V Seminário "Linguagens em Educação Infantil" - 16 o COLE
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- Herman Arantes Padilha
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1 1 V Seminário "Linguagens em Educação Infantil" - 16 o COLE Saberes, Fazeres e Práticas: uma experiência na educação infantil no município de Rondonópolis MT. Teina Nascimento Lopes PPGE/UFMT teinal@gmail.com". Ana Arlinda de Oliveira, UFMT/PPGE/GEPLL :aarlinda@terra.com.br". Autora: LOPES, Teina Nascimento 1 Co-autora: OLIVEIRA, Ana Arlinda de 2 INTRODUÇÃO No Brasil, o atual processo de escolarização das crianças de 04 a 05 anos, ao mesmo tempo em que anuncia a inserção da criança na história e o reconhecimento desta enquanto sujeito e cidadão capaz de produzir cultura, denuncia a prática pedagógica dos educadores da infância. É sabido que muitos educadores da infância atuam como detentores do saber, utilizando-se de práticas repetitivas, estéreis e muitas vezes sem considerar os conhecimentos prévios que as crianças já trazem consigo. As atividades significativas têm sido pouco presentes nos espaços educativos da infância, desta forma, práticas como tarefa, cadernos, sendo um para cada disciplina e ainda as atividades mimeografadas fora de um contexto significativo permeiam o cenário da escolarização na Educação Infantil. Não podemos negar que para a criança as histórias e as imagens são seus primeiros referenciais nas leituras iniciais, além de serem essas as responsáveis pelos significados que as crianças acabam por dar aos livros lidos antes mesmo destas serem alfabetizadas. É por acreditar que as mudanças de práticas através da ação reflexão - ação são possíveis, que nos dispomos a fazer um estudo de caso, no qual abordaremos as práticas pedagógicas de uma professora que atua no II ciclo da Educação Infantil, na Escola Municipal de Educação Infantil Ana Maria Machado, considerando nessas práticas a leitura e o letramento no espaço educativo da infância. Essa delimitação nos permitiu evidenciar a problemática central de nosso objeto de estudo que é prática pedagógica na infância. 1 Mestranda do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso, Área de Concentração Teorias e Práticas Pedagógicas da Educação Escolar, linha de pesquisa Educação e Linguagem. 2 Professora da Universidade Federal de Mato Grosso na Graduação e Pós-graduação, Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista, Julio de Mesquita UNESP Marília São Paulo.
2 2 PROBLEMA e JUSTIFICATIVA Algumas perguntas ainda estão sem respostas no currículo da Educação Infantil, mas pretendemos se não responder, instigar ainda mais para a busca de respostas e, dessa forma contribuir para o avanço do trabalho realizado acerca da infância. Seguem algumas questões que nos incomodam e temos certeza que causam desconforto a muitos educadores, pesquisadores e também a muitos pais. De que forma a leitura, a ludicidade e o encantamento pelo qual a criança percorre o caminho mágico da infância são introduzidos pelos professores de Educação Infantil? Quais práticas de leitura as professoras de educação infantil proporcionam às crianças? Em que contexto acontece essas práticas? Como as crianças são conduzidas para o contexto do letramento? Dentre as indagações que fizemos está a questão central para nossa investigação, de que forma uma educadora da infância, da Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis-MT, conduz as crianças ao processo de leitura e letramento e, quais artefatos subsidiam a prática docente dessa educadora? Considerando o que muitas pesquisas já mostraram, em relação às práticas escolarizantes na infância, podemos afirmar que a educação das crianças atualmente passa por dois viés, o primeiro é o modelo de educação que foi importado do ensino fundamental para a educação infantil e o segundo passa pelo desconhecimento da cultura da infância, que esses educadores não possuem e, portanto, concebem que para trabalhar com esse nível de ensino não é necessário formação e conhecimento sobre as teorias que explicam a infância. Talvez seja este o maior dos desafios do educador da infância desse milênio, a busca da compreensão de uma cultura da infância.
3 3 OBJETIVOS Objetivo Geral Investigar as práticas pedagógicas relacionadas ao aprendizado da leitura e da escrita na Educação Infantil. Objetivos Específicos - Conhecer as práticas pedagógicas de uma educadora da infância, na tentativa de oportunizar o estudo de metodologias e incentivos à leitura no universo infantil. - Evidenciar se há uma prática de leitura no processo de letramento das crianças. - Identificar nas práticas cotidianas quais tipos de leituras são realizadas com as crianças.
