DENSIDADE POPULACIONAL E NÚMERO DE CASULOS DE Eisenia foetida EM PROCESSO DE VERMICOMPOSTAGEM SOB RESÍDUOS DE ORIGEM VEGETAL E ANIMAL

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1 DENSIDADE POPULACIONAL E NÚMERO DE CASULOS DE Eisenia foetida EM PROCESSO DE VERMICOMPOSTAGEM SOB RESÍDUOS DE ORIGEM VEGETAL E ANIMAL POPULATION DENSITY AND NUMBER OF COCOON IN Eisenia foetida VERMICOMPOSTING PROCESS WASTE IN PLANT AND ANIMAL Ana Cláudia Kalil Huber 1 ; Tânia Beatriz Gamboa Araújo Morselli 2 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo determinar a densidade populacional e o número de casulos presente no processo da vermicompostagem sob resíduos de origem vegetal e animal;. Foram utilizados sete tratamentos: resíduos orgânicos de origem animal (bovinos, suínos, codornas, ovinos e eqüinos) e vegetal (erva-mate e borra-de-café) em galpão telado. Os resíduos foram acondicionados em caixas de madeira não aromatizadas com volume de 0,060 m 3. O delineamento experimental adotado foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. Foram inoculadas 150 espécimes de Eisenia foetida, em cada caixa. Semanalmente foram coletadas amostras dos resíduos para análises químicas e a mesofauna coletada na liteira e no interior das caixas através dos métodos Armadilha de Tretzel e Funil de Tullgren, respectivamente. As minhocas e os casulos foram contados ao final do experimento obtendo-se a média de três amostras coletadas em cada caixa com tubo PVC (1417,64cm 3 ). Pelos resultados pode-se concluir que: o esterco suíno é o melhor substrato para a criação de minhocas em estação fria; o esterco bovino é o melhor substrato para o acasalamento na estação fria; é desaconselhável a utilização de estercos de ovinos e de codornas com camas para a criação de minhocas em estação fria; o esterco bovino é o melhor substrato para o acasalamento na estação fria; é desaconselhável a utilização de estercos de ovinos e de codornas com camas para a criação e acasalamento de E. foetida em estação fria. Termos para indexação: minhocas, casulos, vermicompostagem 1 Profª. Drª. AGRONOMIA -URCAMP-Bagé RS, anackalil@hotmail.com 2 Profª. Drª. PPGA- SPAF/FAEM/UFPel Capão do Leão/RS.

2 22 ABSTRACT With the objective of studying the mesofauna (mites and springtails) and macrofauna (earthworms) in the vermicomposting process it was performed an experiment in a wire netted shed, from 11/03 to 20/05/2002, in the campus of Eliseu Maciel Agronomy Faculty UFPel. The treatments were comprised by organic materials from animal (bovine, swine, quail, sheep and equine manure) and plant origin (mate herb and coffee dregs). The different residues were packed in non aromatized wooden boxes with 0,060 m 3 volume, making seven treatments in an experimental design in random blocks with four repetitions. It was inoculated 150 California earthworms (Eisenia foetida) in each box. Every week it were collected residue samples for chemical analyses and the mesofauna was collected from the litter and from the inside the boxes through the Tretzel Trap and Tullgren Funnel methods, respectively. The earthworms and the cocoons were counted only at the end of the experiment, obtaining the average of three samples collected in each box with PVC tube (1417,64 cm 3 ). The results obtained were: the swine manure was the best substratum for raising earthworms in the cold season; the cow manure was the best substratum for coupling in the cold season; sheep and tinamou manures are not indicated as beds for raising and coupling of Eisenia foetida in cold season. Terms of indexation: earthworms, coccon, vermicompost INTRODUÇÃO A minhocultura é uma atividade que permite oferecer um destino adequado aos diferentes resíduos orgânicos oriundos da zona rural, urbana e industrial, podendo-se por meio da vermicultura e vermicompostagem obter minhocas e vermicomposto. O interesse por um método adequado para o processamento desses resíduos, utilizando minhocas, vêm sendo discutidos de modo a acelerar o processo de degradação (EDWARDS & BOHLEN, 1996). Na vermicompostagem, tem sido dada atenção à minhoca Eisenia foetida devido ao seu rápido crescimento (NEUHAUSER et al., 1980) e prodigiosa proliferação Revista da FZVA. Uruguaiana, v.18, n. 2, p

