Supremo Tribunal Federal

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1 AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA SÃO PAULO RELATORA AUTOR(A/S)(ES) PROC.(A/S)(ES) RÉU(É)(S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. CÁRMEN LÚCIA :MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO :PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO :MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA DECISÃO CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. CELEBRAÇÃO DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL ENTRE A FUNDAÇÃO HABITACIONAL DO EXÉRCITO E O MUNICÍPIO DE BARUERI/SP. POSTERIOR CESSÃO DE DIREITOS À EMPRESA PRIVADA. SUPOSTA SUBAVALIAÇÃO DO IMÓVEL. ALEGADO PREJUÍZO À ALIENANTE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA DIRIMIR O CONFLITO. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Relatório 1. Conflito negativo de atribuições apresentado neste Supremo Tribunal Federal, em , e autuado como Ação Cível Originária, objetivando a solução de conflito negativo de atribuições entre o Ministério Público de São Paulo e o Ministério Público Federal quanto à apuração de irregularidades na alienação de imóvel pela Fundação Habitacional do Exército FHE ao Município de Barueri/SP. 2. Em , a Procuradoria da República em São Paulo recebeu

2 denúncia sobre supostas irregularidades em contrato de promessa de compra e venda de imóvel celebrado entre a Fundação Habitacional o Exército FHE e o Município de Barueri/SP, cuja cessão de direitos e outorga de titularidade foi posteriormente ofertada em procedimento licitatório (Edital n. 25/2010). A denúncia e os documentos que a acompanharam foram autuados como Peças Informativas n / De acordo com o denunciante, os direitos sobre o imóvel objeto do contrato teriam sido adquiridos pelo ente municipal por R$ 14 milhões e, posteriormente, oferecidos em concorrência pública pelo valor mínimo de avaliação estabelecido em R$ 65 milhões, sendo adjudicado à empresa Tandori Holding S/A por R$ 75 milhões. A diferença entre esses valores indicaria a dimensão do dano ao erário. Em , a Procuradoria da República em São Paulo determinou a remessa dos autos ao Ministério Público de São Paulo, ao fundamento de que não haveria indícios de interesse direito e específico da União, de suas autarquias ou empresas públicas ou circunstâncias que justificassem a competência da Justiça Federal. Asseverou que a denúncia suscitava irregularidades em contrato celebrado entre o Município de Barueri/SP e a Fundação Habitacional do Exército, que disporia de personalidade jurídica de direito privado (fls ). Em , a 8ª Promotoria de Justiça de Barueri/SP instaurou inquérito cível para apurar suposto desvio de finalidade na atuação do Município de Barueri/SP, que teria celebrado negócio jurídico sem aparente interesse público, salvo especulação imobiliária (fl. 414), e para averiguar eventual prejuízo ao erário municipal em razão de ter a cessão de direitos e outorga de titularidade do imóvel sido pactuada em valor inferior ao de mercado. Na mesma data, suscitou conflito negativo de atribuição ao 2

3 fundamento de que existiriam indícios de prejuízo ao patrimônio da Fundação Habitacional do Exército FHE e, secundariamente, ao da União. Isso porque o imóvel que a ela teria pertencido, avaliado por R$ 14,3 milhões, objeto de contrato de permuta com a mencionada Fundação, foi alienado ao Município de Barureri/SP (compromisso de compra e venda) e, em seguida, adjudicado à Tandori Holding SA por R$ 75 milhões. Salientou que a cessão do imóvel ao Município de Barueri/SP não teria atendido aos objetivos da Fundação Habitacional do Exército FHE, ao contrário, possibilitou que área inicialmente pertencente à União viesse, em última instância, a ser destinada à iniciativa particular, que indubitavelmente irá obter largos lucros com o fracionamento e venda de terrenos na área (fl. 421). Realçou que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça teria assentado ser da Justiça Federal a competência para processar e julgar as ações em que seja parte a Fundação Habitacional do Exército FHE (Súmula 324) e que não disporia o Ministério Público Estadual de atribuição para investigação ou eventual propositura de ação civil pública em razão de prejuízo ao erário ou irregularidades na alienação dos bens imóveis do Comando do Exército para a Fundação Habitacional do Exército, ou mesmo desta última para o Município de Barueri (fls. 423). 3. Em , o presente conflito negativo de atribuições foi autuado neste Supremo Tribunal como Ação Cível Originária n /SP. 4. Em , o Procurador-Geral da República opinou pelo reconhecimento da atribuição do Ministério Público Federal para atuar na espécie (fls ). Examinados os elementos havidos nos autos, DECIDO. 5. O objeto da presente Ação Cível Originária é a definição da 3

