FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA CURSO DE PSICOLOGIA SONIA A. BORGES DE QUADROS PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA: UMA REVISÃO NARRATIVA BRASILEIRA
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1 FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA CURSO DE PSICOLOGIA SONIA A. BORGES DE QUADROS PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA: UMA REVISÃO NARRATIVA BRASILEIRA SANTA MARIA, RS 2017
2 1 SONIA A. BORGES DE QUADROS PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA: UMA REVISÃO NARRATIVA BRASILEIRA Artigo apresentado à Disciplina TCC II, do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria FISMA, como requisito parcial para obtenção do grau de Psicóloga. Orientadora: Profª Ms. Lilian Ester Winter SANTA MARIA, RS 2017
3 2 PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA: UMA REVISÃO NARRATIVA BRASILEIRA Sonia Quadros 1 Lilian Ester Winter 2 RESUMO O presente estudo teve como objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica, a fim de verificar os estudos científicos existentes, desenvolvidos no Brasil, a respeito da Psicologia Anomalística, divulgados, especificadamente, no período de 2007 a O estudo diz respeito a uma revisão de literatura, na modalidade de revisão narrativa, apresentando um caráter descritivo-discursivo. A pesquisa bibliográfica foi realizada a partir da busca, na modalidade online, de produções científicas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), bem como na base de dados The Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Os descritores selecionados foram Psicologia Anomalística ; Experiências Anômalas e Experiências Espirituais. Optou-se pelo período mencionado, embora considerado longo para alguns leitores, pela necessidade de se conseguir artigos científicos com dados atuais e relevantes. Os artigos científicos analisados, apresentados e discutidos, narram a importância da produção na área da Psicologia Anomalística, uma vez que esta contribui, de forma significativa, para a compreensão das experiências religiosas e anômalas, ou seja, da relação entre vivências anomalísticas e processos psicológicos. Este estudo proporcionou, também, o conhecimento de critérios utilizados para a identificação e a distinção entre experiências anômalas saudáveis e transtornos mentais de fundo religioso. Evidenciou-se um destaque com relação às experiências ufológicas como não sendo pertencentes ao grupo dos transtornos mentais, da mesma forma que as experiências relatadas sobre as luzes anômalas que ocorrem em Minas Gerais que, para alguns estudiosos, têm cunho religioso, enquanto para outros são apenas produto da memória individual e coletiva de moradores idosos da região. O estudo apontou que pessoas que se definem como não religiosas, apenas espirituais, têm maior número de experiências anômalas ao longo da vida. Como resultado, constatou-se a necessidade de aprimoramento dos critérios psicológicos que possam diferenciar uma experiência anômala de um transtorno mental, sob a justificativa de que, de acordo com o resultado, haverá o encaminhamento para tratamento ou não, ou até mesmo para internação em uma instituição de saúde mental, conforme o caso. Palavras - chave: Psicologia anomalística. Experiências anômalas. Experiências espirituais. 1 Autora. Aluna do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria FISMA. 2 Orientadora. Professora da Faculdade Integrada de Santa Maria FISMA.
4 3 ABSTRACT This study aimed to carry out a literature research to verify the existing scientific studies, developed in Brazil, about the Anomalistic Psychology, specifically published in the period between 2007 to The study concerns a literature review, in the form of narrative review, showing a descriptive-discursive character. The bibliographic research was carried out based on the online search of scientific productions in the Virtual Health Library (VHL), as well as in the Scientific Electronic Library Online (SCIELO). The key words selected were "Anomalistic Psychology"; "Anomalous Experiences" and "Spiritual Experiences." The period chosen was the one mentioned, although it is considered long for some readers, by the necessity of obtaining scientific articles with current and relevant data. The analyzed, presented and discussed scientific articles, show the importance of production in the area of the Anomalistic Psychology, since it contributes significantly to the understanding of religious and anomalous experiences, that is, the understanding of the relation between anomalistic experiences and psychological processes. This study also provided the knowledge of criteria used to identify and distinguish between healthy anomalous experiences and religiously based mental disorders. It was evidenced that the ufological experiences don t belong to the group of mental disorders, as well as the experiences reported about the anomalous lights that happen in Minas Gerais (Brazil), which for some scholars are religious, while other think it is only product of elderly residents individual and collective memory of the region. The study pointed out that people who define themselves as non-religious, only spiritual, have a greater number of anomalous experiences throughout their life. As a result, it was verified the need to improve the psychological criteria that can distinguish an anomalous experience from a mental disorder, with the justification that, according to the result, there will be a medical referral for treatment or not, or even for hospitalization in a mental health institution. Key-words: Anomalistic Psychology. Anomalous Experiences. Spiritual Experiences. INTRODUÇÃO O presente estudo desenvolveu-se tendo como temática a Psicologia e as Experiências Anômalas (EAs). A questão da Psicologia e das Experiências Anômalas tem despertado a curiosidade de muitos acadêmicos e profissionais, principalmente das áreas da Psiquiatria e da Psicologia. Muitas experiências anômalas têm sido explicadas pela religião e pela espiritualidade, entretanto, a intenção, neste trabalho, é efetuar uma busca de produções científicas que embasam a temática. Discorrer sobre Religião/religiosidade é abordar experiência religiosa, desvelando o objeto religioso em conjunto com um sujeito concreto. A manifestação da religião é perceptível, como experiência religiosa (vivência) frente ao mistério, ao sagrado e ao inexplicável. O sentido religioso é o sentido do todo; é uma experiência
