O III REICH COMO VITRINE DAS TEORIAS GEOPOLÍTICAS CLÁSSICAS: Os fundamentos de Ratzel e Haushofer.
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- Vergílio Fernandes Amorim
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1 O III REICH COMO VITRINE DAS TEORIAS GEOPOLÍTICAS CLÁSSICAS: Os fundamentos de Ratzel e Haushofer. Fabio Ferreira Ramos 1529 vivalafabio@hotmail.com GERES/Geografia - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG). Bolsista de Iniciação Científica FAPEMIG. Flamarion Dutra Alves dutrasm@yahoo.com.br Prof. Dr. Líder do GERES/Geografia - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG). RESUMO A pesquisa tem como objetivo analisar a contribuição de Ratzel para a geografia, por meio da caracterização sistemática da geopolítica e da geografia política, e a aplicação de suas teorias pelas mãos de Haushofer durante o III Reich, período onde o governo nazista fundamentou as políticas de Estado nessas teorias. Esta análise, compreendida entre 1850 e 1950 possibilita observar como a política da Alemanha nazista está embasada em teorias que abarcam conceitos caros à geografia clássica, que se caracteriza como uma ferramenta militar. Objetivase, também, caracterizar e relacionar os conceitos de Estado, território, espaço vital, geografia política e geopolítica a fim de compreender as contribuições de Ratzel para o pensamento geográfico. Palavras-Chaves: Ratzel, Haushofer, geografia política, geopolítica, III Reich. INTRODUÇÃO Para Friedrich Ratzel a partir do momento que um grupo social se une para proteger seu território, tem início o Estado e, para ele, entende-se por território o espaço em que este grupo
2 social vive. A proteção e manutenção do território é algo primordial para o bem do Estado, e para tal é necessário conhecer o território, suas características físicas, como recursos naturais e aspectos sociais. A geografia, como estudo do espaço, é algo fundamental para manutenção territorial, tanto para expansão como para proteção. Para um melhor entendimento, tornam-se necessárias contextualizações. Primeiramente será contextualizado o momento histórico e geográfico em que viveu Friedrich Ratzel, esclarecendo assim as características metodológicas e filosóficas de seu trabalho. Necessária também se faz a contextualização do III Reich, momento onde Karl Haushofer se torna figura importante no Estado Alemão, aplicando seu trabalho, tornado assim o III Reich numa vitrine da geopolítica clássica, grande instrumento imperialista OBJETIVOS Esta pesquisa tem por objetivo explicar as bases te teóricas de Ratzel, no que tange os conceitos de Estado, território, espaço vital e geografia política, em busca de uma compreensão concreta de suas teorias, analisando a aplicação destas por Haushofer no III Reich, bem como a geopolítica clássica e a geografia clássica. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Geopolítica Alemã Friedrich Ratzel ( ) foi um dos primeiros geógrafos a discutir as relações humanas e suas disputas territoriais (manutenção e expansão). Ele trabalhou o estudo do espaço sob três perspectivas: física, biológica e antropológica. Partindo desses pontos, Ratzel desenvolveu suas obras Antropogeografia, Raças Humanas e Geografia Política sob a relação: Território, Povo, Estado. Os pilares do ideal nazista supremacia ariana, Estado com força militar, não miscigenação são temas do trabalho de Ratzel. Karl Haushofer ( ), geógrafo nazista, colocou as ideias de Ratzel, de forma adaptada, na política do III Reich. Sendo assim é grande a influência ratzeliana no regime nazista. Primeiramente, o nazismo via como necessidade para a formação de um Estado forte o grande poderio militar, isto seria via para defesa do território e, possivelmente, expansão do mesmo. Esta relação território-estado está presente no trabalho de Ratzel (1882), traduzido na obra de Antonio Carlos Robert Moraes (1990) 1. 1 O livro de Antonio Carlos Robert Moraes (1990) contém textos traduzidos de Friedrich Ratzel. No caso, a citação é uma reprodução da obra original Geografia do homem [Antropogeografia]. RATZEL(1882).
