Que políticas públicas para agricultura familiar e agronegócio na América Latina ( e no Mercosul)?
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- Yan Bennert Caldeira
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1 International Seminar RECENT TRANSFORMATIONS IN INTERNATIONAL AGRICULTURE AND REFLEXIONS ON MERCOSUR Rio de Janeiro, 1st to 3rd December 2014 Mesa 1: Repensando o papel do Estado Que políticas públicas para agricultura familiar e agronegócio na América Latina ( e no Mercosul)? Eric Sabourin
2 Introdução Hipótese: A difusão regional de um modelo latino-americano de políticas públicas a favor da agricultura familiar não modifica os apoios públicos majoritários ao agronegócio Temos diversas configurações de coexistência de vários modelos 3 processos: - Origem e difusão de um modelo de política para a AF na região - Diversidade na sua aplicação e nos recursos dedicados - Tendências regionais e desafios para manter apoio a AF Origem dos dados: Estudos de síntese sobre as políticas relativas à agricultura familiar em onze países Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Peru e Uruguai Coordenação Rede de pesquisa PP-AL Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural na América Latina
3 Um estudo em onze países
4 Metodologia Uma matriz de análise comum em cinco blocos 1) Importância da agricultura e da agricultura familiar/agronegócio na economia do país; 2) História e trajetória das políticas agrarias, e mas recentemente daquelas focadas na agricultura familiar; 3) Origens e vetores dessas políticas; papel dos movimentos sociais, grupos de interesse ou coalizões AF e agro-negocio; 4) População/categoria meta e a caracterização dos principais instrumentos dessas políticas e do seu financiamento; 5) Avaliação pluralista dos resultados e efeitos, perspectivas de evolução e os principais desafios dessas políticas.
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6 Políticas agrícolas de agro-negocio aplicadas à agricultura familiar - Países com agriculturas familiares demograficamente dominantes (Peru, Equador, Colômbia) ou sem peso político (Costa Rica). - Modernização da agricultura: acesso a recursos e financiamentos para aumentar a produção e a produtividade dos produtores. - Crédito publico e recursos monopolizados pelo agronegócio - Programas de investimento, apoio a instalação, assistência técnica e aconselhamento em gestão agrícola. - Politicas de ATER ainda baseadas na Revolução Verde, reduzidas ou abandonadas por falta de recursos - têm influenciado amplamente modelo de modernização agrícola - Inovações e adaptações existem, especialmente em programas de formação à distancia, sistemas de alfabetização e capacitação digital (Uruguai, Chile e Brasil).
7 O modelo de política focalizada na agricultura familiar 1) Argumento: modelo justificado pela capacidade da AF em responder a problemas nacionais de segurança e de soberania alimentar, de redução de pobreza rural e geração de emprego. 2) Uma categoria alvo definida por normas ou por lei 3) Três instrumentos num mesmo marco de política nacional a) créditos diferenciados ou subsidiados, individuais ou coletivos; b) apoio adoção de tecnologias com assistência técnica; c) capacitação e promoção da organização INDAP/Chile, PRONAF/Brasil, PROINDER/Argentina, CRISSOL / Nicarágua 4) Registros de produtores familiares acesso às diversas modalidades de intervenção, garantias (bancárias) e a instrumentos associados à política de agricultura familiar
8 O modelo com política focalizada na agricultura familiar 1) Dualidade das políticas: Cuba (desde 1993), Brasil, Argentina a. Duas coalizões muito atuantes: organização de produtores, movimentos sociais, partidos políticos, academia, sociedades b. Dupla institucionalidade (2 ministérios) c. Pouca coordenação e rivalidade para base social mais produtiva: coexistência tensa d. Embate ideológico e suas consequências 2) Políticas mais coordenadas : Chile, Uruguai a. Duas coalizões mas com pontes e dialogo b. Uma institucionalidade única (1 ministério forte) c. Modelo empresaria e neoliberal, pouco embate ideológico d. Coexistência pacifica e benefícios mútuos
9 Tem ainda muito mais recursos para o Agro-negocio Argentina 2012 : 1,7 milhões US$ Registro Nacional AF - 37,5 milhões para cadeias da AF mas 580 milhões US$ p. Agro-negocio : 211 milhões crédito ou subsidio, inversões de 20,5 milhões, pesquisa 162 milhões US$ Brasil : x 10 orçamento PRONAF desde ,5 bilhões US$ em 2013/14 crédito para AF e 61,8 bilhões US$ credito para A patronal Chile : +8,2% orçamento INDAP em 2013 para apoio AF com 33 milhões de $USD, só 25% das transferências para sector privado Cuba : produtores familiares tem acesso a menos de 20% da SAU Uruguai : - Apoio a AF os com financiamento internacional (FIDA, BID, BM). - Exoneração ou renuncias fiscal para agronegocio não para AF.