5 4 vivida no limite, uma revelação que permanece oculta (HOLANDA, 2017, p. 134). Foi nesse contexto que as experiências anômalas contribuíram para o surgimento de uma nova área na Psicologia - a Psicologia Anomalística. Essa parte da Psicologia estuda as vivencias e processos psicológicos referentes às percepções extra-sensoriais, entre elas, a capacidade de mover objetos, além de interferir na realidade de outras formas, por meio do pensamento, experiências fora do corpo, lembranças de vidas passadas, experiências de quase morte, contatos com alienígenas, curas espirituais, êxtases místicos, entre outras (CARDEÑA, LYNN, KRIPPNER, 2013, p. 64). O estudo da Psicologia Anomalística ajuda a esclarecer questões relacionadas à espiritualidade pelo viés da dimensão humana e acadêmica. Essa circunstância é vista como uma busca por respostas a indagações no que se refere à compreensão do que representam as experiências anômalas e sua implicação na vida dos sujeitos. O estudo desse conhecimento se torna complexo na medida em que as experiências anômalas que provocam a compreensão são direcionadas a agentes externos e/ou de difícil operacionalização e delimitação (MACHADO et. al., 2016). No Brasil, os estudos sobre as experiências anômalas iniciaram e tiveram um crescimento considerável em sua produção acadêmica a partir do ano de 2009, com a implantação da disciplina Experiências Anômalas e Introdução Crítica: a Psicologia anomalística e suas relações com a Psicologia Social, pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, coordenada pelo Prof. Dr. Wellington Zangari, principal divulgador desse estudo no Brasil (MACHADO, 2009). A Psicologia Anomalística surgiu em fins da década de 1970, início da década de 1980, mesmo diante de um contexto descrente com relação às narrativas de ocorrências de eventos paranormais. Conforme elucidam Zangari et. al. (2017), relatos de experiências relacionadas à interação anômala com o ambiente (extramotora) e entre mentes (extrassensorial), ou seja, experiências sem a intermediação de mecanismos já conhecidos anseiam, na maioria dos casos, pela compreensão dessas experiências, mesmo que seja no campo das explicações religiosas. Entre as principais experiências anômalas já relatadas, sobressaem-se as percepções extrassensoriais; a capacidade de mover objetos e de influenciar a realidade de outras formas através do pensamento (psicocinesia); as experiências fora do corpo; as lembranças de vidas passadas; as experiências de quase morte; os
6 5 contatos com alienígenas; as curas espirituais; os êxtases místicos, entre outras. A maioria dessas experiências recebe explicação pautada na espiritualidade e na religiosidade (CARDEÑA, LYNN, KRIPPNER, 2013). O termo espiritualidade é considerado polêmico, inclusive na Psicologia apresenta poucos pesquisadores e, consequentemente, poucos estudos publicados sobre o tema. Pesquisas que envolvem as experiências anômalas oferecem novas possibilidades de compreensão dos sujeitos partindo de um olhar multidimensional, ou seja, em sua dimensão somática, psíquica, social, espiritual entre outras, o que amplia conhecimentos de forma holística do ser humano. Há quem o utilize para referir-se a um domínio existente para além do plano físico, ao suposto mundo de entidades espirituais. É sob esse mote que diversas correntes religiosas encontram justificativa para relacionar experiências/eventos anômalos, aos quais chamam de espiritualidade no sentido de mundo, à dimensão espiritual que se manifestaria no plano humano, natural, terreno. Em uma perspectiva acadêmica, o termo espiritualidade é utilizado, na maioria das vezes, para identificar uma dimensão humana existencial e/ou transcendente, relacionada às crenças e aos valores organizados, ou não, em torno de uma doutrina religiosa específica (MACHADO et al., 2016). De outra perspectiva, de acordo com Machado et. al. (2006), tem-se o termo religiosidade, o qual compreende-se estar relacionado à esfera da prática, a alguma religião/doutrina específica, sendo que, nesse caso, a espiritualidade estaria relacionada a uma dimensão humana mais ampla, unida ao que dá significado a vida, que motiva a existência sem, necessariamente, referir-se a algo para além do plano humano. A respeito desta questão, Machado (2009), em estudos realizados no âmbito da temática, afirma que: a escolha de uma atribuição de causalidade religiosa depende de uma predisposição do experienciador para interpretações religiosas e de um repertório ou vocabulário religioso. Todos temos acesso a informações sobre sistemas religiosos, e os conhecemos pelo menos até certo ponto. Mas, embora explicações religiosas sejam acessíveis, nem todos explicam tudo em termos religiosos. Faz diferença o peso que se dá a cada uma das explicações disponíveis. [...] a imagem daquilo ou daqueles a quem são feitas as atribuições são fundamentais na medida em que estão ligadas à construção de sentidos ao longo da vida, sentidos esses que se refletem na linguagem dos sujeitos. A escolha de uma atribuição religiosa ou naturalista, de uma explicação de base afetiva ou racional vai depender do
7 6 contexto cultural e de diferenças individuais (MACHADO, 2009, p. 252). Portanto, a escolha religiosa se dá a partir do esforço de quem quer convencer o outro e do entendimento de quem está sendo convencido, sendo que, entre os dois existe a influência das diferenças culturais e individuais. Vale ressaltar, aqui, que registros das tradições sagradas da humanidade também citam Experiências Anômalas. Na Bíblia, o Velho Testamento faz alusão aos profetas nomeados por Jeová, os quais narravam habilidades anômalas. Entre essas habilidades estavam o ouvir e o ver a distância; alcançar curas milagrosas e profetizar eventos. No Novo Testamento, apontamentos aludem que Jesus concretizou três ressurreições, oito milagres sobre a natureza e vinte e três curas inexplicáveis, além de ter o poder de ler os pensamentos daqueles que o rodeavam, conhecer eventos à distância, caminhar sobre as águas, transformar água em vinho e acalmar as tempestades. Tais registros apontam que os apóstolos de Jesus manifestavam experiências, possivelmente anômalas, chamadas pela Bíblia de dons espirituais ou de carismas, o que sugere que foram outorgados pela graça de Deus (ZANGARI; MACHADO; MARALDI, 2015). Estudos experimentais como, por exemplo, os de Zangari, Machado e Maraldi (2015), tendo como foco as Experiências Anômalas relacionadas à Psicologia, exploraram estados modificados de consciência e produziram resultados significativos. Por outro lado, alguns estudos, como os de Martins e Zangari (2012) e de Martins (2015), por exemplo, têm enfatizado a importância de se considerar certas experiências anômalas como muito próximas das experiências religiosas clássicas. As experiências de abdução por alienígenas ou de visões de naves alegadamente tripuladas por seres ultramundanos seriam exemplos dessas experiências. Para Medeiros (2014), as Experiências Fora do Corpo (EFC) são definidas por seu alto teor espiritual/religioso, sendo, muitas vezes, entendidas como mediunidade e tendo trazido, diversas vezes, conteúdos morais sobre a necessidade da caridade ou mesmo sobre o entendimento da EFC como forma de praticar a caridade (MEDEIROS, 2014, p.45).