4 atribuição do Ministério Público Federal ou do Ministério Público de São Paulo para apurar irregularidades na alienação de imóvel pela Fundação Habitacional do Exército FHE ao Município de Barueri/SP. 6. O presente conflito de atribuições deve ser conhecido. Na assentada de , ao julgar a Petição n /BA, Relator o Ministro Marco Aurélio, este Supremo Tribunal Federal reconheceu a sua competência para solucionar conflito de atribuições entre órgãos no Ministério Público de diferentes entidades da federação, em razão do que previsto no art. 102, inc. I, alínea f, da Constituição da República: COMPETÊNCIA - CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES - MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL VERSUS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. Compete ao Supremo a solução de conflito de atribuições a envolver o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual. CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES - MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL VERSUS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL - ROUBO E DESCAMINHO. Define-se o conflito considerado o crime de que cuida o processo. A circunstância de, no roubo, tratar-se de mercadoria alvo de contrabando não desloca a atribuição, para denunciar, do Ministério Público Estadual para o Federal (PET 3.528/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJ ). 7. Em seu parecer, o Procurador-Geral da República destacou: Consta que o imóvel foi adquirido pela Prefeitura de Barueri/SP por quatorze milhões de reais e avaliado por sessenta e cinco milhões de reais. Considerando, em acréscimo a estes fatos, a previsão da venda posterior do bem por cento e cinquenta milhões de reais, seria possível que a instituição que realizou a venda do imóvel ao município tenha experimentado prejuízo significativo em virtude de sua alienação (fls. 08). ( ) A Fundação Habitacional do Exército FHE, conforme o artigo 4

5 1º da Lei nº 6.855/80, tem personalidade jurídica de direito privado. 14. Entretanto, o artigo 31 dessa mesma Lei garante à apontada instituição o foro da Fazenda Pública, em meio à fixação de outras prerrogativas de direito público ( ) 15. O artigo 4º da Lei nº 7.750/891 estabelece, além de outras disposições, a permanência do dever da Fundação Habitacional do Exército de prestar contas ao Ministério do Exército e ao Tribunal de Contas da União, anteriormente previsto no artigo 16 da Lei nº 6855/80, observando-se que a supervisão da entidade pelo órgão do Poder Executivo Federal também é prevista no caput do artigo 1º do seu estatuto, aprovado pela Portaria nº 741, de 28 de novembro de 2011, do Comando do Exército (...) 16. Ademais, dispõe o artigo 4º da Lei 6.855/80 que, na hipótese de extinção da Fundação Habitacional do Exército, os seus bens e direitos serão incorporados ao patrimônio da União. 17. Dessa forma, impõe-se o reconhecimento da competência da Justiça Federal para apreciar eventual demanda cível decorrente das supostas irregularidades relacionadas à alienação do imóvel objeto da matrícula nº , do Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Barueri/SP, realizada pela Fundação Habitacional do Exército FHE ao mencionado Município (grifos nossos). 8. Como realçado pelo Procurador-Geral da República, embora o art. 1º da Lei n /1980 tenha conferido à Fundação Habitacional do Exército personalidade jurídica de direito privado, outras circunstâncias atraem a competência da Justiça Federal para processar e julgar as demandas em que ela seja parte. A controvérsia sobre a natureza jurídica dessa Fundação e, por conseguinte, sobre o órgão judiciário competente para julgar as causas envolvendo seus interesses foi submetida ao cuidado do Superior Tribunal de Justiça, que editou a seguinte súmula de sua jurisprudência: Súmula Compete à Justiça Federal processar e julgar 5

6 ações de que participa a Fundação Habitacional do Exército, equiparada à entidade autárquica federal, supervisionada pelo Ministério do Exército. 9. Assim, as medidas a serem adotadas em razão de eventuais irregularidades verificadas na alienação do imóvel pela Fundação Habitacional do Exército FHE ao Município de Barueri/SP devem ser coordenadas e promovidas pelo Ministério Público Federal, na linha da manifestação do Procurador-Geral da República (fls ). 10. Pelo exposto, conheço da presente Ação Cível Originária e declaro a atribuição do Ministério Público Federal para investigar e apurar responsabilidades em eventual ação a ser ajuizada em virtude dos fatos denunciados nas Peças Informativas n / Remetam-se os autos à Procuradoria da República em São Paulo. Publique-se. Brasília, 4 de dezembro de Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 6