10 Políticas enfocadas na agricultura familiar Difusão forte do modelo, com FAO: Nicarágua, Costa Rica, Colômbia, México reconhecimento população marginalizada + definição positiva e autônoma AF respondem positivamente a credito e ressarcem fielmente Relativa diversidade das modalidades de aplicação do modelo. categoria política, ampla, adaptável e estendível por decisão politica. diversidade histórica, social e técnica dos produtores agropecuários familiares Limitações critérios excluem certos tipos de agricultores familiares : autoconsumo, pluriativos, pescadores artesanais, extrativistas ou indígenas Tipologia AF (estabilizados, em transição, periféricos ) leva a apoiar modernização tecnológica para mercados de commodities. não permite tomar em conta novas demandas das sociedades para agricultura: sustentabilidade, empregos, relações com consumidores e modo alimentação. Evoluções Políticas nacionais de agroecologia Cuba, Bolívia, Chile, Brasil, Nicarágua, México Respostas demandas sociedade: qualidade, segurança e soberania alimentar, meio ambiente, circuitos curtos) e novos paradigmas de vida e desenvolvimento (Bem Viver, agricultura comunitária, etc.)
11 Novas políticas temáticas transversais afeitando também à agricultura familiar: México, Nicarágua, Costa Rica Finalidades não propriamente agrícolas: proteção do meio ambiente, segurança alimentar, pobreza rural, desenvolvimento territorial, economia solidaria, etc. Políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável: transferência financeira (PSA) ou subsídios condicionados (bolsa floresta Brasil, bolsa verde MG) embora concebidos para grandes proprietários (redução dos custos de transação ); Políticas de segurança alimentar e de combate a pobreza reforçadas com crise alimentar de apoio a bancos alimentares ou de sementes, feiras do produtor, restaurantes populares e programas de compras públicas focados na AF (Brasil, Argentina, Nicarágua). Transferência renda, alimentos, sementes= impacto forte em zonais rurais pobres. Políticas de DTR privilegiaram agricultores familiares apoios à produção familiar fortalecendo capacidades das organizações locais. programas são administrados por Ministério da Agricultura (Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica) ou de Desenvolvimento Agrário Social (Brasil), o que fortalece o caráter setorial agrícola e o seu foco sobre a agricultura familiar.
12 Principais políticas para a agricultura familiar por país Países Argentina* Brasil* Política agrícola generalista SAGPyA, 1988 PROFEDER, 2003 Política específica para Agricultura Familiar SDRyAF en MINAGRI PROINDER, 2004, Registro Nac. AF, 2007 MAPA, PRONAF, DAP (Doc Apt. Pronaf), 1996 MDA, 1999 Chile* MINAGRI, 1990 INDAP Pol. Nac.Des. Rural, Colombia INCODER, 2003 PRAN, 2000 INCODER, 2003 Costa Rica Plan del sector agropecuario, Cuba* Política del MINAGRI Ecuador MAGAP/ Plan Agropecuario México Alianza Para el Campo Nicaragua MAGFOR y Proruralagro 2005 Perú MINAGRI, Mi Riego Uruguay* MGAP, 2005 Ley Des. Rural Desenvolvimento Sustentável ou Territorial Rural PROFEDER-INTA, 2003 PRODERI, 2012 Politicas temáticas Segurança Alimentar e luta conta a pobreza PERMER y PROPASA, 1999; Monotributo Social AF, 2009 PRONAT, 2003 PNAE, 1983; Fome Zéro, PTC, 2008 CONSEA, PAA PNAE AF, 2003 DTR Indígenas 2004, Pol. PRODESAL, 1995 Nac. Des. Rural PDTI, 2009 DRE, 2007 Red Seg. Aliment. e RESA & DRET, 2012 Alianzas Productivas, 2012 Plan Sectorial Agri. Familiar PDR, 1997 Plan Nac. de Alimentos y ( ) Ley del INDER, 2012 CEPROMAS, 2008 Regulaciones fiscales p/ cultivos s/condiciones + Canasta básica otorgada a cooperativas campesinas descentralización todo residente cubano PRONERI, 2007 Prolocal y Proder 2007 Plan Ley Eco Pop. Solid., 2008 ERAs Escuelas Rev Agri Nacional del Buen Vivir, LORSA, Soberanía 2008 Alimentaria, 2012 PROCAMPO/PROAGRO/INDESOL Ley de Desarrollo Rural PROGRESA/Oportunidad, 1995 Sustentable, 2001 PROMAF y Cruzada México Sin Hambre Dir. AF/MEFCCA 2007; Prorural Proyectos pilotos locales Hambre Cero/Bono Product. Incluyente CRISSOL, 2007 con coop. Internacional Alimentar, 2007 MEFCCA, 2012, Agro Rural, 2008 Plan Estrat. Sectorial/ MIDIS, Agroideas, Foncodes, 2012/2016 y DTR Dir. Des. Rural del MGAP 2008 ; Ley de Ordenamiento MEVIR (casas), 1967 Reg. Prod. Familiar, 2009 Territorial, 2009 Uruguay Rural, 2001