3 23 (HARTENSTEIN et al., 1979; VENDER & REINECKE, 1988). É recomendado, em geral, para esta atividade, o uso de caixas de madeira não aromática, medindo 1,00m de comprimento por 0,60m de largura por 0,30m de altura (caixa considerada padrão) (KNÄPPER, 1987). Segundo ANTONIOLLI et al. (1996), pode-se utilizar caixas menores e empilhá-las para reduzir o espaço físico a ser ocupado. O número de minhocas a ser adicionado em cada caixa deve ser de 300 a 500, dando-se preferência às minhocas adultas e cliteladas (aptas à reprodução), obtendo-se, ao término de 90 dias, um número expressivo de exemplares, sendo possível abastecer os futuros canteiros de alvenaria ou leiras (MORSELLI, 2000). Segundo Kiehl (1985), o tubo digestivo da minhoca promove a assimilação de compostos minerais, como fósforo, potássio e micronutrientes. Transforma os compostos nitrogenados orgânicos em nitratos, dispõe de glândulas calcíferas que concentram o cálcio em seu organismo e produz um vermicomposto com um teor médio de 13% de matéria orgânica. Essas dejeções proporcionam um adubo orgânico bastante ativo, permitindo melhorar os substratos do solo, razão pela qual são destinados à horticultura e floricultura com ótimas vantagens físicas e Huber, A.C.K. et. al. microbiológicas, enriquecendo a camada arável (NOLLA, 1982). A minhoca da Califórnia, E. foetida, possui o comprimento entre 32 a 130mm e 2 a 4mm de diâmetro, tendo entre 80 a 110 segmentos., seu epistômio é epibólico (GARCIA & ZIDKO, 2006). Para Hernández (1991), as principais razões para se eleger as minhocas da Califórnia são: fecundidade, longevidade, consistência corporal, vivacidade de cor, adaptação ao cativeiro e pouca mobilidade. Quanto à fecundidade, possuem a capacidade de se acasalar a cada sete dias, enquanto as minhocas silvestres o fazem a cada 45 dias, além de apresentarem uma média de eclosão menor. Apresentam longevidade de até 16 anos, enquanto as silvestres têm apenas quatro anos de vida. Esta espécie tem sido a mais procurada e mais utilizada nos trabalhos de vermicultura e vermicompostagem, não somente por se adaptar com facilidade ao clima do Rio Grande do Sul e aos diferentes resíduos produzidos nas zonas urbanas, rurais e industriais, mas também pela sua alta prolificidade (MORSELLI, 2000). O presente trabalho teve como objetivo determinar a densidade populacional e o número de casulos no processo da vermicompostagem sob resíduos de origem vegetal e animal.

4 24 MATERIAL E MÉTODOS O projeto foi desenvolvido no Minhocário do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Capão do Leão, RS. O experimento foi instalado em um galpão de madeira e tela e as caixas de cedrinho (50cm de comprimento x 40cm de largura x 30cm de altura). Estas foram dispostas sobre cavaletes, preenchidas com os respectivos estercos e tapadas com tecido de algodão para evitar a presença de organismos indesejados. Em cada caixa foram adicionadas 150 minhocas adultas e cliteladas, no dia 11 de março de Os estercos utilizados como substrato foram: esterco de bovino de gado leiteiro e de suínos, cedidos pelo Centro Agropecuário da Palma/UFPel; esterco de codornas do Biotério da UFPel; esterco de eqüinos do Jóquei Clube de Pelotas; esterco de ovinos do Colégio Agrotécnico Visconde da Graça e os resíduos vegetais borra de café do Café Aquários/Pelotas e a erva-mate foi cedida pela ervateira Pantanal (erva-mate com prazo de validade vencido). Para a coleta dos organismos, utilizou-se um anel de PVC com capacidade de 1417,64 cm 3, realizando-se três coletas por caixa, tomadas em zigue-zague. Posteriormente, foram contadas todas as minhocas e casulos excluindo-se as inicialmente inoculadas. O número de minhocas e casulos foi calculado estimando-se o número dos mesmos para o volume dos materiais contidos nas caixas. a) Volume do cano PVC (V): V = x R 2 x h, onde: = 3,1416; R 2 = raio ao quadrado; h = altura b) Volume da caixa de madeira (VC): V = comprimento x largura x altura, V = cm 3 Os substratos foram submetidos a determinação de ph e temperatura antes da inoculação das minhocas, para que estas não os rejeitassem. As temperaturas e os phs foram determinados semanalmente até o final da vermicompostagem. Os resíduos antes de serem utilizados foram submetidos a análises no laboratório de Química do Solo da UFPel, onde foram determinados: ph, umidade, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, carbono, matéria orgânica e calculada a relação C/N. Os métodos utilizados foram descritos por TEDESCO et al. (1995). Revista da FZVA. Uruguaiana, v.18, n. 2, p

