UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO

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1 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO INTENCIONALIDADES, TERRITORIALIDADES E TEMPORALIDADES DA AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA EM ITAPEJARA D OESTE, SALTO DO LONTRA E VERÊ (SO/PR) SUZANA GOTARDO DE MEIRA Francisco Beltrão, PR 2013

2 2 SUZANA GOTARDO DE MEIRA INTENCIONALIDADES, TERRITORIALIDADES E TEMPORALIDADES DA AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA EM ITAPEJARA D OESTE, SALTO DO LONTRA E VERÊ (SO/PR) Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia área de concentração: Produção do Espaço e Meio Ambiente, na linha de pesquisa, Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais, para obtenção do título de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Luciano Zanetti Pessôa Candiotto. Francisco Beltrão, PR 2013

3 3 Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas - UNIOESTE Campus Francisco Beltrão Meira, Suzana Gotardo de M514 Intencionalidades, territorialidades e temporalidades da agroecologia e da agricultura orgânica em Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê: Sudoeste do Paraná. / Suzana Gotardo de Meira. Francisco Beltrão, f. Orientador: Prof. Dr. Luciano Zanetti Pessôa Candiotto. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Francisco Beltrão. 1. Agricultura Orgânica - Sudoeste do Paraná. 2. Territorialidade. 3. Agriculturas alternativas. 4. Agroecologia. I. Candiotto, Luciano Zanetti Pessôa. II. Título. CDD

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5 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos aqueles que acreditam na Agroecologia, e de forma especial aos agricultores que a praticam.

6 6 AGRADECIMENTOS À Universidade Estadual do Oeste do Paraná, especialmente ao Programa de Pós- Graduação em Geografia, pelo apoio, pela oportunidade de ter realizado aqui todo o caminho e a possibilidade de ter vivenciado neste Campus de Francisco Beltrão, todas as experiências que fizeram parte da minha formação, e que as tornaram tão especial. Agradeço ao meu orientador, professor Luciano Zanetti Pêssoa Candiotto, que me acompanhou nesta trajetória, durante a graduação e o mestrado, com palavras de incentivo, ensinamentos, auxílio e apoio na realização deste estudo. Ao CNPQ pelo auxílio monetário para o desenvolvimento da pesquisa. Aos companheiros do GETERR (Grupo de Estudos Territoriais) da UNIOESTE, que contribuíram para a realização deste trabalho, a partir de debates e conversas informais, pelo suporte material, por todo conhecimento compartilhado e todas as experiências vividas. Em especial aos professores Marcos Aurélio Saquet, Roseli Alves dos Santos, Beatriz Rodrigues Carrijo, Luiz Carlos Flávio e Adilson Francelino Alves. Dedico um agradecimento especial aos meus amigos geterrianos, Raquel, Michele, Aline, Talita, Elaine, Felipe, Rafael, Maristela, Luiz, e outros, obrigada pelo companheirismo! Por tudo que vivemos juntos, pelo carinho, pela amizade, em momentos bons ou não tão bons, que se fazem eternos... Ao Gustavo, pelo apoio técnico, incentivo nesta caminhada, e por acreditar e confiar em mim como profissional. As famílias entrevistadas, pela atenção, e disponibilidade em nos atender, conversando e respondendo a questionamentos, foram de fundamental importância. Aos meus pais, Neusa e Cacimiro, que foram e são sempre conforto, apoio, inspiração e motivo. À minha irmã Daiana e ao cunhado Cleverson, com quem sempre pude contar em qualquer momento. A todos os outros que de maneira direta ou indireta contribuíram para a realização e conclusão desta pesquisa, os meus sinceros agradecimentos. Enfim, ao povo Brasileiro, que no difícil momento de fechamento desta dissertação através das manifestações ocorridas em junho de 2013, me encorajou, me engrandeceu de orgulho, fortalecendo ainda mais meus ideais!

7 7 Gravata Colorida Quando eu tiver bastante pão para meus filhos para minha amada pros meus amigos e pros meus vizinhos quando eu tiver livros para ler então eu comprarei uma gravata colorida larga bonita e darei um laço perfeito e ficarei mostrando a minha gravata colorida a todos os que gostam de gente engravatada Solano Trindade

8 8 RESUMO Os impactos ambientais ocasionados pela industrialização da agricultura colocam em questão o pacote modernizador, baseado na dominação de todas as formas de vida por meio da racionalidade econômica e instrumental. A Agroecologia e a agricultura orgânica, entre várias outras formas de alternativas ao modelo convencional de agricultura, surgem do cenário de crise da modernidade. Ao realizarmos estudos sobre estas formas de produção em alguns municípios do Sudoeste do Paraná, percebemos que as discussões em torno desta temática carecem ainda de um maior aprofundamento. Os municípios selecionados para esta pesquisa foram Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê (PR), pois já possuem uma trajetória com a Agroecologia e a agricultura orgânica. Assim, tivemos condições de avançar nas discussões sobre a temática, propondo uma tipologia para diferenciar estabelecimentos rurais que praticam a agricultura orgânica, daqueles mais próximos aos ideários da Agroecologia e assim, aplicar essa tipologia com os agricultores dos três municípios. Também realizamos uma abordagem geográfica do assunto, buscando apreender ritmos, temporalidades, territorialidades e intencionalidades que caracterizam a Agroecologia e a agricultura orgânica desenvolvida nos municípios pesquisados. Para atingirmos estes objetivos, a metodologia consistiu em levantamentos bibliográficos de autores que abordam o conceito de agricultura orgânica e de Agroecologia, temporalidades, territorialidades e intencionalidades, e em sua aplicação em uma realidade empírica específica. Para tanto, realizamos entrevistas com um roteiro pré-estabelecido, com agricultores e representantes de instituições parceiras da produção orgânica e agroecológica de Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê (PR). Os agricultores que praticam a agricultura orgânica e a Agroecologia estão inseridos em múltiplos territórios, decorrentes da sobreposição e coexistência de suas territorialidades materiais e imateriais e de diferentes temporalidades, que por sua vez, são condicionadas pelas intencionalidades desses agricultores, bem como de outros sujeitos sociais. Dessa forma, esses agricultores imprimem suas ações através do tempo e territorializam o espaço onde vivem, criando e transformando suas territorialidades e temporalidades. Palavras-Chave: Intencionalidade; Territorialidade; Temporalidade; Agroecologia; Agricultura Orgânica.

9 9 ABSTRACT The environmental impacts caused by the industrialization of Agriculture is an argument to question the package, based on the domination of all life through economic and instrumental rationality. The Agroecology and organic agriculture, among other forms of alternatives to conventional agriculture, arises from the crisis of modernity. To carry out studies on these forms of production in some municipalities in the Southwest of Paraná, we realize discussions around this issue. The cities selected for this research were Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê (PR), because they have some history with Agroecology and organic agriculture. So, we were able to make progress in discussions on the subject, proposing a typology to differentiate rural establishments who practice organic agriculture, those based on principles of Agroecology and apply this typology with farmers in the three municipalities. We also perform a geographical approach to the subject, seeking to seize rhythms, temporalities, territorialities and intentionality that characterize the Agroecology and organic agriculture developed in the cities surveyed. To achieve these objectives, the methodology consisted of bibliographic surveys of authors that discuss the concept of organic agriculture and Agroecology, and try to identificate internationalities and territorialities in a specific empirical reality. We conducted interviews starting from a preestablished screenplay, with farmers and representatives of partner institutions of the organic and agro-ecological production in Itapejara d Oeste, Salto do Lontra and Verê (PR). Farmers who practice organic agriculture and Agroecology are entered into multiple territories, resulting from the coexistence of overlapping and their material and immaterial territorialities of different temporalities, which in turn are conditioned by the intentionality of these farmers and other social subjects. In this way, these farmers print their actions through time and territorialize the space where they live, creating and transforming their territorialities and temporalities. Key-words: Intentionality; Territoriality; Temporality; Agroecology; Organic Agriculture.

10 10 LISTA DE MAPAS MAPA 01 - Localização do município de Itapejara d Oeste, Paraná, Brasil MAPA 02 - Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Itapejara d Oeste/PR MAPA 03 - Localização do município de Salto do Lontra, Paraná, Brasil MAPA 04 - Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Salto do Lontra/PR MAPA 05 - Localização do município de Verê, Paraná, Brasil MAPA 06 - Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Verê/PR LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 - Principais produtos agrícolas do município de Itapejara d Oeste/PR, safra GRÁFICO 02 - Utilização das terras Área dos estabelecimentos (ha), Itapejara d Oeste/PR GRÁFICO 03 - Evolução histórica da produção leiteira no município de Itapejara d Oeste/PR. Quantidade de leite produzido (litros/ano) GRÁFICO 04 - Principais produtos agrícolas do município de Salto do Lontra/PR, safra GRÁFICO 05 - Utilização das terras Área dos estabelecimentos (ha), Salto do Lontra/PR GRÁFICO 06 - Evolução histórica da produção leiteira no município de Salto do Lontra/PR. Quantidade de leite produzido (litros/ano) GRÁFICO 07 - Principais produtos agrícolas do município de Verê/PR, safra GRÁFICO 08 - Utilização das terras Área dos estabelecimentos (ha), Verê/PR GRÁFICO 09 - Evolução histórica da produção leiteira no município de Verê/PR. Quantidade de leite produzido (litros/ano)

11 11 LISTA DE QUADROS QUADRO 01 - Classificação de agricultores familiares de Itapejara d Oeste/PR QUADRO 02 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara d Oeste/PR QUADRO 03 - Classificação de agricultores familiares de Salto do Lontra/PR QUADRO 04 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Salto do Lontra/PR QUADRO 05 - Classificação de agricultores de Verê/PR QUADRO 06 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Verê/PR LISTA DE FOTOS FOTO 01 - Parte do parreiral de A.P FOTO 02 - Parreiral e plantação de eucaliptos de A.C.C FOTO 03 - Produção de hortaliças e ao fundo parreiral na propriedade de M.M FOTO 04 - Pulverizador manual da UPVF de N.A FOTO 05 - Horta e estrebaria da família de N.S FOTO 06 - Carroça com tração animal na UPVF de O.F FOTO 07 - Estufa de hortaliças na UPVF de F.C.S FOTO 08 - Terraplanagem para a construção de uma nova casa na UPVF de E. F FOTO 09 - Canteiros de hortaliças na UPVF de F. P FOTO 10 - Grade para tração animal na UPVF de T. S. e Z.S FOTO 11 - Lavoura Mecanizada na UPVF de J.F FOTO 12 - Paisagem presente na propriedade de P. F FOTO 13 - Horta da família de M. L. S FOTO 14 - Pequeno trator para trabalhos diversos FOTO 15 - V.J. com os bois e a carroça FOTO 16 - Trilhadeira FOTO 17 - Galpão de fumo desativado FOTO 18 - Bovino leiteiro e pastagem FOTO 19 - Produção de hortaliças e plantas medicinais FOTO 20 - Estufas de hortaliças na propriedade de D.C

12 12 FOTO 21 - Produção transformada de frutas FOTO 22 - Pulverizador com tração manual FOTO 23 - Parreiral de M. T FOTO 24 - Vacas sendo preparadas para ordenha

13 13 LISTA DE SIGLAS APAV APP APROVIVE ASSESOAR ATER CAPA CLAF CNPJ CNPQ COAFA CONAB COOPAFI COPEL COPERIGUAÇU CRESOL EM EMATER EMBRAPA GETERR IBD IBGE MDA NCR ONG PAA PNAE PRONAF RL SDT SEBRAE SENAR Associação dos Produtores Agroecológicos de Verê Área de Preservação Permanente Associação dos Vitivinicultores de Verê Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural Assistência Técnica e Extensão Rural Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar Conselho Nacional de Pessoa Jurídica Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Cooperativa de Alimentos da Agricultura Familiar Companhia Nacional de Abastecimento Cooperativa de Comercialização da Agricultura Familiar Integrada Companhia Paranaense de Energia Cooperativa Iguaçu de Prestação de Serviços Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária Microrganismos Eficazes Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Grupo de Estudos Territoriais Instituto Biodinâmico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Ministério do Desenvolvimento Agrário National Research Council Organização Não Governamental Programa de Aquisição de Alimentos Programa Nacional de Alimentação Escolar Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Reserva Legal Secretária de Desenvolvimento Territorial Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

14 14 SETI SINTRAF SISLEG SLOT STR TDR UNIOESTE UPVF UTFPR Secretária de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente Sistema Local Territorial Sindicato dos Trabalhadores Rurais Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização Universidade Estadual do Oeste do Paraná Unidade de Produção e Vida Familiar Universidade Tecnológica Federal do Paraná

15 15 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I. OS CONCEITOS DE INTENCIONALIDADES, TEMPORALIDADES E TERRITORIALIDADES COMO FERRAMENTAS PARA ANÁLISES GEOGRÁFICAS Intencionalidades Tempo e Temporalidades Território e Territorialidades CAPÍTULO II. ELEMENTOS PARA O DEBATE DO CONCEITO DE AGROECOLOGIA Agroecologia como ciência Agroecologia como prática e estratégia de reprodução Contribuições de diferentes agriculturas alternativas para a Agroecologia Agricultura Alternativa Agricultura Ecológica Agricultura Sustentável Agricultura Biodinâmica Agricultura natural Agricultura Biológica Permacultura Agricultura Regenerativa Agricultura Orgânica Similitudes e diferenças da agricultura orgânica e da Agroecologia Proposta de tipologia para a agricultura orgânica...63 CAPÍTULO III. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE ITAPEJARA D OESTE - PR Caracterização geral do município Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia Intencionalidades dos técnicos e gestores Agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara d Oeste A.P. e família A.C.C. e família... 84

16 M.M. e família N.A. e família N.S. e família O.F. e família F.C.S. e família Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no município de Itapejara d Oeste PR CAPÍTULO IV. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE SALTO DO LONTRA - PR Caracterização geral do município Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia Intencionalidades dos técnicos e gestores Agricultores orgânicos e agroecológicos de Salto do Lontra E. F. e família F. P. e família T. S. e Z.S J. F. e família P.F. e família M. L. S. e família Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no município de Salto do Lontra PR CAPÍTULO V. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE VERÊ PR Caracterização geral do município Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia Intencionalidades dos técnicos e gestores Agricultores orgânicos e agroecológicos de Verê V.B. e V.L.C.B V.J. e família D.C. e F.C Família C D.M. e família A.M. e família B.B. e família

17 D.C. e família I.Z. e família I. C. e família M.T. e família N.M. e família R.C Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no município de Verê PR CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICE 1. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA AGRICULTORES AGROECOLÓGICOS E/OU ORGÂNICOS APÊNDICE 2. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA GESTORES APÊNDICE 3. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA TÉCNICOS

18 18 INTRODUÇÃO Essa pesquisa demonstra o processo de territorialização da agricultura orgânica e da Agroecologia em três municípios do Sudoeste do Paraná, considerando sua gênese e seu desenvolvimento nos últimos anos, e dialogando com os conceitos de intencionalidades, com base em Santos (1996), temporalidades e territorialidades, com base na abordagem de Saquet (2003, 2007), principalmente. Os municípios selecionados foram Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê (PR), localizados no Sudoeste do Paraná. Eles possuem Unidades de Produção e Vida Familiares (UPVFs) que praticam a agricultura orgânica e/ou a Agroecologia, que se constituem em formas distintas de cultivo e de relação com os recursos naturais presentes em suas UPVFs, e que são análogas à agricultura familiar praticada na região, que é majoritária. A definição desses municípios para pesquisa se deu devido a nossa participação no projeto intitulado Agricultura familiar agroecológica nos municípios de Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê (Sudoeste do Paraná), como estratégia de inclusão social e desenvolvimento territorial, financiado pela Secretaria Estadual de Ciência Tecnologia e Ensino Superior (SETI), através do Programa Universidade Sem Fronteiras (USF), desenvolvido entre abril de 2009 e dezembro de Este projeto teve como objetivo geral, compreender as características da produção agroecológica familiar de alimentos e participar sistematicamente através das atividades de extensão e cooperação na qualificação dessa produção. Foram gerados importantes textos no âmbito deste projeto, um Trabalho de conclusão de curso intitulado Agroecologia no município de Itapejara d Oeste PR: gênese, desenvolvimento e perspectivas de autoria de Poliane Nardi de Souza, 2010 e uma dissertação intitulada: Território e Poder: a produção agroecológica como estratégia de desenvolvimento territorial de autoria Elaine Fabiane Gaiovicz, Esses textos e trabalhos concluídos foram base para essa pesquisa, portanto a apontamos muito mais como um trabalho de equipe, do que uma pesquisa individual. Essa participação no mencionado projeto nos proporcionou uma base de estudos teóricos e empíricos sobre as questões relacionadas à Agroecologia e à agricultura orgânica. Assim, tivemos condições de avançar nas discussões sobre a temática, principalmente as relacionadas à diferenciação entre a agricultura orgânica e a Agroecologia. Para tanto, propusemos uma tipologia para diferenciar estabelecimentos rurais que praticam a

19 19 agricultura orgânica, daqueles mais próximos aos ideários da Agroecologia, e aplicamos essa tipologia com os agricultores dos três municípios. Também procuramos realizar uma abordagem geográfica do assunto, buscando apreender ritmos, temporalidades, territorialidades e intencionalidades que caracterizam a Agroecologia e a agricultura orgânica desenvolvida em Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê. Portanto, nesta pesquisa trabalhamos com os agricultores que fizeram parte do mencionado projeto, e que ainda atuam na Agroecologia e na agricultura orgânica, pois já temos uma trajetória de estudos com os mesmos e, por isso, foi possível avançar nas reflexões acerca deste modo de produção alternativo. Também foi importante para o desenvolvimento dessa pesquisa de mestrado, a participação no projeto de pesquisa Conhecendo a configuração da agricultura orgânica e da Agroecologia em nove municípios do Sudoeste do Paraná, onde os municípios de Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê estão inseridos. Essa pesquisa, assim como os demais projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos no GETERR, está baseada em uma abordagem ampla do conceito de Agroecologia e território, que considera aspectos ambientais, sociais, econômicos e políticos. Desta forma, tal pesquisa justifica-se porque se faz necessário realizar uma análise das unidades de produção que desenvolvem este tipo de produção, considerando seu campo relacional, para compreendermos como e quais são as intencionalidades, temporalidades e territorialidades que se inserem, quais os objetivos dos agricultores em produzir de forma agroecológica, as estratégias territoriais, as relações com as entidades parceiras e com o mercado. A heterogeneidade de temporalidades existente nos permite apontar que a Agroecologia nos municípios em questão, não pode ser entendida como uma atividade do agronegócio, onde o agricultor não tem ações próprias, não participa na tomada de decisões e não utiliza formas de produção tradicionais. Porém, não se pode ignorar a infiltração do capitalismo no campo, e dizer que o agricultor não está inserido no mercado, ou que nega o mercado. O que acontece é uma junção de diferentes temporalidades e territorialidades que influenciam no desenvolvimento da agricultura orgânica e da Agroecologia. Diante do exposto, ressaltamos a importância de identificar algumas intencionalidades, temporalidades e territorialidades dos agricultores e de instituições que direta ou indiretamente participam de alguma etapa (produção, comercialização, divulgação,

20 20 capacitação) do desenvolvimento da agricultura orgânica e da Agroecologia nos municípios de Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê. O objetivo principal da pesquisa consistiu em compreender as intencionalidades, temporalidades/ritmos e territorialidades, considerando similitudes e diferenças entre a dinâmica das UPVFs envolvidas e dos municípios analisados. Os objetivos específicos foram os seguintes: - Desenvolver uma proposta de tipologia para diferenciar as UPVFs que praticam a agricultura orgânica, daquelas mais próximas da Agroecologia e aplicar essa proposta nas UPVFs dos municípios pesquisados; - Apreender a configuração da agricultura orgânica e da Agroecologia em cada um dos municípios pesquisados, considerando sua gênese, desenvolvimento e situação atual; - Demonstrar a diversidade de temporalidades e territorialidades existentes na agricultura orgânica e na Agroecologia praticada em Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê, considerando aspectos produtivos, de comercialização, certificação e organização; e - Identificar a existência de distintas temporalidades e territorialidades no interior de cada UPVF estudada. Desta forma, as questões norteadoras da pesquisa foram as seguintes: como surge a agricultura orgânica e/ou a Agroecologia nesses municípios? Como esse tipo de agricultura vai se territorializando? Quais os atores que participam e quais suas intencionalidades, temporalidades e territorialidades nesse processo de territorialização da agricultura orgânica e da Agroecologia nos municípios? Para respondermos a tais questões, a metodologia consistiu em levantamentos bibliográficos de autores que abordam os conceitos de intencionalidade, tempo, temporalidade, territorialidade, agricultura orgânica e Agroecologia, fundamentais para o desenvolvimento dessa pesquisa. Para a coleta de dados empíricos, realizamos entrevistas semi-estruturadas com agricultores e técnicos. Para tanto, foi elaborado um roteiro específico direcionado aos agricultores orgânicos e agroecológicos dos municípios pesquisados, e outro roteiro de entrevistas com representantes das instituições consideradas pelos agricultores, parceiras da agricultura orgânica e da Agroecologia. Todos os agricultores envolvidos nesta pesquisa, assim como as entidades pesquisadas, foram em algum momento visitados por nós, elemento este que facilita a apreensão das intencionalidades dos mesmos com a Agroecologia e a agricultura orgânica, porém optamos por utilizar as entrevistas realizadas mais recentemente, por nós e demis membros do GETERR, para a atualização dos dados.

21 21 As entrevistas foram realizadas diretamente nas UPVFs e nas sedes das instituições. Elas foram gravadas, transcritas e analisadas. Nos trabalhos de campo nas UPVFs, foram coletadas fotos, dados de localização com GPS, realizadas as entrevistas, além de observações gerais da paisagem, das áreas de cultivo, criação de animais, benfeitorias e equipamentos de cada UPVF. Elaboramos mapas para representações mais relevantes, mapas temáticos, e de localização. Os softwares utilizados para mapeamento foram o AutoCAD 2011 e CorelDRAW X5. As escalas foram definidas de forma que as representações ficassem visíveis em tamanho A4, com espacialização adequada do objeto de estudo. Os agricultores que praticam a agricultura orgânica estão inseridos em múltiplos territórios, decorrentes da sobreposição e coexistência de suas territorialidades materiais e imateriais e de diferentes temporalidades, que por sua vez, são condicionadas pelas intencionalidades desses agricultores, bem como de outros sujeitos sociais. A partir das leituras e de nossa experiência empírica de contato com agricultores que produzem alimentos orgânicos através de projetos de pesquisa e extensão, desenvolvemos uma proposta de tipologia para os estabelecimentos rurais envolvidos com a agricultura de base ecológica, entendendo-a como um exercício de análise para contribuir com o debate sobre o tema, e não como algo fechado e concluído.

22 22 CAPÍTULO I. OS CONCEITOS DE INTENCIONALIDADES, TEMPORALIDADES E TERRITORIALIDADES COMO FERRAMENTAS PARA ANÁLISES GEOGRÁFICAS A análise da Agroecologia através das intencionalidades, das temporalidades e das territorialidades nos permitiu apreender elementos e indicadores que a caracterizam em cada município da pesquisa, considerando o início da agricultura orgânica e da Agroecologia até a situação atual. Os agricultores e a Agroecologia estão inseridos em tramas territoriais, devido à sobreposição dos territórios, onde as diversas intencionalidades, territorialidades e temporalidades fundem-se. Para entender este processo, faz-se necessário a compreensão dos conceitos de intencionalidade, território e territorialidade, considerando o tempo e a temporalidade como fundamentais para compreender essas concepções, pois, o território é modificado com o passar do tempo, por meio das diferentes relações que o homem efetua em seu cotidiano, ou seja, através da territorialidade, que por sua vez, é carregada de intencionalidades. Portanto, utilizaremos o conceito de intencionalidade, a fim de entender quais os atores e porque estão envolvidos em tal processo Intencionalidades Entendendo que o espaço é o objeto de estudo da Geografia, e que este é constituído por um sistema de objetos e de ações através de relações sociais (SANTOS, 1996), devemos considerar que as mudanças ocorridas através do tempo no espaço são fruto das relações cotidianas dos homens e dos objetivos explícitos e implícitos dos diversos sujeitos, manifestados no conceito de intencionalidades. As intencionalidades influenciam no processo de territorialização e estão vinculadas às territorialidades e às temporalidades, que são conceitos importantes nessa pesquisa. Assim, buscamos compreender: 1) Quais as intencionalidades dos agricultores em desenvolver a agricultura orgânica e/ou agroecológica? Quais as intencionalidades dos outros sujeitos envolvidos (técnicos, políticos, pesquisadores) quando se fala em agricultura orgânica e em Agroecologia? Por esta razão, achamos pertinente abordar nessa primeira parte, os conceitos de intencionalidades, temporalidades e territorialidades, que serão aplicados na pesquisa empírica.

