Ensaio de Geodireito A regularização fundiária e o georreferenciamento
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- Júlio César Fontes Quintão
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1 Ensaio de Geodireito A regularização fundiária e o georreferenciamento Cuiabá, 22 de setembro de 2011 Luiz Antonio Ugeda Sanches Presidente Doutorando em Geografia (UnB) Mestre em Direito e em Geografia (PUC/SP) Bacharel em Direito (PUC/SP) las@geodireito.com
2 Instituto Geodireito IGD Missão Geodireito: Geociências e Direito O Instituto Geodireito - IGD atua com base nas competências da União para organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional (art. 21, XV, CF), sendo privativo legislar sobre sistema estatístico, cartográfico e geológico (art. 22, XVIII, CF) e sendo facultado articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico para reduzir desigualdades regionais (art. 43, CF).
3 Brasil ( ) Como os estrangeiros enxergam? Maior país latino do mundo; Maior país tropical do mundo; 5a maior população; 5a maior economia; 1a potência alimentar do mundo; 1a potência energética do mundo; 1a potência ambiental do mundo; Grandes eventos esportivos; Integrante dos BRICs (Brasil- Russia India China). A missão do Brasil (no século XXI) é mostrar ao mundo como preservar recursos naturais em um período pós-petróleo, preservando a flora, a oferta de água e sem explodir o custo dos alimentos. Bill Clinton, ex-presidente EUA
4 Geodireito: hipóteses de estudo Geodireito: Geociências enquanto fonte material (localidade, região, escala, território) e conteúdo formal do Direito: União deve organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional (art. 21, XV, CF), É privativo da União legislar sobre sistema estatístico, cartográfico e geológico (art. 22, XVIII, CF) É facultado a União articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico para reduzir desigualdades regionais (art. 43, CF) Cabe ao Brasil combater as desigualdades regionais (art. 3, I, CF) DESDE QUANDO É POSSÍVEL PENSAR EM GEODIREITO NO BRASIL?
5 Geociências no Império brasileiro ( ) 1829: Cria na Corte comissão de estatística geográfica natural, política e civil; 1830: Autoriza o governo a arrendar mapas, aumentar e aperfeiçoar a oficina litográfica estatal; 1838: Cria o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro IHGB. 1842: Cria a Seção de Mineralogia, Geologia e Ciências Exatas no então Museu Imperial. 1876: Orville Derby (geólogo) foi contratado para a seção de Mineralogia do Museu Nacional. 1879: Aprova os estatutos da seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil. Permite a entrada na comunidade geográfica internacional
6 Geociências na República Velha ( ) Exemplo de Geodireito (where tags): CF 1891, art 3º Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecerse a futura Capital federal. Parágrafo único - Efetuada a mudança da Capital, o atual Distrito Federal passará a constituir um Estado. Método Geojurídico (Geociências como conteúdo material do Direito): Por que? Interesse público. Aonde (where tags)?: Geodireito (Planalto Central) O que as Geociências chamam de Planalto Central? QUEM DEFINE O QUE É PLANALTO CENTRAL É A GEOGRAFIA, POR MEIO DO SISTEMA CARTOGRAFIA NORMA
7 Governo Getúlio Vargas ( ) 1932: Regula o Serviço Geográfico e o delega ao Exército; 1933: Cria o Instituto Geológico e Mineralógico do Brasil; o Instituto Biológico Federal; o Instituto de Meteorologia, Hidrometria e Ecologia Agrícola; e o Instituto de Química; 1934: Cria o Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM; o Instituto Nacional de Estatística INE e delega o serviço censitário, o demográfico e o econômico ao Ministério da Justiça; 1937: Institui o Conselho Brasileiro de Geografia incorporado ao Instituto Nacional de Estatística e autoriza a sua adesão a União Geográfica Internacional; e 1938: Cria o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE
8 Período dos Códigos CF1946: institucionaliza o conceito de região no Brasil aplicado no Poder Judiciário, concomitante ao início do processo de descentralização de poderes, típico de países federados.