3 Quanto mais sólido se torna o vínculo através do qual a alimentação e a moradia prendem a sociedade ao solo, tanto mais se impõe à sociedade a necessidade de manter a propriedade do seu território. Diante deste último, a tarefa do Estado continua sendo em última análise apenas uma: a da proteção. O Estado protege o território contra as violações vindas de fora, que poderia reduzi-lo. (MORAES, 1990, p.75-76) O mito do corpo do povo alemão, também carrega conceitos ratzelianos, principalmente no que diz respeito à supremacia ariana. O discurso nazista estava impregnado com a preocupação em manter a raça pura, como exemplo o discurso de Julius Streicher, governador da Franconia Superior e editor do Der Stürmer, no sexto congresso do partido nazista diz que a nação se baseia na pureza racial, sendo esta condição necessária ao bem estar da nação. O ideário imperialista do regime nazista tem como um de seus pilares as formulações ratzelianas, estas fundamentadas em uma espécie de determinismo complexo, negando ao determinismo simplista, que não leva em conta a ação humana Ratzel foi um crítico do determinismo simplista, o qual em sua opinião prestou um desserviço à geografia ao tentar explicar de imediato- e por uma via especulativa, sem base empírica a complexa questão das influências das condições naturais sobre a humanidade. [...]A aceitação da existência de influências das condições naturais não implica, na argumentação de Ratzel, uma passividade total do elemento humano. (MORAES, 1990, p ). Enquanto que Ratzel se apoiava em muitas vezes das teorias naturalistas e darwinistas (darwinismo social), aliando as concepções naturais ao Estado e as raças (determinismo ambiental), Haushofer imprimirá a geopolítica a noção das forças mundiais e militares, dividindo os continentes com os países controladores das zonas (figura 1).
4 1532 Figura 1 Zonas de influências propostas por Haushofer Fonte: (MELLO, 1999, p.81). Haushofer vai aplicar de fato as noções de poder e militarismo espacialmente, dividindo em quatro blocos de influência: 1) Zona dos EUA: Novo Continente; 2) Zona Alemã: Europa menos Rússia, África e Oriente Médio; 3) Zona Russa: Quase toda Ásia e saída para o Índico; 4) Zona do Japão: Sudeste Asiático, Extremo Sul e Oceania. Haushofer não fora um grande teorizador da geografia política, mas sim geopolítica, seu trabalho tem um caráter prático, com aplicação na política dos grandes Estados, no seu caso especifico, dada contextualização de sua época, utilizou da teoria principal de Ratzel, aplicandoa ao regime nazista. De fato, Haushofer não estava preocupado com os fundamentos da geografia política em si, mas na sua articulação com a ciência política em geral, cujo resultado (a geopolítica) fosse útil aos homens de Estado encarregados da política externa de seu país. (COSTA, 2008, p.127) Segundo Wanderley Messias da Costa, Haushofer tinha uma relação polêmica com o nazismo, sendo que ele não era um total apoiador do regime, dessa forma o governo nazista apenas utilizou suas teorias aplicadas. O III Reich Compreendido ente 1933 e 1945, o III Reich foi o período que a Alemanha foi governada pelo partido nazista (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães), comandado por
5 Adolf Hitler. Em síntese, a política nazista tinha como substrato as ideias que formaram o mito do corpo do povo alemão. Neste mito, o povo alemão formaria um corpo, que deveria se manter saudável e limpo para trabalhar em prol da defesa e do progresso do espaço vital alemão, e o Führer a cabeça que comandaria este corpo. Hitler, a frente do partido nazista, tinha domínio sobre todos os setores sociais da Alemanha. Enquanto líder do partido caracterizou- o por completo, como exposto no documentário Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen. Segundo Cohen, Hitler deu forma ao nazismo, esteticamente e politicamente, com suas propostas. Propostas estas, frutos da influência de Richard Wagner, artista e político alemão, em sua mentalidade. Na visão nazista, a raça