8 7 Nesse entendimento, as experiências fora do corpo são vistas como algo relacionado à espiritualidade/religiosidade, tendo como finalidade contribuir para o bem-estar da humanidade. No passado, existiam psicólogos que entendiam a espiritualidade e a religiosidade como equivalentes. Dessa forma, ambas eram percebidas sob a perspectiva da religião e vice-versa. Entretanto, a partir da década de 1980, outras configurações de fé, denominadas como espirituais, expandiram-se e tornaram-se populares. Com isso, muitos indivíduos passaram a se definir apenas como espiritualizados, sendo fiéis ou não a uma afiliação religiosa em particular, mas considerando apenas a busca por um sentido, por uma completude ou por um significado na vida (MARALDI, 2011, 2014; SHIMABUCURO, 2010). Modernamente, por outro lado, religiosidade e espiritualidade são consideradas questões distintas. A religiosidade parece estar atrelada a templos, por exemplo; enquanto a espiritualidade define-se como tudo aquilo que leva à plenitude. Ao voltarse para certas experiências anômalas, pesquisadores as têm comparado às experiências religiosas. Na literatura encontram-se estudos contendo relatos importantes a respeito de Experiências Anômalas. Dentre esses, evidencia-se a investigação de eventuais correlações entre crenças/posturas pessoais, a frequência e o feitio de experiências anômalas; além de disposições humanas facilitadoras ou limitadoras de determinadas experiências ou mesmo de eventuais eventos físicos anômalos (MACHADO, 2009). Estudando a prevalência e a relevância das Experiências Anômalas do tipo extra sensório motor, analisando uma amostra da população brasileira, Machado (2009) constatou não haver diferenças estatisticamente importantes no nível de religiosidade entre pessoas que descrevem experiências anômalas (experienciadores) e as que não relatam tais espécies de experiências (não experienciadores). Nos mesmos estudos, ainda, o autor verificou que os experienciadores estavam mais inclinados a certos tipos de crença, como a crença na reencarnação, por exemplo, que os não experienciadores. Em seus estudos, Menezes Júnior e Moreira-Almeida (2009) elencaram nove critérios distintivos entre Experiências Anômalas saudáveis e transtornos mentais de conteúdo religioso, identificando-os como a ausência de sofrimento psicológico, a
9 8 ausência de prejuízos sociais e ocupacionais, a duração curta da experiência, a atitude crítica preservada, a compatibilidade com o grupo cultural ou religioso do paciente, a ausência de comorbidades, o controle sobre a experiência, o crescimento pessoal ao longo do tempo e a atitude de ajuda aos outros. A Psicologia Anomalística é capaz de esclarecer dúvidas relacionadas à espiritualidade, seja quanto à acepção da dimensão humana, seja quanto ao âmbito acadêmico. Tal ajuda deve ser compreendida como a procura por respostas a perguntas ainda em aberto. Esclarecer se torna difícil na medida em que as Experiências Anômalas desafiam a compreensão e; além disso, podem rumar para agentes externos e/ou de difícil operacionalização e delimitação (MACHADO et. al., 2016). Por outro lado, mais importante que colocar-se contra ou a favor da existência de fenômenos parapsicológicos autênticos, é compreender o que tais experiências, alegações e crenças, permitem conhecer de seus experienciadores e como tais experiências impactam suas vidas e seus grupos. Além disso, compreender essas experiências é fundamental para que se possa evidenciar sua importância para a Psicologia. Esse ponto de vista tem motivado a formação de grupos de pesquisadores tanto no exterior, quanto no Brasil, tendo como resultado uma produção sui generis no campo das Experiências Anômalas (ZANGARI et. al., 2017). As produções referidas são significativas para, pelo menos, três campos em cada uma das três facetas das Experiências Anômalas, sendo essas conhecidas como: (1) sua relação com a religiosidade; (2) sua aparente inexplicabilidade em termos psicológicos; e (3) sua dimensão mais prosaica ou psicológica convencional. Diante disso, fica evidente a importância desse campo para a Psicologia da Religião, para a Parapsicologia e para a Psicologia Anomalística cética (ZAGARI et al., 2017, p. 177). Portanto, o estudo das EAs mostra-se relevante tanto para a Psicologia da Religião, quanto para a Parapsicologia e para a Psicologia Anomalística descrente, em razão da possibilidade já mencionada de compreender o que tais experiências, alegações e crenças nos permitem conhecer de seus experienciadores e como tais experiências impactam suas vidas e seus grupos, considerando estes fenômenos como parte da existência humana.
