Modernismo (1) Compreensão e Interpretação de Textos Literários
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- Márcia Costa Gomes
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1 Aula n ọ 08 Modernismo (1) Compreensão e Interpretação de Textos Literários Textos para as questões 1 e 2: Texto I ( ) E assim, bem acompanhado, os planos a resolver, foi mais tarde censurado pelos donos do poder. O taxaram de fanático, e um caso triste e dramático se deu naquele local. O poder se revoltou e Canudos terminou numa guerra social. Da catástrofe sem par o Brasil já tá ciente. Não é preciso contar pormenorizadamente tudo quanto aconteceu. O que Canudos sofreu nós guardamos na memória aquela grande chacina, a grande carnificina que entristece a nossa história. E andar pela Bahia, chegando ao dito local onde aconteceu um dia o drama triste e fatal, parece ouvir os gemidos entre os roncos e estampidos. E em benefício dos seus, no momento derradeiro, o nosso herói brasileiro pedindo justiça a Deus. Patativa do Assaré, Antônio Conselheiro Texto II Jugulada 1 pelo seu prestígio, a população tinha, engravecidas 2, todas as condições do estádio 3 social inferior. Na falta da irmandade do sangue, a consanguinidade moral dera-lhe a forma exata de um clã, em que as leis eram o arbítrio do chefe e a justiça as suas decisões irrevogáveis. Canudos estereotipava o facies 4 dúbio dos primeiros agrupamentos bárbaros. O sertanejo simples transmudava-se, penetrando-o, no fanático destemeroso e bruto. Absorvia-o a psicose coletiva. E adotava, ao cabo, o nome até então consagrado aos turbulentos de feira, aos valentões das refregas eleitorais e saqueadores de cidades jagunços. Euclides da Cunha, Os sertões Notas: 1. subjugada. 2. agravadas. 3. estágio. 4. aspecto, feição. 01. Os fragmentos apresentados pertencem a dois discursos diferentes sobre o mesmo assunto: a Guerra de Canudos, em geral, e o líder dos sertanejos, Antônio Conselheiro, em particular. Compare os textos e considere as asserções formuladas sobre eles: I. Do ponto de vista da forma, o texto I é composto em versos brancos, em redondilha menor; o texto II é um fragmento de narrativa em prosa literária. II. Quanto à linguagem, o texto I exemplifica o padrão cultural da poesia popular, cujo registro é marcado por sinais de oralidade e por desvios em relação à norma culta; o texto II, por sua vez, identifica-se com o padrão da chamada cultura erudita, identificada com a noção de alta literatura, que apresenta domínio da norma culta da linguagem. III. O texto I assume posição crítica em relação ao poder da República, enquanto considera o líder de Canudos, Antônio Conselheiro, um herói brasileiro ; o texto II considera Antônio Conselheiro como um bárbaro autoritário e carismático, que havia fanatizado os seguidores. IV. Euclides da Cunha, ao lado de Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha, é classificado com autor pré-modernista. A respeito dessas asserções, pode-se dizer que: a) somente I está correta. b) somente I, II e IV estão corretas. c) somente II, III e IV estão corretas. d) somente III está correta. e) somente I e III estão corretas. 34 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Vol. II
2 02. Imagem I: d) As duas imagens e os dois textos pertencem ao universo da arte e da cultura popular, pois a obra do escritor Euclides da Cunha e a do artista plástico Carybé, embora representem a arte erudita, tornaram-se populares desde o início do século XX. e) Não há como relacionar as imagens aos textos, pois cada um pertence a um universo artístico-cultural diferente. A imagem I exemplifica a cultura sertaneja popular; o texto I, a literatura erudita do cordel sertanejo; a imagem II identifica-se com a alta arte neoclássica europeia, sem conexão com a cultura brasileira; o texto II inscreve-se no âmbito da cultura urbana e da alta literatura praticada no Brasil. Imagem II: Antônio Conselheiro, artista anônimo Antônio Conselheiro, Carybé Considerando o padrão cultural-artístico das duas imagens, assinale a alternativa que melhor as relacione aos fragmentos textuais de Patativa do Assaré e de Euclides da Cunha: a) A imagem I circunscreve-se no âmbito do artesanato popular e, portanto, associa-se ao texto de Patativa do Assaré, marcado pela oralidade típica da chamada literatura de cordel; a imagem II, pela concepção artística complexa e conceitual, identifica-se com a cultura erudita, associando-se, portanto, ao texto de Euclides da Cunha. b) A imagem I, assim como o texto I, revela uma concepção artística sofisticada e abstrata; enquanto a imagem II, bem como o texto II, apresenta uma linguagem artística ingênua e concreta, que se inscreve no âmbito da cultura popular contemporânea. c) A imagem I corresponde ao texto II, porque ambos pertencem ao universo da arte e da cultura popular, assim como a imagem II corresponde ao texto I, pois ambos representam a arte e a cultura erudita. 03. (ENEM) Sobre a exposição de Anita Malfatti, em 1917, que muito influenciaria a Semana de Arte Moderna, Monteiro Lobato escreveu, em artigo intitulado Paranoia ou Mistificação: Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. (...) A outra espécie é formada dos que veem anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica das escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...). Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & cia. O Estado de S. Paulo, dez./1917 Em qual das obras abaixo identifica-se o estilo de Anita Malfatti criticado por Monteiro Lobato no artigo? a) Acesso a Monte Serrat Santos LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Vol. II 35
