Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 INQUÉRITO ALAGOAS RELATOR : MIN. LUIZ FUX AUTOR(A/S)(ES) :MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA INVEST.(A/S) :JOSÉ FRANCISCO CERQUEIRA TENÓRIO ADV.(A/S) :RUBENS MARCELO PEREIRA DA SILVA E OUTRO(A/S) INVEST.(A/S) :MARCOS ANTÔNIO PIMENTEL DE VASCONCELOS ADV.(A/S) INVEST.(A/S) ADV.(A/S) :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS :RITA COIMBRA CERQUEIRA TENÓRIO :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS INQUÉRITO. CRIME ELEITORAL. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE VOTOS. DILIGÊNCIAS. DEFERIMENTO. DESPACHO: O Ministério Público Federal manifestou-se, verbis: 1. Trata-se de investigação instaurada para apurar a possível prática dos crimes de captação ilícita de sufrágio e ameaça a eleitores nas eleições de 2008 por José Francisco Cerqueira Tenório, Rita Coimbra Cerqueira Tenório e Marcos Antônio Pimentel de Vasconcelos, no município de Chã Preta/AL. 2. A denúncia presencial com identificação preservada de fls. 5/8 noticiou os seguintes fatos: COMPRA DE VOTOS 1. Que o Deputado Francisco Tenório, acompanhado de outras pessoas, foi até a casa de alguns eleitores e ofereceu valores de até R$ 1.000,00 (um mil reais) pelos votos que pudessem ser oferecidos na residência visitada; 2. Que dentre essas visitas estão as realizadas nas casas de Ana Lourdes Pimentel Teixeira, Sandra Vasconcelos e Caboje, ambas residentes no conjunto residencial Benedito Vasconcelos; 3. Que o fato se deu na semana passada, não sabendo precisar o dia;

2 4. Que foi informado de que na sede do comitê do PT Partido dos Trabalhadores (coligação da candidata a Prefeita), encontra-se armazenado nos computadores existentes, cadastro de eleitores que votarão na candidata a Prefeita, com promessas de pagamento em dinheiro e recebimento de vantagens posteriormente à eleição. DA COAÇÃO AOS FUNCIONÁRIOS SOB AMEAÇA DE DEMISSÃO 1. Que o funcionário (Fazenda Novo Horizonte) da candidata a Prefeita, Sr. Jô, que reside na Rua Melo Brandão, foi coagido a pintar o nome da candidata na parede de sua residência; 2. Que ficou claro para o mesmo que se por acaso se recusasse perderia o emprego, o que fez com que o mesmo aceitasse a pintura. 3. O Ministério Público Eleitoral procedeu à oitiva de Josival Lopes da Silva, conhecido como Jô (fls. 15), e de três testemunhas cuja identidade foi preservada (fls. 16/18). O primeiro afirmou que não foi obrigado, mas, voluntariamente, fez propaganda da candidata Rita Tenório em sua casa, acrescentando que não tem medo de perder seu emprego, que nem foi ameaçado de perda do emprego se não colocasse a propaganda de Rita Tenório, que trabalha para Rita Tenório e o marido há onze anos ( ). Contudo, as demais testemunhas afirmaram que: (...) o Deputado Francisco Tenório esteve na casa da depoente acompanhado de dois seguranças ocasião em que pediu que a depoente retirasse a propaganda do candidato José Klinger de sua casa em troca de quatrocentos e quinze reais mensais até o mês de dezembro e para que a depoente pintasse em sua casa a propaganda da candidata Rita Tenório, esposa dele, deputado; que o Deputado também prometeu um cargo em comissão na prefeitura acaso Rita Tenório vencesse a eleição ( ); que as testemunhas Sandra e Caboje também foram ameaçadas por Francisco Tenório; que quando Francisco Tenório foi na casa da testemunha Sandra a candidata Rita e seu vice Marcos Vasconcelos o acompanhou 2

3 ocasião em que Rita fez ao esposo de Sandra a mesma proposta que o deputado fez à depoente acima transcrita; que a mesma proposta foi feita à esposa de Caboje; que a depoente soube que Josival, empregado da fazenda Novo Horizonte, foi obrigado a colocar em sua casa a propaganda de Rita Tenório, caso contrário perderia o emprego ( ). (fls. 16) (grifos do MPF) que no dia dezoito de setembro de 2008 o deputado Francisco Tenório, a candidata Rita Tenório e seu vice Marcos Vasconcelos e uma comadre de Rita abordaram a depoente quando esta vinha chegando em casa acompanhada de seu esposo ocasião em que eles prometeram dar um cargo de comissão ao marido da depoente na prefeitura de Chã Preta ( ); que também prometeram à depoente um salário mínimo até o mês de dezembro para a depoente e seu marido trocarem a pintura do candidato opositor a eles e que está na casa da depoente pela propaganda da candidata Rita Tenório; que também eles pediram a depoente e seu marido para votarem em Rita Tenório ( ); que uma pessoa da rua da depoente de nome Helena também foi abordada pelas mesmas pessoas ( ). (fls. 17) (grifos do MPF) (...) sua esposa foi abordada pelo Deputado Francisco Tenório e pelo candidato a vice na chapa de Rita Tenório ocasião em que ambos mandaram um recado para o depoente através da esposa deste dizendo que se o depoente e a esposa votassem em Rita Tenório eles manteriam o depoente como vigia da prefeitura de Chã Preta dando-lhe um cargo em comissão; que não foi oferecido dinheiro ao depoente e a esposa ( ); que um rapaz de nome Marcelo, que é locutor da campanha de Rita Tenório ganhou oitocentos reais para votar em Rita Tenório e recebe como salário quatrocentos reais para ser locutor; que quando Marcelo recebeu a proposta de oitocentos reais pelo voto ainda não era locutor da campanha de Rita Tenório ( ).(fls. 18) (grifos do MPF) 4. Em decorrência da notícia de fls. 5/8, determinou-se busca e apreensão no diretório do Partido dos Trabalhadores PT ocasião em que foi apreendida uma CPU. Periciada, o laudo não encontrou nenhum arquivo ou programa relacionado com 3

