O REGISTRO COMO INSTÂNCIA DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR
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- Igor Amorim Farias
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1 Título do artigo: O REGISTRO COMO INSTÂNCIA DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR Área: Educação Infantil Selecionadora: Heloisa Magri 16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 1
2 O registro do professor tem múltiplas formas e funções. Como instrumento para guardar a memória de seu percurso profissional, possibilita voltar uma e outra vez às próprias práticas de uma forma mais distanciada, sem a presença das demandas e urgências do dia a dia da sala de aula. Esta revisita às práticas, favorece que o professor possa identificar como intervinha em determinados momentos e como intervém agora, seja em propostas de uma determinada área de conhecimento, seja na gestão de sua rotina ou mediação de conflitos. Favorece também, que o educador identifique a ampliação de seu repertório de ações frente às questões das mais diversas naturezas. Tornar o próprio percurso como objeto de reflexão é uma instância de formação. Agora, para que o registro possa cumprir com essa função, é fundamental que seja realizado com sistematicidade, caso contrário perde-se o processo, o desenvolvimento das ações ao longo de um determinado tempo. Outro aspecto crucial refere-se às informações registradas, pois uma vez que se quer retomá-las em diferentes momentos, próximos ou distantes, é necessário que este resgate seja possível. Informações muito breves, ou descontextualizadas, obstaculizam esse processo. Quando o professor explicita suas ações e intenções, evidenciando os porquês e para quês, pode encontrar sentido nestas informações mesmo que tenham sido registradas há tempos atrás, em outro contexto. Ao registrar, o professor organiza seu fazer e documenta sua história, segundo Madalena Freire A escrita materializa, dá concretude ao pensamento, dando condições assim de voltar ao passado, enquanto se está construindo a marca do presente. É nesse sentido que o registro escrito amplia a memória e historia o processo, em seus momentos e movimentos (...). Pensar sobre a própria prática é um bom caminho para que cada um identifique o seu fazer pedagógico, único, singular e, ao mesmo tempo, reconheça aspectos gerais como características da faixa etária com a qual trabalha, relacione quais situações propostas foram mais potentes para a aprendizagem das crianças e o que havia de comum entre elas etc. Pouco a pouco constrói aquela que é sua teoria, sua forma de explicar o ensino e as aprendizagens, e depois, dialogar com outras teorias e explicações. À medida que o professor pensa sobre sua prática, a registra e volta a ela, pode tornar-se cada vez mais reflexivo, nas palavras de Lino de Macedo (..) Refletir é ajoelhar-se diante de uma prática, 16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 2
3 escolher coisas que julgamos significativas e reorganizá-las em outro plano para, quem sabe, assim podermos confirmar, corrigir, compensar, substituir, melhorar, antecipar, enriquecer, atribuir sentido ao que foi realizado. O ideal é que o registro tenha um interlocutor, seja a direção, um professor ou a equipe docente da escola. Mas cabe destacar que, como dito acima, o ato de escrever favorece a apropriação de um processo complexo, que é a formação dos professores. Seja um profissional iniciante ou muito experiente, ao colocar seu pensamento no papel, o organiza, sequencia e seleciona as informações, de forma distanciada da prática. Enquanto desenvolve o trabalho com as crianças, os professores atendem demandas simultâneas: envolve o grupo para que todos participem, ouve atentamente as falas de cada um, media as construções de saberes intervindo individualmente e coletivamente, ajuda a resolver conflitos etc. Esta é a dinâmica de sala de aula - intensa e diária onde o professor organiza a própria atuação e a do grupo. Ao registrar estabelece um foco sobre o que quer deixar por escrito sem tais interferências, o que propicia um aprofundamento sobre este objeto. O registro, além de ser um diálogo estabelecido consigo mesmo e com outros interlocutores, é também ponto de partida do planejamento das próximas atividades. Permite que sejam feitos ajustes, que se tome um novo caminho, que se dê continuidade ao proposto para que as crianças possam avançar na construção de conhecimentos sobre os conteúdos das diversas áreas. Na Educação Infantil, o registro dos processos de aprendizagem do grupo como um todo e de cada criança em particular, feito pelo professor, é a fonte de informações que nortearão a avaliação. É o educador quem comunica aos pais e às próprias crianças os avanços e conquistas realizados. Um dos instrumentos utilizados com esta função é o portfólio e a esta prática nos dedicaremos a seguir. 16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 3
4 O portfólio como instrumento de comunicação das aprendizagens na Educação Infantil O portfólio é um instrumento de avaliação das aprendizagens das crianças. Permite ao educador um olhar atento quanto ao foco do ensino e aprendizagem, um acompanhamento par e passo das progressões e dos desafios de seus alunos, através da documentação do percurso trilhado pelas crianças. Para fazer o registro das aprendizagens das crianças, é preciso que o educador tenha claro o que quer revelar, porquê, para quê e de que forma irá organizar as informações para que o leitor compreenda as etapas e as singularidades deste percurso. As crianças devem participar no processo de elaboração e construção do portfólio desde o início para que faça sentido a elas. Compartilhar com o grupo a proposta, apresentar o suporte que será utilizado pasta espiralada, caixa com fichas, um formato criado pela escola etc. e que ali serão registradas todas as aprendizagens que cada um fará ao longo de um determinado tempo é importante para que sejam incluídos no processo de avaliação. As crianças, ao se familiarizarem com este instrumento poderão ter uma participação progressiva, cada vez mais ativa, dando sugestões sobre materiais que podem ser incluídos, selecionando produções significativas para elas, ajudando na própria montagem. Se partirmos do princípio de que a avaliação na Educação Infantil é um processo que envolve a observação sistemática das crianças durante as mais variadas atividades da rotina escolar, em circunstâncias que sejam representativas do seu comportamento ao longo do tempo, o registro das observações realizadas pelo professor deve seguir este mesmo desenho, ser regular, processual e contemplar as mais diversas propostas e situações. É importante que se baseie em atividades reais e não em situações artificiais criadas com o intuito de serem objetos de avaliação. Desta forma, será possível comunicar o processo de aprendizagem e não uma proposta pontual que não o represente. Incluir o registro de rodas de conversa, falas da criança durante os mais diversos momentos, fotos que comuniquem ações (acompanhadas de legendas ou textos breves que as contextualizem), produções significativas etc. favorecem que a comunicação com os pais e a 16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 4
5 própria criança garanta a singularidade de cada um. É preciso reconhecer a diversidade individual da aprendizagem, bem como as diferenças de estilos e ritmos de aprendizagem. O portfólio pode contribuir e muito para que o professor que assumirá o grupo no próximo ano letivo possa dar continuidade ao processo de aprendizagem das crianças, já que ali estarão registrados os momentos mais significativos de cada uma. Uma possibilidade interessante é que o portfólio passe de ano a ano, acompanhando a criança durante sua permanência na escola, uma rica oportunidade para que ela construa sua história assim como o professor o faz ao ter um registro permanente de suas ações. 16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 5
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