13 Coexistência de 3 modelos de PP de 3 gerações Política agrícola generalista 1960/70... Política específica AF 1995/ Políticas temáticas desde 2003
14 Emergência e disseminação regional do modelo Fatores diversos e conjugados Malleta, 2012 ; FAO, ; PIADAL, 2013; Manzanal, Neiman, 2010; Marques & Ramos, 2012; Schneider, 2013; Sabourin et al, 2014; Craviotti, 2014, - Esgotamento e fracasso de 2 modelos anteriores: reforma agraria e revolução verde (+ ruptura abastecimento externo para Cuba/1993); - Impacto excludente da liberalização e do ajuste financeiro e estrutural (Argentina, Peru, Costa Rica e Colômbia) - Redemocratização a partir dos anos Estabilização financeira e fim da inflação (p. crédito): Brasil, Argentina - Crise alimentar e boom dos preços agrícolas a parti de 2008 (Peru, Bolívia) Coalizões e grupos de interesse em torno da AF (Sabatier e Jenkins-Smith, 1993; Hassenteufel, 2006; Massardier, 2008) - Mudanças políticas: Chile/1962, Cuba/1993; Argentina/2004, Uruguai/2005; Nicarágua/2007 etc. - Coalizações movimentos sociais e vitória política: Chile/1962, Brasil / Coalizões amplas e estabilização financeira: Brasil/1995, Argentina/2004
15 Disseminação regional do modelo: 3 modos de internacionalização imbricados Circulação global das ideias e normas via org. internacionais Teoria da globalização, world politics: Risse-Kappen (1995); Rosenau (1997), Rose (1991); Kehoane, (2002)... - FAO: reforma agraria e logo PP enfocada na categoria alvo da AF - EU e BID para programas territoriais de tipo Leader e Leader+ - IICA para Políticas de Desenvolvimento territorial Rural (DTR) - PNUD, PAM, FAO para políticas de segurança alimentar e compras públicas Regionalização, e em parte pela base (por baixo = Pasquier, 2002; Dabene, 2009; Velut, 2007; Coufignal e Thery, Tilly, 2012) etc - Influencia acordos comerciais Mercosul nos sindicatos AF /1991 para Brasil (Navarro, 2010; Valderrama, 2004) - COPROFAM no Mercosul, Via Campesina no continente, etc - Criação da REAF no âmbito do Mercosul em 2003 com efeitos para politicas de AF em Argentina e Uruguai, Equador (Marquez e Ramos, 2012) - CIA no marco do SICA e programa regional de DTR ECADERT (IICA, 2010) - CAN e lineamentos para agricultura familiar, agroecologia e DTR
16 Disseminação regional do modelo = 3 modos de internacionalização Transferência de política de um país a outro Policy transfer: Dolowitz e Marsh, 2000; Delpeuch, 2009, Dumoulin Saurugger, 2010) e transferências de modelos europeus e brasileiros (Musiałkowska, 2006; Massardier & Sabourin, 2013) Bandwagoning : imitação/seguimento politicas de países vizinhos (Waltz, 1979). Brasil com compras públicas, DTR, Pronaf Mais alimentos, etc. Uruguai com alfabetização e educação digital; Chile com alianças produtivas e encadeamentos produtivos Peru com aliança campesino-cozinheiro Equador com mercados campesinos, Bolívia com o Bien Vivir (para centro américa) Costa Rica e México para politicas de Pagamento de Serviços Ambientais para AF (Bolsa verde, Bolsa floresta) Argentina com politica de apoio a produção de maquinas agrícolas especializadas para AF (Brasil, Venezuela, África)
17 Papel políticas enfocadas na agricultura familiar Modelo mais neoliberal que anterior sobre Reformas agrarias e fundiárias + DRI : papel das OI: FAO, BID, etc ( Nicarágua, Costa Rica, Colômbia, México...) Modelo mais compatível com o agronegócio que R Agrária e DRI? Medo dos comunistas como antes, mas com 2 alternativas de integração diferenciada ao mercado capitalista como produtores subalternos como consumidores assistidos (transf. de renda, polit. sociais) Papel cooperação Sul Sul interamericana e das agencias Int.