9 Regime Militar ( ) Preocupações com o desenvolvimento nacional; Congresso Nacional passa a dispor sobre planos e programas nacionais e regionais; Transforma o IBGE em fundação; Cria o Plano Nacional de Estatística; Cria o Plano Nacional de Geografia e Cartografia Terrestre; Cria o Sistema Cartográfico Nacional SCN para fixar as diretrizes cartográficas e criar sistema único Cria a Comissão de Cartografia (COCAR), órgão do IBGE, incumbido de coordenar a execução da Política Cartográfica Nacional
10 Redemocratização (desde 1988) Sistema Cartografia - Norma CF 88: Dispõe sobre desigualdade regional Art. 21, XV: Compete à União organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional. Art. 22, XVIII: Compete privativamente à União legislar sobre sistema estatístico, cartográfico e geológico. Fundamento do Geodireito (art. 43): União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico para reduzir desigualdades regionais Divisão e sobreposição de competências em um mesmo espaço (território): União, 26 Estados (+ DF) e municípios.
11 Redemocratização (desde 1988) Sistema Cartografia - Norma Revolução tecnológica (internet + satélites) EUA (Google), China (Tianditu), Europa (Egnos) Cartografia: mapas viram projetos computacionais Sensoriamento Remoto: processamento da imagem Ciência da computação: gerenciamento de banco de dados; e Geografia: produção de análise espacial. Direito: 2000: Cria a Comissão Nacional de Cartografia Concar (civil); 2001: Lei torna obrigatório o georreferenciamento para desmembramento, parcelamento ou remembramento de imóveis rurais; 2003: Lei delega ao Ministério da Integração Nacional a política de desenvolvimento regional; 2005: Lei do sigilo das informações públicas (11.111) 2007: Política Nacional de Desenvolvimento Regional PNDR; 2008: Cria a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais INDE (Dec 6.666); e Não aprovada: Política Nacional de Ordenamento Territorial PNOT
12 Sistema Cartografia Norma Como funciona? Imagem aérea Faixa Perfilada Fonte: Engefoto, maio 2011
13 Sistema Cartografia Norma Como funciona? Imagem terrestre Fonte: Engefoto, maio 2011
14 Sistema Cartografia Norma Como funciona? Imagem urbana Fonte: Engefoto, maio 2011
15 Sistema Cartografia Norma Como funciona? Imagem rural Fonte: Engefoto, maio 2011 Fonte: Engefoto, maio 2011
16 Sistema Cartografia Norma Como funciona? Imagem infraestrutura Fonte: Engefoto, maio 2011
17 Redemocratização (desde 1988) Sistema Cartografia - Norma CONCLUSÃO: Se a missão do Brasil é mostrar ao mundo como preservar recursos naturais em um período pós-petróleo, preservando a flora, a oferta de água e sem explodir o custo dos alimentos, não se concebe, no século XXI, desenvolvimento agrícola, geológico, ecológico, em infraestrutura, urbano ou regional sem as técnicas do SIG. Questão rural: Cartografia (IBGE) + INCRA + IBAMA Como estes órgãos criam normas?
18 INCRA e a regularização fundiária Sistema Cartografia - Norma Lei /01: Torna obrigatório o GEORREFERENCIAMENTO para desmembramento, parcelamento ou remembramento de imóveis rurais. Lei n , de 2003, art. 27: VIII - Ministério do Desenvolvimento Agrário: a) reforma agrária; b) promoção do desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares; XIII - Ministério da Integração Nacional. a) formulação e condução da política de desenvolvimento nacional integrada; b) formulação dos planos e programas regionais de desenvolvimento; c) estabelecimento de estratégias de integração das economias regionais;
19 INCRA e a regularização fundiária Georreferenciamento de imóveis rurais O que é o georreferenciamento? É a obrigatoriedade da descrição do imóvel rural, em seus limites, características e confrontações, através de memorial descritivo firmado por profissional habilitado, "contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA" (art. 176, 4º, da Lei 6.015/75, com redação dada pela Lei /01). Quem está obrigado a fazer o georreferenciamento? Todos os proprietários de imóvel rural. Será também exigido das seguintes pessoas, em razão de serem obrigadas a prestar a declaração para o cadastro de imóveis rurais (CCIR), junto ao INCRA, observados os prazos do art. 10 do Decreto nº 4.449/02: I - dos usufrutuários e dos nu-proprietários; II - dos posseiros; III - dos enfiteutas e dos foreiros.