10 9 Com base nas evidências apresentadas, o presente estudo tem como objetivo geral realizar uma pesquisa bibliográfica, a fim de verificar os estudos científicos desenvolvidos no Brasil, a respeito da Psicologia Anomalística, divulgados no período compreendido entre 2007 e Ademais, entre os objetivos específicos, buscou-se identificar, também, quais os temas mais estudados na área da Psicologia Anomalística, para verificar e conhecer os resultados encontrados nas pesquisas da área. MÉTODO O presente estudo caracterizou-se como uma pesquisa narrativa. Cordeiro et. al. (2007) destacam que, quando comparada à revisão sistemática, a revisão narrativa ou tradicional apresenta uma temática mais aberta, dificilmente partindo de uma questão de pesquisa bem definida, o que não exige um protocolo rígido para sua confecção. Além disso, a busca das fontes não é pré-determinada, sendo frequentemente menos abrangente. A forma de seleção dos artigos é arbitrária, provendo o autor de informações sujeitas ao viés de seleção, com grande interferência da percepção subjetiva. Para tanto, a busca bibliográfica foi realizada de modo online, na plataforma Biblioteca Virtual em Saúde (BIREME ABVS), bem como na The Scientific Electronic Library Online (SCIELO). A busca pelas produções científicas ocorreu nos meses de agosto e setembro de 2017, tendo como descritores: Psicologia Anomalística, Experiências anômalas e Experiências espirituais, sendo a delimitação temporal de publicação das produções selecionadas o período de julho de 2007 a julho de Optou-se por esse período de dez anos por ter sido julgado tempo necessário para a obtenção de artigos científicos com dados atuais e relevantes a respeito da temática envolvendo a Psicologia Anomalística e devido, também, a uma busca prévia realizada que acabou por mostrar que, nos últimos anos, a produção se mostrou mais substancial. Os critérios de inclusão elencados para o estudo consideraram artigos na íntegra com disponibilidade de acesso ao texto completo em suporte eletrônico, e dissertações e teses disponíveis nas plataformas acessadas, publicadas em periódicos nacionais, contemplando a temática e objetivo do estudo e estando no
11 10 período temporal selecionado. Os critérios de exclusão, por sua vez, foram de artigos sem a abordagem da temática do estudo e desprovidos de contribuição para implementação do objetivo do mesmo, não contemplando os dez anos de delimitação temporal selecionado, bem como artigos não disponíveis na íntegra na plataforma online ou publicados na literatura científica fora do âmbito nacional. Para posterior análise dos dados, adotou-se como mote a análise de conteúdo em três etapas, proposta por Bardin (2011). Por meio da busca dos artigos, foram encontrados, a partir dos descritores elencados, 322 (trezentos e vinte e dois) artigos, tendo sido excluídos, destes, 304 (trezentos e quatro) por não abordarem a temática e não se enquadrarem no objetivo do estudo e outros 12 (doze) por não estarem disponíveis para consulta online. Desse modo, 06 (seis) artigos científicos compuseram esta revisão narrativa, contendo os critérios de seleção elencados, os quais foram identificados pela letra A de artigo, precedida do número ordinal respectivo à sua classificação. Na Tabela 1, apresentada abaixo, o número de artigos encontra-se distribuído por Banco de Dados. Descritor LILACS MEDLINE SCIELO TOTAL Psicologia anomalística Experiências anômalas Experiências espirituais Total Tabela 1 - elaborada pela autora (2017), a partir dos respectivos Banco de Dados. Analise dos dados No exercício de análise dos dados, adotou-se a proposta de análise de conteúdo. Bardin (2011) a define como sendo um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p. 47).
12 11 O autor recomenda o procedimento da análise de conteúdo em três fases principais, compostas primeiramente pela pré-análise, em seguida pela exploração do material e, por fim, pelo tratamento dos resultados - a inferência e a interpretação. Bardin (2011), ao propor a análise em três frases, descreve cada uma delas. A primeira fase, chamada de pré-análise, é denominada a fase de organização, tendo como integrante a leitura flutuante, ou seja, um primeiro contato com os documentos que serão submetidos à análise, a escolha deles, a formulação das hipóteses e dos objetivos, a elaboração dos indicadores que orientarão a interpretação e a preparação formal do material. Na segunda fase, ou fase de exploração do material, são escolhidas as unidades de codificação. A partir da escolha das unidades, o passo seguinte deverá ser a classificação em blocos que expressem determinadas categorias, que confirmem ou modifiquem àquelas, presentes nas hipóteses, e referenciais teóricos inicialmente propostos. Por fim, a terceira fase do processo de análise do conteúdo é o tratamento dos resultados a inferência e interpretação. Após, passa-se à interpretação de conceitos e de proposições. Durante a interpretação dos dados, é preciso voltar atentamente aos marcos teóricos, pertinentes à investigação, pois eles dão o embasamento e as perspectivas significativas para o estudo. A relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica, é que dará sentido à interpretação (BARDIN, 2011, p. 146). Ao serem concluídas essas fases, o processo de Análise de Conteúdo é concluído; entretanto, deve-se considerar que há variações na maneira de conduzir esse processo. RESULTADOS Após ter sido realizada a seleção e a leitura dos artigos, os resultados encontrados foram organizados de forma descritiva, por meio da construção de dois quadros sinópticos. No primeiro quadro, foram inseridos a identificação, o título, o nome do(s) autor(es), o periódico em que o artigo foi publicado e seu ano de publicação; o que facilitou a síntese das temáticas desenvolvidas. Já no segundo