23 23 A definição do Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa, nos mostra que intencionalidade é relativo a intenção: 1. Ato de tender, intento, tenção; 2. Vontade, desejo, pensamento; 3. Propósito, plano, deliberação (FERREIRA, 1988, p. 365). Segundo Coelho Junior (2002), a consciência não pode ser concebida como algo independente do mundo, de objetos, de outras pessoas. Sendo assim, a concepção de uma consciência intencional, é sempre consciência de de algo. Baseado nos estudos de Edmund Husserl 1, Coelho Junior diz ser a intencionalidade algo intrínseco ao ato de conhecimento, uma vez que é característica do mesmo sempre se referir a alguma coisa, a algum objeto. Assim, o conhecimento para Husserl implica em uma consciência intencional, que não é consciência em si, mas sempre consciência de alguma coisa (p.98). Na Geografia brasileira, o conceito de intencionalidade faz parte do arcabouço conceitual proposto por Milton Santos (1996) para se apreender os processos de transformação do espaço geográfico. Conforme Santos (1996, p.90): [...] a noção de intencionalidade não é apenas válida para rever a produção do conhecimento. Essa noção é igualmente eficaz na contemplação do processo de produção e de produção de coisas, considerados como um resultado da relação entre o homem e o mundo, entre o homem e o seu entorno. Portanto, além de estar presente no ato do conhecimento, pois quando buscamos apreender alguma coisa, consequentemente há uma intenção para tal, a intencionalidade também reflete diretamente na construção de algo, algo que o indivíduo ou determinado grupo social irá produzir sobre o território em que vive, através de múltiplas relações. As intencionalidades são fundamentais na configuração de objetos e ações, e consequentemente, no uso do território e na transformação do espaço. Elas influenciam a materialidade dos lugares, assim como as verticalidades e horizontalidades presentes nos lugares. Para Santos (1996, p.94), o [...] tema central da geografia não é separadamente os objetos, nem as ações, mas objetos e ações tomadas em conjunto. A ação é tanto mais eficaz quanto os objetos são mais adequados. Então, à intencionalidade da ação se conjuga a intencionalidade dos objetos, e ambas são, hoje, dependentes da respectiva carga de ciência e de técnica presente no território. 1 O ideal da filosofia husserliana se expressa através da determinação em atribuir peso científico à filosofia com o intuito de atingir outras ciências, partindo de uma base sólida de pensamento e uma fundamentação rigorosa. (Disponível em: <

24 24 De acordo com Candiotto (2007), com base nas considerações de Milton Santos, a compreensão do significado, ou pelo menos a noção de intencionalidade permite avançar nas relações entre objeto e ação (p.52), portanto, para compreender como se dá a produção dos lugares e dos territórios, é preciso considerar as intencionalidades. Os objetos que conformam os sistemas técnicos atuais são criados a partir da intenção explícita de realizar uma função precisa, específica. Essa intencionalidade se dá desde o momento de sua concepção, até o momento de sua criação e produção. A construção e a localização a incepção dos objetos estão subordinados a uma intencionalidade que tanto pode ser puramente mercantil quanto simbólica, senão uma combinação das duas intencionalidades (SANTOS, 1994, p.50). Observando as colocações dos autores citados sobre o conceito de intencionalidade, percebemos que o mesmo é fundamental para a apreensão das dinâmicas territoriais, pois o poder é exercido a partir de intencionalidades, e vice-versa, seja por um cidadão comum, ou não, mas principalmente por sujeitos que centralizam o poder, seja político, econômico ou ideológico. Porém, é preciso considerar o fato de que nem sempre ações intencionadas, levarão aos resultados esperados, podendo conduzir a resultados não intencionados. Uma razão pela qual não se pode prever completamente o resultado da ação vem do fato de que a ação sempre se dá sobre o meio, que tem o poder de deformar o impacto da ação. (SANTOS, 1996, p. 76). Conforme aponta Candiotto (2007), este meio é o lugar, onde as ações se materializam através dos objetos. De forma geral, predominam as ações daqueles sujeitos ou grupos com maior poder, de modo que estes acabam influenciando na aceitação e na materialização de suas intencionalidades, que podem ser explícitas ou implícitas. A intencionalidade é compreendida por nós como uma vontade, um desejo, que por algum motivo se quer realizar, através de ações e se materializar através de objetos na paisagem. Depende de vários fatores, mas pode revelar os verdadeiros objetivos de determinadas ações e objetos. Desta forma, a intencionalidade está diretamente relacionada à produção do território e, por consequência, das territorialidades e temporalidades dos atores presentes no lugar, da territorialidade, assunto que abordaremos nos próximos itens Tempo e temporalidades Ao refletir sobre o conceito de tempo e temporalidade percebemos que uma série de termos e símbolos são constantemente citados, e dialeticamente utilizados por diferentes áreas do conhecimento. Contudo, em meio aos discursos formados, percebemos que há na Geografia, pensamentos semelhantes que resultam em análises e apreensões complementares

25 25 e, ao mesmo tempo, excludentes umas das outras, porém necessárias na maioria das pesquisas que envolvem a ciência geográfica. As mudanças ocorrem no espaço com certa duração, e as pesquisas na Geografia precisam ser situadas espaço-temporalmente, desta forma achamos pertinente a discussão acerca das temporalidades da Agroecologia nos municípios de Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê-PR. Porém para compreendermos a temporalidade, faz-se necessário diferenciá-la do tempo. O tempo não se deixa ver, ouvir, tocar, respirar ou saborear, então [...] como medir uma coisa que não se pode perceber pelos sentidos? a resposta parece clara: com a ajuda de um relógio. Mas, o quê são relógios? (...) Os relógios são processos físicos que a sociedade padronizou, decompondo-os em seqüências-modelo de recorrência regular, como as horas ou os minutos. (ELIAS, 1998, p.7). Desta forma, o relógio permite medir algo que pode ser captado, como a duração de um dia de trabalho, a velocidade de um corredor, ou o pôr-dosol, por exemplo, mas não o tempo, invisível e destituído de sentido. Relógios exercem na sociedade a mesma função que os fenômenos naturais, ou seja, é um meio de orientação para pessoas inseridas em uma sucessão de processos físicos e sociais. A sucessão irreversível dos anos representa, à maneira simbólica, a seqüência irreversível dos acontecimentos, tanto naturais quanto sociais, e serve de meio de orientação dentro da grande continuidade móvel, natural e social. Numerados, os meses e dias do calendário passam então a representar estruturas recorrentes, no interior de um devir que não se repete. (ELIAS, 1998, p.10). Não é possível comparamos a duração de um período de vida com a de outro, sem o que chamamos de calendário. Natureza e sociedade se transformam em uma dada sucessão de mudanças irreversíveis. Essas mudanças são referências para outras sucessões de acontecimentos, desde que seja medida sua duração. Para isso, os homens inventaram os calendários, compostos por meses dias e anos. Desta forma, Elias (1998) mostra que o tempo tem caráter simbólico, pois a forma dominante da comunicação humana se efetua por meio de símbolos sociais, assim como a língua, saber transmissível de geração para geração, presente no grupo humano, antes que um indivíduo se integre nele. A coerção do tempo é de natureza social, pois é exercida pela multidão sobre o indivíduo, mas, além disso, repousa sobre dados naturais, como o envelhecimento. De acordo com Elias (1998), independente da vontade ou consciência dos homens, a vida segue sempre o mesmo curso, do nascimento até a morte. Porém a ordenação desse

26 26 processo, sob a forma do passar dos anos, foi possível a partir do momento que os homens desenvolveram para suas necessidades, o símbolo regulador do ano, ou seja, o calendário. Segundo Marques (2008) a racionalização do conceito de tempo nos leva a dicotomia deste, entre o tempo físico, absoluto, ausente de consciência, e o tempo psicológico, que se refere ao conhecimento e à percepção do ser humano. Se o tempo físico independe de nós, pois é o tempo da natureza, ele na verdade sequer precisaria ou mesmo poderia ser por nós percebido. É o presente absoluto da ação, já que não é passado nem futuro. O passado não existe, pois já se foi; o futuro também não existe, pois ainda não acontece. Assim, estes dois conceitos apenas fazem sentido dentro da experiência vivida, dentro da racionalização e consciência do seu decorrer constituem, portanto, o valor da memória e da projeção, causa e consequência do momento presente, medido pelo ser humano, ou seja, o tempo psicológico. (MARQUES, 2008, p.45) Para a autora, só o presente é real, o tempo vivido pelos seres humanos só tem sentido se comparado com o passado e o futuro, e isso se constitui no processo fundamental da consciência humana e da apreensão da história. Portanto, esse tempo é a temporalidade, ou seja, na consciência do ser humano se não existir a unidade do presente, passado e futuro, não há temporalidade, apenas o tempo em si. O tempo é destituído de sentido, mas a temporalidade só tem sentindo na experiência vivida, medida pelo ser humano a partir da realidade cotidiana. Concordamos com Elias (1998) quando aponta que muitos indivíduos têm a impressão de que é o próprio tempo que passa, mas na verdade o sentimento de passagem refere-se ao curso de sua própria vida e, às mudanças da natureza e da sociedade, é a percepção humana do tempo. O tempo parece uma cobrança da qual ninguém consegue escapar, relógios, agendas, horários, calendários. Nossa consciência de tempo é tão interiorizada que é difícil imaginarmos como grupos humanos conseguiram viver sem ter calendários. O tempo não existe em si, Elias (1998) o aponta como um símbolo social, resultado de um longo processo de aprendizagem. Os calendários e mostradores de relógios atestam o caráter simbólico do tempo. Quanto mais os enclaves humanos foram ganhando extensão e autonomia relativa em favor de processos como a urbanização, a comercialização e a mecanização, mais eles se tornaram dependentes, para medir o tempo, de dispositivos artificiais, e menos passaram a depender de escalas naturais de medição do tempo, como os movimentos da Lua, a sucessão das estações ou o ritmo da maré alta e da maré baixa. (ELIAS, 1998, p.36).

27 27 A evolução humana, de modo geral, é vista tendo seu ritmo de crescimento acelerado. Vivemos diante de um período histórico marcado pelo que Milton Santos (1994) chama de meio técnico-científico-informacional. Este é altamente dependente da mensuração do tempo, porém essa evolução não é irreversível e não ocorre em linha reta, é bastante heterogênea. Nem todos os indivíduos, grupos ou comunidades vivem as mesmas sequências evolutivas (ELIAS, 1998), pelos mais variados motivos, que podem ser bons ou ruins para estes, dependendo das condições em que se encontram e que vivem. Dessa forma, coexistem no mesmo espaço ou em espaços diferentes aqueles que, por exemplo, utilizam de escalas naturais, como as fases da lua, para plantio e colheita e aqueles que empregam de alta tecnologia, ordenada por dispositivos artificiais para realizar o mesmo trabalho. Segundo Santos (1996), com o meio técnico-científico-informacional, o tempo se torna universal, um tempo único regido pelos atores hegemônicos que comanda a racionalidade global. O desenvolvimento e progresso técnico científico e a revolução da Física no século XX, desencadearam a unificação do tempo quantitativo da população e, principalmente, a partir da teoria da evolução, em que o conceito da origem humana remete um longo e processo natural (MARQUES, 2008), novos elementos são cogitados. O tempo se torna irreversível direcionado ao futuro, tendo, portanto, um fim. Por outro lado, diante das complexidades em que as expressões sociais se manifestam no tempo, exige-se uma medida mais ampla, que contemple a oscilações dos preços, das taxas de juros, do salário mínimo, as novas formas de produção, o aumento da fome, da miséria, das desigualdades sociais, a expansão industrial, a ampliação e complexidade dos meios de transporte, comunicação. As relações temporais são de níveis múltiplos e grande complexidade. Em longo prazo podemos considerar o tempo como símbolo conceitual de uma intervenção complexa de relacionamento de distintos processos evolutivos. Em sua forma mais elementar, portanto, a operação de determinação do tempo equivale a decidir se tal ou qual transformação, recorrente ou não, produz-se antes, depois ou simultaneamente a uma outra. Por exemplo, pode ser medido a distância temporal entre o começo e o fim de uma corrida ou de uma vida humana. Para esse fim, utilizamos um continuum evolutivo socialmente reconhecido e padronizado. (ELIAS, 1998, p. 41). Saquet (2003) enfatiza que o tempo da simultaneidade (das coexistências) apresenta verticalidades que não possibilitam uma homogeneização na sequência dos acontecimentos. Os fenômenos sociais, iguais ou semelhantes, acontecem no mesmo lugar ou em lugares diferentes, ao mesmo tempo, entretanto, com ritmos espaço-temporais diferentes, gerando

28 28 assim, particularidades territoriais. Portanto, as implicações temporais são variáveis, podendo se apresentar na história e no espaço geográfico de maneira simples ou complexa, qualitativos ou quantitativos, estáticos, dinâmicos e/ou mecânicos, com ritmos mais lentos ou mais rápidos. Santos (1994) compreende que a coexistência é simultaneamente o tempo da vida de todos e, por tanto, o tempo concreto. O espaço é que reúne a todos, com suas múltiplas possibilidades, ou seja, diferentes usos do espaço e do território resultam em distintas durações daquilo que se quer materializar. Para Elias (1998) enquanto não tivermos presente no espírito essa relação indissolúvel entre os planos físico e social do universo (p.39), ou seja, enquanto não vermos o surgimento e desenvolvimento das sociedades como processo que ocorre no interior do extenso universo alheio ao homem, não se conseguirá entender o nível altíssimo de síntese que o conceito de tempo representa, pois na prática das sociedades humanas, se amortiza a uma máquina de regulação (relógio), cuja força coercitiva percebemos quando chegamos atrasados em uma reunião, por exemplo. Elias explica que os relógios são contínuos evolutivos, ou seja, processos físicos dotados de um desenrolar contínuo, elaborados pelo homem e padronizados em algumas sociedades para servir de quadro de referência e escala de medida a outros processos de caráter social ou físico. (ELIAS, 1998, p. 40). Segundo Elias (1998) a noção que temos de tempo, remete a aspectos do fluxo contínuo de acontecimentos em meio aos quais vivemos. Tais aspectos podem ser designados pela dimensão do quando quando ocorreu tal acontecimento? pois se tudo ficasse imóvel, ou se o universo comportasse uma única sequência de mudanças, não poderíamos falar de tempo. Santos (1986), também afirma que o tempo é o movimento. A pergunta referente ao quando, situa o começo e o fim de um acontecimento, podendo ser medida sua duração, em relação a outra sequência de acontecimentos. Primeiramente os homens utilizaram as sequências dos fenômenos naturais. Em seguida recorreram a sequências mecânicas de origem humana, para determinar sua própria posição no interior do devir, em sua tríplice qualidade de processos biológicos, sociais e pessoais. (ELIAS, 1998, p. 59). Sendo assim, para Elias (1998), a determinação do tempo repousa na capacidade humana de relacionar duas ou mais sequências diferentes de transformações, sendo que uma delas serve de escala de medição do tempo para a outra.

29 29 Portanto, o que chamamos tempo significa, antes de mais nada, um quadro de referência do qual um grupo humano mais tarde, a humanidade inteira se serve para erigir, em meio a uma seqüência contínua de mudanças, limites reconhecidos pelo grupo, ou então para comparar uma certa fase, num dado fluxo de acontecimentos, com fases pertencentes a outros fluxos, ou ainda para muitas outras coisas. É por essa razão que o conceito de tempo é aplicável a tipos completamente diferentes de contínuos evolutivos. [...] Aprendemos isso com mais clareza ao voltarmos à forma verbal da palavra tempo, à atividade humana de sincronização ou temporação. [...] Em todos os estágios de universo, físico, biológico, social ou pessoal, as sucessões de acontecimentos dão margem a sincronização. (ELIAS, 1998, p.60-61). De acordo com Elias (1998), é comum dizermos que o tempo passa, fazendo referência às mudanças contínuas de nossa vida ou das sociedades em cujo interior vivemos. [...] uma das chaves essências para resolver os problemas suscitados pelo tempo e por sua determinação é a capacidade, característica da espécie humana, de apreender num relance e, por isso mesmo, ligar numa mesma seqüência continua de acontecimentos aquilo que sucede mais cedo e o que sucede mais tarde, o antes e o depois (p.61). A memória humana tem papel fundamental nesse tipo de representação, pois pode visualizar em conjunto, acontecimentos que não ocorrem no mesmo momento. Conforme Elias (1998) os conceitos passado, presente e futuro expressam a capacidade humana de realizar sínteses, ou seja, experimentar como simultaneidade aquilo que não se produz simultaneamente, por pensar, ter consciência, da relação entre uma série de transformações e a experiência que uma ou um grupo de pessoas tem. Os conceitos de passado, presente e o futuro são diferentes dos conceitos de hora, mês e ano, os quais não integram essa capacidade de síntese, pois representam seqüências contínuas de acontecimentos que tem duração variada. Braudel (2005) procura demonstrar que o tempo avança com diferentes velocidades, que devem ser consideradas na História. A concepção do tempo histórico é central em suas reflexões. Compreende que as ciências sociais se impõem umas as outras, e que, cada uma, deve compreender o social na sua totalidade. Afirma ainda que, essa duração social, esses tempos múltiplos e contraditórios da vida dos homens não são apenas elementos do passado, mas também preenchimento (o que chama de estofo) da vida social atual. Define a história como a dialética da duração, sendo importante perceber que os fatos históricos têm duração variável: vale o tempo de permanência da realidade que eles registram e este é primordial por que apresenta pontos de rupturas e permanências. Nada é mais importante, a nosso ver, no centro da realidade social, do que essa oposição viva, íntima, repetida indefinidamente entre o instante e o

30 30 tempo lento a escoar-se. Que se trate do passado ou da atualidade, uma consciência clara dessa pluralidade do tempo social é indispensável a uma metodologia comum das ciências dos homens (BRAUDEL, 2005, p. 43). O objetivo central do autor era construir uma linguagem comum para todas as ciências sociais contemporâneas, para compreender as formas de organização social na sua totalidade. A duração do tempo social é simbólica, descontínua, múltipla e heterogênea. Isto porque, caçadores, pastores, industriais, agricultores familiares e camponeses têm sistemas temporais que diferem, mas coexistem e estão complexamente imbricados. Entendendo como indispensável apreender a multiplicidade do tempo social e valorizar o tempo longo, Braudel (2005) oferece-nos uma noção das dimensões temporais, as quais se distinguem entre si, a partir de três ordens de duração: o tempo curto, que é o tempo do acontecimento; o tempo médio, que diz respeito à conjuntura e o tempo da longa duração, no qual se encontram os fatos estruturais. O tempo curto, também denominado pelo autor como microtempo, é o tempo do evento, de acontecimentos ou fatos pontuais. Seria a história atenta ao tempo breve, mas que não contempla toda a realidade, toda a espessura da história. É o tempo explosivo, que permeia o cotidiano dos indivíduos, considerado por Braudel (2005, p.46), como a mais caprichosa, a mais enganadora das durações, é o tempo por nós vivido, podendo ser instante de aspirações e realizações pessoais: é a medida da vida cotidiana, de nossas ilusões, de nossas rápidas tomadas de consciência de decisões (o instante que se passa), o mais visível, mais concreto dos tempos. Este seria o tempo por excelência do jornalista que descreve acidentes da vida ordinária: um incêndio, um crime, uma inundação, etc. Há um tempo curto de todas as formas de vida, política, econômica, social, literária, institucional, religiosa e natural. O tempo médio consiste em um recorte temporal que pode variar de 10 a 100 anos, é um tempo menos breve. Por relacionar-se aos acontecimentos que contemplem durações mais longas, permite analisar as permanências e transformações econômicas efetivadas por um dado governo, partido político, modelo econômico, etc. Não rompe totalmente com o tempo curto, mas privilegia a análise econômica e social em detrimento da análise política. É desse tempo que surge, o recitativo da conjuntura, do ciclo e até do inter-ciclo, tendo em vista, por exemplo, as subidas e descidas cíclicas de preços, o estudo da produção em uma determinada época, o estudo das variações das relações de poder, entre outros (BRAUDEL, 2005, p.47).

31 31 A estruturação do tempo no espaço compreende uma organização territorial que extrapola os limites do tempo médio. Assim, é preciso compreender o fato histórico em toda a sua conjuntura, não somente de forma superficial, como também, absorvendo sua dinamicidade, (des) continuidades e (des) regularidades. Percebemos que Braudel (2005) supera a teoria do tempo histórico tradicional/ocorrencial, ou seja, vai além do pensamento da compreensão do tempo curto. Define que o ontem, um dia, ou um ano poderiam parecer boas medidas para um historiador, pois o tempo era compreendido apenas como uma soma de dias. Desta forma, passa a tencionar o tempo como longa duração ou tendência secular, na qual o historiador pode identificar acontecimentos de longuíssimo tempo, tempo profundo, de um grande recorte temporal, constituído por centenas ou milhares de anos, como por exemplo: os comportamentos coletivos mais enraizados, os valores, crenças e costumes manifestados nas instituições políticas e religiosas por gerações, ou ainda as relações de trabalho que atravessam séculos, relações de poder, de exploração etc. Essa duração temporal contém em si todas as estruturas capazes de oferecer coerência na explicação dos fatos históricos. Orienta uma nova forma de tratamento, de compreensão e de utilização do tempo em que a História ocorre em ritmos diferentes. Assim, conforme Marques (2008), o tempo da física e a temporalidade dos filósofos, coexistem sob uma estrutura espaçotemporal, que é ao mesmo tempo, objetiva e subjetiva; natural e social; material e imaterial; linear e cíclica. Aproximando-se desta linha de pensamento, Saquet (2003) considera que o tempo histórico (das sucessões), acontece horizontalmente, ou seja, há uma sequência no acontecer dos fatos. Subentende o tempo como continuidade. Apreende o processo histórico como movimento de superação (o velho não é suprimido, mas superado). Todavia no tempo histórico há coexistência de temporalidades e ritmos. Os tempos são tempos desiguais, vividos em cada dialética espaço-tempo, mas dá-se também uma relação singular x universal, em diferentes velocidades, complexidades e intensidades (SAQUET, 2003, p. 19). Braudel (2005), afirma que uma determinada realidade não aparece sem que outra não a acompanhe. Relações estreitas e constantes se revelam através do tempo e do espaço. Cada atualidade reúne movimentos de origem, de ritmos diferentes: o tempo de hoje, data, ao mesmo tempo, de ontem, de anteontem, de outrora. A concepção de tempo histórico do autor é trabalhada como a interação e conjunto das ações sociais (econômicas, políticas e culturais), bem como, das instituições e organizações que dependem destas.

32 32 Para identificar o tempo histórico é necessário entender cada realidade (tempo breve) nas dimensões do passado (tempo médio e longo) numa interação recíproca. A sincronia e a diacronia se definindo por si mesmas. Assim compreendemos que passado e futuro reenviam-se um ao outro, e essa relação é que dá sentido à ideia de temporalização. Presente e passado iluminam-se com luz recíproca (BRAUDEL, 2005, p. 57). Nesse sentido, para Vasconcelos (1997), coexistente aos longos períodos em que predominam as questões cotidianas, há os períodos de curta duração, mais densos, que absorvem as informações que extrapolam o cotidiano. Porém, esse período não gera rupturas ou mudanças nas funções, nas estruturas e nas formas espaciais. Esses períodos densos são analisados a partir de documentações que registram essas ocorrências extraordinárias. A cartografia, bem como, as fotografias de cada época, são elementos fundamentais, por fornecerem informações precisas do que estava consolidado em determinado período: (igrejas, construções, via de acesso, etc.). Demonstram uma continuidade temporal, porém a dificuldade está quando não se tem esses registros, fato que o autor chama de hiatos temporais. Assim, esses hiatos temporais deixam alguns intervalos de tempo sem registros, portanto sem história. Todo período histórico se afirma como um elenco de técnicas que o caracterizam como uma família correspondente de objetos/formas. Ao longo do tempo, um novo sistema de objetos/formas responde ao surgimento de cada novo sistema de técnicas. Em cada período, há, também, um novo arranjo de objetos, chamado também de refuncionalização. Na realidade, não há apenas novos objetos, novos padrões, mas, igualmente, novas formas de ação, isto é, o mesmo objeto, ao longo do tempo, pode variar de significação (SANTOS, 1996). Tomamos como exemplo o cultivo de fumo, mais especificamente o galpão utilizado para armazenar a produção. A partir do momento que este cultivo deixa de ser viável, o produtor tende a utilizar este objeto/forma para outra função (técnica), adaptando-o para a produção de leite, criação de suínos, armazenagem de grãos, entre outros. A cada novo momento, impõe-se captar o que é mais característico do novo sistema de objetos/formas de ações. Os conjuntos formados por objetos novos e ações novas, tendem a ser mais produtivos (ideologicamente). Os novos sistemas de objetos opõem-se à disposição das forças sociais mais poderosas, quando não são deliberadamente produzidos para o seu exercício. Novas ações podem dar-se sobre velhos objetos, mas sua eficácia é, assim, limitada. Lembrando que ao analisarmos Saquet (2003), verificamos uma superação do velho em detrimento das novas formas de organização territoriais e não, necessariamente, sua eliminação.