18 Papel das políticas enfocadas na agricultura familiar Resistências e alternativas No campo da produção : nova via campesina Produção de alimentos sadios, agroecologia Mercados de proximidade e autonomia Projeto de qualidade de vida rural sustentável, Buen Vivir No campo do território e dos recursos naturais Terras indígenas, quilombolas, atingidos pelas barragens e as minas/ hidroelétricas Casos de Bolívia, Peru, Equador, Centro américa, etc Reconstituição de recursos coletivos: campos de recria em Uruguai, Reservas extrativistas no Brasil, etc
19 Dificuldades Complexidade dos problemas de coordenação, inter-setorial como multi-níveis. a multiplicação das instituições dedicadas e a segmentação dos públicos alvos apresentam riscos. dificuldade a se diferenciar dos processos de dualidade das politicas agrícolas. a institucionalização de políticas paralelas para agricultura familiar e patronal/empresarial com instituições separadas Risco de um tratamento cada vez mais social dos agricultores familiares e das minorias culturais exclusão dos apoios produtivos e das atividades econômicas, em particular para as unidades mais frágeis ou isoladas.
20 Coexistência de modelos e novas tensões Acesso a recursos: assimetria dos orçamentos dedicados Acesso a terra e agua: Focalização agronegócio nas terras indígenas e reservas ambientais Considera a reforma agraria superada e vencida Cogestão da agua na áreas irrigadas Modelo neocorporativista tanto nos países social democratas como nos países bolivarianos Duplo discurso e ataques: As políticas de compras públicas no Brasil A pequena mineria no Peru e Bolívia As terras indígenas na Bolívia, Brasil e Equador Criminalização dos movimentos sociais do campo
21 Tendências e desafios Novas alternativas. - Reconstrução social de mercados - Controle e compartilhamento de sementes - Compartilhamento do trabalho - Controle e repartição do conhecimento (agroecologia) - Ocupação da terra e das aguas - Na relação com os consumidores (AF urbana e peri-urbana) Construção de conjuntos de políticas mais ou menos coordenados de diversas modalidades (os policy mix ): - Políticas mono-setoriais específicas para uma categoria alvo, oferecendo medidas focalizadas de apoio às atividades produtivas agrícolas ou não agrícolas; - Políticas temáticas ou transversais, setoriais ou multi-setoriais não diretamente agrícolas (ambientais, de desenvolvimento sustentável, territorial, de segurança alimentar ou de combate à pobreza...); - Políticas sociais de transferência de renda, de ativos ou de direitos.
22 Conclusões Emergência na ALC de políticas focalizadas na AF Torna visível uma categoria de produtores antes marginalizados por políticas agrícolas promovendo modelo da empresa agrícola. Fragilidade orçamentos e instrumentos dedicados comparando com A-negocio - assimetria forte a favor agronegócio com ou sem institucionalidade dual - ligada à mobilização de coalizões políticas a favor de um ou outro setor - países sem política específica o sem estatística = opção política contra AF Saída: combinação diversa de várias gerações de instrumentos no seio de conjuntos imbricados de diversas políticas = policy mix políticas inovadoras se associam movimentos sociais e apoios nos mundos científicos, políticos e da alta administração (Lecuyer, 2012). ação de mediadores multi-posicionados (Massardier, 2008) e de dinâmicas regionais (Pasquier, 2002). circulação das ideias e dos modelos, em particular via cooperação bilateral e internacional (world politics, transnacionalização, papel agencias ONU). Mas, coalizão do agronegócio extremamente hábil, brutal e bem posicionada
23 Muito obrigado
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