4 4 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Aprendendo a Ler através de Situações Significativas Todo ser humano possui um potencial para atribuir significado às coisas que servem para expressar ou simbolizar o mundo. Esse potencial é desenvolvido no seio do grupo social sob condições concretas que estabelecem suas possibilidades. Dentre as possibilidades das pessoas atribuírem significados às coisas a leitura surge como instrumento fundamental. Cabe ao professor então ser protagonista crucial da qualidade da leitura na escola. (Demo, 2006, p.56). Num processo de aprender com significado e neste caso particular, a leitura, é necessário propiciarmos condições concretas para a aprendizagem desta, entendemos que esse processo não deva ocorrer mecanicamente, portanto, ler inside em dar sentido aos conteúdos lidos, perceber as características especificas do objeto, compreender e definir conceitos para articulá-los na argumentação de um raciocínio dando sentido e instigando o leitor a construir seu próprio texto. Portanto, ler não é apenas decifrar códigos escritos, mas sim possibilitar ao indivíduo construir sentido daquilo que lê. Vejamos o que afirma a autora Luzia de Maria: Existe uma grande diferença entre ver e examinar, ouvir e escutar... Ler não é ver o que está escrito, nem tampouco lhe atribuir uma versão oral. Quem ousaria dizer que sabe ler em latim só porque sabe pronunciar as frases que lhe são apresentadas? Ler é ser questionado pelo mundo e por si mesmo, é saber que certas respostas podem ser encontradas na produção escrita, é poder ter acesso ao escrito, é construir uma resposta que entrelace informações novas àquelas que já se possuía. (Maria, 2002, p.21). Kramer (1995, p. 110), identifica a leitura como sendo... ler é dialogar, interpretar, é dar sentido ao texto. Ler envolve sempre três participantes: o autor, o leitor e a própria obra. Se ler é mais importante do que decifrar códigos escritos e se é dever da escola possibilitar às crianças a leitura do mundo, cabe também repensar o atual papel da escola, Chartier contribui com algumas atribuições da escola em relação às tarefas escolares que permeiam o processo de leitura: Uma das primeiras tarefas da escola é, pois, proporcionar uma pedagogia da cultura escrita que considere muito concretamente experiências infantis. As aquisições extra-escolares efetuadas em
5 5 casa, no bairro ou na rua podem e devem servir de ponto de apoio para as aprendizagens feitas em aula. (Chartier, 1996,p.26). Ao expor a importância da análise das práticas dos professores em seus contextos, coloca-se em evidência a escola como espaço institucional de práticas coletivas. Para Kramer (1995, p.108),.. o acontecer pedagógico é prática coletiva na qual aspectos cognitivos, afetivos, socioeconômicos, políticos e culturais inter-atuam ; o acontecer pedagógico é prática que se faz pela linguagem e que (produz) linguagem.... Conceber a educação como prática social implica termos atores produtores de conhecimento e tendo o professor como parte desse cenário faz-se necessário saber em qual papel atua, será ele o autor de seu trabalho? Ou será meramente alguém que reproduz algo já estabelecido por crenças cristalizadas? São indagações que não merecem respostas imediatas, mas carecem da reflexão do professor acerca de suas práticas. Se a escola é o local direcionado a aprendizagem e no âmbito da Educação Infantil discute-se um ensino de práticas prazerosas e significativas para o desenvolvimento infantil, Sonia Kramer defende um ambiente harmônico e educativo:... a organização de um ambiente que favoreça o estabelecimento de inúmeras relações das crianças entre si e com o meio natural e sócio cultural, o que envolve espaço, materiais adequados e de fácil acesso às crianças, bem como profissionais que façam as mediações entre as crianças e esses recursos. (...). (Kramer, 2005, p.214). É evidente que o espaço e a atuação do mediador no processo de aprendizagem é imprescindível e também inegável que o prazer pelos livros partirá das primeiras experiências que as crianças tiverem com estes. Pois, na infância o prazer pela Literatura Infantil e outros gêneros seduz e encanta, possibilitando às crianças a vivenciarem o letramento, ou seja, chegar ao estado ou condição de se apropriar desse bem cultural que é a leitura, tanto do texto verbal como do texto visual. Rousseau já dizia que a criança tem valor em si mesmo e que é papel do professor afastar tudo aquilo que a impedisse de exercer sua função plena de ser criança, as palavras de Rousseau ainda não soaram nas práticas de muitos professores da infância, que tentam ensinar aquilo que propõem e resistem em ouvir o que as crianças tem a dizer e fazer. (apud Oliveira, 2002, p ).... infância não é apenas uma via de acesso, um período de preparação para a vida adulta, mas tinha valor em si mesma. Caberia ao professor afastar tudo o que pudesse impedir as crianças de viver plenamente sua condição. Em vez do disciplinamento exterior, propunha que a educação seguisse a
