A fim de melhor delinear a situação fática, transcrevo o seguinte trecho do agravo de instrumento:

Transcrição

1 PROCESSO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: JOELMA DIAS DE MIRANDA ADVOGADO: ALEKSANDRO DE ALMEA CAVALCANTE AGRAVADO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADA HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA - 2ª TURMA RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento manejado por JOELMA DIAS DE MIRANDA contra decisão proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Seção Judiciária da Paraíba que, nos autos de ação ordinária, indeferira a antecipação de tutela que visava a retirada do nome da autora, ora agravante, do Serviço de Proteção ao Crédito - SPC. A fim de melhor delinear a situação fática, transcrevo o seguinte trecho do agravo de instrumento: A recorrente é usuária de um cartão de crédito da Caixa Econômica Federal, denominado "Minha Casa Melhor". A Caixa Econômica Federal, por culpa exclusivamente sua, deixou de enviar, por vários meses, as faturas de pagamento para a residência da recorrente. Dessarte, algumas faturas ficaram em aberto, o que causou, à época, a negativação da consumidora, ora agravante. Em novembro de 2014, a recorrente foi até uma agência da Caixa Econômica e quitou todas as faturas que estavam em aberto, até então. Contudo, o seu nome continuou constando nos órgãos de restrição ao crédito. Diante da manutenção do seu nome no rol de maus pagadores, a consumidora procurou a Caixa para saber o motivo da manutenção do seu nome nos órgãos de restrição ao crédito, o que lhe foi informado que a mesma deveria pagar, inclusive, as faturas que ainda estavam por se vencer, o que motivou a recorrente a pagar todas as faturas existentes, o que de fato ocorreu no dia 13 de janeiro de 2015, conforme atestam os comprovantes em anexo.

2 No dia 15 de janeiro do corrente ano, o nome da agravante não mais estava negativado. Não obstante, no dia No dia 27/01/2015, a demandante estava se programando para ir à Concessionária da Fiat em João Pessoa, a Fiori, para realizar a compra de um veículo. Contudo, antes de sair de casa, resolveu consultar a situação do seu nome, tendo tido a malsinada revelação de que o seu nome havia sido lançado no rol de maus pagadores pela CEF, desta feita cobrando o pagamento da fatura do cartão, alusiva ao mês de Março de 2014, conforme atesta o comprovante de negativação em anexo. O Juízo de origem indeferiu o pleito de urgência com base na incongruência entre o valor apresentado nas faturas quitadas em 27/11/2014, no valor de R$ 116,65 (cento e dezesseis e sessenta e cinco centavos), e o importe que ensejou a inscrição negativa no SPC, de R$ 408,94 (quatrocentos e oito reais e noventa e quatro centavos). Ademais, verificou inconsistência entre o vencimento da fatura quitada e o do débito constante no SPC, concluindo que eles não se correspondem. Nas razões recursais, sustenta a agravante, em resumo, que a fatura do cartão de crédito alusiva ao mês de março de 2014 foi devidamente paga no mês de novembro/2014, conforme se depreende da autenticação mecânica aposta no boleto de identificador nº dos autos originários. Assim, percebe-se que a negativação promovida pela agravada já se encontra quitada, razão pela qual deve a instituição financeira recorrida comprovar, na instrução do feito, de onde se origina o suposto débito, causa da inscrição negativa. Aduz, ademais, que não há risco algum de se causar prejuízo à CEF ora agravada com a concessão da tutela antecipada para suspender a negativação de seu nome dos cadastros de proteção ao crédito, vez que se trata de medida totalmente reversível caso reste provado na instrução da demanda que, de fato, existia o débito inscrito. Infere, ainda, que, caso não concedida a tutela recursal para suspender a restrição creditícia, permanecerá sofrendo todo tipo de restrição e vexame em face de uma inscrição que, ao final, será demonstrado que foi completamente indevida, em seu relatar, perdurando, para o resto de sua vida, os danos causados por tal injusta negativação. Por fim, assevera que deve haver, em se tratando de consumidora, uma inversão do

3 ônus da prova, motivo pelo qual caberá à Caixa provar a razão da discrepância entre o valor lançado junto ao SPC e o valor lançado no boleto que já foi pago pela consumidora em novembro/2014. Não foram apresentadas contrarrazões pela CEF agravada. É o relatório. PROCESSO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: JOELMA DIAS DE MIRANDA ADVOGADO: ALEKSANDRO DE ALMEA CAVALCANTE AGRAVADO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADA HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA - 2ª TURMA VOTO Acredito que assiste razão à agravante. Nada obstante a tutela provisória antecipada seja, na hipótese, inaudita altera parte, cumpre considerar que a consumidora, possuidora de cartão de crédito junto à CEF, demonstrou devidamente que quitou a fatura alusiva ao mês de março de 2014, que é a mensalidade apontada pelo comprovante de negativação. Ora, consoante restou evidenciado dos autos, a agravante já havia sofrido negativação anterior, quando da tentativa de adquirir financiamento para carro na Concessionária Promac, e compareceu à agência da Caixa Econômica Federal de posse de todos os comprovantes de pagamento das faturas do seu cartão (que foram quitadas em 17/11/2014), obtendo a baixa da restrição no dia 20/01/2015. Desse modo, nota-se que, na seara administrativa, a CEF já havia admitido seu

