Evolução Recente do Sector dos Pequenos Ruminantes no Alentejo

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Juliana Carrilho Alves
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1 Evolução Recente do Sector dos Pequenos Ruminantes no Alentejo Claudino Matos ACOS O objectivo deste trabalho é apresentar a evolução recente dos efectivos de pequenos ruminantes no Alentejo bem como dos preços das principais produções animais. Pretende-se avaliar o impacto dos preços dos produtos e das medidas de política agrícola comum no sector dos pequenos ruminantes no Alentejo. Efectivos Com base nas estatísticas oficiais disponíveis (INE, 2008) pode concluir-se que o efectivo ovino no Alentejo (Gráfico 1) apresenta uma tendência decrescente. Assim, entre 2000 e 2007 observou-se uma diminuição de 157 mil ovelhas, o que, em termos médios, representa um decréscimo a um ritmo de 20 mil ovelhas/ano. Em termos percentuais a baixa do efectivo ovino representa aproximadamente 12%, neste período. À semelhança dos ovinos, também o efectivo caprino no Alentejo (Gráfico 2) decresceu em média cabras/ano entre 2000 e No entanto, em percentagem o número de cabras diminui 24,3%. Estamos convictos que esta tendência talvez se tenha agravado nos últimos dois anos, a avaliar pelo abaixamento do número de animais sob responsabilidade sanitária da Associação de Defesa Sanitária de Beja, onde, de 2008 para 2009, se verificou uma diminuição de cerca de 10% dos efectivos controlados. É relevante contudo avaliar a evolução dos efectivos de pequenos e grandes ruminantes no Alentejo em termos de Cabeças Normais (CN). De acordo com o INE, (2008), entre 2000 e 2007, observou-se no Alentejo um aumento 85 mil vacas ( CN). A este aumento de bovinos correspondeu uma diminuição de 184 mil pequenos ruminantes (157 mil ovelhas mais 27 mil cabras, perfazendo um total de CN). Conclui-se assim que, em 2007, existiam no Alentejo mais CN do que em Esta tendência indicia dois aspectos que convém realçar: (i) certos produtores de pequenos ruminantes converteram as suas explorações para bovinos de carne e (ii) aumento da pressão de pastoreio nas regiões onde se pratica a pecuária extensiva no Alentejo. Que razões estarão estado na origem desta evolução? Provavelmente várias, mas talvez as mais significativas tenham sido: (i) a plena implementação da reserva específica e o consequente aumento das quotas de vacas aleitantes, (ii) a persistência de um acentuado favorecimento das vacas aleitantes em detrimento dos pequenos ruminantes, em termos de ajudas à produção e (iii) a escassez de mão de obra especializada para os ovinos e caprinos. Pág.1

2 Milhares Gráfico 1. Evolução de Efectivo Ovino de Alentejo entre 2000 e 2007 (Fonte: INE, 2008) ANOS Milhares 170 Gráfico 2. Evolução do Efectivo Caprino no Alentejo entre 2000 e 2007 (Fonte: INE, 2008) ANOS Preços dos Produtos O Gráfico 3 reflecte a evolução recente das cotações médias anuais do borrego ( /kg peso vivo, a preços correntes) em função das várias classes de peso. Os borregos mais leves (<12 kg) foram mais valorizados que os mais pesados, mantendo-se o preço médio um pouco abaixo dos 3,5 /kg. Verifica-se ainda que, apesar das ligeiras flutuações anuais, o preço dos borregos das classes mais pesadas apresentou uma tendência geral para diminuição durante o período em análise (2002 a 2007). Relativamente ao preço do cabrito (Gráfico 4), também os animais mais leves são mais valorizados que os mais pesados, mas observam que, para ambas as classes, o preço por kg de peso vivo era inferior em 2007 comparativamente a Se considerarmos que o custo de produção de borregos e cabritos mais pesados é substancialmente mais elevado comparativamente aos mais leves, que o preço dos factores de produção sofreu um incremento assinalável nos últimos anos e que as séries de preços apresentadas não expressam o efeito da inflação, poderemos inferir que a margem líquida para o criadores poderá ser nula ou até mesmo negativa, mesmo com inclusão das ajudas ao sector. Pág.2