33 33 O espaço considera o conjunto que redefine os objetos que o formam, o local onde os homens relacionam-se entre si e com objetos. Portanto, o significado do objeto provém da sua função. O espaço geográfico, como resultado da conjugação entre sistemas de objetos e sistemas de ações, permite transitar do passado ao futuro, mediante a consideração do presente. A cada evento a forma se recria, ou então, a cada instante do tempo as formas adquirem outros valores e funções, condicionados, principalmente, pelo valor de troca e de uso. (SANTOS, 1996). Milton Santos (1996) caracteriza o evento como um instante do tempo dando-se em um ponto do espaço. Eles ocorrem no tempo presente, em uma fração do tempo, e consistem na matriz do tempo e do espaço. Para o autor, são os eventos que criam o tempo. Quando nos referimos a eventos passados, tratamos de sua presença em um presente passado, ao falarmos em eventos futuros, é de uma suposição num presente futuro que mencionamos. Os eventos passam e não se repetem. São todos novos, e quando emergem estão propondo uma nova história. Quando um homem adquire esta certeza da unicidade dos momentos, e que eles não se repetem, passa a agir dentro de seus limites, ou, como se refere o autor, dentro das malhas estreitas. Assim, onde o evento se instala gera mudanças, entretanto, a cada novo acontecer, as coisas preexistentes mudam o seu conteúdo e sua significância. Os eventos transformam os objetos, dando-lhes novas características. Assim, os eventos históricos supõem a ação humana e, evento e ação podem ser compreendidos como sinônimos. Milton Santos (1996) divide os eventos em finitos e infinitos. Os primeiros resultam da distribuição de possibilidades ou recursos finitos: o tempo de cada um; ninguém pode estar em dois lugares no mesmo momento; o dinheiro de que dispomos; a população de um país, etc. Já os eventos infinitos resultariam da distribuição de possibilidades e recursos cujo uso não os esgota (liberdade, democracia, informação, etc.). Os acontecimentos podem ser planejados, ou então, acontecer de modo que causem surpresa. E a vontade de determinar o futuro se explica segundo diversos horizontes temporais, desde o curtíssimo até o mais longo prazo. O evento é sempre o presente, mas este não é necessariamente o instante que se passa. Daí decorre a ideia de duração, além de que os eventos podem ser consecutivos e simultâneos à medida que determinadas formas organizacionais podem prolongar sua ação: como uma lei, uma regra de uma empresa, uma decisão governamental etc. As organizações dependem da duração e da amplitude do evento. Por exemplo, a fixação do calendário escolar, o horário dos bancos, o tempo da jornada de trabalho, delimitam e qualificam o tempo social, modelando os ritmos de atividades em outros ramos da vida econômica.

34 34 Frente a essa análise, o autor questiona: que forças são capazes de produzir eventos que incidam num mesmo momento sobre áreas extensas? O poder do Estado, o Estado em si: uma lei que age sobre a totalidade das pessoas, das empresas, das instituições, do território. Sendo assim, a noção de escala se aplica aos eventos a partir de duas acepções: escala de origem e escala/área de impacto. Milton Santos trabalha essa concepção como temporal e não espacial, pois varia com o tempo, por que a área de ocorrência é dada pela extensão dos eventos. Nesse enfoque, os eventos podem ocorrer em escalas locais, regionais, nacionais, internacionais e mundiais. Confere ainda que alinhados cronologicamente, os eventos se sucedem uns aos outros (tempo histórico), ordenados temporalmente. É através do evento que podemos rever a constituição atual de cada lugar e a evolução conjunta (sincrônica) dos diversos lugares, um resultado da mudança paralela da sociedade e do espaço (SANTOS, 1996). Esses objetos, ou formas que constituem os eventos, se tomados isoladamente, tem um valor como coisa, mas o seu valor como dado social vem de sua existência relacional. As formas materializadas no espaço asseguram a continuidade do tempo, mas o fazem através da sucessão dos eventos que mudam o seu sentido. É desse modo que o espaço testemunha a realização da história sendo um só tempo, passado presente e futuro. Entretanto, o objeto apresenta uma idéia, que para Santos (1996, p.157), Na realidade, haveria diversas idades para cada um e para todos os objetos: o momento dos modos de produção quando, no mundo, aparece a possibilidade de criar tal ou qual objeto; o momento da formação social quando esse objeto é inserido num país; e um terceiro momento, em que o objeto é localizado num lugar preciso. A ideia de tempo é inseparável da ideia dos objetos e de seu valor. Trata-se de uma sequência de eventos materializados no espaço que ordenam e determinam os meios. Santos (1996), explica que os homens não percorrem as mesmas distâncias no mesmo tempo; dependendo dos meios com que contam e a que temporalidade se insere, esta variável consistirá em um importante elemento caracterizador das territorialidades vigentes. O autor salienta que cada ser humano e objeto/forma têm um passado, presente e futuro denominado diacronia. Cada ser, re-produz o tempo e o espaço de maneira diversa, visto que, os eventos não são sucessivos, mas coexistem um ao outro, ou seja, existem ao mesmo tempo (sincronia). Portanto, cada ação se dá em seu tempo (diacronia) e as diversas ações ocorrem conjuntamente (sincronia). É no espaço que se materializa a ordem das

35 35 coexistências, sendo que, não há nenhum espaço em que o uso do tempo seja idêntico para todos os homens, empresas e instituições. Tempo e temporalidade são indissociáveis, ambos coexistem. Diferente do tempo, a temporalidade só ocorre porque o ser humano está presente como ator condicionante das transformações territoriais expressas historicamente, materializadas na paisagem através das relações cotidianas estabelecidas e que são fatores condicionantes para construção do território. Já o tempo em si, é destituído de sentido, independe do ser humano estará sempre presente. Para compreender as organizações sociais é preciso abordar a história na sua totalidade, envolvendo o tempo curto, o médio, a longa duração, a diacronia e a sincronia. As diversas tipologias de tempo estão na realidade ligadas umas as outras, pois todos os tipos de tempo ocorrem simultaneamente. Mesmo que cada objeto e sujeito tenham o seu tempo (passado, presente e futuro) ao mesmo tempo todos coexistem, e é isto que caracteriza as temporalidades, que só existem no cotidiano vivido pelo ser humano, na junção de todos esses tempos. Para apreendermos as temporalidades da Agroecologia será necessário considerar, conforme aponta Saquet (2003) as mudanças em diferentes produções e nas atividades rotineiras, se os agricultores estão [...] submetidos a uma convivência relativamente longa com os mesmos objetos e atividades, com as mesmas relações de produção, os mesmos instrumentos de trabalho [...] (p. 187), se utilizam de equipamentos e técnicas modernas para produzir e sobreviver. Buscamos entender como se dá o ritmo das mudanças, em tempo mais lento ou mais rápido que consequentemente influenciam na dinâmica territorial local. Considerando Raffestin (1993) e Saquet (2003, 2007), apontamos que as relações sociais que o homem no seu dia-a-dia tem com a natureza e na sociedade, envolvem elementos econômicos, políticos, culturais e naturais, que podem variar no tempo e no espaço. Essas relações são caracterizadas por continuidades e descontinuidades, que ocorrem em ritmos diferentes. Esse processo resulta na (re) construção do território, sendo que aquilo que já existe não é necessariamente extinguido, mas superado, readaptado às novas configurações territoriais. Portanto, tempo e espaço são categorias básicas da história da existência humana. Os homens constroem e modificam o território na relação sociedade, espaço e tempo, pois cada um possui características sociais e naturais específicas. Há no território a inserção de novas atividades através da construção de malhas, nós e redes, podendo tanto aproximar

36 36 as relações entre os fenômenos e as pessoas como também, propiciar o distanciamento das mesmas. (RAFFESTIN, 1993). Deste modo, o conjunto das múltiplas territorialidades que constituem o território historicamente, o configuram a fim de (re) organizá-lo espaço temporalmente, conforme as novas relações de poder e as novas formas e objetos materializados. Neste sentido achamos pertinente a discussão sobre os conceitos de território e territorialidade, que serão abordados no próximo item Território e Territorialidades A partir dos anos 1970 e 1980, elaboram-se novas bases epistemológicas para a Geografia brasileira, centradas em princípios filosóficos do materialismo histórico e dialético, relacionando teoria e prática. Desse modo, ligada de forma intrínseca ao conceito de ciência, a Geografia seria uma forma crítica de representação e interpretação espaçotemporal das relações econômicas, políticas, culturais e naturais, sustentadas a partir de um eixo epistemológico que articula os conceitos de lugar, região, paisagem, território e espaço em análises voltadas tanto para a totalidade, quanto às especificidades e/ou singularidades territoriais. Desde então, há na Geografia, estudos renovados em abordagens que diferem entre si, sobre o conceito de território e territorialidade, considerando o tempo e a temporalidade como fundamentais para compreender essas concepções, pois, o território é modificado com o passar do tempo, por meio das diferentes relações que o homem estabelece no seu cotidiano. A partir da década de 1990, os estudos sobre tempo e território recebem contribuições da Geografia cultural num momento em que há necessidade de compreender que as realidades sociais são influenciadas por elementos histórico-culturais de grupos responsáveis pela apropriação e construção de determinado espaço geográfico, aspecto este, relevante para a compreensão das dinâmicas dos locais em que se destacam os sentimentos, os ideais, os anseios e as experiências de vida como elementos territorializantes (ABRAÃO et. al. 2013). Sendo assim, entendemos que o território se forma a partir de uma relação espaço/tempo e ao se apropriar de um espaço, em determinado tempo, a sociedade o territorializa. (RAFFESTIN, 1993). A utilização do território pelo homem cria o espaço, projetado pelo trabalho. Neste sentido, se faz necessário compreender a história, numa relação dialética, envolvendo o tempo curto, o médio, a longa duração, a diacronia e a

37 37 sincronia trabalhadas conforme Fernand Braudel (2005), Milton Santos (1997), e outros. O que muda e/ou permanece, para cada período e/ou momento e lugar, é o arranjo social, espacial e territorial (SAQUET, 2006). Portanto, cada objeto e sujeito têm um tempo (passado, presente e futuro) que coexiste no espaço e no território. Esses tempos singulares podem também ser entendidos como temporalidades. O território, que em épocas precedentes assumiu outras formas e expressões, na contemporaneidade, passa a ser compreendido como produto histórico, simultaneamente reticular e relacional; significa movimento (duração, seqüência, cronologia e periodização) com interações socialmente definidas, envolvendo e sendo envolvido, ao mesmo tempo, por processos naturais e sociais. Desta forma, o território apresenta continuidades e descontinuidades, marcadas por fixos e fluxos conectados por lugares/nós/pontos envolvidas por relações de poder (SAQUET, 2007). O conjunto das múltiplas territorialidades que constituem o território historicamente, os configuram a fim de re-organizá-lo espaço temporalmente, conforme as novas relações de poder e as novas formas e objetos materializados no tempo (em que predomina o instantâneo) e no espaço (em que interagem as esferas locais e globais). Deste modo, entendemos que o debate acadêmico revela conflitos conceituais que, por sua vez, permitem avançar nas análises teóricas, contribuindo para a compreensão crítica da história da Geografia espacial e temporal. A partir da década de 1970, Claude Raffestin apresenta importantes contribuições em torno dos conceitos de território e da territorialidade. Sua abordagem geográfica é considerada renovada, histórica, crítica, (i) material e reticular. Teve grande influência na Geografia brasileira, embora, apenas uma de suas obras foi traduzida para o português, o livro Por uma geografia do poder, original de 1980, publicado no Brasil somente em 1993 (ABRAÃO et. al. 2013). Raffestin constrói uma abordagem relacional, onde o território é formado pelas relações de poder multidimensionais, ou seja, é formado por um conjunto de relações sociais, econômicas, políticas e culturais, efetivadas pelos indivíduos que pertencem a certo grupo social, sendo a territorialidade o produto dessas relações. Sendo assim, é imprescindível compreender o território, pois este é resultado das múltiplas territorialidades. Neste sentido, território: [...] não poderia ser nada mais que o produto dos atores sociais. São esses atores que produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há, portanto um processo do território, quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes e

38 38 centralidades cuja permanência é variável, mas que constituem invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias (RAFFESTIN, 1993, p.7-8). O autor aborda a territorialidade humana, porque esta surge através das relações sociais de poder e dominação, exercidas por meio das diferentes atividades realizadas pelos atores no cotidiano. Portanto a territorialidade: [...] reflete a multidimensionalidade do vivido territorial por membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral. Os homens vivem, ao mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um sistema de relações existenciais e/ou produtivistas. (RAFFESTIN, 1993, p.158). A territorialidade é entendida pelo autor como multidimensional e inerente à vida em sociedade. Além de ser o modelo do espaço, diz respeito também as características dos indivíduos e dos grupos que constituem um determinado território. Assim, o homem vive relações sociais, constrói territorialidades e influencia a dinâmica de territórios, vive interações e relações de poder; diferentes atividades cotidianas, que são reveladas na construção de malhas, nós e redes. Estas podem criar vizinhanças, acessos, convergências, mas também podem levar a rupturas, a distanciamentos dos indivíduos e de grupos sociais. [...] Mas a vida é tecida por relações, e daí a territorialidade pode ser definida como um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema [...] (RAFFESTIN, 1993, p.160). A territorialidade, através dos elementos que a compõe pode variar no tempo, dependendo da maneira com que as sociedades tendem a satisfazerem suas necessidades. Como exemplo, podemos citar o trânsito, pois, a partir do momento em que há o aumento dos fluxos de veículos, pessoas, mercadorias, comunicação, entre outros, há uma necessidade de solucionar essas dificuldades para facilitar os deslocamentos, como a criação de novas leis, construções de novas vias de acesso entre outros meios. Assim, através dessas modificações, se constituem novas territorialidades e consequentemente, o território é transformado. Raffestin (1993) aponta que pode existir a territorialidade estável, em que nenhum dos elementos muda com o passar do tempo, e, a instável, que sempre sofre mudanças. Enfatiza também que há outros casos onde alguns dos elementos podem mudar, enquanto outros permanecem estáveis. Assim, a territorialidade nada mais é do que as relações sociais que produzem historicamente o território.

39 39 Claude Raffestin dedicou-se ao processo de Territorialização-Desterritorialização- Reterritorialização (TDR), que gera um espaço temporalizado em razão das informações que circulam e comunicam, além dos fatores culturais que também condicionam a TDR. É um processo de relações sociais, perda e reconstrução de relações. As migrações de famílias descendentes de italianos provenientes, principalmente, do Rio Grande do Sul e Santa Catarina que se instalaram no Sudoeste do Paraná, caracterizam um bom exemplo de TDR. Estas mantinham determinadas relações sociais, apresentavam uma identidade com o território onde viviam, o qual possuía características específicas. A partir do momento em que migram do território de origem estão se desterritorializando, perdendo certas relações e ao se instalarem nos municípios do Sudoeste paranaense se reterritorializam, pois estabelecem novas relações em um território que possui características diferenciadas. Conforme Saquet (2007), Raffestin, em sua obra Territorializzazione, Deterritorializzazione, Riterritorializzazione e Informazione (1984), sinaliza a relação econômica-cultural para determinar a TDR: [...] territorialidade implica [...] um conjunto modificado de relações [...], a desterritorialização é, em primeiro lugar, o abandono do território, mas também pode ser interpretada como a supressão dos limites, das fronteiras [...]. A reterritorialização [...], pode ocorrer sobre qualquer coisa, através do espaço, a propriedade, o dinheiro etc. (RAFFESTIN, 1984, p.78, apud, SAQUET, 2007, p. 78) De acordo com Saquet (2007), para Raffestin a territorialização é formada por indivíduos ou grupos sociais, pelo trabalho, por mediadores materiais, como instrumentos e conhecimentos, pelas intenções e objetivos dos atores sociais e pelas relações entre estes com o ambiente. Desse modo, todas essas ações tem como resultado a formação do território. Portanto, na visão de Claude Raffestin, a territorialidade é caracterizada por continuidades e descontinuidades, significa um conjunto de relações efetivadas pelos homens, tanto simbólicas como materiais, mediadas pela língua, religião e tecnologia, onde a circulação e a comunicação são processos fundamentais para a construção da territorialidade. Através das redes e por meio do processo de relações se forma o território. Nos anos de 1950/60 e posteriormente, o Geógrafo Giussepe Dematteis, na Itália, também dedicou-se aos estudos do conceito de território e territorialidade. Esse autor tem uma concepção similar a de Claude Raffestin, porém, apresenta uma abordagem política vinculada aos processos de desenvolvimento, com caráter relacional, reticular, (i) material, histórica, crítica e operativa (ABRAÃO et. al. 2013).

40 40 Para o autor, o território é compreendido como produto social, lugar de relações e de vida, considerando as interações territoriais entre diferentes lugares e pessoas. Também faz uma discussão sobre a territorialidade humana, tanto pelo fato de abordar as relações entre familiares, correspondentes à identidade e relações relacionadas às técnicas e à circulação mercantil. Em Saquet (2007) fica evidente a abordagem de território de Giuseppe Dematteis, demonstrando claramente a relação espaço-tempo em sua compreensão. [...] A realidade geográfica do território, é entendida como rede de relações entre todos os fenômenos coexistentes e como resultado de um processo histórico de humanização do ambiente natural. (DEMATTEIS, 1967, p. 91, apud, SAQUET, 2007, p.50). É compreendida como uma construção social, onde há desigualdades, com a combinação das características naturais específicas de cada espaço. No texto analisado Sistema Local Territorial, (SLOT): um instrumento para representar, ler e transformar o território (2008), Giussepe Dematteis está preocupado com as relações geográficas verticais e horizontais, vinculadas com as articulações territoriais para o Slot, composto por: redes locais de sujeitos; milieu (ambiente) local; relação de interação da rede local com o milieu e com os ecossistemas locais; a relação interativa da rede local com redes globais. Para Dematteis (2008) através do estudo das relações sociais e naturais, ou seja, da territorialidade, pode-se compreender quais as potencialidades e dificuldades encontradas no território, com o objetivo de elaborar projetos de desenvolvimento que visam solucionar os problemas e potencializar as principais características que há no território. O Slot (Sistema Local Territorial), dessa forma significa relações dos atores com o ambiente local; lugares e fluxos; nós e redes; destacando numa certa área com características sociais, culturais e econômicas. Entende o território como projeção e como natureza, para além das dimensões sociais comumente enunciadas: são fatores físicos e histórico-culturais que influenciam no desenvolvimento local (SAQUET, 2007). O território se constitui, em condição dos processos de desenvolvimento. Dematteis (2008) define a territorialidade como relações dinâmicas existentes entre os componentes sociais (economia, cultura, instituições e poder) e os elementos materiais e imateriais, vivos e inertes, que são próprios dos territórios onde se habita, se vive e se produz (p. 34). O autor distingue duas formas de territorialidades, a passiva que, com estratégias de controle e com o sistema normativo associado, objetiva excluir sujeitos e

41 41 recursos ; e a ativa que deriva das ações coletivas territorializadas e territorializantes dos sujeitos locais e objetiva a construção de estratégias de inclusão (p. 35). A territorialidade ativa são as mediações simbólicas, cognitivas e práticas entre a materialidade dos lugares e o agir social nos processos de transformação territorial e de desenvolvimento local. É considerada como uma valorização das condições e recursos potenciais para o desenvolvimento. Essa territorialidade envolve grupos sociais, que são mediadores e mediados pelo território, transformando-o ao longo do tempo. Nesse sentido Dematteis (2001) ressalta: Na construção das formas passivas da territorialidade, de fato, aos sujeitos (locais) são transferidos comportamentos pré-definidos pelas estruturas de controle, de acordo com expectativas externas, sem se prever que possam agir de maneira própria, com ações autônomas. Já na territorialidade ativa os sujeitos locais efetivam papéis e ações configurando, desse modo, estratégias de resposta/resistência com relação às imposições de controle, contribuindo para realizar mudanças e inovações (p.35). Para Dematteis (2008), há uma interação entre as interconexões (nos fluxos) e a territorialização, na relação infra-estrutura/território. Há certa relação entre infra-estruturas, entendidas por esse autor como redes, e o território. Essa relação aparece como um processo de interação entre o local e o global. A interconexão e a territorialização estão interligadas à reterritorialização. Através das conexões efetuadas com as redes, os diversos sujeitos locais se territorializam em diversas redes. Por meio da argumentação de Giussepe Dematteis a territorialidade é entendida como relação social, e através do estudo, do conhecimento desta, há possibilidade de compreender o território, tendo como objetivo elaborar projetos que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas na sociedade e no meio em que se inserem. Diferente dos autores citados até então, Robert Sack realizou seus estudos sobre território e territorialidade na escola anglo-saxônica. É pouco conhecido e divulgado no Brasil, devido à ausência da publicação de suas obras na língua portuguesa. Apresenta uma abordagem conservadora, pelo fato de enfatizar a demarcação de uma área para entender o território, porém, também compreende a territorialidade como relação social (ABRAÃO et. al. 2013). Há duas obras nas quais o autor destaca sua principal argumentação sobre o território e a territorialidade. A primeira é o artigo human territoriality: a theory and history, de 1983, a segunda, trata-se do livro human territoriality: its theory and history, publicado em Em Haesbaert (2004), visualiza-se que Robert Sack possui uma visão relacional do território e da territorialidade, ou seja, uma perspectiva de que o território é construído a

42 42 partir de relações social-históricas e, portanto, de relações de poder. Assim, o autor, afirma que o território é, antes de tudo, um conjunto de relações sociais. Para conhecer a realidade na sua totalidade, compreender a concepção de territorialidade e território é fundamental, visto que, ocorrem inúmeras situações, tanto na escala global como local. Desse modo, para que exista um território é necessário que haja a delimitação de área, controle e poder. Robert Sack define o território como uma área de influência de uma autoridade ou de um grupo de atores sociais. A territorialidade, dessa forma, corresponde à tentativa de influenciar um grupo ou um indivíduo e controlar pessoas e fenômenos. É uma forma de estabelecer diferentes possibilidades de acesso as pessoas, coisas e relações, ocorrendo numa determinada área delimitada por cada grupo social dominante. Essa territorialidade cumpriria, ao mesmo tempo, os papéis de classificação, de comunicação e de controle. Para o autor, o território pode ser um espaço utilizado para conter, restringir ou excluir pessoas, objetos ou relacionamentos. A territorialidade envolve a classificação por área, pois, quando se afirma, por exemplo, que tal espaço delimitado é seu ou está restrito para você, nesse caso, estamos classificando, atribuindo certos valores. Territorialidade, portanto, evita, em graus diversos, para a enumeração e classificação por tipo e pode ser o único meio de afirmar o controle se não podemos enumerar todos os fatores significativos e as relações a que terá acesso (SACK, 1983, p.58 tradução nossa). A segunda característica citada pelo autor é que a territorialidade pode ser facilmente comunicada, pois, é capaz de envolver uma marca ou sinal, como a fronteira. O limite territorial pode ser a única forma simbólica que combina movimento no espaço e declarações de posse ou exclusão (p.58). Por último, toda territorialidade deve envolver a estratégia ou a tentativa de controlar o acesso de pessoas as áreas e as coisas que ela possui. O autor também destaca em seu artigo human territoriality: a theory and history (1983) outras tendências de territorialidades como: pode ser um meio de poder reificante; usada para fazer e deslocar a atenção da relação entre controlador e controlado para o território; ajuda a tornar as relações impessoais; aparece de um modo geral, neutra; recipiente ou molde para as propriedades espaciais dos eventos; ajuda a criar a ideia de um espaço socialmente vazio; e pode ajudar a gerar mais territorialidade. Igualmente, na formação histórica dos territórios se faz necessário compreender a concepção de tempo e temporalidade, pois, são fundamentais para compreender as relações sociais e naturais, ou seja, as múltiplas territorialidades materializadas no tempo e no espaço.