3 b) 04. (ENEM) O autor da tira utilizou os princípios de composição de um conhecido movimento artístico para representar a necessidade de um mesmo observador aprender a considerar, simultaneamente, diferentes pontos de vista: O TRADICIONAL ÚNICO PONTO DE VISTA FOI ABANDONADO! A PERSPECTIVA FOI FRATURADA! c) Vaso de Flores TUDO COMEÇOU QUANDO CALVIN PARTICIPOU DE UM PEQUENO DEBATE COM O SEU PAI! LOGO CALVIN PODIA VER OS DOIS LADOS DA QUESTÃO! ENTÃO O PODRE CALVIN COMEÇOU A VER OS DOIS LADO DE! TUDO Adaptado de WATTERSON, Bill. Os dez anos de Calvin e Haroldo. V. 2. São Paulo: Best News, 1996 Das obras reproduzidas, todas de autoria do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela em cuja composição foi adotado um procedimento semelhante é: a) d) A Santa Ceia b) Os amantes Nossa Senhora Auxiliadora e Dom Bosco e) c) Retrato de Françoise A boba Os pobres da praia 36 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Vol. II
4 d) 06. (ENEM) NAMORADOS e) Os dois saltimbancos Marie Thérêse apoiada no cotovelo 05. (ENEM) Precisa-se nacionais sem nacionalismo, (...) movidos pelo presente mas estalando naquele cio racial que só as tradições maduram! (...). Precisa-se gentes com bastante meiguice no sentimento, bastante força na peitaria, bastante paciência no entusiasmo e sobretudo, oh! sobretudo bastante vergonha na cara! (...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito no anúncio vistoso de cores desesperadas pintado sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas. Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas Cidades, 1972 No trecho acima, Mário de Andrade dá forma a um dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a feição de uma língua mais autêntica, brasileira, ao expressar-se numa variante de linguagem popular identificada pela (o): a) escolha de palavras como cio, peitaria, vergonha; b) emprego da pontuação; c) repetição do adjetivo bastante; d) concordância empregada em Assim está escrito; e) escolha de construção do tipo precisa-se gentes. O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara. A moça olhou de lado e esperou. Você sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada? A moça se lembrava: A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: Antônia, você parece uma lagarta listrada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: Antônia, você é engraçada! Você parece louca. Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época: a) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas; b) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano; c) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado; d) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época; e) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo. 07. (ENEM) ERRO DE PORTUGUÊS Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de Sol O índio tinha despido O português. Oswald de Andrade. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 O primitivismo observável no poema acima, de Oswald de Andrade, caracteriza de forma marcante a) o regionalismo do Nordeste; b) o concretismo paulista; c) a poesia Pau-Brasil; d) o simbolismo pré-modernista; e) o tropicalismo baiano. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Vol. II 37
5 08. (ENEM) No poema Procura da poesia, Carlos Drummond de Andrade expressa a concepção estética de se fazer com palavras o que o escultor Michelângelo fazia com mármore. O fragmento a seguir exemplifica essa afirmação: (...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. (...) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: trouxeste a chave? Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 1997, p Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema constante entre autores modernistas: a) a nostalgia do passado colonialista revisitado; b) a preocupação com o engajamento político e social da literatura; c) o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando sentidos novos; d) a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição poética; e) a contemplação da natureza brasileira na perspectiva ufanista da pátria. Textos para as questões 09 e 10: O CANTO DO GUERREIRO Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravos Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. Ouvi-me, Guerreiros, Ouvi meu cantar. Valente na guerra, Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? Guerreiros, ouvi-me; Quem há, como eu sou? Gonçalves Dias MACUNAÍMA (Epílogo) Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói? Mário de Andrade 09. A leitura comparativa dos dois textos acima indica que: a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico. b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil. c) as perguntas Quem há, como eu sou? (1º texto) e Quem podia saber do Herói? (2º texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira. d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil. e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto. 10. Considerando-se a linguagem desses dois textos, verifica-se que: a) a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no primeiro quanto no segundo texto. b) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a linguagem formal. c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem indígena. d) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações reais. e) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto, está ausente no primeiro. Gabarito 01. c 02. a 03. e 04. e 05. e 06. b 07. c 08. c 09. c 10. c 38 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Vol. II
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