Resumos. Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica

Transcrição

1 Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica Inovação em psicanálise: rumos e perspectivas na contemporaneidade Quarta-feira 10/6 15h30-17h Mesa-redonda Feminilidade Escutas clínicas: quando não toda mulher é mãe Márcia Barcellos Alves (UFRJ) O que as mulheres buscam na análise hoje? Márcia Infante Vieira (UFRJ) O sentimento de inferioridade na mulher Lucas de Almeida Nogueira (Sedes Sapientiae) Quem são as #instafits? Um estudo acerca do corpo feminino moldado nas redes sociais Bruna Madureira (PUC-Rio)

2 Escutas clínicas: quando não toda mulher é mãe Márcia Barcellos Alves Especialista em Atendimento Clínico Ênfase Psicanálise pela Clínica de Atendimento Psicológico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestre em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutoranda em Teoria Psicanalítica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalha com atendimento clínico e teve experiência de docência na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA) e na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus Santiago (URI-Santiago). A proposta deste trabalho é apresentar parte de uma Pesquisa de Doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que se ocupa da interrogação sobre o laço entre o campo do feminino e da maternidade em Psicanálise. Neste momento, além de ressaltar que Jacques Lacan situa os campos feminino e materno como não sobrepostos, sublinha-se que as formulações do autor acerca da questão do gozo indicam uma possibilidade de encontro desses campos, na medida em que toma o gozo feminino como não-todo fálico. Este trabalho propõe interrogar a lógica do não-todo através do que a clínica psicanalítica revela sobre as formas contemporâneas de relação das mulheres com a maternidade. As transformações que a posição da mulher vêm assumindo desde o final do século XX no cenário ocidental promoveram o alargamento das possibilidades de realizações fálicas afora o campo da maternidade, o que na clínica se manifesta através de diferentes formas de posição tanto com relação à escolha, quanto com à experiência da maternidade. Portanto, o objetivo do trabalho é discutir tais questões a partir dos postulados psicanalíticos mencionados. Como método, utiliza-se a própria Pesquisa em Psicanálise, que aqui parte de questões advindas da experiência clínica que, tanto pelo que tange a repetição de alguns desses impasses quanto pelo enlace que estas interrogações parecem admitir com a cultura e com a própria psicanálise, foram revelando um campo de pesquisa.

3 O que as mulheres buscam na análise hoje? Márcia Infante Vieira Psicanalista em consultório particular; mestranda do Programa de Pós-graduaão em Teoria Psicanalítica da UFRJ. A psicanálise, através da sua entrada no social nos anos de 1950/1960, teve um papel na emancipação da mulher, que passou a questionar o autoritarismo do patriarcado. A igualdade de direitos entre os sexos foi bandeira de luta do feminismo. A sociedade patriarcal, que era organizada sob um eixo vertical ao que se refere aos laços familiares, desloca-se para um eixo horizontal. Essa mudança trouxe uma desestabilização entre os referenciais que definiam os papéis dos homens e das mulheres no casal, o que veio configurando novas subjetividades e, consequentemente, silenciosamente, plantando uma demanda de análise. Hoje, não encontramos mais as histéricas convertidas de Freud, mas mulheres bem sucedidas sofrendo de solidão. Segundo os relatos clínicos, essas mulheres parecem acreditar no fato de que os homens de hoje sentem-se ameaçados por elas. Na medida em que foram se emancipando, libertando-se da submissão imposta pela autoridade masculina, conseguindo sucesso e reconhecimento profissional, independência financeira, chegando por vezes, a ganharem mais que os homens, e com autorização interna de viverem livremente suas vidas sexuais, essas mulheres deixaram de ser eleitas como esposas. Desejadas sim, mas recortadas para serem a parceira num vínculo de amor e compromisso, não. Considerando a grande incidência desses depoimentos na clínica atual, procurarei analisar as fontes e os novos desdobramentos dos sintomas das parcerias amorosas no contexto social atual, sob a perspectiva da produção teorico-clínica da psicanalista Tânia Coelho dos Santos. Tentarei estabelecer a relação entre os novos sintomas e a necessidade de uma nova escuta psicanalítica.