43 43 Conforme Saquet (2007) a territorialização é determinada pela apropriação e reprodução das relações sociais, portanto, sua definição vai além das relações de poder político, e simbolismos de grupos sociais, pois envolve também os processos econômicos os quais são centrados em seus agentes sociais. A territorialidade significa cotidianidade, (i)materialidade, no(s) tempo(s), na(s) temporalidade(s) e no(s) território(s), no movimento relacional-processual (p.164). Há no território uma multiplicidade de sujeitos que se relacionam de forma mútua e contraditória entre si, com lugares e pessoas. O território se entrelaça com o espaço, pois território e espaço se encontram em unidade. Concordamos com Saquet (2007), que a territorialização envolve relações de poder, econômicas e sociais. Neste sentido, procuramos trabalhar o processo de territorialização da agricultura orgânica e da Agroecologia nos municípios de Itapejara d Oeste, Salto do Lontra e Verê, abordando os principais atores envolvidos (agricultores e entidades) e as ações realizadas. O processo de territorialização da agricultura orgânica em cada município constitui o evento dessa pesquisa, de modo que buscaremos apreender a gênese e a trajetória da produção de alimentos orgânicos nestes.

44 44 CAPÍTULO II. ELEMENTOS PARA O DEBATE DO CONCEITO DE AGROECOLOGIA O crescimento dos impactos sociais e ambientais durante o século XX intensificou o questionamento ao atual modelo de agricultura convencional, conhecido como Revolução Verde, propagado após a Segunda Guerra Mundial ( ). Baseado na implantação de um pacote tecnológico padronizado, composto pelo uso intenso de sementes modificadas, insumos químicos e biológicos, novas tecnologias em todas as fases da produção, desde o plantio e a colheita, até o processamento. Tal modelo busca aumentar a produtividade reduzindo os custos e maximizando os lucros. A percepção da sociedade sobre as consequências maléficas da Revolução Verde se fortaleceu a partir da própria evolução teórico-conceitual do ambientalismo, que questiona o modelo produtivista e economicista vigente e, propõe novas técnicas e métodos que permitam aliar produção alimentar e conservação ambiental. Nesse contexto, surgem formas alternativas de agricultura, como a agricultura orgânica, a Agroecologia, entre outras que abordaremos a seguir. Buscamos nesse capítulo fazer uma análise de como vem sendo trabalhado e aplicado o conceito de Agroecologia Agroecologia como ciência Gliessman (2001), afirma que nos anos 1930, alguns ecologistas propuseram o termo agroecologia para designar a ecologia aplicada à agricultura. Apesar de se apoiar no ideário da sustentabilidade e de enfocar a Agroecologia como uma ciência multidisciplinar, Gliessman (2001) enfoca o aspecto produtivo/agrícola do manejo dos agroecossistemas, não ampliando o debate para a dimensão social e política presente na concepção de Agroecologia. Para este autor, a Agroecologia é uma fusão da Agronomia com a Ecologia, e se constitui em uma ciência. Ela proporciona o conhecimento e os métodos necessários para desenvolver uma agricultura ambientalmente correta, que pode ser altamente produtiva e economicamente viável. Segundo Caporal (2008), foi nos anos 1980 que a Agroecologia passou a ter um enfoque científico, iniciado com a tentativa de se promover novas formas de integrar a Agronomia com a Ecologia. Logo em seguida, ela incorporou a importância de unir o saber popular para realizar o manejo sobre o ambiente e os recursos naturais nos processos produtivos agrícolas ou extrativistas. Desta forma, o saber acumulado pelas comunidades

45 45 tradicionais ao longo dos anos passou a ser considerado por alguns cientistas, de modo que a Agroecologia se apresenta hoje como uma ciência que articula diferentes conhecimentos científicos e saberes populares para a busca de sustentabilidade na agricultura. No processo de construção da Agroecologia como ciência, foram incorporadas contribuições de vários campos do conhecimento, que de alguma forma nos ajudam a apreender a crise socioambiental gerada pelos modelos de desenvolvimento e de agricultura convencionais e, simultaneamente, contribuem para a reflexão e construção de novos desenhos de agroecossistemas e de agricultura que almejem a sustentabilidade. Diversos pesquisadores vêm se dedicando ao estudo e desenvolvimento de práticas agrícolas alternativas que sejam mais adaptadas às características dos ecossistemas, e que não dependam dos insumos e dos maquinários controlados pelas grandes empresas detentoras das tecnologias agropecuárias. Para Caporal e Costabeber (2004), a Agroecologia não deve ser classificada como uma agricultura alternativa, pois ela é mais ampla e complexa. Devido a esse fato, esses autores propõem que a Agroecologia seja considerada como uma agricultura de base ecológica. (...) se pretende marcar a distinção entre agriculturas de base ecológica, baseadas nos princípios da Agroecologia, daqueles estilos de agricultura alternativa que, embora apresentando denominações que dão a conotação da aplicação de práticas, técnicas e/ou procedimentos que visam atender certos requisitos sociais ou ambientais, não necessariamente terão que lançar ou lançarão mão das orientações mais amplas emanadas do enfoque agroecológico (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p. 8) Segundo Gliessman (2001), a Agroecologia possui um duplo desafio, pois, além de ser uma ciência que tem como base a interação entre os elementos bióticos e abióticos dos ecossistemas, possui fundamentos que a tornam uma forte estratégia política e ideológica, cada vez mais adotada por agricultores e diversas de suas instituições representativas. O que se quer, então, é uma nova a abordagem da agricultura e do desenvolvimento agrícola, que construa sobre aspectos de conservação de recursos da agricultura tradicional local, enquanto, ao mesmo tempo, se exploram conhecimento e métodos ecológicos modernos. Esta abordagem é configurada na ciência da agroecologia, que é definida como a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis (GLIESSMAN, 2001, p ). Para Assis e Romeiro (2002), a Agroecologia é entendida como ciência que busca compreender o funcionamento de agroecossistemas (propriedades agrícolas compreendidas como ecossistemas, onde ocorrem diversas relações de troca entre matéria e energia), com o princípio de sustentabilidade das atividades, através da conservação dos recursos naturais e

46 46 menor dependência de insumos externos. A Agroecologia procura inter-relacionar conhecimentos de varias áreas para propor uma orientação para uma agricultura que considere as condições ambientais impostas pela natureza. A ciência agroecológica busca aprender com a própria natureza melhores formas de intervir sobre ela e aplicar conhecimentos técnicos e científicos adquiridos pela humanidade, resgatando conhecimentos que a agricultura convencional despreza. Ela utiliza inovações tecnológicas para desenvolver agroecossistemas sustentáveis e de alta produtividade, mas sempre sem agredir o meio ambiente. (ASSIS; ROMEIRO, 2002). Contudo, Candiotto, Carrijo e Oliveira (2008), colocam que além da preocupação ambiental, a Agroecologia considera a dimensão social da agricultura familiar e procura fortalecê-la frente à expansão de grandes empresas agrícolas. Portanto, na perspectiva da Agroecologia, o processo de produção agrícola deve estar vinculado ao desenvolvimento ambiental, social e econômico das propriedades e famílias rurais, com base em práticas sustentáveis. Assim, é fundamental um conhecimento profundo do funcionamento dos ecossistemas e agroecossistemas inseridos nas Unidades de Produção e Vida Familiar (UPVFs), aliado a uma preocupação política e social de manutenção e fortalecimento da agricultura familiar. Altieri e Nicholls (2000) fundamentam-se na Agroecologia como ciência, a partir da junção entre Agronomia e Ecologia, e destacam a importância das relações socioeconômicas na compreensão e no desenvolvimento da Agroecologia. La disciplina científica que enfoca el estudio de la agricultura desde una perspectiva ecológica se denomina «agroecología» y se define como un marco teórico cuyo fin es analizar los procesos agrícolas de manera más amplia. El enfoque agroecológico considera a los ecosistemas agrícolas como las unidades fundamentales de estudio; y en estos sistemas, los ciclos minerales, las transformaciones de la energía, los procesos biológicos y las relaciones socioeconómicas son investigados y analizados como un todo. De este modo, a la investigación agroecológica le interesa no sólo la maximización de la producción de un componente particular, sino la optimización del agroecosistema total. Esto tiende a reenfocar el énfasis en la investigación agrícola más allá de las consideraciones disciplinarias hacia interacciones complejas entre personas, cultivos, suelo, animales, etcétera (ALTIERI; NICHOLLS, 2000, p. 14/15). Acreditamos que os argumentos em torno da Agroecologia são extremamente plausíveis, pois fortalecem a concepção e as características de autonomia da agricultura familiar, garantido a sobrevivência das famílias com qualidade de vida. É preciso verificar, no entanto, as intencionalidades presentes nos discursos e nas práticas que se denominam agroecológicas, e os resultados econômicos, sociais e ambientais dessas estratégias.

47 Agroecologia como prática e estratégia de reprodução Pesquisadores de áreas diferentes do conhecimento vêm analisando conceitualmente a Agroecologia, seja como modelo teórico ou prático interpretativo dos sistemas agrícolas (agroecossistemas). Contudo, há muito que se avançar em relação aos aspectos conceituais, teóricos e metodológicos, bem como à aplicação da Agroecologia. Diante dos problemas ocasionados pelo modelo de agricultura implementado com a Revolução Verde, predominantemente insustentável, é fundamental a busca por novas abordagens que tenham uma concepção inclusiva do ser humano no meio ambiente e que reconheça a importância da diversidade cultural e dos conhecimentos tradicionais dos agricultores. Assim, a Agroecologia procura trabalhar com estratégias apoiadas em metodologias participativas, sob um enfoque interdisciplinar e de comunicação horizontal, para enfrentar os problemas agrícolas e agrários. Desta forma, enquanto ciência integradora de diferentes disciplinas científicas, a Agroecologia tem potencial para construir a base de um novo desenvolvimento rural sustentável (MEIRA e CANDIOTTO, 2012). Segundo Floriani e Floriani (2010), os impactos ambientais ocasionados pela industrialização da agricultura colocam em questão o pacote modernizador, baseado na dominação de todas as formas de vida por meio da racionalidade econômica e instrumental. A própria modernização desgasta a sua estrutura essencial e o princípio de modernidade. Grandes pensadores no século XIX e inicio do século XX, acreditavam e disseminavam a ideia de que o industrialismo pudesse superar as restrições naturais, sociais, econômicas e ecológicas através da ciência moderna. Os sistemas criados a partir desses ideais, aderidos a uma racionalidade econômico-industrial, foram postos a prova e questionados quando não puderam responder aos complexos problemas de ordem socioambiental que derivaram da radicalização dos riscos da sociedade moderna industrial. Como contraponto, coube as Nações Unidas o debate sobre as questões ambientais globais, tendo como marco a Conferência de Estocolmo em 1972, a qual representa o inicio da preocupação do sistema político mundial sobre as questões relacionadas à degradação do meio ambiente. A Conferência reflete uma nova percepção sobre os recursos naturais, considerando o crescimento populacional, econômico e a conservação do meio ambiente. (AMARAL et al., 1999). De acordo com Leff (2001a), concebida como saber ambiental, a Agroecologia surge do cenário de crise da modernidade e, enquanto saber ambiental, requer uma abordagem que seja capaz de colocar em comunicação as ciências da sociedade e da natureza com os demais

48 48 saberes culturalmente produzidos, prezando pela integração interdisciplinar e o diálogo de saberes para compreender e explicar o comportamento de sistemas socioambientais complexos. Conforme Floriani; Floriani (2010) a Agroecologia compreendida como saber ambiental do campo da complexidade, é fundamentada em um novo paradigma que exige a abordagem interdisciplinar e o dialogo de saberes. A ressignificação do conhecimento científico em saber vernacular prático (local, cotidiano, tradicional) configuram a estratégia cognitiva complexa da Agroecologia. A práxis está integrada à subjetividade e para compreender os valores ideológicos, os estilos de vida e os sistemas de significação, é imprescindível considerar o contexto geográfico e o momento histórico em que se insere tal prática agrícola. Interpretar os fenômenos da realidade do espaço rural a partir do paradigma da complexidade implica primeiramente na desconstrução do pensamento disciplinar, em movimentos dialógicos entre a ordem a desordem e a organização, por via de inúmeras interretroações, reintroduzindo o conhecido em todo o conhecimento. Para Altieri (2004), a partir do momento em que a biodiversidade é restabelecida em um agroecossitema, o solo, as plantas e os animais interagem de diversas e complexas formas. Portanto, na Agroecologia, quanto maior for a preservação e o aumento da biodiversidade, mais fácil será atingir a sustentabilidade dos agroecossistemas. Quanto mais complexas forem as interações ocorridas, maior flexibilidade manifestarão os sistemas para se adaptar ao ambiente em que estão inseridos. De acordo com Caporal, Costabeber e Paulus (2006), a Agroecologia é vista como ciência que busca contribuir para o manejo e reprodução de agroecossistemas sustentáveis, em uma análise multidimensional (econômica, política, cultural, natural, social, ambiental e ética), que constitui uma matriz disciplinar integradora de saberes, apoiada em metodologias participativas. Como ciência, a Agroecologia é capaz de apreender e gerar conhecimentos criados em diferentes disciplinas científicas, reconhece e se nutre de saberes, conhecimentos e experiências dos agricultores (as), povos indígenas, quilombolas, etc; incorpora o potencial endógeno, ponto de partida de qualquer projeto de transição agroecológica. A Agroecologia considera o enfoque holístico e a abordagem sistêmica, busca contribuir para que as sociedades redirecionem o curso alterado da coevolução social e ecológica nas suas múltiplas relações e mútua influência. Segundo Caporal, Costabeber e Paulus (2006) a Agroecologia têm como um de seus princípios a ética seja através da ação ou omissão, que podem afetar de forma positiva ou negativa outras pessoas, animais ou a natureza. A ética ambiental procura orientar como

49 49 deveria ser a nossa ação quando esta pode vir a comprometer outros seres, tendo ligação com o princípio da precaução. Como matriz disciplinar a Agroecologia requer um novo enfoque paradigmático capaz de unir saberes populares com conhecimentos gerados em diferentes disciplinas de forma a dar conta da totalidade dos problemas e não do tratamento isolado de suas partes. Portanto, ela ameaça conceitos, ideias, teorias, o estatuto, a carreira e o prestígio dos que vivem material e psiquicamente da crença estabelecida pela agricultura convencional. Para Altieri (2009), a disciplina científica que aborda o estudo da agricultura em uma perspectiva ecológica é a Agroecologia, a qual tem por finalidade analisar os processos agrícolas de forma interdisciplinar. O enfoque agroecológico considera os ecossistemas agrícolas como unidades fundamentais de estudo, nas quais os ciclos minerais, as transformações de energia, processos biológicos e relações socioeconômicas devem ser considerados e analisados como um todo. Sendo assim a Agroecologia não se interessa apenas pela maximização de um determinado componente da produção, mas pela otimização do agroecossistema como um todo, onde há uma complexa interação entre pessoas, solo, animais, plantas, etc. Apesar de se basear em um enfoque agronômico e ecológico, Altieri é um dos entusiastas da Agroecologia como um elemento de junção entre o conhecimento científico dessas ciências e de outras, com os saberes tradicionais dos agricultores. Leff (2002, p. 37), também demonstra um amplo e complexo potencial em relação à Agroecologia, sobretudo relacionado ao resgate de práticas e conhecimentos tradicionais ancestrais. A Agroecologia é terra, instrumento e alma da produção, onde se plantam novas sementes do saber e do conhecimento, onde enraíza o saber no ser e na terra; é o caldeirão onde se amalgamam saberes e conhecimentos, ciências, tecnologias e práticas, artes e ofícios no forjamento de um novo paradigma produtivo. Na terra onde se desterrou a natureza e a cultura; neste território colonizado pelo mercado e pela tecnologia, a Agroecologia rememora os tempos em que o solo era suporte da vida e dos sentidos da existência, onde a terra era torrão e o cultivo era cultura; onde cada parcela tinha a singularidade que não só lhe outorgava uma localização geográfica e suas condições geofísicas e ecológicas, senão onde se assentavam identidades, onde os saberes se convertiam em habilidades e práticas para lavrar a terra e colher seus frutos. A Agroecologia busca contribuições na Física, na Economia Ecológica e Ecologia Política, na Ecologia da Agronomia, na Biologia, na Educação e na Comunicação, na História, Antropologia, Sociologia e na Geografia, sendo assim uma área do conhecimento

50 50 que necessita da interdisciplinaridade. Porém, como aponta Leff (2002), além do diálogo entre diferentes ciências, a Agroecologia se fundamenta em saberes tradicionais de comunidades camponesas, em práticas e costumes locais, ao gosto de trabalhar na terra e dela colher seus frutos, características estas, ignoradas pela agricultura convencional. A Agroecologia não é algo pronto para ser aplicado. São as condições culturais em que estão inseridos os agricultores, sua identidade local e as práticas sociais por eles realizadas, que dão suporte para a consolidação e apropriação social de suas práticas e métodos. Como podemos ver, a Agroecologia vai além da aproximação entre Agronomia e Ecologia, de modo que, além dos conhecimentos e saberes populares, são fundamentais conhecimentos científicos de diferentes disciplinas para o desenho de agroecossistemas e agriculturas mais sustentáveis. A agroecologia pressupõe o uso de tecnologias heterogêneas, com adequação às características locais e à cultura das populações e comunidades rurais que vivem numa dada região ou ecossistema e que irão manejá-las. (CAPORAL; COSTABEBER; PAULUS, 2006, p.21). Quando se adota os princípios da Agroecologia, o que deve ser generalizado são os princípios e não os formatos tecnológicos. Porém, a estratégia tecnológica deve ter como orientação a construção de agricultores que promovam práticas sustentáveis, contribuindo para a efetivação de uma nova agricultura que considere as múltiplas dimensões que a permeiam. Para tanto, são necessárias novas abordagens e novas práticas por parte das instituições e técnicos ligados à Assistência Técnica e Extensão Rural. A Agroecologia convoca a um diálogo de saberes e intercâmbio de experiências; a uma hibridação de ciências e técnicas, para potencializar as capacidades dos agricultores; a uma interdisciplinaridade (LEFF, 2002 p. 42), que articula conhecimentos técnicos, econômicos, ecológicos e antropológicos que convergem na dinâmica dos agroecossistemas. Ela implica a produção interdisciplinar de conhecimentos, mas se concretiza através de um processo de apropriação e aplicação desses conhecimentos, da hibridação entre conhecimentos e saberes (p.44). Sendo assim, a Agroecologia se produz através da experiência dos saberes práticos e não de acordo com regras de produção científica convencional. Portanto, deveríamos falar de saberes agroecológicos, deixando evidente o sujeito do conhecimento, que possui autonomia e não está submisso a mecanismos tecnológicos e científicos impostos pelo capitalismo.

51 51 Fica evidente que para Leff o saber agroecológico coopera para a construção de um novo paradigma produtivo, pois mostra a possibilidade de produzir junto com a natureza, sem agredí-la, respeitando o potencial cultural, ecológico e tecnológico local. Guzmán (2006), analisando a Agroecologia como estratégia metodológica de transformação social, propõe algumas perspectivas de pesquisa para compreendê-la. Fizemos referência aqui, a perspectiva de transformação social da Agroecologia, pois esta articula a perspectiva ecológico-produtiva (a mudança produtiva é baseada na agricultura ecológica) e a socioeconômica (agricultura participativa, controle do processo de circulação e de setores não-agrícolas da economia local), pois supõe a transformação sociocultural e política através de transformações nas estruturas de poder utilizando o potencial local, os conhecimentos locais e a memória histórica popular, resgatando, mas também construindo algo novo na contemporaneidade, mas que historicamente já existiu naquele local. Há diferença da Agroecologia em relação a outros sistemas de produção denominados agriculturas alternativas. Portanto no próximo item buscamos apresentar, compreender e refletir, mesmo que de forma sucinta, sobre as distintas agriculturas de base ecológica e suas contribuições para a Agroecologia Contribuições de diferentes agriculturas alternativas para a Agroecologia O termo agricultura alternativa exprime a coexistência de várias escolas, estilos ou correntes que propõem a aplicação de princípios ecológicos à produção agropecuária, a partir da incorporação de técnicas alternativas ao modelo convencional, que permitem a redução ou extinção do uso de insumos químicos. A denominação agricultura alternativa surgiu para traduzir a variedade de manifestações do que vinha sendo tratado, de forma geral, como contraposição ao modelo de produção agropecuária convencional. Dentre as principais, podemos citar a agricultura biodinâmica; a agricultura natural; a agricultura orgânica; a agricultura biológica; a agricultura ecológica; a permacultura; e a agricultura regenerativa. Cabe ressaltar que concordamos com Caporal e Costabeber (2004) e Caporal (2008), quando estes diferenciam a Agroecologia de outros tipos de agricultura alternativa, incorporando-a a algo mais complexo, denominado agricultura de base ecológica. Dentre as principais correntes, discorremos sobre a agricultura biodinâmica; agricultura natural; agricultura orgânica; agricultura biológica; permacultura; agricultura regenerativa; e Agroecologia.

52 52 Para melhor compreendermos as especificidades de cada um destes estilos de agricultura, realizamos uma breve descrição das mesmas, enfatizando o período e o local de surgimento, bem como os fundamentos de cada forma de cultivo, apesar de similitudes entre elas e a Agroecologia Agricultura alternativa Conforme Khatounian (2001), nos anos 1970, após as crises do petróleo e, especialmente nos anos 1980, os movimentos relacionados à contraposição da agricultura convencional se multiplicaram pelo planeta, impulsionados pelo movimento de contracultura e pela crescente consciência do agravamento dos problemas ambientais. As crises do petróleo expuseram aos Estados Unidos a fragilidade baseada no uso de agroquímicos. A partir disso, o governo americano passou a buscar alternativas para a solução da dependência de insumos químicos na agricultura. Os estudos realizados nos Estados Unidos aderiram sobretudo às propostas das escolas da agricultura orgânica e biodinâmica, que constituíram alternativas significantes para aprimorar o uso dos recursos energéticos. As técnicas estudadas foram nomeadas de Alternative Agriculture. Este título também foi utilizado na obra do professor John Pesek, da Universidade de Iowa, em 1989, a pedido e com recursos do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos (NCR) (KHATOUNIAN, 2001). Darolt (2002) ressalta que o termo agricultura alternativa não constitui uma corrente ou uma filosofia definida de agricultura, mas serve para reunir as escolas, correntes ou, de modo geral, as agriculturas que se diferenciam da agricultura convencional, agroquímica ou industrial. Caporal (2008) enfatiza que a Agroecologia não é um tipo de agricultura alternativa, pois se trata de algo bem mais complexo, que não está limitado à esfera técnica ou agronômica. Diferente de uma agricultura alternativa, a Agroecologia inclui outras variáveis (econômica, social, ambiental, cultural, política e ética), sendo que todas elas estão fundamentadas na concepção de sustentabilidade Agricultura ecológica De acordo com Assis (2005), o termo agricultura ecológica surge no final dos anos 1970, como uma proposta unificadora das correntes da agricultura não industrial, e também,

53 53 como uma reação a imprecisão do termo alternativo, na medida que este significa apenas algo diferente (p. 19). A agricultura ecológica introduziu a ideia de que a mudança no modo de produção agrícola deve integrar de forma harmônica as necessidades ecológicas e as socioeconômicas. Khatounian (2001) ressalta que até o final da década de 1970, a ecologia era apenas uma disciplina da biologia restrita aos meios acadêmicos, a qual estudava a interação de certa espécie com o seu meio. Com a crescente conscientização da magnitude dos problemas ambientais, o termo foi se tornando notório, sempre aparecendo associado à preservação ou recuperação do meio ambiente. Assim como na agricultura alternativa, Darolt (2002) afirma que a nomenclatura agricultura ecológica ou agricultura de base ecológica, não deve ser considerada como uma corrente, sendo que sua função é distinguir os estilos de agricultura que seguem princípios ecológicos e, por isso, se distinguem do modelo de agricultura convencional, industrial ou agroquímica. Portanto, os termos agricultura alternativa e agricultura ecológica demonstram a coexistência de várias escolas ou correntes que propõem a aplicação de princípios ecológicos à produção agropecuária, a partir da utilização de técnicas, redução ou extinção do uso de agroquímicos Agricultura sustentável De acordo com Khatounian (2001, p. 30) na seqüência de conferências sobre o desenvolvimento e o meio ambiente de 1972, 1982 e 1992, foi-se tornando cada vez mais evidente que tanto o padrão industrial quanto o agrícola precisavam de mudanças urgentes, pois se desenvolveram com a premissa de que os recursos eram ilimitados. Contudo, o planeta se mostrou pequeno em face à avidez em relação ao consumo de matérias tanto pela indústria quanto pela agricultura. Diante dessas circunstâncias, era necessário definir um rumo que almejasse a correção dos problemas existentes. Neste cenário é que se desenvolve o conceito de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade, apreendidos basicamente como o equilíbrio entre três fatores pilares do desenvolvimento (econômicos, sociais e ambientais). No caso da agricultura, criou-se o termo agricultura sustentável, na tentativa de conciliar as expectativas sociais da produção de alimentos e ambiente sadios, com os interesses das corporações sediadas nos países mais ricos, integrantes dos organismos internacionais e que lucram com o método convencional, e por isso, não firmariam uma

54 54 proposta que ferisse seus interesses comerciais imediatos. Desta forma, o termo agricultura sustentável, assim como o desenvolvimento sustentável, passou a ser utilizado por diversas instituições, firmas e sujeitos, com finalidades e intencionalidades distintas, causando uma confusão em torno do próprio conceito. Conforme Darolt (2002), no final dos anos de 1980 e durante toda a década de 1990, o conceito amplamente difundido foi o de agricultura sustentável. Muito amplo e repleto de contradições, este conceito deve ser considerado não como um conjunto de práticas agrícolas, mas mais como um objetivo a ser atingido. Para Altieri (1999) a relevância do termo agricultura sustentável se destaca pela abrangência de suas preocupações ao integrar a produtividade dos sistemas agrícolas com os aspectos econômicos, sociais e ambientais. O autor também sugere que se deve fazer mais que transformar as práticas tradicionais. Novas técnicas devem ser desenvolvidas, mas seguindo vários dos princípios orientadores observados na agricultura tradicional, preocupações presentes também na Agroecologia. No Brasil, e em todo mundo o termo sustentável muitas vezes é utilizado como marketing para promoção comercial, como exemplo, tem-se com frequência o patrocínio de grandes eventos por empresas produtoras de agrotóxicos, que se autodenominam sustentáveis. Diante destes acontecimentos fica evidente que embora a agricultura sustentável represente um avanço desejado, pelo reconhecimento oficial da inconformidade do modelo convencional, é também um retrocesso em relação as contra-correntes da agricultura que possuem normas claras, pois a afirmação do crescimento econômico como fundamento da sustentabilidade se contrapõe às críticas sobre o predomínio da dimensão econômica no processo de desenvolvimento. Assim, apesar de promover um discurso de integração entre o econômico, social e ambiental, a ideia de sustentabilidade vem sendo promovida no sentido de incorporar à dimensão econômica, alguns elementos de conservação ambiental. A lógica do crescimento econômico não é questionada e entende-se que esse crescimento é fundamental para se atingir melhorias sociais. Portanto, optamos por não utilizar o conceito de agricultura sustentável. A partir do exposto, decidimos utilizar o termo agricultura de base ecológica para agrupar as correntes que, em nossa opinião, fundamentam a Agroecologia, pois entendemos que a Agroecologia absorve conhecimentos de correntes da agricultura de base ecológica. A seguir, apresentamos informações sobre cada uma dessas correntes.

