ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SALLES ROSSI (Presidente) e JAMES SIANO. São Paulo, 9 de novembro de 2017.

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Miguelópolis, em que é apelante NEANDRO RODRIGUES PERARO, é apelado CARLOS ROBERTO MENDONÇA VICENTINI. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 20ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SALLES ROSSI (Presidente) e JAMES SIANO. São Paulo, 9 de novembro de Fábio Podestá Relator Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO nº APELANTE: NEANDRO RODRIGUES PERARO APELADO: CARLOS ROBERTO MENDONÇA VICENTINI COMARCA: MIGUELÓPOLIS VOTO Nº RESPONSABILIDADE CIVIL - DANOS MORAIS E MATERIAIS Sentença de improcedência APELO DO AUTOR Preliminar. Cerceamento de defesa. Inocorrência. Provas indeferidas não teriam o condão de alterar o desfecho da demanda. Mérito. Pretensão de reversão do julgamento. Inadmissibilidade Réu criticou estabelecimento comercial do autor e, ficou insatisfeito com o serviço prestado e produto fornecido. Publicações externando tal insatisfação na rede social Facebook que não extrapolam os limites da crítica. Ausência de ato ilícito Requisitos do art. 186, do CC, não preenchidos Direito à livre manifestação do pensamento que é constitucionalmente garantido (art. 5º, inciso IV, CF). Sentença mantida RECURSO DESPROVIDO. NEANDRO RODRIGUES PERARO ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais em face de CARLOS ROBERTO MENDONÇA VICENTINI, a afirmar que o réu postou, em , texto difamatório, citando o estabelecimento do requerente Skinão Spetos Bar, em uma rede social denominada Facebook (fls. 02), o que gerou a perda de clientela. Pretendeu, assim, na sua condenação o pagamento de indenização por danos morais e materiais (fls. 07/08). A r. sentença a fls. 66/72, cujo relatório é adotado, Apelação nº Voto JC 2

3 julgou improcedente o pedido, carreando ônus sucumbenciais ao autor, com verba honorária fixada em 10% sobre o valor atualizado da causa, ressalvada a gratuidade processual de que goza o autor. Irresignado, apela o autor (fls. 77/87), a sustentar que: a) preliminarmente, a nulidade por cerceamento de defesa, ante a ausência de conversão do julgamento em diligência, para que se oficiasse o Pronto Socorro, para verificar se a filha do réu passou mal, após ter se alimentado no restaurante do apelante; b) no mérito, alega que o autor faltou com a verdade e não comprovou os fatos maldosos publicados na rede social Facebook ; c) a forma falsa e maldosa com que o apelado realizou a postagem acarretou prejuízos financeiros ao estabelecimento do autor, o qual sofreu queda na clientela; d) o requerido quis denegrir a imagem da empresa, configurando ilícito civil; e) faz jus à indenização por danos morais e materiais. contrarrazões (fls. 121). O apelo é tempestivo e foi recebido (fls. 89). Ausente É o relatório. O recurso não comporta acolhimento. defesa. De proêmio, afasta-se o alegado cerceamento de Em que pese o protesto por produção de provas pela parte, cabe ao juiz determinar aquelas pertinentes para a instrução do Apelação nº Voto JC 3

4 feito, indeferindo as inúteis ou protelatórias (art. 130, II, CPC/1973), sendo que outras provas eram despiciendas, pois o que dos autos consta se mostra suficiente ao pronunciamento de mérito. Já decidiu esta Corte que: para que se tenha caracterizado o cerceamento de defesa em decorrência da ausência de dilação probatória, faz-se necessário que, confrontadas as provas que foram requeridas com os demais elementos de convicção carreados ao processo, elas não só apresentem capacidade potencial de demonstrar o fato alegado, como também se mostrem indispensáveis à solução da controvérsia, sem o que fica legitimado o julgamento antecipado da lide (Apelação n , Comarca de São Paulo, 21ª Câmara de Direito Privado, j. em , rel. Des. Itamar Gaino). E, no caso, oficiar o Pronto Socorro, para verificar se a filha do réu passou mal, após ter se alimentado no restaurante do apelante, não teria o condão de afastar o decreto de improcedência. vejamos. No mérito, melhor razão não assiste ao autor, senão Narra o autor, inclusive, em seu apelo, que o réu postou, em , texto difamatório, citando o estabelecimento do requerente Skinão Spetos Bar, na rede social denominada Facebook, o que acarretou a difamação do local, bem como, a diminuição da clientela. Com efeito, não se vislumbra, in casu, ocorrência de Apelação nº Voto JC 4