5 25 Huber, A.C.K. et. al. TABELA 1. Médias de ph, carbono, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, relação C/N e umidade nos diferentes resíduos animais e vegetais. Capão do Leão, RS Materiais ph C N P K Ca Mg C/N Umidade g kg mv -1 Esterco de Bovinos 7, ,6 2,5 9,8 5,5 3,5 23,6 78 Esterco de Suínos 8, ,0 75,5 17,0 52,0 3,3 18,1 88 Esterco de Codornas 7, ,0 10,7 9,6 14,1 4,6 27,8 52 Esterco de Ovinos 9, ,5 21,0 19,0 26,0 8,0 26,8 65 Esterco de Eqüinos 6, ,0 6,1 22,0 10,0 22,0 61 Borra de Erva-mate 8, ,1 7,5 12,0 12,9 7,9 26,0 67 Borra de café 6, ,0 3,8 11,0 3,9 3,0 24,0 58 RESULTADOS E DISCUSSÃO O tratamento com esterco de suíno diferiu significativamente dos demais e que os piores tratamentos para a criação de E. foetida foram os estercos de codornas e de ovinos (Tabela 2). Para o número de casulos oriundos do acasalamento, destacou-se o esterco bovino. Os phs que ficaram dentro da faixa recomendada foram os dos estercos bovino, codorna, eqüino e a borra de café. O ph da erva-mate e do esterco de ovinos não atingiu o ph recomendado. As temperaturas atingidas ao final da vermicompostagem estavam dentro do permitido, pois na data da coleta estavam semelhantes à temperatura ambiente. TABELA 2. Médias do número de minhocas e casulos de Eisenia foetida ph e temperatura (20/maio/2002) nos diferentes substratos. Capão do Leão, RS Tratamentos Minhocas Casulos ph Temperatura 0 C Esterco de Bovinos 255,98 c 195,61 a 6,7 18,40 Esterco de Suínos 443,57 a 126,85 b 8,0 15,30 Esterco de Codornas 60,76 e 10,67 f 6,8 16,60 Esterco de Ovinos 62,79 e 9,42 f 9,2 14,60 Esterco de Eqüinos 885,68 b 76,48 d 6,7 16,48 Borra de Erva-mate 250,91 c 94,68 c 8,0 16,98 Borra de café 109,96 d 46,09 e 6,5 15,60 CV (%) 6,3 5,0 Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%.

6 26 Em relação às minhocas os dados obtidos no presente trabalho não concordam com os encontrados por AQUINO & DE- POLI (1995), que avaliando a capacidade reprodutiva destes organismos, usando esterco bovino e bagaço de cana-de-açúcar picada e moída em diferentes proporções, concluíram que a capacidade reprodutiva foi maior nas proporções de 1:1 e 3:1 (esterco/bagaço). Gnoatto (1999) avaliou o número de espécimes de E. foetida em diferentes substratos, encontrando significância para os estercos de bovinos e suínos na estação fria enquanto na estação quente o melhor tratamento foi o resíduo de erva-mate. De acordo com Neuhauser et al. (1979), a capacidade reprodutiva das minhocas pode variar com as condições ambientais e com a disponibilidade do substrato orgânico, o que pode ter ocorrido no presente trabalho, uma vez que o trabalho dos autores citados foi desenvolvido em região com elevadas temperaturas, enquanto este foi desenvolvido em estação fria. Houve uma variação nos potenciais hidrogeniônicos durante o processamento da vermicompostagem (Tabela 3), o que segundo KIEHL (1985) é normal até que o material se estabilize. Observa-se, porém, que o tratamento esterco de ovinos não apresentou ao final da compostagem um ph considerado, pela maioria dos autores, dentro da faixa de recomendação. Atribuise este comportamento devido, provavelmente, aos animais terem recebido algum tratamento que refletiu no esterco e, conseqüentemente no comportamento das minhocas e da atividade microbiana do processo. Também é possível verificar que este tratamento bem como o esterco de codornas foram os piores refletindo-se a resposta no número de minhocas e casulos, embora o ph para este último tenha atingido a faixa recomendada. Salienta-se, ainda, a presença de muita maravalha no esterco de codornas, o que pode ter prejudicado a trabalho das minhocas. Revista da FZVA. Uruguaiana, v.18, n. 2, p