55 Agricultura biodinâmica No ano de 1924, o filosofo austríaco Rudolf Steiner, apresentou uma alternativa de agricultura diferenciada e, baseado na ciência espiritual da antroposofia, lançou os fundamentos da agricultura biodinâmica. Conforme Khatounian (2001), a Alemanha foi o berço da química agrícola, a qual foi cristalizada sob a denominação de Biologische Dynamische Landwirtschaft (Agricultura Dinâmica Biológica) em 1924, por Rudolf Steiner, mais tarde difundida como biodinâmica. O que motivava os agricultores da época a procurar esse método era o declínio das lavouras e criações submetidas às tecnologias e adubos químicos. Esse método preconizava a moderna abordagem sistêmica, entendendo a propriedade como um organismo e destacava a presença de bovinos como um dos elementos centrais para o equilíbrio do sistema. Foi bastante difundido nos países de língua e/ou influência germânica. A escola biodinâmica foi a primeira a estabelecer um sistema de certificação para seus produtos. O método biodinâmico de agricultura é acompanhado na educação pela Pedagogia Waldorf e na saúde pela Medicina Antroposófica (KHATOUNIAN, 2001, p ). Comparando a unidade de produção como um organismo, a agricultura biodinâmica difere das demais correntes. Pratica o uso de preparados biodinâmicos, que têm por objetivo vitalizar as plantas e estimular o seu crescimento. Os preparados são substâncias de origem mineral, vegetal e animal, as quais altamente diluídas são aplicadas em pequenas quantidades no solo, plantas e compostos. Realiza as intervenções agrícolas seguindo um calendário astronômico, concedendo atenção especial à disposição da lua e dos planetas (DAROLT 2002). As práticas agrícolas biodinâmicas possuem seu próprio sistema de certificação, fiscalização e credenciamento de agricultores. São legalmente consideradas como produção orgânica, ou seja, uma unidade de produção biodinâmica também é orgânica, porém uma unidade de produção orgânica não é necessariamente biodinâmica. Segundo Khatounian (2001), no Brasil, a agricultura biodinâmica foi inicialmente ligada à colônia alemã, e se estabeleceu na fazenda Estância Demétria, em Botucatu. Em seguida, essa unidade assumiu novas funções e se dividiu em outras organizações, que atuam na formação de pessoal, certificação e divulgação. Assim como as demais formas de produção alternativas ao modelo convencional, a agricultura biodinâmica preza pela diversificação e integração das explorações vegetais,

56 56 animais e florestais; pela adoção de práticas que primam pela reciclagem de resíduos vegetais e animais e; pelo uso de nutrientes de baixa solubilidade e concentração. Várias práticas utilizadas pela agricultura biodinâmica, também são usadas pela Agroecologia. Com maior frequência podemos observar o uso de preparados biodinâmicos (na Agroecologia, mais conhecidos como caldas ou supermagro ) para adubação do solo e como repelente de insetos, por possuírem em seus compostos esterco animal, variados tipos de ervas e minerais Agricultura natural A agricultura natural, de acordo com Khatounian (2001), surgiu no Japão, nas décadas de 1930 e 1940 através de um movimento de caráter filosófico-religioso que resultou em uma organização conhecida como Igreja Messiânica. Tem como figura central Mokiti Okada, o qual realizou experimentos de campo, motivado pelo princípio da purificação e respeito à natureza, a partir da observação de problemas enfrentados em algumas áreas agrícolas japonesas. Um dos pilares desse movimento foi o método agrícola denominado Shizen Noho (método natura) ou agricultura natural. Esse método agrícola foi influenciado pelo fitopatologista Masanobu Fukuoka, preconizando a menor alteração possível no funcionamento natural dos ecossistemas, e defendendo a menor intervenção possível no solo e a renúncia por insumos externos à propriedade rural, alimentando-se diretamente do Zen- Budismo (tipo de meditação contemplativa que busca levar o praticante à experiência direta da realidade) (KHATOUNIAN, 2001). Para Fukuoka, o sucesso da agricultura natural só ocorreria quando o agricultor estivesse espiritualmente saudável. Seus estudos tinham base em uma natureza livre da interferência e intervenção humana e propõe recuperar a natureza da destruição causada pela ação dos homens. Segundo Assis (2005), Fukuoka defendia a ideia de artificializar o menos possível o sistema de produção agrícola, mantendo-o o mais parecido possível com o sistema natural. Desta forma estabeleceu quatro princípios que aproximam a agricultura natural do fazer nada. 1) não revolver o solo; 2) não utilizar fertilizantes; 3) não capinar; 4) não utilizar agrotóxicos. A busca, neste caso, é do máximo aproveitamento dos processos que já ocorrem espontaneamente na natureza, com o menor gasto possível de energia (p. 18).

57 57 De acordo com Assis (2005), Okada e Fukuoka defendem ideias semelhantes quanto à base teórica, porém na prática há uma diferença, por parte dos sistemas de produção idealizados por eles. Esta diferença refere-se ao manejo da matéria orgânica no solo, pela preparação de compostos orgânicos, tida como importante apenas para os seguidores da filosofia de Okada. [...] as técnicas de cultivo de agricultura natural fundamentam-se no método natural de formação do solo, contando com a força da natureza e com todos os conhecimentos técnicos científicos adquiridos ao longo da evolução humana. Assim, preconiza-se na agricultura natural, a adoção de um sistema de exploração agrícola que venha acelerar o processo de reversão do solo desgastado. Essa recuperação do solo é processada durante a fase de exploração agrícola, a fim de que o trabalho de reversão não seja antieconômico (MIYASAKA; NAKAMURA, apud ASSIS, 2005, p. 17). Atualmente, a agricultura natural tem se concentrado no uso de microrganismos que são benéficos à produção vegetal e animal, conhecidos pela sigla EM (microrganismos eficazes). Esses microrganismos foram selecionados pelo Professor Teruo Higa, da Universidade de Ryukiu, e são difundidos e comercializados pela Igreja Messiânica (KHATOUNIAN, 2001, p. 27). No Brasil, a difusão inicial da agricultura natural esteve ligada à colônia japonesa, na qual a Igreja Messiânica se estabeleceu. Atualmente, a agricultura natural inclui canais empresariais, voltados à comercialização e à certificação. Segundo informações do site Planeta Orgânico, a Fundação Mokiti Okada desenvolve a agricultura natural no Brasil desde Essa fundação divulga a tecnologia da produção de alimentos saudáveis ao ser humano e ao meio ambiente, praticado pela agricultura natural, através da capacitação de agricultores do Brasil, e também de outros países da América Latina, Europa e África. Também realiza a certificação de produtos da Agricultura natural através da certificadora Mokiti Okada. A agricultura natural compõe uma das mais significativas fontes de inspiração para o aperfeiçoamento das técnicas de produção orgânica. A Agroecologia também é influenciada pelas técnicas utilizadas na agricultura natural, como por exemplo, não revolver o solo e não utilizar agrotóxicos, porém com pouca ênfase Agricultura biológica Segundo Darolt (2002), no inicio dos anos 1930, o biologista e político Dr. Hans Müller trabalhou na Suíça em estudos sobre fertilidade de solo e microbiologia. Originou-se

58 58 destes estudos a agricultura organo-biológica, que mais tarde ficou conhecida como agricultura biológica. Esta tinha como objetivos iniciais priorizar os aspectos socioeconômicos e políticos da produção, ou seja, buscava a autonomia do agricultor e um sistema de comercialização direta. Essas ideias só vieram a se concretizar por volta da década de 1960, quando o médico austríaco Hans Peter Rusch difundiu esse método. Nesse período, as preocupações da corrente de agricultura biológica tinham forte ligação com o movimento ecológico, primando pela ideia de proteção do meio ambiente, melhoria da qualidade biológica dos alimentos e o desenvolvimento de fontes de energia renováveis. De acordo com Khatounian (2001), no início dos anos 1960, já incorporando a crítica aos produtos do pós-guerra, organiza-se na França o movimento de agricultura biológica, tendo como fundador, Claude Aubert, o qual publica o livro L Agriculture Biologique: pourquoi et comment la pratiquer (Agricultura Biológica: porquê e como praticar), em Assim como a agricultura orgânica de Howard, a proposta sintetizada por Aubert não se vincula a uma doutrina filosófica ou religiosa particular. Configura-se como uma abordagem técnica, a qual preza por um relacionamento equilibrado com o meio ambiente e de melhor qualidade da produção. Segundo Assis (2005) o trabalho de Claude Aubert foi influenciado pelas ideias do biólogo francês Francis Chaboussou, que em 1980, publicou Les plantes malades des pesticides (Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos). Nesta obra, o autor demostra que se uma planta estiver em bom estado nutricional ela torna-se mais resistente ao ataque de pragas e doenças e, que o uso de agrotóxicos causa desequilíbrio nutricional e metabólico à planta, deixando-a mais vulnerável e provocando alterações na qualidade biológica do alimento. Para Khatounian (2001) a síntese organizada por Aubert é beneficiada pela considerável experiência acumulada nos 50 anos anteriores, podendo delinear com minúcia os fundamentos técnicos e científicos de uma nova agricultura. As propostas técnicas da agricultura biológica e orgânica são praticamente idênticas. A diferenciação reside mais no sentido da origem da palavra do que em termos conceituais e práticos. Para a Agroecologia, a maior contribuição da agricultura biológica é a prioridade que se dá aos aspectos socioeconômicos e políticos da produção, primando pela autonomia do agricultor, e pelo sistema de comercialização direta, identificados na Agroecologia através das feiras livres e na comercialização em domicílio.

59 Permacultura De acordo com Jacintho (2007), a permacultura foi desenvolvida na Austrália por Bill Mollison, nas décadas de 1970 e 1980, a partir dos pressupostos da agricultura natural definidos por Fukuoka. Ela foi influenciada pela visão sistêmica sob a ótica da teoria de Gaia, e também a incorporou aspectos básicos da ocupação humana no planeta, como a produção alimentar, habitação, oferta de água, saneamento, geração e oferta de energia, entre outros. Convergente com a proposta de Fukuoka, a permacultura propõe um modo inteiramente novo de enfocar a agricultura, utilizando a natureza como modelo. Segundo Jacintho (2007), no final dos anos 1970 a permacultura foi concebida como um método de agricultura permanente. Atualmente ela se apresenta como uma proposta para uma cultura humana permanente. Em 1974, surge o termo Permaculture, cunhado pelos cientistas Bill Mollison e David Holmgren. Surgido na Austrália, o termo difundiu-se pela América do Norte e Europa, chegando à América Latina e ao Brasil em meados dos anos A permacultura é definida como: A elaboração, a implantação e a manutenção de ecossistemas produtivos que mantenham a diversidade, a resiliência e a estabilidade dos ecossistemas naturais, promovendo energia, moradia e alimentação humana de forma harmoniosa com o ambiente (MOLLISON, 1999 apud JACINTHO, 2007, p. 37). Dentre o método de desenho e ocupação de solo permacultural, estão inseridos os conhecimentos de diversas áreas do conhecimento, que prezam objetivamente pelo saber empírico das comunidades onde se aplica. Assim, são valorizados os conhecimentos e práticas locais, para acomodar a ocupação humana de forma que seja mantido a diversidade e a estabilidade do ecossistema natural. Um termo bastante utilizado na permacultura é o de design, o qual se refere ao planejamento e projeto executivo de um desenho de ocupação humana produtiva e sustentável do agroecossistema, utilizando os recursos locais sem que seja alterada as condições do meio ambiente. As ações são realizadas com base em muita observação e, como resultado desta observação, pode se afirmar que enquanto a agricultura tradicional é intensiva em trabalho humano e a industrial em energia fóssil, o design permacultural é intensivo em informação e planejamento (JACINTHO, 2007). Conforme Khatounian (2001), a permacultura, diferente de outras escolas, ocupa-se também de assuntos urbanos como a construção de cidades ecologicamente adaptadas, que

60 60 minimizam as necessidades de energia, materiais e esforços externos e, maximizam os mecanismos naturais que podem contribuir para a satisfação das necessidades urbanas. No Brasil, país que possui uma natureza predominantemente florestal, a permacultura possui um potencial de contribuição ainda pouco explorado. A Agroecologia se aproxima da permacultura quando, assim como esse modelo alternativo, também preza pela interdisciplinaridade dos conhecimentos científicos e pelos saberes tradicionais, objetivando que a ocupação humana ocorra de forma menos impactante possível e seja mantida a diversidade e estabilidade do ecossistema natural, em uma relação harmônica entre pessoas e meio Agricultura regenerativa Conforme Darolt (2002), a agricultura regenerativa, surgiu a partir da agricultura orgânica proveniente das ideias de Howard e Rodale. Este modelo reforça o fato de o agricultor buscar sua independência pela potencialização dos recursos encontrados e criados em sua própria unidade de produção agrícola ao invés de buscar recursos externos. Em 1995 Jules Pretty publicou a obra Regenerating Agriculture, considerada um marco dessa corrente, que não teve a mesma difusão que as demais. Segundo Ehlers (1994), o termo agricultura regenerativa surgiu nos EUA, por Robert Rodale (1983) quando este utilizou teorias de hierarquia ecológica para estudar os processos de regeneração nos sistemas agrícolas, ao longo do tempo. Essa agricultura tem como objetivo a regeneração e manutenção das culturas e de todo o sistema de produção alimentar, incluindo comunidades rurais e os consumidores. A regeneração deve levar em conta, aspectos econômicos, questões ecológicas, éticas e de eqüidade social. Conforme Assis (2005), no Brasil, a experiência mais conhecida e que mais se aproxima da agricultura regenerativa é a do suíço Ernst Götsch, o qual na região sul da Bahia, desenvolveu um sistema agrossilvicultural para recuperação de áreas degradadas, onde privilegiou a produção agrícola por meio de poda intensa das árvores, de forma a induzir o rejuvenescimento, o vigor e o crescimento das plantas, aliados a elevada incorporação de biomassa ao solo e o controle intensivo da sucessão vegetal. Assim como na Agroecologia, a agricultura regenerativa considera no sistema de produção alimentar aspectos econômicos, ecológicos, éticos, de equidade social. Enfatizamos o respeito pelo consumidor, o qual na Agroecologia é de grande importância.

61 Agricultura orgânica A agricultura orgânica, por ser a corrente mais difundida no Brasil e na maior parte do mundo, tem sido identificada pelos consumidores como sinônimo das denominações das diferentes correntes de produção não industrial e/ou convencional. Conforme Jesus apud Assis (2005), a agricultura orgânica se originou na Inglaterra, com o agrônomo Albert Howard, que trabalhou na Índia durante longo período, adquirindo experiência no período de 1899 a 1940, em uma forma de agricultura baseada na manutenção de níveis elevados de matéria orgânica no solo. Howard fez diversas críticas ao modelo de agricultura industrial, ressaltando que a conservação da fertilidade do solo é a primeira condição para se ter um sistema de agricultura sustentável. Segundo Khatounian (2001) Howard observava que a adubação química produzia excelentes resultados nos primeiros anos, mas depois os rendimentos caíam drasticamente, enquanto os métodos tradicionais dos camponeses indianos resultavam em rendimentos menores, mas constantes (p. 26). Em 1940, Howard publica An Agricultural testament (Um Testamento Agrícola), um clássico em agricultura ecológica. Ainda de acordo com Khatounian (2001), a escola orgânica inglesa se fundamenta no âmbito da agricultura e dos recursos naturais, não se ligando a nenhuma concepção de caráter filosófico-religioso. Em 1943, inspirada por Rodale, Eve Balfour publica na Inglaterra The Living Soil (O Solo Vivo), defendendo uma agricultura sustentável com métodos orgânicos. A obra torna-se um ponto de aglutinação de ideias e debates que dará origem à The Soil Association (Associação do Solo), principal entidade orgânica do Reino Unido. Conforme Darolt (2002) os princípios da agricultura orgânica foram inseridos no Brasil no início da década de 1970, data em que se começava a repensar o modelo convencional de produção. Entre 1973 e 1995, o desenvolvimento da agricultura orgânica foi lento em todo país, passando por diferentes etapas ligadas a contextos socioeconômicos e movimentos de ideias contrárias à agricultura convencional. De acordo com Assis e Romeiro (2002), a agricultura orgânica é uma prática agrícola que possui características técnicas adaptadas em função do contexto social em que se insere, pois pode seguir uma lógica capitalista, enfatizando a produção para o mercado externo na perspectiva empresarial, e uma lógica familiar, que produz alimentos para subsistência e para o mercado local, com administração da família na produção.

62 62 A agricultura orgânica, assim como a Agroecologia possui um enfoque ecológico para produção, porém não questiona as relações convencionais do mercado que intensificam as desigualdades sociais. A agroecologia, por sua vez, é mais ampla, haja vista que leva em consideração relações socioeconômicas e processos biológicos em conjunto, procurando compreender o agroecossistema como um todo, ou seja, as relações entre animais, pessoas, plantas e solo. Desse modo, é importante diferenciar a agroecologia da produção orgânica, pois, muitas vezes, elas são tratadas como análogas, porém, existem diferenças entre essas duas alternativas produtivas Similitudes e diferenças da agricultura orgânica e da Agroecologia Na agricultura orgânica, procura-se produzir alimentos livres de qualquer tipo de insumos químicos e com sabor original que atenda às expectativas do consumidor. A busca por produtos orgânicos leva a uma pressão de mercado que favorece a produção com base em altas tecnologias, externas à propriedade; na monocultura e no objetivo principal de lucro. A prática eminentemente mercantil pode colocar em risco a sustentabilidade do sistema, pois costuma desconsiderar o equilíbrio entre o social, o econômico e o ecológico. Se depender do mercado, a produção orgânica tem futuro garantido, pois é a corrente alternativa que mais cresce e é difundida atualmente, em virtude da aceitação do produto limpo, livre de agrotóxicos (ASSIS e ROMEIRO, 2002). Contudo, autores como Altieri (2004), Caporal (2008), Leff (2001a, 2001 e 2002), Candiotto, Carrijo e Oliveira (2008), entre outros, afirmam que a Agroecologia é bem mais complexa que a agricultura orgânica, conforme já apontamos ao tratar sobre essas duas correntes. Portanto, na perspectiva da Agroecologia, o processo de produção agrícola deve estar vinculado ao desenvolvimento ambiental, social e econômico das propriedades e famílias rurais, com base em práticas de base ecológica. Assim, é fundamental um profundo conhecimento do funcionamento dos ecossistemas e agroecossistemas inseridos em uma propriedade rural ou em uma microbacia hidrográfica, aliado a uma preocupação política e social de manutenção e fortalecimento da agricultura familiar. De maneira geral, podemos afirmar que todas as práticas agroecológicas estão inseridas na corrente da agricultura orgânica, que, por sua vez, é uma das correntes da chamada agricultura de base ecológica. Por outro lado, as práticas agroecológicas, apesar de

63 63 fazerem parte da agricultura orgânica, possuem peculiaridades que as tornam mais restritas que as da agricultura orgânica, pois a Agroecologia está intimamente vinculada à agricultura familiar e/ou camponesa, sendo um tipo de agricultura de pequena escala, caracterizada pela policultura, pela mão-de-obra familiar, por sistemas produtivos complexos e diversos, adaptados às condições locais, voltados para o consumo familiar e mercados locais e regionais, valorizando as práticas agrícolas e culturais dos agricultores familiares, como o saber fazer acumulado historicamente. No entanto, todos esses elementos teóricos que compõem a Agroecologia dificilmente são encontrados nas Unidades de Produção e Vida Familiares. Assim, as pesquisas com foco na realidade empírica, são fundamentais para verificar os elementos da Agroecologia que estão presentes nas UPVFs situadas nos mais diversos lugares. Segundo a EMBRAPA (2006), o referencial teórico ganha um caráter palpável quando aplicado às realidades locais, que podem validar os princípios e enriquecer a concepção teórica da Agroecologia. Neste sentido, com base no debate teórico e no conhecimento de experiências empíricas de estabelecimentos rurais com produção orgânica na região Sudoeste do Paraná, nos propusemos a estabelecer uma tipologia para considerar diferentes formas de agricultura orgânica e, entre estas, identificar UPVFs que se aproximam da Agroecologia. Posteriormente, esse exercício teórico será aplicado nos estabelecimentos rurais com agricultura orgânica dos municípios de Itapejara D Oeste, Salto do Lontra e Verê, localizados no Sudoeste do Paraná e objetos da pesquisa de mestrado. Assim, estaremos estabelecendo uma relação dialética entre teoria e prática, de modo que a abstração teórica será aplicada empiricamente Proposta de tipologia para a agricultura orgânica Um primeiro aspecto a ser observado reside no conceito de estabelecimento rural e de Unidade de Produção e Vida Familiar (UPVF). Enquanto um estabelecimento rural corresponde a qualquer estabelecimento situado no espaço rural, independente do tamanho, atividade ou gestão, o conceito de UPVF é especifico para estabelecimentos rurais da agricultura familiar e/ou camponesa. Apesar de haver uma separação entre estabelecimento rural patronal e estabelecimento rural familiar, optamos por utilizar o termo UPVF (que também corresponderia a um estabelecimento rural familiar), em virtude deste englobar não somente a dimensão produtiva da unidade familiar, mas também os diversos elementos que compõem essa unidade como uma unidade de vida, para além da simples produção. Dentro

64 64 da unidade produtiva, que é foco de pesquisas das ciências sociais aplicadas e das agrárias, existem também pessoas, com relações sociais, políticas, valores culturais, sentimentos, identidades, etc. Ao limitar a abordagem à esfera produtiva, elementos socioculturais fundamentais da família rural acabam sendo esquecidos, prejudicando o próprio processo de análise da multidimensionalidade da agricultura familiar e/ou camponesa. Portanto, ao utilizar o conceito de UPVF, além da consideração da dimensão produtiva do estabelecimento rural familiar, busca-se apreender questões sociológicas que envolvem a família e suas relações sociais diversas estabelecidas no cotidiano vivido. Partimos do pressuposto de que a produção orgânica é desenvolvida em estabelecimentos rurais, sejam UPVFs (estabelecimentos rurais familiares) ou não (estabelecimentos rurais patronais). Essa produção, pode se dar em todo o estabelecimento, envolvendo todas as atividades produtivas destes, ou somente em parte dele, isto é, quando há uma coexistência entre agricultura orgânica e agricultura convencional. Acreditamos que um estabelecimento rural que combina a agricultura orgânica com a convencional, não pode ser chamado de estabelecimento rural orgânico, mas sim, parcialmente orgânico. Estes, também não podem ser classificados como agroecológicos. Outro elemento importante reside no chamado processo de transição orgânica. De forma geral, as instituições de assistência técnica em agricultura orgânica e as certificadoras de alimentos orgânicos, exigem que o estabelecimento rural fique no mínimo três anos sem utilizar nenhum agroquímico, para ser considerado um estabelecimento rural orgânico. Esse tempo é justificado pela necessidade de eliminar as possíveis fontes de contaminação do próprio estabelecimento, caso este tenha praticado a agricultura convencional. Entendemos que nesse período de três anos, o estabelecimento deve ser chamado de estabelecimento rural em transição para a agricultura orgânica, não devendo ser considerado ainda, um estabelecimento orgânico. Portanto, para que um estabelecimento rural possa ser chamado de orgânico, é preciso que ele seja totalmente orgânico e que tenha passado pelo processo de transição. Na tentativa de diferenciar os estabelecimentos rurais que tem uma produção especializada, daqueles onde há algum tipo de diversificação produtiva, optamos por estabelecer a seguinte classificação, que serve para todos os estabelecimentos rurais com agricultura orgânica, independente do fato da produção ser ou não utilizada para o consumo de seu proprietário ou de sua família: 1) aqueles estabelecimentos rurais que produzem e comercializam até dois tipos de produtos no ano, estão englobados na categoria especializado; 2) os

65 65 estabelecimentos rurais onde se produz e se comercializa até 5 tipos de produtos no ano, compõem a categoria pouco diversificado; 3) Já os estabelecimentos que produzem e comercializam mais de 5 tipos de produtos no ano, fazem parte da categoria diversificados. Por sua vez, os estabelecimentos rurais com agricultura orgânica podem ser divididos em dois grandes grupos: empresarial e familiar. Elencamos a seguir, algumas características que diferenciam tais grupos. O estabelecimento rural com agricultura orgânica empresarial é regido por uma intencionalidade (SANTOS, 1996) econômica que estamos chamando de capitalista, que tem por objetivo principal a obtenção de lucros e a acumulação de capital. O estabelecimento é gerenciado por uma empresa, com CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), onde são comuns estratégias como a contratação de trabalho assalariado, uso de tecnologias convencionais, insumos externos e certificação por auditagem. Nesses estabelecimentos predomina a racionalidade hegemônica e as verticalidades (SANTOS, 1996), onde as redes são amplas, os mercados consumidores distantes e as temporalidades e territorialidades são influenciadas pela lógica economicista do capitalismo globalizado. Há pouca preocupação com benefícios locais e com o fortalecimento das horizontalidades e da agricultura familiar e/ou camponesa. O estabelecimento rural com agricultura orgânica familiar diferencia-se do empresarial pelo fato de ser um estabelecimento da agricultura familiar e/ou camponesa e, portanto, uma UPVF. Para classificar uma UPVF, procuramos reformular a proposta de Candiotto (2007 e 2011), analisando a Lei n o , de 24 de julho de 2006 que Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional de Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais., de modo que consideramos como familiar as UPVFs que possuem as seguintes características: 1. Estabelecimentos rurais com até 50 hectares; 2. Gestão familiar ou feita por um ou mais membros da família; 3. Mão de obra predominantemente familiar (mais de 50% dos trabalhadores permanentes); 4. Maior parte da renda proveniente de atividades agrícolas e para-agrícolas (mais de 50%); 5. Residência na propriedade de pelo menos dois membros da família. Apesar desses cinco parâmetros, entendemos que, para ser considerado familiar (ou uma UPVF), o estabelecimento deve atender no mínimo aos parâmetros de número 1, 2 e 3.

