamento de ação visando discutir o débito não obsta o ajuizamento de ação de execução, cumpre destacar as seguintes decisões oriundas do egrégio Superior Tribunal de Justiça, "in verbis" PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO E ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. SUSPENSAO DA EXECUÇÃO FISCAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. A simples propositura de ação de consignação em pagamento ou ação ordinária objetivando tornar inexigível o título executivo não tem o condão de suspender a execução. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag /SP, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em , DJ p. 183) PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL E AÇÃO ANULATÓRIA DO DÉBITO. CONEXAO. 1. Se é certo que a propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título não inibe o direito do credor de promover-lhe a execução (CPC, art. 585, 1o), o inverso também é verdadeiro: o ajuizamento da ação executiva não impede que o devedor

5 exerça o direito constitucional de ação para ver declarada a nulidade do título ou a inexistência da obrigação, seja por meio de embargos (CPC, art. 736), seja por outra ação declaratória ou desconstitutiva. Nada impede, outrossim, que o devedor se antecipe a execução e promova, em caráter preventivo, pedido de nulidade do título ou a declaração de inexistência da relação obrigacional. 2. Ações dessa espécie tem natureza identica a dos embargos do devedor, e quando os antecedem, podem até substituir tais embargos, já que repetir seus fundamentos e causa de pedir importaria litispendência. 3. Assim como os embargos, a ação anulatória ou desconstitutiva do título executivo representa forma de oposição do devedor aos atos de execução, razão pela qual quebraria a lógica do sistema dar-lhes curso perante juízos diferentes, comprometendo a unidade natural que existe entre pedido e defesa. 4. É certo, portanto, que entre ação de execução e outra ação que se oponha ou possa comprometer os atos executivos, há evidente laço de conexão (CPC, art. 103), a determinar, em nome da segurança jurídica e da economia processual, a reunião dos processos, prorrogando-se a competência do juiz que despachou em primeiro lugar (CPC, art. 106). Cumpre a ele, se for o caso, dar a ação declaratória ou anulatória anterior o tratamento que daria a ação de embargos com identica causa de pedir e pedido, inclusive, se garantido o juízo, com a suspensão da execução. 5. Recurso especial provido. (REsp /DF, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em , DJ p. 146) FALENCIA. CARENCIA DE AÇÃO. DISCUSSAO DO DÉBITO EM AÇÃO ORDINÁRIA. PRESSUPOSTOS DO TÍTULO. DOLO PROCESSUAL. A pendência de ação relativa ao débito constante do título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução, muito menos, em assim ocorrendo, caracteriza litigância de má-fé. Recursos especiais conhecidos e providos. (REsp /SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em , DJ p. 255) Não obstante todas as decisões acima transcritas, transcrevê-se decisões recentes do egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, "ad litteram":

6 AGRAVO DE INSTRUMENTO. INEXISTÊNCIA DE CONEXAO ENTRE A AÇÃO REVISIONAL E A AÇÃO DE EXECUÇÃO. SUSPENSAO. Inexiste conexão entre a ação revisional e a ação de execução, em virtude de que nesta não há sentença de mérito, somente se admitindo a conexão entre a ação de revisão contratual e os futuros embargos a serem opostos. A suspensão da execução em face da existência de ação revisional encontra óbice no art. 585, 1o, só sendo cabível nas hipóteses do art. 791, ambos do CPC. Decisao monocrática negando seguimento, conforme disposto no art. 557?caput? do CPC. (Agravo de Instrumento No , Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, Julgado em 09/08/2005) AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE TÍTULO E EXECUÇÃO. A teor do art. 585, 1o, CPC, a propositura da declaratória não obsta a execução. SEGUIMENTO NEGADO. (Agravo de Instrumento No , Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alexandre Mussoi Moreira, Julgado em 18/07/2005) Consoante amplamente demonstrado acima, verifica-se que não pode ser vedada a execução do título que preenche os requisitos legais, ainda mais quando não se verificar qualquer motivo para suspensão do futuro processo de execução, eis que não presentes quaisquer das hipóteses previstas no artigo 791 do CPC. *advogado Disponível em: < 1ºdo-artigo-585-do-CPC- -ação-relativa-ao-débito-e-ajuizamento-de-ação-de-execução> Acesso em: