1. O RELACIONAMENTO ENTRE AS DIFERENTES RELIGIÕES EM MOÇAMBIQUE

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1 1. O RELACIONAMENTO ENTRE AS DIFERENTES RELIGIÕES EM MOÇAMBIQUE Excelência Ver.ma Dom Jaime Gonçalves Arcebispo da Beira Excelência Ver.ma Dom Luís Gonzaga Bispo Emérito de Lichinga Rev. Mons. Chidi Denis Isizoh Representante de Africa no C.P. D. I. R. Reverendos Sacerdotes, Reverendas Irmãs Caros Participantes, INTRODUÇÃO Sinto-me profundamente honrado e quero manifestar a minha gratidão por ter sido convidado a participar nesta décima semana teológica. Quero também secundar a actualidade do tema do Diálogo Inter-Religioso. As religiões unidas são a expressão da presença de Deus. Elas constituem o caminho perfeito da paz e da harmonia, iluminando o mundo na busca dos valores do alto. A paz mundial é a paz das religiões. A paz religiosa percorre o caminho do diálogo inter religioso, Hans Kung. 1. A RELIGIÃO EM GERAL As religiões são tão diversas como são diferentes os povos da terra. Existem muitas Religiões no mundo. Entre estas encontramos as verdadeiras e as falsas, as do livro (escritura) e da oralidade, as proféticas e místicas, as fundadas e não fundadas Religião, é um termo que vem do latim religare. Religio é o culto prestado a uma divindade. A religião implica a procura da verdade sobre a origem e finalidade do mundo, sobre o homem e suas relações com a divindade Em síntese, a religião é a maneira como um certo povo vive e manifesta o culto à divindade e é a maneira de se aperfeiçoar, individual e colectivamente tendo como objectivo a salvação. A lista do DAR (Departamento dos As suntos Religiosos do Ministério da Justiça) apresenta 658 confissões religiosas em Moçambique. Acreditamos que muitas mais ainda não estão registadas. O DAR inclui na mesma lista, religiões, igrejas, seitas e movimentos religiosos. Assim, torna-se importante delimitar a área para nos facilitar a abordagem Religiões em Moçambique Religião Cristã

2 De acordo com os dados estatísticos, os cristãos constituem o grupo maioritário também em Moçambique. As igrejas, comunidades e famílias cristãs encontram-se em quase todo o país. Os cristãos existem ligados à missão. A Igreja é por excelência missionária. A missão realiza-se também no diálogo com as outras religiões. A espiritualidade missionária caracteriza-se também pelo amor a Cristo, que veio para trazer a unidade aos filhos de Deus que andavam espalhados. Esta ideia está mais clara no documento conciliar Ad Gentes que diz: a igreja que é o sal da terra e a luz do mundo é com mais urgência chamada a salvar e renovar toda a criatura, para que tudo seja instaurado em Cristo e n Ele os homens constituam uma só família e um só povo de Deus. AG 1 Para a realização da missão, o diálogo ocupa um lugar muito particular. É um diálogo que acontece no respeito mútuo, no reconhecimento da riqueza da diversidade e avança para a colaboração nas diversas áreas Religião Islâmica Esta religião tem origem no século VII d.c., na península arábica. Maomé é o profeta fundador que deixou tudo o que constitui elemento da revelação no Alcorão. O Islão professa que Alá é o único Deus, misericordioso, omnipotente Crê que Maomé, enviado de Alá, deu a conhecer a religião no livro sagrado o Alcorão, fonte inspirada de todos conhecimentos possíveis, divinos e humanos e ao qual todo o fiel se deve referir. A doutrina islâmica encerra cinco pilares, afirma o monoteísmo, rejeita a trindade, venera Jesus, como profeta, e sua Mãe Maria. Os muçulmanos, nome comum usado em Moçambique, ocupam a costa moçambicana. Sobretudo na zona norte e a sul os muçulmanos mantêm influência considerável nas grandes cidades. A posição oficial da Igreja em relação aos muçulmanos, encontra-se no documento Nostra Aetate e diz o seguinte: A Igreja olha com estima para os muçulmanos. Adoram o Deus único, vivo, subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens e a cujos os decretos, mesmo ocultos, procuram submeter-se de todo o coração, como Abraão submeteu-se a Deus, que a fé islâmica de bom grado evoca. Embora sem o reconhecerem como Deus, veneram Jesus como profeta, honram Maria, sua Mãe virginal, à qual por vezes invocam devotamente. Esperam pelo dia do Juízo, no qual Deus remunerará todos os homens, uma vez ressuscitados. Têm por isso em apreço a vida moral e prestam culto a Deus, sobretudo com oração, esmola e jejum NA Religião Tradicional Na história dos povos, mesmo nos mais primitivos, encontra-se sempre a existência de um culto à divindade. O homem sente no profundo do seu ser, uma grande necessidade de Deus. É difícil situar na história e no tempo esta religião pelo facto de ser da tradição oral. A outra dificuldade reside em dois factos:

3 Primeiro é difícil chegar ao fundador desta religião. Mesmo assim, a história revela que é a religião de África. O segundo facto que constatamos nos nossos dias, é a dificuldade de distinguir entre o curandeiro (médico tradicional) e o líder tradicional. São duas funções distintas. Infelizmente os curandeiros também se assumem com lideres tradicionais. Um grupo considerável de moçambicanos, de acordo com as estatísticas é o terceiro grupo, tem como sua religião a religião natural. Ela é inerente ao coração do homem e implica uma moral natural Religião Hindu Hinduísmo é o termo que designa a principal religião indiana. O Hinduísmo é o resultado da evolução do bramanismo, na sequência de especulações filosóficas e da lenta integração dos cultos aborígenes. Provem também do Vedismos, do qual ainda conserva os livros sagrados. Toda esta herança é considerada pelo hinduísmo como revelação. O Hinduísmo é uma das mais antigas religiões estabelecidas a nível mundial. O surgimento data 4000 a.c., no rio Indo, no sudoeste da Índia. O Hindu acredita em Brahma, a una e única realidade, o eterno e não criado, o criador. Crê também em Vishnu, o preservador, deus suave e companheiro, deus criador e ainda causa primeira da origem do universo. Tem também a missão de salvar e redimir o mundo. Por fim o hindu crê em Mahesha, o destruidor e deus da meditação. Mahesha é atraente e terrível. Em Moçambique os hindus estão presentes em Maputo, Xai-xai, Inhambane, Beira e Tete. O Concílio Vaticano II diz o seguinte em relação a religião hindu: A Igreja Católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdade e santo Exorta, por isso, os seus filhos a que com prudência e caridade, pelo diálogo e colaboração com os sequazes doutras religiões, dando testemunho da vida e fé cristã, reconheçam, conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores sócioculturais que entre eles se encontram NA Religião Judaica O Judaísmo é a actual religião dos judeus, descendentes dos Hebreus, que receberam o seu ensinamento do próprio Deus, por intermédio de Moisés. Abraão está na origem da religião judaica. O judaísmo é uma religião monoteísta, do livro, é o povo das promessas. O judaísmo espalhou-se em todo o mundo. Em Moçambique, a penetração judaica data do século XIX. O rabino Dr Hertz chegou ao nosso país em 1899, vindo da Africa do Sul. Em 1910, a comunidade judaica, com o apoio da Africa do Sul, construí a sinagoga que se encontra na capital do país. A consagração da sinagoga teve lugar no dia 26 de Agosto de O Rabino de Johannesburg dirigiu as celebrações. O grupo de Judeus em Moçambique é composto por Judeus Russos, Romenos, Poloneses, Brasileiros e israelitas, residentes em Moçambique. O Concílio Vaticano II faz uma menção particular em relação ao judaísmo.

4 Ainda que as autoridades dos judeus e seus sequazes urgiram a condenação de Cristo à morte não se pode todavia, imputar indistintamente a todos os judeus que então viviam, nem os judeus do nosso tempo, o que na sua paixão se perpetrou. E embora a Igreja seja o novo povo de Deus, nem por isso os judeus devem ser apresentados como reprovados por Deus e malditos, como se tal coisa se concluísse da Sagrada Escritura. Procurem todos, por isso, evitar que, tanto na catequese como na pregação da palavra de Deus, se ensine seja o que for que não esteja conforme com a verdade evangélica e com espírito de Cristo. NA Outras Religiões Moçambique é muito fértil no campo religioso. Congregamos mais de seiscentas realidades, entre religiões, igrejas e seitas. Além das grandes religiões mencionadas, podemos também falar dos seguintes grupos religiosos: a. Bahais Os Bahais são uma ramificação da religião Badi, um grupo da Pérsia(Irão) que se separou do ramo Xiita do Islamismo em Em 1850, Mirza Ali Mohammed foi o líder que se auto-proclamou Bab (o portão). Mais tarde, em 1863, Mirza Hoseyn Ali Nene assumiu o nome de Bahái n lláh (Glória de Deus) e formou a nova religião Bahai. A religião Bahai não tem sacramentos, nem igreja, nem clero profissional, nem dogmas nem ritual próprio, como acontece nas outras religiões. Submetem-se a obrigações espirituais ( jejum, funeral, matrimónio) e a reuniões espirituais nas casas dos fiéis. Os bahai tem a sede em Haifa e consideram-se responsáveis da conquista espiritual do mundo. Em Moçambique os Bahais estão implantados desde Actualmente encontram-se nas províncias de Maputo, Sofala, Zambézia e Nampula. Dados estatísticos revelam que os Bahais não chegam a mil em Moçambique. a. Budismo O Budismo é uma filosofia de vida baseada nos profundos ensinamentos de Buda, para todos os seres. O budismo constitui o caminho da salvação, que consiste na auto disciplina e na meditação. O Budismo surgiu no séc. VI A.C. e visa a realização da plena natureza humana e à criação de uma sociedade perfeita e pacífica. O objectivo principal é atingir a paz e a plenitude para chegar a um estado de ausência total do sofrimento o nirvana. Para atingir o nirvana é necessário seguir a doutrina das quatro nobres verdades: O sofrimento é inerente a toda a forma de vida. A origem do sofrimento é a ignorância. É possível dominar o sofrimento extinguindo a ignorância. Domina-se o sofrimento abandonado os prazeres. O Budismo, provavelmente instalou-se em moçambique em 1992 e até 2004 só tinha vinte membros.

5 2. O RELACIONAMENTO COM O ESTADO De acordo com o Sr. Job Chambal do DAR, as estatísticas revelam que as religiões estão ordenadas do seguinte modo: Religião cristã, Religião Islâmica. Religião tradicional Africana Religião Hindu Religião Bahai Religião Xintoísta ( Em Catembe ) Religião Judaica 2.1. De 1975 até 1982 É de recordar que Moçambique tornou-se independente em 1975, sob a liderança do partido Frelimo. O mesmo partido definiu, como linha de orientação, a política marxista e definia o estado como laico. A liberdade religiosa deixou de existir. Desde a independência até 1982 as religiões sofreram clivagens. As políticas e implementação das mesmas não favoreciam os religiosos e as suas actividades. Na área da educação e da saúde, as religiões serviam o povo moçambicano, com perfeição técnica e carácter humanitário de realce. Sendo assim, havia necessidade de implementação das políticas das nacionalizações. Infelizmente, os bens das religiões foram nacionalizados. 2.2 De 1982 a 1990 A direcção do partido no poder e do estado, iniciaram um diálogo com as confissões religiosas existentes na então República Popular de Moçambique. O tema do encontro foi o reforço da unidade entre os moçambicanos, independentemente do respectivo credo religioso ou de não professarem qualquer religião. Fizeram-se presentes, neste encontro, os cristãos, muçulmanos, hindus. Esta reunião que teve como título Consolidemos Aquilo que nos Une estabeleceu nova base para o relacionamento entre a Igreja e o Estado. Como fruto deste encontro, nasceu o DAR, que actualmente é uma Direcção Nacional. O estado no mesmo encontro, incumbiu as religiões de se empenharem na ética dos crentes, na promoção da unidade nacional e no desenvolvimento do amor à pátria. Facto inédito deste encontro é a recomendação para que continue o Diálogo Inter-Religioso. No mesmo período, o estado iniciou um estudo para a devolução dos bens indevidamente usurpados as religiões. Inicia o processo de devolução que até hoje ainda não está completo. Muitas escolas, hospitais, internatos e outros bens, ainda continuam sob tutela indevidamente do estado De 1990 até os nossos dias O esforço em valorizar as actividades das religiões é crescente. Já é possível falar de universidades e hospitais que estão sob a direcção das religiões, mesmo seguindo e implementando programas do estado. É crescente a abertura para actividades religiosas. Infelizmente nem tudo corre como devia. A entrada de movimentos religiosos emergentes, enfermam o ambiente das actividades religiosas em Moçambique

6 3. RELACIONAMENTO ENTRE AS RELIGIÕES. Moçambique é um exemplo em África, e porque não, também no mundo, no que diz respeito à convivência entre as religiões. Até agora, não é possível registar conflitos entre as religiões. Casos esporádicos não mancham o ambiente de harmonia, que caracteriza o relacionamento entre as religiões, no nosso país. O contexto que envolveu as religiões em Moçambique, favoreceu para que estas se unissem. Para o Sheik Aminudim Mohamad, representante do Conselho Islâmico de Moçambique, o sofrimento infligido pelo marxismo atingiu a todas as religiões de igual forma. Num certo momento as religiões sentiram que eram consideradas como adversárias dos que detinham o poder. Este factor favoreceu para que estas estreitassem a unidade. Disse ainda, que Moçambique comparado com os outros países, é um exemplo a seguir. Nós convivemos na diversidade e é possível colocar na mesma mesa as diferentes religiões sem receios e sem ressentimentos. As nossas famílias caracteriza-se por uma compenetração de religiões. Há, por exemplo, Muçulmanos(as) que casam com os cristãos(as) Para o Sheik Aminudim Mohamad, há ainda passos a dar. Apontou a necessidade de desenvolver o diálogo, que cria mais aproximação entre as religiões. O diálogo faz-nos ganhar uma nova identidade: somos irmãos e estamos no mesmo barco. Referiu-se também as novas seitas e movimentos que se designam igrejas, que estão a emergir na sociedade moçambicana. Aludiu que é nossa missão criar um consciência da verdadeira religião para impedir a exploração do povo O Fórum das Religiões. A iniciativa da unidade das religiões nasceu há bastante tempo. Seguindo a iniciativa dos Bahai, os religiosos em Moçambique iniciaram a celebração do dia da religião, que coincide com o domingo da terceira semana de Janeiro. É um dia escolhido pela religião Bahai como momento propício para as religiões se encontrarem para a oração. Mais tarde, o grupo que preparava a celebração desta data, iniciou uma série de encontros para se debruçar sobre assuntos da religião em Moçambique. Nasceu a ideia de criar um Fórum em 1993, que congregasse diferentes religiões. O Fórum tinha como objectivos, a divulgação dos princípios de cada religião e a criação de intercâmbio entre as confissões religiosas em Moçambique O Conselho Inter Religioso de Moçambique Em 2001 foi criado o Conselho Inter Religioso de Moçambique. Este Conselho envolvia as grandes religiões, confissões religiosas e a liga dos escuteiros. Tinha como objectivos, a divulgação dos princípios de cada religião e o apoio a crianças órfãs, como resposta religiosa face a pandemia do Sida O Conselho das Religiões em Moçambique Após terem sido detectadas algumas irregularidades no funcionamento do CIRM, o grupo das religiões achou por bem criar o COREM. Actualmente o Corem promove iniciativas de diálogo entre as religiões, capacita as Igrejas e as confissões religiosas para darem um resposta positiva em relação as doenças, que grassam no nosso país. O COREM também promove encontros de oração inter religiosa e promove encontros de abordagem sobre a forma de consolidar a paz

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