66 66 No entanto, é preciso analisar empiricamente cada estabelecimento, através de pesquisas de campo e do contato com as famílias, para verificar se trata-se de uma UPVF ou não. Os estabelecimentos rurais (ou UPVFs) com agricultura orgânica familiar podem ser subdivididos em dois grandes grupos: moderno e tradicional. Uma Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica moderna se encontra no limiar entre a Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica tradicional e o estabelecimento rural com agricultura orgânica empresarial, pois pode apresentar características de ambos. A Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica moderna, apesar da gestão familiar, corresponde a uma empresa (com CNPJ), que utiliza de tecnologias convencionais, insumos externos e geralmente contrata mão de obra assalariada. A certificação costuma ser por auditagem e os mercados acessados podem ser locais, regionais, nacionais e até internacionais. Nessas unidades, a intencionalidade é eminentemente econômica, apesar da opção pela agricultura orgânica poder estar vinculada a uma intencionalidade ideológica da família (busca por uma produção que não afete a saúde dos agricultores e consumidores, preocupação com a conservação ambiental). Na tentativa de diferenciar a intencionalidade econômica, dividimos esta em intencionalidade econômica capitalista, onde o lucro e a acumulação são os objetivos principais e onde predomina uma lógica de crescimento constante da produção e da empresa; e intencionalidade econômica básica, onde o principal objetivo é a sobrevivência da família e sua qualidade de vida. Nesta, busca-se o lucro, porém sobretudo a manutenção da família no campo e na agricultura. Acreditamos que as Unidades de Produção e Vida Familiares orgânicas modernas podem ser gerenciadas tanto pela intencionalidade econômica capitalista quanto pela intencionalidade econômica básica, ou mesmo por ambas. Nessas UPVFs há uma coexistência entre o que Santos (1996) denomina verticalidades e horizontalidades, ou entre a racionalidade hegemônica e as contra-racionalidades. Assim, pode também haver uma coexistência entre temporalidades/ritmos rápidos e temporalidades mais lentas, que devem ser analisadas caso a caso. Já a Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica tradicional, é regida por temporalidades mais lentas, apesar de poderem também apresentar ritmos mais rápidos, porém em menor intensidade. Nessas UPVFs, a opção pela agricultura orgânica está ligada a uma intencionalidade econômica básica (de sobrevivência da família na agricultura, de ritmos mais lentos) e, geralmente, a uma intencionalidade ideológica, sobretudo ligada à saúde da família.

67 67 A UPVF pode ser cadastrada como empresa no sistema simples, mas a lógica do crescimento constante não é a prioridade. O acesso a tecnologias convencionais é menor que nas outras categorias e tais tecnologias costumam coexistir com tecnologias antigas, rudimentares e alternativas. A mecanização é menor, assim como o uso de insumos externos. Predominam horizontalidades e redes locais, apesar da existência de verticalidades (relações com instituições, empresas e mercados extra-locais). Os mercados consumidores são eminentemente locais e regionais e essa categoria é a que mais se aproxima das contraracionalidades, ou seja, da construção de racionalidades alternativas à hegemônica. Nesse sentido, estratégias de comercialização direta (feiras, cestas, entre outras) e de mercado justo e economia solidária são fundamentais para o fortalecimento dessas contra-racionalidades e da autonomia das famílias agricultoras. Na Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica tradicional, assim como nas demais, a produção pode ser especializada, pouco diversificada ou diversificada. Contudo, nessa categoria, as UPVFs especializadas possuem certificação, seja por auditagem ou participativa. Já as UPVFs diversificadas e pouco diversificadas, pode ou não haver certificação, seja ela por auditagem ou participativa. Nesse universo de categorias de estabelecimentos rurais com agricultura orgânica proposto, entendemos que somente as Unidades de Produção e Vida Familiares orgânicas tradicionais diversificadas podem ser consideradas como UPVFs agroecológicas, com ritmos mais lentos. Por sua vez, elas podem ser subdivididas em UPVFs agroecológicas com certificação por auditagem; UPVFs agroecológicas com certificação participativa; e UPVFs agroecológicas não certificadas. Contudo, as UPVFs não certificadas dependem da credibilidade e da confiança por parte dos consumidores, pois ao não possuir o selo de orgânico, podem haver questionamentos sobre a qualidade dos alimentos produzidos. Além desses elementos, entendemos os estabelecimentos rurais ou as UPVFs envolvidos em atividades de pesquisa, extensão, assistência técnica e certificação influenciam sobremaneira no diálogo entre o conhecimento tradicional/empírico dos agricultores com o conhecimento técnico-científico, ambos fundamentais para o avanço da dimensão produtiva da agricultura orgânica e da agroecologia. Ao mesmo tempo, a participação dos agricultores em cursos, palestras e outros eventos de formação e capacitação na área da agricultura orgânica e da agroecologia, tende a aproximar essas duas modalidades do conhecimento. Considerando que é necessário estabelecer diálogos entre o conhecimento científico pautado na compreensão da dinâmica de funcionamento dos agroecossistemas, na

68 68 otimização do uso dos recursos internos à UPVF, no manejo dos adequado dos recursos naturais e em uma visão holística da UPVF com o conhecimento empírico dos agricultores, que se dá pela experimentação e pela troca de saberes, esses espaços de convívio são de suma importância para a consolidação da Agroecologia. O organograma abaixo sintetiza a proposta de tipologia apresentada.

69 Organização: CANDIOTTO, L.Z.P; MEIRA, S.G

70 70 São diversos os sujeitos envolvidos com a produção de alimentos orgânicos nos municípios pesquisados, produção esta que envolve as dimensões econômica (produção, processamento e comercialização), ambiental, social, política e ética. Ao ter como foco as intencionalidades, temporalidades e territorialidades da Agroecologia e da agricultura orgânica desenvolvida em Unidades de Produção e Vida Familiares, nos próximos capítulos buscamos realizar um diagnóstico e aplicar a metodologia proposta para compreendermos tais elementos, considerando a atuação de agricultores, técnicos gestores e entidades nas diversas relações que estabelecem no território.

71 71 CAPÍTULO III. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE ITAPEJARA D OESTE PR 3.1. Caracterização geral do município O município de Itapejara d Oeste teve sua emancipação política em 1964, originária do desmembramento dos municípios de Francisco Beltrão e Pato Branco (Prefeitura Municipal de Itapejara d' Oeste, 2013). O mapa 01 apresenta a localização do município no contexto da Região Sudoeste e do Estado do Paraná. Mapa 01 - Localização do município de Itapejara d Oeste, Paraná, Brasil. Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G

72 72 O município possui uma área de 254 Km² e uma população de habitantes, sendo 54% urbana e 46% rural (IBGE, 2010). As principais atividades econômicas estão no setor agropecuário, sendo que os produtos agrícolas mais cultivados são soja, milho, trigo e feijão, conforme indicado no gráfico a seguir. Gráfico 01 Principais produtos agrícolas do município de Itapejara d Oeste/PR, safra Série1 Quantidade produzida em toneladas Fonte: IBGE (2009). Org. MEIRA, S.G. (2013). Ao analisarmos o gráfico 01 fica claro que a maior parte das terras agrícolas é ocupada por lavouras temporárias, onde são cultivados os produtos apresentados no gráfico 02. Porém é perceptível também o aumento de 1985 para 1995/96 de quase mil hectares da área ocupada com pastagens plantadas e a redução de aproximadamente 4 mil hectares de lavouras plantadas no mesmo período, sendo que as matas e florestas naturais tiveram um aumento gradual de 1985 a Esses dados indicam que além da diminuição de atividades agrícolas que foram substituídas por florestas, houve um aumento da atividade pecuária leiteira no município e na região Sudoeste, tanto em pequenos, como em grandes estabelecimentos.

73 73 Gráfico 02 Utilização das terras Área dos estabelecimentos (ha), Itapejara d Oeste/PR / Lavouras Permanentes Lavouras Temporárias Pastagens Naturais Pastagens Plantadas Matas e florestas Naturais Matas e florestas plantadas Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985, 1995/96, Org. MEIRA, S.G. (2013). Os dados do gráfico 03, comprovam o crescimento da produção leiteira no município de Itapejara d Oeste. Essa produção é bastante significativa, pois caracteriza uma renda mensal garantida, apesar de oscilações no preço pago pelo leite. Gráfico 03 Evolução histórica da produção leiteira no município de Itapejara d Oeste/PR. Quantidade de leite produzido (litros/ano) / Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985, 1995/96, 2006 e IBGE Cidades Org. MEIRA, S.G. (2013).

74 74 As atividades agropecuárias do município, principalmente a produção de grãos (commodities agrícolas) representam a agricultura convencional, com uso intensivo de agroquímicos, tecnologias e maquinários modernos. A agricultura orgânica representa uma pequena parcela de agricultores, os quais se fortalecem com apoio de entidades que incentivam esta forma de produção, como veremos a seguir Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia Em Itapejara d Oeste a agricultura orgânica e a Agroecologia começaram a se desenvolver entre os anos de 2001 e 2002, por iniciativa da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente em parceria com o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) - o qual contribuiu prestando assistência aos produtores no processo de conversão das propriedades - e com a EMATER (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural). Aproximadamente 90 produtores foram capacitados para produzir de forma orgânica, porém, atualmente, há apenas 13 produtores divididos em agroecológicos e orgânicos, que contam como parceiros além das entidades acima citadas, uma empresa denominada ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) e a Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária (CRESOL). (SAQUET, et al. 2012). Além das entidades já citadas atuam ainda como parceiras indiretas da produção orgânica no município de Itapejara do Oeste, o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (SINTRAF) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). Estas entidades atuam de modo parcial, com intervenções ligadas à qualidade de vida e melhoria das condições de trabalho dos agricultores familiares. Há também uma parceria para a comercialização dos produtos da agricultura familiar, entre eles os produtos orgânicos, com a Cooperativa de Comercialização da Agricultura Familiar Integrada (COOPAFI). Em entrevista realizada com o secretário de agricultura e meio ambiente do município V.L., este enfatiza que a secretaria disponibiliza um técnico para atuar na produção orgânica e agroecológica. Outros dois técnicos são cedidos pela EMATER e a ATER. Do total de alimentos, aponta que o município adquiriu aproximadamente 40% de alimentos orgânicos (hortaliças e frutas) para fornecer a merenda escolar, através dos programas PAA e PNAE, no ano de Apesar de a secretaria disponibilizar um técnico para apoio a produção orgânica e agroecológica, atualmente há um orçamento de 10% do total da secretaria, destinados à

75 75 questão da agricultura orgânica. Os principais produtos adquiridos para merenda escolar são banana, mamão, laranja, batata e mel. A secretaria também possui um programa de coleta do lixo reciclável, periodicamente, e das embalagens de agrotóxicos, realizada uma vez por ano na área rural do município. Existe uma política para o controle do uso de agrotóxicos, com orientações, cursos e palestras para os agricultores. O lixo produzido nas UPVFs é coletado pelo programa Meio Ambiente Limpo a cada noventa dias seguindo o roteiro dos ônibus escolares (V.L. informação verbal, 2012). O secretário acredita que a agroecologia tende a se desenvolver no município e os agricultores que estão praticando atualmente, irão servir de exemplo para outros. Porém, afirma que esta questão depende dos dirigentes, gestores e técnicos para incentivar e orientar a produção livre de insumos químicos. Em nível de região Sudoeste o secretário de agricultura e meio ambiente aponta que a agricultura orgânica e a Agroecologia estão se desenvolvendo, mas assim como no município de Itapejara d Oeste, necessitam ainda de maior apoio institucional. Na entrevista com o responsável pela ATER e SINTRAF, A.E.Z., presidente destas entidades que atuam juntas, aponta que no município de Itapejara d Oeste existe uma organização chamada de fórum das entidades da agricultura familiar, e nela estão congregadas SINTRAF, CLAF, COOPAFI e CRESOL. As ações desenvolvidas focadas em agroecologia são realizadas em conjunto através deste fórum. O SINTRAF atualmente como sindicato, está com uma nova metodologia de trabalho, prestando mais assistência para os agricultores. O sindicato busca ajudar a resolver as questões de produção do agricultor, seja na área da pecuária, agricultura e agroecologia. Desde a sua formação em 2003, o SINTRAF tem o intuito de trabalhar com a Agroecologia. Formou-se através de uma necessidade de fornecer habitação rural e dentro de seu estatuto o apoio à agricultura orgânica está incorporado. A assistência técnica prestada pelo SINTRAF é feita individualmente conforme o interesse de cada agricultor. As atividades são divididas entre os técnicos e são realizadas em conjunto com as outras entidades parceiras. A.E.V. é responsável em acompanhar a produção de hortaliças, frutas e pequenas culturas. O principal destino da produção orgânica de Itapejara d Oeste, é a comercialização com a APROVIVE de Verê, no caso da uva; COOPAFI, na venda direta ao consumidor e; em supermercados. Pretendem organizar uma feira da agricultura familiar, dando ênfase

76 76 para os produtos orgânicos. Os principais produtos orgânicos comercializados são laranja, tomate, morango, pimentão, vagem, pepino, cenoura, beterraba, alface, uva e o rabanete. De acordo com A.E.V., os avanços ocorridos na produção de alimentos orgânicos estão ligados aos programas sociais do governo federal como a comercialização para a merenda escolar, através do PAA e PNAE. A divulgação que referente à qualidade dos alimentos orgânicos é apontada como outro fator positivo, que vem influenciando as pessoas a consumir tais produtos. O melhor preço ofertado pelos produtos está assegurando o interesse dos agricultores em plantar de forma orgânica. As dificuldades relacionadas à produção são a falta de mão de obra e principalmente no envelhecimento da população do campo. Os agricultores orgânicos de Itapejara d Oeste encontram-se organizados pela Associação do Produtores Agroecológicos de Verê (APAV). Através do CAPA, alguns conseguiram obter certificação. Porém o município já conseguiu emendas do governo federal com implementos agrícolas como trator, roçadeira, pulverizador, enxada rotativa, para formar uma organização própria. Para A.E.V., a principal dificuldade relacionada à comercialização de orgânicos é a falta de uma organização dos agricultores. Apenas a COOPAFI não é suficiente. É necessário trabalhar uma forma mais organizativa, com um local especifico para a comercialização. Na COOPAFI, o entrevistado, foi o presidente J.B., Ele relata que a COOPAFI é uma cooperativa que atua com a produção de alimentos, comercializando hortaliças, frutas e doces. Grande parte dos produtos da COOPAFI é comercializada através dos programas PAA e PNAE. Existe também um trabalho com produtos que são produzidos em grande escala como a soja, tanto convencional quanto orgânica, que é adquirida para os programas de fabricação de biodiesel. A cooperativa foi formada em 2007, com o propósito de trabalhar apenas com produtos orgânicos e agroecológicos, mas infelizmente não conseguiu seguir apenas nessa linha em virtude da pequena quantidade de produção. No entanto, sabemos que a COOPAFI também tem uma posição política de defender a agricultura familiar, independente do fato desta ser orgânica ou convencional. Para o entrevistado, o objetivo da COOPAFI em relação à Agroecologia é conseguir ampliar o número de produtores, e consequentemente de produtos para serem comercializados fora do município. A principal organização dos agricultores orgânicos do município se dá através do CAPA, que presta assistência técnica. Há também uma indústria (APROVIVE), localizada

77 77 no município de Verê, que produz suco de uva orgânica e agrega agricultores dos municípios de Verê, Itapejara d Oeste e São Jorge d Oeste. De acordo com J.B., os principais produtos orgânicos do município são a uva e as hortaliças. Estão investindo na produção de laranja, mas estas se encontram em fase de crescimento. Os avanços apontados por J. B. estão na conscientização dos agricultores, que perceberam a necessidade de trabalhar com produtos diferenciados em suas UPVFs, geralmente pequenas. Para o entrevistado a agricultura orgânica é muito mais simples de se trabalhar, mas atualmente o modo de produção convencional implantou um pensamento diferente para os agricultores, mudando sua cultura. Quem trabalha convencionalmente esqueceu seu passado de vinte anos atrás, optando pelo modo mais prático de produzir. Na agricultura orgânica se trabalha com a natureza, quando se utiliza algo químico, ela não consegue mais ajudar na produção. (J.B., informação verbal, 2011). O presidente da COOPAFI, também é agricultor e sócio da empresa ATER. Ele diz consumir alimentos orgânicos, na qual a origem é do próprio mercado do produtor (COOPAFI) e de feiras da região. Desde 1990 atua com a agricultura orgânica, com projetos em Francisco Beltrão, na Cooperativa de Prestação de Serviços Cooperiguaçu, trabalhando na CRESOL e atualmente na COOPAFI. Busca conhecimentos sobre o assunto, principalmente em cursos promovidos pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e em reuniões pelas as entidades. A principal dificuldade encontrada na produção orgânica é o volume de produção, pois segundo ele, os produtores devem produzir em grande quantidade para viabilizar a propriedade. Já na comercialização, o principal problema está na baixa produção. Existe demanda para comercialização em centros maiores, mas faltam produtos. Na certificação o problema maior é o não reconhecimento da Rede Ecovida, porém essa informação está equivocada, pois a Rede Ecovidaé reconhecida como órgão certificador. O representante da COOPAFI entende que a agricultura orgânica no município de Itapejara d Oeste tende a aumentar em número de famílias. Em nível de região Sudoeste, se torna mais difícil pelo relevo plano de alguns municípios, o que facilita o desenvolvimento da agricultura convencional através da utilização intensa de máquinas para o preparo das lavouras, mas na grande maioria também existe a tendência de aumento. Na CRESOL, o entrevistado foi V.L., presidente da cooperativa. Ele relata que a forma de atuação da CRESOL está na linha de crédito para agricultores familiares. A

78 78 cooperativa surgiu há dez anos e atende agricultores que possuem até 80 hectares de terra, fornecendo financiamentos para investimentos ligados ao PRONAF. O presidente reside no município há 46 anos. Sua formação é o primário (4ª série do Ensino Fundamental). Além de presidente da CRESOL é agricultor e consome alimentos orgânicos oriundos dos agricultores que vendem de forma direta. Para ele, agricultura orgânica e a agroecologia possuem o mesmo significado, porque nas duas existem poucos produtores. Há também a diferenciação de preço. Aponta que a agricultura orgânica tende a aumentar no município se houver um incentivo para o pequeno agricultor e para a manutenção de jovens na agricultura. Em nível de região Sudoeste ele acredita que irá ter avanços, pelos programas do governo e incentivos atuais. O dirigente da CRESOL afirma que em cidade de pequeno tamanho como Itapejara d Oeste o produto orgânico não tem valor, pois exige uma mudança na mentalidade das pessoas e há muita negligência do poder publico (V.L., informação verbal, 2011). A EMATER de Itapejara d Oeste atua com fruticultura, olericultura, grãos e leite principalmente. O entrevistado L. M., especificamente trabalha bastante com um projeto para proteção de fontes e nascentes juntamente com as entidades da agricultura familiar e a secretaria de agricultura e meio ambiente. Esse projeto prevê atender de 30 a 40 fontes por ano, gratuitamente para pequenos agricultores familiares. Alguns agricultores que trabalham com olericultura orgânica possuem água de baixa qualidade. A EMATER não possui uma atuação direta com Agroecologia e agricultura orgânica, pelo fato, segundo L.M., de a prefeitura ter convênio com o CAPA da cidade de Verê, que trabalha apenas nessa área, acompanhando os agricultores. Então, diz que a EMATER deixa a parte de agricultura orgânica para estas entidades e atende a outros setores. O entrevistado entende que agricultura orgânica é a produção de alimentos livres de agrotóxicos, usando produtos naturais a base de adubos orgânicos. Já a agroecologia pensa toda a propriedade, qualidade da água. É produzir e pensar com sustentabilidade. (L.M., informação verbal, 2011). Para o representante da EMATER, as dificuldades dos produtores estão relacionadas à certificação e ao desânimo, pois a maioria, quando encontra alguma dificuldade na produção acaba usando produtos químicos para combatê-la. Vê o futuro da agricultura orgânica e da Agroecologia no município de Itapejara d Oeste com dificuldades de crescimento, em virtude da falta de mão de obra, dificuldades de comercialização, e falta de

79 79 interesse dos agricultores em produzir de forma orgânica, pois hoje praticar a agricultura convencional é mais fácil. O STR atua em conjunto com a secretaria da agricultura e meio ambiente, EMATER e CRESOL, subsidiando o pequeno agricultor. A entidade não possui uma atuação direta com a agricultura orgânica e a Agroecologia, segundo informações do entrevistado V.S.. O objetivo da entidade em relação à agricultura orgânica e a Agroecologia é estar junto com as entidades que já oferecem algum trabalho nessa área. Segundo V.S., os principais produtos orgânicos do município são hortaliças e frango orgânico. Existem muitas dificuldades em produzir orgânicos, por falta de preço e custo maior. Na comercialização o problema está na competição com os produtos convencionais. A certificação deveria ter um processo mais simplificado, diferenciando um produto orgânico do convencional. (informação verbal, 2011). Entende que a agricultura orgânica é a produção sem agrotóxicos. A Agroecologia defende o mesmo conceito. Ele acredita que este tipo de produção tanto no município de Itapejara d Oeste quanto no Sudoeste do Paraná tende a crescer com o trabalho que as entidades estão fazendo no município Intencionalidades dos técnicos e gestores As intencionalidades do secretário de agricultura e meio ambiente em relação à agricultura orgânica podem ser consideradas positivas, pelo fato da Secretaria ter um técnico e possui orçamento específico destinado à agricultura orgânica. As intencionalidades podem ser denominadas como ideológicas e econômicas básicas, pois a secretaria trabalha para o incentivo da agricultura orgânica em pequenas propriedades de agricultores familiares, com o objetivo principal de aumentar a comercialização para a merenda escolar, garantindo alimentação saudável para os alunos não só do município, mas também da região. Para os entrevistados da ATER e SINTRAF, a agricultura orgânica é como se fosse um galho de uma árvore e a agroecologia é a árvore inteira. (A.E.V. informação verbal, 2011). Esta fala deixa claro o conhecimento que possui em relação à agricultura orgânica e a Agroecologia. A fala deste sujeito evidencia uma intencionalidade ideológica e econômica básica, pois durante toda a entrevista demonstra acreditar e trabalhar para que a agricultura orgânica seja promovida no município, trazendo melhorias de renda para os pequenos agricultores e qualidade de vida para produtores e consumidores. As intencionalidades da COOPAFI, com a produção orgânica também são mais voltadas aos aspectos econômicos, pois na fala do entrevistado J.B. este aponta que os

80 80 agricultores devem produzir em grande quantidade para viabilizar a propriedade, pois existe a demanda para comercialização, mas faltam produtos. Porém, também demonstra uma intencionalidade ideológica, ao enfatizar a importância do conhecimento tradicional empregado na produção há duas décadas. A CRESOL é citada como parceira da agricultura orgânica, principalmente pelo acesso ao PRONAF que os agricultores fazem através da cooperativa. Contudo, não há diferenciação na documentação para acessar o crédito para a produção orgânica e para a convencional, sendo este um entrave para o financiamento da produção orgânica. As intencionalidades do entrevistado não são claras. Apenas podemos apontar o pouco conhecimento em relação à agricultura orgânica e a Agroecologia, e até mesmo uma perspectiva negativa em relação ao futuro da produção, quando diz que em municípios pequenos a produção orgânica não tem valor. A EMATER, não trabalha diretamente com a agricultura orgânica e a Agroecologia, demonstrando que nessa instituição não há uma preocupação com o desenvolvimento dessas iniciativas. O entrevistado demonstra um conhecimento bastante coerente em relação ao significado e diferença de agricultura orgânica e Agroecologia. Porém, pelo relato que faz da agricultura orgânica desenvolvida no município, evidencia pouco conhecimento empírico da mesma, e demonstra não acreditar no avanço desta forma de cultivo, tanto no município, como na região. Podemos afirmar que o STR, através da entrevista realizada, não possui intencionalidades relacionadas à agricultura orgânica e a Agroecologia, pois não atua diretamente com estas formas de produção. Mesmo assim, essa entidade é citada como parceira, talvez pelo fato da maioria dos agricultores entrevistados serem sócios do STR. Além disso, o entrevistado demonstra conhecimento mínimo da produção orgânica e agroecológica, principalmente quando afirma que o custo deste tipo de produção é maior. De modo geral, percebemos que a CRESOL e o STR, não tem uma preocupação efetiva com a agricultura orgânica, pois no discurso dos entrevistados, eles não demonstram conhecimentos relevantes. A EMATER, embora não tenha uma relação direta com a agricultura orgânica praticada no município, trabalha a questão da qualidade da água, de suma importância para a produção de alimentos saudáveis. Contudo, continua atuando dentro da lógica da agricultura convencional. Para melhor compreensão da Agroecologia e da agricultura orgânica no município de Salto do Lontra, apresentamos a seguir as informações dos agricultores.