20 INCRA e a regularização fundiária Georreferenciamento de imóveis rurais Quem pode executar os trabalhos de georreferenciamento? Profissionais habilitados e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica (art. 176, 4º, da Lei 6.015/75, com redação dada pela Lei /01) no Comitê Nacional de Certificação e Credenciamento INCRA. Quais procedimentos devem ser obedecidos para o georreferenciamento do imóvel rural? a) Contratar profissional habilitado para a execução dos serviços de campos e de elaboração do material, que juntará os documentos georreferenciados; b) Apresentar no INCRA o material, a anuência dos confinantes e demais documentos; e c) Registro junto ao Cartório de Imóveis.
21 INCRA e a regularização fundiária Georreferenciamento de imóveis rurais Quem arca com os custos? Em regra, o proprietário do imóvel rural. A Lei /01 e o Decreto 4.449/02 concedem a isenção: a) aos proprietários de imóveis rurais cujo somatório das áreas não exceda quatro módulos fiscais; e b) caso de transmissão de domínio de área total cujo somatório também não exceda a quatro módulos fiscais, desde que requerido no prazo do item 4 retro (parágrafo único do art. 8 do Decreto 4.449/02). No que implica a ausência de georreferenciamento? Após os prazos do art. 10 do Decreto 4.449/02, prevalece o 4º do art. 176, da Lei 4.947/66, modificada pela Lei /01, que assim dispõe: "no impedimento da efetivação do registro, em qualquer situação de transferência do imóvel rural". Dificuldades de créditos dependentes de garantias de imóveis irregulares.
22 INCRA e a regularização fundiária Georreferenciamento de imóveis rurais
23 Aquisição de terras por estrangeiros Parecer CGU/AGU nº 01/2008 RVJ Aprovado pelo Presidente da República em 19/08/2010 Objeto: Nova interpretação a Lei nº 5.709/71 Pressupostos: Princípio da Soberania aplicado à ordem econômica. Irretroatividade da interpretação (segurança jurídica) Objetivos da atual estrutura fundiária: Valorização das commodities agrícolas; Combater a crise mundial de alimentos; e Desenvolver os biocombustíveis. Procedimento: Registro especial em cartório de imóveis, com comunicação trimestral ao INCRA, a Corregedoria de Justiça dos Estados e ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.
24 Aquisição de terras por estrangeiros Parecer CGU/AGU nº 01/2008 RVJ Aprovado pelo Presidente da República em 19/08/2010 Consultor-Geral da União, Ronaldo Vieira Junior: "Trata-se de nova interpretação que vai tornar possível o conhecimento, controle e fiscalização sobre a movimentação de compra de terras por estrangeiros, possibilitando que sejam estendidas às empresas brasileiras controladas por estrangeiros, as limitações quanto ao tamanho das terras compradas". Principais restrições: Aquisição de terras limitada a 50 módulos de exploração indefinida. Conformidade com o Objeto Social: Respaldo societário a atividade econômica Aprovação prévia pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Critério municipal: limitado a 25%.
25 IBAMA e Geodireito Ambiental O critério espacial no Direito Ambiental Objetivo: Produzir a divisão sócio-ambiental do trabalho no espaço 1861: D. Pedro II cria a reserva florestal da Tijuca (RJ) para equacionar o desmatamento causado pelas fazendas de café, que prejudicavam o abastecimento de água potável da capital. 1921: Governo Epitácio Pessôa busca criar área florestal no interior das companhias ferroviárias para que as empresas adquirissem terras para reflorestamento com finalidade energética (a civilização da lenha criticada por JK) 1934, Código Florestal I: Instituto da Quota-Parte, que restringiu o direito de uso da propriedade e preservava compulsoriamente 25% de vegetação nativa nas propriedades. 1965, Código Florestal II: Instituto da Reserva Legal (ver MP /2001) 2011, Código Florestal III: PL 1876/99 contempla o uso do georreferenciamento.