13 12 quadro, apresenta-se a caracterização dos estudos selecionados, expondo o(s) objetivo(s), métodos, principais resultados e conclusões da pesquisa. Nos resultados, observou-se que, em relação ao ano de publicação, em 2017 foi publicado um artigo (A1); em 2016 foram duas as publicações (A2; A3); em 2013, uma publicação (A4); em 2012 também uma publicação (A5); e em 2010, outra publicação (A6), totalizando, assim, os 06 (seis) artigos analisados, apresentados e discutidos neste estudo. Identificação Título Autor(es) A1 A2 Psicologia da Religião e Psicologia Anomalística: aproximações pela produção recente Contribuições da psicologia para a compreensão das relações entre a espiritualidade, a religiosidade e as experiências anômalas ZANGARI, Wellington; MACHADO, Fatima Regina; MARALDI, Everton de Oliveira; MARTIN, Leonardo Breno. MACHADO, Fátima Regina et. al. Periódico publicado e Qualis Rev. Pistis Prax. Teol. Pastor. Curitiba. Qualis, B4 Revista Clareira Revista de Filosofia da Religião Amazônica. Qualis B4 Ano de publicação A3 A4 A5 A6 Experiências anômalas tipicamente contemporâneas e psicologia: uma revisão da literatura. Personalidade, religiosidade e qualidade de vida em indivíduos que apresentam experiências anômalas em grupos religiosos Relações entre experiências anômalas tipicamente contemporâneas, transtornos mentais e experiências espirituais. Experiências anômalas (extrasensório-motoras) na vida cotidiana e sua associação com MARTINS, Leonardo Breno. ALMINHANA, Letícia Oliveira; MENEZES JR., Adair; MOREIRA- ALMEIDA, Alexander. MARTINS, Leonardo Breno; ZANGARI, Wellington. MACHADO, Fatima Regina. Bol. - Acad. Paul. Psicol. Qualis B2 J. Bras. Psiquiatr. Qualis B1 Rev. psiquiatr. Clín. Qualis B1 Boletim Academia Paulista de Psicologia
14 13 crenças, atitudes e Qualis B2 bem-estar subjetivo. Quadro 1 - Síntese dos artigos incluídos no estudo referente Psicologia anomalística, elaborada pela autora (2017) Percebe-se por meio dos resultados apresentados no Quadro 1, que os artigos selecionados contemplam os descritores propostos para o estudo, ou seja: PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA (A1, A2, A3 e A6) EXPERIÊNCIAS ANÔMALAS (A1, A3 e A5) EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS (A1, A2, e A4) A partir da análise dos artigos selecionados, constatou-se harmonia, equilíbrio e coerência entre os mesmos, considerando-se aqueles pautados em uma pesquisa bibliográfica/revisão de literatura, no total de três artigos, e os outros três artigos, realizados por meio de pesquisas de campo. O quadro abaixo busca apresentar os resultados constatados: Identificaçã o A1 Objetivo(s) Artigo tem como objetivo apresentar, de modo conciso, uma visão geral da produção em Psicologia da Religião oriunda de estudos da Psicologia Anomalística. Método Pesquisa bibliográfica / Revisão de Literatura Principais resultados e conclusões A avaliação da produção recente nas áreas da Psicologia da Religião e da Psicologia Anomalística, permite afirmar que esse campo imbrincado, dada a natureza aparentemente comum de seus objetos de estudo, tem feito contribuições significativas em vários aspectos, tanto das experiências religiosas quanto das experiências anômalas. A2 Discutir diversas interfaces entre experiências anômalas, espiritualidade, religiosidade e construção de conhecimento em psicologia, ressaltando suas controvérsias e direções promissoras. Pesquisa bibliográfica / Revisão de Literatura Os estudos em Psicologia Anomalística podem, certamente, ajudar a desvendar (se não completamente, pelo menos em parte) questionamentos relacionados à espiritualidade, no sentido de dimensão humana, num âmbito acadêmico. Tal ajuda não deve ser compreendida como busca premeditada em prol da confirmação de crenças, mas uma procura por respostas a perguntas ainda em aberto. A tarefa se torna complexa na medida em que as experiências anômalas desafiam a compreensão e facilmente são
15 14 remetidas a agentes externos e/ou de difícil operacionalização e delimitação. A3 Esta revisão de literatura abarca temas como perfis psicológicos e a saúde mental dos protagonistas, dinâmicas psicossociais em grupos e outros contextos marcados por essas experiências, suas dimensões religiosas e espirituais, entre outros. Pesquisa bibliográfica / Revisão de literatura Concluiu-se que o estudo das experiências anômalas tipicamente contemporâneas presta diversas contribuições à construção de conhecimento em psicologia e em ciências próximas, além de sinalizar diversas lacunas explicativas a seu respeito e sobre fenômenos psicológicos mais amplos. Pesquisa de campo A4 A5 Investigar os perfis de personalidade, a qualidade de vida (QV) e a religiosidade em pessoas que apresentam EAs. Investigar amostras brasileiras de pessoas que alegam experiências anômalas caracteristicamente contemporâneas quanto a dimensões psicopatológicas. (Cento e quinze sujeitos que procuraram centros espíritas de Juiz de Fora/MG e que apresentavam EAs foram entrevistados: dados sociodemográficos; ITC-R (140) (Inventário de Temperamento e Caráter, revisado e reduzido); DUREL-P (Duke University Religious Index, versão em português), e WHOQOL-BREF (Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde versão brasileira abreviada)). Pesquisa de campo (Trata-se de um estudo quantitativo e qualitativo, com dados colhidos entre 2010 e 2011, a respeito de possíveis dimensões psicopatológicas das experiências óvni simples e complexas. Foi aplicada a versão detalhada do Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI PLUS) 16, que permite investigar 23 categorias diagnósticas do DSM- IV e correspondentes na CID-10 ao longo da vida.) Os indivíduos com EAs (Experiências Anômalas) que buscam auxílio parecem constituir uma população de risco para transtornos mentais ou problemas emocionais em geral, sendo preciso desenvolver abordagens adequadas e mais estudos sobre o tema. Houve evidência de que as experiências são tipicamente saudáveis, embora haja indicadores de características pré-mórbidas na infância e na adolescência dos protagonistas das experiências mais complexas. Além disso, encontrou-se certa correlação com o perfil "esquizotípico saudável", que ainda é pouco compreendido. Apesar de não terem sido encontradas evidências de transtornos mentais nas amostras investigadas, alguns temas que tocam nas complexas relações entre as experiências investidas e a cultura em que emergem foram discutidos.