4 O sentimento de inferioridade na mulher Lucas de Almeida Nogueira Psicólogo, formado pela USP, e psicanalista formado pelo Instituto Sedes Sapientiae. Este é um trabalho sobre o sentimento de inferioridade na mulher pela ótica psicanalítica. Transitando inicialmente sobre os escritos freudianos sobre o desenvolvimento da mulher e posteriormente trazendo a contribuição de autores psicanalíticos pós-freudianos com destaque à Jacques Lacan e Maria Rita Kehl. O objetivo foi buscar no desenvolvimento psíquico qualquer indício que justificasse a naturalização de um sentimento de inferioridade que encontramos associados à mulher, seja na clínica ou fora dela. Com pequenos aportes a respeito das consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos, o texto debate a questão da castração e sua significação ambígua em relação à mulher. Se trata de revisitar os textos primordiais da psicanálise sobre o desenvolvimento da sexualidade feminina e da identidade e encontrar neles a mesma ambiguidade que continua presente nos trabalhos atuais e discutir o sentido dessa ambivalência. Por fim se chega à conclusão de que um constructo interno que justifique os efeitos desse sentimento de inferioridade seria identitário e inconsciente. Em seguida se sugere que a significação ambivalente dessa relação da mulher com a castração é devido à uma requisição interna de estruturação simbólica baseada na hierarquização.

5 Quem são as #instafits? Um estudo acerca do corpo feminino moldado nas redes sociais Bruna Madureira Doutoranda do programa de pós-graduação da PUC-Rio, sob a orientação da professora Junia de Vilhena. O objetivo deste trabalho é demonstrar o impacto que as redes sociais têm sobre a construção da imagem corporal da mulher contemporânea. Percebemos que ferramentas de relacionamento como Facebook e Instagram tornaram-se uma parte tão integral do universo feminino, que seu uso adquiriu novas feições. Uma delas é a busca pelo corpo ideal, processo pautado invariavelmente pela eliminação de gordura. Em nosso estudo de campo entrevistamos diversas usuárias destas redes sociais. A maioria demonstra vergonha de seu corpo, acompanhada de um sentimento de fracasso e de invisibilidade social. Para reverter esta percepção, muitas alteram radicalmente seus hábitos alimentares e envolvem-se em rotinas intensas de exercício físico. Os rituais diários são compartilhados com as seguidoras, que medem os resultados. As redes sociais, portanto, passam a ser vistas como um caminho natural para a conquista e a manutenção do desejado corpo magro e sadio. Neste sentido, compreendemos ainda que estas ferramentas funcionam como uma espécie de vigilantes do peso virtual, na medida em que o comportamento das usuárias é reforçado a partir das curtidas e dos comentários positivos instantâneos. O perigo, no entanto, é que esta batalha pelo embelezamento é vivida de maneira tão intensa, que deturpa a percepção das usuárias acerca do que é ser mulher na atualidade. É imprescindível atentarmos para a influência excessiva que a imagem corporal ocupa no universo feminino contemporâneo e seu impacto negativo sobre toda a sociedade. Consideramos cruel e danoso condicionar a aprovação social das mulheres contemporâneas às noções idealizadas de beleza da boneca Barbie, a figura que, embora já tenha idade para ser avó, jamais envelhece ou engorda. Referências BARTHES, R. (1982). Encore le corps. Paris: Critique. BAUDRILLARD, J. (1970). La société de consommation. Paris: Gallimard. DEL PRIORE, M. (2009). Corpo a corpo com a mulher. IN: Pequena história da transformação do corpo feminino no Brasil. São Paulo: Senac. DURIF, C. (1990). Perceptions et representations du poids et des formes corporelles: une approche psychoethnologique. Informations sur les sciences sociales. Vol. 29. Paris. ECO, U. (2002 [1932]). A história da beleza. Rio de Janeiro: Record. ECO, U. (2007). A história da feiúra. Rio de Janeiro: Record. FISCHLER, C. (1995). Obeso benigno, obeso maligno. IN: Sant Anna, D.B (org.) Políticas do Corpo: Elementos para uma história das práticas corporais. São Paulo: Estação liberdade. LE BRETON, D. (2009 [1953]). A sociologia do corpo. Rio de Janeiro: Vozes. NOVAES, J. V. (2006). O intolerável peso da feiúra. Sobre as mulheres e os seus corpos. Rio de Janeiro: PUC-Rio e Garamond Universitária. NOVAES, J. V. (2010). Com que corpo eu vou?: Sociabilidade e usos do corpo nas mulheres de camadas mais altas e populares. Rio de Janeiro: PUC-Rio e Pallas. ORTEGA, F. (2003). Práticas da ascese corporal e constituição da bioidentidades. Cadernos de saúde coletiva, pp Rio de Janeiro. PERROT, P. (1984). Le corps feminin: le travail des apparences, XVIII XIX siècle. Paris: Editions du Seuil. SANT'ANNA, D. B. (1998). O corpo entre antigas referências e novos desafios. Cadernos de subjetividade. São Paulo: PUC.