4 os quesitos formulados, os quais se referiam à identificação de programas para cadastro de eleitores e de arquivos com nome de pessoas, eleitores, números de documento pessoais, títulos de eleitores e arquivos geralmente utilizados para cadastro de eleitores. 5. Realizada diligência in loco por agentes da Polícia Federal (fls. 49), foram ouvidos Sandra Maria Vasconcelos, José Roberto de Oliveira Macena e Ana Lourdes Pimentel. 6. Procedeu-se a nova oitiva de Sandra Maria Vasconcelos (fls. 64), José Roberto de Oliveira Macena (fls. 69), Ana Lourdes Teixeira Holanda (fls. 70), Rita Coimbra Cerqueira Tenório (fls. 73/75), Marcos Antônio Pimentel de Vasconcelos (fls. 82/84) e José Francisco Cerqueira Tenório (fls. 104/107). 7. Os dois primeiros ratificaram as declarações prestadas aos agentes de polícia às fls. 49, sendo que Sandra Vasconcelos acrescentou: (...) que durante o processo eleitoral de 2008 apoiou, publicamente, o candidato a prefeito José Klinger, que fez oposição a Rita Tenório; que participou de eventos públicos de campanha e pediu votos para o citado candidato; que tendo sido perguntada qual a vantagem que teria sido oferecida para que a declarante retirasse o adesivo que estava em sua porta, respondeu que o então deputado Francisco Tenório teria oferecido uma quantia em dinheiro a seu esposo para que ele apoiasse a candidata Rita Tenório ( ). (fls. 64) 8. Ana Lourdes Holanda afirmou que lhe foi oferecido um emprego na prefeitura em troca de apoio a Rita Tenório e que a proposta foi recusada, pois estava apoiando publicamente o grupo político do então prefeito Audálio Holanda, representado pelo candidato a prefeito José Klinger. 9. Os demais negaram a veracidade dos fatos, afirmando que tudo não passou de intriga política, tendo Marcos Antônio Pimentel de Vasconcelos afirmado: (...) que as noticiantes Sandra Maria Vasconcelos e Ana Lourdes Teixeira de Holanda são primas legítimas do interrogado e desde logo manifesta a intenção de ser acareado com ambas para verificar se a versão apresentada por elas se sustenta; que pelo que 4

5 sabe ambas foram contempladas cada uma com uma casa no Conjunto Mutirão, casas essas doadas pelo ex-prefeito Audálio Holanda ( ). (fls. 81/83) (grifos do MPF) 10. No mesmo sentido informou Francisco Tenório que dois dos noticiantes são beneficiários de casas recebidas da gestão anterior na Prefeitura de Chã Preta, e ainda são sobrinhas do ex prefeito Audálio Holanda ( ) (fls. 106) (grifos do MPF). 11. Portanto, as práticas criminosas foram noticiadas por pessoas que teriam recebido doação de imóvel de opositor ao grupo político de Rita Tenório, Audálio Holanda. 12. Noticiado o exercício do mandato de Deputado Federal por Francisco Tenório, os autos foram encaminhados ao Supremo Tribunal Federal (fls. 136/139). 13. Apesar das diligências já realizadas, verifica-se que ainda são necessários alguns esclarecimentos acerca dos fatos, em virtude de inconsistências que exsurgem a partir das provas colhidas. 14. Diante do exposto, o Ministério Público Federal requer que seja determinada a realização das seguintes diligências: a) oitiva, acerca dos fatos, de: a.1) Audálio Holanda; a.2) Adelso Tomaz de Aquino, conhecido por Caboje; b) identificação e oitiva de: b.1) Marcelo (mencionado às fls. 18); b.2) Helena (mencionada às fls. 17); b.3) esposa de Adelso Tomaz de Aquino (mencionada às fls. 16); c) acareação entre Marcos Antônio Pimentel de Vasconcelos, Sandra Maria Vasconcelos e Ana Lourdes Teixeira de Holanda, tendo em vista o teor das declarações por eles prestadas. Na ocasião, Ana Lourdes de Holanda deverá esclarecer o teor da informação prestada aos agentes de polícia, consoante consignado às fls. 49, tendo em vista o depoimento de fls. 70; d) expedição de ofício ao Cartório de Registro de Imóveis 5

6 de Chã Preta/AL para que informe acerca da existência de imóveis em nome de Sandra Maria Vasconcelos e Ana Lourdes Teixeira de Holanda no município de Chã Preta, especificamente no conjunto Mutirão, encaminhando cópia de todos os documentos comprobatórios. Defiro as diligências requeridas pelo Ministério Público Federal, ficando as relacionadas nas alíneas a a c a cargo da Polícia Federal, ao passo que a referente à alínea d será realizada pela Secretaria do Tribunal. Publique-se. Brasília, 25 de junho de Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 6