TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante HAMILTON RIBEIRO MOTA, é apelado GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA.. ACORDAM, em 20ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SALLES ROSSI (Presidente) e JAMES SIANO., 21 de setembro de FÁBIO PODESTÁ RELATOR Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO nº APELANTE: HAMILTON RIBEIRO MOTA APELADO: GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA. COMARCA: SÃO PAULO VOTO Nº DIREITO DE IMAGEM Sentença de improcedência - APELO DO AUTOR - Pretensão à inversão do julgado Descabimento da pretensão à exclusão de conteúdo que se limita a criticar a gestão do autor, pessoa pública, em exercício de mandato eletivo - Identificação do usuário do Youtube que também não se mostra cabível, diante da limitação prevista no art. 15, da Lei n /14 (Marco Civil da Internet) Sentença mantida RECURSO DESPROVIDO. HAMILTON RIBEIRO MOTA ajuizou ação ordinária de obrigação de fazer em face de GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA, a afirmar ter sido vítima de publicação ofensiva, consistente em vídeo disponibilizado no Youtube, em que sua imagem é aliada à de Adolf Hitler (fls. 02), com o intuito de depreciar suas ações, o que constitui ato ilícito (fls. 03). Pretendeu, assim, a imediata remoção do vídeo (fls. 09) e a condenação da ré a apresentar os dados do responsável (fls. 10). A r. sentença a fls. 105/109, cujo relatório é adotado, julgou improcedente o pedido, carreando ônus sucumbenciais ao autor, com verba honorária fixada em R$ ,00. Irresignado, apela o autor, a sustentar que: a) a comparação de um administrador público à figura de um símbolo histórico APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº PP 2/6

3 de genocídio não pode ser encarada como crítica tolerável (fls. 114); b) é necessário fazer cessar lesão ao seu patrimônio moral (fls. 114); c) a publicação o prejudicou junto à comunidade judaica (fls. 116); d) o vídeo precisa ser excluído para cessar os prejuízos à sua honra (fls. 120) e a apelada deve ser condenada a apresentar os dados do responsável (fls. 121). contra-arrazoado (fls. 126/148). O recurso é tempestivo, preparado (fls. 122/123) e foi É o relatório. O recurso não comporta acolhimento. Não se observa da transcrição de fls. 02/03 qualquer acusação ou imputação de crime de genocídio ao autor, mas meras críticas à sua gestão, e a vinculação de sua imagem à de Hitler soa como evidente comparação ao desejo de vitória, sendo que a frase mais repetida pela personagem é não podemos perder (a eleição). Como bem apontou o magistrado em primeiro grau, não houve extrapolação do direito de crítica, que é, ademais uma das próprias funções da imprensa entendimento que aqui deve ser aplicado, por analogia, tratando-se de vídeo com escopo de crítica política, isto é, direcionada ao autor como figura pública detentora de mandato eletivo (fls. 16). Não é outra a orientação do Supremo Tribunal Federal, consoante se observa de decisão monocrática de lavra do Exmo. Sr. Ministro APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº PP 3/6

4 Celso de Mello, exarada no Recurso Extraordinário com Agravo n /DF 1, disponibilizada no DJE em , e que constitui paradigma a respeito do assunto: Liberdade de expressão. Profissional de imprensa e empresa de comunicação social. Proteção constitucional. Direito de crítica: prerrogativa fundamental que se compreende na liberdade constitucional de manifestação do pensamento. Magistério da doutrina. Precedentes do Supremo Tribunal Federal (ADPF 130/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO AI AgR/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO Pet 3.486/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). Jurisprudência comparada (Tribunal Europeu de Direitos Humanos e Tribunal Constitucional Espanhol). O significado político e a importância jurídica da Declaração de Chapultepec (11/03/1994). Matéria jornalística e responsabilidade civil. Excludentes anímicas e direito de crítica. Precedentes. Plena legitimidade do direito constitucional de crítica a figuras públicas ou notórias, ainda que de seu exercício resulte opinião jornalística extremamente dura e contundente. Recurso extraordinário provido. Consequente improcedência da ação de reparação civil por danos morais. Sendo, na mesma direção, os precedentes desta Corte: Responsabilidade civil - Ação de indenização por danos morais - Improcedência - Inconformismo - Desacolhimento - Demanda promovida pelo ex-prefeito, por conta de suposto excesso nas críticas, por parte de vereador - Conflito de princípios e garantias constitucionais - Prevalência do direito à liberdade de expressão e livre manifestação - Liberdade de imprensa - Abuso não 1 APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº PP 4/6

5 configurado - Ausência de dever de indenizar - Sentença mantida - Recurso desprovido. (Apel , 9ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Grava Brazil, j ). DANOS MORAIS - Programa de rádio em que o entrevistado atribuiu conduta desonrosa a vereador do município - Sentença procedente apenas em relação à corre Rádio Comunitária Tempo Novo - Descabimento - Crítica inerente à atividade exercida pela imprensa, notadamente em se tratando de pessoa que exerce cargo público - Ausência de má-fé e de desbordamento do direito de informar e da livre manifestação do pensamento - Apelo da ré provido para julgar a ação improcedente, prejudicado o apelo do autor. (Apel , 6ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Sebastião Carlos Garcia, j ). No caso concreto, muito embora, por presunção hominis, seja evidente que ninguém gostaria de ser comparado a Adolf Hitler, observa-se que o objetivo da comparação não era o de denegrir a imagem, mas sim de criticar a postura eleitoral do autor. Não há qualquer menção a antissemitismo ou mesmo de prática de homicídio pelo apelante, mas simples crítica ao caráter autoritário e desejoso de vitória que aquele munícipe entende lhe serem peculiares. O requerente não é, em momento algum, acusado de ter participado do escândalo político Mensalão, menção devida ao partido a que é filiado, sendo que não se pode reprimir o descrédito dos eleitores na agremiação política, o que é uma opção pessoal e livre. APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº PP 5/6

6 Não se está aqui a defender ou a acusar qualquer partido que seja, ressaltando-se a não politização deste Poder Judiciário (conforme art. 95, parágrafo único, inciso III, da Constituição Federal), contudo essa neutralidade não é exigida à população em geral, que goza, ademais, da liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV, CF). A sentença não comporta, pois, a pretendida reforma, sendo de se mencionar, a propósito, incidência ao caso, quanto à disponibilização de dados do responsável pela postagem, da limitação prevista no art. 15, da Lei n /14. Sem condenação em honorários sucumbenciais recursais, porquanto a sentença foi publicada sob a égide do CPC/1973. Anota-se, a propósito, que não é necessário que o julgador se pronuncie expressamente sobre todos os dispositivos legais invocados pelos apelantes para que tenham acesso aos Tribunais Superiores, pois o prequestionamento consiste na apreciação e na solução, pelo tribunal de origem, das questões jurídicas que envolvam a norma positiva tida por violada, inexistindo a exigência de sua expressa referência no acórdão impugnado 2. Ante ao exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. FABIO HENRIQUE PODESTÁ Relator 2 EDCL nº , 7ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Coimbra Schimidt, j APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº PP 6/6