5 ato ilícito. Como se observa da publicação impugnara, o réu se limitou, em sua narrativa, a fls. 24, a relatar sua experiência pessoal, aduzindo não estar satisfeito com a prestação de serviços e, também, quanto à qualidade da comida oferecida no restaurante do autor. Ele afirma estar descontente com o serviço prestado e a qualidade da comida servida à sua família, aduzindo que estava no bar eskinão e tava mto ruim o feijão tava azedo a carne com gosto de vencida. Mto cachorro, mosca varejeira este era o ambiente...minha filha de 2 anos passou mal e vomitou na hora olha as fotos ai, sendo que tirou quatro fotos para comprovar sua indignação. Revela opinião pessoal, exteriorizada na rede social Facebook (fls. 25), tudo a indicar que o requerido saiu decepcionado com o atendimento despendido e a alimento servido no restaurante, razão pela qual a compartilhou, não havendo indícios de que o réu quis enxovalhar a honra do autor ou a imagem de seu estabelecimento. Destaque-se que a menção ocorre uma única vez e, embora com conotação negativa, não ultrapassa os limites da liberdade de expressão, restringindo-se à opinião do réu em relação à prestação e qualidade do serviço do autor. Dos depoimentos prestados (fls. 43/48), também não há como se comprovar que os fatos ocasionaram danos à honra do autor Apelação nº Voto JC 5

6 ou à imagem do estabelecimento, gerando efetivo prejuízo financeiro ao restaurante, em decorrência de uma suposta queda na clientela. Não se vislumbra, pois, que os fatos narrados nos autos pudessem macular a imagem do estabelecimento comercial do autor ou, até mesmo, levar à diminuição dos fregueses. Trata-se, na verdade, de mero aborrecimento quotidiano. Faz parte do quotidiano que algumas pessoas não apreciem a qualidade do serviço e produtos fornecidos em restaurantes e que realizem críticas nesse sentido. A coletividade não é obrigada a ter uma opinião positiva a respeito de todos e, sendo assegurado ao indivíduo o direito à expressão, é natural que alguém possa, sim, externar opinião negativa acerca de outrem, sem que isso implique, necessariamente, condenação por danos morais. A verificação de ocorrência de ato ilícito deve ser feita no caso concreto, de modo que o preenchimento dos requisitos do art. 186, do Código Civil estava condicionado ao eventual excesso no uso da liberdade de expressão, que, ao menos no que tange ao autor, inexistiu. Nessa linha, precedente desta Corte: RESPONSABILIDADE CIVIL. Obrigação de fazer cumulada com indenização por danos morais. Cerceamento de defesa não configurado, conjunto probatório apto para análise do pedido. Postagem no Apelação nº Voto JC 6

7 "Facebook" que supostamente violou a reputação e imagem comercial da autora. Liberdade de expressão. Conteúdo da postagem que não transcende o direito de crítica e a liberdade de expressão. Ato ilícito não configurado. Indenização indevida. Precedentes desta C. Câmara e do Superior Tribunal de Justiça. Sentença mantida. RECURSO NÃO PROVIDO. (Apel , 6ª Câm. Direito Privado, relª Desª Ana Maria Baldy, j ). Ausente ato ilícito, não há falar-se, pois, em dever de indenizar, consoante estabelece o art. 186, do CC. Não comporta, pois, nenhum reparo a r. sentença. Ante ao exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. FABIO HENRIQUE PODESTÁ Relator Apelação nº Voto JC 7