Florianópolis. ... Aviões ficaram às cegas, conta um controlador

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1 Cliente: ASSOCIAÇÃO GOL 1907 Site: A Notícia Seção: Destaque Coluna:*** Jornalista:*** Data: Cm / Col: 184 Link: Pane, caos e medo Parte do espaço aéreo do Brasil fica às escuras e provoca atrasos e cancelamentos de vôos no fim de semana. Aeronáutica não descarta sabotagem e revolta controladores Brasília Pane no Cindacta-4, que controla 90% do tráfego entre o Brasil, Estados Unidos e América Central, ampliou a crise no setor aéreo do Brasil e aumentou a sensação de insegurança durante o final de semana. O apagão no sistema elétrico, na madrugada de sábado, provocou um efeito cascata nos principais aeroportos do País. Foi mais um dia de caos aéreo para os passageiros, divididos entre a indignação e o temor de novos acidentes, menos de uma semana após a tragédia do vôo 3054 da TAM. Causas Comandante da Aeronáutica acompanha pessoalmente as investigações em Manaus Cerca de 55% dos vôos programados para ontem sofreram atrasos de mais de uma hora ou foram cancelados, de acordo com a Infraero. O Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, chegou a registrar problemas em 63,6% dos vôos, um dos piores índices durante o dia de ontem. Ao todo, vôos estavam programados, dos quais 584 (ou 44%) atrasaram mais de uma hora. Outros 137, cerca de 10% do total, foram cancelados. Em São Paulo, o aeroporto mais afetado foi Congonhas, palco do maior desastre aéreo do Brasil, onde cerca de 60% dos 165 vôos programados foram afetados. O aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, teve quase o mesmo índice de atrasos, mas menos cancelamentos. Ontem, o comandante da Força Aérea Brasileira, Juniti Saito, esteve em Manaus (AM), onde fica o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta-4), para acompanhar a abertura de sindicância que vai investigar as causas do curto-circuito. A Aeronáutica não descarta a hipótese de sabotagem, mas vai investigar também se houve falha dos equipamentos ou nos procedimentos, o que pode indicar erro humano. Em uma inspeção preliminar, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo apurou que a causa principal da pane foi um erro do técnico de eletricidade de plantão. Ao fazer uma conexão errada, ele cortou o sistema de alimentação de energia externa e, com isso, os dois geradores de emergência também não puderam funcionar. A hipótese de sabotagem revoltou os controladores de tráfego aéreo que trabalham em Manaus. A Aeronáutica está procurando uma válvula de escapel. E a válvula de escape mais plausível é jogar a culpa para cima da gente. Não existiam meios físicos de realizarmos sabotagem. Não somos terroristas, disse, indignado, um controlador do Cindacta-4. De acordo com ele, 12 controladores, em Manaus, trabalhavam na noite de sexta-feira quando o apagão aconteceu. Segundo o militar, nenhum deles poderia ter acesso à rede elétrica do Cindacta-4 para promover o desligamento de toda a rede de energia do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), onde funciona o centro de controle. Esse sistema é um câncer. É obsoleto. Não temos culpa se os três geradores de energia do Cindacta-4 não funcionaram, sustentou o controlador. Foi preciso ter muita paciência

2 Florianópolis O Aeroporto Hercílio Luz, na Capital, registrou ontem um dos índices mais altos de atrasos de vôos no País. O mau tempo, a tragédia aérea de terça-feira e a pane no Cindacta-4 no sábado resultaram num domingo de longas esperas. O último boletim da Infraero divulgado às 19 horas indicava que 59,2% das partidas e decolagens foram realizadas com mais de uma hora de atraso. Até o meio-dia a média era ainda maior, quando 63,6% dos vôos operavam com atraso. No balanço divulgado pela Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) no fim da tarde de ontem, 584 vôos no País estavam com atraso superior a uma hora, o equivalente a 44% dos programados, entre 0h e 19h. A pior situação era a do Aeroporto de Porto Alegre, com atrasos em 35 dos 55 vôos agendados (63,6%). Em Florianópolis, três vôos foram cancelados no domingo. O pior atraso foi à tarde. Um avião da Gol, vindo de Porto Alegre, que deveria pousar às 12h40, só chegou na capital catarinense às 17h19, acumulando um atraso de quase cinco horas. A situação no Estado ficou prejudicada também pelo mau tempo em Porto Alegre. O efeito cascata dificultou ainda mais o cronograma das companhias aéreas no aeroporto Hercílio Luz. Atrasos também foram registrados em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Sem poder fazer nada, os passageiros tiveram que esperar os ajustes dos horários no saguão do aeroporto. O estudante Eduardo Masini iria para São Paulo num vôo da Gol agendado para as 13h30. Só que três horas depois ainda aguardava o embarque sem nenhuma notícia ou previsão para a decolagem. Até agora ninguém me explicou o motivo da demora, disse. A situação também era crítica para o aposentado João Shiguenobo Yoshiyassu. Com 79 anos, ele recebeu no início da tarde a notícia de que seu vôo, também para São Paulo, sairia com atraso de Florianópolis. A passagem dizia 14 horas. Mas quando cheguei me avisaram que foi transferido para as 18 horas. Aviões ficaram às cegas, conta um controlador O Cindacta-4 ficou às escuras durante duas horas, por causa de um curto-circuito no sistema de energia elétrica. A pane obrigou aviões vindos do exterior a aterrissarem em outros países e provocou atrasos e cancelamentos de vôos. À 0h45 de sábado, os terminais do Cindacta-4 usados para monitorar vôos saíram do ar. Aviões ficaram taxiando às cegas, contou um controlador. Para evitar uma tragédia, os controladores usaram rádios da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Segundo a Aeronáutica, havia 17 aeronaves em vôo; oito tiveram as rotas modificadas. A situação só foi normalizada a partir das 2h30. O Aeroporto de Miami informou que quatro vôos da American Airlines, com destino a São Paulo e ao Rio, retornaram à Flórida. No Aeroporto de Cumbica, cinco aviões tiveram de voltar depois de chegarem ao limite da área monitorada pelo Cindacta-4. A Aeronáutica negou ter havido risco de acidentes. Conforme nota, as comunicações foram operadas com os equipamentos high frequency do Centro Amazônico. Entidade defende ajuda internacional O governo brasileiro precisa, com urgência, aceitar uma intervenção internacional para começar a resolver a crise aérea do País. A avaliação é da Federação Internacional dos Controladores Aéreos (Ifatca, sigla em ingles). A entidade insiste que o governo brasileiro não tem a capacidade nesse momento de dar um fim aos problemas sem a ajuda da comunidade internacional, já que está preso em um debate político interno e tentando equilibrar uma reforma com o próprio poder da Aeronáutica. Chegou o momento de o governo aceitar que o plano de reforma precisa ser proposto e elaborado fora do Brasil. Outros países já fizeram isso e funcionou. Essa é a única forma de garantir que o plano seja aceito, alertou Marc Baumgartner, presidente da entidade e

3 controlador no aeroporto de Genebra. O Brasil precisa entender que um apagão aéreo ocorre em um país a cada 15 anos. Não uma vez por mês, diz o presidente da Ifatca. O tema se tornou preocupação internacional, segundo Baumgartner. O problema Um curto-circuito ocorrido em dois geradores de energia do Cindacta-4, em Manaus (AM), que deixou o sistema de controle aéreo às escuras da 0h45 às 2h30 de sábado. O centro cuida do controle do tráfego aéreo no Amazonas, Roraima e Mato Grosso e em parte do Pará. Funciona como "porta de entrada" do País, responsável por 90% do tráfego aéreo que vem dos Estados Unidos e da América Central. Apagão x tiroteio Aeronáutica Sindicância apura possibilidade de sabotagem no Cindacta-4. Falha humana é outra linha de investigação. Controladores "Não somos terroristas", protestam os controladores de vôo, que foram obrigados a trabalharem às escuras e a fazerem contato com órgãos de controle de aproximação por meio de seus telefones celulares. Empresa de energia A Manaus Energia, concessionária do serviço de distribuição de energia na capital do Amazonas, informou que na noite de sexta-feira, 20, quando ocorreu o "apagão" no Cindacta-4, a empresa não registrou cortes no fornecimento. "Não houve falta de energia. O problema foi de ordem interna", disse ontem o diretor de Distribuição da Manaus Energia, Wenceslau Abtibol. Bombeiros concluem varredura O Corpo de Bombeiros concluiu na manhã de ontem a varredura ao prédio da TAM Express. A possibilidade de encontrar corpos e grandes fragmentos está praticamente descartada, segundo os bombeiros. De acordo com o capitão José Luiz Ferreira Borges, comandante operacional das equipes, os homens conseguiram acessar todas as estruturas, inclusive as que correm o risco de ruir. "Nosso trabalho agora é o de monitorar as condições das estruturas", afirmou. Ele disse que, neste domingo, as equipes foram reduzidas pela metade, de 60 para 30 homens. Os cerca de 30 bombeiros vão permanecer no local junto a três cães farejadores. No sábado, as cadelas Dara, Anny e Dora foram utilizadas para acessar lajes do prédio à esquerda do complexo, onde estavam concentrados os trabalhos de busca, e onde os bombeiros não conseguiam entrar.ontem, um filhote foi levado para tentar ajudar os bombeiros. "A busca foi bastante minuciosa e é muito improvável existirem corpos ou grandes fragmentos de corpos", afirmou Borges. A manutenção das equipes se dá pois não está descartada a hispótese de serem encontrados pequenos fragmentos de corpos. Até a manhã de ontem, 217 sacolas com corpos e partes de corpos foram enviadas ao IML (Instituto Médico Legal). Borges disse que a maior preocupação agora é com a estrutura. Partes de pilares, lajes e paredes do prédio da lateral esquerda estão sendo recortadas com o auxílio de uma tesoura hidráulica. Na manhã de ontem integrantes de uma empresa de demolição estiveram no local do acidente para averiguar as condições das estruturas. Por enquanto, eles auxiliam os bombeiros na destruição de partes das lajes do prédio localizado ao lado esquerdo do complexo, que corre o risco de ruir. A expectativa é que os trabalhos de busca das equipes de resgate sejam concluídos até hoje. A forma mais provável para derrubar o prédio será a implosão. Os técnicos ainda não definiram detalhes da operação, mas já estudaram a planta do complexo. 61 vítimas já foram identificadas

4 O Instituto Médico-Legal (IML) de São Paulo identificou mais quatro vítimas do acidente com o avião da TAM ontem. Com isso, sobe para 61 o número de corpos identificados. A coleta de sangue de parentes de vítimas do acidente será feita em 18 Estados e no Distrito Federal a partir de hoje, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. A retirada de sangue dos familiares de vítimas começou no sábado. Até o início da tarde de ontem, 124 amostras de 84 famílias haviam sido coletadas. A medida é preventiva. Ela serve para garantir o material caso haja necessidade de exame de DNA na identificação dos corpos. A ampliação dos postos de coleta permite que os parentes hospedados em São Paulo possam voltar para casa e não precisem voltar para reconhecer o corpo. Parentes cobram agilidade do IML Cerca de cem familiares e amigos de pelo menos quatro vítimas do vôo 3054 fizeram uma manifestação no saguão do Aeroporto Salgado Filho, no final da tarde de ontem, para cobrar agilidade dos responsáveis pelo reconhecimento dos corpos que estão no IML de São Paulo e denunciar o que qualificam como descaso das autoridades e da TAM diante da tragédia. Insatisfeitos com a demora para o reconhecimento dos corpos, os manifestantes acusam o IML de priorizar a identificação das pessoas mais conhecidas, de não aceitar ajuda de legistas de fora de São Paulo e nem admitir que médicos e dentistas pessoais das vítimas possam auxiliar na identificação. O empresário Luiz Moysés, marido da passageira Nádia Bianchi Moysés, anunciou que vai pedir ao prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS), e à governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), que também entrem na mobilização pela identificação dos corpos. Protestos também ocorreram em São Paulo. Familiares das vítimas foram até o Aeroporto de Congonhas e ao local da queda do avião. De mãos dadas, em frente ao guichê da TAM, os parentes rezaram. Durante a manifestação, também fizeram apelos para que a identificação dos corpos seja feita com maior agilidade. Ainda de mãos dadas, seguiram