ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PARECER Nº

Transcrição

1 PARECER Nº Inspetor de polícia inativo. Revisão de aposentadoria. Coisa julgada. Recurso hierárquico prejudicado. Promoção de inativo. Impossibilidade. A consulta vem acompanhada de diversos expedientes administrativos e trata de assunto polêmico, diversas vezes analisado por esta Procuradoria-Geral do Estado, qual seja: a ascensão de inspetores e escrivães de polícia ao cargo de comissário de polícia. O tema, como se disse, não é novo e retorna em virtude de recurso administrativo do inspetor aposentado Harlen Luíz Chaves Antunes, que pretende revisão do ato inativatório a fim de constar como comissário de polícia com os proventos correspondentes. De acordo com o processado, o inspetor se aposentou em 16-nov- 99 no cargo de inspetor de polícia de 4ª classe e, em 30-nov-99, teve publicada no órgão oficial sua promoção a comissário de polícia padrão 10. Requereu administrativamente a retificação do ato inativatório e, não obtendo êxito, ingressou com recurso hierárquico. A Secretaria da Justiça e da Segurança remeteu o expediente à Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos SARH, sugerindo o

2 encaminhamento à Procuradoria-Geral do Estado PGE para colher orientação quanto à possibilidade de promoção de inspetor a comissário e de haver promoção após a aposentadoria. A assessoria jurídica da SARH, por sua vez, entendeu que sendo a promoção referente ao ano de 1998, quando em atividade o servidor, mas tendo sido publicada somente após a aposentadoria, prejudicado o postulante pela Administração, fazendo jus à revisão do ato de aposentadoria. Remetido o expediente a esta Casa, incidentalmente foram anexados os expedientes nº /03-0 que traz o Parecer nº /04, do Conselho Superior desta Procuradoria-Geral do Estado e o de nº /04-9 em que a SARH consulta sobre a situação específica desse servidor, uma vez que o mandado de segurança nº , em que consta como impetrante, teve denegada a ordem com trânsito em julgado. À consulta foi atribuído o caráter de urgência. Relatei. O inspetor interpôs recurso hierárquico em 27-ago-04, após, portanto, o julgamento do mandado de segurança em que perseguia o mesmo objeto (11-jun-04 com publicação do acórdão em 3-ago-04), enquanto o Parecer nº que modificou a orientação até então expressada pela Procuradoria-Geral do Estado foi aprovado em 24-maio-04. O 2º Grupo Cível do Tribunal de Justiça do Estado, que reúne os Desembargadores das 3ª e 4ª Câmaras Cíveis, acolheu, na esteira do parecer do Ministério Público, o entendimento esposado pela Procuradoria-Geral do Estado até alguns dias antes do julgamento, restando assim ementado o acórdão: 2

3 ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. INSPETOR DE POLÍCIA. REVISÃO DE ATO DE APOSENTADORIA PARA NELE FAZER CONSTAR PROMOÇÃO POR MERECIMENTO PARA O CARGO DE COMISSÁRIO DE POLÍCIA. DIFERENÇAS VENCIMENTAIS. ASCENÇÃO VERTICAL DE CARGO BASEADA EM DISPOSITIVO LEGAL NÃO RECEPCIONADO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88, NA INTELIGÊNCIA DE SEU ARTIGO 37, II. INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL (DECRETOS NºS /87, /86, E LEI Nº 7.366/80) RESULTANDO NA CONSTATAÇÃO DE INSUBSISTÊNCIA DE PROMOÇÃO LEVADA A EFEITO POSTERIORMENTE À INATIVAÇÃO. POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO REVER SEUS PRÓPRIOS ATOS, GOVERNANDO-SE PELO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (STF, SÚMULAS 346 E 473). AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO, VIOLADO POR ATO ILEGAL, A SER TUTELADO NA VIA EXCEPCIONAL DO WRIT. SEGURANÇA DENEGADA. (Grifos no original). Como se vê às fls do expediente nº /04-9, a decisão transitada em julgado abordou o mérito do recurso administrativo, qual seja: a promoção ao cargo de comissário após a aposentadoria. Assim, optando o servidor pela via judicial, há que ser cumprido o acórdão, ficando prejudicado o recurso hierárquico, pois se independentes as vias administrativa e judicial, é inegável que a decisão trânsita em julgado deve sempre ser cumprida pela Administração e não só quando favorável ao servidor já que a garantia da coisa julgada tem assento constitucional e dela não deve abrir mão a Administração. Então, se no caso presente, antes de examinado o pleito administrativo, o interessado impetrou mandado de segurança, a orientação que se dá é de estrito cumprimento do acórdão que denegou a segurança. E, mesmo que a coisa julgada não tivesse prejudicado o recurso, como bem alertado no acórdão há que se considerar o teor da Súmula nº 359 do Supremo Tribunal Federal, verbis: 3

