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Transcrição

1 2&yGLJR3HQDO0LOLWDUHRPHQRULQLPSXWiYHO *HUVRQ$GULDQRGRV6DQWRV5LVVL Bacharel em Direito pela UFSM $0(125,'$'( O Código Penal Militar, aprovado pelo Decreto-Lei nº 1.001, de 21 outubro de 1969, define o inimputável no seu Art 50, da seguinte maneira: "O menor de dezoito anos é inimputável, salvo, já tendo completado dezesseis anos revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com este entendimento. Neste caso, a pena aplicável é diminuída de um terço até a metade." O prescrito neste artigo, provavelmente reflexo da legislação penal comum que deveria ter iniciado sua vigência à época (Decreto-lei nº 1004/69), ou ao contrário, o Código Penal Comum, teria incorporado a doutrina do Código Penal Militar. A verdade é que à época, vivíamos o Regime da Ditadura Militar, e por isso a influência. Acontece que o Decreto-lei nº 1004/69, Código Penal Comum, que não chegou a viger, embora já estivesse em período de YDFDWLROHJLV possibilitava a imposição de sanção penal a menor entre 16 e 18 anos, se esse revelasse suficiente desenvolvimento psíquico bastante para entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Nota-se que a legislação penal comum não entrou em vigor. Porém a penal militar manteve aquele entendimento.

2 O sistema jurídico para a avaliação da imputabilidade penal é o ELROyJLFR. É considerada tão-somente a idade do agente, independentemente da sua capacidade psíquica. A legislação que não entrou em vigor, teria adotado o sistema ELRSVLFROyJLFR, em que a pessoa entre 16 e 18 anos seria submetida a avaliação psicológica para saber se, ao tempo do fato, possuía discernimento sobre a ilicitude de seus atos. À época, os estudiosos insurgiram-se quanto à possibilidade da redução da maioridade penal. Combateram veementemente essa inovação implementada. Como resultado das críticas, o Código Penal Comum de 1969, não entrou em vigor, e a reforma de 1984, Lei 7209/84, manteve a inimputabilidade penal ao menor de 18 anos. O Código Penal Militar, entendeu da mesma maneira que a legislação que não teve vigência. Filia-se ao critério biopsicológico, ou seja, submissão da pessoa entre 16 e 18 anos a avaliação psicológica para saber se, ao tempo do fato, possuía discernimento sobre a ilicitude de seus atos. Na atualidade, segundo o art 228 da Constituição Federal, dispõe serem penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos à normas de legislação especial. Nas palavras do ilustre Promotor da Justiça Militar, Jorge César de Assis, ³2UHIHULGRDUWLJRHVWiYLUWXDOPHQWHUHYRJDGRSHORDUWGD &RQVWLWXLomR)HGHUDO O mesmo artigo da Constituição Federal vigente refere-se à legislação especial. É o caso da Lei 8069, de Estatuto da Criança e do Adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 103, define que a conduta descrita como crime ou contravenção penal é considerada DWR LQIUDFLRQDO. A lei não distingue o crime comum do militar, logo, desde que este

3 último venha a ser cometido por adolescente, transforma-se em ato infracional a ser apurado em procedimento especial estabelecido a partir do art 171 deste diploma. As pessoas que poderiam cometer estes atos infracionais, são aquelas constantes do próximo artigo a ser comentado. Citamos ainda, o conceito de menoridade, nas palavras de Jorge César de Assis, ³$PHQRULGDGHpFDVRGHGHVHQYROYLPHQWRPHQWDOLQFRPSOHWR SUHVXPLGR(VWDFRQYLFomRpUHIRUoDGDSHORDUWžGD/HLTXH FRQVLGHUDQGRDFRQGLomRSHFXOLDUGHFULDQoDVHDGROHVFHQWHVGHILQHRVFRPR SHVVRDVHPGHVHQYROYLPHQWR $(48,3$5$d 2$0$,25(6 Continuando a análise do atual Código Penal Militar, deparamo-nos com mais uma revogação superveniente causada pela Constituição Federal atual. O Art. 51 dispõe o seguinte: $UW(TXLSDUDPVHDRVPDLRUHVGH GH]RLWRDQRVDLQGDTXHQmRWHQKDPDWLQJLGRHVVDLGDGHDRVPLOLWDUHVERV FRQYRFDGRVRVTXHVHDSUHVHQWDPjLQFRUSRUDomRHRVTXHGLVSHQVDGRV WHPSRUDULDPHQWHGHVWDGHL[DPGHVHDSUHVHQWDUGHFRUULGRRSUD]RGH OLFHQFLDPHQWRFRVDOXQRVGHFROpJLRVRXRXWURVHVWDEHOHFLPHQWRVGHHQVLQRVRE GLUHomRHGLVFLSOLQDPLOLWDUHVTXHMiWHQKDPFRPSOHWDGRGH]HVVHWHDQRV Este dispositivo restou revogado. A vigente Constituição Federal, acabou com essa equiparação, que na verdade somente estava presente na legislação penal militar. Com certeza mais uma herança daquela lei penal de 1969 ( Lei 1004/69), que não chegou a vigir, mas deixou resquícios.