ariana era o ideal da perfeição humana, e o nazismo tomou como uma de suas obrigações purificar a Alemanha, purificação esta que englobava todos os setores sociais. O III Reich foi marcado pelo ideal nazista centralizador. João Ribeiro Júnior evidencia, em sua obra O que é Nazismo?, o caráter totalitário do regime nazista O nazismo solidificou-se a partir do desenvolvimento de três frentes. Na primeira, os nazistas fizeram uso da autoridade legal para gerir os recursos do Estado e sua máquina administrativa, o que lhes garantiu o controle da polícia, a neutralidade do exército e o poder, que exerciam sem escrúpulos, para demitir todos os oficiais suspeitos de oposição ou até de indiferença para com o regime. A segunda frente era a do terrorismo, que criou uma atmosfera de ameaça, de medo permanente da violência, que inibia qualquer pensamento de oposição. Finalmente, a terceira, com o uso maciço da propaganda, cuja eficácia garantia, depois que Goebblels tornou-se ministro da Cultura e da Propaganda, um absoluto controle sobre toda manifestação de pensamento da Alemanha. (RIBEIRO JUNIOR, 1987, p.40) Dessa forma, esse regime político se caracterizou como vitrine dos postulados teóricos e idealizados pelos geopolíticos alemães, Ratzel e Haushofer. Sendo Ratzel o precursor da geografia política, mas com Haushofer dando suporte político e prático as teorias. METODOLOGIA A pesquisa seguirá algumas etapas para atingir os objetivos propostos: a primeira fase de caráter explicativo acerca da história da geografia em especial da geografia política e geopolítica. A segunda etapa consistirá no estudo do III Reich, englobando o período pós I Guerra Mundial II Guerra Mundial, em suma uma contextualização do período que compreende o auge da geopolítica clássica. A terceira etapa com o objetivo de se aprofundar nos teóricos da geografia política geopolítica, Ratzel e Haushofer, bem como os conceitos utilizados de espaço vital, território e Estado. Por fim fazer as considerações do que de fato essas teorias possam ter contribuído ao Estado Nazista. Estudo histórico bibliográfico, interpretar os trabalhos destes
6 autores, correlacionando-os e buscando compreender a história do pensamento geopolítico, a respeito da geopolítica, geografia militar. RESULTADOS ESPERADOS Busca-se com este trabalho, um entendimento da aplicação da geopolítica, das teorias da geografia clássica e das contribuições aos Estados imperialistas, além de compreender a evolução da geopolítica, os conceitos trabalhados por ela e como o conhecimento geográfico pode auxiliar nas ações políticas de um Estado. A proposta da pesquisa visa entender a aplicabilidade dessas teorias e sua validade no cenário geopolítico atual, ou seja, quais são as lacunas e fragilidades dessas teorias em uma sociedade globalizada REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO. Direção e Roteiro: Peter Cohen. Estados Unidos da América (119 min.) CASTRO, Iná Elias. Geografia e Política Território, escalas de ação e instituições. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, CLAVAL, Paul. História da Geografia. Lisboa: Edições 70, COSTA, Wanderley Messias. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: Edusp Editora da Universidade de São Paulo, 2008 BINIMELIS, Cecilia Quintana. Em torno das origens da geopolítica alemã. p Revista CENEGRI. n.5, v.1, HESKE, Henning. Karl Haushofer: his role in German geopolitics and in Nazi politics. p Political Geography Quarterly. v.6, n.2, LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve em primeiro lugar, para fazer a guerra. Tradução: Maria Cecilia França. 12 ed. Campinas: Papirus, MELLO, Leonel Itaussu Almeida. Quem tem medo da Geopolítica? São Paulo: Hucitec, MORAES, Antonio Carlos Robert. (org.). Ratzel. Geografia. Coleção grandes cientistas socais. Ática: São Paulo, RIBEIRO JUNIOR, João. O que é Nazismo? 2.ed. Brasiliense: São Paulo, O TRIUNFO DA VONTADE. Direção: Leni Riefenstahl. Berlim, Alemanha (114 min.)
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