6 6 liberdade e o ritmo da natureza, contrariando os dogmas religiosos da época, que preconizavam o controle dos infantes pelos adultos. Defendia uma educação não orientada pelos adultos, mas que fosse resultado do livre exercício das capacidades infantis e enfatizasse não o que a criança tem permissão para saber, mas o que é capaz de saber. Nessa investigação dedicamo-nos a discutir a importância da leitura particularmente no âmbito da infância. Tema este que abordaremos no viés curricular contemplando mais especificamente a linguagem, dando ênfase às práticas pedagógicas de leitura e letramento. O PERCURSO AS PESQUISA Segundo Bogdan e Bickler (1992), a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra, através do trabalho intensivo de campo. A justificativa para que o pesquisador mantenha um contato estreito e direto com a situação onde os fenômenos ocorrem naturalmente, é a de que estes são muito influenciados pelo seu contexto. Sendo assim, as circunstâncias particulares em que um determinado objeto se insere são essenciais para que se possa entendê-lo. Da mesma maneira, as pessoas, os gestos, as palavras estudadas devem ser sempre referenciadas ao contexto onde aparecem. Inicialmente o primeiro passo seria aplicar atenção a um fenômeno que necessita ser investigado, considerando que a principio as pessoas enxergam coisas diferentes num objeto de estudo, segundo André, O que cada pessoa seleciona para ver depende muito de sua história pessoal e principalmente de sua bagagem cultural. (André, 1986, p. 25). Selecionamos para essa pesquisa fazer um recorte voltado ao fazer educativo na Educação Infantil, selecionando para um estudo mais particular a prática pedagógica de uma educadora da infância. Essa delimitação permitiu-nos evidenciar a problemática central a ser investigada, sendo esta, as praticas de leitura que se consolidam no espaço da sala de aula. Demo define a pesquisa como sendo, em tese, pesquisa é a atitude de aprender a aprender, e, como tal, faz parte de todo o processo educativo e emancipatório. (Demo, 1993, p. 128). E é com esse propósito que estamos realizando um estudo de caso, na EMEI Ana Maria Machado, com uma professora do II Ciclo, da Educação Infantil, o trabalho de campo tem nos permitido realizar observação da prática pedagógica, que nesta investigação visa destacar aspectos dos conteúdos e metodologia referentes ao ensino aprendizagem na infância. Optamos por entrevista
7 7 gravada e a história de vida da professora investigada, a análise documental do planejamento, e anotações diárias oriundas da observação e relatório descritivo. O critério para a escolha de nosso sujeito, partiu de uma análise que fizemos do quadro de professores de Educação Infantil, efetivos, no município de Rondonópolis- MT. Consideramos sua formação acadêmica e sua experiência na rede municipal por mais de dez anos na Educação Infantil. É com esse entendimento que estamos realizando uma pesquisa qualitativa, visto que esse procedimento parece-nos adequado para examinar as múltiplas determinações de nosso objeto de pesquisa. A preocupação central da trajetória dessa investigação está no ato de compreender e explicar propriamente o objeto de estudo. Postos esses limites, optamos por tomar como fonte de pesquisa os estudos de Chartier, Demo, Khulmann Junior, Kleiman, Kramer, Lajolo, Mortatti, Oliveira, Zabalza, Zilberman dentre outros que serão apresentados no texto. Análise preliminar dos dados De posse de parte significativa do material já coletado, nos permitimos fazer uma análise significativa dos fazeres da professora observada. É importante lembrar que o currículo na Educação Infantil ainda demanda muitos olhares, uma vez que este não é tido como o caminho ou o roteiro que o professor deve trilhar em sua prática docente. A escola que estamos realizando a investigação localiza-se na parte central da cidade, é uma escola pequena, que atende a aproximadamente 100 (cem) crianças, com idade