16 15 A6 Pesquisa com objetivos de verificar a prevalência e a relevância psicossocial de experiências anômalas extrasensório-motoras (ou experiências psi), comparar variáveis demográficas, práticas, crenças, religiosidade e níveis de bem-estar subjetivo de EXPs (experienciadores de psi) e NEXPs (não experienciadores de psi) e verificar as atribuições de causalidade feitas pelos EXPs às suas experiências e suas implicações. Pesquisa de campo (utilizou-se o Método survey interseccional. Instrumentos: Questionário de Prevalência e Relevância de Psi (QPRP) elaborado e validado semanticamente para esta pesquisa; e a Escala de Bem-Estar Subjetivo (EBES) de Albuquerque e Troccoli. Participantes: população de conveniência de 306 universitários e/ou trabalhadores/ empresários que estudam e/ou trabalham na Grande São Paulo com idades entre 18 e 66 anos.) Quadro 2 - Caracterização dos artigos selecionados, elaborado pela autora (2017). 82,7% dos participantes alegaram ter vivenciado ao menos uma experiência psi e a grande maioria indicou influência dessas experiências em atitudes, crenças e tomadas de decisão. Tal influência está relacionada às atribuições de causalidade para as experiências psi e são coerentes com a crença, adesão/postura religiosa dos EXPs. Não houve diferença significante entre EXPs (experienciadores de psi) e NEXPs (não experienciadores de psi) quanto a gênero, renda, estado civil, adesão religiosa, religiosidade e consulta à profissionais de saúde mental. Diferenças significantes pontuais quanto a crenças e práticas mostram que EXPs são mais abertos a experiências psi que NEXPs. EXPs pontuaram significantemente mais em afetos negativos do que os NEXPs, o que sugere que EXPs têm um nível de bem-estar subjetivo (BES) mais baixo do que os NEXPs. São resultados não conclusivos que apontam tendências a serem consideradas pelos psicólogos em sua prática profissional e investigadas em próximos estudos. DISCUSSÃO Ao se lançar um olhar analítico sobre os 06 (seis) artigos científicos selecionados nas bases de dados pesquisadas, verificou-se que a temática Psicologia anomalística é abordada em 04 (quatro) artigos; enquanto as temáticas Experiências anômalas e Experiências espirituais são citadas em 03 (três) artigos diferentes. Após uma leitura criteriosa dos referidos artigos, e seguindo a análise proposta por Bardin (2011), construíram-se as categorias exigidas pelo estudo. Psicologia anomalística A partir das informações que se encontram registradas no Quadro 2, percebeuse que no artigo A1, intitulado Psicologia da Religião e Psicologia Anomalística:
17 16 aproximações pela produção recente, os autores apresentam uma visão geral da produção em Psicologia da Religião oriunda de estudos da Psicologia Anomalística (ZANGARI et. al., 2017). Zangari et. al. (2017) relatam, no referido artigo (A1), que por volta do final da década de 1970 e início da década de 1980, houve o surgimento da Psicologia Anomalística com uma perspectiva descrente frente às alegações de ocorrências de eventos paranormais. No entanto, a produção abordando esse tema tem crescido nos últimos anos, uma vez decorrência de incentivos nessa área de estudo, em nível acadêmico, tendo em vista a criação de alguns centros de pesquisa no país. No artigo A1, os autores ressaltam a importância da produção na área da Psicologia anomalística para três campos, ou seja, (1) para sua relação com a religiosidade; (2) por sua aparente inexplicabilidade em termos psicológicos; e (3) por sua dimensão mais trivial ou psicológica convencional. Desse modo, fica evidente a importância desse campo para a Psicologia da Religião, para a Parapsicologia e para a Psicologia Anomalística cética. No referido estudo, os autores concluíram que a avaliação da produção recente nas áreas da Psicologia da Religião e da Psicologia Anomalística permite afirmar que esse campo tem feito contribuições significativas em vários aspectos, tanto das experiências religiosas quanto das experiências anômalas (ZANGARI et. al., 2017). No artigo A2, por sua vez, nomeado Contribuições da psicologia para a compreensão das relações entre a espiritualidade, a religiosidade e as experiências anômalas, a autora reforça a informação de que as experiências anômalas motivaram o surgimento de uma nova área na Psicologia, a qual ficou conhecida como Psicologia Anomalística. A referida área se ocupa do estudo psicológico das vivências anomalísticas e de processos psicológicos relacionados, como respectivos correlatos neuronais, crenças, influências sociais, entre outros. Nesse estudo, Machado (2016) conclui serem essas experiências as percepções extrassensoriais, a capacidade de mover objetos e influenciar a realidade de outras formas através do pensamento (psicocinesia), as experiências fora do corpo, as lembranças de vidas passadas, as experiências de quase morte, os contatos com alienígenas, as curas espirituais, a êxtases místicos, as principais experiências anômalas vivenciadas (MACHADO, 2016).
18 17 No artigo A3, Experiências anômalas tipicamente contemporâneas e psicologia: uma revisão da literatura, o autor, Martins (2016), reconhece ser a experiência humana um dos principais temas de interesse da Psicologia. A esse tema, o autor acrescenta as experiências anômalas, as quais têm sido, segundo ele, cada vez mais pesquisadas, expandindo o leque de experiências humanas familiares à ciência. Martins (2016) reconhece que, da mesma forma que a Psicologia Anomalística se ocupa de visões de pretensos seres sobrenaturais, alegadas viagens a mundos espirituais, estados alterados de consciência e presumidas percepções além do tempo e do espaço cotidianos, é legítimo que se ocupe, também, de alegadas interações com seres anômalos tidos pelos protagonistas como "alienígenas" ou termos afins, assim como de propaladas viagens no interior de suas naves, experiências "paranormais" induzidas à ocasião e diversas outras formas de vivências estranhas relacionadas (MARTINS, 2016). Entretanto, pondera o autor (A3) que as experiências invasivas tendem a ser elaboradas pelos protagonistas como ameaças concretas à sua integridade física e psicológica, assim como os alienígenas da ficção científica e dos cenários projetados pela ciência para contato futuro com a humanidade são frequentemente tomados como invasores e destruidores em potencial. Sendo assim, conclui que experiências complexas como as abduções encenam a arquetípica jornada do herói, nas quais protagonistas experimentam amadurecimento através de um processo de "morte" de antigos padrões psicológicos e "renascimento" com novos padrões (MARTINS, 2016). Por fim, no artigo A6, intitulado Experiências anômalas (extra-sensóriomotoras) na vida cotidiana e sua associação com crenças, atitudes e bem-estar subjetivo, Machado (2010) elucida que a Psicologia Anomalística envolve estudos da pesquisa psi e das outras experiências anômalas, com enfoque especial no sujeito dessas experiências, ou seja, nos aspectos psicológicos envolvidos nessas vivências e/ou resultantes delas. A autora faz a divisão das experiências psi em dois grandes grupos, sendo um o das experiências extra-sensoriais e outro o das extra-motoras, sendo que esses dois grupos, por sua vez, apresentam subdivisões. As experiências extra-sensoriais correspondem ao que se chama de percepção extra-sensorial ou ESP (do inglês extrasensory perception), conhecida popularmente como sexto sentido. Essas experiências dizem respeito à suposta comunicação direta, imediata (sem a utilização de qualquer mediação física conhecida) entre duas ou mais mentes (telepatia) conhecida como transmissão de pensamento; ao conhecimento imediato