26 Projeto de Lei nº 1876/99 e apensados Parecer do relator Dep. Fed. Aldo Rebelo (PCdoB-SP) O uso da Geografia enquanto política pública permeia todo o trabalho. Menção sistemática ao geógrafo Josué de Castro (Geografia da Fome) enquanto contraponto malthusiano. Art. 20. A área de Reserva Legal será averbada na matrícula do imóvel no Registro de Imóveis competente, com indicação de suas coordenadas georreferenciadas ou memorial descritivo contendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado, sendo vedada a alteração de sua destinação a qualquer título e seu desmembramento. (...) Art. 21. A supressão de vegetação nativa para uso alternativo do solo somente será permitida mediante autorização expedida pelo órgão competente do Sisnama. 1º O requerimento de autorização de supressão de que trata o caput conterá, no mínimo, informações sobre: I a localização georreferenciada do imóvel, das Áreas de Preservação Permanente e da Reserva Legal;
27 Projeto de Lei nº 1876/99 e apensados Parecer do relator Dep. Fed. Aldo Rebelo (PCdoB-SP) Programa de Regularização Ambiental PRA (art. 27): Cadastro ambiental exige identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas ou memorial descritivo de ao menos um ponto de amarração georreferenciado: a) do perímetro do imóvel; b) da localização de remanescentes de vegetação nativa; c) da localização da Reserva Legal; d) da localização das Áreas de Preservação Permanente; e e) da localização das áreas consolidadas. Plano de Suprimento Sustentável PSS (art. 31): a ser aprovado pelo Sisnama, deverá indicar as áreas de origem da matéria-prima florestal georreferenciadas. Cota de Reserva Florestal - CRA (art. 38): título a ser expedido por órgão competente do Sisnama em favor de proprietário que mantenha área com pelo menos um ponto de amarração georreferenciado relativo ao perímetro do imóvel e um ponto de amarração georreferenciado relativo à Reserva Legal. Instituto da servidão florestal (emenda ao art. 9º-A da Lei nº 6.938/1981): deve incluir memorial descritivo da área, contendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado.
28 IBGE e IBAMA A referência que o futuro Código Florestal desconsidera O IBGE é responsável pela definição dos biomas e das áreas de influência dos ecossistemas. Essa informação baliza a atuação do Ibama e a aplicação da legislação ambiental. Pesquisa de Informações Básicas Municipais MUNIC: realizada em 2002 pelo IBGE junto ao MMA, trata-se do primeiro levantamento ambiental municipal. Conclusões: a) Exógena: Satélites detectam queimadas não informadas por prefeituras (BR 163) b) Endógena: Prefeituras apontam desmatamentos e queimadas não detectadas por satélite. IBGE: Agente regulador do Sistema Geodésico Brasileiro. Principais resoluções: a) RPR 001/2005: Caracterização do Sistema Geodésico Brasileiro; b) RPR 001/2008: Padronização de marcos geodésicos; c) RPR 22/1983: Especificações e Normas Gerais para Levantamentos Geodésicos; d) RPR 5/1993: Especificações e Normas Gerais para Levantamentos GPS; e e) RPR 23/1989: Parâmetros para Transformação de Sistemas Geodésicos.
29 Conclusões Geodireito: ramo do Direito que estuda os critérios espaciais da norma, por meio da técnica cartográfica e da análise geográfica (where tags). SIG: Imprescindível para a construção do sistema Cartografia Norma INCRA: Necessidade de capacitação para (i) padronizar e cadastrar o georreferenciamento; e (ii) regulamentar a aquisição de terras por estrangeiros. Código Florestal III: O PL 1876/99 é tímido no uso do georreferenciamento. Setor agroindustrial tem a oportunidade de aprimorar a regulamentação do georreferenciamento nos imóveis rurais. SETOR AGROINDUSTRIAL: a) Regularizar a propriedade é bom para o proprietário e para o país; b) Necessidade de capacitação regulatória (INCRA, IBAMA, ICMBio, IBGE) c) Evitar situações de desgaste setorial (p. ex. CPI da Grilagem).
30 OBRIGADO! Luiz Antonio Ugeda Sanches /
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