Supremo Tribunal Federal

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1 TUTELA ANTECIPADA NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA MATO GROSSO RELATORA AUTOR(A/S)(ES) PROC.(A/S)(ES) RÉU(É)(S) ADV.(A/S) : MIN. CÁRMEN LÚCIA :ESTADO DE MATO GROSSO :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO GROSSO :UNIÃO :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO DESPACHO AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. INSCRIÇÃO DO MATO GROSSO NO SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA SIAFI E NO CADASTRO ÚNICO DE CONVÊNIOS CAUC. ÓBICE AO REPASSE DE VERBAS. PROVIDÊNCIAS PROCESSUAIS. Relatório 1. Ação cível originária, com requerimento de antecipação de tutela, ajuizada pelo Mato Grosso, em , contra a União, com o objetivo de obter a suspensão dos efeitos da inscrição como inadimplente no Sistema Integrado de Administração Financeira SIAFI e no Cadastro Único de Convênios CAUC. O caso 2. O Estado de Mato Grosso relata que, por intermédio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural SEDRAF/MT, celebrou com o Ministério do Desenvolvimento Agrário MDA, representado pela Caixa Econômica Federal, o Contrato de Repasse nº /2005 (SIAFI ), assinado em 30 de dezembro de 2005, tendo por objeto a transferência de recursos financeiros da União para a execução de infra-estrutura e serviços, em municípios de Mato Grosso (docs. 01/02). O referido convênio foi aditado por

2 várias vezes, ficando prorrogada a sua vigência para Assevera que, para execução do Plano de Trabalho previsto no Contrato de Repasse nº /2005 (SIAFI ), avençou-se o emprego do valor total originário de R$ ,56 (trezentos e trinta e três mil, seiscentos e vinte e um reais e cinquenta e seis centavos), sendo R$ ,00 (trezentos mil reais) de responsabilidade da Ré e a quantia de R$33.621,56 (trinta e três mil e seiscentos e vinte e um reais e cinquenta e seis centavos) de contrapartida do Autor. Alega que, em , o Gerente e o Coordenador de Filial da Gerência Executiva de Governo da Caixa Econômica Federal de Cuiabá-MT GIGOV/CB, por meio do Ofício nº /2014/GIGOV-CB (doc. 04), encaminhou ao Secretário de Estado de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar SEDRAF, a Notificação TCE OGU - Contratado, de 04 de setembro de 2014 (doc. 05), determinando que o Autor, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, regularizasse a ocorrência referente à não conclusão do objeto contratado ou devolvesse aos cofres públicos da União o montante creditado na conta corrente do contratado relativo ao repasse e, se fosse o caso, os respectivos rendimentos da aplicação financeira, SOB PENA DE REGISTRO DA INADIMPLÊNCIA DESSA ENTIDADE NO SIAFI/CAUC SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DO GOVERNO FEDERAL. Nessa mesma oportunidade, ressaltou que, se não fosse sanada a irregularidade ou efetuado o recolhimento no prazo assinalado, seria instaurado o processo de Tomada de Contas Especial (TCE), nos termos da IN/STN/MF 01/97 e IN/TCU 35/00, para análise, certificação das contas e posterior envio ao Tribunal de Contas da União, para julgamento, podendo ser providenciada a inclusão do débito no Cadastro Informativo de créditos não quitados no Setor Público Federal (CADIN), CASO ESSE FOSSE O ENTENDIMENTO DO TCU, APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DO PROCESSO. 2

3 Sustenta que, antes mesmo da instauração da Tomada de Contas Especial TCE, onde se possibilitará o exercício do contraditório e da ampla defesa (Lei 8.443/92, artigos 8 e 31), a Ré inscreveu o Autor como inadimplente no Cadastro Único de Convênios (CAUC) e no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), causando evidente prejuízo para a sociedade mato-grossense, já que o Autor está impedido, por essa injusta restrição (...), de firmar novos convênios e obter transferências voluntárias da Ré. Salienta não discut[ir] o mérito da prestação de contas do mencionado Contrato de Repasse, mas apenas a inserção do seu nome como inadimplente no Cadastro Único de Convênios (CAUC) e no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), por desrespeito a princípios constitucionais e às próprias regras que o regulamentam (Instrução Normativa STN n. 01/1997). Pondera que o apontamento da inadimplência no CAUC e no SIAFI, por si só, eclode efeitos prejudiciais ao Autor, que fica privado de firmar novos convênios, obter repasses e assinar contratos de empréstimo com instituições financeiras oficiais. Assevera que os princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa foram arrostados pela Ré, já que, antes mesmo de finalizar a Tomada de Contas Especial TCE, impõem ao Autor a condição de inadimplente, o que traz restrições inerentes a esta situação. Aliás, o processo administrativo concernente à Tomada de Contas Especial ainda sequer foi iniciado (grifos no original), nos termos do art. 8º da Lei n /1992. Adverte que a finalidade da tomada de contas especial, portanto, consiste na apuração dos fatos, identificação dos responsáveis e quantificação do dano, de modo que, antes da sua conclusão e julgamento, não se pode impingir à pessoa jurídica de direito público que subscreveu o convênio a pecha de inadimplente (grifos no original), como previsto no art. 31 da Lei n /