3 Gráfico 3. Evolução do Preço Médio do Borrego entre 2002 e 2007 (Fonte: SIMA) Preço ( )/ kg de peso vivo 3,50 3,00 2,50 2,00 1, (<12 Kg) (13-21Kg) (22-28 Kg) (>28 Kg) Gráfico 4. Evolução do Preço Médio do Cabrito entre 2002 a 2007 (Fonte: SIMA) 5,50 Preço ( )/ kg de peso vivo 5,00 4,50 4,00 3,50 3,00 (<10 kg) (>10 kg) Pág.3

4 No Gráfico 5 mostram-se as evoluções do preço do leite e do queijo de ovelha na região do Queijo Serpa nas últimas 17 campanhas. O preço do litro de leite de ovelha no produtor baixou cerca de 25% entre 1991 (1,15 /l) e 2003 (0,90 /l), sofreu um aumento posterior, situando-se na última campanha em 1,10 /l, valor contudo inferior ao praticado no início dos anos 90. O preço do queijo de ovelha subiu sempre no período considerado, valendo o kg actualmente mais 5 euros do que em Como actualmente a produção de leite e o fabrico do queijo são efectuadas, na maioria dos casos por actores diferentes, a eventual mais valia que poderá ser obtida pela transformação do leite reverterá sempre a favor dos fabricantes de queijo e dos operadores comerciais em detrimento dos criadores. Este facto tem conduzido ao abandono das explorações leiteiras e à falta de matéria-prima, o que está a por em causa a produção de queijo de ovelha. Gráfico 5. Evolução do Preço do Leite e do Queijo de Ovelha na Região do Queijo Serpa (Fonte: Fapoc, 2008) 1,20 16,00 Preço ( )/Litro de leite 1,15 1,10 1,05 0,95 0,90 0,85 Preço/litro leite Preço/Kg queijo 14,00 12,00 10,00 8,00 6,00 4,00 0,80 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 Preço( )/kg de queijo 2,00 Relativamente à produção de lã (Gráfico 6), os resultados apresentados reportam-se às campanhas lanares levadas a cabo pela ACOS desde 1996 até ao presente. O preço por animal tosquiado subiu quase 60% e o preço do kg de lã apenas superou o preço da tosquia em 1997, tendo posteriormente oscilado entre 0,60 e 1,05 /kg. A figura também ilustra uma divergência cada vez mais acentuada entre o preço por animal tosquiado e o preço do kg de lã, o que corrobora a afirmação de que a lã é, a cada ano que passa, um prejuízo cada vez maior para as explorações de ovinos. Pág.4

5 Gráfico 6. Evolução do Preço da Tosquia e da Lã entre 1996 e 2008 (Fonte: ACOS, 2008) 1,60 1,40 1,20 Euros 0,80 0,60 0,40 0, Preço /animal tosquiado Preço médio/kg de Lã Conclusões e Implicações Face à evolução dos preços dos principais produtos provenientes dos pequenos ruminantes e às medidas de política agrícola tomadas nos últimos anos, não é de estranhar a diminuição dos efectivos de pequenos ruminantes que se tem verificado no Alentejo. Na verdade, esta tendência para a diminuição de ovinos e caprinos não é uma situação exclusiva do Alentejo e de Portugal, mas está a verificar-se um pouco por toda a Europa. Alguns dos países da União Europeia, principalmente aqueles onde a produção de ovinos é relevante, como por exemplo a França, a Irlanda e a Inglaterra, já foram encetadas medidas com o objectivo de contrariar a baixa dos efectivos de pequenos ruminantes. Tendo em vista o importante papel que o sector dos pequenos ruminantes representa para o desenvolvimento rural da região e do país, não deveriam tardar as medidas que contribuam para a sua sustentabilidade. Pág.5

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