19 18 de eventos distantes, cuja fonte de informação seria o próprio ambiente (clarividência); e à obtenção de informações imediatas do futuro (precognição) (MACHADO, 2010). A partir disso, Machado (2010) relata ter realizado uma pesquisa do tipo survey interseccional, com o objetivo de verificar a prevalência de experiências anômalas extra-sensório-motoras (ou experiências psi) comparando características demográficas, práticas, crenças, religiosidade e níveis de bem-estar subjetivo (BES) de experienciadores (EXPs) e não experienciadores (NEXPs) de psi. Dos 306 entrevistados (idades de 18 a 66 anos), 253 (82,7%) afirmaram ter vivenciado pelo menos uma experiência anômala extra-sensório-motora (ESP); 227 (74,2%) disseram ter passado por pelo menos uma experiência anômala extra-sensorial e 171 (55,9%) afirmaram ter vivenciado ao menos uma experiência anômala extramotora (PK). Ao comparar os dados que obteve com pesquisas já realizadas, a autora percebeu que a quantidade de experiências psicocinéticas vivenciadas no Brasil é superior à relatada na literatura especializada. Nesse estudo, a autora concluiu que a prevalência de experiências psi encontrada mostra que essas vivências ocorrem de modo bastante expressivo, podendo provocar mudanças em crenças e atitudes, além da relevância social na vida cotidiana dos EXPs (MACHADO, 2010). Experiências anômalas No artigo A1, Zangari et. al. (2017) afirmam que interpretações dadas às experiências anômalas têm se mostrado influentes ou decisivas, tanto na vida particular de indivíduos e de grupos, quanto historicamente na edificação de sistemas de crenças. Experiências anômalas têm alimentado crenças, além de ter sido, frequentemente, consideradas ou utilizadas como uma espécie de validação para determinadas religiões. Essa situação ocorre quando eventos anômalos são interpretados como resultantes de algo além do seu experienciador, o que facilmente leva à busca de explicações sobrenaturais. No artigo A1, os autores citam que no survey interseccional realizado por Machado (2009), os participantes que indicaram ter vivenciado ao menos um tipo de experiência anômala dos tipos ESP (do inglês extrasensory perception) ou PK (experiência anômala extramotora) (82,7%, N = 306) fizeram atribuições de causalidade para suas experiências tendo apontado mudanças de atitude e tomadas de decisão associadas a essas experiências, entre elas, a mudança de religião. O referido estudo mostrou, ainda, reforçam os autores, que
20 19 dentre os participantes que alegaram ter vivenciado algum tipo de experiência ESP ou PK, os católicos foram os que menos consideram que sua religião os ajude a lidar com suas experiências, o que pode justificar o fato de participantes ex-católicos terem adotado religiões mediúnicas (ZANGARI et. al., 2017). No mesmo artigo, (A1), os autores citam estudo o estudo de Menezes Júnior e Moreira-Almeida (2009), os quais apontam nove critérios distintivos entre experiências anômalas saudáveis e transtornos mentais de conteúdo religioso, compreendidos como: a ausência de sofrimento psicológico; a ausência de prejuízos sociais e ocupacionais; a curta duração da experiência; a atitude crítica preservada; a compatibilidade com o grupo cultural ou religioso do paciente; a ausência de comorbidades; o controle sobre a experiência; o crescimento pessoal ao longo do tempo e uma atitude de ajuda aos outros (ZANGARI et. al., 2017). Zangari et. al. (2017) citam, ainda, um estudo realizado por Kennedy, Kanthamani e Palmer (1994), no qual 59% da amostra afirmou ter vivenciado experiências psi e/ou transcendentais/espirituais. Tal estudo evidenciou que vivenciar experiências anômalas traz benefícios aos experienciadores, promovendo bem-estar. No artigo A3, já caracterizado anteriormente, o autor (MARTINS, 2016) cita a pesquisa em que Martins e Zangari (2012) discutem relações entre transtornos mentais, experiências espirituais e experiências anômalas, incluindo alienígenas, na qual foram investigados 46 adultos brasileiros que relataram diferentes tipos de contatos com esses seres extraterrestres. Para apurar a presença ou não de transtornos mentais em seu histórico e eventuais aproximações entre esses e suas experiências ufológicas, os pesquisadores utilizaram-se do instrumento diagnóstico Mini International Neuropsychiatric Interview, versão detalhada (MINI PLUS) e validada para o contexto brasileiro, além dos nove critérios qualitativos distintivos entre experiências anômalas saudáveis e transtornos mentais elaborados por Menezes Júnior e Moreira-Almeida (2009), já citados no artigo A1. Entrevistas qualitativas buscaram levantar aspectos relevantes da biografia dos participantes, como ajustamento social e significados atribuídos aos episódios com alienígenas. Em conformidade com a literatura internacional, nesse caso, as experiências ufológicas não evidenciaram transtornos mentais. Ademais, o perfil psicológico conhecido como "esquizotipia saudável" evidenciou desempenhar um papel entre abduzidos e contatados da amostra, de modo a lhes favorecer a ocorrência de tais experiências