4 O grande inconveniente desta opção está na necessidade de perícia psicológica e psiquiátrica em todo menor entre 16 e 18 anos que venha a cometer infração penal. Como é cediço, inexiste, em nosso País, estrutura organizacional para a realização desses exames. Em cada crime ou contravenção praticada por adolescente nessa faixa etária, ter-se-ia de providenciar perícia médicopsicológica para apurar a imputabilidade ou inimputabilidade, mesmo em se cuidando de delito de bagatela. Ora, isso atrasaria sobremaneira a instrução do processo, congestionaria a rede pública de saúde e obstaria por completo a entrega da prestação jurisdicional. No Art 228, verbis, da nossa Lei Pátria, é inegável que não existe equiparação a menores, é imperativo e não permite esse tratamento, conforme transcrito: 6mRSHQDOPHQWHLQLPSXWiYHLVRVPHQRUHVGHGH]RLWRDQRVVXMHLWRVj QRUPDVGDOHJLVODomRHVSHFLDO Se o militar tiver menos de dezoito anos - quando falamos em militar menor de dezoito anos, estamos falando de cadete, aluno dos colégios militares, Cursos de Formação de Oficiais- e cometer crime, mesmo que militar, será considerado ato infracional, sujeito às regras do Estatuto da Criança e do Adolescente,$UW±9HULILFDGDDSUiWLFDGHDWRLQIUDFLRQDODDXWRULGDGH FRPSHWHQWHSRGHUiDSOLFDUDRDGROHVFHQWHDVVHJXLQWHVPHGLGDV,±DGYHUWrQFLD,, ±REULJDomRGHUHSDUDURGDQR,,,±SUHVWDomRGHVHUYLoRVjFRPXQLGDGH,9± OLEHUGDGHDVVLVWLGD9±LQVHUomRHPUHJLPHGHVHPLOLEHUGDGH9,±LQWHUQDomRHP HVWDEHOHFLPHQWRHGXFDFLRQDO9,,±TXDOTXHUXPDGDVSUHYLVWDVQR$UW,D9, ž$phglgddsolfdgddrdgrohvfhqwhohyduihpfrqwddvxdfdsdflgdghgh FXPSULODDVFLUFXQVWkQFLDVHDJUDYLGDGHGDLQIUDomR ž(pklsywhvhdojxpd HVRESUHWH[WRDOJXPVHUiDGPLWLGDDSUHVWDomRGHWUDEDOKRIRUoDGR ž2v DGROHVFHQWHVSRUWDGRUHVGHGRHQoDRXGHILFLrQFLDPHQWDOUHFHEHUmRWUDWDPHQWR LQGLYLGXDOHHVSHFLDOL]DGRHPORFDODGHTXDGRjVVXDVFRQGLo}HV

5 Em absoluto, a Constituição Federal, no seu Art 228, não afetou a eficiência do nosso direito penal militar. É aos dezoito anos que os cidadãos são convocados, pelas leis orgânicas militares, para o serviço ativo das Forças Armadas, só então lhes sendo cometidos deveres militares, cujas infrações são a UDWLRHVVHQGL dos Códigos Penais Militares - crimes propriamente militares. Por esses motivos e ainda para a indispensável harmonia de nossa legislação comum e militar, em se tratando de maioridade penal, foi a fixação desta em dezoito anos, considerada a ideal, no Brasil. Não havia motivo para tratamento diferenciado, entre o menor civil e o menor militar. Não há motivo plausível para se defender a redução da menoridade penal militar. Com certeza, todas as normas relativas a este tema devem se adaptar a Lei Máxima de nosso País. 5()(5Ç1&,$6%,%/,2*5È),&$6 1. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de BRASIL. Constituição, Estatuto dos militares, Código Penal Militar, código de processo penal militar. Organizador Álvaro Lazzarini. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo, rt, BRASIL. Decreto Lei n.º 1.001/69. Dispõe sobre o Código Penal Militar, atualizado pela legislação posterior. São Paulo. Ed.Saraiva. 13ª Edição ASSIS, Jorge César de, Comentários ao Código Penal Militar. Volume 1. Parte Geral. 3ª Edição. 2ª Tiragem. Ed. Juruá. Curitiba ,QIRUPDo}HV%LEOLRJUiILFDV Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: RISSI, Gerson Adriano dos Santos. O Código Penal Militar e o menor inimputável.

6 6LWHGR&XUVRGH'LUHLWRGD8)60. Santa Maria-RS. Disponível em: < Acesso em: 22.OUT.2003 Retirado de: Informática Jurídica Ulisses Nogueira UFSC 21/10/2003