4 RESSALVADA A REVISÃO PREVISTA EM LEI, OS PROVENTOS DA INATIVIDADE REGULAM-SE PELA LEI VIGENTE AO TEMPO EM QUE O MILITAR, OU O SERVIDOR CIVIL, REUNIU OS REQUISITOS NECESSÁRIOS. Quanto à possibilidade de promoção após a aposentadoria, não procede a idéia de compensação por responsabilidade da Administração no dito atraso das promoções que deveriam ter ocorrido em 1998 e apenas ocorreram em 1999, pois se a norma prevê a periodicidade das promoções, bem como identifica os momentos de elaboração das listas e sua publicação, seu conteúdo não impõe ao administrador o dever de procedê-las em determinado momento. Nesse sentido o seguinte excerto do Parecer nº /96 de lavra da Procuradora do Estado Sandra Maria Lazzari: 4. É manso e pacífico, tanto na doutrina, quanto na jurisprudência, o entendimento de que inexiste, para o servidor público, no ordenamento jurídico brasileiro, direito de exigir que a Administração proceda as promoções, salvo quando texto legal, expressamente, proclamar que o servidor tem o direito de exigir a promoção, ou, ainda, se verificado abuso de direito na conduta omissiva da Administração. Também é manso e pacífico, na doutrina e na jurisprudência, o entendimento de que normas legais impondo prazo ao administrador, para a prática de atos, cuja iniciativa se abriga no seu juízo de oportunidade e conveniência, padece do vício de inconstitucionalidade por impor uma restrição ou uma condição ao exercício da atividade de administração pública. Todavia, considerando o princípio que, ao interpretar as normas, o intérprete deve harmonizá-las com as normas constitucionais, de modo a assegurar a sua eficácia escoimada de quaisquer vestígios do vício de inconstitucionalidade, deve-se compreender as disposições legais que contenham prazos ordinários ao administrador público como meras normas de programação para a atividade administrativa. Isto significa que, o administrador mantém a plenitude do juízo de conveniência e oportunidade na prática dos atos administrativos; no entanto, quando os editar deve atender a programação da norma legal. Portanto, não há de se entender as promoções vinculadas às datas. No caso em análise, o servidor só foi promovido após a inativação, o que inviável. Assim, só poderia ser aposentado no cargo efetivo em que se encontrava na época da concessão do benefício: o de inspetor. 4

5 Há, pois, que ser desprovido o recurso hierárquico, seja por prejudicado pela coisa julgada, seja pela improcedência do mérito. É o parecer. Porto Alegre, 23 de agosto de KARLA LUIZ SCHIRMER, PROCURADORA DO ESTADO. Processos nº /04-5, /02-2, /83, /86, /85, /86, /86, /87, /87, /92-1, /97-5, /01-1, /99-0, /

6 Processos nºs /04-5 e anexos Acolho as conclusões do PARECER nº , da Procuradoria de Pessoal, de autoria da Procuradora do Estado Doutora KARLA LUIZ SCHIRMER, aprovado pelo Conselho Superior da Procuradoria-Geral do Estado na sessão realizada no dia 25 de maio de Restituam-se os expedientes ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos. Em 12 de junho de Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.