81 Agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara d Oeste Atualmente 12 famílias trabalham com produção orgânica no município de Itapejara d Oeste. Contudo, trabalhamos com sete UPFVs nessa pesquisada. A seguir, apresentamos as informações referentes a essas UPVFs A. P. e família A família vive no município e na UPVF, situada na localidade de Palmeirinha, há 53 anos. Residem na propriedade três pessoas, sendo o casal e um filho. O filho trabalha em uma fábrica de jeans na cidade. V. P (esposa de A. P.) trabalha exclusivamente na propriedade e A. P., além do trabalho na UPVF, esporadicamente trabalha como pedreiro. A.P. têm 52 anos e estudou até a 5ª série. V.P. têm 42 anos e estudou até a 4ª série. A gestão da UPVF é familiar. A UPVF é parcialmente orgânica e possui 4,8 hectares divididos da seguinte forma: 1 hectare com cultura temporária (milho); 1,3 hectares com parreiral (2.500 pés de uva tipo francesa); 0,5 hectares com uma sanga (pequeno rio), mata e capoeira; aproximadamente 1 hectare de pastagens permanentes e; uma pequena área com hortaliças. No que diz respeito ao maquinário, possuem quirereiro (motor elétrico), enciladeira com aproximadamente 20 anos de uso e um tobata, utilizado na lavoura e para transporte da uva (o motor tem aproximadamente 30 anos). Para auxiliar na produção e facilitar a mão de obra o agricultor utiliza um pulverizador adaptado ao tobata no parreiral. Estes equipamentos evidenciam temporalidades lentas presentes na UPVF. A trajetória da família com a produção orgânica iniciou em 2005, com a produção de uva. Aprenderam a cultivar de forma orgânica com o CAPA através de reuniões, cursos e divulgações realizadas pela entidade. Começaram a desenvolver a agricultura orgânica porque acreditam na importância desta para a saúde da família e do consumidor, e porque é uma alternativa de renda. Estas considerações demonstram a intencionalidade ideológica e econômica básica com a produção de orgânicos. Em relação à produção vegetal, produzem milho de forma convencional (80 sacas por ano) para consumo na UPVF. De forma orgânica, produzem hortaliças e frutas para consumo familiar. Na safra de 2011/2012 produziram 7 mil kg de uva (destes comercializaram 5 mil kg). O rebanho animal é composto por suínos, bovinos e aves de granja. Possuem quatro vacas em lactação, que produzem aproximadamente 800 litros de

82 82 leite por mês. Na produção agroartesanal, destacam o queijo e doce de uva para consumo próprio, além da produção de vinho (1.500 litros por safra). A uva é comercializada de forma direta na propriedade. Comercializavam uvas com a Associação de Produtores Vitivinicultores de Verê (APROVIVE) para a fabricação de suco, porém pelo baixo valor pago R$ 1,00 o Kg (safra de 2010/2011), optaram nesta safra por comercializar em casa a produção de uva in natura. O vinho é comercializado na propriedade (chegam a vender 50 litros por dia de vinho doce, na época de fabricação) e no mercado da COOPAFI. O leite é comercializado com o laticínio Alto Alegre de Verê e recebem R$ 0,71 por litro. Em relação aos insumos externos adquirem adubo de aviário. Deixam curtir seis messes para depois utilizar na produção orgânica. As mudas de uva foram adquiridas com no CAPA e vieram do Rio Grande do Sul. Na foto a seguir podemos observar parte do parreiral. Foto 01. Parte do parreiral de A.P. Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012. No parreiral podemos observar que a produção é organizada de forma moderna. A estrutura é feita com palanques de concreto e arame de aço, indicando uma temporalidade mais rápida, porém nesse pequeno espaço também podemos visualizar o emprego de bambu para segurar as parreiras, coexistindo assim uma tecnologia doméstica fruto do

83 83 conhecimento tradicional (ritmo lento), com uma forma de organização e materiais modernos (ritmo rápido). A maior parte da mão de obra é do casal (A.P. e V.P.). Apenas contratam trabalhadores temporários na época da colheita e poda da uva. A renda familiar é proveniente das atividades agrícolas desenvolvidas. Destacam o leite como produto mais rentável, além do salário do filho proveniente de trabalho externo à UPVF. Quanto ao aspecto ambiental a UPVF não possui SISLEG, a captação de água é de poço protegido e fonte, sendo que a água da fonte é para os animais e a do poço para consumo da família. A água diminui apenas em épocas de estiagem, não apresentando problemas com a qualidade. O esgoto doméstico é direcionado para uma fossa séptica. O lixo orgânico é utilizado como adubo e os dejetos dos animais também são utilizados como adubo que, junto com a adubação verde de avica, aveia e azevem, propiciam uma boa conservação e qualidade do solo na UPVF. Para a família, a concepção de agricultura orgânica está pautada em uma agricultura que evita a intoxicação das pessoas por agrotóxicos e proporciona produtos mais saudáveis, garantindo melhor qualidade na saúde. Mas apontam que o mais difícil é controlar o ataque de insetos aos orgânicos (usam repelente orgânico Dipel). Em relação à Agroecologia, compreendem-na como similar à agricultura orgânica. Após a inserção na agricultura orgânica reduziram a produção convencional de milho e ampliaram as pastagens para o gado leiteiro e a produção de uvas, propiciando aumento significativo na renda familiar e a redução de gastos com medicamentos, alimentos e insumos, melhorando consequentemente, a saúde da família. Pretendem expandir a produção orgânica e deixar de cultivar de forma convencional. Apontam como desvantagens a falta de certificação, de mão de obra e deficiências na assistência técnica do CAPA, EMATER e Prefeitura Municipal. Analisam que é essencial o apoio do governo municipal para melhorar a produção e a comercialização dos alimentos orgânicos. Possuíam assistência técnica do CAPA, mas atualmente trabalham com os conhecimentos próprios. Apontam como entidades parceiras o SINTRAF, COOPAFI, APROVIVE e STR, através das quais participaram de palestras sobre pastagens e produção orgânica de uva. Também apontam a CRESOL como parceira, pois através desta cooperativa acessaram o PRONAF investimento para a compra de ordenha mecânica e novilhas, construção de barracão, moedor de milho e mudas de parreira. As relações com as entidades, inclusive de

84 84 outro município, evidenciam territorialidades presentes através dos meios de comercialização e de busca de conhecimento sobre a produção agrícola. Nesta família, observamos a presença da intencionalidade ideológica e econômica básica com a produção orgânica, pois produzem orgânicos como alternativa de renda, mas também pensando na qualidade de vida da família e dos consumidores. Quanto às temporalidades, através das construções (uma casa com arquitetura bastante moderna, e uma bem simples) e das técnicas utilizadas na produção, podemos dizer que existe um ritmo mais acelerado, mas que coexistem com um ritmo lento, fruto da intencionalidade ideológica, pois através dos saberes tradicionais e maquinários antigos, cultivam a produção, frutas e verduras para o consumo da família, e uva e derivados para comercialização. Através da tipologia proposta, enquadramos esta família como de agricultores familiares, pois a UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é familiar, a maior parte da renda é proveniente de atividades agrícolas e a família reside na propriedade. Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos que a família possui uma intencionalidade econômica básica, mas prevalece uma intencionalidade ideológica. A produção é diversificada, mas não possuem certificação. Sendo assim, podemos classificar esse estabelecimento rural como uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação A.C.C. e família A família de A.C.C. reside no município e na UPVF, localizada na comunidade de Rio Gavião, há 26 anos. A família é composta por três pessoas, sendo o casal e um filho. A.C.C. têm 68 anos estudou até a 6ª serie do ensino fundamental, a esposa L.C. têm 62 anos, possui o 2º grau completo (Ensino Médio). O filho I.C. têm 28 anos e estudou até a 4ª série. A UPVF é parcialmente orgânica e os três componentes da família trabalham em atividades agrícolas. A gestão é familiar. O estabelecimento possui 22 hectares. Aproximadamente 7 hectares são cultivados com culturas temporárias (trigo, milho, soja e feijão); 2,5 ha são compostos por mata; 2,5 hectares por silvicultura (eucalipto); 1 hectare de parreiral, e o restante com hortaliças, frutas, pastagens permanentes e benfeitorias. Quanto às benfeitorias, possuem uma casa de alvenaria, uma garagem, dois paióis e um chiqueiro de madeira, além de um aviário de alvenaria. Em relação aos maquinários, possuem carroça e um forrageiro antigo, com 20 anos de uso. Utilizam ainda trator da associação de moradores da comunidade. Para auxiliar na

85 85 produção orgânica o agricultor usa pulverizador, carriola e máquina costal de 20 litros (utilizada para pulverizar caldas contra os insetos que atacam as parreiras). Estes implementos auxiliam no transporte de insumos e manutenção do parreiral. Optaram em trabalhar com agricultura orgânica há aproximadamente 9 anos, através da produção de uvas. Aprenderam a cultivar orgânicos com o CAPA, por meio de cursos, palestras e visitas em outras propriedades e em outros estados, como no Rio Grande do Sul. Começaram a produzir desta forma porque acreditam na importância da produção de alimentos mais saudáveis, pela questão ambiental e principalmente pelo trabalho ser seguro em relação à saúde. O objetivo da família é continuar a trabalhar com orgânicos, pois a UPVF já passou pelo processo de conversão na parte trabalhada sem agrotóxicos. Esses aspectos evidenciam uma intencionalidade ideológica. Na produção vegetal destacam a uva cultivada de forma orgânica. A quantidade da produção varia de acordo com os fatores climáticos, mas oscila entre a kg por safra. Comercializam a uva in natura com a APROVIVE e a APAV (ambas do município de Verê), em mercados locais e diretamente na propriedade. A produção de soja, milho, trigo e feijão são convencionais. O milho e o trigo são consumidos na propriedade, mas assim como os outros grãos também são comercializados em cerealistas da região. A produção de hortaliças e frutas é orgânica e consumida pela família. A uva é o único produto que tem certificação pela Rede Ecovida (certificação participativa). A produção animal é representada por suínos, bovinos e peixes para consumo. Retiram mel, também para consumo, mas o excedente é comercializado de forma direta. Possuem três vacas em lactação e aves de granja, produzidas em aviário integrado à empresa Agrogen. Essa integração com produtos para o mercado global evidencia uma temporalidade mais rápida. Os produtos transformados são o vinho (aproximadamente 900 litros por ano), 4 kg de queijo por dia e doce de uva. Eles são consumidos pela família e vendidos de forma direta, na própria UPVF ou de porta em porta. A família considera como entidades parceiras a Prefeitura Municipal e a CRESOL, através da qual realizam financiamentos via PRONAF. Vale ressaltar que para iniciar a produção orgânica a família acessou um financiamento especial denominado Paraná 12 meses. O CAPA oferece apoio técnico à produção orgânica. Através destas entidades a família participa de cursos e palestras, e em sua UPVF ocorreu um curso sobre a poda de parreiras. Estes aspectos demonstram as territorialidades da família com algumas entidades e com outros agricultores.

86 86 Na foto a seguir, podemos observar parte do parreiral, da plantação de eucaliptos e da barreira com cipreste, ficando evidente a organização desse espaço e o emprego de máquinas para cultivar o solo e as parreiras. Foto 02. Parreiral e plantação de eucaliptos de A.C.C. Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012. Entendem por agricultura orgânica, a não utilização de agrotóxicos e a mínima intervenção no solo. Quanto à Agroecologia, relacionam-na com árvores e matas, porém demonstram não saber diferenciar estas formas de cultivo. A família não contrata trabalhadores permanentes, apenas temporários uma vez por ano, para a colheita da uva. A renda é composta por duas aposentadorias e pela venda dos produtos agrícolas. Apontam que a renda melhorou após a conversão para a produção orgânica, pois não gastam mais que R$ 500,00 por safra para produzir as uvas e o gasto é apenas com mão de obra para colher. Também houve diminuição dos gastos com insumos em geral. A família vê vantagens com a produção orgânica, pois não utilizam agrotóxicos, produzem alimentos saudáveis sem risco à saúde e ainda melhoraram a renda familiar, confirmando intencionalidades ideológicas e econômicas básicas com a produção de orgânicos. Como dificuldades, apontam a falta de incentivos e cooperação por parte do poder público.

87 87 Quanto ao aspecto ambiental da UPFV, relatam que encaminharam o SISLEG, mas ainda não foi concluído o processo. A captação de água é feita em poço e fontes. O poço tubular é para o abastecimento da casa e a captação das águas das nascentes destina-se ao aviário. As fontes de água estão preservadas e protegidas com a mata ciliar recuperada, mas durante períodos de estiagem as águas diminuem. Tanto a água do poço como das fontes e nascentes possuem ótima qualidade, segundo a família. O esgoto doméstico é direcionado para fossa séptica, com exceção da água do tanque (utilizada para lavar roupas) que é destinada a uma fossa com pedras. O lixo orgânico, como restos vegetais e alimentos é utilizado para alimentação dos peixes. Já os dejetos suínos são direcionados para o açude e o esterco das vacas é curtido e utilizado na produção de hortaliças. O solo apresenta um pouco de erosão que se origina nas terras do vizinho, mas a adubação verde com aveia, nabo e ervilhaca, as curvas de nível e rotação de cultura suavizam este problema. Nesta UPFV, estão presentes as intencionalidades ideológicas e econômicas básicas em relação à produção orgânica. Quanto às temporalidades, através do maquinário e das técnicas utilizadas na produção e a integração de aves, podemos dizer que existe um ritmo mais acelerado. Aplicando a tipologia proposta, consideramos esta família como de agricultores familiares, pois a UPVF possui menos de 50 hectares, a gestão é familiar, a maior parte da renda é proveniente de atividades agrícolas e a família reside na propriedade. Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos que a família possui uma intencionalidade econômica básica, prevalecendo uma intencionalidade ideológica. A produção é diversificada e possuem certificação. Assim, podemos classificar esse estabelecimento rural como uma UPVF parcialmente orgânica com certificação M.M. e família A família de M.M. vive no município e na UPVF, localizada na comunidade de Barra Grande, há 43 anos. Residem na UPVF oito pessoas, sendo M.M., sua esposa e seus pais, mais um casal de funcionários que possui dois filhos. M.M. têm 57 anos e sua esposa I.M. têm 50 anos. Ambos concluíram o Ensino Médio. Seu pai têm 80 anos e sua mãe 79 anos. Possuem ainda um casal de filhos que não reside na propriedade, ambos possuem ensino superior. A forma de gestão é familiar com quatro trabalhadores da família mais dois trabalhadores permanentes. Além destes, também são contratados trabalhadores temporários para a colheita da uva.

88 88 A UPVF possui 35 hectares, divididos da seguinte forma: 15 hectares com culturas temporárias (soja, milho e feijão) e pastagem; 1,5 hectares de parreiral, 5 hectares de mata nativa; 2 hectares de plantação de eucaliptos; 5 hectares ocupados com três açudes, além de frutas e hortaliças. As benfeitorias presentes são duas casas de alvenaria, uma casa de madeira, um galpão para máquinas, um estábulo de madeira e um chiqueiro de alvenaria. Para produzir o agricultor têm alguns equipamentos como bombas pulverizadoras, máquina costal, carroça, trator, forrageiro (com motor elétrico) e batedor de cereais. A UPVF é parcialmente orgânica. A família começou a trabalhar com produtos orgânicos em Produziam uva para uma empresa de Santa Catarina, que prestava assistência técnica. Mais tarde esta empresa faliu. A partir desta experiência, a família aprendeu a cultivar orgânicos. Então, receberam orientação da prefeitura através da EMATER e em um segundo momento, assistência técnica do CAPA, além de cursos e palestras. Através da CRESOL acessam o PRONAF para financiamento das lavouras. Optaram pela produção orgânica por que entendem que o agrotóxico utilizado na lavoura é prejudicial à saúde. Assim, o objetivo desde o início foi reduzir o uso de agrotóxicos, o que evidencia uma intencionalidade ideológica com a produção orgânica. No entendimento da família, a agricultura orgânica é aquela que não utiliza adubos químicos e venenos. Em relação à produção vegetal, possuem grãos, uva, laranja, pêssego, hortaliças. Foto 03. Produção de hortaliças e ao fundo parreiral na propriedade de M.M Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

89 89 A foto revela que mesmo possuindo um parreiral bastante moderno, a família produz hortaliças para consumo, evidenciando a coexistência de técnicas modernas empregadas na produção orgânica de uva, e de conhecimentos tradicionais na produção de hortaliças, portanto de temporalidades rápidas e lentas. A produção animal é representada por aves caipiras, peixes e suínos. Beneficiam doces de uva e laranja. São produzidos entre a litros de suco por ano. A produção convencional é de suínos, peixes e grãos. O restante é orgânico. Comercializam os grãos com cerealistas da região. Os suínos são comercializados com um frigorífico em Francisco Beltrão, e também consomem na família. Com os peixes, fazem filé (tilápia) e comercializam em casa e restaurantes. As hortaliças são para consumo. Laranjas, aves caipiras, doces de uva e laranja são comercializados na COOPAFI. O suco de uva é comercializado para merenda escolar através dos programas PAA e PNAE. Produzem as mudas de hortaliças na UPVF e fazem compostagem com adubo de aviário, cinzas e palhas. Os insumos externos são: sementes de milho e soja, parte das mudas de hortaliças cultivadas e adubo de aviário para a compostagem. Como a UPVF é parcialmente orgânica, o agricultor diz que aumentaria a produção e ampliaria a área de plantio orgânico se houvesse diferença no pagamento da produção. Após a conversão de parte da UPVF para a agricultura orgânica, a família vendeu uma parte da terra e também não ampliou a produção. A produção não é certificada, pois o agricultor perdeu a certificação há três anos, por utilizar insumos proibidos. A renda familiar também não foi alterada, pois há grande utilização de mão de obra. Apenas diminuíram os gastos com insumos. Desta forma, a fonte de renda provém da agricultura e atividades paraagrícolas. A maior parte vem de duas aposentadorias dos pais de M.M. No aspecto ambiental a UPVF possui nascente própria protegida, desde a década de 1980 e dizem que não têm problemas com a qualidade e falta de água. O esgoto doméstico é destinado para uma fossa negra, com exceção da água do tanque que vai diretamente para o solo. O lixo orgânico vai para a compostagem e depois é utilizado como adubo. O solo está bem conservado. A família admite que existem muitas vantagens com a produção orgânica começando com a qualidade dos produtos mais saudáveis, produção barata devido ao fato de não usar agrotóxicos, valorização do trabalho na agricultura e prazer em oferecer produtos de qualidade para o consumidor. Quanto às dificuldades a família citou a proibição, pela Secretaria de Saúde, do uso de venenos para o combate das formigas, sendo utilizada para o controle a calda sulfocáustica, que quando chove não funciona. Na produção de uvas relatam

90 90 que a dificuldade está em não ter como estocar, devido ao ciclo de produção que é rápido e a produção é grande. Também apontam que deveria ter uma política de preços mínimos, uma vez que falta valorização dos produtos orgânicos pelos representantes políticos. O acesso ao crédito deveria ser subsidiado e os agricultores orgânicos precisam se unir. Para melhorar a comercialização dos produtos orgânicos, apontam que precisaria de maior diversificação na produção e divulgação, e para o fortalecimento da organização dos produtores teria que ter uma assistência técnica contínua. Para melhorar a produção, o agricultor gostaria de ter um tratorzinho com roçadeira para fazer a limpeza dos pomares, e uma fábrica de sucos e doces na UPVF para evitar o transporte e agregar valor à produção. Nesta família, observamos a intencionalidade ideológica, e também a econômica básica, pois apesar da preocupação com a saúde, dizem que produziriam mais se houvesse melhor preço dos produtos orgânicos. Quanto às temporalidades, o conhecimento tradicional e as técnicas domésticas utilizadas na produção de hortaliças evidenciam um ritmo mais lento, porém também produzem com maquinários modernos as demais produções. Portanto, não podemos dizer que não existe um ritmo acelerado presente, até mesmo pelas territorialidades presentes, pois estão inseridos em relações de mercado para a comercialização da produção orgânica. Esta família é de agricultores familiares, pois a UPVF possui menos de 50 hectares, com gestão familiar, onde maior parte da renda é proveniente de atividades agrícolas e paraagrícolas e a maior parte da família reside na propriedade. Como a UPVF, possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, mesmo não possuindo certificação, a família possui intencionalidade ideológica e econômica básica e a produção é diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação N.A. e família A família, composta por um casal e um filho, reside no município e na UPVF, localizada na comunidade de Volta Grande há 35 anos. N.A. têm 61 anos, a esposa O.A. têm 57, ambos e ambos estudaram até a 4ª série. O filho L.A. têm 33 anos e possui o ensino médio incompleto. Os três trabalham na UPVF, apenas contratam trabalhadores temporários em época de colheita de uva. A gestão é familiar e a UPVF é parcialmente orgânica. O estabelecimento possui 14 hectares divididos em: 4 hectares com culturas temporárias (milho e soja); 1 hectare de parreiral; 1 hectare de mata nativa; 2,4 hectares de pastagens permanentes, e um açude. Quanto às benfeitorias, possuem estrebaria e chiqueiro

91 91 em madeira e casa mista. Para auxiliar na produção, possuem trator, pulverizador (foto 04) e forrageiro elétrico (da década de 1980). Esta imagem demonstra a utilização de tecnologias relativamente modernas adaptadas à pequena produção. Isso indica a presença de temporalidades mais rápidas. Foto 04. Pulverizador manual da UPVF de N.A. Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012. A família começou a trabalhar com a agricultura orgânica/agroecologia no ano de 2002, optando por esse sistema através das experiências que tiveram vendendo produtos na APROVIVE e também em uma excursão que fizeram ao Rio Grande do Sul (Bento Gonçalves). Aprenderam através do CAPA e com o técnico dessa instituição. Optaram pela agricultura orgânica para não plantar mais fumo. Na produção vegetal destaca-se o milho (700 sacas na safra 2010/2011), soja (300 sacas na safra 2010/2011) comercializados com cerealistas da região, uva (1.500 kg comercializada in natura com a APROVIVE), além de hortaliças e frutas para consumo. Na produção animal, possuem suínos, bovinos, peixes, aves caipiras e de granja, voltados para o consumo familiar. Os ovos são para consumo e comercializam o excedente com os vizinhos. Também produzem leite (aproximadamente litros mensais), comercializados com o laticínio Bom Sucesso, a R$ 0.69 por litro. Quanto aos produtos transformados, possuem açúcar mascavo, queijo, embutidos e vinho para consumo.