entre 04 e 05 anos, possui duas salas de aula que funcionam no período matutino com 46 crianças e vespertino com 48 crianças. No entanto a sala que estamos observando é no período matutino e possui 24 crianças matriculadas sendo, 14 crianças com 04 anos e 10 com 05 anos, sendo nestas que dedicaremos um olhar mais atento. O ambiente da sala de aula disponibiliza alfabeto móvel nas mais diversas cores e tamanhos, números expostos na parede, mural com aniversariantes do mês e previsão do tempo, cartaz com nome das crianças em letra bastão a organização da sala encontra-se de forma que as atividades permanentes como: leitura e escrita, está a disposição das crianças, através do quadro e giz, lápis, papel, revistas e livros, diversos tipos de textos de literatura infantil, gibis, revistas informativas, receitas de bolo e doces, bulas de remédios, cartazes de obras de arte e figuras de personagens ilustres da literatura brasileira, além das atividades realizadas pelas crianças compõem o ambiente alfabetizador da sala. Nas observações realizadas em sala, vimos que a professora faz a leitura diária do ambiente em questão explorando as diversas leituras sugeridas no espaço. Nas atividades diárias realizadas com as crianças chamam bastante atenção as práticas
8 coletivas, ou seja, atividades que envolvem todo o grupo e ainda a atividade de leitura e produção espontânea, valorizando a capacidade de criar da criança. Foi possível perceber apesar do esforço por parte da professora, que ela às vezes recorre a atividades mimeografadas para estar trabalhando com as crianças. A professora tem sido muito pressionada pelos pais para que as crianças aprendam a ler e escrever antes do término do ano letivo, essa observação faço baseada na fala de pais que evidenciei na reunião de pais onde estive presente. É evidente que por mais que a professora tente se desprender de atividades repetitivas e estéreis os pais têm provocado-a encaminhar tarefa para casa e a cobrar o tão famoso caderninho de atividade. A professora tem se mostrado bem angustiada em relação às cobranças feitas pelos pais, para que ela introduza em suas aulas as práticas escolarizantes, ou seja, exercícios de junção de letras formando sílabas e palavras. Nesse contexto de práticas, foi possível perceber a importância dada às atividades orais trazendo pra este contexto a discussão coletiva de vivências entrelaçadas nas brincadeiras, música, dança e histórias contadas pelas crianças. Dentro desses fazeres o respeito e as regras vão sendo estabelecidas numa construção diária e permanente. Esperamos poder contribuir com nossa experiência de pesquisa instigando a todos que lerem este trabalho para que se sintam parte integrante da cultura lúdica da infância nas Escolas de Educação Infantil em nosso país, tarefa árdua, porém possível de ser realizada, da mesma forma que Malaguzzi tão brilhantemente realizou nas Escolas de Educação Infantil de Réggio Emillia. 8
9 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASSEDAS, Eulàlia. HUGUET, Teresa. SOLÉ, Isabel. Aprender e Ensinar na educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, CHARTIER,Anne-Marie.CLESSE,Christiane.HÉBRARD,Jean. Ler e escrever: entrando no mundo da escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, DEMO, Pedro. Pesquisa participante: saber pensar e intervir juntos. Brasília: Líber Livro, FARIA, Ana Lúcia Goulart. PALHARES, Marina Silveira. Educação Infantil pós LDB: rumos e desafios. 4a ed. Ver. E ampl. Campinas-SP: Autores Associados, FAZENDA, Ivani (org.). Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, FOUCAMBERT, Jean. A criança, o professor e a leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, GNERRE, Maria Bernadete M. Abaurre et alii. Leitura e escrita na vida e na escola. Leitura: Teoria e prática. Campinas: ALB, v.4, n.5, p.15-26,1985. JOBIM E SOUZA, Solange. Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamim. 9 ed. Campinas: Papirus, KRAMER, Sonia (Org.). Profissionais de educação infantil: gestão e formação. São Paulo: Ática, BASÍLIO, Luiz Cavaliere. Infância, Educação e Direitos Humanos. São Paulo: Cortez, LEITE, Maria Isabel.(Orgs.) Infância: fios e desafios da pesquisa. 7 ed. Campinas: Papirus, KUHLMANN Junior, Moysés. Infância e educação Infantil: uma abordagem histórica. 3 ed. Porto Alegre: Mediação, LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira: História & Histórias. 6.ed. São Paulo: Ática, 2003.
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