4 Conclui que, embora a Ré tenha noticiado que iria instaurar a Tomada de Contas Especial (nos termos da IN/STN/MF 01/97 e IN/TCU 35/00) e que a inscrição no Cadastro Informativo de créditos não quitados no Setor Público Federal (CADIN), caso esse fosse o entendimento do TCU, somente ocorreria após o trânsito em julgado do processo (da Tomada de Contas Especial, por óbvio), conforme se infere da leitura do Ofício nº /2014/GIGOV-CB (doc. 04) e da Notificação TCE OGU - Contratado, de 04 de setembro de 2014 (doc. 05), ainda assim impôs ao Autor, de forma açodada, a inadimplência relativamente ao contrato de repasse ora em discussão (grifos no original). Sugere, por violação ao disposto no artigo 5, LIV e LV, CF/88, o que dispõe o artigo 31, 4, da Instrução Normativa n 01/97-STN, que permite o registro da inadimplência quando, ao mesmo passo, determina a instauração da Tomada de Contas Especial para apurar a responsabilidade pela suposta lesão ao erário (grifos no original). Anota pender de julgamento neste Supremo Tribunal o Recurso Extraordinário n /PI, no qual reconhecida a repercussão geral da matéria versada nesta ação. Transcreve precedentes do Supremo Tribunal Federal nos quais reconhecida a aplicação do princípio do contraditório e da ampla defesa em casos análogos ao vertente, além de determinada a suspensão de inscrições de entes federados no Sistema Integrado da Administração Financeira SIAFI e no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias CAUC. Acrescenta não pode[r] ser imputada ao Autor eventual demora na instauração de Tomada de Contas Especial, já que é ato que depende apenas da autoridade concedente do contrato. Sustenta que o ato de inscrever o Autor em cadastro restritivo, afronta ao princípio da proporcionalidade [porque,] se a Tomada de Contas Especial ainda 4

5 será instaurada, processada e julgada pelo Tribunal de Contas da União, com a probabilidade de serem aprovadas as contas, após regular contraditório e ampla defesa, apresenta-se bem mais gravosa a escolha da Ré em restringir o Autor no Cadastro de Convênios, impossibilitando-o de obter novos convênios, auferir repasses e contratar empréstimos com instituições financeiras federais (grifos no original). Argumenta que a comprovação da plausibilidade jurídica decorre do descumprimento dos princípios do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa e da proporcionalidade em sentido estrito e que o perigo da demora está na impossibilidade de recebimento de transferência voluntária (art. 25, 1º, da Lei Complementar n. 101/2000 e art. 38 da Portaria Interministerial n. 507/2011) em razão da inscrição como inadimplente no Sistema Integrado de Administração Financeira SIAFI e no Cadastro Único de Convênios CAUC. Requer antecipação de tutela para determinar à Ré que retire o Autor do CAUC/SIAFI, concernente ao contrato de repasse [n /2005], impedindo assim que a atual restrição ocasione prejuízo à celebração de convênios, repasses voluntários e contratação de empréstimos, até julgamento final desta ação (grifos no original). No mérito, pede a procedência da presente ação, para reconhecer a nulidade do ato administrativo impugnado, determinando à Ré uma obrigação de fazer, obrigando-a a retirar definitivamente a restrição em nome do Autor do SIAFI/CAUC/SICONV, já efetivada, relativamente ao Contrato de Repasse nº /2005 (SIAFI ), até a instauração e julgamento, pelo Tribunal de Contas da União, de Tomada de Contas Especial, tendo em vista que se violaram os princípios do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa e da proporcionalidade em sentido estrito (grifos no original). 3. Este Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a ocorrência de conflito federativo em situações nas quais, valendo-se de registros de 5

6 inadimplências dos Estados no Sistema Integrado de Administração Financeira SIAFI, no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal CADIN e no Cadastro Único de Convênios CAUC, a União impede repasses de verbas, assinatura de acordos de cooperação, convênios e operações de crédito entre esses Estados e entidades federais. 4. O Autor trouxe documento para comprovar a inscrição questionada no Sistema Integrado de Administração Financeira SIAFI pela inadimplência na execução de objeto pactuado em contrato. De se ressaltar, entretanto, não constar dos autos qualquer indício, sequer alegação, na peça inicial, de ter se mobilizado o Estado para prestar as contas e comprovar ter executado integralmente o objeto pactuado no Contrato de Repasse nº /2005. A ausência de documentos comprovadores da regularidade da execução do objeto do contrato ou da adoção de providências necessárias ao saneamento de eventuais falhas e questionamentos apontados pela União, a sinalizar a intenção em dar efetividade à Lei de Responsabilidade Fiscal, impedem, nesse momento processual, a aferição dos requisitos ensejadores da tutela antecipada. 5. Intime-se o Autor para apresentar, no prazo máximo de cinco dias, documentos relativos à prestação de contas do Contrato de Repasse nº /2005 e demais provas necessárias e úteis à comprovação do alegado, sob as penas da lei. Publique-se. Brasília, 29 de janeiro de Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 6