4 equívoco quando indevidamente impôs restrição anterior, vindo a retirá-la após a solicitação da consumidora, no dia 20/01/2015. Assim, resta evidenciado que, em princípio, a demandada tinha ciência e aceitou a quitação de todas as faturas que foram pagas com atraso em novembro de 2014, inclusive a que ora se discute, do mês de março do mesmo ano. Por esse motivo, não é razoável a manutenção do nome da agravante no cadastro negativo do SPC. Demais disso, note-se que não advirá prejuízo à agravada com a suspensão de tal restrição, por se tratar de medida reversível caso reste provado, na instrução do feito, que, de fato, remanesce o débito anteriormente inscrito. Por outro lado, é evidente o gravame que decorre à consumidora com a permanência de seu nome inscrito no Serviço de Proteção ao Crédito, inclusive obstando a realização de financiamento de veículo, além da situação vexatória que daí resulta. Com fulcro no delineado, DOU PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, para determinar a retirada do nome da agravante dos cadastros negativos até o deslinde da demanda, se por outro motivo não existir razão para tanto. É o meu voto. HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA Desembargadora Federal Convocada PROCESSO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO - PB AGRAVANTE: JOELMA DIAS DE MIRANDA ADVOGADO: ALEKSANDRO DE ALMEA CAVALCANTE AGRAVADO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADA HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA - 2ª TURMA

5 EMENTA CIVIL, CONSUMOR E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FATURA DE CARTÃO DE CRÉDITO DA CAIXA. RESTRIÇÃO INDEVA NO SPC. SUSPENSÃO DO CADASTRO NEGATIVO. POSSIBILADE. REVERSIBILADE DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. 1. O agravo de instrumento vergasta decisão que, nos autos de ação ordinária, indeferira a antecipação de tutela que visava a retirada do nome da autora, ora agravante, do Serviço de Proteção ao Crédito - SPC. 2. A consumidora agravante sustenta, em resumo, que a fatura do cartão de crédito alusiva ao mês de março de 2014 foi devidamente paga no mês de novembro/2014, conforme se depreende da autenticação mecânica aposta no boleto de identificador nº dos autos originários. Assim, aduz que a negativação promovida pela agravada já se encontra quitada, razão pela qual deve a instituição financeira recorrida comprovar, na instrução do feito, de onde se origina o suposto débito, causa da inscrição negativa. 3. Nada obstante a tutela provisória antecipada seja, na hipótese, inaudita altera parte, cumpre considerar que a consumidora, possuidora de cartão de crédito junto à CEF, demonstrou devidamente que quitou a fatura alusiva ao mês de março de 2014, que é a mensalidade apontada pelo comprovante de negativação. 4. Consoante restou evidenciado dos autos, a agravante já havia sofrido negativação anterior, quando da tentativa de adquirir financiamento para carro na Concessionária Promac, e compareceu à agência da Caixa Econômica Federal de posse de todos os comprovantes de pagamento das faturas do seu cartão (que foram quitadas em 17/11/2014), obtendo a baixa da restrição no dia 20/01/ Desse modo, nota-se que, na seara administrativa, a CEF já havia admitido seu equívoco quando indevidamente impôs restrição anterior, vindo a retirá-la após a solicitação da consumidora, no dia 20/01/2015. Assim, resta evidenciado que, em princípio, a demandada tinha ciência e aceitou a quitação de todas as faturas que foram pagas com atraso em novembro de 2014, inclusive a que ora se discute, do mês de março do mesmo ano. Por esse motivo, não é razoável a manutenção do nome da agravante no cadastro negativo do SPC. 6. Demais disso, note-se que não advirá prejuízo à agravada com a suspensão de tal restrição, por se tratar de medida reversível caso reste provado, na instrução do feito, que, de fato, remanesce o débito anteriormente inscrito. Por outro lado, é evidente o gravame que decorre à consumidora com a permanência de seu nome inscrito no Serviço de Proteção ao Crédito, inclusive obstando a realização de financiamento de veículo, além da situação vexatória que daí resulta. 7. Agravo de instrumento provido, para determinar a retirada do nome da agravante

6 dos cadastros negativos até o deslinde da demanda, se por outro motivo não existir razão para tanto. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que figuram como partes as acima indicadas. DECE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, DAR PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, nos termos do voto da Relatora e das notas taquigráficas, que passam a integrar o presente julgado. Recife, 05 de maio de HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA Desembargadora Federal Convocada