21 20 precoces ambíguas como alucinações e ideias não convencionais. A esquizotipia saudável diz respeito, justamente, ao perfil psicológico mais propenso a experimentar alucinações, delírios e outros "sintomas positivos" comuns às psicoses, mas sem a presença dos "sintomas negativos", como anedonia e ansiedade social (MARTINS, 2016). Ainda no artigo A3, Martins (2016) refere-se a estudos divulgados por Marçolla e Mahfoud (2002), nos quais os autores abordam as experiências relatadas sobre as luzes anômalas em Caeté, Minas Gerais. Para os estudiosos, as experiências referentes às luzes anômalas são típicas de moradores idosos e tendem a ser elaboradas em termos religiosos como divinos, malignos ou misteriosos, inomináveis. Sua veracidade não é questionada pelos protagonistas. Alguns estudiosos referemse aos relatos como produto das memórias individual e coletiva. A memória individual reforça o vínculo social, resgata e presentifica a tradição. A memória coletiva sanciona a individual, oferece-lhe contexto e complementa lacunas. Taylor (1997) complementa afirmando que a dimensão do sagrado fornece à razão contexto para reconhecer plausibilidade nas experiências, as quais, sem isso, soariam implausíveis (MARTINS, 2016). No artigo A5, nomeado Relações entre experiências anômalas tipicamente contemporâneas, transtornos mentais e experiências espirituais, Martins e Zangari (2012) referem que, quanto à relevância científica, as experiências anômalas são pessoal e culturalmente impactantes, além de altamente prevalentes. Além disso, evidenciam que, em um estudo com voluntários brasileiros, 82,7% dos 306 participantes afirmaram ter vivenciado ao menos uma experiência anômala das investigadas na pesquisa. Entretanto, as teorias científicas desconsideram tais experiências. Há, também, uma relevância clínica, se consideramos que muitos protagonistas recebem diagnósticos equivocados de profissionais de saúde despreparados para lidar com as experiências ditas anômalas. Porém, algumas experiências anômalas e alguns temas associados têm sido objeto de interesse científico, com pesquisas em diversos domínios, incluindo diagnóstico diferencial e adaptação de instrumentos relacionados (MARTINS; ZANGARI, 2012). No mesmo artigo (A5), encontra-se a informação de que uma categoria de experiências anômalas, de características contemporâneas, não tem recebido atenção adequada por parte dos pesquisadores no que se refere à sua prevalência e à sua relevância cultural, científica e clínica. Dessa categoria fazem parte as visões
22 21 de "seres alienígenas", "objetos voadores não identificados" (óvnis) e experiências correlatas complexas e pessoalmente impactantes, como alegados sequestros ("abduções") e "canalização" de mensagens ditas alienígenas, episódios aqui chamados genericamente de "experiências óvni" (MARTINS; ZANGARI, 2012). Os relatos sobre "alienígenas", dizem Martins e Zangari (2012), fazem parte da categoria contemporânea mais importante de narrativas sobre luzes anômalas em termos de mobilização social, sendo o ícone óvni a quintessência das lendas modernas. Essas experiências apresentam significativa prevalência na população geral em diversos países, variando entre 5% e 25%. O Brasil figura na mídia nacional e internacional como um dos recordistas em episódios do gênero. Experiências espirituais No artigo A1, Zangari et. al. (2017) relatam a existência de estudos enfatizando a importância de se considerar certas experiências anômalas como experiências religiosas clássicas. Os autores citam os estudos de Medeiros (2014), que afirma que as vivências anômalas se definem por seu alto teor espiritual/religioso, sendo muitas vezes entendida como mediunidade e trazendo, em diversas vezes, conteúdos morais, como sobre a necessidade da caridade ou mesmo entendendo a EFC como forma de praticar a caridade. (MEDEIROS, 2014, p.45). Os autores citam, ainda, no âmbito do estudo das crenças paranormais, os achados de Paiva et. al. (2012), em que membros das religiões sincréticas e de religiões cristãs clássicas, apresentaram padrões totalmente diferentes quanto às crenças paranormais. O estudo levou em conta a diferenciação entre crenças paranormais clássicas e crenças paranormais religiosas. Entre as primeiras estariam a crença em percepção extrassensorial, a crença em extraterrestres, em déjà vu e em curas paranormais. Dentre as últimas estariam, por sua vez, as crenças em deuses, no demônio, nos anjos, no céu, no inferno e na vida após a morte (ZANGARI et. al., 2017). No mesmo artigo (A1), os autores ressaltam um estudo realizado por Williams et. al. (2009) apontando para uma diferença significativa de atitude entre grupos que mantêm crenças paranormais clássicas e que mantêm crenças paranormais religiosas tradicionais. Assim, foi possível demonstrar que a correlação entre crenças
23 22 paranormais dependerá do sistema simbólico da religião investigada, de tal forma que é possível prever que sistemas religiosos que incluem crenças espiritualistas tenderam a apresentar mais crenças paranormais clássicas que sistemas religiosos que não incluam tais crenças espiritualistas (ZANGARI et. al., 2017). Machado et al. (2016), no artigo A2, afirmam ser Espiritualidade um termo cujo sentido é multiplicado por diferentes perspectivas que o utilizam. Há quem use o termo para designar um domínio para além do plano físico, que corresponderia ao suposto mundo de entidades espirituais. Por outro lado, numa perspectiva acadêmica, o termo é cada vez mais utilizado para se referir a uma dimensão humana existencial e/ou transcendente, ligada a crenças e valores organizados ou não em torno de uma doutrina religiosa específica. Houve um tempo em que os psicólogos da religião tendiam a compreender espiritualidade e religiosidade como equivalentes. Contudo, a partir da década de 1980, numerosas formas de fé denominadas como espirituais, mas que não se afirmavam religiosas, obtiveram expansão e popularidade, talvez como expressão de vários fatores atuando em conjunto, incluindo um declínio de instituições religiosas tradicionais, o surgimento de formas individualizadas de fé, uma ênfase maior na experiência do sagrado do que em um sistema instituído de crenças e práticas, e um crescente pluralismo religioso reforçado, em parte, pelo processo de globalização. Ao invés de se definirem como religiosos, muitos indivíduos passaram a se definir apenas como espiritualizados, valorizando não uma afiliação religiosa em particular, mas a busca por sentido, completude ou significado na vida (MACHADO et al., 2016). Indivíduos que se definem como espirituais, mas não religiosos, costumam relatar grande número de experiências anômalas. As experiências anômalas podem estimular a busca por interpretações religiosas. Na Bíblia são muitos os relatos de eventos paranormais, como sonhos premonitórios, visões proféticas e curas cientificamente inexplicáveis (MACHADO et al., 2016). Por fim, no artigo A4, intitulado Personalidade, religiosidade e qualidade de vida em indivíduos que apresentam experiências anômalas em grupos religiosos, Alminhana et. al. (2013) realizaram um estudo com o intuito de melhor compreender o tipo de população que busca ajuda em grupos religiosos no Brasil e que apresenta experiências anômalas. Ao final, o estudo apresentou características de personalidade, religiosidade e qualidade de vida (QV) em pessoas que buscaram instituições espíritas e apresentavam experiências anômalas (EAs). Além disso,
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