em direção ao local do acidente. Pista passou por teste de atrito O relatório parcial feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) na pista principal do aeroporto de Congonhas, a pedido da Infraero após o acidente, diz que o asfalto no local tem condições de atrito acima do padrão internacional de qualidade mesmo sem o sistema de escoamento de água. A ausência de "grooving", ranhuras para o escoamento de água, é apontado por especialistas como um possível dificultador da frenagem da aeronave. O IPT, ligado à Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, diz que o trabalho tem "caráter de assessoramento técnico e não fiscalizador dos seus serviços". Segundo o relatório, a pista principal de Congonhas passou pelo teste de atrito em pista molhada conhecido como "mumeter", em que simuladores de rodas recebem película de água de 1 milímetro. No teste, o coeficiente de atrito nos locais onde os pneus das aeronaves costumam tocar durante o pouso ficou entre 0,68 e 0,73. No Brasil, o parâmetro é de 0,5. Já a Organização de Aviação Civil Internacional (Icao) recomenda o valor mínimo de 0,42. Abaixo desse valor, segundo o IPT, deve ser informada a possibilidade de pista escorregadia e, abaixo de 0,52, devem ser planejadas atividades de manutenção. A medição do coeficiente de atrito foi realizada no dia 13 de julho, quatro dias antes do acidente. Ela faria parte de um relatório mais completo, que ainda será feito, mas foi antecipado devido ao acidente. O relatório analisou também a integridade do asfalto. A medição do IPT mostrou valor de resistência entre 89% e 96%, quando o mínimo requerido é de 70%. Os relatórios finais serão entregues à Infraero em 27 de julho, 7 e 17 de agosto.

5 Homenagem Na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, familiares participaram ontem de celebração em memória das vítimas do vôo O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e presidente da TAM, Marco Bologna, participaram do ato. O governador José Serra foi representado pelos secretários de Justiça, Luiz Antônio Marrey, e de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão. Durante a homilia, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, cobrou que responsabilidades em relação ao acidente sejam "apuradas e assumidas". Tirado Após perguntar se os freios do avião estavam falhando, um passageiro da TAM foi retirado da aeronave junto com sua mulher pela Polícia Federal. Os dois tinham acabado de embarcar, na madrugada de ontem, em um vôo que sairia de Recife (PE) com destino ao aeroporto de Confins (MG). Segundo a PF, o passageiro havia pedido um fone de ouvido à aeromoça. O aparelho estava com defeito e falhava. Ele perguntou, então, se os freios do avião também tinham problemas. Emergência Um avião da companhia aérea BRA, com 240 passageiros, que viajava com destino a Recife, fez um pouso de emergência no Aeroporto de Portela, em Lisboa, ontem. O Boeing 767 faria escala em Madri antes de seguir ao Brasil, mas um dano de origem não revelada provocou a aterrissagem em Portugal. Os passageiros não se feriram. Tricoteira O corpo da aposentada e pensionista Nelly Elly Priebe, de 79 anos, que morreu no acidente, foi sepultado na manhã de ontem, em Canoas. Ela pertencia ao grupo denominado Tricoteiras dos Precatórios, que se reunia diante do Palácio Piratini às quartas-feiras para tecer uma manta como protesto pela falta de pagamento, pelo governo estadual, de dívidas já reconhecidas pela Justiça. Reversor A TAM reafirmou que o reversor desligado do Airbus era desnecessário para o pouso em Congonhas. Segundo a empresa, o reversor "é um instrumento a mais", mas não precisa ser usado em todas as ocasiões. A assessoria voltou a dizer que o avião poderia operar com um dos reversos desligados por até dez dias, conforme orientação do manual da fabricante. "Uma coisa é morrer, outra coisa é morrer quando eles não precisavam ter morrido. O poder público nos deve uma resposta." Padre Juarez Castro, durante missa em homenagem às vítimas "Não pouso mais na pista principal do Aeroporto de Congonhas com chuva. Ela não segura." Eduardo Brosco, Comandante da TAM, em entrevista ao "Jornal Nacional".