7 27 Huber, A.C.K. et. al. TABELA 3. Médias dos potenciais hidrogeniônicos dos substratos, nos diferentes tratamentos, nas coletas semanais. Capão do Leão, RS Tratamentos Semanas EB ES EC EO EE EM BC ph ª (18/março) 7,2 8,0 7,2 9,4 6,7 8,4 6,1 2ª (25/março) 7,1 8,2 7,3 9,6 6,5 8,6 5,8 3ª (1º/abril) 6,9 7,7 7,2 9,1 7,2 8,3 5,6 4ª (8/abril) 6,8 8,0 7,1 9,3 6,7 8,2 6,1 5ª (15/abril) 6,7 7,9 7,6 8,6 7,0 8,5 6,3 6ª (22/abril) 6,6 7,8 6,8 9,2 6,9 8,2 6,3 7ª (6/maio) 6,6 8,0 7,0 9,2 6,9 8,2 6,3 8ª (13/maio) 6,6 8,0 6,8 8,7 6,8 7,7 6,3 T1 (Esterco bovino), T2 (Esterco suíno), T3 (Esterco de codorna), T4 (Esterco ovino), T5 (Esterco eqüino), T6 (Erva-mate) e T7 (Borra de café). As médias das diferentes temperaturas obtidas durante o processamento do material (Tabela 4). As temperaturas registradas no final do processo estão de acordo com as recomendadas por KIEHL (1985), COMPAGNONI & PUTZOLU (1985) e FERRUZZI (1986) por ocasião do término da vermicompostagem. TABELA 4. Médias das temperaturas dos substratos, nos diferentes tratamentos, nas coletas semanais. Capão do Leão, RS Tratamentos Semanas EB ES EC EO EE EM BC ph ª (18/março) 23,68 23,86 23,29 24,46 23,61 24,54 24,00 2ª (25/março) 22,57 23,71 22,82 23,54 23,57 24,14 23,50 3ª (1º/abril) 17,96 19,79 18,46 19,25 19,32 19,43 19,46 4ª (8/abril) 22,32 24,04 22,64 23,68 22,79 23,43 23,21 5ª (15/abril) 19,75 20,50 19,89 20,68 19,75 20,36 20,25 6ª (22/abril) 17,32 18,75 17,50 17,96 17,75 17,61 17,86 7ª (6/maio) 16,32 16,68 16,04 16,54 16,07 16,64 16,82 8ª (13/maio) 16,93 17,79 17,36 17,75 17,54 18,18 18,46 9ª (20/maio) 21,36 21,54 21,21 20,86 21,11 21,50 21,61 T1 (Esterco bovino), T2 (Esterco suíno), T3 (Esterco de codorna), T4 (Esterco ovino), T5 (Esterco eqüino), T6 (Erva-mate) e T7 (Borra de café).

8 28 CONCLUSÕES O vermicomposto suíno é o melhor substrato para a criação de minhocas, na estação fria. O vermicomposto bovino é o melhor substrato para o acasalamento, na estação fria. É desaconselhável a utilização de estercos de ovinos e de codornas com camas para a criação e acasalamento de Eisenia foetida em estação fria. COMPAGNONI, L.; PUTZOLU, G. Cría moderna de las lombrices y utilización rentable del humus. Barcelona: Editorial de Vecchi, S.A., p. EDWARDS, C. A.; BOHLEN, P. J. Biology and ecology of earthworms. London: Chapman & Hall, FERRUZZI, C. Manual de Lombricultura. Madrid: Ediciones Mundi- Prensa, p. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, A. M. de; DE-POLI, H. Reprodução de minhocas (oligochaeta) em esterco bovino e bagaço de cana-de-açúcar enriquecido com diferentes leguminosas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 25, Viçosa, Resumos. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,1995. p ANTONIOLLI, Z. I., GIRACCA, E. M. N., CARDOSO, S. J. T., WIETHAN, M. M. S., FERRI, M. Iniciação à Minhocultura. Criação em Cativeiro e Vermicompostagem. Santa Maria: UFSM, p GARCIA, F. R. M. ; ZIDKO, A. Criação de minhocas: as operárias do húmus. Porto Alegre: Editora Rígel, p. GNOATTO, S. C. Caracterização química de vermicompostos de diferentes substratos. Pelotas, f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, UFPel, HARTENSTEIN, R.; NEUHAUSER, E.F.; KAPLAN, D.L. Reproductive potential of the earthworm Eisenia foetida. Oecologia, Berlim, v.43, p , HERNÁNDEZ, R. R. La lombricultura y sus fundamentos. Madrid, p. KIEHL, G.J. Fertilizantes orgânicos. São Paulo: Agronômica Ceres, p. Revista da FZVA. Uruguaiana, v.18, n. 2, p

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