92 92 Para produzir de forma orgânica o agricultor adquire alguns insumos como ingredientes para caldas com o CAPA e mudas de uvas de viveiros de Verê. A fonte de renda é proveniente da comercialização dos produtos agrícolas e duas aposentadorias (como agricultores). Na visão da família a agricultura orgânica é aquela que produz sem veneno. Os objetivos com a produção orgânica é a saúde, e pretendem continuar produzindo. Não abandonaram ou ampliaram atividades agrícolas depois da conversão de parte da propriedade para a agricultura orgânica. Ampliaram o parreiral e a renda melhorou bastante. Estes aspectos demonstram uma intencionalidade econômica básica e ideológica. As vantagens da agricultura orgânica para a família seria a renda proveniente da venda da uva, devido a existência de uma unidade beneficiadora que compra a fruta e a transforma em sucos e doces com a certificação orgânica (APROVIVE). Também consideram fácil comercializar a uva e o custo de produção é baixo. Na produção de uva, apresentam como dificuldade a demanda por mão de obra na época da colheita, além de fatores climáticos, como excesso de chuva quando as frutas estão maduras, prejudicando a qualidade do produto. Para aumentar a produção e a comercialização da agricultura orgânica o agricultor sugere que deveria ter maior apoio político. A família considera como entidades parceiras a CRESOL, STR, APROVIVE, CAPA e EMATER, mesmo participando pouco de encontros ou reuniões feitas por estas entidades. Para melhorar a produção a família acessa o crédito bancário (PRONAF) para financiar a produção de leite com a compra de mais vacas. Também fizeram financiamento para construção do parreiral. Em relação as aspecto ambiental a UPVF possui fonte e poço de nascentes de água próprias para o consumo, porém quando ocorrem estiagens a água diminui consideravelmente. O esgoto doméstico é destinado à fossa séptica. O lixo orgânico é utilizado direto como adubo e os dejetos dos animais são aplicados diretamente no pasto. A situação do solo é boa, devido à adoção da adubação verde, plantio direto e curvas de nível. Podemos afirmar que a família possui uma intencionalidade ideológica, mesclada com uma intencionalidade econômica básica, pois para eles a produção orgânica vem em primeiro lugar para benefício da saúde, e a comercialização da uva constitui uma fonte de renda importante. Quanto às territorialidades, estas estão presentes nas relações com as entidades parceiras, na assistência técnica, comercialização e financiamento da produção. Esta família, de acordo com a tipologia proposta nesta pesquisa, é de agricultores familiares, pois a UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é realizada pelo casal, que

93 93 reside no estabelecimento, e a renda é proveniente de atividades agrícolas. Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, tem certificação participativa (da uva), a família possui intencionalidade ideológica e econômica básica e diversificada produção, apontamos como uma UPVF parcialmente orgânica com certificação N.S. e família N.S. reside no município, desde que nasceu. Na UPVF, localizada na Linha Ipiranga, reside com a família há 22 anos. A família é composta por quatro pessoas, N.S. que têm 54 anos estudou até a 3ª série, sua esposa I.S têm 40 anos, estudou até a 4ª série. Seu filho D.S. têm 16 anos e estuda na casa familiar rural. O outro filho do casal S.S., têm 21 anos e estudou até o 2º ano do Ensino Médio. A gestão da propriedade é familiar e nela trabalham os quatro membros da família. A UPVF possui 13,3 hectares e está dividida da seguinte maneira: 4,8 hectares com culturas temporárias (milho), do qual é feito silagem para alimentar os animais, áreas com frutas e hortaliças, piquetes com pastagens, matas e capoeiras em volta de um córrego; 1 hectare com parreiral, com pés de uva concórdia e 400 pés de uva bordeux. Produzem em torno de kg por safra, sendo que 700 kg são usados para fazer vinho. O restante é comercializado com a APROVIVE. Produzem mel e aves caipiras para consumo, e em média litros de leite por mês, que são comercializados a R$ 0,67 o litro com o laticínio Bom Sucesso. Quanto aos produtos transformados, fazem queijo, doces e conservas. Destes, comercializam doces de uva e conservas de pepinos. Em relação aos maquinários, possuem carroça e trilhadeira (sem uso), forrageiro, trator, plantadeira, roçadeira, máquina pulverizadora costal e bomba, enciladeira, ordenhadeira e resfriador. Na foto 05 podemos observar parte da produção de hortaliças e o local de ordenha das vacas. Esta imagem evidencia temporalidades lentas explícitas, através da pequena produção de hortaliças cultivadas para consumo e uma construção bastante simples, em madeira. Porém, nesta construção, utilizada como estrebaria, está presente uma ordenha mecânica moderna. Na UPVF, fica clara a coexistência de temporalidades lentas e rápidas, através das construções e maquinários existentes. A família começou a trabalhar com agricultura orgânica em 2004 através do CAPA, Prefeitura Municipal e a Empresa Sudoeste. Aprenderam com o CAPA a cultivar de forma orgânica, frequentando palestras, encontros e acompanhamentos feitos por esta entidade

94 94 durante três/quatro anos. Optaram por esta forma de cultivo pela saúde que os alimentos orgânicos propiciam e pela diminuição dos gastos com agrotóxicos. Também foi uma forma de incentivo, a garantia da compra da produção de uva pela APROVIVE. Foto 05. Horta e estrebaria da família de N.S. Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012. Sobre a agricultura orgânica relatam que as práticas adotadas são boas, mas é difícil cultivar, principalmente porque no caso desta UPVF, todos os vizinhos utilizam agrotóxicos. Pretendem produzir de forma orgânica até quando for viável, pois o agricultor observa que a produção orgânica está diminuindo. As pessoas estão desanimando e existem poucas chances desta forma de produzir continuar. Esta afirmação evidencia a intencionalidade econômica com forte presença. No processo de conversão, o agricultor abandonou o plantio de fumo, pois tinha pouco lucro e usava muito veneno. Contudo, não ampliou nenhuma atividade após a inserção na agricultura orgânica. O agricultor aponta algumas desvantagens em relação à produção orgânica, como aumento de trabalho e os preços praticados no mercado, que são baixos por não possuírem certificação. O agricultor salienta que para melhorar a produção e a comercialização dos produtos agroecológicos, primeiramente o clima deve correr bem. É necessário fazer um trabalho de conscientização com o consumidor e o produto orgânico deve ter um preço diferenciado.

95 95 A família considera como entidades parceiras o CAPA, COOPAFI, SINTRAF, CRESOL e CLAF, nas quais participa de palestras e reuniões. Estas relações demonstram as territorialidades diversificadas e a participação em redes de agricultores e técnicos. Em relação ao aspecto ambiental, o esgoto doméstico é direcionado para uma fossa séptica. O lixo orgânico é utilizado como adubo, os dejetos dos animais são depositados em uma esterqueira desprotegida e a adoção de curvas de nível e cobertura verde propicia uma boa conservação de solos. Essa família, mesmo sendo consciente dos benefícios que a produção orgânica trás para saúde, demonstra uma intencionalidade econômica com a produção orgânica, pois pensam até mesmo em parar de produzir se não tiverem retorno financeiro satisfatório com a produção orgânica. Coexistem temporalidades lentas e rápidas na UPVF. De acordo com a tipologia proposta, esta família é de agricultores familiares, pois a UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é feita pela família, a maior parte da renda é proveniente de atividades agrícolas e toda família reside na propriedade. Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, não possui certificação, prevalece a intencionalidade econômica e a produção é diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação O.F. e família A família reside no município há 53 anos e na UPVF, O.F. reside há 50 anos. A família é composta pelo casal, três filhos e uma filha, mas atualmente estão na propriedade o casal e dois filhos. Apenas O.F. trabalha na UPVF e o restante de sua família não quer mais residir no meio rural. O agricultor têm 60 anos e estudou até a 4ª serie, sua esposa I.F. têm 63 anos e possui o ensino fundamental completo. Quanto aos filhos, F.F. têm 33 anos, A.F. 29 anos e J.F. 19 anos. Os três possuem a formação de técnico agrícola. A filha F.F., têm 18 anos e possui ensino médio completo. A UPVF possui 8,5 hectares, divididos da seguinte forma: 4,8 hectares arrendados para o plantio de culturas temporárias (trigo e soja); área destinada a frutas e verduras, matas e capoeira e dois açudes. Em relação às benfeitorias, possui casa e chiqueiro mistos, e paiol de madeira. Quanto aos maquinários, possui carroça, forrageiro, motor elétrico e alguns implementos de tração animal (foto 06).

96 96 Esta foto representa uma temporalidade lenta presente, pois atualmente não é comum vermos no meio rural a utilização de equipamentos com tração animal, sendo estes, quando existentes, utilizados em pequenas produções. Foto 06. Carroça com tração animal na UPVF de O.F. Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012. A família começou a trabalhar com agricultura orgânica há oito anos e optou por esta forma de cultivo por ser mais saudável ( evitar o câncer ), e por ser uma produção mais barata. Aprendeu a cultivar orgânicos com agricultores de São Jorge d Oeste e com o auxilio do técnico do CAPA, de Verê. Em relação à produção vegetal, há presença de grãos (soja e trigo), olerícolas como alface e chuchu; mandioca (1.500 pés), batata e frutas, principalmente abacate e ponkan. Com exceção dos grãos, os demais produtos são comercializados na COOPAFI e diretamente nas casas dos consumidores. Na produção animal possui peixes e suínos para consumo e venda esporádica. As formas de comercialização evidenciam as territorialidades, através das relações estabelecidas como mercado e de forma direta com os consumidores. A fonte de renda da família é proveniente das aposentadorias como agricultores do casal, comercialização da produção vegetal e animal e trabalho urbano dos filhos, evidenciando a intencionalidade econômica básica com a produção orgânica. A forma de gestão é familiar. Não contratam trabalhadores. O.F. não possui uma concepção formada do que é agricultura orgânica ou agroecologia. Quando optou pela produção orgânica o agricultor abandonou a produção

97 97 convencional de tomates. As vantagens com a produção orgânica estão relacionadas com a saúde da família, demonstrando intencionalidade ideológica. Quanto às dificuldades na produção, aponta a falta de mão de obra e a utilização de agrotóxicos pelos vizinhos convencionais. Para melhorar a produção e a comercialização o agricultor sugere melhorias como o aumento nos preços dos produtos orgânicos. O agricultor alega que se aumentassem os preços teria maior produção e maior diversificação. Para ele há necessidade de uma associação para conseguir investimentos. Sugeriu também que a COOPAFI deveria mudar a forma de comercialização, contratar mais um funcionário e abrir aos sábados à tarde. Quanto as aspecto ambiental da UPVF, a captação da água feita em fonte protegida, a qual não apresenta problemas com a quantidade. O lixo orgânico é utilizado para alimentar os peixes. Os dejetos dos animais são utilizados como adubo, e para conservação do solo é realizado plantio direto. Nesta UPVF estão presentes a intencionalidade econômica básica e ideológica com a produção orgânica, pois são conscientes dos benefícios que este tipo de produção trás para saúde. Mesmo sendo aposentados e tendo outras fontes de renda, a comercialização de produtos orgânicos complementa a renda familiar. Estão inseridos em ritmos mais lentos com relação à produção. Esta família é de agricultores familiares, pois a UPVF com menos de 50 hectares, a gestão é familiar, e mesmo com os trabalhos externos a maior parte da renda é proveniente de atividades agrícolas e arrendamento de parte da terra e, parte da família reside na propriedade. Como a UPVF, possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, não possui certificação, prevalece a intencionalidade econômica básica e a produção é diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação F.C.S. e família A família de F.C.S. reside no município e na UPVF, localizada na comunidade de Coxilha Rica há 63 anos. Na UPVF, residem 15 pessoas, distribuídas em quatro casas. São quatro mulheres, seis homens e cinco crianças. Trabalham na UPVF, quatro pessoas, o proprietário F.C.S. sua esposa um filho e uma nora. Em relação aos trabalhadores, F.C.S. têm 63 anos, sua esposa O.S. têm 64 anos e ambos estudaram até a 4ª série. O filho C.S. têm 35 anos, estudou até a 8ª serie, a nora têm 29 anos e possui ensino médio completo. A gestão da propriedade é familiar. Contratam mão de obra quando necessário, mas sem regularidade.

98 98 A UPVF possui uma área total de 30,7 hectares, sendo parcialmente orgânica. Deste total, 17 hectares são arrendados e cultivados de forma convencional; 1 hectare é de estufas com produção de hortaliças; 7,5 hectares de mata nativa; 4 hectares de pastagens permanentes e também possui áreas com frutíferas. Em relação às benfeitorias, há cinco casas mistas, um paiol, um estábulo, um chiqueiro e um galpão para máquinas de madeira, além de oito estufas (foto 07). O maquinário utilizado é forrageiro, trator, pulverizador, tobata nova (de uso coletivo). Possuem ainda carroça e trilhadeira, mas não utilizam mais. Os maquinários demonstram à presença de temporalidades rápidas, com equipamentos e tecnologias adaptadas a produção orgânica, mas também a coexistência de temporalidades lentas, com maquinários bastante antigos (mesmo não utilizados). Foto 07. Estufa de hortaliças na UPVF de F.C.S. Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012. A foto mostra parte das estufas da propriedade, onde podemos observar o planejamento da produção, pois possui hortaliças em variados estágios de crescimento. Também ficam evidentes práticas utilizadas na agricultura orgânica, como a cobertura do solo nos canteiros (protegendo o solo, e mantendo as hortaliças limpas) e a presença de plantas espontâneas. O planejamento da produção demonstra uma temporalidade mais rápida, assim como a utilização de estufas para produção, pois desta forma a família garante o fornecimento constante da produção para os locais onde comercializa. A família começou a trabalhar com a agricultura orgânica em 2005, quando um dos filhos de F.C.S deixou de trabalhar em um frigorifico do município e voltou a trabalhar na

99 99 propriedade, com a intenção de desenvolver a agricultura orgânica e deixar de utilizar o agrotóxico. Aprenderam a cultivar de forma orgânica com a ajuda técnica do CAPA que foi importante para conhecer a agricultura orgânica e depois, através dos cursos e das palestras, a família continuou aprimorando os conhecimentos. Optou por este tipo de produção, principalmente pela questão da saúde da família. Em relação à produção vegetal, são produzidos milho, trigo e soja de forma convencional. O restante da produção vegetal é orgânica, com os cultivos de feijão e mandioca, comercializados diretamente nas casas; alface, chicória, cenoura, rabanete, beterraba, repolho, couve-flor, brócolis, laranja, limão, bergamota. As frutas são comercializadas nas casas na cidade aos sábados pela manhã. As hortaliças, além desta forma de comercialização, são entregues em supermercados três vezes por semana, e também com a COOPAFI, para a merenda escolar, através dos programas PAA e PNAE. Possuem suínos, bovinos e aves caipiras para consumo. Os ovos são comercializados de forma direta e o mel para o PAA. Parte de tudo o que produzem é consumido pela família. A produção orgânica é toda certificada pela Rede Ecovida. Para menor dependência de insumos externos, são produzidas mudas de hortaliças, adubo e húmus, calda bordalesa e calda sulfocáustica. Os insumos adquiridos fora da UPVF são mudas, adubos orgânicos, óleo de nim e supermagro. A fonte de renda da UPVF provém da produção agrícola e de três aposentadorias - duas como agricultores familiares e uma por deficiência (irmão de F.C.S) - e do trabalho urbano de quatro pessoas na construção civil. Em relação ao aspecto ambiental, a UPVF possui SISLEG, a captação de água é feita em uma fonte protegida e outra não. A fonte que não é protegida, apenas tem a vegetação nativa em volta, não apresentando falta em épocas de estiagem, apenas gosto ruim quando a quantidade diminui. As águas utilizadas no chuveiro e vaso sanitário são direcionadas a uma fossa enquanto a água utilizada na lavagem da roupa e cozinha é direcionada para o solo. O lixo orgânico vai para compostagem e posteriormente é utilizado como adubo. As práticas de conservação de solo são a adubação orgânica (compostagem), cobertura com nabo e aveia, curvas de nível e plantio direto. Para a família, a agricultura orgânica representa mais qualidade de vida e vida mais longa. Esta afirmação confirma a presença da intencionalidade ideológica. As perspectivas em relação à produção orgânica são de melhoramento da produção. Precisaria de um acompanhamento e assistência técnica maior, sobretudo da EMATER. Segundo F.C.S. as universidades teriam que promover a divulgação da agricultura orgânica e ajudar fornecendo

100 100 assistência técnica para o conhecimento das doenças das plantas. O CAPA atualmente é quem fornece assistência semanalmente. Para aumentar à produção orgânica a família arrendou partes da UPVF para o cultivo convencional. Assim, sobrou tempo para dedicar-se à horticultura orgânica, evidenciando uma intencionalidade econômica com a produção orgânica. Após a conversão para agricultura orgânica houve a redução dos custos com a produção e melhorou a alimentação da família. Também diminuiu a necessidade da compra de alimentos em supermercados. A produção do próprio alimento é a principal vantagem apontada pelo entrevistado. As dificuldades estão relacionadas à produção de mudas no inverno e a falta de financiamentos específicos ainda constitui um desafio para os agricultores orgânicos e agroecológicos. Para melhorar a produção e a comercialização o agricultor sugere que deveria ter uma produção maior de produtos e conscientização dos consumidores, conseguindo assim uma maior valorização dos produtos orgânicos. Além disso, abrir as UPVF para visitas dos consumidores seria uma oportunidade importante para o conhecimento da produção livre de insumos químicos. Há necessidade de fortalecimento da organização dos produtores segundo F.C.S. Seria vantajoso unir forças para receber maiores financiamentos, através de uma linha de crédito específico e uma certificação com fiscalização mais eficiente, evitando assim a contaminação dos produtos pelos agricultores que não tem as condições necessárias de produção. A família considera como entidades parceiras a CRESOL, Prefeitura Municipal, Associação São José (comunidade), STR e SINTRAF. Participam de palestras e encontros da Rede Ecovidae CRESOL. Acessaram o PRONAF para o investimento em estufas, na compra de plásticos e outros materiais necessários para manter a produção de mudas. Estas relações com as entidades, através da comercialização, financiamentos e participação em palestras e cursos confirmam as territorialidades presentes. A análise tipológica desta UPVF evidencia que ela pode ser classificada como de agricultores familiares, tradicional, parcialmente orgânica com certificação, intencionalidade econômica básica e ideológica, com produção diversificada e certificação participativa. Nesta UPVF, há presença de intencionalidade econômica básica e ideológica em relação à produção orgânica. Coexistem temporalidades lentas e rápidas. As territorialidades são evidenciadas através das relações com as entidades e comercialização dos produtos orgânicos. De acordo com a tipologia proposta, esta família é de agricultores familiares. Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, possui

101 101 certificação participativa, e a produção é diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica com certificação Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no município de Itapejara d Oeste/PR O mapa 02 destaca os produtores trabalhados nesta pesquisa e os principais produtos cultivados em cada UPVF, a fim de espacializarmos as informações sobre a Agroecologia e a agricultura orgânica do município Itapejara d Oeste. Mapa 02 Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Itapejara d Oeste /PR. Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G

102 102 Conforme podemos observar no mapa, os agricultores estão bem distribuídos no município. Apenas dois localizam-se na mesma comunidade e a produção orgânica é representada principalmente pela uva. Aplicamos a tipologia proposta no capítulo II, com cada um dos agricultores pesquisados no município de Itapejara d Oeste, com o intuito de classificarmos como familiares ou não, orgânicos ou agroecológicos, a partir de dados quantitativos e qualitativos e características específicas levantadas através do diagnóstico e das visitas realizadas em cada UPVF. O quadro a seguir apresenta as variáveis, já aplicadas aos agricultores, que propomos para dizer se são ou não familiares. Quadro 01 - Classificação de agricultores familiares de Itapejara d Oeste/ PR. Agricultor UPVF até Gestão Mão de obra Renda Residência 50 hectares familiar familiar A.P. X X X X X A.C.C. X X X X X F.C.S. X X X X X M.M. X X X X X N.A. X X X X X N.S. X X X X X O.F. X X X X X Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013). Esta síntese aponta que os sete agricultores pesquisados são familiares, pois nenhuma UPFV é maior que 50 hectares, a gestão dos estabelecimentos é realizada familiar, assim como a maior parte da mão de obra empregada. A fonte de renda é proveniente da agricultura, de atividades relacionadas e aposentadorias como agricultores. Em todos os casos, parte da família, pelo menos dois membros residem na UPFV. A partir desta análise temos elementos para classificá-los como orgânicos ou agroecológicos, como veremos no quadro 02. Analisando o quadro, percebemos que todas as UPVFs do município de Itapejara d Oeste são parcialmente orgânicas. Quatro delas possuem certificação e três não são certificadas, por isso nem uma propriedade é considerada agroecológica. O fato de serem parcialmente orgânicas está relacionado com a maioria das UPFVs ter como principal produto orgânico a uva.

103 103 Quadro 02 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara d Oeste/PR. P Agricultor Emp Fam Trad Mod Total Parc Trans IEB IEC Ideo Esp div Div Cert. Part. Cert. Aud. Sem Cert. Classific. A.P. X X X X X X X A.C.C. X X X X X X X F.C.S. X X X X X X X M.M. X X X X X X X N.A. X X X X X X N.S. X X X X X X X UPVF Parcialmente Orgânica sem certificação UPVF Parcialmente Orgânica com certificação UPVF Parcialmente Orgânica com certificação UPVF Parcialmente Orgânica sem certificação UPVF Parcialmente Orgânica com certificação UPVF

104 104 Parcialmente Orgânica sem certificação O.F. X X X X X X X UPVF Parcialmente Orgânica sem certificação Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013).

105 105 São diversos os sujeitos envolvidos com a produção de alimentos orgânicos em Itapejara d Oeste, produção esta que envolve as dimensões econômica, ambiental, social, política e ética. Ao ter como foco neste trabalho as territorialidades, temporalidades e intencionalidades, considerando a atuação de agricultores, técnicos gestores (Secretario municipal de agricultura e meio ambiente) e entidades (ATER, SINTRAF, CRESOL, CLAF, COOPAFI), observamos que são diversas as relações que estabelecem, evidenciando que são múltiplas as territorialidades envolvidas na produção orgânica. A ATER e o SINTRAF, são as entidades que mais se mostram preocupadas com o bem estar dos agricultores e dos consumidores, e buscam promover a agricultura orgânica. Contudo, como a ATER é uma empresa privada, fica nítida que sua intencionalidade é muito mais econômica capitalista do que ideológica. Já o SINTRAF possui uma intencionalidade mais ideológica do que econômica. As temporalidades presentes também demonstram a complexidade da agricultura orgânica, uma vez que coexistem no município de forma geral, e em cada UPVF, distintas temporalidades, ritmos e modos de fazer agricultura orgânica, evidenciando o tempo das coexistências, da simultaneidade.

106 106 CAPÍTULO IV. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE SALTO DO LONTRA - PR 4.1. Caracterização geral do município O município de Salto do Lontra localiza-se na região Sudoeste do Paraná e foi criado no ano de 1964, a partir de seu desmembramento do município de Francisco Beltrão (Prefeitura Municipal de Salto do Lontra, 2012). O mapa 03 apresenta a localização de Salto do Lontra no contexto da região Sudoeste e do estado do Paraná. Mapa 03 - Localização do município de Salto do Lontra, Paraná, Brasil. Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G

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